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ENSINO
MÉDIO
MORFOSSINTAXE II
1 Numeral / Advérbio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Quantificando o substantivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5
O numeral na construção do texto. . . . . . . . . . . . . . . . . .7
Advérbio: revelador de circunstâncias . . . . . . . . . . . . . .11
Os advérbios na construção de sentido . . . . . . . . . . . . .12
2 Interpretação de Texto II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 GRAMÁTICA
Texto, contexto e momento histórico . . . . . . . . . . . . . . .23
Textos do cotidiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
Revisão Obrigatória - 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Revisão Obrigatória - 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2137870 (PR)
Morfossintaxe II
MÓDULO
Morfossintaxe II
MAREKULIASZ/SHUTTERSTOCK
REFLETINDO SOBRE A IMAGEM
Continuando as análises morfossintáticas,
você vai estudar a importância do numeral
e dos advérbios, por meio da compreensão
de suas características e tipos. Os números
nos ajudam a quantificar o mundo, enquan-
to os advérbios revelam circunstâncias para
muitas de nossas ações. Conhecendo mais
profundamente essas estruturas e suas fun-
cionalidades, você poderá usá-las com profi-
ciência para produzir e interpretar textos.
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CAPÍTULO
1 Numeral / Advérbio
Objetivos: É difícil viver sem se estabelecer alguma relação com os números. Por isso, vivemos rodeados por
eles. Depois de observar, nomear e descrever o mundo à nossa volta, o que vem, instintivamente, à
c Reconhecer os cabeça, é numerar, quantificar e, muitas vezes, ordenar os seres e os acontecimentos. E isso porque,
numerais como a de certa maneira, os números concentram em si informações que seriam representadas, geralmen-
classe de palavras com
te, por um conjunto não pequeno de palavras. E, se não é possível viver sem interagir com o mundo
função quantificadora
que está à nossa volta, passamos a dar sentido aos fatos quando oferecemos ao nosso interlocutor
e também indefinidora
e utilizar cada um dos
noções de quando, onde e como eles ocorreram. A verdade é que a língua nos dá ferramentas para
seus tipos – cardinais, compreendermos e sermos compreendidos. É por meio dela que elaboramos o nosso pensamento,
multiplicativos, criamos textos e falas capazes de nos conectar ao outro. Ainda que haja outras maneiras de conexão,
fracionários e ordinais não se pode negar que a língua é uma das mais eficientes formas de se estabelecer contato.
– no contexto de
significação adequado. Leia, a seguir, um trecho da letra da canção “Ponteio”, para responder às questões.
c Compreender a Era um, era dois, era cem, Ô, você, de onde vai, de onde vem,
importância dos era o mundo chegando e ninguém diga logo o que tem pra contar
numerais para a que soubesse que sou violeiro,
expressividade do Que me desse um amor ou dinheiro. Parado no meio do mundo,
texto e reconhecer senti chegar meu momento
a informatividade Era um, era dois, era cem, Olhei pro mundo e nem via
pela qual eles são
vieram pra me perguntar: nem sombra, nem sol, nem vento
responsáveis.
[…]
c Definir a funcionalidade Edu Lobo e José Carlos Capinan. “Ponteio”. In: Edu Lobo – Compacto simples, Philips, 1967.
dos advérbios Releia as seguintes passagens:
como uma classe I. “Era um, era dois, era cem […]”
de palavras quase II. “Que me desse um amor ou dinheiro.”
sempre invariáveis, que Que diferença você vê entre as duas ocorrências da palavra “um” destacadas acima?
modificam o verbo, o
A primeira ocorrência serve para quantificar, em contraposição a “dois” e “cem”; já na segunda passagem
adjetivo, os advérbios e
a palavra não é um quantificador, mas sim precede o substantivo “amor”, ligando-se diretamente a ele.
até períodos inteiros.
c Reconhecer os sentidos
expressos pelas Duas palavras no segundo verso se contrapõem em significado. Quais são elas?
diversas classificações As palavras são “o mundo” e “ninguém”.
dos advérbios, das
locuções adverbiais
e das expressões
denotativas e aplicar
No primeiro verso, há uma imprecisão no uso do verbo, o que, provavelmente, se deva à necessidade
cada uma delas
de se manter um ritmo harmonioso, uma melodia agradável. Reescreva o verso, adequando-o a uma
adequadamente à
situação em que a norma padrão fosse exigida.
intenção do contexto.
Era um, eram dois, eram cem.
Professor, nesta atividade pode-se trabalhar a habilidade 16 da matriz de referência do Enem em que se “relacionam informações sobre
concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário”, o que nos leva a compreender a letra da canção como texto
literário, pois a construção dos versos é feita de maneira cuidadosa e preocupada com a construção dos sons, do ritmo e dos significados.
4 Morfossintaxe II
Escreva uma pequena narrativa, de aproximadamente cinco linhas, contando o que se pode com-
preender dos versos lidos.
Resposta pessoal.
É importante que o aluno escreva que se trata de um violeiro que não é reconhecido por ninguém ao chegar em um
lugar estranho.
QUANTIFICANDO O SUBSTANTIVO
Os numerais representam a classe gramatical cuja função é quantificar um número exato
de coisas, de seres, de acontecimentos. Trata-se de uma ação humana quase instintiva, já que
numerar e contar simplificam — e muito — nosso dia a dia. Existem aqueles que usam os nu-
merais apenas instintivamente ou com o conhecimento matemático básico que trazem da escola ou
da experiência; e há aqueles que levam o pensamento sobre os números a suas abstrações mais
inimagináveis. Há quem considere um problema o fato de sermos, às vezes, “representados” por
numerais (como o número da carteira de identidade e aquele que aparece na lista de chamada
da escola), mas há também quem use os números para fortalecer seus próprios argumentos,
considerando-os aliados na tarefa de convencer seus interlocutores.
A quantificação
As palavras quantificadoras caracterizam-se pela natureza semântica não fórica, ou seja,
não têm propriamente o papel de referenciadores textuais ou situacionais. Além disso, não têm
propriedade descritiva na determinação de nomes e pronomes. Geralmente, a propriedade
quantificadora é partitiva, uma vez que indica a dimensão da porção de um todo ou a de uma
totalidade. É a classe dos numerais que opera a quantificação dentro dessas características.
O numeral é uma classe de palavras que, relacionada explícita ou implicitamente ao substan-
A segunda questão era a mais complicada da prova.
tivo (ou pronome substantivo, ou palavra substantivada), serve para quantificá-lo (um, dois, três;
dobro, duplo, triplo; meio, um terço, três quartos) ou para ordená-lo (primeiro, segundo, terceiro).
segunda
Os primeiros — quantificadores por excelênciaA — segunda
são os questão era a mais
numerais complicada
cardinais, da prova.
seguidos pelos
multiplicativos e pelos fracionários. Os outros
numeral ordinal são os numerais ordinais,
adjunto adnominal que
segunda
apresentam a ordem
que um ser ocupa em uma série(morfologia)
e, sendo uma exceção junto aos
(função numerais, também têm o papel
sintática)
de referenciadores.
numeral ordinal adjunto adnominal
É muito comum que os numerais acompanhem os substantivos.
(morfologia) Nesse caso, assumem a função
(função sintática)
sintática de adjuntos adnominais. Quando aparecem no lugar dos substantivos, então assumem
a função dos próprios substantivos. Veja.
As quatro saíram bem cedinho para o acampamento.
quatro
As quatro saíram bem cedinho para o acampamento.
A segunda questão era a mais complicada da prova.
substantivo núcleo do sujeitoquatro
segunda (morfologia) (função sintática)
5
O numeral cardinal
Os numerais cardinais (numerais substantivos) indicam a quantidade em si mesma, ou seja,
a quantidade exata; ou aquela que é relativa aos substantivos (numerais adjetivos). Veja estes
exemplos.
(numerais substantivos)
Houve apenas um vencedor, não dois.
(numerais adjetivos)
Alguns numerais cardinais podem flexionar-se em gênero. É o caso de um (uma), dois (duas),
ambos (ambas) e daqueles que indicam centenas, a partir de duzentos (duzentas) em diante: uma,
duas, ambas, duzentas, trezentas, oitocentas etc. Os cardinais milhão, bilhão (ou bilião), trilhão
etc. flexionam-se em número: milhões, bilhões (ou biliões), trilhões etc. Os demais cardinais são
invariáveis.
Como quantificadores, os cardinais designam quantidade exata, mas frequentemente são em-
pregados em hipérboles, caracterizadas pela indefinição exagerada. Observe:
Disseram-nos isso um bilhão de vezes.
Trilhões de anos ela gastou nessa tarefa.
Observe a figura seguinte, que é parte de uma matéria publicada na revista Vida Simples.
Conforto
4. Caminhada: fachadas
interessantes, boas superfícies,
acessibilidade;
5. Paradinha: locais atraentes,
convidativos;
6. Descanso: bancos confortáveis;
7. Contemplação: vistas
desobstruídas, iluminação;
8. Interação: baixo ruído e mobiliário
“de estar” para um bate-papo;
9. Exercício e lazer: atividade física,
A reportagem se propõe a apresentar brincadeiras, entretenimento.
critérios elaborados para determinar a
qualidade de vida urbana. No entanto, esses Desfrute
10. Bom tamanho: prédios e
critérios são agrupados em um conjunto espaços feitos para a escala
fechado, em uma espécie de “pacote”, o que humana;
dá a sensação de algo resumido e limitado 11. Clima propício: mobiliário que
conviva com a variação do tempo
— essa delimitação se faz pelo numeral (sol/sombra, calor/fresco, abrigo do
vento/brisa);
“12”. Trata-se, teoricamente, do mínimo
12. Experiências sensoriais: design
necessário para que alguém se informe com detalhes, bons materiais, vistas
sobre determinado assunto. Essas listas, com agradáveis, árvores, plantas, água.
Abrigo contra experiências
itens numerados, são sucesso não só nas desagradáveis: chuva, vento, calor/
mídias impressas, mas também — e talvez frio, poluição, poeira, barulho.
especialmente — na internet.
O numeral ordinal
Os numerais ordinais têm função também referenciadora, ao designarem a ordem de sucessão
6 Morfossintaxe II
ocupada, em uma série, por seres, objetos etc. Ao estabelecerem referências, podem ter função ATENÇÃO!
adjetiva ou substantiva. Observe:
1 Assim como existem os substantivos
As primeiras tentativas foram vãs. coletivos, existem também numerais
que têm essa função, a de indicar
conjuntos de pessoas ou coisas. A
(numeral adjetivo) diferença é que, ao contrário dos subs-
Os primeiros serão vocês. tantivos, que representam grupos de
quantidade inespecífica, os numerais
coletivos designam grupos de quanti-
(numeral substantivo) dades determinadas e específicas. É o
caso de palavras como década, dúzia,
Os numerais ordinais flexionam-se em gênero e número: primeiro, primeira, primeiros, pri- centena, milheiro etc. Todos os nume-
rais coletivos têm flexão de número,
meiras; milésimo, milésimos, milésimas etc. Muito frequentemente, na linguagem cotidiana,
ou seja, podem aparecer no singular
ocorrem derivações sufixais (aumentativas, diminutivas e superlativas) em certos ordinais. Veja: ou no plural. Assim, por exemplo:
Uma década já se passou desde aquele ca-
Você foi a primeirona! samento.
Ele foi o primeiríssimo a chegar. Nesse caso, “década” é um numeral
Seu time foi parar na segundona. (= segunda divisão dos campeonatos de futebol) coletivo que aparece no singular.
Três décadas atrás, nós éramos todos estu-
Por meio de conversão (ou derivação imprópria), certos numerais ordinais, empregados como dantes universitários.
adjetivos, denotam não ordem, mas qualidade superior ou inferior: Aqui, “décadas” é um numeral coletivo
que aparece flexionado no plural.
Era um produto de primeira.
Isto é carne de segunda!
Não acredito que ele tenha se apaixonado por aquela mulher de quinta.
Quantificação e indefinição
Os indefinidores pertencem à classe dos artigos (os indefinidos) e à dos pronomes (os indefi-
nidos e os interrogativos). Assim como os quantificadores, eles não têm natureza fórica nem des-
critiva, em relação aos termos que modificam.
Os artigos indefinidos (um, uma, uns, umas) podem ser empregados na forma simples ou
contraída (contraídos com as preposições “de” ou “em”).
Em linhas gerais, os artigos definidos estabelecem referências particularizando, ao passo
CURIOSIDADE
que os indefinidos indeterminam generalizando, o que se pode observar nestes exemplos.
1 O cardinal “mil” aparece, muitas
Discutimos pouco com o aluno.
vezes, em expressões ou frases de
Discutimos pouco com um aluno. 1 significação rica, em sentido inde-
terminado linguagem chamada
“hipérbole”.
O NUMERAL NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO Veja:
Terra adorada
Num mundo em que a informação deve aparecer de forma cada vez mais concentrada, e no Entre outras mil
qual o visual exerce muita influência sobre as pessoas, o numeral assumiu grande importância na És tu, Brasil,
Ó pátria amada!
expressividade dos textos. 1 Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Leia, agora, a letra desta música de Vinicius de Moraes. Brasil!
Trata-se de um trecho do nosso
A casa Hino Nacional. Nele, aparecem os
Era uma casa muito engraçada Porque na casa não tinha parede versos “Entre outras mil / És tu,
Não tinha teto, não tinha nada Ninguém podia fazer pipi
GRAMÁTICA
Brasil, / Ó pátria amada!”. Ao se
Ninguém podia entrar nela, não Porque penico não tinha ali dizer que o Brasil é a pátria amada
entre outras mil pátrias, não se faz
Porque na casa não tinha chão Mas era feita com muito esmero referência a uma contagem especí-
Ninguém podia dormir na rede na rua dos bobos, número zero fica ou exata, mas se constrói a ideia
Vinicius de Moraes de que, entre muitas outras nações,
o Brasil é a pátria escolhida para ser
Repare que, na letra da canção, tudo é dito para desvalorizar a casa como coisa. Em “Era uma amada por seus filhos.
casa”, há a aproximação com o famoso início das histórias infantis “Era uma vez…”, que aproxima
Morfossintaxe II 7
CURIOSIDADE a letra de Vinicius dos contos maravilhosos. A palavra “uma”, que aparece tanto nos contos infantis
quanto no início de “A casa”, é uma forma de indefinição. Trata-se, portanto, de um artigo indefi-
1 Emprego dos cardinais pelos nido e não de um numeral que equivale a uma unidade, especificamente.
ordinais
Em alguns casos, o numeral ordinal
No último verso da canção, “na rua dos bobos, número zero”, o “número zero” que é relacio-
é substituído pelo cardinal corres- nado à casa é um resumo de toda a sua falta de valor. Afinal, os numerais são a forma de se espe-
pondente. Assim: cificarem as casas, diferenciando-as umas das outras. Uma casa cujo número é zero é algo como
1. Quando se usam algarismos uma pessoa sem nome. O zero é uma maneira eficiente de qualificar coisas ou pessoas, seja po-
romanos após substantivos que
sitiva ou negativamente.
designam papas e soberanos,
bem como séculos e partes Num outro extremo, alguns numerais de grande valor também são usados para dar significado
em que se divide uma obra, aos textos. Quem não se lembra, por exemplo, da propaganda em que um produto destinado à
empregam-se os ordinais até limpeza era anunciado como tendo “mil e uma utilidades”? É claro que, nesse caso, ninguém con-
o décimo e daí em diante o
tou, de forma específica, quais e quantas seriam as utilidades do produto, chegando ao número
cardinal, sempre que o numeral
vier depois do substantivo: 1001. A ideia era qualificá-lo como versátil. A expressão ficou tão famosa e disseminada que não
Pedro II (segundo) é raro ouvirmos expressões como “aquele é o ator de mil e uma caras” ou “minha mãe tem mil e
Século XI (onze) um talentos”. 1
Quando o numeral antecede o
substantivo, emprega-se, porém,
o ordinal: ATIVIDADES
Décimo século
Terceiro ato
2. Na numeração de artigos de leis, Leia, a seguir, um trecho do conto “Noite de almirante”, de Machado de Assis, para respon-
decretos e portarias, usa--se o der às questões 1 e 2.
ordinal até nove e o cardinal de
dez em diante: Deolindo Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do arsenal de marinha e se
Artigo 9o (nono) enfiou pela rua de Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a fina flor dos marujos e,
Artigo 41 (quarenta e um) de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos. A corveta dele voltou de uma
3. Nas referências aos dias do mês,
usam-se os cardinais, salvo na
longa viagem de instrução, e Deolindo veio à terra tão depressa alcançou licença. Os
designação do primeiro dia, em companheiros disseram-lhe, rindo:
que é de regra usar o ordinal. — Ah! Venta-Grande! Que noite de almirante vai você passar! Ceia, viola e os braços
Também na indicação dos anos de Genoveva. Colozinho de Genoveva…
e das horas empregam-se os
Deolindo sorriu. Era assim mesmo, uma noite de almirante, que o esperava em terra.
cardinais.
Chegamos às seis horas do dia Começara a paixão três meses antes de sair a corveta. Chamava-se Genoveva, cabocli-
primeiro de maio. nha de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido. Encontraram-se em casa de terceiro
4. Na enumeração de páginas e de e ficaram morrendo um pelo outro, a tal ponto que estiveram prestes a dar uma cabe-
folhas de um livro, assim como
çada, ele deixaria o serviço e ela o acompanharia para a vila mais recôndita do interior.
na de casas, apartamentos, quar-
tos de hotel, cabines de navio, ASSIS, Machado de. In: COSTA, F. M. C.
Os melhores contos brasileiros de todos os tempos.
poltronas de casas de diversões
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
e equivalentes empregam-se
os cardinais. Nesses casos há 1 Escreva aqui os numerais cardinais que aparecem no texto, em que linha aparecem e a que
omissão da palavra “número”.
Página 3 (três) palavra se ligam.
Casa 31 (trinta e um) Três (l. 2): liga-se a “horas”.
Se o numeral vier anteposto,
Três (l. 9): liga-se a “meses”
usa-se sempre o ordinal:
Terceira página Vinte (l. 10): liga-se a “anos”
Oitava folha Todos são numerais adjetivos, por isso se ligam a substantivos.
Adaptado de CUNHA, Celso e CIN-
TRA, Lindley. Nova gramática do português
contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova 2 Em “Encontraram-se em casa de terceiro”, como se comporta gramaticalmente a palavra
Fronteira, 1985.
“terceiro”? Trata-se de um numeral ordinal?
A palavra “terceiro” comumente indica ordem e por isso é classificada como um numeral ordinal. Entretanto, aqui,
ela adquire outro sentido, pois se refere a uma terceira pessoa, que não os dois envolvidos (Deolindo e Genoveva);
desse modo, assume a função de substantivo. Nesse caso, não há ideia de ordem, mas, sim, faz-se uma referência a
uma pessoa em cuja casa ambos teriam se conhecido. É preciso estar atento para a possibilidade de as palavras (e
não apenas os numerais) se transformarem semanticamente e mudarem a classe gramatical a que, normalmente,
pertencem. E isso pode ocorrer, de acordo com o contexto em que estão inseridas.
8 Morfossintaxe II
b) As cinco abraçaram-se para comemorar a vitória.
Cinco: núcleo do sujeito.
O verbo (abraçaram-se) concorda com esse sujeito (“as cinco”).
Pesquisa
CONSUMO INFANTIL
A maioria dos produtos consumidos por uma família
são escolhidos pelas crianças
são influenciados
83% pela publicidade
c) Duas pessoas já me perguntaram sobre o novo filme.
por produtos associados
72% a personagens famosos Duas: adjunto adnominal.
42% por influência O numeral, quando for adjetivo, sempre exercerá a função de adjunto adnominal.
dos amigos
por produtos que
38% oferecem
brindes e jogos
por embalagens
35% coloridas e atrativas
Sobre o infográfico, assinale a afirmação correta. 5 (U. E. Londrina-PR) Com base na leitura da tabela a seguir, é
a) A soma das porcentagens leva à totalidade do número de correto afirmar:
crianças entrevistadas, o que mostra não haver crianças
influenciadas por mais de uma das estratégias citadas. Taxa geral de desemprego
b) A presença de embalagens coloridas e atrativas nos produtos 1995 2002
não influencia as crianças a optar por consumi-los.
c) A imagem representada em nada se relaciona com os dados 4,4% 7,5%
apresentados à direita. Taxa de desemprego entre os que têm doze ou mais
d) Pela análise do infográfico, nota-se que os profissionais anos de estudo
responsáveis por estimular a venda de produtos preocupam-
1995 2002
-se, em suas estratégias, em estimular as crianças a escolher
aquilo que anunciam. 2,2% 4%
e) O desenho, que mostra uma mãe e um filho felizes, leva a Fonte: Veja, 4 set. 2002.
crer que a propaganda direcionada às crianças é inocente,
a) Apesar de ser maior o problema do desemprego entre pes-
o que é confirmado pelas porcentagens.
soas que têm um grau mais elevado de escolaridade, nos
últimos anos a situação tem se invertido. GRAMÁTICA
4 Qual é a função sintática do numeral, em cada um dos períodos b) A condição de terem 12 ou mais anos de estudo não foi sufi-
a seguir? ciente para impedir que a taxa de desemprego aumentasse
a) Ele foi contratado pelos três. entre os trabalhadores nessa faixa de escolaridade.
Três: núcleo do agente da passiva. c) O nível de desemprego entre trabalhadores com mais anos
Basta notar que há voz passiva analítica na oração e que, caso ela fosse trans- de estudo acompanhou a mesma tendência decrescente do
posta para a voz ativa, as palavras “os três” representariam o sujeito agente. nível de desemprego entre trabalhadores em geral.
d) Não se percebe na taxa de desemprego nenhuma variação
3. O erro em a é que soma das porcentagens ultrapassa 100%, o que mostra haver crianças influenciadas por mais de uma das estratégias; a presença de
embalagens coloridas e atrativas nos produtos, ao contrário do que se afirma em b, influencia, sim, as crianças, embora menos do que as demais estratégias;
há relação direta entre texto e imagem, o que invalida c; e está errada porque o infográfico mostra, exatamente, quanto as crianças são influenciadas Morfossintaxe II 9
pela propaganda. Alternativa d.
A condição de terem 12 ou mais anos de estudo levou a uma menor taxa de
desemprego, mas não foi suficiente para impedir que a taxa aumentasse.
relacionada ao nível de escolaridade dos trabalhadores. são do pessoal de Ponta Grossa, Maringá e Paranaguá.
e) Há uma grande disparidade entre o aumento na taxa geral de Em todo o Paraná, o índice de ausência foi de 10%, e a
desemprego e o aumento na taxa referente aos trabalhadores empresa está movimentando apenas um terço do volu-
com 12 ou mais anos de estudo. Alternativa b. me médio de postagens. Os malotes e sedex estão sendo
priorizados.
Gazeta do Paraná, 13 set. 2003.
COMPLEMENTARES
PARA PRATICAR
7 (Unioeste-PR) Tendo por base o excerto, está correto afirmar:
6 UFRR, adaptada) (01) O termo “paralisação” (manchete) não pode ser especifica-
Capítulo VI — O cortiço do, a não ser que o leitor conheça o texto que vem a seguir
Amanhecera um domingo alegre no cortiço, um bom dia de e que permite saber de que paralisação se trata.
abril. Muita luz e pouco calor. (02) O recurso “já” (manchete) permite inferir que o autor do
As tinas estavam abandonadas; os coradouros despidos. texto acha pouco representativo o efeito alcançado pela
Tabuleiros e tabuleiros de roupa engomada saíam das ca- paralisação.
sinhas, carregados na maior parte pelos filhos das próprias (04) Com “95%” (manchete), o produtor do texto consegue re-
lavadeiras que se mostravam agora quase todas de fato presentar aproximadamente a abrangência de alcance do
limpo; os casaquinhos brancos avultavam por cima das movimento de paralisação.
saias de chita de cor. Desprezaram-se os grandes chapéus (08) A expressão “área operacional” (manchete) tem o objetivo
de palha e os aventais de aniagem; agora as portuguesas de restringir a que é que se referem os 95% anteriormente
tinham na cabeça um lenço novo de ramagens vistosas e mencionados.
as brasileiras haviam penteado o cabelo e pregado nos ca- (16) Com “a greve dos funcionários dos Correios”, o leitor tem
chos negros um ramalhete de dois vinténs; aquelas tran- a chave para começar a compreender “paralisação” na
çavam no ombro xales de lã vermelha, e estas de crochê, manchete.
de um amarelo desbotado. Viam-se homens de corpo (32) Para a leitura de “postagens”, “malotes” e “sedex”, o leitor
nu, jogando a placa, com grande algazarra. Um grupo de deve levar em consideração a informação anterior de que
italianos, assentados debaixo de uma árvore, conversava a greve acontece no “Paraná”.
ruidosamente, fumando cachimbo. Mulheres ensaboavam (64) “A empresa” é um recurso de ordem coesiva que, para ser
os filhos pequenos debaixo da bica, muito zangadas, a da- compreendido, deve ser relacionado a “Correios”.
rem-lhes murros, a praguejar, e as crianças berravam, de Dê a soma dos números dos itens corretos.
olhos fechados, esperneando. A casa da Machona estava
8 (UFPR) Segundo o Mapa da violência 3, da Unesco, publicado
num rebuliço, porque a família ia sair a passeio; a velha
este ano, na faixa que vai de 15 a 24 anos, em 2000, morre-
gritava, gritava Neném, gritava o Agostinho. De muitas
ram 6.414 jovens em decorrência de acidentes de transporte
outras saíam cantos ou sons de instrumentos; ouviam-se
no Brasil — o que representa 21,8% do total de mortes pela
harmônicas e ouviam-se guitarras, cuja discreta melodia
mesma causa naquele ano. De acordo com dados da CET
era de vez em quando interrompida por um ronco forte de
(Companhia de Engenharia de Tráfego), de 1999, nas coli-
trombone.
sões fatais em São Paulo, 40% dos mortos estavam na faixa
Leia as afirmações a respeito do texto e julgue (V ou F) cada etária de 16 a 25 anos. “A maior incidência de acidentes com
uma delas. pessoas dessa faixa etária ocorre das 18h de sexta-feira até
I. A palavra “um” em “um lenço”, “um ramalhete” e “um ama- domingo de manhã, sendo o pico na virada de sábado para
relo desbotado” é, morfologicamente, numeral. domingo”, diz José Borges de Carvalho Filho, superintendente
II. O texto é, predominantemente, descritivo. do Centro de Treinamento e Educação de Trânsito da CET.
III. Em “a casa da Machona estava num rebuliço”, a palavra Agora veja os dados gerais da cidade de São Paulo:
destacada é a junção da preposição “em” com o numeral A cada 2,6 min w é registrado um acidente
cardinal “um”. A cada 9,4 min w morre um ocupante de veículo
IV. O trecho, parte do romance naturalista O cortiço, apre- A cada 11,7 min w uma pessoa fica ferida
senta uma visão idealizada das personagens. A cada 21,1 min w acontece um acidente com vítimas não
pedestres
Leia o texto a seguir para responder à questão 7.
A cada 44,3 min w acontece um atropelamento
Paralisação já atinge 95% da área operacional A cada 46,4 min w um pedestre é ferido
A greve dos funcionários dos Correios, que começou à Fonte: CET — Companhia de Engenharia de Tráfego. Adaptado de Folha
zero hora de quinta em Curitiba e Foz, ganhou a ade- de S.Paulo, Folhateen, 7 out. 2002.
10 Morfossintaxe II
Com base nessas informações, elabore um texto de até 10 linhas em que você prove a necessidade de mudança desse quadro.
Leia a abertura de uma matéria da revista Alfa, edição de abril de 2011, e perceba o papel fun-
damental que os advérbios representam.
De repente, no último verão
Discretamente — apesar de pelo menos um baile de arromba a bordo — dois dos mais incrí-
veis megaiates do mundo estiveram juntos, no Rio. Sílvio Ferraz conta o que eles vieram fazer.
GRAMÁTICA
Observe que, na manchete, só há indicações de modo (“de repente”) e tempo (“no último ve-
rão”). Nem mesmo é necessário haver um verbo para que se compreenda o básico: como aconteceu,
quando aconteceu. Em seguida, no início do texto, o advérbio “discretamente” mostra o modo como
foi a passagem de “dois dos mais incríveis megaiates do mundo” pelo litoral do Rio de Janeiro. 1
Morfossintaxe II 11
OBSERVAÇÃO advérbios, não se mostram simplesmente por uma palavra, mas, sim, por duas ou mais. Nesse
caso, temos as locuções adverbiais. Por exemplo, enquanto “calmamente” é um advérbio, “com
1 Na construção da frase, os advérbios calma” é uma locução adverbial.
que modificam um adjetivo ou outro
Veja a tabela a seguir.
advérbio, geralmente, aparecem antes
desses termos que eles modificam.
Exemplo: Classificação Advérbios e locuções adverbiais
Adriana parecia muito calma De afirmação Sim, certamente, realmente, com certeza
naquele dia tão especial para ela.
De dúvida Acaso, possivelmente, provavelmente, talvez, por acaso
Os advérbios de modo, modificando
verbos, por sua vez, costumam apa-
De intensidade Bastante, bem, demais, muito, pouco, tanto, de muito, de pouco, de todo
recer depois do verbo modificado.
Exemplo: De lugar Abaixo, acima, aqui, ali, acolá, à direita, à esquerda, ao lado, de dentro, de fora
Júlio lavava as mãos minuciosa- De modo Assim, bem, mal, depressa, devagar, melhor, pior, à toa, à vontade, ao contrário, às avessas
mente.
De negação Não, definitivamente, jamais, de forma alguma, de modo nenhum
De tempo Agora, amanhã, ontem, anteontem, à noite, à tarde, de manhã, de vez em quando
ATENÇÃO!
Vale notar que, embora os advérbios sejam tidos como invariáveis, é comum que eles apareçam
com variações, principalmente de grau. É muito comum, por exemplo, dizermos que “a casa fica
pertinho da praia”. Nesse caso, o advérbio “perto” foi flexionado no diminutivo, com a ideia de in-
tensidade (a casa fica muito perto da praia). Podemos dizer, também, que há um grau comparativo.
Quando dizemos que “Maria escreve mais depressa que eu”, o grau é comparativo de superioridade.
O uso de advérbios, locuções adverbiais e palavras denotativas, expressando correta e coeren-
temente as circunstâncias, contribui para um texto claro e, não raro, com efeitos expressivos. 1 1
12 Morfossintaxe II
tece no anúncio ao lado. Nele, há um rico ATENÇÃO!
CONEXÕES
Morfossintaxe II 13
A dúvida existe porque “meio” tem mais de um uso. Atente-se à diferença:
Meio = numeral fracionário. Virá vinculado a um substantivo e concorda normalmente: meia-noite, meia garrafa, meia folha.
Meio = advérbio de intensidade. Virá vinculado a um adjetivo e não se flexiona: meio cansada, meio distraída, meio louca, meio triste.
Para sair de vez da dúvida, pense na palavra muito: se muito não varia, meio também não. Compare:
Embora o sentido seja diferente, o uso é o mesmo e, por isso, serve de comparação. Diga: “Ela estava meio triste, mas depois ficou muito feliz”.
“Meia triste” nunca mais.
Adaptado de João Bolognesi. Disponível em: http://exame.abril.com.br
IVAN CABRAL
1 No texto, o autor afirma que “meia triste” só pode ser “meia com cheiro desagradável”. Antes, porém, afirma que “é muito comum no dia a dia o
uso de estou meia cansada”. Essas afirmações, na sua opinião, são contraditórias? Por quê?
ATIVIDADES
Leia o texto a seguir para responder às questões de 9 a 12. E numa esteira de vime
Beber uma água de coco
Tarde em Itaposã
Um velho calção de banho É bom!…
Um dia pra vadiar Passar uma tarde em Itapuã
O mar que não tem tamanho Ao sol que arde em Itapuã
E um arco-íris no ar… Ouvindo o mar de Itapuã
Depois, na praça Caymmi, Falar de amor em Itapuã…
Sentir preguiça no corpo
Enquanto o mar inaugura
14 Morfossintaxe II
No contexto, as palavras não são advérbios, mas substantivos. Embora carreguem
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura a ideia de tempo, essas palavras têm a função de nomear a passagem do tempo,
Com uma cachaça de rolha… que na composição musical indicam o passado e o futuro. Daí, no contexto,
assumirem a função de substantivos.
E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda rodar
11 Retire os advérbios e as locuções adverbiais das duas primeiras
É bom!…
estrofes e informe quais circunstâncias eles indicam.
Passar uma tarde em Itapuã Na primeira estrofe, “não” indica negação, “pra vadiar” indica finalidade; “no ar”
Ao sol que arde em Itapuã indica circunstância de lugar; na segunda, “Depois” indica tempo e “na praça
Ouvindo o mar de Itapuã Caymmi”, “no corpo” e “numa esteira de vime” indicam lugar. Os advérbios e
Falar de amor em Itapuã… locuções adverbiais que aparecem na letra da música, quase em sua totalidade,
Depois sentir o arrepio indicam circunstâncias de tempo e lugar.
Do vento que a noite traz
E o diz que diz que macio
Que brota dos coqueirais…
12 Em “Argumentar com doçura” há uma expressão que indica
E nos espaços serenos
modo. Destaque tal expressão e, em seguida, substitua-a em
Sem ontem nem amanhã
seu contexto por um único advérbio.
Dormir nos braços morenos
A expressão que indica modo é “com doçura” e pode ser substituída, em seu con-
Da lua de Itapuã
É bom!… texto, por “docemente”. A expressão “com doçura” liga-se ao verbo “argumentar”.
TAREFA PROPOSTA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.
Leia, abaixo, a letra da canção “A pulga”, de Vinicius de Moraes, Quatro, cinco, seis
para, em seguida, responder às questões de 1 a 3. Com mais um pulinho
Estou na perna do freguês
A pulga
Um, dois, três
Um, dois, três
16 Morfossintaxe II
Quatro, cinco, seis Do sul cativo
Com mais uma mordidinha O este é meu norte.
Coitadinho do freguês
Outros que contem
Um, dois, três Passo por passo:
Quatro, cinco, seis Eu morro ontem
Tô de barriguinha cheia
Tchau Nasço amanhã
Good bye Ando onde há espaço:
Auf Wiedersehen — Meu tempo é quando.
A Arca de Noé. Polygram, 1980. MORAES, Vinicius de. Antologia poética.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
1 Explique a diferença morfológica que há entre os termos desta-
4 (Unicamp-SP) Tente explicar qual é o sentido da palavra “este”,
cados nas passagens abaixo. Justifique.
no último verso da segunda estrofe. Justifique sua resposta.
I. Um, dois, três
Quatro, cinco, seis 5 (Unicamp-SP) Explique como se constroem a sonoridade e o
II. Com mais um pulinho efeito de sentido que surgem com o uso da palavra “ardo”.
2 O conteúdo dos versos mostra quem é a personagem que apa- 6 (Unicamp-SP) Retire todas as locuções adverbiais do poema,
rece em primeira pessoa na composição (estou). Quem é essa separando-as entre circunstâncias de tempo e circunstâncias
personagem e quais elementos permitem chegar-se a tal con- de espaço.
clusão?
7 (Unicamp-SP) A poesia é um lugar privilegiado para cons-
3 Veja as acepções encontradas para a palavra “freguês” no Dicio- tatarmos que a língua é muito mais produtiva do que pre-
nário Eletrônico Houaiss 3.0: veem as normas gramaticais. Isso é particularmente visível
no modo como o poema explora os marcadores temporais
substantivo masculino
e espaciais. Comente dois exemplos presentes no poema
1. pessoa que frequenta ou pertence a determinada paró-
que confirmem essa afirmação.
quia, freguesia; paroquiano
2. indivíduo que tem por hábito fazer compras (em) ou 8 +Enem [H22) Observe a charge a seguir.
usar os serviços do(s) mesmo(s) estabelecimento(s)
Exs.: só comprava carnes no açougue de que era f.
NANI
era f. daquele restaurante
3. Derivação: por extensão de sentido.
consumidor, comprador ou cliente habitual
Ex.: habilidoso, sabia como atrair os f.
4. Regionalismo: Brasil. Uso: informal.
qualquer sujeito, qualquer indivíduo
5. Regionalismo: Brasil. Uso: informal, pejorativo.
indivíduo não confiável; vadio, vagabundo
A qual das acepções a palavra “freguês”, empregada no texto,
se liga mais diretamente? Justifique.
Morfossintaxe II 17
“paramento”, “gratificação”, “dinheiro”. na linguagem cotidiana. Mas não é difícil notar que se trata da
b) Não há qualquer relação entre o recorte de jornal que apa- junção do sufixo formador de advérbios -mente ao substantivo
rece na parte superior da página e a charge em si. “amigo”. Há outro advérbio, de sentido equivalente, mais usa-
c) O assunto tratado na charge é atemporal e não é necessário do nos dias de hoje. Nesse caso, faz-se a junção do sufixo não
conhecer qualquer informação contextual para compreendê- diretamente com o substantivo, mas com um adjetivo derivado
-la completamente. dele. Qual é o adjetivo e qual é o advérbio que dele deriva?
d) A palavra “unzinho”, que é um artigo indefinido flexionado
no diminutivo, assume um caráter carinhoso, próximo, fa- Leia o poema e responda às questões 11 e 12.
miliar.
Anoitecer
e) O uso de “unzinho” transforma o numeral cardinal “um” em
É a hora em que o sino toca,
um numeral ordinal.
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
Leia o texto para responder às questões 9 e 10.
sirenes roucas, apitos
Prólogo da terceira edição aflitos, pungentes, trágicos,
A primeira edição destas Memórias póstumas de Brás Cubas uivando escuro segredo;
foi feita aos pedaços na Revista Brasileira, pelos anos de desta hora tenho medo.
1880. Postas mais tarde em livro, corrigi o texto em vários
lugares. Agora que tive de o rever para a terceira edição, É a hora em que o pássaro volta,
emendei ainda alguma coisa e suprimi duas ou três dúzias mas de há muito não há pássaros;
de linhas. Assim composta, sai novamente à luz esta obra só multidões compactas
que alguma benevolência parece ter encontrado no público. escorrendo exaustas
Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, como espesso óleo
perguntava: “As Memórias póstumas de Brás Cubas são um que impregna o lajedo;
romance?” Macedo Soares, em carta que me escreveu por desta hora tenho medo.
esse tempo, recordava amigamente as Viagens na minha ter-
ra. Ao primeiro respondia já o defunto Brás Cubas (como o É a hora do descanso,
leitor viu e verá no prólogo dele que vai adiante) que sim e mas o descanso vem tarde,
que não, que era romance para uns e não o era para outros. o corpo não pede sono,
Quanto ao segundo, assim se explicou o finado: “Trata-se de depois de tanto rodar;
uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma pede paz — morte — mergulho
livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se no poço mais ermo e quedo;
lhe meti algumas rabugens de pessimismo.” Toda essa gente desta hora tenho medo.
viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garret na terra
dele, Sterne na terra dos outros. De Brás Cubas se pode di- Hora de delicadeza,
zer que viajou à roda da vida. agasalho, sombra, silêncio.
O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que Haverá disso no mundo?
ele chama “rabugens de pessimismo”. Há na alma deste livro, É antes a hora dos corvos,
por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e ás- bicando em mim, meu passado,
pero, que está longe de vir de seus modelos. É taça que pode meu futuro, meu degredo;
ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho. Não digo desta hora, sim, tenho medo.
mais para não entrar na crítica de um defunto, que se pintou
a si e a outros, conforme lhe pareceu melhor e mais certo. 11 (PUC-SP) O poema citado, que integra a obra A rosa do povo, de
Machado de Assis Carlos Drummond de Andrade, constrói-se a partir de oposições.
Assinale a alternativa que não concretiza uma oposição existente
9 Reescreva o título do livro, Memórias póstumas de Brás Cubas, na construção do poema.
substituindo o adjetivo por um advérbio ou locução adverbial a) O lirismo nostálgico de evocações do passado e o drama
equivalente em sentido. Faça as adaptações necessárias. presente das situações de conflito.
b) A espiritualidade de sons delicados e a crueza dos ruídos
10 Veja: “Macedo Soares, em carta que me escreveu por esse tem-
estridentes.
po, recordava amigamente as Viagens na minha terra.”
c) A leveza solitária da hora e a densidade compacta dos corpos.
A palavra “amigamente” não é usada com muita frequência
d) O repouso reparador do descanso e o desespero sem saída
18 Morfossintaxe II
da morte. pelo emprego da locução adverbial “na busca de novas
e) A afirmação das certezas passadas e a confirmação das ações fontes energéticas”.
no presente. e) introduzir enfaticamente crítica a quem apoia investimen-
tos em novas fontes de energia, o que vem reforçado pela
12 (PUC-SP) A ideia do anoitecer, que é praticamente personifica-
oração intercalada.
do no poema, traz consigo uma noção indubitável de tempo,
apesar de não se tratar de advérbio. Mostre que essa ideia de
Texto para as questões 14 e 15.
fato ocorre e dê uma prova de que “anoitecer” não é advérbio
no poema de Drummond. S. Paulo, 13-XI-42
Murilo
13 (PUC-SP, adaptada)
São 23 horas e estou honestissimamente em casa, imagine!
Baixaria sobre o aquecimento global Mas é doença que me prende, irmão pequeno. Tomei com
Longe de ser opção apenas econômica, é eminentemente uma gripe na semana passada, depois, desensarado, com uma
ética a necessidade de drástico direcionamento das ativi- chuva, domingo último, e o resultado foi uma sinusitezinha
dades de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) para o que infernal que me inutilizou mais esta semana toda. E eu com
tem sido chamado de “energias alternativas”. É pura irres- tanto trabalho! Faz quinze dias que não faço nada, com o de-
ponsabilidade etiquetar de desperdício o atual gasto mun- sânimo de após gripe, uma moleza invencível, e as dores e
dial nessa área. Ao contrário, os baixíssimos investimentos tratamento atrozes. Nesta noitinha de hoje me senti mais ani-
em CT&I para a superação da era dos fósseis só atestam o mado e andei trabalhandinho por aí. […]
atraso e a miopia das elites dirigentes. Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe mandei,
Mesmo os mais recalcitrantes “céticos”, que insistem em ne- gostei da sua habilidade em pegar todos os casos “proposi-
gar o aquecimento global ou que ele seja provocado por ati- tais”. Sim senhor, seu poeta, você até está ficando escritor e
vidades humanas, deveriam apoiar investimentos na busca estilista. Você tem toda a razão de não gostar do “nariz furão”,
de novas fontes energéticas. de “comichona”, etc. Mas lhe juro que o gosto consciente aí é
Por isso, chega a ser escandalosa a desonestidade intelectual da gente não gostar sensitivamente. As palavras são postas de
dos que repetem como papagaios que já teriam sido gastos propósito pra não gostar, devido à elevação declamatória do
US$ 50 bilhões em tentativas de provar a influência climáti- coral que precisa ser um bocado bárbara, brutal, insatisfató-
ca das emissões antrópicas de CO2. ria e lancinante. Carece botar um pouco de insatisfação no
Quem criou a lenda dos US$ 50 bilhões foi o paleontólogo prazer estético, não deixar a coisa muito bem-feitinha. […]
australiano Robert M. Carter, porque é contra os esforços De todas as palavras que você recusou só uma continua me
em CT&I focados na procura de usos mais diretos da ener- desagradando “lar fechadinho”, em que o carinhoso do dimi-
gia solar. Prefere que se continue a esbanjar recursos fósseis nutivo é um desfalecimento no grandioso do coral.
e não lamenta os US$ 3 trilhões já queimados na Guerra do Mário de Andrade. Cartas a Murilo Miranda.
Iraque.
14 (Fuvest-SP) “… estou honestissimamente em casa, imagine! Mas
Na contramão desse tipo de baixaria, está despontando
é doença que me prende, irmão pequeno.”
aquilo que o jornalista Thomas L. Friedman havia apelidado
No trecho, o termo destacado indica que o autor da carta pre-
de green new deal e agora chama de “revolução verde”.
tende:
VEIGA, José Eli da e VALE, Petterson.
In: Folha de S.Paulo, 25 set. 2008. a) revelar a acentuada sinceridade com que se dirige ao leitor.
b) descrever o lugar onde é obrigado a ficar em razão da doença.
Mesmo os mais recalcitrantes “céticos”, que insistem em
c) demarcar o tempo em que permanece impossibilitado de
negar o aquecimento global ou que ele seja provocado por
sair.
atividades humanas, deveriam apoiar investimentos na
d) usar a doença como pretexto para sua voluntária inatividade.
busca de novas fontes energéticas. Iniciar o parágrafo com
e) enfatizar sua forçada resignação com a permanência em casa.
o termo entre aspas serve para:
a) evidenciar crítica aos que teimam em negar a problemá- 15 (Fuvest-SP) No trecho “…o gosto consciente aí é da gente não GRAMÁTICA
tica em torno do aquecimento global, o que é reforçado gostar sensitivamente”, apresenta-se um jogo de ideias contrá-
pela oração intercalada. rias, que também ocorre em:
b) mostrar a necessidade de busca por fontes de energia a) “dores e tratamento atrozes”.
alternativas, o que é descartado pela oração intercalada. b) “reservas a palavras do poema”.
c) assinalar argumento mais forte em relação ao apoio que c) “insatisfação no prazer estético”.
os céticos estão dando à causa. d) “a coisa muito bem-feitinha”.
d) incluir os obstinados na discussão, o que vem evidenciado e) “o carinhoso do diminutivo”.
Morfossintaxe II 19
16 (Fuvest-SP) Leia a seguinte fala, extraída de uma peça teatral, e na antiga Faculdade de Filosofia. No mesmo vagão viajavam
responda ao que se pede. também muitos professores a caminho das escolas onde tra-
balhavam. Iam juntos, alegres e falantes… Por anos escutei o
Odorico: Povo sucupirano! Agoramente, já investido no car-
que falavam. Falavam sempre sobre as escolas. Era ao redor
go de prefeito, aqui estou para receber a confirmação, rati-
delas que giravam os seus universos. Falavam sobre diretores,
ficação, a autenticação e, por que não dizer, a sagração do
colegas, salários, reuniões, relatórios, férias, programas, pro-
povo que me elegeu.
vas. Mas nunca, nunca mesmo, eu os ouvi falar sobre os seus
Dias Gomes. O Bem-Amado.
alunos. Parece que nos universos em que viviam não havia
A linguagem usada por Odorico produz efeitos humorísticos. alunos, embora houvesse escolas. Se não falavam sobre alu-
Aponte um exemplo que comprove essa afirmação. Justifique nos é porque os alunos não tinham importância.
sua escolha. [...]
Essa ausência do aluno — não do aluno a quem o discurso
Leia o seguinte texto, extraído de uma biografia do compositor administrativo das escolas se refere como “o perfil dos nossos
Carlos Gomes, para responder às questões 17 e 18. alunos”, nem esse nem aquele, todos, aluno abstrato — não
esse, mas aquele aluno de rosto inconfundível e nome único,
No ano seguinte [1860], com o objetivo de consolidar sua
esse aluno de carne e osso que é razão de ser das escolas. Ah!,
formação musical, [Carlos Gomes] mudou-se para o Rio
é importante nunca se esquecer disso: alunos não são unida-
de Janeiro, contra a vontade do pai, para iniciar os estudos
des biopsicológicas móveis sobre as quais se devem gravar
no conservatório da cidade. “Uma ideia fixa me acompanha
os mesmos saberes, não importando que sejam meninos nas
como o meu destino! Tenho culpa, porventura, por tal cou-
praias do Nordeste, nas montanhas de Minas, às margens do
sa, se foi vossemecê que me deu o gosto pela arte a que me
Amazonas, ou nas favelas do Rio. Os alunos são crianças
dediquei e se seus esforços e sacrif ícios fizeram-me ganhar
de carne e osso que sofrem, riem, gostam de brincar, têm
ambição de glórias futuras?”, escreveu ao pai, aflito e cheio
o direito de ter alegrias no presente e não vão à escola para
de remorso por tê-lo contrariado. “Não me culpe pelo passo
serem transformados em unidades produtivas no futuro.
que dei hoje. […] Nada mais lhe posso dizer nesta ocasião,
Folha de S.Paulo, 27 ago. 2002.
mas afirmo que as minhas intenções são puras e espero de-
sassossegado a sua bênção e o seu perdão”, completou. 20 (UFMS) De acordo com o autor, os professores que iam de trem
Fonte: http://musicaclassica.folha.com.br para Rio Claro:
a) evitavam falar sobre seus alunos para não estragar o clima
17 (Fuvest-SP) Sobre o advérbio “porventura”, presente na
de alegria durante a viagem.
carta do compositor, o Dicionário Houaiss informa: usa-
b) abordavam vários assuntos, inclusive aqueles relacionados
-se em frases interrogativas, especialmente em perguntas deli-
ao universo escolar.
cadas ou retóricas. Aplica-se ao texto da carta essa informação?
c) preferiam não abordar o tema “aluno” na presença de es-
Justifique sua resposta.
tranhos.
18 (Fuvest-SP) Cite duas palavras, também empregadas pelo com- d) pareciam não se importar com o elemento central de sua
positor, que atestem, de maneira mais evidente, que, daquela prática cotidiana.
época para hoje, a língua portuguesa sofreu modificações. e) não se consideravam educadores, comprometidos com a
formação do ser humano.
19 (IME-RJ, adaptada) Considere o trecho a seguir, de Iracema, de
José de Alencar, e faça o que se pede. 21 (UFMS) Todas as alternativas que seguem apresentam caracte-
O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu rísticas dos alunos compatíveis com as ideias defendidas por
das praias do Ceará, levando no frágil barco o filho e o cão fiel. Rubem Alves, exceto:
As palavras que normalmente expressam circunstância de tem- a) são indivíduos reais, concretos e, como tais, dotados de
po são classificadas como advérbios. Há, no trecho lido, uma sentimentos.
expressão que indica tempo, que não é um advérbio. Retire do b) não estão aptos a receber os mesmos conhecimentos, indi-
fragmento tal expressão e explique seu sentido. ferentemente.
c) não têm tido a consideração que merecem no universo
O texto que segue é um trecho do artigo “Não é próprio falar sobre escolar.
os alunos...”, de autoria do educador e psicanalista Rubem Alves. d) vão à escola hoje porque têm o direito de ser felizes amanhã.
Leia-o, com atenção, para responder às questões de 20 a 22. e) não são autômatos que registram passivamente os conteúdos
transmitidos.
Por vários anos eu viajei diariamente de trem, de Campinas
para Rio Claro, no Estado de São Paulo, onde eu era professor
20 Morfossintaxe II
22 (UFMS) Assinale a alternativa correta.
a) “De trem, de Campinas, para Rio Claro” e “no Estado de São Paulo” indicam circunstâncias de lugar.
b) O trecho entre travessões, no início do 2o parágrafo, é um exemplo claro de discurso direto, o que vem reforçado pela pre-
sença de aspas.
c) Em “Mas nunca, nunca mesmo, eu os ouvi falar sobre seus alunos” e “Se não falavam sobre alunos é porque os alunos não
tinham importância”, a repetição serve apenas para sobrecarregar desnecessariamente o texto, já que não traz nenhuma
informação nova ao leitor.
d) Para interpretar adequadamente “essa ausência do aluno”, o leitor tem que ir além dos limites da frase em que tal expressão
aparece.
e) Embora incorporem prefixos distintos, inconfundível e biopsicológicas resultam do mesmo processo de formação de palavras.
23 (Insper-SP, adaptada)
NANI
NANI. Vereda Tropical. Rio de Janeiro: Record, 1984.
Caso houvesse acento indicativo de crase em “a sombra”, qual seria o novo sentido?
24 +Enem [H25) Observe a tirinha.
PEANUTS, CHARLES SCHULZ. 1984 PEANUTS WORLDWIDE
LLC./DIST. BY UNIVERSAL UCLICK
VÁ EM FRENTE
Acesse
No site http://www.buzzfeed.com/?country=br você pode ver como as listas de curiosidades e informações presentes nele são sempre nomeadas por
meio de um numeral. Isso faz do site um imenso sucesso na rede!
Morfossintaxe II 21
CAPÍTULO
2 Interpretação de Texto II
Objetivos: A palavra “hieróglifo” dá nome a cada um dos sinais que apareciam na escrita de algumas ci-
vilizações. Muito comumente, chamamos de “hieróglifo” algo que pareça muito difícil — ou vir-
c Considerar a tualmente impossível — de ser decifrado. No Egito Antigo, usavam-se hieróglifos que, por muito
importância de tempo, não puderam ser compreendidos ou decifrados. Essa compreensão só aconteceu a partir
reconhecer o contexto
da descoberta da Pedra da Roseta, um pedaço grande de rocha sobre o qual foi gravado o texto
e do momento
de um decreto promulgado por volta de 196 a.C.
histórico ao se iniciar
uma leitura e uma
Esse mesmo texto aparece na Pedra da Roseta em hieróglifos, em demótico e em grego anti-
produção textual. go. A comparação entre o texto em hieróglifos e o texto em grego permitiu que a mensagem fos-
se decifrada — e, então, que os estudiosos compreendessem parte do funcionamento da escrita
c Compreender enigmática dos egípcios.
a importância Às vezes, interpretar um texto depende de observação, comparação, analogia, conhecimentos de
da leitura como diferentes naturezas. E tempo. Mas, quando não se desiste — e finalmente o texto se mostra por com-
prática recorrente
pleto diante do leitor, a recompensa sempre vale a pena.
e permanente
para ampliar o
Observe a imagem e o texto verbal para responder às questões que seguem.
conhecimento de
mundo;. Quais informações contextuais são necessárias para que se compreenda adequadamente o tex-
to? (Se for necessário, faça uma pesquisa na internet.)
c Interpretar textos
verbais e não verbais É preciso conhecer a notícia: uma torcedora do Grêmio chamou o goleiro Aranha dos Santos de “macaco”, fato
por meio da análise registrado por uma câmera e que deflagrou muitas manifestações de repúdio à atitude e à postura da torcedora.
dos diversos códigos e
linguagens presentes
nos vários gêneros
textuais que circulam O que seria possível compreender sem tais informações contextuais?
socialmente. Seria possível compreender que se trata de um goleiro que, determinado, não deixa que o “racismo” faça “um gol”.
Professor, nesta atividade pode-se trabalhar a habilidade 22 da matriz de referência do Enem, pois a charge é, claramente, um texto usado
para a veiculação de opiniões, críticas e compartilhamento de visões de mundo. Nesse caso, a análise da charge permite perceber que se
22 Morfossintaxe II trata de um texto que, na maioria das vezes, exige conhecimento de determinados acontecimentos e a localização desses fatos no tempo.
TEXTO, CONTEXTO E MOMENTO HISTÓRICO
Definimos texto como um todo organizado de sentido, resultado de experiências pessoais e
coletivas, uma vez que o seu autor, para produzi-lo, se insere em determinado meio e em deter-
minado momento histórico. Desvincular o texto desses fatores é tornar falhas a leitura e a inter-
pretação que se fazem dele.
Basicamente, há duas maneiras de se olhar para um texto. Alguns dizem que o mais importante
é observar a sua estrutura, a forma como se organiza internamente, sem considerar o contexto no
qual está inserido. Outros, porém, afirmam que o contexto é exatamente a parte mais importante
a ser observada para que um texto seja interpretado de forma correta. Como o equilíbrio é, quase
sempre, a melhor opção, podemos, sem ser radicais, levar em consideração, no trabalho de inter-
pretação de um texto escrito, os dois aspectos. É muito provável que, assim, sairemos ganhando.
Até há algumas décadas, os fatos históricos referiam-se às personalidades que se tornavam co-
nhecidas e famosas por seus feitos inéditos e/ou heroicos.
Tinha-se a impressão de que somente elas eram capazes de
REPRODUÇÃO
fazer história, enquanto éramos meros espectadores, assis-
tindo passivamente à vida passar.
Hoje, felizmente, o conceito de história mudou bastan-
te, e a maioria das pessoas sabe e tem consciência de que
todos fazemos história, porque a construímos no cotidia-
no, porque fazemos parte dela, numa via de mão dupla:
influenciamos pessoas, compartilhando nossas ideias com
elas, e somos influenciados também.
Assim, quando alguém escreve qualquer texto, expressa
uma visão de mundo dependente de sua classe social, idade,
cultura, grau de escolaridade e experiência de vida. Quando
alguém lê um texto, lança mão de todos esses recursos para
compreendê-lo mais e o melhor que puder.
Desse modo, o contexto, isto é, o conjunto das circuns-
tâncias nas quais se produz um acontecimento, uma ação
(lugar, momento, situação, pessoa(s) envolvida(s) etc.), coo-
pera muito para se entender e interpretar alguns aspectos
textuais. Por exemplo: é fato comum, principalmente em
campanhas eleitorais, que declarações de políticos sejam
distorcidas pela própria mídia ou pelos adversários. De-
terminada fala de um candidato é retirada do contexto e,
então, cria-se a confusão. Assim também pode acontecer
com uma palavra, uma expressão, um parágrafo inteiro
descontextualizado.
Quanto ao momento histórico, reportamo-nos aos fa-
tos que envolvem toda a sociedade, em qualquer época e
em qualquer lugar, relacionados à política, à economia, à
cultura, às artes, às religiões, às guerras etc. Muitas vezes,
desvincular um texto de seu momento histórico dificul-
ta muito ou mesmo impede que ele seja compreendido. GRAMÁTICA
Neste capítulo, vamos estudar textos cuja interpretação
depende de vários fatores, mas especialmente do contexto Esse anúncio só pode ser compreendido se
e do momento histórico. analisado nos tempos atuais, em que se usa a
internet com tanta naturalidade e frequência.
Conhecimento de mundo A imagem do ponteiro do mouse, representado
por uma pequena mão com o dedo indicador
Você já deve ter visto questões e exercícios cujo enunciado exige o seu conhecimento de mun- apontando para a palavra “click” insere o texto,
do. Mas o que vem a ser isso? Esse conhecimento de mundo é aquele que foi adquirido fora do definitivamente, nos tempos modernos.
Morfossintaxe II 23
ambiente escolar, por meio de sua experiência de vida, o que inclui o convívio com a família, com
os amigos, com as leituras que você realizou e a própria análise da realidade.
Todos nós somos capazes de observar a realidade — ou as realidades — em volta de nós mes-
mos e questionar, criticar, expandir aquilo que vemos e ouvimos. Todas essas observações e seus
desdobramentos, ou seja, as questões e dúvidas que levantamos sobre elas, podem ser muito úteis
na hora de lermos e compreendermos um texto, já que ele estará, inevitavelmente, inserido em
um contexto cujo conhecimento prévio pode tornar os efeitos de sentido mais claros e mais ricos.
É verdade que o conhecimento escolar enriquece e aprimora o que estamos, aqui, denominan-
do como conhecimento de mundo, mas este qualquer pessoa pode carregar consigo, sem nunca
ter ido à escola. É um conhecimento que conta com suas experiências, muitas delas passadas de
geração a geração, seu senso de analisar as pessoas e situações, o aprendizado com a natureza, e
tantos outros. Não é possível, para qualquer ser humano, conhecer tudo. O auge do conhecimento
talvez não exista, porque há muito no mundo para ser explorado, e isso aumenta a todo instan-
te. No entanto, o exercício de ser bom observador é bastante útil, porque, ao se observar e ao se
criarem questionamentos sobre aquilo que foi observado, também se aprende, invariavelmente.
Veja a obra de arte desta página e, antes de continuar a leitura, tente extrair dela os elementos
que mais chamarem a sua atenção.
24 Morfossintaxe II
Assim vemos como o conhecimento de mundo permitiu a Tarsila compor uma obra surpreen-
dente. E, por meio do nosso conhecimento de mundo, somos capazes de compreender o que a ar-
tista talvez tenha pretendido mostrar. Afinal, sabemos que Madureira é subúrbio do Rio de Janeiro,
conhecemos a tradição do carnaval e sabemos o que representa a imagem da torre mais famosa da
França. Eis como o conhecimento de mundo pode ajudar na reinterpretação desse mesmo mundo,
estampado em palavras e formas diante de nossos olhos.
Veja, a seguir, outro exemplo de texto em que o conhecimento de mundo é fundamental para
a interpretação.
DAN PIRARO
Para se compreender a imagem, é preciso saber que, muitas vezes, a charge jornalística não só
ilustra uma notícia, como também faz uso de elementos que nos levam a interpretá-la. Normal-
mente, ela apresenta uma caricatura da personalidade pública que é criticada ou ridicularizada.
Podem haver balões nos quais o texto escrito, combinado com o desenho e outros recursos gráfi-
cos, produz o humor. Outras vezes, porém, não há temas políticos ou personalidades que estejam
sendo criticadas. Ainda assim, é necessário ter conhecimento de mundo para interpretar adequa-
damente as mensagens veiculadas por meio dessas imagens.
No caso da charge apresentada, é preciso saber que existe um costume que é o de associar pi-
ratas a papagaios, uma vez que, geralmente, os piratas são mostrados — em textos escritos ou em
figuras — com papagaios no ombro.
Na charge, ocorreu o oposto: um papagaio aparece com uma miniatura de pirata no alto da asa.
É claro que a fala produzida por ele, com um palavreado bem escolhido, também coopera para a
construção de sentido. Além da inversão de papéis, a charge critica o consumismo e a necessidade GRAMÁTICA
de possuir, que se mostra pelo comentário de “não resistir” e comprar o piratinha na “loja do cen-
tro”. Fica evidente, ainda, a necessidade humana de se diferenciar por meio de algo que o outro
não tem, causando admiração ou até inveja. Há também a questão da linguagem, que, de certa
forma, marca o perfil de quem a usa para se comunicar. O “foférrima” não pode deixar de ser visto
como uma caricatura da futilidade, relacionando aquele que consome por consumir a um perfil
fútil, marcado pelo modo de empregar a língua.
Morfossintaxe II 25
Conhecer outros códigos e linguagens
Alguns vestibulares já dividem suas provas por códigos e linguagens, conforme os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs); outros, por habilidades e competências, como é o caso do Enem.
Com isso, é comum que seja necessário conhecer vários códigos e integrá-los para conseguir
responder a questões de provas, especialmente as do Enem. O conhecimento de outros códigos
e linguagens, além da língua portuguesa escrita, é colocado à prova todos os anos. Isso significa
que o saber de outras áreas deve se juntar ao de língua portuguesa e, com isso, aumentar a ca-
pacidade de selecionar, combinar, analisar dados e informações e interpretá-los corretamente.
A leitura correta de mapas, gráficos, tabelas e infográficos é comumente o que se busca em
provas.
Percebe-se que não são textos muito distantes da nossa realidade e que, por isso, lê-los é ins-
trumento necessário para interpretarmos o mundo a nossa volta. São também tipos de linguagem
muito explorados pelos meios de comunicação.
Ainda em relação aos códigos e linguagens, é importante lembrar que a diversidade de textos
e temas encontrada em questões de provas é imensa. Por isso, qualquer conhecimento é impor-
tante, por mais que pareça desconectado de assuntos tratados em vestibulares e concursos. Há até
alguns vestibulares que incluem obras cinematográficas em sua lista de “leituras” obrigatórias. As
artes, de forma geral, possuem linguagens distintas, mas mantêm relações estreitas entre si, como
a linguagem do cinema e a da literatura, por exemplo.
Fatos históricos
Outro fator importante para a correta interpretação de um texto é o (re)conhecimento de fa-
tos históricos. É óbvio que não basta saber simplesmente quando e onde ocorreram (embora isso
às vezes seja importante também), mas as causas que os motivaram, as consequências advindas
de sua existência, os sujeitos envolvidos, os reflexos nas gerações posteriores, seus antecedentes.
Observe essas duas páginas de uma reportagem da revista Superinteressante.
26 Morfossintaxe II
Quando se fala em fatos históricos, muitos pensam em fatos distantes no tempo. Há, porém,
muito de nossa história recente cujos reflexos ainda vivenciamos, fazendo-nos sentir verdadeiros
sujeitos dela.
Às vezes, numa questão, o fato histórico é apenas pano de fundo para o tema; às vezes é o
próprio tema.
As pessoas têm conhecimentos diferentes sobre o mesmo fato ou sobre a mesma realidade.
Ninguém precisaria saber as mesmas informações sobre o fato para compreender o que leu.
Mas seria interessante, no mínimo, reconhecer como a organização age, como é delicada a sua
função e, por fim, ser capaz de julgar se acha merecido ou não o prêmio entregue.
Ninguém precisa ser uma enciclopédia ambulante, conhecer os detalhes, mas os fatos mais im-
portantes — que têm relevância no cenário político, econômico, social e que incidem diretamente em
nossa vida pessoal e na sociedade — não podem ser esquecidos.
ATIVIDADES
Leia atentamente o texto e responda às questões 1 e 2. estruturas democráticas e autocráticas, hierarquias centrali-
zadas e descentralizadas, associações de expressão e aquelas
Pode-se abordar o estudo das organizações asseverando
que agem como instrumentos. As organizações são classifi-
a unicidade de toda estrutura social e evitando qualquer
cadas de maneira ainda mais comum, de acordo com suas
generalização, até que se tenha à mão prova empírica de
finalidades oficialmente declaradas, tais como educar, obter
similaridade bem aproximada. Foi esse o ponto de vista
lucros, promover saúde, religião, bem-estar, proteger os in-
aconselhado à equipe de pesquisa da Universidade de Mi-
teresses dos trabalhadores e recreação.
chigan pelos líderes de quase todas as organizações estu-
Adaptado de KATZ, Daniel e KAHN, Robert L. Psicologia social das orga-
dadas. — Nossa organização é única; de fato, não podemos nizações. São Paulo: Atlas, 1970.
ser comparados a qualquer outro grupo, declarou um líder
1 (FGV-SP) Do primeiro período do texto, entende-se que:
ferroviário. Os ferroviários viam seus problemas organiza-
a) é possível estudar as organizações, partindo do pressuposto
cionais como diferentes de todas as demais classes; o mes-
de que cada estrutura social tem características particulares,
mo acontecia com os altos funcionários do governo. Os
únicas. Oé possível
texto começa afirmando essa possibilidade, mostrando que
dirigentes das companhias de seguros reagiam da mesma partir de uma visão mais geral para outra, mais
b) o estudo das organizações é único, visto que a unicidade das
forma, o que também era feito pelos diretores de empresas
estruturas sociais confere a ele características eminentemente
manufatureiras, grandes e pequenas.
particulares. específica, sobre as organizações sociais.
Entretanto, no momento em que começavam a fa-
c) somente depois de aparecerem evidências de forte simila-
lar de seus problemas, as reivindicações que faziam de
ridade entre dois eventos sociais é que se pode estudar a
sua unicidade se tornavam invalidadas. Por meio
organização como uma estrutura social única.
de uma análise de seus problemas teria sido dif ícil esta-
d) a ocorrência de prova empírica de similaridade bem aproxi-
belecer diferença entre o diretor de uma estrada de ferro
mada permite generalizar a afirmação de que toda estrutura
e um alto funcionário público, entre o vice-presidente de
social é única. Alternativa a.
uma companhia seguradora e seu igual de uma fábrica de
e) os estudos da Universidade de Michigan partiram do pressu-
automóveis. Conquanto haja aspectos únicos em qualquer
posto de que as estruturas sociais são as únicas que permitem
situação social, também existem padrões comuns e, quan-
generalizar suas características.
to mais nos aprofundamos, maiores se tornam as similari-
dades genotípicas. 2 (FGV-SP) Pode-se depreender do texto que:
Por outro lado, o teorista social global pode ficar tão a) líderes diferentes achavam que suas organizações tinham
envolvido em certas dimensões abstratas de todas características únicas; no entanto, quando começaram a GRAMÁTICA
as situações sociais que ele será incapaz de explicar as falar, ficou evidente que os problemas delas eram similares.
principais origens de variação em qualquer dada situação. b) os líderes dos ferroviários reivindicavam dos diferentes líderes
O bom senso indica para esse problema a criação de uma de empresas manufatureiras a unicidade de suas condições.
tipologia. Nesse caso, são atribuídos às organizações certos c) foi difícil estabelecer a unicidade dos problemas que ocor-
tipos a respeito dos quais podem ser feitas generalizações. riam entre os líderes das classes sociais, os líderes dos ferro-
Assim, existem organizações voluntárias e involuntárias, viários e os funcionários públicos.
Morfossintaxe II 27
O texto apresenta a hipótese de que os líderes tendem a considerar que suas nações 4. Com a leitura do texto, fica claro que os transgênicos são considerados uma
têm problemas particulares, únicos e exclusivos. No entanto, quando as nações são solução, uma evolução atingida por meio da ciência; apenas a população em
comparadas, é possível perceber que há mais coincidências do que se imagina. geral ficaria “assustada” com tal descoberta.
Alternativa a.
d) não há nenhuma diferença entre um diretor de estrada de século XIX, a mortalidade entre as mulheres grávidas era al-
ferro e um alto funcionário público. tíssima, simplesmente porque os médicos mexiam em cadá-
e) as características da Universidade de Michigan a diferenciam veres e depois realizavam os partos — sem lavar as mãos. A
de qualquer outra organização. assepsia com uma solução de cloreto de cal reduziu a mor-
talidade das parturientes a menos de um décimo do que era
3 (UFPR) Leia o poema abaixo, de José Paulo Paes, e julgue (V ou
antes. Milagre! Mais ou menos na mesma época, surgiu a
F) as afirmativas.
anestesia, dando às pessoas o direito de serem tratadas sem
AUTOESCOLA VÊNUS sentir dor. Uma bênção. Imagine agora a vida sem assepsia
contato nem anestesia. No capítulo dos grandes avanços, as expe-
riências genéticas envolvendo a fauna e a flora parecem ser
para trás aquilo em que mais perto a ciência chegou da alquimia. É
(devagar) mágica pura. Os pesquisadores criam animais e plantas com
O poema não se constrói com formas fixas; a presença
para frente de Vênus nos versos não é exatamente uma citação, um pequeno porcentual de diferença em relação aos que
(devagar) mas uma referência ao tema do sexo; não se trata existem na natureza — e, como se pode acompanhar pela
simplesmente de ordens para fazer uma máquina
para trás repercussão dessas intervenções, a sociedade ainda observa
funcionar.
(ACELERE) os experimentos com espanto e preocupação.
para frente Veja, out. 2003.
(ACELERE)
O título do texto:
a) resume o conteúdo do texto.
pode desligar
b) mostra o ponto de vista dos cientistas diante dos transgêni-
( F ) O poeta José Paulo Paes, num reaproveitamento das con- cos. Alternativa e.
quistas modernistas na poesia, apresenta nesse poema um c) indica a posição das autoridades a respeito do tema.
bom exemplo das formas fixas de construção poética e uso d) explica a atitude do jornalista sobre o tema.
precioso da língua. e) revela a posição da população em geral diante dos transgê-
( V ) O poema parece descrever um momento do início do nicos.
aprendizado de direção, representando-o de maneira a,
5 +Enem [H1] Observe a tirinha a seguir.
juntamente com o nome da autoescola, criar um paralelo
JOAQUÍN SALVADOR LAVADO (QUINO). TODA MAFALDA, EDICIONES DE LA FLOR, 1993.
com o ato sexual.
( F ) As citações estão muito presentes na obra de José Paulo
Paes; nesse poema, Vênus, a deusa da inteligência e da
poesia, é utilizada para presentificar o convívio da máquina
com a arte.
( V ) A concisão dos versos não implica uma dificuldade de
compreensão do poema; ao contrário, é capaz de criar
As histórias em quadrinhos — ou “tirinhas” — constituem um
efeitos de ritmo e resultados irônicos significativos para a
gênero linguístico específico, que mescla linguagens verbais e
paródia sexual que se descreve.
não verbais. Pensando nisso, aponte qual elemento da tirinha
( F ) O verbo “acelerar” no imperativo e a permissão final “pode
não poderia ser transcrito com mesmo efeito em um texto uni-
desligar” geram um tom autoritário que prevalece em todo
camente verbal.
o poema; no texto enumera-se uma série de ordens para
a) A decepção do menino que usa o capacete.
o funcionamento de uma máquina.
b) A introspecção do menino na sarjeta.
( V ) O poema é representativo de uma forte tendência na poe-
c) A sensação de mudez do menino que usa o capacete.
sia do autor, que busca na coloquialidade e na extrema
d) A distração da menina encostada na mureta.
informalidade uma maneira de fazer poesia.
e) A composição do cenário.
4 (UFRR)
COMPLEMENTARES
PARA PRATICAR
Transgênicos, os grãos que assustam
Todo grande avanço científico, quando é bom, parece má- 6 (UFRN) Preocupada com a possibilidade de disseminação da aids
gico num primeiro momento. Passado algum tempo, aca- entre os adolescentes durante o carnaval norte-rio-grandense,
ba sendo incorporado como prática rotineira, e ninguém uma ONG local produziu o panfleto apresentado, ao lado, a fim
consegue pensar como seria viver sem ele. Em meados do de distribuí-lo para os jovens foliões.
5. Espera-se que o aluno identifique que o balão é um recurso expressivo característico da linguagem dos quadrinhos e que, portanto, na tentativa
de se passar o quadrinho para a linguagem unicamente verbal, não seria mais possível representar, por meio do balão vazio, a impossibilidade de o
menino ser ouvido.
28 Morfossintaxe II Alternativa c.
O texto do panfleto está adequado aos leitores a quem se destina? Justifique sua resposta e, ao fundamentá-la, utilize-se, como
ilustração, de trechos do texto produzido pela ONG.
É sabido que as histórias de Chico Bento são situadas no universo rural brasileiro. Leia esta história para responder às questões 7 e 8.
7 (Unicamp-SP) Explique o recurso utilizado para caracterizar o modo de falar das personagens na tira.
8 (Unicamp-SP) É possível afirmar que esse modo de falar caracterizado na tira é exclusivo do universo rural brasileiro? Justifique.
TEXTOS DO COTIDIANO
No dia a dia, deparamo-nos, especialmente nos meios de comunicação impressos, com uma
infinidade de assuntos expostos das mais variadas formas e em todo tipo de texto. São crônicas, GRAMÁTICA
contos, resenhas, editoriais, cartas, comentários, artigos em geral, além de charges, quadrinhos,
anúncios etc.
Todo esse material fala sobre tudo, mas principalmente daquilo que faz parte do nosso coti-
diano, como a política, a economia, os problemas sociais, tanto no cenário nacional quanto no
internacional. Os problemas que mais nos afligem estão sendo discutidos por muitas pessoas.
Esses textos também aparecem nas provas escolares, cujas questões objetivam analisá-los
sob diversos aspectos. Com relação à língua portuguesa, um texto (verbal ou não verbal) pode
Morfossintaxe II 29
ser estudado quanto à forma, quanto ao conteúdo, morfológica, sintática ou semanticamente;
quanto à intertextualidade, à literariedade, ao momento histórico, à estética literária etc.
DALCIO
Além das charges, há uma produção muito parecida que são os cartuns. A diferença básica entre
A charge faz uma homenagem ao político ambos é que a charge trata de assuntos mais pontuais, enquanto o cartum se refere a questões sem
Eduardo Campos, morto em agosto de 2014, tempo definido e que podem ser compreendidas mesmo algum tempo depois de sua publicação.
durante a campanha presidencial, sendo Veja um exemplo de cartum:
candidato à presidência do Brasil pelo PSB.
Para compreendê-la, é preciso não só saber
CASSIUS E GUILHERME
de sua morte mas, também, do detalhe de
seus olhos serem azuis, já que é com isso
que lida o chargista. Uma aproximação
gradual da imagem transforma o azul dos
olhos do político no azul do céu.
30 Morfossintaxe II
GARFIELD, JIM DAVIS. 2011 PAWS, INC. ALL RIGHTS RESERVED/
DIST. UNIVERSAL UCLICK
Também os quadrinhos têm função semelhante à da charge, po-
rém sem dar predomínio à política. Neles, pode-se falar sobre tudo,
do assunto mais comezinho ao mais grave.
Leia a tirinha a seguir, do famoso gato Garfield.
Quanto às peças publicitárias, vale lembrar que todas têm o especial
objetivo de “vender” alguma coisa: produto ou ideia, tanto faz. Elas são
cada vez mais criativas, expressando desejos, sentimentos, hábitos de
uma sociedade. Sobre esse aspecto, há uma linha tênue que separa o
que a sociedade quer e o que querem que ela queira.
REPRODUÇÃO
Morfossintaxe II 31
REPRODUÇÃO
Em outros casos, as imagens acompanham o texto de maneira a ilustrá-lo, tornando-o mais rico em seus sentidos e chamando a atenção do
leitor. É o caso desta capa, da revista Superinteressante.
32 Morfossintaxe II
EDITORA ABRIL
As ilustrações, desenhos feitos para
acompanhar histórias, são consideradas
textos e mantêm relações com textos ver-
bais, não raro por tratarem de temas si-
milares ou então pela intertextualidade.
A junção dos recursos visuais e verbais
coloca à prova a capacidade de alguém de
estabelecer essas relações, já que os textos
têm linguagens diferentes.
Desde muito tempo, as ilustrações
acompanham os textos. Nas histórias in-
fantis, nos livros mais clássicos, a trama é
quase sempre acompanhada por várias
ilustrações, que permitem à criança seguir
o desenrolar dos fatos só acompanhando
Na capa da revista, a imagem se soma ao
os desenhos. texto verbal na construção dos sentidos.
As ilustrações podem relacionar-se A chamada para a reportagem principal
mostra que ela trata da organização da
com um mesmo texto de diferentes manei- vida, dando dicas sobre como as pessoas
ras, sem prejudicar a essência dele. Depen- podem dar foco às suas atividades para,
dendo dos costumes da época ou mesmo assim, atingirem seus objetivos com mais
facilidade. A imagem, por sua vez, brinca
do olhar de quem interpreta, as ilustrações com o “foco” que as lentes adequadas, nos
podem ter tendências múltiplas. óculos, podem trazer a quem tem a visão
Observe as imagens a seguir. desfocada por alguma razão.
Capa com ilustração para a obra Fausto, de Capa de A tabuada da bruxa, de Goethe
Johann Wolfgang von Goethe.
GRAMÁTICA
A primeira imagem mostra a ilustração da capa de Fausto, um livro para adultos, do alemão Goethe.
A ilustração associa-se à tragédia e provavelmente não agradaria as crianças. Por outro lado, o livro
infantil A tabuada da bruxa, que é um poema retirado de Fausto e se transformou em uma obra
para os leitores mais jovens, apresenta ilustração mais lúdica, mais colorida e, principalmente,
mais leve — para as crianças.
Morfossintaxe II 33
Outros textos diversos
No que diz respeito aos textos verbais, qualquer um pode ser usado para as questões de língua
portuguesa. Além dos textos literários, crônicas de jornais e revistas e editoriais têm predominado
nas provas. Por tratarem dos problemas mais comuns do dia a dia, são capazes de levar o leitor à
reflexão e capacitá-lo a extrair informações no plano superficial ou mais profundo.
Para aqueles que têm a leitura por hábito e estão “antenados” com o que acontece no mundo,
a interpretação desses textos, comumente, não constitui um grande problema.
Leia, por exemplo, este poema, do escritor português Cesário Verde.
Proh pudor!
Todas as noites ela me cingia
Nos braços, com brandura gasalhosa;
Todas as noites eu adormecia,
Sentindo-a desleixada e langorosa.
34 Morfossintaxe II
Logopeia: forma de trabalhar com as palavras, com sua construção e com seu sentido
potencial.
Fanopeia. Organização do texto com foco na construção de imagens que se formariam na
mente do leitor.
Esses conceitos levam em conta que, para um texto ser completo, há envolvimento não só de
quem o escreveu, mas também daquele que o lê, que pode satisfazer ou não as expectativas do
autor do texto, assim como o autor, com seu texto, pode satisfazer ou não as expectativas do leitor.
Leia o poema a seguir para compreender melhor como isso ocorre. Ele foi escrito por um autor
português chamado Mário de Sá-Carneiro.
7
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
Primeiro, chama a atenção o título do poema, que é, simplesmente, o numeral “7”. Trata-
-se de um número cercado de suposições e crenças, mas que, de forma direta, não se relaciona
tematicamente com o poema. Em seguida, percebemos como o autor nos conduz para uma leitu-
ra cheia de significação em tão poucas palavras: ele afirma que não é um “eu” e nem seu oposto,
um “outro”. No segundo verso, sentimo-nos ainda menos localizados, porque “qualquer coisa” é
uma expressão muito pouco específica, que, somada à noção de “intermédio”, cria a ideia de algo
muito pouco delineado ou concreto.
Vem, então, a construção da imagem mais fantástica do poema: “pilar da ponte de tédio”. Trata-se de
uma imagem concreta, o pilar da ponte, associada a um outro conceito que é totalmente abstrato, que é
o do tédio. Nesse caso, a colocação em paralelo do absolutamente concreto e do oposto, a total abstração,
cria um conceito de ponte especial, única, que cabe apenas no poema. Embora haja uma ponte que co-
necta o eu lírico ao outro, essa conexão se faz por algo tão pouco palpável quanto o tédio.
Na poesia brasileira, talvez o maior exemplo de poeta capaz de construir imagens tenha sido
Murilo Mendes. O poeta mineiro foi um mestre nessas construções imagéticas que tanto caracte-
rizam os seus poemas.
Veja um exemplo.
O mundo inimigo
O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo
que invade a sombra das casas no espaço elástico.
Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas
que retomam seu lugar na série do planeta.
Os homens largam a ação na paisagem elementar
e invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito.
Os fantasmas vibram mensagens de outra luz nos olhos,
expulsam o sol do espaço e se instalam no mundo.
MENDES, Murilo. Poemas e bumba-meu-poeta.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
Veja como são as imagens que se acumulam ao longo da poesia de Murilo Mendes. Muito do
que é inanimado ou não vivo ganha vida, em ações e perspectivas inesperadas. O “cavalo mecânico GRAMÁTICA
arrebata o manequim” e o espaço é elástico, ele se molda, modifica-se. O manequim, como jamais
se poderia esperar, está — ou é — pensativo. As estátuas também são capazes de se mover e os pe-
sadelos são — surpreendentemente — de mármore. Não poderia haver maneira mais especial de
qualificar pesadelos. Essa aproximação de imagens concretas e abstratas, de movimento e de estático,
de substantivos ligados a adjetivos inimagináveis, fazem surgir imagens também surpreendentes,
também inimagináveis. Eis aí um dos caminhos para a poesia.
Morfossintaxe II 35
CONEXÕES
1 Você concorda com Alice, quando a menina afirma que “um livro sem figuras não serve para nada”? Por quê?
3 Escreva um pequeno trecho narrativo, de aproximadamente dez linhas, contendo diálogos, que possa ser ilustrado pela imagem apresentada.
36 Morfossintaxe II
ATIVIDADES
Espera-se que o aluno identifique, primeiramente, que o homem, após atingir
a postura ereta, volta a curvar seu corpo, em razão de suas ferramentas de
Leia as tirinhas para responder às questões 9 e 10. 11 +Enem [H10] Observe a imagem a seguir para responder à ques-
tão. trabalho. Em segundo lugar, espera-se, também, que o aluno identifique
Tirinha 1 que não há uma crítica às ferramentas em si, mas apenas ao uso que
REPRODUÇÃO
LAERTE
o homem faz delas, descuidando-se de seu corpo.
Na figura notamos: Finalmente, espera-se que o aluno reconheça na
Tirinha 2 a) a suposta evolução do trabalho mediante a transformação
negativa do corpo. temática da questão a necessidade de transfor-
mações nos seus hábitos corporais.
FERNANDO GONSALES
b) a evolução do homem ao macaco, se considerarmos a crítica
aos hábitos corporais. Alternativa a.
c) o apogeu do trabalho e do trabalhador em razão das neces-
sidades do movimento.
d) a desvalorização do trabalho braçal, mediante os prejuízos
Fonte: Folha de S.Paulo, 12 de julho de 2007. Folha Ilustrada, E 11. físicos ao corpo.
e) a constante degeneração motora humana, em razão das
9 (UFTO) Sabemos que a compreensão de todo e qualquer texto
ferramentas de trabalho.
passa pelo conhecimento prévio do leitor ou ouvinte, como é o
caso de tirinhas, charges e piadas. Um termo ou uma palavra,
Leia a tirinha para responder às questões 12 e 13.
além do seu significado literal, pode vir acrescido de outros
significados. No processo de interação da linguagem, o autor
ORLANDELI
9. Em ambas as tirinhas, o humor se constrói pela quebra de expectativa em relação à compreensão de determinadas expressões, que são usadas
conotativamente, mas, nas tirinhas, passam a ser interpretadas denotativamente. Na primeira tirinha, a expressão é “tecnologia de ponta”; na
segunda, “olha o aviãozinho!”. Alternativa b. Morfossintaxe II 37
12 (Unicamp-SP) Texto II
a) Qual é o pressuposto da personagem que defende o acordo Não. A Prefeitura esquece que nem todos os caminhões se-
ortográfico entre os países de língua portuguesa? Por que guem para os portos do litoral. Muitos deles são responsáveis
esse pressuposto é inadequado? pelo abastecimento da cidade. O setor concorda que as en-
O pressuposto que a personagem defende é o de que a unificação ortográ- tregas nas regiões centrais precisam ser feitas por veículos de
fica garantiria a uniformidade do idioma. Esse pressuposto é inadequado tamanho menor, mas a Marginal e a Bandeirantes, que estão
entre as vias interditadas a caminhões, concentram algumas
porque há outros aspectos que diferenciam os idiomas, a semântica, por
indústrias pesadas. E a carga que as abastece é de grande peso
exemplo. Aspectos como os semânticos, sintáticos, morfológicos, fonológicos
e volume. Problemas mais complexos não podem ser imputa-
e discursivos também fazem com que as línguas sejam específicas e tenham dos apenas a um tipo de veículo e seu tráfego.
características particulares. Adaptado de O Estado de S. Paulo.
38 Morfossintaxe II
Em relação à charge, é correto afirmar: comum do que a sua, já que ele considera as indústrias muito
a) Trata-se de texto marcado por gírias, o que faz com que haja entediantes.
um desacordo entre a imagem e o título. d) Trata-se de texto não verbal que idealiza o papel do traba-
b) O sentido da palavra “rotina”, na charge, promove surpresa, pois lhador nas mais diferentes esferas da sociedade.
ela está se referindo a práticas sociais incomuns. e) A figura da personagem da charge reproduz fielmente o pro-
c) A expressão “mané” resume, no texto, o desejo inconsciente fissional de segurança dos grandes centros urbanos.
do bandido de ter uma atividade mais emocionante, menos
TAREFA PROPOSTA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.
As questões de 1 a 3 referem-se a uma estrofe, transcrita a se- 4 (UFPR) O mecânico José Pereira, proprietário da oficina da foto,
guir, do poema de Fernando Pessoa. decidiu fazer uma reforma de seu estabelecimento, que, além
dos serviços já anunciados na pintura da parede, passará a fazer
Mar português
também consertos de caminhões.
Ó mar salgado, quanto do teu sal
A divulgação dos serviços prestados passará a ser feita através
São lágrimas de Portugal!
de um texto publicado no jornal local, melhorando com isso a
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
imagem da oficina.
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
REPRODUÇÃO
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
PESSOA, Fernando. “Mensagem”. In: Mensagem e outros poemas afins seguidos de
Fernando Pessoa e ideia de Portugal. Mem Martins: Europa-América.
Morfossintaxe II 39
fatos proeminentes da época eram retratados de maneira dia, apareceu o espírito da mãe e conversou longamente com
bem humorada. ela, em tupi.
Chamada de “Bonaparte e os Britânicos”, a exposição possui Anunciada saiu do quarto arrasada pelo jejum e pela dor. As
ilustrações de James Gillray, Thomas Rowlandson, Richard olheiras faziam dois círculos marrons debaixo dos olhos, até
Newton e George Cruikshank, por exemplo. Está dividida em a bunda tinha diminuído de tamanho. Saiu com uma decisão
quatro partes, que vão desde a ascensão de Napoleão Bona- que era a própria negação da morte: iria ter tantos filhos quan-
parte até sua queda, justamente após a derrota na Batalha de to a mãe, emprenharia a toda hora, aceitaria casar com o ta-
Waterloo. belião meio maluco que vivia olhando para ela, cantando loas,
Adaptado de www.laparola.com.br procurando adivinhar com seus olhinhos claros o real volume
da bunda que encobria sob mil panos.
Veja uma das imagens presentes na exposição. O tabelião Honório, tão logo Anunciada correspondeu pela
primeira vez ao seu olhar pidão, precipitou-se e foi pedir a
mocetona em casamento. Era formal como um tabelião e
40 Morfossintaxe II
tura tão claro e tormentoso com o passado quanto a Alemanha
DEFINIÇÕES pós-Adolf Hitler. Não é de admirar, portanto, que até hoje o
ditador nunca tivesse sido interpretado por um ator numa pro-
Arrimo: pessoa que sustenta a própria família.
Aprazer-se: sentir prazer. dução alemã — e que o primeiro filme a quebrar esse tabu, Der
Data vênia: com a devida licença. Untergang (O declínio), venha suscitando uma virulenta polê-
Emprenhar: engravidar. mica no país desde sua estreia, há poucos dias. A recriação his-
Loa: elogio. tórica do diretor Oliver Hirschbiegel e a atuação do suíço Bru-
Malgrado: desagrado, desprazer.
Primogênito varão: primeiro filho do sexo masculino. no Ganz têm sido aplaudidas por especialistas como o inglês
Requestar: cortejar, galantear. Ian Kershaw, um dos maiores biógrafos de Hitler, que escreveu
a respeito no jornal The Guardian. A controvérsia reside no
retrato do ditador como um homem capaz de momentos de
6 (UFRN) Dentre os provérbios seguintes, assinale aquele que pode
generosidade — por exemplo, no trato com seus subalternos.
sintetizar as ações do personagem Honório.
É no relato de uma de suas secretárias, Traudl Junge, que boa
a) Quem desdenha quer c) Quem não tem cão caça
parte de Der Untergang se baseia, assim como em depoimentos
comprar. com gato.
de pessoas presentes a seus últimos dias, num bunker, enquan-
b) Quem espera sempre d) Quem semeia vento colhe
to a Alemanha era derrotada na Segunda Guerra Mundial e
alcança. tempestade.
Hitler oscilava entre delírios otimistas e acessos de fúria ho-
7 (UFRN) Se o episódio narrado fosse resumido, limitando-se tão- micida. O que Der Undertang de fato trouxe à tona foi uma in-
-somente às ações centrais, o texto perderia, principalmente: dagação — se a Alemanha democrática de hoje estaria pronta
a) o suspense, por este estar associado, sobretudo, à presença a examinar mais de perto, e sem o anteparo da demonização
de indícios que antecipam fatos que ocorrerão no desenvol- (que muitos alemães julgam imprescindível), os anos em que
vimento da história. sucumbiu ao nazismo. Kershaw aposta que sim, a julgar pela
b) a comicidade, por estar associada, sobretudo, à descrição própria existência de Der Untergang — mas ressalta que nem
pormenorizada de traços psicológicos e físicos de todos os ele nem nenhum outro filme, estudo ou ensaio serão capazes
personagens. de explicar a contento o enigma de Hitler e da adesão popular
c) a comicidade, por estar associada, sobretudo, à maneira a seu regime de atrocidades.
como o narrador conduz o enredo e as falas dos personagens. Veja, 29 set. 2004.
d) o suspense, por este estar associado, sobretudo, à apresenta-
10 (U. F. Ouro Preto-MG) De acordo com o texto, a novidade do perfil
ção gradativa de comportamentos que causam estranheza.
psicológico de Hitler que o filme O declínio traça é apresentar o
8 (UFRN, adaptada) Considerando o episódio narrado em sua to- ditador:
talidade, as duas ações finais do gato Sansão — “[…] levantou a) com o desespero de quem se sente abandonado por todos.
o rabo à altura de suas respeitáveis narinas e disparou uma bufa b) de acordo com depoimentos de pessoas que não o conhe-
mortífera” (l. 56-57) — sugerem, em relação ao noivo: ciam bem.
a) curiosidade. c) cumplicidade. c) como capaz de atitudes que abrandam a ideia que se faz dele.
b) aprovação. d) desagrado. d) num documentário, como alguém de passado tormentoso.
9 (UFRN) Entre Honório e as demais personagens, a comunicação 11 (U. F. Ouro Preto-MG) Em “Sem o anteparo da demonização”,
nem sempre se realiza de modo satisfatório. Isso se deve à (ao): entende-se:
a) falta de logicidade na organização sintática das frases ditas a) sem a exclusão.
pelo tabelião, visto como meio maluco. b) sem a proteção.
b) rebuscamento excessivo da linguagem do tabelião, por de- c) sem a análise.
mais inadequada à situação de comunicação. d) sem a acusação.
c) desconhecimento dos Cançados no que diz respeito às nor-
12 (U. F. Ouro Preto-MG, adaptada) Releia o trecho:
mas gramaticais utilizadas pelo tabelião.
Não é de admirar, portanto, que até hoje o ditador nunca
GRAMÁTICA
d) falta de respeito dos Cançados, ao fingirem que não entendem
a linguagem pomposa utilizada pelo tabelião. tivesse sido interpretado por um ator numa produção alemã
— e que o primeiro filme a quebrar esse tabu, Der Untergang
Texto para as questões de 10 a 12.
(O declínio), venha suscitando uma virulenta polêmica no
Monstro com alma? país desde sua estreia, há poucos dias.
Filme choca alemães com o lado “humano” de Hitler
O tabu de que esse período do texto fala é:
Na história moderna, nenhuma nação tem um ponto de rup-
a) uma nação aceitar a revelação de fatos do passado.
Morfossintaxe II 41
b) uma pessoa representar o ditador em filme alemão. Na composição do anúncio, qual é a relação de sentido existen-
c) um filme estrangeiro discutir a vida dos alemães. te entre a imagem e o trecho “quem é e o que pensa”, que faz
d) uma produção cinematográfica apresentar a vida de Hitler. parte da mensagem verbal?
13 (UFES) O ex-presidente João Batista Figueiredo, em 1979, referindo- 17 (Unisinos-RS) As imagens a seguir retratam aspectos do nosso país,
-se à abertura do processo democrático brasileiro, disse: “É para abrir e as letras das duas músicas cantam, de alguma forma, o Brasil.
mesmo, e quem quiser que não abra, eu prendo e arrebento.”
REPRODUÇÃO
2015 KING FEATURES SYNDICATE/IPRESS.
Jornal de Commercio, 30-01-2002
Aquarela do Brasil
Brasil,
Abre a cortina do passado,
Tira a mãe-preta do cerrado,
Bota o rei-congo no congado,
Brasil, pra mim!
De olhar indiferente,
Brasil, pra mim!
42 Morfossintaxe II
Abre a cortina do passado,
Tira a mãe-preta do cerrado, Confia em mim
Bota o rei-congo no congado,
Brasil, pra mim! Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Deixa… cantar de novo o trovador, Que os homens armaram pra me convencer
A merencória luz da lua, A pagar sem ver
Toda a canção do seu amor. Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Quero… ver essa dona caminhando, Não me sortearam
Pelos salões arrastando A garota do “Fantástico”
O seu vestido rendado… Não me subornaram
Brasil, pra mim, Será que é o meu fim
Pra mim! Ver TV a cores
Ary Barroso, carnaval de 1939. Na taba de um índio
Programada pra só dizer sim, sim
Brasil
Não me convidaram Brasil
Pra esta festa pobre Mostra tua cara
Que os homens armaram pra me convencer Quero ver quem paga
A pagar sem ver Para gente ficar assim
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer Brasil
Não me ofereceram Qual é o teu negócio?
Nem um cigarro O nome do teu sócio?
Fiquei na porta estacionando os carros Confia em mim
Não me elegeram
Chefe de nada Grande pátria desimportante
O meu cartão de crédito é uma navalha Em nenhum instante
Eu vou te trair
Brasil (Não vou te trair)
Mostra tua cara Cazuza, década de 1980.
Quero ver quem paga
A partir das informações fornecidas (texto escrito e imagem) e
Para gente ficar assim
de seus conhecimentos, identifique sob que enfoque cada uma
Brasil
das letras retrata o país. Compare e analise diferentes caracte-
Qual é o teu negócio?
rísticas de cada enfoque identificado.
O nome do teu sócio?
18 (UFES) […] os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos
só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda ordem social existente. Que as classes dominantes tremam à ideia
de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder nela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.
PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES, UNI-VOS! Marx & Engels.
Manifesto Comunista. 3. ed. São Paulo: CHED, 1981.
ZIRALDO
GRAMÁTICA
Morfossintaxe II 43
ANGELO AGOSTINI. DOM PEDRO II SENDO APEADO DO TRONO, 1882
A relação entre os textos define-se por um dos seguintes con-
ceitos:
a) “[…] propriedade da significação linguística de abarcar
toda uma gama de significações, que se definem e precisam
dentro de um contexto […].” (J. M. Câmara Jr.)
b) “[…] pressuposto segundo o qual todo texto se inscreve na
história dos textos antecedentes de sua série ou sistema, que
acabam por codificar a sua produção.” (Samir Miserani)
c) “[…] envolve os mecanismos articulatórios, ou seja, a co-
nectividade sequencial, que pode ser gramatical ou lexical.”
(Violeta V. Rodrigues)
d) “[…] visa sobretudo a convencer, persuadir ou influenciar o
leitor ou ouvinte.” (Othon M. Garcia)
e) “Texto que tem origem no indivíduo que o produziu […]
aquele texto que resulta de uma elaboração personalizada
do enunciador e não de mera reprodução de clichês […].”
(Platão e Fiorin)
19 (Unicamp-SP)
2015 KING FEATURES SYNDICATE/IPRESS.
44 Morfossintaxe II
GLAUCO
GLAUCO. Folha de S.Paulo, 30 maio 2008.
Morfossintaxe II 45
— Agora você me pegou, retruca, rindo. Hã, deixa eu ver… Lembro-me de La Paz, a capital da Bolívia, que me pareceu bem
feia. Dizem que Bogotá é muito feiosa também, mas não a conheço. Bem, São Paulo, no geral, é feia, mas as pessoas têm uma
disposição para o trabalho aqui, uma vibração empreendedora, que dá uma feição muito particular à cidade. Acordar cedo em
São Paulo e ver as pessoas saindo para trabalhar é algo que me toca. Acho emocionante ver a garra dessa gente.
Adaptado de MORAES R. e LINSKER R. Estrangeiros em casa: uma caminhada pela selva urbana de São Paulo. National Geographic Brasil.
24 (Fuvest-SP) Ao reproduzir um diálogo, o texto incorpora marcas de oralidade, tanto de ordem léxica, caso da palavra “garra”, quanto
de ordem gramatical, como, por exemplo:
a) “lanço à queima-roupa”.
b) “Agora você me pegou”.
c) “deixa eu ver”.
d) “Bogotá é muito feiosa”.
e) “é algo que me toca”.
ANOTAÇÕES
VÁ EM FRENTE
Acesse
http://piaui.folha.uol.com.br/materia/artur-avila-ganha-a-medalha-fields/. Leia a reportagem que conta a proeza de Artur Avila, ven-
cedor da Medalha Fields.
46 Morfossintaxe II
REVISÃO OBRIGATÓRIA - 1
Numeral / Advérbio
Leia a última estrofe da canção “O quereres”, de Caetano Veloso, para responder às questões.
[…]
O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim
Caetano Veloso. “O quereres”. In: Totalmente demais. Verve / Polygram / Philips, 1986.
Classifique morfologicamente, da maneira mais completa possível, as palavras destacadas abaixo.
a) Faz-me querer-te bem, querer-te mal.
Advérbio de modo.
Reescreva o verso a seguir, substituindo a expressão destacada por um único advérbio, mantendo o sentido.
E querendo querer-te sem ter fim.
E querendo querer-te infinitamente.
H27 – Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
GRAMÁTICA
Morfossintaxe II 47
REVISÃO OBRIGATÓRIA - 2
Interpretação de Texto II
As imagens, muitas vezes, são capazes de construir palavras, de evocar textos, inspirando escritores ou alunos a escrever a
respeito das sensações que elas trazem. Considerando essa informação, observe atentamente as imagens seguintes e, sobre
elas, escreva uma pequena narração de, no máximo, dez linhas, para cada uma.
a)
Respostas pessoais.
H1 – Identificar as diferentes linguagens e seus recur-
sos expressivos como elementos de caracterização
dos sistemas de comunicação.
VALENTINA PHOTOS/SHUTTERSTOCK
b)
BRUCE ROLFF/SHUTTERSTOCK
c)
VALENTINA PHOTOS/SHUTTERSTOCK
48 Morfossintaxe II
ANOTAÇÕES
GRAMÁTICA
Morfossintaxe II 49
ANOTAÇÕES
50 Morfossintaxe II
ANOTAÇÕES
GRAMÁTICA
Morfossintaxe II 51
ANOTAÇÕES
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