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l ponto de vista humano, 1a Úl}_ica resposta possível às

situações-limite. Com efeito, o homem pode aceitar- com·


relutância ou com aversão essas situações ou, pior ainda,
'rarn, no que se refere à doutrina kantiana, no volumo J.:.11111 ,,
o problema dq,metafísica.(1929), ao qual se seguiram dois
outros escritos importantes: A essência do fundamento
com uma sensação de cansaço ou de.indíferença e, nesse (1929); O que é a metafisica (1929). .
caso, o sentido da transcendência escapa-lhe, Nem é possí- Nos anos que se seguiram a 1930, as investigações de Hei-
vel, de resto, admitir que ele as possa aceitar «incondicio- degger sofrem uma mudança decisiva pois deixam de se
i nalmente», isto é, com uma confiança ou submissão incondi- debruçar sobre a análise existencial para a determinação do
1
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cionais, sem se reconhecer que o homem é capaz de aceitar o sentido do ser em geral e transformam-se numa busca que
1 incondicionado. Ora este não pertence ao homem mas sim a reconhece ao próprio ser a iniciativa da revelação do ser.
!
Deus e, assim, o próprio abandono à Transcendência não Desta segunda fase da investigação de Heidegger destacam-
pode ser atribuído ao homem, devendo antes reconhecer-se -se as seguintes obras: Hôlderlin e a essência da poesia
aí uma obra da iniciativa divina (Dogmatik, III, 2, ·1948 pp. (1937); A doutrina platónica da verdade (1942); A essência · ·
128-43). ; ~- da verdade (1943); Carta sobre o humanismo (1947); Hol-
zwege (1950); Introdução à metafísica (1956); Que significa
''. . ;:,,G.tv.~ óO-
_,,,. •
-
.!<. ~ ~=- pensar (1954); Conferências e ensaios(l954); Que é isto - a
§ 843. HEIDEGGER: . filosofia? (1956); Sobre a questão do ser (1956); Identidade
SER, SER-AÍ, EXISTtNCIA e diferença (1957); O princípio do fundamento (1957);
A resignação (1959); Sobre a linguagem (1959); Nietzsche
. A primeira grande figura do existencialismo contemporâ- (2 vols. 1961); O problema da coisa (1962).
neo é Martin Heidegger, que nasceu em Messkirch em 1889. O fim declarado da filosofia de Heidegger é o de constituir
Heidegger foi discípulo de Rickert mas foi sobretudo influen- uma ontologia que, partindo de uma compreensão vaga do
ciado por Husserl, ao qual dedicou a sua obra Ser e tempo ser que permita pelo menos auscultá-lo e interrogá-lo,
(1927); Professor.em Marburgo e depois em Friburgo, e por alcance uma determinação plena e completa do sentido
breve tempo reitor desta Universidade, Heidegger manteve- (Sinn) do ser; para isto apoia-se no facto de-em qualquer
-se afastado da cultura oficial no período do nazismo, pergunta se poderem distinguir três coisas diferentes: l .°, o
embora num discurso pronunciado por ele como reitor, em que se pergunta; 2.°, aquilo a que se pergunta ou que é
1933, A auto-afirmação da Universidade alemã. se tenha por interrogado; 3.°, o que se encontra perguntando. Na per-
vezes pretendido ver uma adesão ao nazismo. Antes de Ser e gunta(Q que é o ser? o que se pergunta é o próprio ser, o que
tempo. Heidegger tinha publicado três estudos: A doutrina se encontra é o sentido do ser, mas o que se interroga é
do juízo no psicologismo ( 1914); A doutrina das categorias e necessariamente um ente, pois o ser é sempre próprio de um
do significado em Duns Escoto (baseado, porém, na Gramá- ente. Deste modo, o primeiro problema da ontologia é o de
tica especulativa, que não é autêntica); O conceito do tempo determinar qual o ente que deve ser interrogado, isto é, a
na ciência histórica (1916). Ser e tempo apresenta-se como qual se dirige especificamente a pergunta sobre o ser. Ora
uma obra incompleta: deveria ter sido completada com uma esta pergunta, com tudo o que ela implica (entender, com-
terceira secção, «Tempo e ser», dedicada ao problema do preender, etc.), é o modo de ser de um determindado ente, o
sentido do ser em geral, e seguida de uma segunda parte homem, que possui por isso um primado ontológico sobre os
histórica que devia examinar a doutrina .d~ Kant· sobre o outros .. entes enquanto sobre ele deve recair .a escolha do
esquematismo e o tempo, o fundamento ontológico do interrogado. «Este existente gue nós próprios somos cons-
cogito cartesiano e a teoria aristotélica do tempo (Sein und tantemente, diz Heidegger, e ue entre outras tem a ossibi-
Zeit, 4.'ed. 1935, pp. 39-40), Estes complementos aparece- lidade de perguntar, indicamo-lo pelo termo ser-aí (Dasein)»

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r .. \9 Cf.A.AL ,.- ~ y n<9 . \
' lc r"' __ r ,. , , ,<'."\~ (, ,W.Afj'> c1..w
~ (Sein und Zeit, § 2) A ·análiseô-o modo de ser do ser-aí é a urna ..r.~alidas!_e mais prof_!:!:~dai. que o fenómeno v1 h11 ,.
( ~ J pois, essencial e preliriii r para on ÕgÇ'~ · esconderia, mas é 'antes o abrir-se, o próprio rnanll •111111 ,
' rogando o ser-aí se pode tentar descobrir o que é o ser e desta realidade. O logos, por outro lado (a fenornenolog 11 ~
~ encontrar-lhe o sentido. Mas o modo de ser do ser-aí (isto é, o logos do phaenomenon), é um discurso que manifesta 011
l'i do homem) é a existêl].ci_a_: a análise desse modo de ser será, faz ver aquilo de que se fala; e é verdadeiro (no sentido
~. pois, uma analítica existencial e esta será o único meio de , etimológico da palavra grega a-léthés) quando precisamente
..._ ) chegar à determinação daquele sentido do s~que é o termo o faz ver ou descobre o que estava oculto. Isto quer dizer que a
[ final da ontologia. · .
~ essência da. fenonemologia consiste «em t:azer ver por si ?
Mas com isto, é já dada uma determinação fundamental que se manifesta, exactamente como por s1 mesmo se mani-
J •Ü da_ •~istênciac .• ~ome,eensão do \" é u~a PO!iibilidade do
ex1stenc1a, isto e, do ser do ser-a1. A ex1stênc1a é assiro, a
festa», em fazer com que o ser da existência se revele e se
-o mostre, ao ser analisado, nas suas estruturas fundamentais,
possibilidade d~nos referirmos de alguJ.!l modo ao w (lb., § 4). sem alterações, acréscimos ou correcções. Neste sentido,
~A existê.ncia é põrtãiito cons!!.!.!lliia, essencialmente pqrg_ov- ú Heidegger .diz que~ filosofia é «a ontologia universal e
sibilidades, que não são nem possibilidades puras, isto é, Í fenomenológica» (lb., § 7 c).
'smíplesmente lógicas, nem simples coritigências empíricas, ;,. uai é então a-estrutura fundamental_da existênci!i? AÇ@i,
:; mas que formam o seu ser o • prio. «O ser-aí é sempre a sua,
Heide er z ..sAA...Q,,.P. Jl.l).s!,P.J.Q.._. s1.s2-2-~.~EL
p9.ssib.ifü!.ade,», diz Heidegger (Ib., § 9); por isso, ele pode ,. como fora definido por Husserl, Hartmann e Scneler: a exi -
escolher-se e conquistar-se ou perder-se, isto é, não se con- tência é essencialmente transcendência. Ht;idegger reelabo-
quistar ou conquistar-se apenas aparentemente. Esta escolha rou este tema ae tormãõastante cÕrisegmda na sua obra
é todavia um problema que se põe ao homem singular exis- ~~ ~.Ê11cia do}7'-;;Jâ'memo. Ne àãêfineaira-nscêndên~
tente e que dá lugar àquilo que Heidegger designa por com-
preensão existentiva ou ôntica, a qual se refere à existência ,i) _sia C:Omo~.~~fü!isc:§_a}i_te~fqÜér~}Í.#.~:.~)ff~lfr~
do homem singular:-Mas pode também considerar-se o pro-
-8 assa_gem ~ mantem liafütu..w.!1~-~;..~~.!~-~E..!~do,~--
blema do aprofundamento teorético da existência e das suas ~ ~n enc1a, não é 12ara o .h.?-~~~'!~...:2~!:2rE.~.~-~?~
~ possível ao lado d_e tantos outro~1 mas antes a ~a _con~~~-1.::-. •· ---
possibilidades, isto é, procurar-se na constituição do homem ; ção fundament~}, ~ qul:_,forma 'l prop_!:!a essenciajla ~ua_, ,,
as estruturas fundamentais. Esta é a compreensão existencial ?i J.Yg,kcJU,id.B@. O fim para gue o homem transcendL~.•.Q._s _,
ou ontológica da própria existência. Mas, dado que a exis-
tmundo e a t~ndência pode, portanto, ser defi_ajd3.;~!E.Q..~ ;i;
c< tência é sempre individuada e singular, ou seja, nunca é a um «ser-no-mundo». filas o mundo neste sentido nao e nem
1 existência de um homem em .geral ou da espécie humana,
mas sempre a minha, tua ou sua existência, é evidente que a
6 atõtalidade das coi'sas naturais, segundo o conceito natu:a-J ~
g lista, nem a comunidade dos homens, segundo o conceito 3 0
~ própria analítica existencial radica na condição existentiva personalista. Designa, pelo contrário, a estrutura relacional J-
ou ôntica do homem (lb., § 4).
~ que caracteriza a existência humana como transcendência.
f-.r,_ • rr. «~ t A análise da existência deve tomar como método próprio Transcender para o mundo significa fazer do próprio mundo
""-D lc ~ 1 , /.O ,' , ,o ' ú.O > Lf..l';I. • o fenomenológico. A fenomenologia não é uma doutrina, · o projecto das possíveis atitudes e acções do homem. Mas,
mas um método: refere-se não ao objecto da investigação definindo-o assim, o mundo recompreende em si o homem
ô\ filosófica, mas às modalidades desta investigação. A máxima que se encontra lançado nele e submetido às suas limitações.
1 da fenomenologia pode exprimir-se assim: Apontar dírccta- «A n.s..c.endência--sig.nifica.,..o ro·ecto e o esboço de U!!!
mente para ns coisas. O fenómeno de que ela folu não é
nparêncin, mas mnnifestação ou revelação daquilo que a mundo, mas e ta mo o que 9 gue pfoJec~~ ~_comand!do
própria coisa é no seu ser em si. Nl'io se contrapõe, portanto, pelo reinõaõexís·~~ que ele tr_<!,~~~~J~..l!.1J,tec1e~~-.
-mentemode1aélópor ele»~beste modo. a transcenclênc1a é
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ccl'tt1111cntc um acto de Jiberd&<le e é. mesmo, segundo Hei- 18). E a. satj~façílo implica ª· Rr.~d~~sas ..!!.~
degger, a prÕnna liberdade: mas,J...uma IÍberdáde que. no homem1 1mphca que elas ·este1am «à mão», que se possam
J?rópno acto de se explicar. se condiciona e se límíiãem alcançar. Nesta· determinação se basei'ª-ª-..fSp_acialidade do
.!,_odas as dírecções possíveis. Com eleito, fundando ou insti'- mundo Oyspafi:2 não é uma_f.Qll!líLa.!!stract<!, mas sjm ç
tuindo o mundo, coloca:SC "'slinüftãneamente no mundo e con·unt · -e d oxi i a e ou de afasta-
sofre as suas impo_s,!çoes; gualquer pro"jécto possível, mesmo mento das coisas, baseadas na sua utilizabilidade. . por isso
gue se baseie na liberdade, recompreende em si o homem - que o espaço não é uma forma subjectiva mas sim a estru-
como um dos existentes do própri-0 mundo. «A liberdade tura objectiva das coisas, cujo ser é a· utilizabilidade (lb., §
revela-se como' aquilõ que torna possível simultaneamente 23). · . ' · ,_, ,
Tmpor e_ suje~-se·a \f~!rõbngaçao. 'ss a71bêrcfããepÕde Estas determinações sobre a natureza do mundo exterior,
conseguir que, para o homenr,-um.mundo exista e se realize são fundamentalmente 13lfoticas às que são apresentadas
como mundo». Se o homem é livre no acto de p,rojêctãr o seu pelo pragmatismo 1hstrti_íhC1Üãlis{ã'~pnnc1palmente, por
~mundo, es~e mesmo E_r~ojecto ;subordina imediãiãmeirrõo Dewey. ]\feias ~e baseia~, segui;idp !feide~g_,er,.~fill00!1-ª.d!~
homem a s1, tornando-o necessitante e deru:ndente .. ~, ~- ·--. p_ropnamente mte~~u!-!s:_o ~~11!.Pl.~en~.,~-QJUJgar _!!,_çitq-
. O homem tem necessidaae do mundÕ e das coisas que o _g_a. Dado-9ue3x1st!r no -munao significa para ohomem
cÓnstituem e que são a realidaae-mstrumento, os meios da woJectar,.ÇJ)_!.2í~Ctar seõãs'eíãji!tsposs16iliõíldesqÜesFôfe-
~u~ v1d~- e ~~ ~u~!_C~?.: _Estar. no, ~undo s1?mhca ·Pªffi ele • recem ao homem~reêns"ãôdeiãrspõssiblliclã'dés··é iifh
~CJ.as co1sa~quêlfie sao necessanas: muda-las, manipulá- e moC't'o__,êserfundãmenrardõj)rõ-nõ'hõmêm-(ib".:-§ 31 ). À.
. -las!....[.:R~~~s?- COE.S!r..l!Í.:!.~.~ e est4,.,;P$,QÇupa~o por se·r compreensão pode, por seu lado, dar ~~-ª inte_,:pJ,!_~q_çffe,
1
const1tut1va êfo ser própno do homem~ efüjffiínto é no mediant.e a qu~l se eõe e':11 evidênci~~~~l!l~g_2» na
mundo, const1tm também o ser das coisas do mundo ..
w ~. . ~
base de um proaecto total (lb., § 32). E, por sua ve~i.!!l~C::
pretação pode ar lugar a um juízo, no qual uma coisa exis-
tente se revela como esta de_lli:miõàcfi_cQij~i....9U seja, na sua
§ 844. '.HEIDÊGGER: ·êspêcITíêãeêoncreta utili?~,!,ili~~..Q.~ (/b., § 33}J:!.estitpro-
b SER-NO-MUNDO cesso, que vai da_çQmpre,efil-ªº a~é ao juízo, se baseiããCieii="
E A EXISTf:N~ eia. A interpretação e o juízofazemdo-ci"ue é"utilízáverumã
INAJ ITl;NTIC~ «coisa corpórea», cuja possibilidade de utilização lhe é ine-
rente como um possível pred_icado. A cois~co~E9!~~ é ).lmil_
O mundo a que o homem está ligado pela grópria estru- pura pres~I_lÇ2.-.9..\!!<.-ÇQ!!Y~[!_l_fi_a -~~t:~t_o _e!<:_ ~1ên_~ia.,~
~.illlS.Cendente...da....s.ua...~ú.s.tfulsi_i~. jJ_J:.!!1...P.(1meir.Q.J.µ_gfil:,_ 1ransforma num teru..a....po.ssi.Yyl.Q.f.~l'l.!!g?_Ção e de orienta-
um mundo de coisas.O ser destas coisas a sua verdadeira e ção. Esta temat_ização_é..a..funçãg_.pJ9-p_ria da c1êrÍciâ~--O êà·sõ'
própria r~lidade, consiste em servirem-~las de instrumentos típico é o da física matemática, cujo caráciêr-êlecisivo con-
para o homem, em ser.em utilizávei},..A utilizabilidade não é, siste em ser «o projecto matemático da própria natureza».
segundo Heidegger, uma qualidade das coisas d1st1õ:t:ã d · Este projecto oferece o fio condutor para à descoberta das
sua existência; é o próprio ser em si das coisas do m.J!lliLQ. coisas naturais. E, neste sentido, a matemática constitui um
(Sein und Zeit, T 15). O ser da~ coi§~- por isso, subordi- a priori, já que toma possível a descoberta de um objecto
nado e corres ondente ao ser do homem;ãado gue para ·o existente no quadro do projecto preliminar do seu ser (lb., §
homem, o e~~%-s: _n<?...I!!!!H~~&mJ.S~Ç..Wª·ª-Lili~:_Ç,o,/;~~' 69 a).
sas, para as c01sas, ser significa serem utilizadas pelo homem." Mas como a existên.ç1ª.amp.r.e.JUll.$r-no-mundo, a_s.~imJ
O fim último•.d.ª_ytili41!J?ilid.l!-de1,J>..Qi§t_a· satísfã°çãQ(fb::-§ . também é ser e!!ffiLQ.S outr9_s._1"]ã.Q.subsiste pm Heidegger a

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alternativa de um idealismo oude um soli sismo ego1ógico'
porque assim como não -existe «um sujeito sém m ti~
(Ib., § 35. Uma existência tão vazia procuu, 111i111i11,
também õãO e,Usie«um eu fsolaao, sêm ".õs óutrõs>>":7st~""
· on ece or ue a< stanc1a» o ornem nao «oCs 'írito. en - sso es morbiâamén(e incIT11111l11J.IH~1L,
~a..,ç.uliosidade.é.>.-PQÜ.._o seu outro carácter_ (!11111 IIUll
.~orno sí~se_de ª'D:ª e coEP~.a Pé!.I"!!!'.~~~-~qual se possa ~unos1darie não P.el.O....S~L.d..ª-.~s=Qi§.'!§ mas ,eel~. s~a.,ae~11,çj1l
clíegar ao_ ser clãs co1,s~s e_ dos ouws, n;ias s1rn"ã'exitteif<!r
.Y.isJ~.._gue nor isso traz.cm~..g~~cf.Q. ITêquívoco é o
· que é des_.~2-P,!IDCIJ?Jº~ e CR!!,Sl!L~a_gi_ept,e .abert,H,~!!,...~ terceiro dist:ativq~ da .exisg.nf~~..!!1..W.l!!JL.9,'!S.i..:,:~~~.ã. .e
1
nlunãõêaos outros. Assim como a rel~ao entre o"'fiomem e
~~E.~~1-~-S~~s.,oi~~~!ª.ID.b$!~':i_eJ~~nJ~ thar
..n.ela la~..esl~~c!!.ti~..~i..9!~,2~!-_~~é:R.~J~~bf,!1ã§. ~.}J)t~l:,L~~9.~SL~J,
g ue ala ou a Q!!e ~e rerere o «diz-se» 1./i ., 8 ;
-""-
:Jiomem e os outros e um tomar conta dos outros. Este tomar 3
- Estas dl'.!term1~ ~snãõ7ITipfiCruri, no pensamento de v
~on!!22~~u1.3...e.§.trutur~ ni~.n!,!l~ ~~~i~ Heidegger, uma condenàçao da existência anónima, 'á que a _ . ~
?êJãçoes ~-!E.~Q~ Jiomens. J_>op~-~M.llmlr._g_!lfil..fur.!!ill~<!!fil~ análise exis encial nao pr ncia juizos e valor. imita-se a ~
• ~p~~- ~~~~~ :~__pn_mc:1;0, lt;8._a,r, ~~rauos__p11tr~s _9S, reconhecer que a existência anónima faz parte da estrutura
seusmo~~ SU ,_@'~Y,1.,,._4™9J:1gs <\ SeJ.em )lmJ ~o homem, é um seu pode; ser constitutivo. f;/a
~!&~l9.J'J!2§...,~~~ No primeiro caso, o . ase s e s ão que Heidegger denomma a de[ec;_, .-~
homem nao se preocupa tanto com os outros como.com as - ção, isto é, a d home a n' · e._.Y
coisas que lhes deve proporcionar; no segundo, abre-se aos
outros a possibilidade de se encontrarem a si mesmos e reali-
'1fnd~ _A dejecção não é um pecado original nem um aci-
zarem o seu próprio ser. Por isso, a Ptitneira é a fur..ma
ênte que o progresso da humanidade possa eliminar; faz
parte essencial do ser do homem. É um processo interno,
j_nautêntica da co~xistência_, é p~~estar ·untos»· uma espécie de movimento vertiginoso Ub., § 38) pelo qual
~uaE.!,_o que ~ segunda ~ a forma. autê!1Jjca, o verdMeir<>. este ser desce ao nível de um facto e se converte efectiva-
_«coex1.§.!!!?> (Sem und Zeit, § 26). - ""-
1 mente num facto. A factualidade ou a efectividade da exis-
Viu-se que a transcendência existencial, baseando-se nas tência é o seu estar lançado no mundo no meio dos outros
1 possibilidades de ser do homem, é ao mesmo tempo um acto _
1.
existentes, ao mesmo nível destes. Esta condição torna-se
1 de compreensão existencial. -E_ara compreender-se, o .fiomem evidente ou, melhor, vive-se •ctirectamente na situação emo-
ode aao ta co o ontõ de partida o si mes'mo ou"'"õ tiva (Befindlichkeit) em que o homem se sente abandonado a
1 mundo. e os outros homen~:.-~~P'Fitiiêir'õcãso têin -~
1 ser o que é de facto. A situação emotiva diferencia-se da
1 compr~são autên~iJ.sanC~§~,~,~~~ ~nfü--- c~preensão existencial na medida em que esta é um contí-
i --~~~~und o..fê.~}ezn.. a S:2.1.!!P..J~~tnsão jJia 1!!_fatj_ç_4.,_,__q);!~é..o..,. nuo projectar para a frente a partir das possibilidades da
1
! . fundaIU9U.9_42.~~~ncia_~flQ!JÜfü!-, J~ex~~~ '!!!.~. existência, enquanto aquela é antes orientada para. trás e
jJe tpdo~e c!_e_niiw·uéià(a existência na qual o «diz-se» ou o - - apoia-se no facto de que o homem existe e é um existente
«faz-se» domma mcontestavelmente. Nela, tudo é nivelado,
entre os outros. Como todas as outras determinações exis-
/ tornado «oficial», convencional e insignificante. O homem é, tenciais, esta situação não tem nada d~_eçtivQ.,ou, <Je
nela, todos e ninguém, eorque é o gue todos sã2.,_nã_o ~seu

1
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sec '".l.!!!!.!!co, m~s "'!'!:~Clê.!ec ficHdo é co'l)'.,;!2.c.!l(J)!ii..
-~ que d1s.s1~2la o ser prõerJ.g., ÃJm~ ~
i'i!"iã a rewilaç,l'Õda '"!. aquilo em .9.!'' ?~ri? .~e
e~,e_nme e toma cor o toma-se na existência an ruma uma
intim_q;_é U!Jl.....ffi~,.pjffüu1ti.9.A~m_twç,i..~ (Ib., § 29).
A totalidade destas determinações do ser do homem está
compreendida na única determinação do cuidado. O cui-
dado (no sentido latino do vocábulo) é a estrutura· funda-
'J~ nar?g_1ocons1stênle. Basc1ã=se cxcJÜsívãriientcnÕ«dii.sc»ê ""inental da existên~ia., Viu-se~i-no-:l!!l!ll.~.Q-~jgnif!ç_a
para O homem «cuidai aãs·cõ1sas»_ç,j<_CJl.(daz:...çl.o,5_p_11_tros». Ü
ooedece ao axioma: «u coisa ~sim porque assim se di:z)> 'cüidâêlõexprimeâssmiã"Cõ'ii'Jição fundamental de um ser
que, lançado no mundo, projccta cm frente as suas possibili:-
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ou o fim da sua existência; também não é um. facto, pois
enquanto tal nunca é a propria morte. É, «enquann, fim do
im ossibilidade da existência seria uma contradi~~ ou,,
ser-aí, a ossibilidade mais ró ria, incondicionada certa
termos, se possi i I a e não s1 m icasse a UI compr1,;1•1,.,1111
como tal, indeterminada e insupJ;rável do ser-aí» (Ih., § 52).
existencia e essencia mente, radicalmente, imposs ve ; u
-É a possibilidade absolutamente própria porque diz respeito
Ue é ossivel é a com reensão desta im ossibilidade. Õ"
ao próprio ser do homem. É uma possibilidade incondicio- · viver para a morte e precisamente tal compreensao. as,
nada, porque pertence ao homem enquanto individualmente
-cfado que toda a CO!Jlp.reensão é acompanhada por um
isolado. Todas as outras possibilidades põem o homem no
estado emotivo 9!;!!,. põe..Q_homem imeOiatamente p~rante <?__~
meio das coisas ou entre os outros homens; a possibilidade seu ser de facto, tambéro~r~a morte e acom:._
da morte isola o homem consigo 'mesmo. É uma possibili-
dade insuperável, porque a -extrema possibilidade da exis- panhada pÕrÜrnãto_1~}1~-~~-9!!.ÇJ a~~stiª=-<:~
árig(Ist.Ja - salienta Heidegger (Jb., § 53) - e a situaçao
tência é a sua renúncia a si mesma. É, enfim, uma possibili- emo"'iivà capaz de mãntêrãberfããcontfüua e radical ameaça
dade certa: de uma certeza que não tem a evidência apodíc- que sai do ser mãls Íntimo e 1solado aohõ~õmã
tica das verdades 'em que se revela o ser das coisas do
angústia, o homem «sente-se em. oresença do naêla, da
mundo, mas que se relaciona de rima maneira essencial com impossibilidade possível da sua existêm:iã»'.'""Eiã coloca o
o aspecto autêntico da existência humana (Ib., § 50).
ornem fundamentalmente ante o nada. E com isto o faz
É apenas no reconhecer a possibilidade da morte, no assumi-
la como decisão antecipadora, que o homem encontra o seu 'cõiirpteender-se verêlade1rame..m.e na.~~nitude,já que esta
ser autêntico. o é comoreensivel se o hÕmem s_eJnsJal<! e se mantém no
nada.""Nã angusha, a totalidade da existência converte-se· em
A existência anónima quotidiana é uma fuga à morte. algo ransitório, acidental e fugidio, em que o próprio nada
Considera-a como um caso entre os muitos da vida de cada
se apresenta no seu poder de aniquilação. Mas, assim, a
dia, oculta o seu carácter de possibilidade imanente, a sua
angústia revela também o significado autêntico da presença
natureza incondicionada e insuperável, e procura esquecê-la,
1 do homem no mundo: esta presença significa manter-se
não pensar nela, entregando-se às preocupações quotidianas
firme no interior do nada (Was ist Met., trad. ital., p. 92). A
do viver. A voz da consciência, ao arrancar o homem à
revelação do nada. é, por isso, originária: o nada não é a
I existência anónima, fá-lo voltar ao ser-para-a-morte. Fá-lo
sentir-se em dívida para com a sua verdadeira natureza e
negação do mundo; toda a negação possível se baseia antes
na presença e na revelação do nada. O nada está, certa-
encaminha-o para uma decisão antecipadora, que projecta a
existência autêntica como um viver-para-a-morte. Mas o mente, escondido ou velado na existência trivial quotidiana,
mas mesmo aí actua através da negação, da renúncia, da
1 viver para a morte não é, em absoluto, uma tentativa de
realizá-la (suicídio). A morte é uma possibilidade e não pode
limitação, da proibição; e actua, sobretudo, como condição
1 ser entendida e realizada senão como pura ameaça sus~ oculta, mas ineliminável, do próprio revelar-se da realidade
existente como tal. Este revelar-se tem lugar, com efeito, no
1 sobre o homem. Nem é sequer uma éspera, porque mesmoa
acto da transcendência, e a transcendência é a superação do
1
espera não pretende mais do que a realização, e a realização
ser na sua totalidade, é um salto sobre o ser, que do nada
nega ou destrói a possibilidade como tal. Viver para a morte chega ao nada. . _ . " . _
si nifica com reender a im ossibilidade da existência en~
! ~nto tal. <(A morte - diz Heidegger (Ib., § 53) -
A existência autêntica é, assim, segundo Heidegger, a
única que compreende claramente e realiza emotivamente a
enquanto ossibiliclade não dá nada ao homem· ara reali-
!' ~zãrn:- a ossibilidade da im ossi i ade de todo o comporta-
"@ento, de toda a existência_J1b.; § 53).A.E!}ssi I i a e da_
nulidade radical da existência. A existência é transcendên-
cia: prog~ide continuamente para além da realidade .ex~s-
1 tente, antecipando e projectando, e é só neste progredir,
1 neste antecipar e projectar, que a realidade existente se apre-
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.1 sentá' como tal e se'tbnia :comprçêrlsível. • Mas ·transcender,
antecipar e'prôjeêtár apenas· levam·~o homem a recair na insucesso daquilo que absorve ou preocupa o homem, numa
.. ,
realidade, de facto qué ele queria tránscendee; prendendo-o a palavra, do 9ue_ constitui a sua atenç~o. ~omprom~tida. O
~ ela. 'É assim que' ô trânscender, e tudo o que no transcender futuro inautêntico tem, por consequenc1a; o caracter da
se revela (incluindo a' realidade de facto), é urna impossibüt- atenção. Por outrolado, na existência autêntica, que assume
dade radical, é uni nada nulific_ante. Não nos resta, pois, essencialmente· a . única possibilidade própria e. certa, a
senão antecipar e proiectar este nada nulificante. Tal é a morte, o futuro adquire a forma da decisão antecipadora, do
r existência ·autêntica, segundo Heidegger. ·
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· viver para a ·morte, e o homem permanece estranho a todas
as seduções das possibilidades mundanas (Ib., § 66). Pelo
que se refere ao passado, estreitame_nte vinculado à situarão
· · § 846: HEIDEGGER: O TEMPO emotiva (isto é, aos estados emocionais), por ser prec_1sa-
1
E A HISTÓRIA " mente esta que põe o homem em presença do que ele foi de
; 1 '0
: 1 facto, apresenta-se. na existência inaútêntica_ ~o~o medo. É
1
As análises da estrutura dotempo e'da história contam-se de facto verdade que o medo parece estar dirigido para um
1 ! entre as mais profundas e significa ti vás de todas as que Hei- mal futuro· mas trata-se sempre de um mal que está.vincu-
degger levou a'cabo. Abandona completamente as habituais lado à situação de facto do homem, à sua relação .com o
questões sobre a: subjectividáde ou a objectividade, a trans- mundo, ao que elefoi. O medo é uma angústia desvirtuada e
cendência ou a imanência do tempo. A sua tese fundamental precipitada no mundo: coloca o homem perante o seu ser-
é a de que entre as três determinações do tempo, passado, -lançado-no-mundo e mantém-no preso a ele, fazendo-lhe
presente e futuro, a originária e fundamental é ofuturo (Sein esquecer a sua possibili_da.de própr~a ~ au!ênt!ca. Pelo con-
und Zeit, § 65). Esta teoria relaciona-se, evidentemente, com trário, o passado da existência autentica e evidentemente a
toda a análise. existencial dê. Heidegger. Se a· existência é angústia, que impede toda a relação do homem com o
possibilidade, transcendência, projecção, antecipação, ela mundo e faz o mundo precipitar-se na insignificância (Ib., §
está constitutivamente orientada e dirigida para o futuro. 68 b). Finalmente, o presentf é, na existência, inaut~ntica, a
Mas o futuro implica necessariamente o passado, e o pre- própria apresentação das coisas do mundo: e_ a um~a~e ~e
sente está necessariamente envolvido na relação entre futuro esquecimento e de expectativa, ~a qual se ba_se1a a existencia
e passado. Cada uma destas determinações do tempo não quotidiana como rotina insignificante de dias q_ue se. su~e-
tem significado senão em relação à outra, isto é, em relação a dem uns aos outros até ao infinito. Ao presente inautênnco
um «fora de si» que, contudo, a constitui verdadeiramente. do agora contrapõe-se o presente autêntico do instante. Hei-
Por isso, Heidegger diz que a temporalidade é «o originário degger colhe a noção de instante em Kierkegaard, que dela
fora de si em si mesmo e por isso mesmo» e designa-a pelo se tinha servido para designar a irrupção paradoxal da eter-
i• nome grego de ekstatikón (Ib., § 65). Posto isto, o carácter nidade no tempo (§ 603). Para Heidegger, o instante é a
1. dos três momentos do tempo varia conforme se trate do aniquilação do agora, o repúdio daquela presencialidade das
1
1· tempo autêntico ou do tempo inautêntico, isto é, conforme coisas que constitui o presente inautêntico .. ~ o retorno da
1 . se trate do tempo como estrutura da existência anónima existência ao seu poder ser e, assim, a repetição do .seu pas-
quotidiana ou do tempo como estrutura da existência angus- sado mais característico e privilegiado (Ib., § 68 a). .
- ,..: ··._,
/; tiada. Deste modo o futuro adquire, 'antes de mais e em É evidente que, com esta análise, ficam confinados no
geral, a forma de um prolongairienfoê:heiocle cuidado com inautêntico- todos aqueles significados do tempo de ~ue _se
tudo o que nos preocupa, com o que se faz, se manipula e se servem habitualmente o pensamento comum e a ciencia.
nos oferece. Em tal caso, o futuro significa ó sucesso ou o A medida comum do tempo ou, como diz Heidegger, a
databilidade, a medida científica do tempo, o próprio con-
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