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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA BAHIA

JUÍZO ELEITORAL DA 64.ª ZONA


Fórum Eleitoral de Guanambi
Avenida Presidente Castelo Branco, s/n.° - Aeroporto Velho
Guanambi – Bahia – CEP: 46.430-000 – Telefax: (77) 3451-3986

Autos nº 209-65.2016.6.05.0064
Investigante: Agostinho Paz de Lira Neto
Advogados: Eunadson Donato de Barros – OAB/BA 33.993; Robério Sílvio Morais
Cardoso Filho – OAB/BA 19245
Investigado: Charles Fernandes Silveira Santana e Outros
Advogado: Gabriel de Oliveira Carvalho – OAB/BA 34.788; Daniel Mascarenhas Passos –
OAB/BA 37.134

SENTENÇA

AGOSTINHO PAZ DE LIRA NETO propôs a presente Ação de


Investigação Judicial Eleitoral – AIJE contra CHARLES FERNANDES SILVEIRA
SANTANA, JAIRO SILVEIRA MAGALHÃES e HUGO VANUSCO COSTA PEREIRA,
todos já qualificados nos autos.
Alegou o Investigante que os Investigados estariam utilizando
bens e serviços da Administração Pública em benefício próprio, tendo em vista a
proximidade do pleito eleitoral de 02.10.2016.
Nesse contexto, alegou o Investigante que “o Prefeito
Municipal, com o intuito de eleger seus correligionários, os demais investigados, passou a
empreender verdadeira utilização da máquina administrativa em favor dos mesmos, tendo
empreendido diversos aditivos contratuais com empresas, em datas recentes, promovido
diversos processos licitatórios, para fins de pavimentação asfáltica, distribuição de cestas
básicas, edificações diversas, nestes dias que antecedem o pleito de 02 de outubro, para,
justamente, interferir diretamente no pleito eleitoral, com uso indevido de bens públicos e
obras eleitoreiras de última hora, visando afetar a igualdade de oportunidades,
comprometendo a normalidade do pleito e praticando verdadeiro abuso de poder
econômico (...)”. (SIC)
Em remate, juntou cópia de procedimentos licitatórios,
fotografias de obras públicas, conversas de WhatsApp dos Investigados e mídias de áudio.
Citou jurisprudências favoráveis à sua tese e concluiu pedindo a concessão de “Medida
Liminar, inaudita altera pars” para determinar a “suspensão de todas as obras que vêm
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sendo realizadas, até a data de 02.10.2016, exceto as de caráter emergencial, que, nesse
caso, deverá ter acompanhamento desse Juízo Eleitoral e do Ministério Público” (SIC).
Concedida a liminar, em 29/09/2016 seus efeitos foram
suspensos por decisão do TRE/BA.
Após devidamente notificados, às fls. 168/178 os investigados
apresentaram defesas, sendo que o primeiro investigado requereu a improcedência dos
pedidos constantes na peça inicial, uma vez que os atos não se configuram abusivos, nem
na esteira das vedações legais. Os demais investigados em sua defesa de fls. 168/176,
alegam que não têm relação com os fatos apontados na inicial, e que não há benefícios para
as suas candidaturas, uma vez que se atribuem os fatos a terceiro, sendo que sobre os fatos
não há prévio conhecimento dos candidatos, requerendo, por fim, a improcedência dos
pedidos.
Determinadas providências requeridas pelas partes, foram
expedidos ofícios ao Município de Guanambi, juntando-se em seguida as respectivas
respostas às fls. 180/228, tendo vista dos autos em audiência as partes não apresentaram
manifestações sobre estes documentos.
Encerrada a dilação probatória e sem requerimentos de outras
diligências, foi aberto o prazo para as alegações finais, conforme despacho de fl. 237, sem
que as partes as apresentassem.
Em suas alegações o Ministério Público Eleitoral, pugnou pela
improcedência dos pedidos formulados na inicial.
É o relatório.
Quando à promoção do MPE para a conversão do julgamento em
diligência, entendo incabível na fase atual do processo, uma vez que no momento destinado
aos requerimentos e diligências as partes e o MPE nada requereram, e não há elementos nos
autos que justifique claramente a medida.
Os fatos descritos nos autos demonstram a realização de obras
públicas e pleno funcionamento da máquina administrativa municipal, assistindo razão ao
Ministério Público Eleitoral, quando afirma em parecer de fls. 238/242, que não há vedação
legal à continuidade administrativa no ao eleitoral, “não se exigindo do administrador que
paralise sua atuação como gestor público no ano de realização das eleições.”

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A inicial restringe-se a apontar as contratações realizadas pelo


Município de Guanambi, sem especificar em que circunstâncias estariam estas a influenciar
no processo eleitoral e em que medida destoa das atividades administrativas Municipais em
períodos anteriores.
Em relação à contratação de estagiários verifica-se que sua
ocorrência nos exercícios de 2014, 2015 e 2016, notando-se, às fls. 182/190, que a
oscilação na quantidade de estagiários não revela desvio capaz de inferir que houve
acréscimo considerável no ano eleitoral, afastando a ilicitude, nesse ponto, ao que se revela
nos autos.
Quanto aos demais documentos juntados às fls. 191/228, percebo
que apenas o Ministério Público manifestou-se sobre eles, apontando que não restou
demonstrada irregularidade eleitoral.
A parte autora que solicitou a expedição dos ofícios, manteve-se
inerte, sendo tanto autor com réu não requereu qualquer diligência, após o fim da instrução
em audiência, conforme termo de fls. 232/233
Em relação à conclusão de obras divulgadas nos autos,
mormente no que se refere à pavimentação de ruas, entendo ser desnecessária a verificação
in loco, uma vez que em audiência de 29/11/2016 a testemunha Gabriela Ribeiro Santana,
arrolada pela parte autora, informou que as obras que tinham continuado, não se
suspendendo logo após as eleições, conforme momento 08’09’’ da gravação da audiência.
A caracterização do abuso de poder político, por meio de
condutas vedadas, necessita ser realizada de maneira evidente e demonstrada a
intencionalidade de interferir no pleito, devendo ser provada a ilicitude das condutas,
conforme entendimento dos Tribunais eleitorais, que transcrevo a seguir:

Conduta vedada – Art. 73, I, da Lei n.º 9.504/97 – Uso de


veículo – Polícia Militar – Caráter - eventual – Conduta
atípica. Cassação de registro – Representação – Art. 96 da Lei
n.º 9.504/97 – Possibilidade.
1. A melhor interpretação do inciso I do art. 73 da Lei n.º
9.504/97 é aquela no sentido de que a cessão ou o uso de bens
públicos móveis e imóveis em benefício de candidato ou
partido ocorra de forma evidente e intencional.
2. A aplicação da penalidade de cassação de registro de
candidatura pode decorrer de violação ao art. 73 da Lei n.º
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9.504/97, apurada mediante representação prevista no art. 96


da mesma lei.
(TSE, Recurso Especial Eleitoral n.º 18.900, de 10.5.2001, rel.
Min. Fernando Neves)

Eleições 2010. Representação. Preliminar. Inépcia inicial.


Rejeição. Nexo lógico entre a causa de pedir e o pedido.
Mérito. Condutas vedadas. Comemoração de aniversário
do Município promovido pela Prefeitura Municipal.
Utilização do referido evento para fins de propaganda de
candidatos apoiados pelo Prefeito. Denúncia de outros
fatos. Entrega de ambulância em posto de saúde e
inauguração de prédio público. Não comprovação.
Fragilidade do conjunto probatório. Improcedência.
1. "A disciplina das condutas vedadas aos agentes públicos
em campanha eleitoral visa coibir a utilização da máquina
administrativa em benefício de determinada candidatura, o
que não se verifica na espécie." (Precedente: TSE, Recurso
Especial Eleitoral n° 6469-84.2010.6.26.0000, SP/SP,
Relatora Ministra Nancy Andrighi, julgado 07.06.2011).
2. In casu, os candidatos representados compareceram ao
aniversário de emancipação do
Município promovido pelo Prefeito Municipal, igualmente
representado, contudo, ante o acervo probatório constante
dos autos, não restou demonstrado auferimento de qualquer
vantagem político-eleitoral com o evento.
3. No tocante aos demais fatos, entrega de ambulância no
Posto de Saúde bem como à inauguração do mercado
público, também, não há nos autos prova de ilicitude
praticada pelos representados.
4. Com efeito, no caso em testilha, não se vislumbra a prática
de conduta vedada capitulada no artigo 73, incisos I e IV da
Lei n° 9.504/97 por parte dos representados, razão pela qual
a improcedência da representação é medida que se impõe,
consoante bem destacou o douto Procurador Regional
Eleitoral, em sede de alegações finais.
5. Improcedência da representação.
(TRE-CE, Representação n.º 836183, de 4.6.2013, rel. Juiz
Raimundo Nonato Silva Santos) - (grifei)

Conforme bem descreveu o Ministério Público Eleitoral em sua


manifestação, as condutas descritas, por si e pelas provas nos autos, não demonstram
configurar abuso ou enquadrarem-se em vedações da legislação eleitoral.

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Em sendo assim, diante do quanto expendido, não prosperam razões


para procedência dos pedidos formulados pelo autor.

Posto isto, JULGO IMPROCEDENTES OS PEDIDOS da parte


autora, extinguindo o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, I, do
Código de Processo Civil.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Arquivem-se.

Guanambi/BA, 24 de março de 2017.

JOÃO BATISTA PEREIRA PINTO

Juiz Eleitoral

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