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POSICIONAMENTO DO BRASIL FRENTE AO NOVO AMBIENTE MUNDIAL (*)

José Walter Bautista Vidal (**)

I – INTRODUÇÃO

Este trabalho propõe a formulação de alianças do Brasil com importantes países na


procura de soluções para seus graves problemas energéticos, convergentes com as
excepcionais vocações tropicais brasileiras e atendam a importantes interesses comuns.
Elas podem orientar nossa política externa de modo a criar condições de
fortalecimento do conjunto resultante dessas alianças e assim ganharem força para poder
resistir a devastadoras investidas de grupos oligárquicos que dominam atualmente o
sistema financeiro internacional, que estão levando nações e povos que dele dependem
com sério desequilíbrio ao desastre. Por esse processo, países detentores de grandes
potenciais de riquezas naturais, habitados por povos operosos, estão sendo transformados,
em curto espaço de tempo, em um novo tipo de colônias, em párias internacionais.
Esses grupos, além de emitirem moeda sem critério justificado e em regime de
monopólio – as regras originais de Bretton Woods deixaram de existir desde 1971 –,
inundam o mundo com moeda falsamente simbólica, sem lastro, em proporção que já
supera dez para um, e vem submetendo essas nações dependentes a desregulamentações
que praticamente destroem suas respectivas moedas deixando-as expostas a graves
vulnerabilidades, que caracterizam uma tirania de dinheiro de controle dessas oligarquias.
Nessas condições de subordinação, os ricos patrimônios naturais dessas nações,
imprescindíveis ao processo civilizatório, são desvalorizados ao extremo e seus controles
são transferidos para fora do país, o que compromete seriamente a vida das futuras
gerações desses países.
Esse dinheiro sem pátria, sem lastro e sem lei – o artigo da Constituição que dele
cuidava nunca foi cumprido e acaba de ser revogado pelo Congresso - foi instrumento
essencial para o controle de instituições fundamentais das áreas econômicas e políticas do
Estado nacional, transferindo o comando efetivo deste, na área financeira, para suspeitos
gestores ligados a esses grupos oligárquicos externos. Assim, foi facilitado para esses
interesses o comando de alguns dos principais ativos e patrimônios naturais estratégicos
pelo processo que foi chamado de privatização que, na realidade, significou clara
internacionalização, em ilegítimas ações usurpadoras.
Os agentes dessa oligarquia, que dominaram o Estado pela via da tirania
financeira, manipulam os principais índices financeiros, como as taxas de câmbio, de
inflação e de juros, de modo a submeter as riquezas e os patrimônios nacionais e os
instrumentos e meios econômicos do País ao domínio arbitrário desses grupos.
Enquanto o industrial brasileiro ou o produtor agrícola de capital nacional pagam
taxas de juros que, na melhor das hipóteses, vão de 20 a 40 % ao ano – chegou a 49% com
Gustavo Franco no BC –, o seu competidor externo operando em território nacional
consegue em suas origens recursos financeiros entre zero e 4 % de taxas anuais. Nessas
condições, é impossível ao nacional competir e sobreviver. Todas as relações econômicas
com o exterior, especialmente com as moedas forte, dependem de taxas de cambio que tem
sido arbitradas de modo a levar países como a Argentina de Menem e o Brasil de Gustavo
Franco\FHC a desesperadas situações econômicas.
Partimos de algumas premissas básicas concretas recentes que ocorreram, por
exemplo, na vizinha Argentina, antes de seu novo governo, considerando tratar-se de uma
das mais bem dotadas nações do planeta, já teve, por exemplo, a segunda maior renda e a
primeira maior exportação “per cápita” do mundo. Grande fornecedor mundial de alimentos,
com auto-suficiência energética, dispondo das maiores extensões e melhores terras

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agricultáveis, com povo de bom nível educacional, foi esmagada por políticas financeiras,
aceitas por seu dirigentes, impostas pelo “governo mundial” sob o comando dessa oligarquia
financeira internacional.
Há 25 anos, a Argentina tinha 7% de sua população na linha de pobreza. Chegou
porém em fins de 2002 a 57% de sua população sendo que 28% na indigência. Essas
mudanças na direção da ruína nacional ocorria em crescente e rápida deterioração
generalizada. Nos últimos oito meses antes do novo governo, mais de cinco milhões de
pessoas atravessaram a linha de pobreza, abrangendo mais de 70% das crianças com
menos de 14 anos.
O sistema monetário causador dessas tragédias levou assim o povo argentino a
acelerado processo de planejada destruição. A absurda aritmética que regulava o
endividamento externo, por exemplo, levou esse país de uma dívida externa de 27 bilhões
de dólares em 1980 a 140 bilhões de dólares em 2002, embora tivesse pago em serviços da
dívida, nesse período, 120 bilhões. Sem dúvida, perversa esquizofrenia!
Segundo a revista norte-americana “Executive Intelligence Review”, a dívida dos
países da América Latina era de US$ 257 bilhões em 1980, transformou-se em US$ 787
bilhões em 2001, após ter pago de serviços nesse período o montante de US$ 733 bilhões.
A medonha aritmética dos banqueiros e seus agentes nativos quantifica um processo de
saqueio.
O exemplo da Argentina repetia-se, “modus et rebus”, com impiedade e violência,
no Brasil, pois os fundamentos das políticas dos dois países obedecem ao mesmo comando
externo e seguiam as mesmas posturas dos dirigentes internos, igualmente servis. Na caso
brasileiro, após seis meses do novo governo ainda não há sinais de mudança. Apesar dos
trágicos resultados argentinos e das evidências que caminhamos na mesma direção,
comportamo-nos como se nada semelhante fosse ocorrer conosco e, passivamente,
aguardamos a proximidade do desastre. Os vaticínios são de Foster Dulles, Secretário de
Estado do presidente Eisenhower: “Quando não convém destruir uma nação pelas armas,
usa-se as finanças”.

As premissas previstas aqui são aquelas definidas por um nefasto sistema de


abstrações forjadas, falsamente simbólicas, afastadas dos fundamentos da realidade do
mundo físico, da Natureza, da terra, da água, da energia, do trabalho e da Ciência neste
continente tropical. O que propomos neste trabalho é a valorização do mundo concreto de
excepcionais vantagens naturais comparativas E, por quê não? Da moeda própria, legítima,
verdadeira, tendo como suporte as excepcionais riquezas dos patrimônios naturais
transformados em bens e serviços e da operosidade de nosso povo.
Enfim, o caminho seguro é fundamentar nossa vida como nação nos elementos
físicos da realidade concreta do nosso continente, na soberania nacional, complementados
por alianças externas, como as que propomos neste documento. Ademais, resgatarmos os
conhecimentos acumulados pela tecnologia brasileira e pela experiência acumulada no uso
de nossa excepcional natureza e recuperarmos os valores morais da verdade e da justiça,
que suportam nossas melhores tradições e a dignidade do nosso povo. Acima de tudo, é
crucial fazer valer nossa soberania que permita conduzir nosso destino de povo assentado
em quinhão excepcional do planeta dotado de profundo conteúdo humano e justificada
alegria de viver.
É dessa base física territorial que haveremos de tirar inquestionáveis soluções
para os gravíssimos colapsos que atingem a Humanidade, especialmente no fim da era dos
combustíveis fósseis, com carências mundiais crescentes de matérias-primas estratégicas,
de água e com irresponsáveis desequilíbrios termodinâmicos que as nações hegemônicas
vêm submetendo a ecosfera terrestre devido à natureza de seus modelos econômicos.

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Por isso, transferir a troco de nada o controle de soberbos patrimônios naturais
estratégicos para grupos externos, em muitos casos suspeitos, é grave crime de lesa pátria
que, certamente, compromete irremediavelmente as atuais e futuras gerações.

É essencial para isso recuperarmos os fundamentos do Estado nacional e a


libertação do sedicioso processo de colonização que inunda e mutila culturalmente a
mente de nosso povo e orienta os dirigentes que infelicitam nossa vida e o futuro de
nossos descendentes.

Não podemos pensar em dar passos decisivos em benefício do Brasil e do seu


povo se não detemos o controle dos resultados retirados do esplendoroso espaço de nosso
território continental e se não reconhecemos a contribuição que podemos dar na solução
dos graves problemas que afligem outros povos neste início do século XXI. Para isso, é
necessário contrapor-se à postura colonizada de dirigentes descomprometidos com a vida
nacional, ignorando o que somos e onde estamos, conforme a definição de Ortega y Gasset:
“Aqueles que ignoram o seu espaço – representado pelo território nacional e suas riquezas –
e o seu tempo”.

II – AS CIRCUNSTÂNCIAS

Vivem países e blocos econômicos fase de grande complexidade e perigo,


conseqüências, em parte, do desmoronamento da bipolaridade no poder mundial e,
principalmente, do previsto fim da era dos combustíveis fósseis, que sustentou a evolução
do mundo nos últimos duzentos anos, além da crescente escassez de matérias-primas, de
água e das perigosas mudanças climáticas devidas ao colapso ambiental provocado pelo
efeito estufa.
Essa complexidade reflete também a perda de uma certa estabilidade política que
vinha desde a Conferência de Ialta, que determinou uma divisão acertada do mundo após o
final da Segunda Grande Guerra, o equilíbrio bipolar. O mundo porém viveu em permanente
confronto ideológico do capitalismo com o socialismo, sem porém levar em consideração a
necessidade de permanente sustentação de cruciais fatores da natureza, especialmente de
energia. Viu assim os combustíveis fósseis caminharem para o ocaso.
São previstas portanto profundas mudanças no fim do que se convencionou chamar
“Era dos Combustíveis Fósseis” ou, mais recentemente, “era do petróleo”. Elas seriam de tal
ordem que se sobreporiam em importância às razões que motivaram as duas grandes
guerras do século passado e decorrem de:
• - ocaso inexorável do uso extensivo de combustíveis fósseis – carvão
mineral e petróleo –, cujas evidências de declínio vêm ocorrendo desde 1973;
• - processo de previsível e irremediável implosão da bolha monetária no
sistema financeiro internacional, montado em Bretton Woods em 1944. O dólar,
moeda de referência internacional, desvinculou-se do lastro-ouro em 1971 por
ação unilateral dos EUA, que desmontou Bretton Woods, e o mundo passou a viver
uma era de dinheiro falsamente simbólico, de emissão centralizada e arbitrária,
sob a égide tirânica desse sistema.

Essas motivações são de natureza distintas daquelas ideológicas que dominaram o


século XX e que se refletiram diretamente no confronto Leste-Oeste, especialmente durante
a chamada Guerra Fria, que tinham como principais motivações as relações capital-trabalho.

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Na realidade, isso ocorria em modelo energético mundial fundamentado no uso
extensivo de combustíveis fósseis e, em particular, do petróleo, com falsa suposição de
reservas ilimitadas. Esses combustíveis definiram a matriz energética desde a Primeira
Revolução Industrial, até os dias atuais quando consolidou-se a consciência do seu fim.
As dinâmicas dessa era foram desencadeadas pela emergência do uso da máquina
a vapor, acionada por energia concentrada do carvão mineral e pela intensificação do
comércio mundial pela superação do barco a vela e sua substituição pelo barco a vapor. O
seu fim vem ocorrendo com o declínio de uso desses combustíveis fósseis que, de modo tão
predominante, deram suporte ao processo civilizatório desenvolvido nesse período. Esse
declínio se dá com o petróleo pela prevista diminuição de suas reservas e com a
necessidade de redução drástica de uso do carvão mineral em conseqüência dos tremendos
efeitos ambientais que provoca.
É importante destacar que houve forte motivação de natureza geopolítica para que
inicialmente a Inglaterra e depois a Europa e os Estados Unidos da América impusessem ao
mundo as formas energéticas fósseis predominantes, apesar das inúmeras desvantagens
que traziam, especialmente as mais críticas, resultantes de sua natureza não-renovável e
dos dramáticos danos ambientais que provocam.
Essa motivação foi a ausência nas regiões temperadas e frias do planeta, onde, no
hemisfério norte, localizam-se as nações hegemônicas, de outras formas energéticas
extensivas nas dimensões que alcançaram os combustíveis fósseis. As formas capazes de
estabelecer modelo civilizatório energético mais consistente e limpo que o associado aos
fósseis são as derivadas da biomassa que se forma nas plantas pela ação da fotosíntese
solar. Elas, porém, somente são possíveis de modo extensivo nas regiões tropicais do
planeta, com sol e água são abundantes..
Mesmo após o embargo do petróleo, na primeira crise ocorrida em 1973, promovida
pela OPEP e por corporações petrolíferas transnacionais, como conseqüência direta da
limitação das reservas existentes, houve grande esforço na mídia mundial, patrocinada por
essas corporações e pelas da área automobilística, para afastar da opinião pública a
irremediável idéia da limitação das reservas.
Assim, as enfáticas preocupações iniciais com a busca de alternativas praticamente
desapareceram, embora as conseqüências das evidentes reduções das reservas de
petróleo tenham levado a continuadas guerras, que vêm ocorrendo, cada vez com maior
intensidade, desde a época do presidente Nasser do Egito, culminando recen temente com
a ocupação militar do Iraque, detentor da segunda maior reserva mundial, ao custo de
milhares de vidas inocentes de seu povo .
Os conflitos estiveram concentrados inicialmente no Oriente Médio e foram se
estendendo a outras regiões, como no caso dos atentados ao Pentágono, em Washington, e
às torres do World Trade Center, em Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001, a
ocupação militar do Afeganistão, o caso de Israel com os palestinos, o golpe de Estado na
Venezuela, entre outros, já se prevendo invasão militar à Líbia e ao Irã pelos norte-
americanos. Todos esses movimentos bélicos têm a motivação do fim da era dos
combustíveis fósseis e as gravíssimas conseqüências mundiais disso decorrentes.
A segunda principal motivação ocorreu ao final da Segunda Grande Guerra, com a
implantação do sistema financeiro internacional de moeda de emissão monopólica, que dava
à agora grande potência EUA o controle absoluto do símbolo de todas as riquezas, o dólar,
moeda mundial de referência desde 1944. Foi assim que os EUA e seus aliados
estabeleceram o domínio econômico, pela via financeira, sobre o resto do mundo. O valor
dessa moeda, após sua desvinculação formal do lastro-ouro pelo presidente Nixon, em
1971, passou a depender de sua vinculação à compra de petróleo, garantida por ocupação
militar norte-americana.
A questão central, porém, é que mesmo detendo o Oriente Médio alta proporção do
petróleo que resta no planeta, suas reservas são finitas e têm seus dias contados. Um

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número muito pequeno de países hegemônicos concentram altíssima proporção de uso do
petróleo mundial. Suas economias são, de modo vital, sem alternativas à vista – salvo as
soluções tropicais -, dependentes desse combustível. Isso os induzirá, a partir de certos
limites residuais, difíceis de serem previstos, a que preservem grandes volumes de petróleo
da região para seu uso exclusivo. A quase totalidade dos países do mundo ficarão sem
aceso a esse petróleo qualquer que seja seu preço. É uma questão de sobrevivência das
potências hegemônicas ante essa inexorável e dura realidade, quase impossível de
superação por caminhos normais.
O ciclo de correspondência portanto entre esses dois entes – dólar e petróleo – foi
fechado quando o acesso a esse combustível fóssil no Oriente Médio – onde se localizam
mais de 80% das reservas mundiais – ficou sob controle de forças militares norte-
americanas.
Com as questões do papel do mundo físico – energia, matérias primas e água - no
jogo do poder atual e futuro, colocadas nesse quadro de interconexões e domínios, e com o
controle da propriedade sujeito ao falso valor monetário do dólar de Bretton Woods, emitido
de modo arbitrário e em regime de monopólio, restaram aos governos e povos as disputas
ideológicas entre capital e trabalho, agora arrefecidas com o desmoronamento da União
Soviética ao tempo em que se tornam cada vez mais sérios os problemas relacionados com
o ocaso dos combustíveis fósseis, as carências mundiais de matérias primas e de água e o
possível colapso financeiro internacional.
Algo semelhante ao ocaso dos combustíveis fósseis ocorre com o sistema
financeiro internacional, com a inconsistência da moeda de referência cada vez mais
suportada porque compra petróleo. Este cada vez mais sob o domínio militar dos norte-
americanos. Não foi por acaso que a invasão do Iraque foi acelerada com a decisão de
Saddam Hussein de aceitar a moeda Euro como pagamento pelo seu petróleo, o que levou
aos dois principais países da União Européia, Alemanha e França, a se oporem com mais
vigor à invasão norte-americana.
O dólar, em processo de “descolamento” da realidade, como dizem certos
economistas - desvinculando-se cada vez mais do suporte concreto da natureza, onde se
origina todas as riquezas –, salvo neste momento do petróleo no ocaso, que lhe dava
sustentação e lastro, perde legitimidade e caminha para o declínio, também devido ao
crescente arbítrio de emissão..
É a ocupação militar norte-americana no Oriente Médio que garante o dólar como
moeda que compra petróleo, o valor de referência internacional. Esse valor, assim, vincula-
se à essencialidade do petróleo, que ainda movimenta o mundo, embora o ouro negro esteja
no ocaso e tenha seus dias contados, tendendo a exaurir-se. Existe ainda a evidente
possibilidade do que dele resta ser preservado, como vimos, para o consumo exclusivo das
nações nucleares. Ou seja, corre-se o risco de, em prazo relativamente curto, embora
impossível de prever-se, ocorrer perigoso vácuo energético, que, como conseqüência, porá
em perigo o valor da moeda de referência e ameaçará o mundo com um colapso econômico,
mais global e profundo do que foi em 1929.
Com o desaparecimento da base energética fóssil que dá suporte estrutural à
produção de bens de utilidade e de poder, ficaria faltando no mundo do petróleo os
fundamentos da Natureza, a energia, que garantem o processo de evolução das nações e
das civilizações. “Nada se move ou se transforma no universo físico sem energia”, diz o
Primeiro Princípio da Termodinâmica.
Assim, o século XXI começa com a necessidade crucial de urgente equacionamento
desses problemas com vistas a recompor-se a estabilidade perdida e buscar-se o
reencontro do processo civilizatório em sólidas bases físicas e não com falsas simbologias e
salamaleques irresponsáveis de perversas abstrações e privilégios.
Com o desmoronamento da credibilidade dos símbolos de valor e de troca,
representados pela moeda de referência, devido a seu descolamento da realidade concreta

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e arbitrárias emissões, surge grande vácuo que compromete a solidez de sistema tão
essencial ao funcionamento econômico das nações. O mundo assim caminha para a
inconsistência, com a possibilidade de colapso, todos no aguardo do que se convencionou
chamar de “implosão da bolha financeira”.
Ademais, surge forte complicador adicional, que são as questões ambientais do
efeito estufa e da chuva ácida pela continuada queima, em grandes proporções, de
combustíveis fósseis. Seu início de solução, porém, encontrou brutal rejeição do principal
causador, os Estados Unidos da América, negando-se a aderir ao Protocolo de Quioto, mais
preocupados em não reduzir seus ganhos econômicos do que em preservar o equilíbrio
termodinâmico da ecosfera. Autoridades norte-americanas calcularam que a redução de 7%
nas atuais emissões de (CO2), como propõe o protocolo de Quioto, geraria um custo anual
de US$ 400 bilhões. É o preço da tragédia por vir.

Essas dificuldades resultaram do modo inconsistente como o modelo energético da


civilização contemporânea foi estabelecido unilateralmente pelas nações hegemônicas
definindo de modo inadequado as relações do homem com a Natureza, como se suas
riquezas fossem permanentes e inesgotáveis, sobre a qual não houvesse a necessidade
imperiosa de cuidadosas cautelas, como se ela estivesse sempre ao dispor do homem e de
uma economia de fanfarra, de modo contínuo, com recursos naturais estratégicos
supostamente ilimitados e infinitos. Trata-se, na realidade, de projeto suicida.
Essas circunstâncias refletem-se diretamente nas relações entre as nações, o que
cria perversas desigualdades e inaceitáveis subjugações. Os mais poderosos procuram
impor suas regras em enlouquecida corrida de “salve-se quem puder”, ao tempo em que
esmagam os mais fracos pela força militar ou pelas finanças e usurpam seus patrimônios
naturais.
Elas são também responsáveis pelos critérios que degradam os valores dos bens e
recursos da Natureza com incríveis imposições coloniais. É crescente o grau de depreciação
de valores da natureza em injusta e arbitrária divisão internacional dos bens e serviços
produtivas: a valorização permanente daqueles de alta rentabilidade – produtos
industrializados acabados – e a depreciação dos de baixa rentabilidade ou de prejuízo –
produtos da agricultura e matérias primas em geral, embora sejam essenciais, escassos e,
em grande parte, não-renováveis produzidos pelos países dependentes, não soberanos.
Quando as vantagens comparativas são favoráveis aos menos favorecidos, surgem nas
nações hegemônicas escandalosos subsídios que impedem o justo comércio e a livre
concorrência, como vem ocorrendo atualmente com os produtos agrícolas.
Fica assim imposto pelos fortes a divisão do mundo entre grandes usuários dos
recursos naturais do planeta – países ditos ricos ou desenvolvidos – e os eternos
fornecedores desses recursos naturais – os chamados países pobres ou “em
desenvolvimento”, apesar de serem detentores das bases físicas para a produção de
riqueza.
Nesse contexto, o que foi exemplificado com o caso energético dos fósseis pode ser
dito dos recursos minerais e outros essenciais para o processo civilizatório, como a terra, a
água e o sol, elementos essenciais da Natureza.
As nações privilegiadas e prepotentes oferecem porém enormes resistências à
discussão dessas questões, as quais implicam na revisão de práticas coloniais seculares,
consolidadas pelos hegemônicos, que estão levando o mundo a situações muito perigosas,
com motivações bélicas comprovadamente evidentes e irreversíveis. Quando aparecem
oportunidades para discussão, elas apenas servem parta aprofundar ainda mais as
injustiças, como fica mais do que evidente com as pressões para o estabelecimento do “livre
comércio” da ALCA, que poderá significar – com 99,9 % de probabilidade - o fim da
esperança do Brasil vir a ser uma nação livre e soberana.

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É sintomático que, no contexto das ideologias sobre as quais falamos, os aspectos
essenciais do uso dos recursos da Natureza nunca tenham sido adequadamente
considerados. O relacionamento entre os países nessas questões aprofundou tremendas
desigualdades, impossíveis de serem mantidas sem deflagrarem em meio e longo prazo
processos destrutivos de gravíssimas conseqüências.
Vimos recentemente os ataques ao Afeganistão com manto de poderosas bombas,
que tiveram como conseqüência a ocupação de seu território por previstos gasodutos e
oleodutos com vistas ao escoamento do petróleo e do gás do mar Cáspio, de interesse das
corporações de petróleo anglo-americanas.
Os conflitos resultantes dessas questões, concentrados inicialmente em países do
Oriente Médio, tendem, como vimos, a se estender a outras regiões do globo. Há grupos
hegemônicos radicais interessados em “ver o circo pegar fogo”. Eles querem transformar
esses problemas energéticos em “choque de civilizações”, que atinjam todos, especialmente
os países do mundo árabe, que, “por acaso”, detêm em seus territórios a grande porção das
reservas remanescentes de petróleo no planeta.
Fica assim evidenciado que, pelas limitações das reservas de petróleo que restam,
induzindo a continuados conflitos bélicos relacionados com o seu controle, cujas reservas
caminham de modo inexorável para o ocaso, esses embates caracterizam conflitos
diretamente relacionados com a energia fóssil que teve e ainda tem papel muito importante
na vida da humanidade.
Para nós, brasileiros, é importante responder à pergunta: “Onde estarão localizados
os conflitos relacionados com as formas energéticas predominantes no futuro?”
Com as evidências dadas pela Ciência – as leis e os princípios que regem a
Natureza –, a resposta é que eles se localizarão nas regiões com intensa incidência solar e
que detenham água doce em abundância, ou seja, nas regiões tropicais do continente
brasileiro.
Esta é a principal questão que se põe à Humanidade no início deste século, não
somente pela crescente vulnerabilidade das nações dependentes, fornecedoras de recursos
naturais primários, esmagados pela tirania financeira de dinheiro falso, que põe em risco
suas sobrevivências como nações, mas também pela imensa imprevidência, arrogância e
truculência dos países hegemônicos, todos sem perspectivas de solução em seus territórios
para os problemas decorrentes dos dois maiores colapsos a que jamais foi submetida a
Humanidade.
As profundas modificações a que nos referimos anteriormente se referem ao
perverso processo colonial que impera e divide o mundo em dois grupos: um, pequeno,
constituído de países privilegiados, com elevada capacidade de matar, e outro formado por
países com artificial dependência dos primeiros. Estes, em grande maioria, são submetidos
a regime profundamente discricionário erroneamente chamado de globalização, que
condena à ruína e ao extermínio grande parte da Humanidade, em benefício de uns poucos.
Esse status quo é mantido pelo chamado “governo mundial”, que detém instituições
controladas por poucos países hegemônicos, sob a égide dos EUA, como o Banco Mundial-
BIRD, o Fundo Monetário Internacional-FMI, a Organização Mundial do Comércio-OMC e
algumas agências financeiras, além de estruturas complementares de poder, como OTAN e
órgãos regionais, como o NAFTA e o ALCA, de efeitos devastadores.

III – AS ALIANÇAS

Identificamos no mundo atual situações muito complicadas e especiais de países


que evidenciam práticas até aqui consagradas, embora perigosas, impossíveis de serem

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continuadas por longo prazo e às vezes profundamente injustas para povos explorados ao
extremo em seus patrimônios naturais.
A vulnerabilidade do Japão em recursos naturais é sintomática e sua superação
pode encaminhar soluções novas, que representam grandes avanços nas relações futuras
entre os povos. É o caminho para uma estabilidade, que recompensa a continua
operosidade de seu povo e grande eficiência nacional.
Com a derrota militar ante os Estado Unidos da América e a ocupação comandada
pelo general Mac Arthur, foi esse país transformado em poderosa economia industrial
capitalista com a função de impedir a expansão da União Soviética para o Pacífico. Como
povo operoso, capaz de grandes realizações técnicas e de profundo sentimento
nacionalista, o que lhe dá sentido de unidade continuada, o Japão transformou-se em
importante potência industrial-tecnológica, de elevado poder competitivo, capaz de
conquistar mercados das mais avançadas nações. Falta-lhe porém, de modo crucial,
recursos naturais essenciais, especialmente energia e matérias-primas em geral.
Esse grave gargalo impeditivo foi contornado de modo provisório mediante o acesso
a matérias-primas concentradas em países do chamado Terceiro Mundo e que são vendidas
por valores insignificantes, muitas vezes abaixo dos custos de extração e transporte, ao
modo estabelecido pela tradição colonial do século XIX e mantido no século XX, sob o
controle das nações hegemônicas do ocidente.
Quanto ao petróleo, especialmente o do Oriente Médio, distribuído pelas hoje
“quatro irmãs”, seus baixos preços favorecem ainda mais o Japão. Sem petróleo, o Japão
pára em poucos meses.
Esses suprimentos de matérias-primas e de energia realizaram-se em grandes
proporções e representaram sempre pequenas parcelas do PIB japonês quando
comparados com o elevado valor agregado das exportações de produtos acabados,
resultantes das transformações dessas matérias-primas e do uso do petróleo importados.
Isto deu ao Japão constantes superávits na balança comercial, o terceiro maior do mundo,
depois dos EUA e da Alemanha.
O Japão passou a dominar tecnologias sofisticadas, que lhe deram grande poder de
barganha. Seu alto poder de competição tecnológica permitiu-lhe penetrar em outras
importantes economias com vantagens comparativas em relação às empresas locais. Isso
ocorreu, por exemplo, no setor eletrônico e automobilístico dos EUA e de outros países, o
que levou-os a criar graves dificuldades com as políticas locais, que visam a favorecer,
logicamente, as indústrias de capitais nacionais.
Esses conflitos ganharam importantes dimensões na medida em que o domínio
japonês crescia e quando já tinha ocorrido o desmoronamento da União Soviética. Então,
não existiam mais as razões de o Japão servir de freio à expansão soviética para o Pacífico,
o que tinha justificado uma ampla liberdade dele usufruir condições coloniais excepcionais
no acesso a recursos naturais de países ligados à área de influência política e econômica
dos EUA. De qualquer forma, o Japão já se tinha beneficiado ao extremo de tais condições,
que privilegiam os chamados países ricos em confronto com os detentores de abundantes
recursos naturais em países classificados por isso de pobres.
Nessas condições de elevado poder competitivo japonês, os interesses ianques
começaram a pressionar para procurar impedir, na origem desses produtos naturais ou pelo
bloqueio no seu caminho marítimo, o acesso do Japão a esses recursos em condições tão
favoráveis.
Autores americanos consideram inevitável o aumento dessas restrições, que
objetivam tentar bloquear ao Japão o acesso a matérias-primas essenciais e frear portanto o
ímpeto competitivo nipônico. Conforme esses autores, essa situação de vantagens coloniais
e elevado poder competitivo japonês ante as demais economias capitalistas não poderá
persistir. Isso, naturalmente - dizem eles -, levará à guerra. Configura-se assim, claramente
neste caso, uma guerra por matérias-primas, que vem juntar-se às guerras que estão

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ocorrendo em relação ao petróleo. Não tardarão a surgir também guerras relacionadas com
o controle e uso de água.

O Brasil é um dos principais fornecedores de matérias-primas em condições


coloniais para as nações hegemônicas, senão vejamos:
• há pouco mais de uma década, exportávamos a tonelada de minério de ferro por valor
equivalente a vinte e duas gramas de ouro. Hoje o fazemos por pouco mais de uma
grama;
• para um brasileiro dormir uma noite em um hotel quatro estrelas em Nova Iorque, o Brasil
precisa colocar trinta toneladas de minério de ferro no outro lado do mundo;
• exportávamos quartzo para fins piezelétricos, usado nos telégrafos após a Primeira
Guerra, pelo valor de cinco dólares o quilo. Com o surgimento da tecnologia do silício,
em que toda a eletrônica contemporânea depende de quartzo de primeira qualidade
brasileiro, a demanda cresceu enormemente. Então, o Brasil, produtor de mais de 98%
do quartzo mundial, passou a exportá-lo por quarenta centavos de dólar o quilo! Note-se
que o aumento da demanda ocorreu sem alteração da oferta e, surpreendentemente, o
preço abaixou mais de dez vezes! Esse é flagrante exemplo de que não existe a
decantada lei da oferta e da procura Não há lei quando o “mercado” é dominado por
monopólios, cartéis, oligopólios e pela tirania financeira mundial de moeda única;
• a produção de alumínio metálico exige o uso intenso de eletricidade. Cerca de 80% do
custo de produção do metal é despendido em energia elétrica. As grandes corporações
transnacionais de alumínio vieram localizar-se próximo à hidrelétrica de Tucuruí para
utilizar a energia gerada, que, pelos elevados juros dos empréstimos feitos, custaram ao
Brasil cerca de quarenta e dois dólares o megawatt-hora. A Eletronorte vende essa
energia por valores próximos dos dez dólares em escandaloso subsídio ao alumínio
exportado para nações hegemônicas e pago pelo povo.
Os exemplos são tantos que essas práticas viraram sistemáticas coloniais.

A China vem conseguindo há longo tempo crescimento excepcional (acima de 8%


do PIB) e vem conseguindo melhorar o nível de vida do seu povo. A população, de cerca de
1,2 bilhão de habitantes, dá-lhe base sólida para esse crescimento. Metade de sua
população porém ainda precisa alcançar níveis adequados de consumo. Prevê-se, seguindo
essa sistemática de desenvolvimento, que em poucos anos o país terá PIB maior que o dos
EUA. Ademais, vem dando alta prioridade ao desenvolvimento tecnológico autônomo, o que
favorece o uso de seus fatores de produção.
O principal problema da China localiza-se nos recursos naturais, na crucial área
energética. Embora disponha de razoáveis reservas de petróleo, elas não são suficientes
para enfrentar seu extraordinário desenvolvimento. Sua principal fonte energética resulta de
grandes reservas de carvão mineral, cuja queima, como sabemos, contribui de maneira
ponderável para aumentar o efeito estufa. Hoje, a China já é o segundo maior poluidor do
planeta, depois dos EUA. Com seu crescimento econômico atual, em grande parte devido
ao aumento do uso do carvão mineral, ela passaria a ser o maior poluidor, o que
evidentemente desqualifica o enorme esforço em benefício de seu povo, pois tal
crescimento seria alcançado às custas de graves conseqüências ecológicas para a
Humanidade.
Além de acentuada necessidade de fontes energéticas limpas, como as derivadas
da biomassa tropical, a China, com um quinto da população do planeta, dispõe de imenso
mercado para países como o Brasil com elevado potencial para a produção de alimentos.
Os campos de interesses comuns do Brasil e da China são, assim, sem dúvida, de enorme
valor estratégico e de grande extensão e diversidade.

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A Alemanha adotou talvez a mais corajosa e saudável política energética dos
últimos dez anos, com extraordinários efeitos para o futuro ao decidir interromper a geração
de energia elétrica de origem nuclear, quando já atendia 30% de sua demanda com essa
forma de energia. Desativa os reatores atômicos à medida que cumprem sua previsão de
utilidade e não os substituirá por outros após a desativação dos atuais.
Essa posição de vanguarda mundial em país de primeiro nível tecnológico com
poderoso mercado consumidor abre perspectivas muito interessantes para a procura de
novas formas energéticas por meio de intensa cooperação comercial e tecnológica com
países das regiões tropicais que disponham de elevado potencial de fontes renováveis e
limpas. Por exemplo, em sua política de cooperação tecnológica, a Alemanha há muito vem
dando prioridade a essas formas de energia. Ao procurar substituir derivados do petróleo na
agricultura, especialmente por óleos vegetais, como os da colza e girassol, dá demonstração
evidente dessa saudável tendência.

No caso da Rússia, embora com ponderáveis reservas de petróleo e muito maiores


de carvão mineral, sua grande população e condições climáticas exigem prudente postura
ante o futuro. O enorme consumo energético em grande parte do ano para aquecimento e a
necessidade de moderar o uso do carvão mineral por questões ecológicas são
condicionantes que justificam a procura de soluções limpas permanentes. Suas reservas de
petróleo, como acontecerá inexoravelmente com todos aqueles que ainda dispõem de
volumes importantes, caminham para o ocaso em prazos históricos relativamente
reduzidos. Isso aconselha naturalmente à necessidade de poupá-las, substituindo-as
paulatinamente por formas renováveis e, enfaticamente, por fontes energéticas de efeitos
ambientais benignos.

A Índia é caso muito especial. Pela imensidão territorial e grande população, tem
papel crucial no futuro do mundo. Suas analogias e diferenças com o Brasil oferecem largo
espectro de convergências e ações complementares, o que permite muitos ajustes e ações
de cooperação. A dependência energética no fim da era dos combustíveis fósseis predestina
a Índia com um potencial de intensa cooperação tecnológica e energética com o Brasil. Seu
peso populacional e tamanho do território são sem dúvidas extraordinários, o dá grande
sentido ao conjunto. Ademais, a Índia, sem ser caso evidente de macro-carências, como a
China e o Japão, exige tratamento prioritário e cuidadoso pela natureza de sua estrutura
social e cultural e evidencia uma grande convergência de interesses com o Brasil.

Esses países formam portanto com o Brasil grupo que tem tudo para harmonizar
seus interesses cruciais de médio e longo prazos em torno da questão energética, saindo no
fim da era dos fósseis com soluções próprias conjuntas de inestimáveis efeitos positivos
para todos, no momento em que o mundo, em contraste, caminha para graves dificuldades e
conflitos. Lembremo-nos que esse conjunto de países – China, Japão, Alemanha, Rússia,
Índia e Brasil – representa parte ponderável da população da Terra.
Eles são capazes, portanto, de orientar a retomada do valor da Natureza como
principal e insubstituível reservatório dos fatores naturais essenciais à vida e ao processo
civilizatório. Hoje se faz o contrário ao desvalorizá-la e promover sua impossível e perigosa
substituição por moeda abstrata que nada representa e que, para ser verdadeira, deveria
simbolizá-la. Cria-se deste modo um vácuo de valor, que leva o mundo a incrível
afastamento do universo físico e a insuperáveis conflitos que estão, de modo crescente,
tomando a dimensão de brutalidade bélica.
Ademais, é necessário dar passo decisivo na recuperação da estabilidade nas
relações entre os povos com vistas a superar os dois colapsos estruturais que ameaçam a
Humanidade.

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Com novos caminhos nas relações internacionais, tendo como parceiros esses
importantes países, o Brasil´, visando a dar sua contribuição na solução de seus cruciais
problemas, poderia ajudar na superação de dificuldades que impedem uma adequada
evolução. Cabe também procurar agregar paulatinamente outros países que venham a se
juntar nesse esforço coletivo. São exemplos as experiências de alta potencialidade com
nossos vizinhos do Mercosul, especialmente com a Argentina, esmagada pela fúria da
oligarquia financeira internacional e com os demais países da América ibérica, todos sob a
ação dos perigos da ameaça do ALCA em que os EUA quer consolidar e aumentar seu
predomínio colonial, anulando qualquer possibilidade de futuro para esses países.
Sem qualquer dúvida, o país-chave nesse conjunto é o Brasil, por ser o continente
tropical do planeta, habitado por raça cósmica, com grandes reservas naturais estratégicas e
respostas práticas extraídas do mundo concreto, com grandes potencialidades naturais
ainda não aparoveitadas, ainda que também vítima da esquizofrenia financeira atual de
controle externo.
O Brasil é importante tanto para a solução dos problemas relacionados com os dois
grandes colapsos mundiais, o dos combustíveis fósseis e o ecológico, como também para
minorar a perigosa escassez de matérias-primas e de água, como na área decisiva das
relações humanas com outros povos, com a tradição histórica de ser habitado por seres
humanos de todas as raças e origens, convivendo em exemplar harmonia.
Há inúmeros precedentes de tentativas de aliança de alguns desses países junto ao
Brasil, que demonstram uma predisposição para a busca de soluções para seus cruciais
problemas com base em elementos estratégicos de nossa natureza tropical. Tais iniciativas,
porém, não têm ido adiante por não encontrarem interlocutores à altura entre os dirigentes
brasileiros que estão colonialmente desvinculados das nossas vocações naturais e servis a
alienados interesses hegemônicos de origem externa.
O descolamento da ação do Estado dessas vocações frustra as iniciativas em favor
do povo brasileiro ao ignorar saudável princípio básico do processo econômico de aproveitar
as vantagens comparativas locais, o que somente seria possível com um modelo de
desenvolvimento baseado na autonomia tecnológica, o que conflita com o modelo de
crescimento econômico dependente baseado na doutrina da CEPAL e que impera no Brasil
há cinqüenta anos. Os atuais dirigentes, como contadores medíocres, concentram todo o
seu esforço na administração do irremediável desastre financeiro programado, de dinheiro
digital, conduzido de fora do País. Isso somente provoca o afundamento da economia do
país e uma perigosíssima vulnerabilidade que está levando à ruína o mais rico continente de
recursos naturais do planeta.

A Comissão Européia promoveu em outubro de 1997, conferência internacional


sobre o tema “Biomassa para a produção de eletricidade: experiências e perspectivas na
União Européia e no Brasil”. O desinteresse do governo brasileiro de então praticamente
interrompeu o processo que se iniciava com essa conferência realizada em Brasília, por
iniciativa e custeio dessa Comissão.
Os EUA, que estavam importando crescente quantidade de etanol do Brasil,
bloquearam essas importações, por pressão de seus produtores de milho, mediante
sobretaxa de importação de cerca de 100%, o que representa subsídio para os produtores
de álcool de milho, ineficiente conversor energético, com vistas à substituição do chumbo
por álcool etílico misturado como anti-detonante à gasolina. Com a impossibilidade de
produzir localmente etanol em quantidade suficiente, passaram a adotar a substância
química MTBE, altamente poluidora, em lugar do chumbo. Após vários anos da prática
dessa substituição, fundação ambiental levantou, no final do governo do presidente Clinton,
que em 31 Estados dos EUA essa substância tinha contaminado 50% dos poços de água
potável, um tremendo desastre ecológico! A lei que proibia o uso do MTBE a partir de

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dezembro de 2002 já foi adiada mais um ano para não ter que importar etanol do Brasil por
metade do preço do álcool de milho americano. E ainda falam de livre comércio!
No ano de 1978, a cúpula do poder executivo e legislativo do Japão realizou reunião
em Tóquio com o então ministro da indústria e do comércio do Brasil e seu secretário de
tecnologia industrial acerca de programação de longo prazo tendo em vista a produção de
combustíveis tropicais renováveis e limpos. Antes o poderoso MITI – Ministério da Industrial
e do Comércio Internacional, havia negociado com o Brasil acordo de tecnologia industrial
envolvendo de modo prioritário as áreas de combustíveis vegetais e matérias primas
estratégicas.
A questão ambiental do efeito estufa coloca o problema mundial das mudanças
climáticas devido ao acúmulo de anidrido carbônico (CO2) na ecosfera terrestre pela queima
de combustíveis fósseis. Ela tem como solução mundial a substituição destes por
combustíveis vegetais derivados da biomassa tropical limpos do ponto de vista ecológico.

IV – AÇÕES INTERNAS

A ênfase dada ao novo papel do Brasil no contexto internacional tendo em vista


essas circunstâncias encontra, porém, do nosso lado, graves carências estruturais como
conseqüência de políticas de desmonte da estrutura do Estado nacional ocorridas na última
década Delas resultaram a eliminação, por exemplo, dos poucos instrumentos que
dispúnhamos para atuação no mercado externo.
Assim, foram fechados a INTERBRÁS, com elevado poder de barganha
internacional como principal compradora individual de petróleo no mundo, o Instituto do
Açúcar e do Álcool – IAA, que atuava nas exportações de açúcar e álcool, e o Instituto
Brasileiro do Café – IBC, na área do café. Nem nas áreas dos principais produtos de
exportação dispomos mais de instrumentos para promover o comércio externo.

Para poder levar avante com sucesso um ambicioso programa de alianças externas
é crucial consolidar a situação interna com a ampliação do mercado consumidor, eliminando
a miséria existente, as odiosas desigualdades e criando vários milhões de novos postos de
trabalho, o que será possível, inicialmente, com a substituição dos combustíveis fósseis
importados – petróleo, gás de petróleo e carvão mineral -, por energéticos renováveis e
limpos de origem vegetal locais. Isso permitirá construir, com meios próprios, as infra-
estruturas necessárias à produção e logística de distribuição de produtos energéticos de
exportação tornados possíveis por essas alianças.
Elas promoverão também o esvaziamento das megalópoles brasileiras, devido à
criação de uma grande número de postos de trabalho no campo e, de modo evidente,
representa uma real contribuição para reduzir as questões de falta de segurança que tanto
afligem os habitantes das grandes cidades, constituindo-se em um dos mais graves
problemas da atualidade. Por uma lada permite desinchar-se as grandes cidades e por outro
promove a ocupação de vastas áreas perigosamente desocupadas do território por
população brasileira..
A maior alteração interna, porém, relaciona-se com a mudança do modelo
econômico dependente de pacotes tecnológicos que nos colonizou nos últimos cinqüenta
anos ao nos retirar as opções de valorização comparativa de nossos fatores de
produção.Com esse modelo, as decisões são tomadas fora do país, no contexto desses
pacotes tecnológicos, de acordo com seus interesses de origem.

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Esse modelo suicida reduz nossa capacidade de competir e não beneficia nossa
economia com a vantagem resultante da escolha de formas energéticas nacionais
abundantes e outros aspectos favoráveis a nossos interesses. São exemplos, a soberania e
o poder nacionais, a saúde das populações nas grandes cidades pela redução dos
poluidores fósseis, o domínio tecnológico interno em setor cada vez mais estratégico, entre
muitos outros.
Felizmente a maior produção de álcool combustível em todo o mundo permitiu no
período de três décadas, com as enormes adversidades que teve que enfrentar, desenvolver
uma grande capacidade tecnológica que, aliada a abundância de sol e água, pôde, em
média, conseguir um aumento de produtividade que tornou o Brasil o país de maior
eficiência produtiva e de maior volume de produção (superior a 100%) em todo o mundo,
com elevadíssimo poder de competição, com vantagens comparativas superiores a 30% em
relação a qualquer outra parte. O Brasil consegue custos de produção imbatíveis. É o único
país que não necessita proteger sua produção com subsídios de qualquer espécie. Todos os
demais produtores apóiam-se em escandalosos subsídios superiores aos custos brasileiros.
O potencial energético brasileiro de biomassa não se limita à ampliação da
produção de etanol mas a amplo espectro de outros combustíveis, como:
- enorme potencial de substituição do óleo diesel de petróleo por grande variedade
de óleos vegetais. mamona, girassol, colza, pinhão manso, nabo forrageiro, amendoim etc..
Somente na região amazônica existem condições para produzir cerca de cinco milhões de
barris por dia de óleo de dendê – uma realização energética renovável de peso mundial -,
envolvendo milhões de novos postos de trabalho, o que permite pensar-se em uma “marcha
para o Norte” como os EUA realizou a sua “marcha para o Oeste”. Isto equivale a níveis de
produção permanentes próximos ao atual de petróleo da Arábia Saudita
- a alta produtividade das florestas tropicais plantadas – acima de 50 estéreos por
hectare-ano de celulose e hemi-celulose, permitindo a geração de energia elétrica por meio
de termelétricas a lenha, carvão vegetal ou gás de madeira, com elevado rendimento e
baixo custo. Isto abre enorme possibilidade para “fazendeiros florestais” produzirem, de
modo descentralizado, enorme geração de energia elétrica. As áreas florestais devastadas
seriam objeto de reflorestamento com altíssimas recompensas econômicas e ambientais.
Oitenta por cento do Estado do Paraná tiveram suas florestas devastadas e metade dessa
área está inaproveitável para fins econômicos.
Trinta por cento do Estado de Minas Gerais pode gerar cerca de 68 mil mega-watts
de energia elétrica, o que equivale à atual geração brasileira. Também os rejeitos agrícolas
abrem elevados potenciais de geração de energia. O bagaço de cana dos produtores de
açúcar e álcool no Estado de São Paulo permitiria gerar o equivalente a 50% da potência de
Itaipu – cerca de 100% com turbinas de alta eficiência -, sem necessidade das onerosas
linhas de transmissão ou gasodutos.
Cerca de 30% do território brasileiro é constituído por terras impróprias para a
agricultura, mas aptas à exploração florestal. A utilização de metade dessa área, ou seja,
120 milhões de hectares, com florestas energéticas permitiria a formação sustentada do
equivalente a cerca de cinco bilhões de barris de petróleo por ano, mais de duas vezes a
produção atual da Arábia Saudita.
Com a produtividade média de 6 mil litros por hectare-ano de álcool etílico, chega-
se à produção de 50 bilhões de litros por ano, ou seja, de 880 mil barris por dia, com apenas
1% de nosso território.

Extrapolando-se os exemplos concretos tirados da nossa realidade para um


contexto internacional, pode-se afirmar que utilizando-se tecnologia atual, ou de
desenvolvimento de fácil previsão, florestas e culturas energéticas do mundo tropical
no continente brasileiro poderiam suprir, praticamente, todas as necessidades

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mundiais de combustíveis sólidos, líquidos e gasosos, bem como de eletricidade, por
um período praticamente ilimitado.

Até 1946, toda a produção de ferro gusa e aço no Brasil estava baseada em carvão
vegetal. Após esse ano, o desenvolvimento do parque siderúrgico nacional teve por base o
uso predominante de tecnologia japonesa, com a utilização portanto de carvão mineral
importado, altamente poluidor. Criou-se assim nesse importante setor uma dupla
dependência externa: a tecnológica e a do insumo energético.
O desenvolvimento tecnológico do setor siderúrgico a carvão vegetal teve no Brasil
resultados significativos. Para produzir-se um milhão de toneladas de aço era necessário
carvão vegetal retirado de 370 mil hectares(ha.) de florestas. Com o aperfeiçoamento
alcançado hoje bastam 130 mil ha. e já se prevê para o futuro serem apenas necessárias 70
mil ha. Um aumento de eficiência de um fator cinco! Ou seja, uma área contida num raio de
cem km.
Carbono puro do mesocarpo do babaçu, de alta resistência mecânica, é
excepcional como combustível e como redutor na grande siderurgia e metalurgia em geral.
Contrapõe-se ao carvão mineral importado, altamente poluidor, imposto pelos pacotes
tecnológicos de origem externa.
O modelo dependente de crescimento econômico da CEPAL, em uso no Brasil
desde a época do presidente Juscelino, reproduz equações industriais referidos a outras
realidades por meio de pacotes estrangeiros. Ele impõe fatores de produção estranhos aos
nossos. É por isso inadequado pois exige a mobilização de recursos financeiros,
tecnológicos e industriais não disponíveis, enquanto ignora nossos fatores abundantes que
fortalece nosso poder competitivo reduzindo custos e aumentando eficiência. O altíssimo
poder competitivo do álcool brasileiro é um exemplo da inadequação desse modelo
dependente.
O modelo das siderúrgicas brasileiras é um exemplo de dependência ao copiar as
condições japonesas. Ele exige grandes siderúrgicas localizadas nas proximidades de
grandes portos pois tudo no Japão é importado, o carvão mineral altamente poluidor e o
minério de ferro. No Brasil, com a abundância distribuída em seu território de minério de
ferro e de carvão vegetal, o modelo deveria fundamentar-se em um grande número de
pequenas e médias siderúrgicas, limpas do ponto de vista ecológico e distribuídas conforme
a proximidade do mercado, em vez dos monstrengos poluidores atuais justificadas nas
condições japonesas mas não nas nossas .

Os recursos básicos mobilizados por um programa energético de biomassa (ou


seja, o “investimento inicial”) são terra, água e mão-de-obra, abundantes e subutilizadas no
Brasil. Seu uso extensivo significa abrir oportunidades para sua valorização e promoção
crescentes.
A biomassa, mais que uma alternativa energética constitui a base para um modelo
de desenvolvimento tecnológico e industrial autônomo e auto-sustentado, baseado em
dados concretos da realidade nacional e na integração do Homem a um ambiente
econômico em harmonia com o meio ambiente. Sua natureza espacialmente dispersa
ocupando todo o território nacional levará à reversão do efeito centralizador do atual modelo
e torna viável uma distribuição mais uniforme da população no território, permitindo melhor
organização econômica, social e política do País. Ademais, permite a ocupação de
perigosos vácuos populacionais em grandes extensões de nosso território.

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V – CONCLUSÃO

A mais influente entidade ambiental mundial, a norte-americana Worldwatch


Institute, propugnou, no documento “A Situação do Mundo”, de 1997, a criação de
organização de cúpula mundial a ser formada pelos principais países relacionados com
essas questões. Seria o “Grupo E-9” (“E” de Environment), mais poderoso que o atual G-8,
que atua na área econômica-financeira.
O E-9 seria composto por três superpotências ambientais: os EUA, a maior
potência industrial-militar e o maior poluidor; a China, segundo maior poluidor, com
possibilidade de passar a ser o principal, com um quinto da população do planeta e o Brasil,
continente tropical, único não-predador do conjunto. Os outros seis países são: Alemanha,
Japão, Indonésia, Grã- Bretanha, Índia e Rússia.
Note-se que os países que compõem o E-9 são aqueles que têm cruciais problemas
energéticos, ambientais e de matérias-primas em convergência complementar com o Brasil.
Excetuam-se dessa condição os EUA e a Grã-Bretanha, por motivos óbvios de liderarem o
sistema financeiro internacional e as grandes corporações de petróleo dos quais nos
queremos livrar e a Indonésia, enorme arquipélago do oceano Pacífico, sem grande relação
econômica e cultural com o Brasil.
Neste, 60% de nossa energia vem de fontes renováveis, enquanto nos demais
países pretendem chegar a 12% em 2010. Atualmente 85% da energia que movimenta o
mundo é ainda de origem fóssil e 80% dessa energia tem seu uso concentrado em menos
de dez países. A contribuição do Brasil na emissão de gás carbônico é de 0,41%, enquanto
as dos EUA, China, Alemanha, Rússia e Japão somam 65%.

O quadro de alianças que apresentamos neste trabalho não tem o critério


geográfico ou cultural como princípio unificador, mas, sim, razões concretas, essenciais,
ligadas à sobrevivência e evolução dos países envolvidos. Sua característica principal é
oposta àquela que procura justificar o chamado “choque de civilizações”, que confina os
povos no redil de suas culturas originais e limita, de modo perverso, um amplo potencial de
cooperação em questões vitais. Os resultados das alianças que propomos representam o
oposto daqueles pretendidos com o “choque de civilizações”, que levam à guerra e a insana
destruição das outras culturas.
A conotação mórbida que caracteriza esse “choque de civilizações”, conforme
defendem intelectuais do “império”, está em confronto com a fundamentada proposta de
alianças aqui apresentada devido ao papel pacificador desempenhado pelo continente
tropical brasileiro, ao procurar ajudar a resolver problemas cruciais de países de grande
peso e importância no futuro da humanidade com seus potenciais naturais estratégicos.
A redução das tensões internacionais que o surgimento de formas de energia
extensivas, permanentes e limpas – em condições de substituir plenamente os combustíveis
fósseis –, poderá representar, sem dúvida, razão prática para ajudar a alcançar a paz no
mundo. Os combustíveis de origem vegetal dos trópicos representam o contraponto ao
estopim de conflitos provocados pelo ocaso do petróleo e pelo declínio no uso dos demais
fósseis.
Todas as formas energéticas utilizadas pelo homem, com exceção da energia das
marés, da geotermia e da energia nuclear, vêm do Sol, o eterno e imenso reator a fusão
nuclear natural. O Brasil é o único país do mundo em condições de usufruir em grande
extensão desse reator. Sonho inalcançável para os demais países, muito especialmente
aqueles situados nas regiões temperadas e frias do planeta.
A energia solar acumulada nos hidratos de carbono das plantas e de animais
microscópicos necessita centenas de milhões de anos para transformar-se em combustíveis
fósseis. Assim, o uso direto pelo homem da energia armazenada nos hidratos de carbono,

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sob a a forma química, de fácil uso, das plantas, encurta em eras geológicas o uso da
energia solar concentrada nos fósseis.
Os hidrocarbonetos, cujas misturas formam o que denominamos petróleo, derivam
dos hidratos de carbono das plantas pela perda de oxigênio em processo de fossilização
que leva centenas de milhões de anos.
O óleo da semente de girassol, excepcional substituto do óleo diesel do petróleo –
limpo e renovável - chega a fazer 40 quilômetros por litro em motores Elsbett de ciclo diesel
–, leva apenas três semanas para formar-se a partir da energia solar, o anidrido carbônico e
a água, graças à fotosíntese da planta..
Assim, em vez de usar-se o capital da energia solar acumulado nos combustíveis
fósseis, que exige centenas de milhões de anos para se constituir, usemos os dividendos
dessa energia, renovados de modo permanente nos hidratos de carbono das plantas.
Os combustíveis derivados da biomassa – hidratos de carbono vegetal – para
serem vantajosos exigem que sua formação seja acelerada na natureza, o que ocorre
somente com muito sol e água e utilize bons conversores energéticos vegetais, como a cana
de açúcar, por exemplo.. Isto é possível nas regiões tropicais brasileiras. Nosso continente
detém cerca de 22 % da água doce do planeta Terra. Somente a região amazônica tem 18%
desse montante, com o Canadá em segundo lugar, com 14%, embora nele a água seja gelo
em grande parte do ano.
Finalmente, ser o principal supridor mundial de energia renovável e limpa ou de
produtos de elevado conteúdo energético, exige dimensões continentais localizadas nos
trópicos com água abundante e imensas áreas desocupadas. Assim, oferece-se ao Brasil a
grande oportunidade que jamais algum país teve na história da Humanidade, ou seja, cabe-
nos papel importante no mundo, neste começo do século XXI.
É grave equívoco contemporizar com um sistema financeiro internacional
irremediavelmente falido, o qual somente intensificará os atuais conflitos entre nações. A
situação é muito mais grave do que foi em 1929, pois então não havia os atuais previstos
colapsos dos combustíveis fósseis e o ambiental do efeito estufa. Ademais a ganância
descontrolada desse sistema está levando muitos países à ruína pela rapinagem que
praticam com a conivência culpável dos dirigentes locais, servis e colonizados.
O que estamos presenciando é o resultado do desmoronamento de uma política
tirânica de dinheiro digital, sem lastro, na tentativa de dar sobrevida a um sistema financeiro
condenado de modo irremediável pelo abismo que se abre entre ele e a economia concreta,
que tem por base o mundo físico, a natureza.
O que se busca é um pacto entre um conjunto de países de elevado peso mundial
tendo por base uma questão crucial para todos: a energética no momento em que os
combustíveis fósseis se exaurem ou torna-se impraticável, o seu uso extensivo. Ele objetiva
juntar interesses de importantes países de modo a frear a atual oligarquia financeira que
está levando ricos países à ruína e o mundo à guerra. Visa principalmente a abrir uma
discussão acerca da reformulação do atual sistema financeiro internacional que desmorona,
tendo em vista contribuir para retirar a humanidade da perigosíssima situação para a qual
caminha cegamente.
Para que o Brasil possa desempenhar esse importante papel no contexto
internacional é necessário ser dirigido por estadista à altura desse grande salto na história e
que todos sejamos envolvidos nessa bela e grande aventura humana. Precisamos superar a
fase em que os dirigentes nacionais eram agentes externos com uma medíocre agenda
contábil da moeda digital que ignoravam nosso rico espaço continental tropical, nossas
riquezas naturais e nos leva à ruína, como mísera colônia. “As colônias não mudam a
história”.

(*)Apresentado no Curso de Altos Estudos e de Política e


Estratégia da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA - ESG ( 28 de agosto de 2002 e 29 de

16
agosto de 2003) e no Seminário de “Política Externa do Brasil para o Século XXI” da
Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados (15 de
Agosto de 2002).

(**) Engenheiro com pós-graduação em Física. Primeiro Secretário de Ciência e Tecnologia


do Brasil, na Bahia; Por três vezes, Secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da
Indústria e do Comércio (1974-79, 83-84). Principal responsável pela implantação do
Programa Nacional do Álcool – PRÓ-ÁLCOOL.

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