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Autos do Processo nº 35/2008

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL - BA
JUÍZO ELEITORAL DA 120ª ZONA

Autos do Processo nº: 35/2008 - (Retirolândia-Ba)


Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
Ré: SILENE MOTA ARAUJO

SENTENÇA

1 – O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, por seu Promotor Eleitoral, no uso de uma de


suas atribuições legais, com base no incluso termo circunstanciado, fls. 05/08, oriundo da
Delegacia de Polícia local, ofereceu denúncia contra SILENE MOTA ARAUJO, brasileira,
solteira, natural de Valente-BA, nascida em 04/11/1948, filha de João Lopes de Araújo e
Izaura Mota de Araújo, residente na Rua Avenida Filadélifio Carneiro, nº 172, Retirolândia-
BA como incursa nas sanções previstas pelo artigo 39, § 5º, incisos II e III da Lei 9.504/97,
pela prática do fato delituoso descrito na peça vestibular acusatória, nos seguintes termos:

“(…) relatam os autos que, no dia 05/10/2008, por volta das 13:30 horas a denunciada foi
conduzida à Delegacia de Polícia, pois estava, nas proximidades da Prefeitura Municipal de
Retirolândia, em dia de eleição, distribuindo “santinhos” e realizando propaganda de boca de
urna (...)”.

2- A Ré foi regularmente citada (fls. 29). A defesa prévia foi oferecida pelo Bel. André Araújo
Martins dos Santos, OAB/BA 20.982, às fls. 32/33. À fls. 36, foi decretada a revelia da
acusada, pois validamente intimada não compareceu à audiência, sendo recebida a
denuncia e passada a instrução do feito, com a oitiva das testemunhas da acusação. Foi
reconhecida preclusa a prova testemunha da defesa pelas razões exaradas no termo de fl.
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3- Em sede de Alegações Finais, o Douto Representante do Parquet, propugnou pela


condenação da Ré nos termos da denúncia (fls. 62/64). A Defesa, por sua vez, em
Alegações Finais de fls. 70/73, pugnou pela absolvição da Ré por ausência de provas.

Os autos vieram-me conclusos para julgamento. É o relatório. Decido.

4- Primeiramente, aprecio a preliminar de nulidade processual argüida pela defesa, em sede


de alegações. Não merece prosperar a alegação de que o Promotor de Justiça não pode ser
testemunha ou condutor, pois, no caso em comento, ele não atuou no presente como fiscal
da lei ou como órgão acusador, não havendo que se falar em qualquer impedimento legal,
razão pelas qual afasto a nulidade ventilada. Quanto à prescrição, ressalte-se que como a
pena máxima prevista em abstrato de um ano, a qual prescreve em quatro anos (art. 109,
inciso V, do CP), que no caso em comento, teve a prescrição interrompida com o
recebimento da denuncia 02/03/2011 (fl. 36), razão pela qual afasto a preliminar de
prescrição. Desta forma, declaro o processo saneado e preparado para sentença de mérito.

5- Verifico que exsurge cristalina a versão fática contida na denúncia, segundo a qual, no dia
05/10/2008, por volta das 13:30 horas, nas proximidades do Mercado Municipal, a Ré foi
abordada distribuindo “santinhos”, agindo desta forma, por interesses políticos e
configurando o delito de boca de urna.

6- Após minuciosa análise do conjunto probatório, convenço-me de que a autoria e


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materialidade do crime restaram suficientemente comprovadas, seja pelo seu conteúdo,


seja pela coerência que as provas guardam entre si.

7- As provas coligidas na instrução criminal, sob a égide do contraditório e da ampla defesa,


são seguras e não deixam dúvidas de que a Ré estava próximo às seções eleitorais junto à
Prefeitura Municipal de Retirolândia com santinhos na mão e distribuindo-os, em total
afronta à legislação eleitoral.
8- Certo que a acusada não foi ouvida em juízo porque teve a sua revelia decretada (fl. 36).
Nesse particular, embora da revelia sabidamente não se possa, no processo penal, extrair
presunção de verdade dos fatos imputados na denuncia, não se pode deixar de observar
que a acusada teve oportunidade para comparecer a juizo e demitir a confissão, em parte,
anterior. Contudo, a acusada optou pela inércia e, descaso pelo Juiciario à parte, acabou,
com sua conduta livre e consciente, em certa medida referendando a “confissão” que,
voluntariamente, prestara perante a Autoridade Policial. Como bem ressaltou a acusação
não é crível que uma pessoa esteja em frentes a seções eleitorais apenas com “santinhos”
sem distribui-los, haja vista que a própria acusada confessou esta com os referidos
santinhos em suas mãos no momento que foi abordada pelos policiais, incorrendo assim na
prática do ilícito penal, vulgarmente conhecido como “boca de urna”. Ademais, a testemunha
Millen Castro asseverou em seu depoimento que ao ser abordada por ele ainda chegou a
acusada a afalar que ia parar de distribuir os santinhos, pois não sabia que era proibido.
9- A Ré quando ouvida na DEPOL (fls.08) nega a prática delitiva, asseverando que estava
apenas segurando os “santinhos” em sua mão e não os distribuindo.
10- Ocorre que tal negativa não resiste ao cotejo com a prova testemunhal, ademais a Ré
sequer produziu provas de sua tese defensiva.

11- O relato feito em Juízo pela testemunha, MILLEN CASTRO MEDEIROS DE MOURA,
às fls. 59, é seguro e coerente, senão vejamos:
“(...) que no dia da eleição estava no fórum da comarca de Valente quando a chefe do
cartório eleitoral comunicou ao depoente que estava tendo um tumulto em uma escola no
centro da cidade de Retirolândia, (....) que ao retornar ao local foi abordado por um rapaz
que perguntou ao depoente se era permitido distribuir santinhos no dia da eleição, que
diante da resposta negativa do depoente o rapaz lhe perguntou porque a esposa do prefeito
estava distribuindo santinhos nas proximidades da escola, que o depoente se dirigiu até a
autora do fato e viu esta cercada por uma quatros pessoas a quem estava distribuindo “ a
cola” em que constava o numero do candidato Noe e o numero de um vereador começado
por 36, (...) que o depoente disse que não era permitida a distribuição de antinhos; que a
requerida disse: “ não pode, então vou parar”, que o depoente convidou a requerida para lhe
acompanhar até a Delegacia (...)
12- Observe-se que o motorista do veículo, GENIVAL SANTOS OLIVEIRA, de forma
categórica afirma que a Ré teve resistência em entrar no carro e que estava com papeis na
mão quando conduzida e que no local havia aglomerados de pessoas, podendo-se concluir
pela coerência das provas produzidas.
13- Assim, tal depoimento colhido em Juízo coincide com as declarações prestadas pela
referida testemunha, no dia da eleição.
14- Destarte, a prova oral é eficaz e todos os demais elementos probatórios são
contundentes, sendo robustos os dados de convicção que se harmonizam e conduzem à
certeza moral para sua condenação, porque os elementos constantes dos autos mostram-se
sedimentados e aptos para sustentar o decreto condenatório.

15- Desta maneira, dúvidas não pairam de que a Ré distribuiu santinhos no dia do pleito,
próximo as seções eleitorais. Assim, a Ré amoldou a sua conduta ao tipo penal descrito no
artigo 39, § 5º incisos II e III da lei 9504/97, a seguir descrito: “Art. 39. § 5º Constituem
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crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis meses a um ano, com a
alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa no valor de
cinco mil a quinze mil UFIR. (…) II - a arregimentação de eleitor ou a propaganda de boca
de urna;(...) III - a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de
seus candidatos. Não há que se falar, portanto, em atipicidade da conduta conforme pleiteia
a Defesa.

16- ANTE O EXPOSTO e à luz de tudo mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE
a pretensão punitiva estatal formulada na denúncia, para CONDENAR a Ré SILENE MOTA
ARAUJO, já qualificada, nas penas do artigo 39, § 5, incisos II e III da Lei 9.504/97.

17- Nos termos do artigo 287 do Código Eleitoral, passo à dosimetria e fixação da pena,
em estrita observância ao disposto pelo artigo 68 do Código Penal.
18- Inicialmente, passo à análise das circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do
Código Penal.

19- A culpabilidade da ré é cristalina, demonstrada pela consciência efetiva da ilicitude


do fato típico perpetrado; os seus antecedentes, contudo, lhe são favoráveis, uma vez
que inexiste registro de condenação definitiva por prática de fato delituoso; poucos
elementos foram coletados a respeito de sua conduta social, razão pela qual deixo de
valorá-la; quanto à sua personalidade não há nada digno de nota; o motivo do crime se
constitui pelo desejo de fazer aniquilar a vontade de eleitores pertencentes a grupo
político adverso; as circunstâncias que cercam a infração foram graves, uma vez que a
Ré causou tumulto no dia da Eleição, data em que deve prevalecer a total liberdade para
exercício do direito do voto; a conduta da acusada trouxe como conseqüência prejuízo
para a vítima - sociedade; o comportamento da vítima em nada contribuiu para o
evento delituoso.

20- À vista destas circunstâncias, fixo a pena-base em 08 (oito) meses de detenção e multa
de 5.000,00 UFIR, o que equivale a R$ 5.320,50, (correspondente a 5.000 x R$ 1,0641-
valor da unidade fiscal) a qual torno definitiva, face à ausência de circunstâncias
atenuantes, agravantes, causas de diminuição ou aumento da pena.

21- Em consonância com o disposto pelo artigo 33, parágrafo 2º, “c”, do Código Penal, a Ré
deverá cumprir a pena em regime aberto.

22-Desta forma, observado o disposto pelo artigo 44, parágrafo 2º, primeira parte e na forma
do artigo 46, ambos do Código Penal, SUBSTITUO a pena privativa de liberdade aplicada
por uma pena restritiva de direito, consistente em prestações de serviços à comunidade
(art. 43, IV do CP), por se configurar nas melhor medida a ser aplicável na situação
evidenciada, devendo aquela se dar mediante a realização de tarefas gratuitas a serem
desenvolvidas, pelo prazo a ser estipulado em audiência admonitória (art. 46, § 4º do CP),
junto a uma das entidades enumeradas no parágrafo 2º do artigo 46 do CP, em local a ser
designado por este Juízo, devendo ser cumprida à razão de uma hora de tarefa por dia de
condenação, que será distribuída e fiscalizada, de modo a não prejudicar a jornada de
trabalho da condenada.

23- Sem custas, na forma da Lei 9099/95.

24- Oportunamente, após o trânsito em julgado desta decisão, tomem-se as seguintes


providências:

1. Lance-se o nome da Ré no rol dos culpados;

2. Oficie-se ao CEDEP, fornecendo informações sobre a condenação da Ré;


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3. Procedam-se às anotações devidas nos cadastros do


TRE, para cumprimento do quanto estatuído pelo artigo 15, III, da Constituição Federal.

4. Retornem-me os autos conclusos para designação de


audiência admonitória.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Valente-BA, 30 de outubro de 2012

Renata Furtado Foligno


Juíza Eleitoral da 120 Zona

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