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Imprensa Integralista: uma discussão acerca de sua

importância para a expansão da Ação Integralista Brasileira


Murilo Antonio Paschoaleto*

Resumo: É reconhecido por todos, hoje, a importância central desempenhada pela imprensa na
propaganda política. De acordo com Leal, a propaganda política moderna tem suas origens na
Rússia, com a Revolução Russa, e na Alemanha, com o Nazismo. Já no Brasil, segundo
Oliveira, a Ação Integralista Brasileira (AIB) foi o primeiro movimento/partido que utilizou a
imprensa de forma sistemática e radical, pois até então, tais movimentos e partidos mantinham
jornais muito mais informativos do que doutrinários. Assim, no que se refere à propaganda
política no Brasil, podemos dizer que foram os camisas-verdes os primeiros a pô-la em prática.
A AIB foi um movimento de extrema-direita, surgido no conturbado período entre-guerras, que
teve fortes influências fascistas. Como tais, utilizou largamente da imprensa visando a difusão
de sua doutrina, a arregimentação de novos militantes e, ainda, estabelecer uma padronização
tanto na difusão ideologia, quanto na estruturação do movimento.
No presente trabalho, utilizando como referência a bibliografia existente sobre o Integralismo e
sobre a Imprensa Integralista, buscamos levantar elementos para uma discussão acerca de como
a AIB utilizou os meios de comunicações visando atingir os objetivos anteriormente citados e,
finalmente, refletir acerca da importância de tais meios para a expansão do movimento.
Palavras-chave: Integralismo; Fascismo; Jornais; Revistas.

Abstract: It’s widely acknowledged today, the central importance played by the press in
political advertising. According to Leal, the modern political advertising has its origins in
Russia with the Russian Revolution, and Germany with Nazism. In Brazil, according to
Oliveira, the Ação Integralista Brasileira (AIB) was the first movement/party that used the press
systematically and radically, cause until then, those movements and parties held much more
informative than doctrinal newspapers. So, respect to political advertising in Brazil, we can say
that the Green Shirts were the first to put it into practice.
The AIB was a right-wing movement emerged in the troubled interwar period, which had
strong fascists’ influences. As such, used widely the press, seeking to spread its doctrine, the
recruitment of new militants, and also establish a pattern in the ideology spread and structural
movement.
In this work, using the literature about Integralism and Integralist Press, we seek to identify
elements for a discussion of how the AIB used the media communications in order to reach the
goals above mentioned, and finally, reflect about the importance of these means for the
movement expanding.
Key words: Integralism; Fascism; Newspapers; Magazines.

*
MURILO ANTONIO PASCHOALETO é Graduado em História, pela Universidade Estadual de
Maringá (UEM). Mestrando em História, pela universidade Estadual de Maringá (UEM).

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Introdução De acordo com Bertonha, os vários
grupos fascistas, apesar de procurarem
A Ação Integralista Brasileira (A.I.B.),
movimento brasileiro de extrema- responder com armas mais ou menos
semelhantes à mesma crise política,
direita, fundado, oficialmente, em 1932,
econômica e social que atingia a todos
por Plínio Salgado, foi um dos
os países, não eram exatamente iguais,
movimentos fascistas que germinaram
pois surgiram em contextos diferentes,
no contexto das crises políticas,
em países com tradições diversas, onde
econômicas e sociais do conturbado
as pessoas pensavam e viviam de
período entre-guerras. Nesse período, o
maneiras diferentes. Tudo isso iria se
modelo democrático, que já vinha sendo
refletir em cada um dos fascismos
severamente questionado, passa a sofrer
existentes, gerando várias diferenças
ataques ainda mais violentos. A crítica
entre eles. Desse modo, ao mesmo
voltava-se, agora, para a principal
doutrina econômica em vigor: o tempo em que podemos chamar a todos
esses movimentos de fascistas, somos
liberalismo econômico, que defendia a
não intervenção do governo na obrigados a estudar um por um,
buscando entender suas diferenças:
economia. Desse modo, a guerra e a
desordem econômica e social que a ela [...] os fascismos (seja o italiano de
se seguiram, Mussolini, o alemão de
produziram a busca Hitler ou o brasileiro de
por novas idéias e Plínio Salgado) não
surgiram do nada ou da
novas políticas para
fantasia maligna de
tentar solucionar os alguém. Eles estão
problemas das encaixados no seu
sociedades tempo, um tempo de
envolvidas. A medo e desejo de
proposta da esquerda mudanças. Mas
foi o socialismo e o refletem não só esse
comunismo, enquanto desejo geral, como
da direita foi o também as idéias e
fascismo (BERTONHA, 2005, p. 9). tradições particulares dos povos e
dos homens que os criaram. Isso
Apesar de os únicos movimentos explica por que podemos chamar a
fascistas que realmente chegaram ao todos esses movimentos de fascistas
poder terem sido o Fascismo Italiano e mas, ao mesmo tempo, somos
o Nazismo Alemão, é interessante notar obrigados a estudar um por um para
que em grande parte dos países, tanto entender suas diferenças.
Ocidentais quanto Orientais, até mesmo (BERTONHA, 2005, p. 10)
em países de forte tradição democrática,
como a Inglaterra e França1, surgiram É o fato dos diferentes fascismos
grupos de extrema direita que estarem respondendo a estas mesmas
preconizavam o fascismo como a única crises, no mesmo momento e com
solução para os problemas existentes. armas mais ou menos semelhantes
(nacionalismo exacerbado, militarismo,
desprezo pela democracia,
1 anticomunismo, irracionalismo, etc.)
Como por exemplo o British Union of
Fascists, na Inglaterra, e o Action Française, na
que dá a eles a unidade que nos autoriza
França. Mais sobre o assunto em BERTONHA, a chamá-los todos de “fascistas” e que
2008 e KONDER, 1977. nos permite recusar as propostas dos

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que querem vê-los como entidades doutrina (OLIVEIRA, 2009, p. 14). Por
separadas (BERTONHA, 2008). isso, objetivamos, no presente trabalho,
Elucidado o emprego do conceito realizar uma discussão acerca da
Fascismo para a caracterização do importância dos meios de comunicação,
Integralismo, podemos, então, dar início mais especificamente dos periódicos
à discussão a que se propõe o presente impressos, no desenvolvimento da Ação
trabalho. Integralista Brasileira.
A imprensa Integralista A rede da imprensa integralista era de
A A.I.B. foi o primeiro o primeiro um tamanho considerável, contando
movimento de massas do Brasil a ter com jornais de circulação nacional,
uma organização de âmbito nacional. provincial ou regional e nuclear, além
Foi, também, o primeiro de revistas ilustradas e uma de alta
movimento/partido que utilizou a cultura, num total de cento e dezessete
imprensa de forma sistemática e radical, periódicos: oito grandes jornais diários,
pois até então estes mantinham jornais 105 semanais, três revistas ilustradas,
muito mais informativos do que uma revista de alta cultura, além de
doutrinários. De acordo com Feldmann cerca de três mil boletins semanais ou
e Sanchéz, é por meio do uso dos meios quinzenais (O Monitor Integralista apud
de comunicação que alguns grupos CAVALARI, 1999, p. 87). Para garantir
divulgam suas idéias, para poder a padronização, a unificação e o
expandir seus objetivos rumo a outros controle sobre essa imensa rede
públicos e setores, visando integrar, impressa, algumas estratégias foram
promover e atingir reconhecimento e adotadas pela A.I.B., dentre as quais
legitimidade pública (FELDMANN E podemos destacar a criação da
SANCHÉZ, 2009, p. 2). Levando-se tal Secretaria Nacional de Imprensa
afirmativa em consideração, poderíamos (S.N.I.); das Comissões de Imprensa; e
dizer que o Integralismo soube explorar do SIGMA – Jornais Reunidos, que era
de forma exemplar o poder dos meios subordinado à Secretaria Nacional de
de comunicação, pois, como nos mostra Propaganda (CAVALARI, op. cit., p.
Oliveira, um dos grandes fatores 83). Tudo, por fim, era ligado
responsáveis pelo sucesso da inserção diretamente à Plínio Salgado, chefe
social do Integralismo nos anos de 1930 nacional da A.I.B, que assim como o
(de acordo com dados oficiais, o S.N.I, recebia um exemplar de cada
movimento chegou a contar com cerca edição de todos os jornais integralistas
de oitocentos mil militantes2 e, de (OLIVEIRA, op. cit., p. 16).
acordo com a historiografia, entre
trezentos e quinhentos mil. Seja como Para termos uma idéia da importância
for, é um número considerável se despendida à imprensa por parte dos
levarmos em consideração os precários dirigentes integralistas, basta
meios de comunicações daquele lembrarmos que cada novo núcleo
contexto) foi, exatamente, a existência regional da A.I.B. tinha como uma de
de uma extensa rede de jornais e suas primeiras tarefas a fundação de um
revistas que visavam a difusão de sua jornal. Assim, pode-se perceber que
uma relação direta entre o crescimento
2 físico da A.I.B e o de seu número de
Número este, possivelmente, inflado pelos
dirigentes do movimento e, por isso, visto com
jornais e revistas foi estabelecida (Ibid.,
muita ressalva pela historiografia (ver p. 15). Ou seja, segundo Oliveira,
BARBOSA, 2007). podemos dizer que há a existência de

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uma relação dialética entre o tudo, instrumentos de formação interna
Integralismo e sua imprensa: enquanto o de opinião e de consolidação da
movimento se desenvolve, editam-se legitimidade e reconhecimento das
novos jornais. Ao mesmo tempo, são associações junto a seus próprios
estes periódicos os responsáveis por participantes (COSTA, 1997, s/p.).
levar a palavra aos futuros militantes De forma geral, podemos dizer que os
(Ibid., p. 13). livros, os jornais e as revistas tinham
A imprensa Integralista desempenha um papel-chave no processo de
uma função central dentro movimento, doutrinação. Para Trindade, a
pois exerce, ao mesmo tempo, a função abundância dos livros doutrinários dos
de instrumento pedagógico e de principais expoentes do movimento,
cooptador social. Pedagógico, pois como Plínio Salgado, Gustavo Barroso,
trabalhava na difusão da doutrina (Ibid., Miguel Reale e tantos outros, foram
p. 15). Ao mesmo tempo, age, também, cruciais para a formação ideológica dos
como um instrumento dirigentes
de cooptação, tendo- integralistas. No
se em vista que a entanto, segundo o
difusão da doutrina autor, foi a existência
via jornal e revistas de uma rede de
se dava a um custo jornais nacionais – A
relativamente baixo, Offensiva e O
tornando, assim, a Monitor Integralista
doutrina acessível a – e, sobretudo, o
um maior número de grande número de
pessoas. Afora o jornais locais, que
custo relativamente explicam a difusão,
baixo, havia a em diferentes níveis
possibilidade de um de complexidade, das
filiado compartilhar idéias, força e das
sua publicação com palavras de ordem do
vários indivíduos movimento
(Ibidem.). (TRINDADE,
Apresentação in
Além das funções
CAVALARI, op. cit.,
pedagógicas e de
p. 10) para os demais militantes. Ou
cooptador social, elencadas por
seja, os livros veiculavam as idéias
Oliveira, acrescentamos, também, a sua
produzidas pelos teóricos do partido
função enquanto instrumento
enquanto os jornais – e acrescentamos
padronizador, pois, como discutiremos
aí, as revistas - as popularizavam. Desse
mais adiante, o conteúdo doutrinário
modo, de acordo com Cavalari, a
dos mais diferentes jornais, das mais
doutrina mantinha-se viva para o
diferentes regiões do Brasil, era,
integralista graças a sua materialização
basicamente, o mesmo, o que garantia
através do jornal (Ibid., p. 79).
uma padronização dentro do
movimento. Ainda neste sentido, nos
remetemos à Costa, que diz que os Os jornais da Ação Integralista
jornais voltados para o público interno Brasileira atingiam o seu objetivo de
do movimento constituem, antes de doutrinar ao transmitir a doutrina em
larga escala e de modo uniforme, o que

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era imprescindível para um movimento movimento, ao A Offensiva cabia o
de orientação fascista (OLIVEIRA, op. papel de transmissão da doutrina
cit., p. 16). Assim, os jornais do interior, integralista. Na prática, o A Offensiva
aqueles que chegavam até o mais era principal periódico com que o
distante dos militantes, eram movimento contava para a difusão de
organizados de modo a reproduzir os sua doutrina. Sua abrangência nacional
jornais maiores, dos grandes centros foi, também, de fundamental
(CAVALARI, op. cit., p. 79) - como importância para a uniformidade na
exemplo, o Acção, de São Paulo, e o A difusão da doutrina, além de servir
Offensiva, do Rio de Janeiro - onde se como fonte e modelo de referência para
concentrava a elite dirigente do os jornais menores. Vale salientar o fato
movimento. de e o A Offensiva ter sido dirigido, em
seu início (anos de 1934 - maio de
Dois jornais de circulação nacional
compunham a extensa rede impressa do 1935), pelo próprio Plínio Salgado,
Chefe Nacional do
movimento: O
Monitor Integralista movimento, sendo,
no período de 1936-
e A Offensiva. Ambos
1938, dirigido por
eram de aquisição
Madeira de Freitas,
obrigatória aos
figura de destaque
lideres integralistas e
dentro do
recomendados aos
demais militantes. movimento. Quando
Salgado deixa a
O O Monitor direção do periódico,
Integralista era o este passa a estampar
órgão oficial do em seu cabeçalho,
movimento, o que além do nome do
deliberava como jornal, a frase
deveria ser a estrutura Orientação de Plínio
interna da A.I.B. Era Salgado. Ou seja,
nele que se editavam todo o conteúdo do
todas as nomeações periódico deveria ser
de membros para seguido por todos os
cargos nacionais e camisas-verdes, pois
provinciais, como este era uma
deveriam ser estruturadas as secretarias orientação do próprio Chefe Nacional.
nacionais, provinciais e nucleares, e
eram também em suas páginas que Os jornais de circulação regional (ou
apareciam as convocações para reuniões provincial) serviam como o instrumento
e congressos, etc. Todas as resoluções que fazia a ponte entre a Chefia
da chefia nacional eram assinadas pelo Provincial e os camisas-verdes dos
próprio Plínio Salgado. A abrangência diversos núcleos locais, objetivavam,
nacional do Monitor garantiu a também, estabelecer um ele de
uniformidade da organização interna do uniformidade entre as diversidades
movimento nas mais diversas regiões do culturais e sociais que muitas vezes se
país (OLIVEIRA, op. cit., p. 151). faziam presentes nos Estados (Ibid., p.
166). Além disso, traziam o movimento
Se ao Monitor cabia o papel de difundir para mais perto dos afiliados, pois,
as normas e estrutura interna do apesar de publicarem matérias de teor

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nacional e internacional, são as notícias tinham uma margem maior de
regionais que se destacam nestas interpretação sobre o integralismo
publicações (Ibid., p. 173). (OLIVEIRA, op. cit., p. 175).
Os jornais de circulação local ou
Quanto à periodicidade, podemos dizer
nuclear são os que possuem o maior
que os jornais que contavam com uma
número de títulos dentro da rede de
periodicidade maior tinham espaço para
imprensa integralista. No geral, tem o
diversificar o seu conteúdo. Dentre
formato de pasquins, com periodicidade
estes, podemos destacar o Acção e A
semanal ou quinzenal. Tiveram vida
Offensiva, que, além de textos
efêmera, muitas vezes não passando da
doutrinários, contavam com fotos,
primeira edição (Ibid., p. 173-174). É
notícias e charges sobre política
interessante ressaltar que por ser mais
nacional e internacional, tinham seções
difícil por parte da Secretaria Nacional
dedicadas à economia, finanças,
de Imprensa, Doutrina e Propaganda
esportes, teatros, cinemas e, inclusive,
exercer um controle sobre todos os
uma página policial (CAVALARI, op.
jornais nucleares, estes faziam, segundo
cit., p. 90). Podemos dizer que os
Oliveira, uma leitura subjetiva do
editores procuravam diversificar o
integralismo. De acordo com o autor, o
conteúdo do periódico esperando que
integralismo é transmitido através de
este atingisse um número maior de
matérias e reportagens assinadas pelas
pessoas. O mesmo não pode ser dito dos
lideranças locais. Cada um deles possui
jornais de menor periodicidade, cujo
uma leitura singular daquilo que é o
conteúdo se detinha apenas na difusão
integralismo. Mesmo que houvesse um
da doutrina (BARBOSA, 2007, p. 122).
fio condutor da ideologia integralista, a
visão de cada um deles colocava um
caráter subjetivo (Ibid., p. 174). Como anteriormente vimos, a rede
impressa da Ação Integralista Brasileira
Fatores locais também influenciam o contava, também, com revistas
conteúdo dos jornais nucleares. Como ilustradas, como, por exemplo, a
exemplo, o fato jornais de núcleos com Anauê!, e uma de alta cultura, a
grandes centros industriais, tenderem a Panorama. Estas revistas começaram a
possuir um apelo mais forte ao surgir a partir de 1935, período em que
movimento operário (Ibid., p. 175), ou, o integralismo já estava completamente
mais interessante ainda, o fato de o estruturado e adquire registro como
jornal integralista Blumenauer Zeitung, partido político, adotando, assim, a via
ter sido editado em alemão (CARONE eleitoral em detrimento da
apud GERTZ, 1987, p. 119) levando-se revolucionária.
em conta o fato de circular em um
Estado que recebeu grande número de Com esta alteração, houve a
imigrantes alemães, Santa Catarina. necessidade de apresentar propostas
sociais ou pelo menos agregar, um
No entanto, Oliveira ressalta que a
discurso que agregasse não só os
ideologia não era transformada ou
homens, como suas esposas seus filhos.
adulterada nestes jornais nucleares. O
Por esta razão, este tipo de publicação
que acontecia, na verdade, era que tais
passou a ter destaque (OLIVEIRA, op.
jornais eram influenciados por fatores
cit., p. 180). Dentro da nova proposta de
regionais e pela subjetividade de seus
atrair novos setores, surge a revista
articulistas, que devido ao afastamento
Anauê!.
em relação ao centro do movimento,

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por Miguel Reale, o principal teórico do
movimento.
De toda a rede impressa do movimento
integralista, é neste periódico que
encontramos, segundo Oliveira, o que
poderíamos, mais proximamente,
enquadrar como um debate, com vários
autores expondo suas idéias e
discutindo sobre temas diversos (Ibid.,
p. 194-195).
Em suma, enquanto os jornais focavam
as massas, as revistas eram dirigidas aos
grupos que, seja por uma questão de
gênero e idade ou de erudição,
escapavam desse discurso mais
generalizado. Dessa forma, todos os
grupos [considerados sadios pelo
movimento] acabavam sendo
enquadrados dentro da rede de difusão
ideológica que os integralistas
A Anauê! circulou de janeiro de 1935 à construíram (Ibid., p. 203).
dezembro de 1937. Era uma revista que Considerações finais
se dizia voltada para toda a família e
apresentava as mais variadas Podemos dizer que a imprensa
informações, como cinema, teatro, desempenhou uma função central dentro
moda, sociedade, higiene e saúde. Era do movimento integralista. Era através
uma revista feita para ser de fácil leitura dela que a ideologia contida nos livros,
e, por esta razão, continha textos curtos, formulados pelos teóricos do
sem erudição, e rica em fotografias, movimento, era difundida, de forma
caricaturas e desenhos. De forma geral, mais simples do que naqueles, para os
a Anauê! era uma revista que visava quatro cantos do Brasil, levando, assim,
atingir um público não contemplado a ideologia a um grande número de
pelos jornais: as mulheres e crianças. militantes. Era, também, através dessa
imensa rede impressa, sobretudo por
Tendo em vista que a Anauê! tinha meio dos grandes jornais, de circulação
como público alvo as mulheres e as mais abrangente e com uma maior
crianças e os jornais não discutiam periodicidade, como o A Offensiva,
questões mais aprofundadas (pois editado no Rio de Janeiro, e o Acção,
visavam atingir um público amplo) um editado em São Paulo, que o movimento
outro grupo ainda não tinha sido tentava atrair novos camisas-verdes
atingido pela imprensa integralista: o (função de cooptação). E era, também,
dos dirigentes do movimento e os através dessa extensa rede de jornais e
setores mais intelectualizados. Foi para revistas que os dirigentes do movimento
suprir essa lacuna e contemplar a elite procuravam atingir uma padronização,
intelectual do movimento que, em 1936, não apenas ideológica, mas, também,
foi criada a revista Panorama, que, normativa, do movimento. A
assim como o jornal Acção, era dirigida combinação de todos estes elementos

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foi um dos fatores que possibilitaram à quais determinado periódico é porta-voz
AIB vir a se tornar um movimento de (DOTTA, 2007, p. 163).
massas, o primeiro organizado
nacionalmente no país.
Referências
BARBOSA, J. R. Sob a Sombra do Eixo:
Hoje, reconhecemos que a rede de
Camisas Verdes e o Jornal Integralista Acção
jornais foi de suma importância para (1936-1938). 2007. 274 f. Dissertação
sucesso, no que tange à sua inserção (Mestrado em Ciências Sociais) – Faculdade de
social, obtido pelo movimento Filosofia e Ciências, Universidade Estadual
Integralista na década de 30. Podemos Paulista, Marília, 2007.
dizer, ainda, que tal importância já era BERTONHA, J. F. Fascismo, Nazismo,
reconhecida pelos próprios líderes Integralismo. São Paulo: Ática, 2005.
integralistas. Não podemos negligenciar BERTONHA, J. F. Sobre a direita: Estudos
os fatos que apontam para isso, ou Sobre o Fascismo, o Nazismo e o
teríamos como explicar o constante Integralismo. Maringá: Eduem, 2008.
esforço dos dirigentes do movimento BLINKHORN, M. Fascism and the Right in
em estruturar (por meio da criação da Europe: 1919-1945. Malaysia: Pearson, 2000.
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Comissões de Imprensa e da empresa e Organização de um Partido de Massas no
SIGMA) o seu conglomerado Brasil (1932-1937). Bauru, SP: EDUSC, 1999.
jornalístico e estimular, constantemente COSTA, S. Movimentos Sociais,
e concomitantemente à fundação de Democratização e a Construção de Esferas
novos núcleos, a criação de novos Públicas Locais. In: Revista Brasileira de
Ciências Sociais. São Paulo, Vol. 12 n. 35.
periódicos locais? Certamente, a elite
1997. Disponível em
dirigente da Ação Integralista Brasileira http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artte
estava consciente que a imprensa, se xt&pid=S0102-69091997000300008. Acesso
bem utilizada, poderia catapultar o em 09.07.2010.
desenvolvimento do movimento e, por DOTTA, R. A. A Imprensa Integralista de São
isso, gastaram tantas energias na criação Paulo e os Trabalhadores Urbanos. In SILVA,
de novos jornais e na estruturação Giselda B. (Org.). Estudos do Integralismo no
destes. Brasil. Recife: Editora da UFRPE, 2007.
FELDMANN, A. F.; SANCHÉZ, W. L. F.
Comunicação e Movimentos Sociais no México:
Podemos dizer, ainda, que o estudo da O Caso da Plantón. In: Revista, São Paulo, data.
imprensa integralista pode nos revelar Disponível em
vários aspectos do próprio movimento, http://www.usp.br/alterjor/Feldmann_Planton.p
como nos lembra Dotta, que recorda a df. Acesso em: 09.07.2010.
relutância por parte dos historiadores GERTZ, R. O Fascismo no Sul do Brasil:
em utilizar a imprensa como fonte, Germanismo, Nazismo, Integralismo. Porto
tendo-se em vista o seu caráter Alegre: Mercado Aberto, 1987.
tendencioso. Contudo, o autor relembra KONDER, L. Introdução ao Fascismo. Rio de
que este mesmo caráter tendencioso Janeiro: Edições Graal, 1977.
pode elucidar muito mais a respeito da LEAL, C. de S. Imprensa Integralista (1932-
própria fonte de que sobre seu objeto de 1937): propaganda ideológica e imprensa
descrição. No que tange à imprensa partidária de um movimento fascista no
Brasil dos anos 30. 2006. 115 f. Monografia
partidária, que, segundo o autor, é ainda
(Trabalho de Conclusão em Jornalismo) –
mais desprezada, esquece-se que ela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação
pode ser uma fonte fundamental a da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
respeito do partido ou ideologia dos Porto Alegre, 2006.

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NAVARRO, Z. S. de. Os Movimentos Sociais Tese (Doutorado em História) – Programa de
Segundo o Enfoque da Teoria Sociológica. In II Pós-Graduação em História, PUC-RS, Porto
Reunião de Estudos: Movimentos Sociais: Papel Alegre, 2009.
a Desempenhar em uma Democracia. In:
TRINDADE, H. Integralismo: o fascismo
Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria
brasileiro na década de 30. São Paulo: DIFEL,
de Acompanhamento e Estudos Institucionais.
1979.
Brasília, 2004. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/gsi/saei/paginas/mo TRINDADE, H. O nazi-fascismo na América
vimentos%20sociais.pdf. Acesso em 09.07.2010 Latina: mito e realidade. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2004.
OLIVEIRA, R. dos S. Imprensa Integralista,
Imprensa Militante (1932-1937). 2009. 388 f.

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