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Notas de Aula 10 - Teoria da Informação

Microeconomia
Curso Cecı́lia Menon

1 Economia da Informação
1.1 Introdução
1.1.1 Modelos Tradicionais
Modelos tradicionais: informação perfeita.
Consumidores: informação sobre a qualidade dos produtos adquiridos.
Firmas: informação perfeita sobre a produtividade de novos empregados.
Podemos tratar os dois problemas, consumidor e firma, separadamente e depois unificar a análise via
preços que equilibram mercados.

1.1.2 Equilı́brio Geral


Modelos de equilı́brio geral: interações entre os agentes são bastante limitadas - apenas pelo sistema
de preços. Vários problemas, como, por exemplo, justificar a existência de firmas.
Modelos de equilı́brio geral com incerteza: a incerteza é simétrica. Problemas aparecem quando existe
assimetria de informação.
Exemplos:

1. Relação empregado/patrão - nı́vel de esforço,

2. Compra de produtos - qualidade do produto,

3. Venda de produtos - disponibilidade a pagar.

1.1.3 Informação Imperfeita


Informação imperfeita quebra essa metodologia: assimetrias de informação podem gerar comporta-
mentos estratégicos, onde o objetivo é tirar proveito da informação privada.
Na maioria dos casos, a assimetria de informação gera uma ineficiência (uma falha de mercado). Logo,
o primeiro teorema do bem-estar deixa de ser válido.
Caracterı́sticas dos Modelos de Informação:

1. Na maior parte, equilı́brio parcial (um bem);

2. Interação de um número pequeno de agentes (dois, usualmente);

3. As restrições geradas pelo modelo são descritas por um contrato, garantido por uma terceira
parte;

4. Modelos de teoria dos jogos com informação assimétrica.

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1.2 Classificação dos Modelos
1.2.1 Classificação dos Modelos
I) Tipo da informação assimétrica:

(a) O que o agente é/suas caracterı́sticas: informação oculta


(b) O que o agente faz/decisão que toma: ação oculta

II) Quanto à forma do jogo:

(a) Seleção adversa (ou “Screening”): uma parte é imperfeitamente informada sobre as carac-
terı́sticas da outra parte. Parte desinformada move-se primeiro.
(b) Sinalização: uma parte é imperfeitamente informada sobre as caracterı́sticas da outra parte.
Parte informada move-se primeiro.
(c) Perigo Moral : uma parte é imperfeitamente informada sobre as ações da outra parte. Parte
desinformada move-se primeiro.

1.2.2 Principal e Agente


Modelo de barganha simples, sem interação no processo de barganha (contrato do tipo “take-it-or-
leave-it”).

• Principal : Parte desinformada.

• Agente: Parte informada.

Cumprimento do contrato é assegurado por uma terceira parte (justiça, por exemplo).

1.2.3 Classificação da Otimalidade das Soluções


A terminologia mais usada é:

• First-Best: a solução do problema para o caso em que a informação é perfeita. Esse caso serve
de comparação para avaliar a perda de bem-estar incorrida pela assimetria de informação.

• Second-Best: a solução do problema para o caso em que é considerado a assimetria informacional.


Usualmente, essa solução apresentará uma perda de bem-estar, com relação à solução de First-
Best.

• Third-Best: a solução do problema para o caso em que é considerado a assimetria informacional,


restringindo os tipos de contratos que podem ser feitos. Esse tipo de solução é mais comum para
casos de perigo moral (por exemplo, relação patrão-empregado, em que contrato de salário pode
ser apenas do tipo pagamento fixo mais comissão).

Um resultado pouco intuitivo que pode ocorrer em certas situações de perigo moral é o bem-estar
total associado à solução de Second-Best ser menor do que o bem-estar total associado à solução de
Third-Best (obviamente, considerando apenas o principal, o seu bem-estar no Second-Best será maior
ou igual ao seu bem-estar no Third-Best).

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2 Seleção Adversa
2.1 Modelo
2.1.1 Modelo
Mercado de seguros para carros, com várias firmas e vários consumidores (Akerlof, 1970).
Modelo básico - serve para outros problemas (Spence (1973): sinalização no mercado de trabalho).
Alguma caracterı́stica de uma das partes da transação (agente) não é observada pela outra parte
(principal ).

2.1.2 Mercado de Carros Usados (Akerlof )


Existem dois tipos de carros: de boa qualidade (CB) e de má qualidade (CR) (limão). O proprietário
do carro (vendedor) sabe a qualidade do seu carro. Porém os compradores não sabem distinguir se o
carro é de boa ou má qualidade.
Vamos usar a seguinte notação:

• vV (CB) = b (valor de CB para o vendedor) e vC (CB) = B (valor do CB para o comprador),


onde B > b;

• vV (CR) = m (valor de CR para o vendedor) e vC (CR) = M ( valor do CR para o comprador),


onde M > m;

• q - proporção de carros bons no mercado.

Se a informação é completa, ou seja, tanto o vendedor como o comprador sabem qual é o tipo do carro,
então CB é vendido por um preço entre b e B e CR é vendido por um preço entre m e M (supondo
demanda infinita e oferta finita).
O que ocorre se o vendedor sabe a qualidade do carro, porém o comprador não observa a qualidade? O
que ocorre com o mercado? Agora apenas um preço, pois não é possı́vel diferenciar os tipos de carros.
Note que os vendedores oferecem CB apenas se p > b. Logo:

• Se p < b: tipo do carro é revelado (CR), compradores adquirem CR se p ≤ M ;

• Se p > b: compradores acharão que carro vale qB + (1 − q)M .

Então existem apenas dois equilı́brios possı́veis:

1. p = M < b: apenas carros ruins são vendidos,

2. p = qB + (1 − q)M ≥ b: ambos os carros são vendidos (equilı́brio agregador, sem revelação do


tipo de carro).

No segundo equilı́brio, se M < b e q suficientemente pequeno (poucos carros bons no mercado), então
qB + (1 − q)M < b, ou seja, os vendedores de carros bons não estão dispostos a vender CB. Logo o
primeiro caso é o equilı́brio.
Caso extremo (Akerlof): mercado de CB fecha. Porém mercados de CB existem, o que ocorre?

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2.1.3 Observação: Mercado com Escolha de Qualidade
No mercado de carros usados acima, ambos os tipos de carros já existem a priori. O que ocorre se
tivermos um mercado onde o produtor pode escolher a qualidade do bem a ser vendido, mas onde o
comprador não consegue observar o nı́vel de qualidade desse produto?
Pode-se mostrar que neste caso onde existe a escolha do nı́vel de qualidade de produção, a possibilidade
de produção de bens de baixa qualidade pode (dependendo das caracterı́sticas do mercado) destruir o
mercado do bem, tanto o mercado de alta qualidade como o mercado de baixa qualidade.

2.2 Sinalização
2.2.1 Ideia
Nos modelos de sinalização, o agente (vendedor do carro, no exemplo acima), de alguma maneira
crı́vel, comunica o seu tipo para o principal (o comprador, no exemplo acima).
Por exemplo, os vendedores de CB podem oferecer uma garantia para o CB, de modo a sinalizar
que seu carro é de boa qualidade. Neste caso, a sinalização serve para que os vendedores de CB se
diferenciem dos vendedores de CR e com isso o mercado funciona melhor.
Para que o sinal consiga de fato separar os dois tipos de carros, é importante que para o custo de
fornecer garantia para CR seja maior do que para CB (“single-crossingle property”, ou condição de
Spence-Mirrless ou condição de separação - “sorting condition”), de modo que não é viável para o
vendedor de CR fornecer a mesma garantia fornecida pelo vendedor de CB.

2.2.2 Modelo de Sinalização de Spence


Firmas querem contratar empregados, que podem ser de dois tipos: alta produtividade (θH ) ou baixa
produtividade (θL ).
Se a firma conseguisse observar o tipo do trabalhador, ela pagaria salários diferentes para tipos difer-
entes. Porém firma não consegue distinguir o tipo do trabalhador.
O trabalhador pode sinalizar o seu tipo à firma, por meio da quantidade de educação adquirida.
Duas hipóteses importantes no modelo de Spence:

• Sinal não afeta produtividade (sinal puro),

• Tipos diferentes têm custos diferentes de adquirir o sinal (condição de Spence-Mirrless).

Podem existir dois tipos de equilı́brios:

• Separador : tipos diferentes de trabalhadores obtêm quantidades diferentes de educação e firmas


conseguem corretamente separar os tipos, pagando salários diferentes para tipos diferentes,

• Agregador : tipos diferentes de trabalhadores obtêm a mesma quantidade de educação e firmas


pagam um mesmo salário para os dois tipos de trabalhadores (igual à produtividade média dos
tipos, ponderada pela proporção de cada tipo no mercado).

2.2.3 Bem-Estar no Modelo de Spence


Em geral, podemos apenas afirmar que o equilı́brio separador é ineficiente do ponto de vista social.
Intuitivamente, isto ocorre porque o sinal é custoso de se adquirir e não traz nenhum benefı́cio social,
apenas benefı́cios privados. Ele serve apenas para separar os tipos e é um desperdı́cio do ponto de
vista social.

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Pode-se mostrar que o trabalhador de produtividade baixa está pior com a existência no equilı́brio
separador. E o trabalhador de produtividade alta? Está melhor no equilı́brio separador ou no equilı́brio
agregador?
O trabalhador de produtividade alta pode estar pior ou melhor no equilı́brio separador do que estaria
em uma situação sem sinal (equilı́brio agregador).
Ele adquire o sinal porque isto é o melhor a ser feito, uma vez que o equilı́brio separador é a instituição
que vigora no mercado. Logo, dado que todos os trabalhadores de tipo alto estão se educando e
recebendo salário mais alto, para ele é melhor também adquirir educação e se diferenciar do que não
se diferenciar e receber o salário destinado a trabalhadores de produtividade baixa.
Pode-se mostrar que quanto maior a proporção de trabalhadores de produtividade alta, mais provável
que este tipo de trabalhador esteja pior no equilı́brio separador.

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3 Perigo Moral
3.1 Introdução
3.1.1 Informação Imperfeita
Perigo moral está presente em transações onde uma da partes (principal) não consegue monitorar as
ações da outra parte, e essas ações são relevantes para a transação que está sendo negociada.
Exemplo: Seguro de automóveis - motorista pode deixar de tomar cuidado com o carro após adquirir o
seguro. Esse comportamento afeta o resultado do contrato (a probabilidade de o carro ser roubado pode
aumentar, por exemplo) e não é possı́vel (ou é muito custoso) a firma observar esse comportamento.

3.1.2 Principal e Agente


Principal : Parte desinformada - companhia de seguro.
Agente: Parte informada - consumidor.
O agente toma uma ação que afeta a sua utilidade e a utilidade do principal. O principal não observa
a ação tomada, apenas o resultado da ação.
Quando a ação que o agente escolhe espontaneamente não é Pareto-ótima (o que o principal gostaria),
dizemos que existe um problema de perigo moral. É comum que a ação escolhida pelo agente, no caso
em que o principal não consiga observar a ação tomada, seja tal que o agente se esquive de se esforçar
(shirking).

3.1.3 Exemplos
Firma e Empregado - esforço vs produção;
Acionistas e Gerentes;
Serviços - Médico e Paciente, Advogado e Cliente;
Fazendeiros e Arrentários (sharecropping decision);
Seguros - seguro contra roubo, seguro contra incêndio, seguros em geral de propriedades/bens.

3.1.4 O Problema
“First-Best”: caso em que o principal observa a ação do agente, de modo que é possı́vel implementar
a ação ótima diretamente.
Problema principal-agente: o principal deve desenhar um esquema de incentivos de tal modo que o
agente escolhe a ação desejada.
Em geral, supõe-se que:

• principal: neutro ao risco (principal consegue diversificar o risco associado com a sua relação
com o agente);

• agente: avesso ao risco (“pequeno”, não consegue diversificar o risco).

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3.1.5 Divisão Ótima de Risco
Divisão ótima de risco (optimal risk sharing): principal fornece um seguro total para o agente (por
exemplo, salário fixo para o agente) e com isso assume todo o risco da atividade produtiva.
A divisão ótima de risco nem sempre é possı́vel quando existe problema de perigo moral, pois o agente
pode não escolher a ação desejada pelo principal.
Solução: principal oferece um contrato ao agente. Trade-off entre:
• Divisão de riscos (salário do agente não deve depender do produto);
• Incentivos (principal deve condicionar o salário do agente ao produto).

3.2 Modelagem
3.2.1 Modelo
Suponha uma firma que contrata um trabalhador (vendedor, por exemplo), mas não tem como observar
o esforço feito por ele.
Vamos denotar por e a quantidade de esforço que o trabalhador dedica à atividade para a qual foi
contratado. Suponha que existam apenas dois nı́veis de esforço possı́veis, eL e eH , com eL < eH .
Vamos denotar por y a quantidade de produto gerado pelo trabalhador. Vamos supor também que
existam apenas dois nı́veis de produto, yL e yH , com yL < yH .
Vamos supor que o nı́vel de esforço do trabalhador não é observável e que o nı́vel de produto é
observável pela firma.
Note que cada nı́vel de esforço pode resultar nos dois tipos de produtos. Ou seja, mesmo que o
trabalhador se esforce pouco (eL ), o produto pode vir a ser alto (yH ). Similarmente, mesmo que ele
se esforce muito (eH ), pode ocorrer que o produto seja baixo (yL )
Isto é necessário para que o problema de perigo moral exista. Se o produto fosse perfeitamente
correlacionado com o nı́vel de esforço, a firma poderia inferir corretamente o nı́vel de esforço ao
observar o produto.

3.2.2 Problema do Principal-Agente


O principal deve desenhar um esquema de incentivos de tal modo que o agente escolhe a ação desejada.
Como o principal não observa o nı́vel de esforço do agente, ele pode apenas condicionar a remuneração
do agente ao produto observado. Logo, a remuneração não necessariamente será fixa.
Chamamos de contrato o esquema de pagamentos que o principal oferece ao agente. O problema do
principal é desenhar o contrato que maximize o seu lucro.

3.2.3 Resolvendo o Problema do Principal-Agente


O contrato que o principal oferece ao agente deve satisfazer duas restrições:
1. Restrição de Participação (RP): garante que o agente aceitará o contrato oferecido pelo principal;
2. Restrição de Compatibilidade de Incentivos (RCI): garante que o agente escolha o nı́vel de esforço
que o principal deseja implementar.
O problema normalmente é dividido em dois. Primeiro, o principal calcula o contrato ótimo para cada
nı́vel de esforço do agente. Segundo, o principal escolhe dentre estes contratos ótimos, o que maximiza
o seu lucro.

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3.2.4 Eficiência
Se no caso de informação perfeita o nı́vel de esforço ótimo é baixo, então o contrato ótimo nesse caso
será também o contrato ótimo para o caso de informação assimétrica.
Porém, se no caso de informação perfeita o nı́vel de esforço ótimo é alto, então pode ocorrer que para
o caso de informação assimétrica a firma decida implementar o nı́vel baixo de esforço. Isso ocorrerá se
for muito dispendioso para a firma induzir o consumidor, por meio do contrato, a se esforçar muito.
Neste caso, temos uma situação claramente ineficiente - a utilidade do consumidor continua igual a
sua utilidade reserva, porém a firma obtém lucro menor.

3.2.5 QUESTÕES DA ANPEC

RESOLVER: Questão 9 - Exame 2011; Questão 15 - Exame 2010; Questão 15 - Exame 2009; Questão
13 - Exame 2008; Questão 10 - Exame 2007; Questão 9 - Exame 2006; Questão 9 - Exame 2005; Questão
8 - Exame 2004; Questão 9 - Exame 2003; Questão 8 - Exame 2002; Questão 12 - Exame 2002; Questão
11 - Exame 2001; Questão 12 - Exame 2001; Questão 12 - Exame 2000; Questão 13 - Exame 2000.

3.2.6 Leitura sugerida:


• Varian, capı́tulo 37 (Informação Assimétrica).

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