Você está na página 1de 8

Aspectos do manejo reprodutivo

de equinos

Equinos, manejo, reprodução, raça.

Luis Gustavo Silva Rodrigues *¹ Revista Eletrônica


Vanessa Cristina de Souza Resende¹
Antônio Roberto Oliveira Júnior¹
Lidiane Oliveira Silva¹
Letícia Mariano Barbosa¹ Vol. 14, Nº 02, mar./ abr. de 2017
ISSN: 1983-9006
1
Discentes do curso de Bacharel em Zootecnia. Do Instituto Federal www.nutritime.com.br
Goiano – Câmpus Ceres, Ceres, Goiás, Brasil * E-mail:
luisgsilvarodrigues@hotmail.com A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral
da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de
literatura, artigos técnicos e científicos bem como resulta-
dos de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do
endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br.
Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira res-
ponsabilidade dos seus autores.

RESUMO
ASPECTS OF REPRODUCTIVE MANAGEMENT
Nas últimas décadas, o desenvolvimento de novas
OF EQUINES
técnicas reprodutivas possibilitou o melhor
ABSTRACT
aproveitamento dos equinos, tornando possível acelerar In recent decades, the development of new reproductive
o aprimoramento das raças e seus cruzamentos. O techniques has allowed the best use of horses, making
conhecimento das particularidades anatômicas e it possible to accelerate the improvement of breeds and
fisiológicas dos equinos proporciona melhor their crosses. Knowledge of anatomical and
desenvolvimento de ferramentas que auxiliam no physiological characteristics of horses, provides better
manejo reprodutivo dos equinos. É fundamental a development tools that assist in reproductive
correta aplicação dos principais manejos nutricional e management of horses. The correct implementation of
sanitário dos equinos para que possam expressar ao the main nutritional and health management for equines
máximo seu potencial reprodutivo. Quanto às so that they may express the most of their reproductive
potential is essential. The biotechnology used and
biotecnologias empregadas e difundidas na reprodução
disseminated in equine reproduction, it is worth
equina, vale destacar as mais comumente usadas como
highlighting the most commonly used as artificial
a inseminação artificial e a transferência de embriões,
insemination and embryo transfer, which allow speed up
que possibilitam acelerar o progresso genético dos genetic progress of breeding animals. The insemination
reprodutores. A inseminação pode ser realizada de may be performed in a natural or artificial way, the latter
forma natural ou artificial, sendo a última muito usada being often used when it is desired to maximize the
quando se pretende maximizar o potencial genético de genetic potential of stallions. Already embryo transfer is
garanhões. Já a transferência de embriões é uma a biotechnology that helps to increase the number of
biotecnologia que possibilita aumentar o número de descendants of mares with high genetic value.
descendentes de matrizes equinas com alto valor However, it is pertinent emphasize that among the
genético. No entanto, é pertinente ressaltar que dentre various equine breed societies there are any restrictions
as várias associações de criadores de equinos existem or rules that prevent dissemination of this genetic
material of horses and mares, even with the different
algumas restrições ou normas que impedem maior
reproductive techniques that are applied in creating
difusão do material genético de cavalos e éguas,
horse. This study aimed to demonstrate the key aspects
mesmo com as diferentes técnicas reprodutivas que
involved in equine reproductive management features
são aplicadas na equideocultura. Objetivou-se com improvements in reproductive characteristics,
esse trabalho realizar uma revisão bibliográfica sobre a respecting some observations such as, choice and
reprodução equina, deste a sua anatomia, fisiologia, selection of reproducers, health management, feed
manejo alimentar e sanitário e biotecnologias utilizadas management and particularities between the different
na reprodução destes animais. breeds.
Palavras-chave: equinos, manejo, reprodução, raça. Keyword: equine, management, reproduction, breed.
5046
Artigo 421 – Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

INTRODUÇÃO FISIOLOGIA REPRODUTIVA


Nas últimas décadas, o desenvolvimento de novas As éguas são consideradas poliéstricas estacionais,
técnicas reprodutivas possibilitou o melhor ou seja, têm um ciclo reprodutivo dividido em período
aproveitamento dos animais, tornando possível de estação reprodutiva durante a primavera/verão e
acelerar o aprimoramento das raças e seus estação não reprodutiva no outono/inverno, sendo
cruzamentos. A ampla utilização das biotecnologias esta característica marcante nas regiões onde há
trouxe, ao longo dos anos benefícios aos criadores grande variação do fotoperíodo durante o ano
de equinos de diversas raças, e com isso a (FARIA & GRADELA, 2010). Os equinos são
possibilidade de aumentar o número de produtos considerados reprodutores de dias longos, pois sua
obtidos por ano, de animais com genética superior. atividade reprodutiva é estimulada principalmente
Em relação à reprodução equina, várias tecnologias pelo aumento do comprimento do dia, ou seja, pelo
se tornaram difundidas e comuns tais como a aumento do fotoperíodo, que ocorre na primavera. A
inseminação artificial, a transferência de embriões e diminuição do fotoperíodo ocorre no final do verão e
a manipulação do sêmen (GOMES & GOMES, início do outono, estimula o término da estação
2009). reprodutiva. Fatores secundários relacionados à
primavera, como o aumento da temperatura e a
Segundo Canisso et al. (2008) as biotecnologias da melhora da qualidade do alimento, antecipam o início
reprodução colocam como uma importante da estação reprodutiva. Há uma forte relação entre o
ferramenta a serviço da equideocultura mundial, fotoperíodo e a ovulação (INTERVET, 2007).
como instrumento direto no melhoramento genético.
Dadas as vantagens proporcionadas pela O ciclo reprodutivo pode ser considerado como
inseminação artificial, esta talvez seja a contendo uma fase folicular, isto no estro, na qual a
biotecnologia com maior impacto na produção égua se encontra sexualmente receptiva ao macho,
equina, pois um reprodutor pode deixar centenas de onde o aparelho reprodutor está preparado para
descendentes ao longo de sua vida reprodutiva, aceitar e transportar o sêmen aos ovidutos para
quando a inseminação artificial é utilizada fertilização e que envolve, o processo da ovulação e
eficientemente. uma fase lútea (diestro) na qual a égua não está
receptiva ao garanhão. O hormônio FSH nas fêmeas
A espécie equina foi considerada por muito tempo participa no crescimento dos folículos ovarianos e
como a de menor fertilidade entre as espécies nos machos pelo estabelecimento da diferenciação
domésticas, o que foi atribuído a características de dos espermatozóides nos túbulos seminíferos dos
seleção e problemas relacionados ao manejo testículos. O hormônio LH, nas fêmeas proporciona a
reprodutivo (LIRA et al., 2009), contudo as maturação final do folículo a indução da ovulação e o
biotecnologias da reprodução como a transferência início da formação dos corpos lúteos. Nos machos o
de embrião e a inseminação artificial tem se hormônio LH induz a síntese de testosterona pelas
destacado nas últimas décadas pelo seu avanço células de Leydig, estimulando a espermatogênese,
científico e comercial, possibilitando melhor formado os espermatozóides pelas células de Sertoli
aproveitamento dos animais. O êxito na reprodução (SILVA et al., 1991).
equina depende do conhecimento da anatomia
reprodutiva, fisiologia, endocrinologia, conduta de ESCOLHA DE REPRODUTORES
criação, manejo sanitário e realização de um manejo Seleção de Garanhões
alimentar correto.
Segundo Silva et al. (1991), na seleção de
garanhões é considerado seu pedigree, performance
O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão atlética e conformação. Outros aspectos relevantes
bibliográfica sobre a reprodução equina, deste a sua são as condições físicas e a fertilidade, na qual é
anatomia, fisiologia, manejo alimentar e sanitário e avaliada por meio dos exames clínicos do sêmen e o
biotecnologias utilizadas na reprodução destes comportamento sexual (INTERVET, 2007).
animais.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006 5047
Artigo 421 - Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

ocorrendo a ovulação no terço final do estro. A


Considerando as condições físicas de um garanhão
variação da duração do ciclo estral pode variar
é importante avaliar a genitália externa, os membros
dependendo da origem racial, individual e
anteriores, coluna e posição dos testículos dentro da
principalmente pela idade do animal, lembrando que
bolsa escrotal (INTERVET, 2007).
animais com idade avançada possuem um ciclo
estral mais prolongado. Sendo recomendada a
Em relação à da fertilidade é importante avaliar a
cobertura da fêmea até 18 horas antes do final do
motilidade, concentração e morfologia espermáticas
estro. Após este período a fêmea aumenta a
nos quais são parâmetros clássicos na avaliação de
agressividade podendo ocorrer acidentes com os
amostras de sêmen (ARRUDA, 2007). No que diz
animais (SILVA et al., 1998).
respeito ao libido observa se o tempo de reação do
animal na presença da égua. É essencial equilibrar o
Mais de um folículo pode estar presente, sendo que
número de éguas destinadas a determinado
em geral somente um folículo será chamado de
garanhão, atentando ao libido e à produção de
dominante, no qual se desenvolve até a ovulação,
sêmen (INTERVET, 2007).
com isso os demais folículos sofrerão atresia, ocorrer
graças a assincronia entre os níveis de FSH e LH,
Seleção de Matrizes ondas foliculares e a maturação do folículo pré-
Na seleção de égua Silva et al. (1991) cita 5 critérios ovulatório (SILVA et al., 1991).
principais, sendo: pedigree, performance atlética,
conformação e desempenho produtivo e reprodutivo. A ovulação inicial acontece sob efeito das
A égua deve apresentar um valor genético gonadotrofinas hipofisárias de FSH no crescimento e
verdadeiro e, para isto, precisa ser oriunda de de LH na maturação do folículo. O crescimento
linhagens fortes, assim, dessa forma a fertilidade da folicular poderá ser influenciado por algumas
égua e de sua família não pode ser esquecida, condições ambientais, em dias nublados e frios o
tomando cuidados com a presença de registros crescimento folicular e a duração do estro são
passados, ou presentes, de infertilidade. Lopes retardados, até o restabelecimento da temperatura e
(2009) complementa a seleção de uma égua matriz da luminosidade (ROMANO et al., 1998).
considerando o tamanho em relação ao garanhão, a
idade, o temperamento dócil e o desenvolvimento Os folículos aumentam de tamanho antes da
das glândulas mamarias. ovulação muito rapidamente, entretanto, o tamanho
e consistência folicular não são características
Morris & Allen (2002), observaram diferença viáveis para determinar o momento da ovulação
significativa no índice de prenhez entre éguas Puro (SILVA et al., 1998).
Sangue Inglês (PSI) abaixo e acima de 13 anos, no
qual as éguas mais jovens apresentavam 61,95% de Após a ocorrência da ovulação, há a elevação dos
prenhez, enquanto as mais velhas 50,7% aos 12 níveis de LH circulantes, estimulando a
dias pós-ovulação. transformação de células da granulosa folicular em
células luteais, aumentando gradativamente a
ESTAÇÃO REPRODUTIVA secreção de progesterona, mantendo a secreção até
Ciclo Estral o sexto dia após a ovulação (ITHO, 2010).
O estro é a fase folicular do ciclo estral, nesta fase o
hormônio de receptividade sexual, estradiol é Cio do Potro
produzido no folículo, aumentando seus níveis a O cio do potro acontece geralmente entre o 5º e o
partir do 12º ao 14º dia do ciclo estral, atingindo o 12º dia após a ocorrência do parto, com duração em
máximo antes da ovulação, aumentando a média de 10,5 dias (± 1,5 dias). Existe fêmeas que
receptividade sexual ao garanhão (SOUZA et al., não manifestam o cio do potro, isso ocorre por
2008). A manifestação do estro ocorre em intervalos alguns fatores como: fatores ambientais,
de 17,5 (± 3 dias) e com duração de 7,5 (± 4 dias), desequilíbrios nutricionais ou hormonais.

5048 Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 421 - Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

A exteriorização do estro está ligada aos níveis de do rebanho, possibilita uma larga expansão das
estrógeno e LH no sangue do animal (SOUZA et al., características de garanhões de qualidade genética
2008). superior e permite que um reprodutor deixe centenas
de descendentes (Taveiros, 2008). Essa técnica
É normal fêmeas recém-paridas protegeram as crias ainda proporciona um menor desgaste dos
e não expor o estro pós-parto (SILVA et al., 1998). garanhões e evita a disseminação de doenças
sexualmente transmissíveis (TAVEIROS, 2008).
Quando não aproveita o cio do potro, poderá ocorrer
retardamento para o próximo estro, em regiões onde A inseminação artificial é a técnica utilizada para
acontece a variação de iluminação solar. Com isso depositar espermatozoides normais e vivos no útero,
recomenda-se a aplicação de prostaglandina no 20º no momento adequado. São várias as metodologias
dia após o primeiro estro pós-parto (SILVA et al., para uso da inseminação artificial, diversos fatores
1991). devem ser considerados como: localização da
propriedade; momento inseminante (pré e/ou pós-
O cio do potro quando aproveitado obtêm-se altas ovulação); número total de espermatozóides;
taxas de fertilidade, dependendo sempre das volume; diluidor; temperatura do armazenamento;
condições físicas do animal ao parto, e do aparelho características individuais de qualidade do sêmen do
reprodutivo pós-parto (ROMANO et al., 1998). garanhão; valor do sêmen; reposta inflamatória
uterina da égua a ser inseminada; tipo de cio;
MÉTODOS REPRODUTIVOS momento da estação; raça, entre outros fatores
Monta Natural (CARVALHO et al., 1997).
A cobertura em geral é controlada, isso
condicionando um determinado garanhão para uma Para Taveiros (2008) a realização da inseminação a
égua. Sendo que a cobertura aconteça sempre em égua deve estar devidamente contida, a cauda deve
um mesmo local, condicionando o garanhão para a ser ligada e levantada para evitar o contato com a
monta (FREITAS, 2005). vulva e períneo. Em seguida de ser feita a lavagem
da vulva e secagem. Para realização do
O reprodutor é levado até a égua ou o contrário, no procedimento o profissional deve colocar uma luva
momento ideal para a concepção. Este método estéril e pegar numa pipeta (cateter) de inseminação
resulta em uma taxa maior de prenhez, e o controle estéril e proteger a ponta do cateter com os dedos
folicular permite um uso racional do garanhão. de modo a garantir a sua esterilidade até chegar ao
(SILVA et al., 1998). útero, Deve aplicar gel lubrificante não espermicida
na luva e sobre a mão que envolve a ponta do
Quando não ocorre o controle folicular diário, cateter. A ponta do cateter deve está sempre
recomenda-se a cobertura em dias alternados, a protegido pelas pontas dos dedos passando o
partir do 3º dia após o início até o final do estro. cateter pelos lábios da vulva, vagina e depois
Neste modo há um desgaste do reprodutor, inserindo um ou dois dedos na cérvix. Os dedos
Principalmente quando há um número elevado de servem de guia para se poder avançar a pipeta de
éguas, sempre atenuando para capacidade inseminação pelo cérvix e cerca de 1 cm no útero da
reprodutiva do garanhão (SILVA et al.,1991). égua.

A taxa de concepção aumenta no 3º dia após o início Existem três diferentes formas de processamento do

do estro, diminuindo após a ovulação, tendo o sêmen: in natura; resfriado, e congelado. O sêmen in
ovócito a vida útil de 12 a 24 horas (FREITAS, 2005). natura deve ser colhido e utilizado, imediatamente
para não perde os parâmetros de motilidade e vigor,
Inseminação Artificial além do metabolismo espermático manter-se
A inseminação artificial vem sendo usada como elevado. O local de deposição pode ser o corpo do
ferramenta para acelerar o melhoramento genético útero (CARVALHO et al., 1997). O sêmen resfriado e

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006 5049
Artigo 380 - Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

diluído tem como vantagem o tratamento antibiótico, Com o advento de novos estudos com resultados
diminuindo a contaminação bacteriana; melhora da positivos, a metodologia atualmente utilizada é a
fertilidade do sêmen devido ao aporte de nutrientes transferência não cirúrgica coberta, associada á
contidos no diluidor; maior flexibilidade de avaliação e seleção da égua receptora (Fleury et al.,
inseminação, onde o sêmen depois de diluído, 2007). Ainda, esta é uma técnica muito menos
dependendo da situação, pode ser transportado em invasiva, rápida e de alto percentual de prenhez, na
curtas distâncias sem necessidade de resfriamento, qual consiste em depositar o embrião no corpo do
entre haras próximos e, se devidamente protegido útero com o uso de uma pipeta de inseminação que
dos raios solares até uma hora, sem prejuízo da atravessa a cérvix.
fertilidade; e a possibilidade do fracionamento para
maior número de éguas pela expansão do volume A qualidade do embrião equino é considerada um
diluidor mais o sêmen (CANISSO et al., 2008). dos fatores mais importantes e que mais afeta as
Usando sêmen congelado a inseminação é feita em taxas de prenhez nos programas de transferência de
qualquer altura devido a viabilidade do sêmen embrião (AZEVEDO et al., 2013).
congelado ser muito longa, desde que permaneça a
uma temperatura de – 196 ºC. Para Lira et al. (2009), os embriões equinos são
seletivamente transportados da tuba uterina para o
O descongelado do sêmen deve ser feita seguindo o útero entre os dias 5 e 6 pós ovulação, os quais
protocolo para que não haja percas das doses, o estão na fase de mórula compacta para
número de espermatozoides contidos por dose desenvolvimento inicial de blastocisto. Após entrar
inseminante varia na maioria dos trabalhos de 250 a no lúmen uterino, o tamanho do embrião aumenta
500 milhões (CANISSO et al., 2008). A maioria dos dramaticamente, desenvolvendo-se para blastocisto
trabalhos tem recomendado inseminações em dias expandido. Embora embriões possam ser
alternados, a partir do segundo ou do terceiro dia do recuperados nos dias 6 a 9, o período ideal para sua
cio, na ausência do controle folicular. Quando coleta é nos dias 7 ou 8 após a fertilização.
submetidas à palpação retal, ou controle folicular
pela ultrassonografia, as éguas têm sido Segundo Bortot e Zappa (2013) a coleta do embrião
inseminadas a partir da detecção de um folículo de a égua é contida e realizada a limpeza criteriosa
35 mm de diâmetro, até a comprovação da ovulação externamente e com um algodão embebido em
(VALLE et al., 2000). solução fisiológica os lábios e comissura vulvares
são limpos. O embrião é recolhido através de uma
Transferência de Embrião lavagem uterina (flushing) da égua doadora,
No uso de transferência de embrião (TE) deve – se utilizando para tal 2 a 3 litros de uma solução de
levar em consideração vários fatores ligados à Ringer Lactato previamente aquecida. Para coleta
técnica de coleta, idade (dia da coleta) e tamanho do usa-se um cateter do tipo Foley, semirrígido, que
embrião, idade do corpo lúteo da receptora, bem passa através da cérvix até o corpo uterino. Este
como o método de transferência, interferem nos cateter possui um balão na porção anterior que,
índices de recuperação embrionária e de prenhes quando cheio de ar, impede que o meio de lavagem
(FLEURY et al., 2001). reflua através da cérvix para a vagina. O extremo
posterior é ligado a um circuito de duas vias, em que
Para seleção da égua doadora deve ser considerado uma extremidade corresponde ao recipiente com o
o seu histórico reprodutivo, a fertilidade e genitores, meio de lavagem e a outra ao filtro. Ao termina o
as diretrizes do registro da raça, o valor potencial do procedimento, separa-se o filtro do circuito,
potro resultante, e o número de gestações desejadas transferem-se os 20 a 30 ml de meio de lavagem que
(AZEVEDO et al., 2013). Segundo Lira (2009), a TE ficaram residuais no filtro para placas de Petri
em equino pode ser realizada pela técnica cirúrgica estéreis, para procurar o embrião.
por incisão ao flanco, ou pela técnica não cirúrgica
por via cervical.

5050 Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 421 - Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

O embrião é envasado em palheta plástica de 0,25 podem ocorrer durante todo ano, porém a
ml em porções alternadas de solução, de associação recomenta no período de 15 de agosto a
manutenção e ar. Este procedimento minimiza os 31 de dezembro. Todas as ações devem ser
movimentos do embrião dentro da palheta e comunicadas em formulários específicos para cada
assegura a perfeita expulsão do embrião para dentro um dos métodos. As matrizes utilizadas como
do útero (LIRA et al., 2009). Para a inovulação é doadoras de embrião deverão possuir registro de
usado uma pipeta de inseminação artificial.
doadoras de embrião, as receptoras poderão ser de
qualquer raça, sendo que a partir de 2020 as
PARTICULARIDADES ENTRE ASSOCIAÇÕES DE
receptoras deverão possuir pelo menos registro de ½
RAÇAS
sangue Quarto de Milha, as doadoras poderão ter
A raça Mangalarga Marchador possui como
vários embriões gerados em uma temporada de
particularidades a permissão de realizar coberturas
monta, podendo ser cobrados diferentes valores de
durante todo o ano corrente, sendo permitida a
utilização de monta natural, inseminação artificial e emolumentos para os números de animais gerados
transferência de embrião. Para o congelamento de (ABQM, 2013).
sêmen e embriões deveram ser realizados por
médicos veterinários credenciados pela associação CONSIDERAÇÕES FINAIS
de criadores da raça. Todos os pais devem possuir
O manejo reprodutivo de equino bem conduzido
registros genealógicos, incluindo as receptoras
pode melhorar as características reprodutiva e
utilizadas para transferências de embriões deveram
produtiva, com o uso de biotecnologias como a
possuir registros genealógicos da raça Mangalarga
inseminação artificial e transferência de embrião,
Marchador. Todos os produtos resultantes de
através da escolha bem conduzida dos garanhões e
inseminação artificial e de transferência de embrião
matrizes a fim de atingir os parâmetros desejados.
deverão realizar teste de DNA para comprovação de
Os manejos sanitário e nutricional devem ser
paternidade e maternidade (ABCCMM, 2011).
respeitados, pois quando mal conduzidos podem
debilitar ou até mesmo levar a morte dos animais,
Para a raça Campolina, as gestações devem ser
além de prejudicar o desempenho reprodutivo dos
comunicadas a cada semestre sendo que as
equinos. O manejo reprodutivo deve ser direcionado
coberturas do 1º semestre deverão ser comunicadas
respeitando as exigências das associações de
a associação até 15 de Agosto e do segundo
criadores e visando preservar características
semestre até 15 de fevereiro. Pode utilizar das
morfológicas e culturais de cada raça.
seguintes técnicas: Monta natural, inseminação

artificial e transferência de embrião. Todos os REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


animais utilizados para reprodução deverão ser ABCCCampolina. Regul amento do serviço do
identificados no certificado de registro, ficando
registro genealógico da ABCCCampolina.15p.
arquivado o exame de DNA dos animais. Os animais
Disponível em:
oriundos de inseminação artificial e transferência de
http://www.campolina.org.br/portal/download/reg
embrião deverão realizar exame de DNA para
comprovar maternidade e paternidade, podendo ulamentos/--Reg_SRG.pdf [Acessado em:
utilizar receptoras dos embriões de qualquer raça, 06/2016], 2006.
sendo a mesma registrada como receptora na ABCCMM. Regulamento do serviço de registro
associação de criadores da raça campolina genealógico do cavalo Mangalarga Machador.
(ABCCCampolina, 2006). 12p Disponível em:
http://www.abccmm.org.br/uploads/1480--
A raça Quarto de Milha permite a utilização das
manualsrg.pdf.pdf. [Acessado em: 06/2016],
seguintes técnicas: monta natural, transferência de
embrião e inseminação artificial. As coberturas 2011.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006 5051
Artigo 421- Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

ABQM. Regulamento do serviço genealógico do FREITAS, C. C. Aspectos do comportamento

cavalo Quarto de Milha. 59p. Disponível em: reprodutivo na monta natural de equinos da
raça Crioula. 59p. Porto Alegre, RS.
http://www.abqm.com.br/documentos/stud-
Dissertação (Mestrado em Medicina
book/abqm_manualservicogenealogico.pdf.
Veterinária) – Programa de Pós-graduação em
[Acessado em: 06/2016], 2013.
Medicina Veterinária, Universidade Federal do
ARRUDA, R. P.; ANDRADE, A. F. C.; PERES, K. R.
Rio Grande do Sul, 2005.
et al. Biotécnicas aplicadas a avaliação do GOMES, G. M.; GOMES, L. P. M. Problemas e
potencial de fertilidade do sêmen equino. Revista soluções com o uso de sêmen congelado e
Brasileira de Reprodução Animal. 31(1): 8-16, resfriado de garanhões da raça Mangalarga
2007. Machador. Revista Brasileira de Reprodução
AZEVEDO, R. P.; MENDONÇA, L. A.; LANZA, J. C. Animal. 33(6): 210-215, 2009.
et al. Eficiência reprodutiva em transferências de INTERVET. Compêndio de reprodução animal.
embriões equinos utilizando receptoras no cio do Intervet. p. 383, 2007.
potro. Revista Brasileira de Reprodução ITHO, M. F. Uso de baixas doses de extrato de
Animal. 37 (4): 365-370, 2013. pituitária equina e hormônio de crescimento
BORTOT, D. C.; ZAPPA, V. Aspectos da reprodução (Somatotrofina) na indução do estro em éguas em
equina: inseminação artificial e transferência de anestro. 48p. Campos dos Goytacazes, RJ.
embrião: revisão de literatura. Revista Cientifica Dissertação (Mestrado em Ciências Animais) –
Eletrônica de Medicina Veterinária. 21(2) 1-23, Programa de Pós-graduação em Ciências
2013. Animais, Universidade Estadual Norte Fluminense
CANISSO, I. F.; SOUZA, F. A.; SILVA, E. et al. Darcy Ribeiro, 2010.
Inseminação artificial em equinos: sêmen fresco, LIRA, R. A.; PEIXOTO, G. C. X.; SILVA, A. R.
diluído, resfriado e transportado. Revista Transferência de embrião em equino. Acta
Acadêmica Ciências Agrárias Ambientais. 6 Veterinaria Brasilica. 3(4): 132-140, 2009.
(3): 389-398, 2008. LOPES, E. P. Parâmetros reprodutivos de éguas
CARVALHO, G. R.; SILVA FILHO, J. M.; FONSECA, mangalarga machador em projeto comercial de
F. A. et al. Fertilidade do sêmen equino diluído, transferência de embrião. 53p. Viçosa, MG.
refrigerado a 20 ºC e transportado. Revista Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) –
Brasileira de Zootecnia. 26 (6): 473-478, 1997. Programa de Pós-graduação em Medicina
FARIA, D. R.; GRADELA, A. Hormoterapia aplicada Veterinária, Universidade Federal de Viçosa,
à ginecologia equina. Revista Brasileira de 2009.
Reprodução. 34 (2): 114-122, 2010. MORRIS, L. H. A.; ALLEN, W. R. Reproductive
FLEURY, J. J.; PINTO, A. J.; MARQUES, A. et al.. efficiency of intensively managed Thoroughbred
Fatores que afetam a recuperação embrionária e mares in Newmarket. Equine Veterinary
os índices de prenhes após transferência Journal. 34(1): 51-60, 2002.
transcervical e equinos da raça Mangalarga. ROMANO, M. A.; MUCCIOLO, R. G.; SILVA, A. M. D.
Brazilian Journal of Veterinary Research and Biologia reprodutiva de éguas: estudo do ciclo
Animal Science. 38(1): 29-33, 2001. estral e momento de ovulação. Brazilian Journal
FLEURY, P. D. C.; ALONSO, M. A.; SOUSA, F. A. C. of Veterinal Research Animal Science.. 35(1):
et al. Uso da gonadotrfina coriônica humana (hCG) 25-28, 1998.
sisando melhorar as características reprodutivas e SILVA, A. E. D. F.; MANZANO, A.; UNANIAN, M. M.
fertilidade de receptoras de embriões equinos. et al. Manejo da criação de equinos na Embrapa
Revista Brasileira de Reprodução Animal. 31(1): Carlos, p. 38, 1991.
27-31, 2007.
5052 Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 421 - Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

SILVA, A. E. D. F.; UNANIAN, M. M.; ESTEVES, S. VALLE, G. R.; SILVA FILHO, J. M.; PALHARES, M. S.
N. Criação de equinos. Embrapa - SPI/ Embrapa- et al. Efeito do número de inseminações artificiais
Cenargem, Brasília, p. 99, 1998. sobre a fertilidade de éguas inseminadas com sêmen
SOUZA, F. A.; BORGES, A. M.; SILVA FILHO, J. M. diluído, resfriado a 14 ºC e transportado. Revista
et al. Taxa de concepção de éguas submetidas a Brasileira de Zootecnia. 29(6): 1721-1726, 2000.
duas frequências de palpação retal (24 e 12
horas) e cobertas após a ovulação. Revista
Brasileira de Ciência Veterinária. 15(3): 146-
151, 2008.
TAVEIROS, A. W.; MELO, P. R. M.; MACHADO, P. P.
et al. Perda de concepto em programa de
inseminação artificial e de transferência de
embriões em equino da raça mangalarga
machador. Revista de Medicina Veterinária.
2(2): 28-33, 2008.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006 5053

Você também pode gostar