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A o se deparar com esta co-

letânea, o leitor poderá


perceber a seriedade como a
E sta coletânea reúne discur-
sos proferidos na Câmara
dos Deputados que abordam
Câmara dos
questão ambiental é tratada Deputados temas referentes ao meio am-
na Câmara dos Deputados, biente desde a Conferência
em Brasília. É bom ressaltar das Nações Unidas sobre o
que não estamos falando ape- Meio Ambiente e o Desenvol-
nas de discursos no Plenário vimento (CNUMAD), realizada

Preservação Ambiental, um discurso de todos


Ulysses Guimarães. entre 3 e 14 de junho de 1992
Ao longo desse período, foram no Rio de Janeiro – também
...“É consagrador o testemunho da ONU de que nenhuma
realizadas também diversas conhecida como Eco 92, Rio 92,
outra Carta no mundo tenha dedicado mais espaço ao Cúpula ou Cimeira da Terra –
audiências públicas, com a
participação dos principais es- meio ambiente do que a que vamos promulgar....” até as vésperas da Conferên-
pecialistas em meio ambiente cia das Nações Unidas sobre
do país, notadamente na Co- Desenvolvimento Sustentável,
missão da Amazônia, Integra- a Rio+20, que será realizada

da Eco 92 à Rio+20
Deputado Ulysses Guimarães
ção Nacional e de Desenvol- entre 20 e 22 de junho de 2012,
Presidente da Assembleia Nacional Constituinte
vimento Regional – CAINDR, também no Rio de Janeiro.
Em 5 de outubro de 1988, quando da promulgação da atual Carta Magna
na Comissão de Agricultura, São 62 discursos transcritos na
Pecuária, Abastecimento e íntegra, que procuram abordar
Desenvolvimento Rural – os principais temas tratados

Preservação
CAPADR, e na Comissão de durante e também entre os

Obras Comemorativas | Homenagem | 05


Meio Ambiente e Desenvolvi- dois eventos.
mento Sustentável – CMADS.

Ambiental,
Pesquisa realizada no Portal
Assim como os discursos, es- da Câmara dos Deputados na
ses conteúdos também pode- Internet (www.camara.gov.br)
rão ser consultados no ende- revelou que foram pronuncia-
reço: http://www2.camara. dos 6.801 discursos, entre 1991
gov.br/deputados/discursos- um discurso de todos e 2012, sobre os temas: Meio
e-notas-taquigraficas Ambiente, Mudanças Climá-
da Eco 92 à Rio+20 ticas, Preservação de Flores-
tas, Agenda 21 e Protocolo de
ISBN 978-85-736-5989-4 Kyoto.

Conheça outros títulos da Edições Câmara no portal da Câmara dos Deputados:


9 788573 659894
www2.camara.gov.br/documentos-e-pesquisa/publicacoes/edicoes Brasília | 2012
E sta coletânea reúne discur-
sos proferidos na Câmara
dos Deputados que abordam
A o se deparar com esta co-
letânea, o leitor poderá
perceber a seriedade como a
temas referentes ao meio am- questão ambiental é tratada
biente desde a Conferência na Câmara dos Deputados,
das Nações Unidas sobre o em Brasília. É bom ressaltar
Meio Ambiente e o Desenvol- que não estamos falando ape-
vimento (CNUMAD), realizada nas de discursos no Plenário
entre 3 e 14 de junho de 1992 Ulysses Guimarães.
no Rio de Janeiro – também Ao longo desse período, foram
conhecida como Eco 92, Rio 92, realizadas também diversas
Cúpula ou Cimeira da Terra – audiências públicas, com a
até as vésperas da Conferên- participação dos principais es-
cia das Nações Unidas sobre pecialistas em meio ambiente
Desenvolvimento Sustentável, do país, notadamente na Co-
a Rio+20, que será realizada missão da Amazônia, Integra-
entre 20 e 22 de junho de 2012, ção Nacional e de Desenvol-
também no Rio de Janeiro. vimento Regional – CAINDR,
São 62 discursos transcritos na na Comissão de Agricultura,
íntegra, que procuram abordar Pecuária, Abastecimento e
os principais temas tratados Desenvolvimento Rural –
durante e também entre os CAPADR, e na Comissão de
dois eventos. Meio Ambiente e Desenvolvi-
Pesquisa realizada no Portal mento Sustentável – CMADS.
da Câmara dos Deputados na Assim como os discursos, es-
Internet (www.camara.gov.br) ses conteúdos também pode-
revelou que foram pronuncia- rão ser consultados no ende-
dos 6.801 discursos, entre 1991 reço: http://www2.camara.
e 2012, sobre os temas: Meio gov.br/deputados/discursos-
Ambiente, Mudanças Climá- e-notas-taquigraficas
ticas, Preservação de Flores-
tas, Agenda 21 e Protocolo de
Kyoto.
Preservação
Ambiental,
um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20
Mesa da Câmara dos Deputados
54ª Legislatura – 2a Sessão Legislativa
2011 – 2015

Presidente Marco Maia


1a Vice-Presidente Rose de Freitas
2o Vice-Presidente Eduardo da Fonte
1o Secretário Eduardo Gomes
2o Secretário Jorge Tadeu Mudalen
3o Secretário Inocêncio Oliveira
4o Secretário Júlio Delgado

Suplentes de Secretário
1o Suplente Geraldo Resende
2o Suplente Manato
3o Suplente Carlos Eduardo Cadoca
4o Suplente Sérgio Moraes

Diretor-Geral Rogério Ventura Teixeira


Secretário-Geral da Mesa Sérgio Sampaio Contreiras de Almeida
Câmara dos
Deputados

Preservação
Ambiental,
um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Centro de Documentação e Informação


Edições Câmara
Brasília | 2012
Câmara dos Deputados

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Diretor: Afrísio Vieira Lima Filho
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de Deputados
Racsow: Fotografias tiradas no Bosque dos
Constituintes em 24 de maio de 2012
Foto das páginas 8 a 13: árvore plantada no Bosque SÉRIE
dos Constituintes pelo Deputado Ulysses Guimarães Obras Comemorativas. Homenagem
n. 5
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Coordenação de Biblioteca. Seção de Catalogação.

Preservação ambiental, um discurso de todos da Eco 92 à Rio + 20 / organização


Cássia Regina Ossipe Martins Botelho [recurso eletrônico]. – Brasília : Câmara
dos Deputados, Edições Câmara, 2012.
357 p. – (Série obras comemorativas. Homenagem ; n. 5)
Câmara dos Deputados ISBN 978-85-736-5990-0
Centro de Documentação e Informação – Cedi 1. Proteção ambiental, Brasil. 2. Meio ambiente, debate, Brasil. 3. Deputado
federal, discursos etc, coletânea, Brasil. I. Série.
Coordenação Edições Câmara – Coedi
Anexo II – Praça dos Três Poderes
CDU 504.06 (81) (042)
Brasília (DF) – CEP 70160-900
Telefone: (61) 3216-5809; fax: (61) 3216-5810 ISBN 978-85-736-5989-4 (brochura) ISBN 978-85-736-5990-0 (e-book)
editora@camara.gov.br
“...Estamos convencidos de que o Congresso Nacional,
palco por excelência do debate e escolha dos rumos
do País, saberá cumprir com o seu fundamental papel
na defesa do direito, das atuais e futuras gerações, ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.”

Deputado Sarney Filho


Sessão da Câmara dos Deputados,
em 4 de agosto de 1995.
Sumário

Apresentação  15
Introdução  17
A Constituição de 1988 e o Deputado Ulysses Guimarães  21
Linha do tempo  23
Conferência das Nações Unidas
sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – Eco 92  31
Beth Azize
(Rio 92 – Proposta para a Amazônia)  33
Fátima Pelaes
(Rio 92 – Proposta para a Amazônia)  35
Orlando Pacheco
(Rio 92 – A pobreza – um dos principais problemas ambientais)  39
Sandra Cavalcanti
(Rio 92 – Brasil: Problemas de saneamento básico e tratamento da água)  43
Jandira Feghali – PCdoB/RJ
(Rio 92 – Crescimento populacional e desenvolvimento sustentável)  47
Paulo Delgado
(Rio 92 – investimento na preservação ecológica e ambiental)  51
Max Rosenmann
(Rio 92 – Controle populacional e desenvolvimento sustentável)  53
Wellington Fagundes
(Rio 92 – Pressões internacionais sobre a política de meio
ambiente no Brasil)  59
Sérgio Arouca
(Rio 92 – Biodiversidade. Armamento nuclear)  65
Benedita da Silva
(Rio 92 – Mulheres por um planeta saudável – Agenda 21)  67
José Genoíno
(Rio 92 – Nota Oficial do Partido dos Trabalhadores)  75
Aldo Pinto
(Rio 92 – Avaliação crítica dos resultados da conferência.
Degradação dos solos. Produção de alimentos)  83
Nelson Bornier
(Rio 92 – Avaliação crítica. Adequação da legislação
ambiental brasileira)  89
Rita Camata
(Rio 92 – Avaliação do papel do Parlamento brasileiro
na construção de uma política ambiental consentânea
com as decisões da conferência)  91
Sarney Filho
(A Legislação ambiental brasileira e o Congresso Nacional)  97
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+10  111
Discursos de Deputados – Plenário  113
Luiz Ribeiro
(Rio+10 – Participação do Brasil)  115
Edinho Bez
(Rio+10 – Conexão entre o desenvolvimento
econômico, a proteção ambiental e a responsabilidade social)  117
Nilton Capixaba
(Rio+10 – Questões ambientais presentes desde a Rio 92.
Plano Agropecuário e Florestal do Estado de Rondônia)  123
Antonio Feijão
(Rio+10 – Proposta de demarcação do
Parque Nacional de Tumucumaque, no Estado
do Amapá; Proposta de criação de matriz energética
de energia limpa e do Fundo Permanente de Compensação Ambiental)  131
Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável – Rio+20  135
Decisões após a Rio+10  137
Fernando Gabeira
(Projeto de lei que pune os crimes ambientais)  139
Inocêncio Oliveira
(Sistema Nacional de Unidades de Conservação)  143
Edinho Bez
(Mata Atlântica)  145
José Carlos Coutinho
(Código Florestal)  149
Sarney Filho
(Balanço de sua gestão no Ministério
do Meio Ambiente, governo Fernando Henrique Cardoso)  151
Davi Alcolumbre
(Congresso Mundial de Parques, V, Durban, África do Sul)  163
Aldo Rebelo
(Política Nacional de Biossegurança)  167
Ann Pontes
(Biodiesel-Biossegurança-Transgênicos)  181
Edson Duarte
(Desmatamento-Desertificação-Transgênicos-Recursos Hídricos-
Fontes renováveis de energia- Energia nuclear – Marina Silva)  185
Francisco Turra
(Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza)  195
Rodrigo Rollemberg
(Protocolo de Kyoto. Mudanças Climáticas.
Desmatamento. Pacto em Defesa do Clima)  197
Sarney Filho
(Conferência das Partes – Mudanças climáticas, Bali, Indonésia)  207
Miro Teixeira
(Klabin, Israel; Ricupero, Rubens.
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável)  211
Rio+20 (Expectativas e propostas)  215
Alfredo Sirkis
(A economia verde e a governança)  217
Aline Corrêa
(Cidades sustentáveis)  223
Arnaldo Jardim
(Legislação sobre resíduos sólidos)  225
Assis Carvalho
(Rio+20 – Economia verde)  235
Bohn Gass
(Embrapa-âncora verde)   239
Fernando Coelho Filho
(Preservação dos recursos hídricos)  243
Fernando Ferro
(Melhoria da matriz energética)  247
Fernando Marroni
(Economia verde-conceito)  251
Irajá Abreu
(Proposta brasileira – gestão dos recursos hídricos)  255
Ivan Valente
(Rio+ 20 – Expectativas. Avaliação crítica da posição brasileira)  259
Luiz Noé
(Itaipu Binacional – Preservação ambiental)  263
Márcio Macêdo
(Preservação dos recursos hídricos)  265
Moreira Mendes
(O avanço da agropecuária pela inovação tecnológica)  269
Perpétua Almeida
(Novos critérios para a aferição do IDH –
Índice de Desenvolvimento Humano)  273
Rebecca Garcia
(Redução de emissões por desmatamento e degradação,
conservação, manejo florestal sustentável, manutenção
e aumento dos estoques de carbono florestal, REDD)  277
Rose de Freitas
(Rio+20 – Frente Parlamentar Ambientalista – Audiência Pública)  281
Sabino Castelo Branco
(Rio+20 –Postulações dos estados amazônicos.
Fórum Mundial pela Sustentabilidade)  285
Sibá Machado
(Preservação dos recursos hídricos)  289
Wilson Filho
(Preservação do bioma da Caatinga na Região Nordeste)  293
Zé Geraldo
(Bolsa Verde)  297
Código Florestal  301
Janete Capiberibe
(Código Florestal – crítica)  303
Lira Maia
(Código Florestal – Área de proteção ambiental)  307
Nelson Marquezelli
(Código Florestal – crítica ao Substitutivo do Senado Federal)  313
Roberto de Lucena
(Código Florestal. Rio+20)  327
Rosane Ferreira
(Posicionamento do Partido Verde em relação ao texto
do Código Florestal aprovado pela Câmara dos Deputados)  331
Sarney Filho
(Código Florestal – Retrocesso)  337
Abelardo Lupion
(Criação do novo Código Florestal brasileiro)  343
Henrique Eduardo Alves
(Posicionamento do PMDB na votação do Código Florestal)  353
Apresentação

Devido à aproximação da Conferência Rio+20, a ser realizada vinte anos após a


Eco 92, a Câmara dos Deputados apresenta uma amostragem dos debates reali-
zados nesta Casa a respeito da questão ambiental.
Por ser foro legislativo de um dos países de maior biodiversidade do mundo, a
Câmara tem sido palco privilegiado das atividades de implementação da agenda
socioambiental. Nos debates e nas deliberações, evidencia-se o esforço incan-
sável dos parlamentares para a elaboração de propostas realmente compatíveis
com as responsabilidades internas e externas do Brasil. Com esta publicação, é
divulgado o cotidiano desse trabalho, materializado em pronunciamentos te-
máticos e ainda atuais que questionam o problema ambiental sob o paradigma
mundial da sustentabilidade.
Em que pese o caráter fragmentário dessa publicação, por meio dela se com-
partilha efetivo conhecimento acerca dos avanços alcançados e dos desafios
enfrentados em duas décadas. Temas de importância crucial, como engenharia
genética, recursos hídricos, uso de agrotóxicos, crimes ambientais, estabeleci-
mento de sanções penais, entre outros, foram exaustivamente examinados e fi-
nalmente convertidos em lei, de acordo com a tramitação em regime bicameral.
Não se pode deixar de mencionar o impacto da instalação da Comissão de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, em 2004. Ela concentrou a discussão

15
Apresentação

sobre a questão ambiental, que ganhou maior agilidade e especificidade, e arti-


culou melhor o debate dessa matéria entre a Casa e a sociedade.
A iniciativa de disponibilizar esse trabalho une-se à necessidade cada vez mais
premente de se encontrar caminhos seguros para resolver um grande dilema
contemporâneo: a luta mundial contra a pobreza e a fome, de um lado, e a pre-
servação dos recursos naturais, de outro. A busca de soluções para esse conflito
relativiza os conceitos de progresso e geração de riqueza, e aponta para a urgên-
cia de um consenso nacional e internacional sobre o tema.
Temos a convicção de que essa obra contribuirá fundamentalmente para as dis-
cussões atuais e também para as futuras, servindo como documento histórico de
um longo percurso, que reflete o empenho desta Casa na consolidação de cada
avanço e o sentimento de responsabilidade que se convoca a cada novo desafio.

Marco Maia
Presidente da Câmara dos Deputados

16
Introdução

O tema “preservação ambiental” é hoje discurso corriqueiro da maioria dos in-


divíduos e cada vez mais tem sido destacado como prioritário pela sociedade
em geral. Não poderia ser diferente na Câmara dos Deputados – cujos membros
representam um dos países de maior biodiversidade no mundo – que tem papel
fundamental a cumprir no que diz respeito à discussão e à implementação da
agenda ambiental brasileira em face do seu impacto em termos globais.
Duas décadas após a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Am-
biente e Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Cúpula da Ter-
ra (ou ainda Eco 92 ou Rio 92), é possível perceber por intermédio da seleção,
ainda que incipiente, dos discursos e debates realizados no âmbito da Câmara
dos Deputados que há muito a fazer para o efetivo estabelecimento de uma
agenda socioambiental – não obstante alguns avanços.
Longe de proceder a um balanço completo sobre tema tão complexo, esta obra
tem o objetivo de dar ao leitor a oportunidade de refletir, tendo como base al-
guns discursos proferidos pelos Deputados Federais nas últimas décadas, sobre
os debates em relação ao meio ambiente realizados naquela Casa legislativa.
Portanto, não se trata de uma obra completa e acabada, mas, sim, de uma tenta-
tiva de compartilhar parte do conhecimento acumulado por meio de uma amos-
tra representativa dos discursos, a fim de tornar mais perceptíveis quais foram
os principais avanços alcançados no decorrer dos últimos anos e quais são os

17
Introdução

desafios que ainda temos de superar em prol da implementação de uma agenda


de preservação ambiental no Brasil.
Para aqueles que desejarem uma pesquisa mais aprofundada, é possível acessar
todos os discursos realizados sobre o tema desde 1946 no “Banco de Discursos”
do portal da Câmara dos Deputados na Internet ( www.camara.gov.br )
A propósito, frise-se que, em 1828, Dom Pedro I já lançara as duas primeiras
normas a respeito da proteção ao meio ambiente. Eram as chamadas Posturas
Municipais, em que o art. 66 deliberava sobre a limpeza e conservação das fon-
tes, aquedutos e águas infectas.
Em 1830, o então Código Criminal tipificou como crime a destruição ilegal ou o
desmatamento das florestas brasileiras. E, ao longo dos anos, outras leis relati-
vas ao meio ambiente foram anexadas a esse Código Criminal.
Em 1960, a preocupação com o meio ambiente foi ampliada em escala global, a
partir não só no que se refere à proteção da fauna, da flora, ao controle da polui-
ção e ao combate à degradação do solo, mas também no tocante à própria luta
pela vida, pela sobrevivência do homem na Terra.
Em 5 de junho de 1972 foi realizada a Conferência de Estocolmo, que tratou a
questão do meio ambiente em termos globais. Tal data, posteriormente, foi con-
sagrada como Dia Mundial do Meio Ambiente.
No Brasil, o artigo 225 da Constituição Federal ensejou um grande avanço, ao
estabelecer que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações”.
Podemos – por meio dos discursos deste livro – pontuar alguns avanços legis-
lativos, com o intuito de adequar as necessidades econômicas aos conceitos de

18
Introdução

sustentabilidade. Por exemplo, os que trataram da formulação da Lei nº 7.802,


de 1989, sobre o uso de agrotóxicos; da Lei nº 9.605, de 1998, que trata das san-
ções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente; da Lei nº 8.974, de 1995, que regulamenta a engenharia genética e os
organismos geneticamente modificados; da Lei nº 9.433, de 1997, que dispõe so-
bre a Política Nacional de Recursos Hídricos e que cria o Sistema Nacional de Ge-
renciamento de Recursos Hídricos; da Lei nº 9.605, de 1998, conhecida como a Lei
dos Crimes Ambientais. Em 2011, a Lei Complementar nº 140 fixou as normas de
cooperação entre a União, Estados e Municípios para o licenciamento ambiental.
No decorrer do tempo, de um modo ou de outro, as leis relativas ao meio am-
biente têm sido aprimoradas. Na Câmara dos Deputados, sem dúvida, as discus-
sões sobre o meio ambiente foram alavancadas com a criação da Comissão de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, em 2004. Com isso, a discus-
são da temática ambiental ganhou maior autonomia, sem embargo de ter pos-
sibilitado maior sinergia entre o Parlamento e a sociedade, o que é fundamental
para a consolidação de propostas que efetivamente beneficiem a preservação
ambiental com uma visão holística.
Da Eco 92 resultaram cinco documentos: a Declaração do Rio sobre Ambiente
e Desenvolvimento; a Agenda 21; a Convenção sobre a Diversidade Biológica; a
Declaração de Princípios sobre Florestas e as Convenções sobre Biodiversidade,
Desertificação e Mudanças Climáticas.
Dez anos depois, a Rio+10 não trouxe tantos avanços, e seu plano de ação não
alcançou a legitimidade da Declaração do Rio.
Como podemos constatar nesta edição, a evolução do debate sobre a preserva-
ção ambiental – que abrange questões complexas e polêmicas, e, em especial,
os desafios propostos na Eco 92 – trouxeram muitos subsídios para o processo

19
Introdução

de discussão e para a votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados,


processo concluído em 2012.
Agora, quando é feita esta compilação de registros taquigráficos, a Rio+20 tem
como foco a economia verde e a governança para o desenvolvimento sustentá-
vel, com especial atenção para a erradicação da pobreza.
Será possível apontar quais foram as principais conquistas dos últimos anos?
Será possível definir que propostas devem ser debatidas na Rio+20 para ajudar
a superar os constantes desafios que se apresentam?
Mesmo que de forma incipiente, porque o tema com certeza requer uma pes-
quisa mais aprofundada, esta obra tem objetivo de ajudar o leitor a refletir sobre
essas questões a partir do rico conhecimento gerado pelas discussões realizadas
na Câmara dos Deputados, tanto no âmbito do Plenário quanto das Comissões
temáticas, permanentes ou especiais.
Espera-se, portanto, que esta seleção de discursos possa contribuir para o diag-
nóstico de importantes questões sobre a temática da preservação ambiental que
foram e, com certeza, ainda serão exaustivamente debatidas naquela Casa de Leis.

Cássia Regina Ossipe Martins Botelho


Diretora do Departamento de Taquigrafia,
Revisão e Redação

20
A Constituição de 1988 e o Deputado
Ulysses Guimarães

Produto da Assembleia Nacional Constituinte de 1987, a Constituição Federal de


1988 colocou o Brasil num outro patamar diante de seus pares. Os constituintes,
pela primeira vez na história do Brasil, incluíram na Carta Magna um artigo dedi-
cado à proteção do meio ambiente, o 225. E foi uma das primeiras constituições
em todo o mundo a tratar explicitamente do tema. “O artigo é um dos mais
avançados do planeta em matéria ambiental”, afirmou Edis Milaré, procurador
de Justiça e reconhecido especialista em Direito Ambiental.
No discurso de Promulgação da Constituição, no dia 5 de outubro de 1988, o
presidente da Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, afirmou:
...“É consagrador o testemunho da ONU de que nenhuma
outra Carta no mundo tenha dedicado mais espaço ao
meio ambiente do que a que vamos promulgar....”
Como forma homenagem, os 600 parlamentares integrantes da Assembleia Na-
cional Constituinte plantaram 30 mudas de 20 espécies de árvores numa área
próxima ao Congresso Nacional, que foi batizada de Bosque dos Constituintes.
Em 2008, como forma de comemorar os 20 anos da Carta Magna, a área foi
transformada num Parque com 70 mil m² e a Câmara dos Deputados passou a
ser seu gestor.

21
A Constituição de 1988 e o Deputado Ulysses Guimarães

Ao deputado Ulysses Guimarães coube plantar um exemplar de pau-ferro


(Caesalpinia ferrea) no local atualmente conhecido como Bloco das Árvores His-
tóricas. Ali, ele descerrou uma placa comemorativa que reproduziu parte do ar-
tigo 225 do texto constitucional:
“Todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Mais informações sobre o Bosque dos Constituintes pode ser obtido no ende-
reço eletrônico www.camara.gov.br/bosque.

22
Linha do tempo
Um breve resumo de como se deu a evolução da legislação ambiental brasileira

É criado o Regimento
de Cortes de Madeiras,
cujo teor estabelece
rigorosas regras para a
Surge a primeira lei de derrubada de árvores, Instituição das
cunho ambiental no sobretudo as mais Florestas da Tijuca
País: o Regimento do nobres (cedro, mogno, e das Paineiras
Pau-Brasil, voltado à landim, entre outras). como áreas para
proteção das florestas. conservação.

1605 1799 1861


1797 1850

Carta Régia afirma Surge a expressão


a necessidade de “madeira de lei”.
proteção a rios, É promulgada a Lei
nascentes e encostas, nº 601/1850, primeira
que passam a Lei de Terras do
ser declarados Brasil. Ela disciplina
propriedades a ocupação do solo e
da Coroa. estabelece sanções
para atividades
23
predatórias.
A Constituição de 1988 e o Deputado Ulysses Guimarães

São sancionados
o Código Florestal
(Decreto nº 23.793),
que impõe limites ao
exercício do direito de
propriedade, e o Código
de Recursos Hídricos
É expedido o (Código da Água). Eles
Decreto nº 8.843, contêm o embrião do
que cria a primeira que viria a constituir,
reserva florestal do décadas depois, parte
Brasil, no antigo da atual legislação Criação do Parque
Território do Acre. ambiental brasileira. Nacional de Itatiaia.

1911 1934 1937


1916 1936

Surge o Código Civil Criação do Código


Brasileiro, que elenca da Fauna.
várias disposições de
natureza ecológica. A
maioria, no entanto,
reflete uma visão
patrimonial, de cunho
individualista.

24
A Constituição de 1988 e o Deputado Ulysses Guimarães

São editados os
Códigos de Caça, de
É promulgada a Pesca e de Mineração,
Lei nº 4.504, que bem como a Lei de
trata do Estatuto Proteção à Fauna (Lei
da Terra. A lei surge nº 5.197). Uma nova
como resposta Constituição atribui
a reivindicações à União competência
de movimentos para legislar sobre Conferência das
sociais, que exigiam jazidas, florestas, caça, Nações Unidas sobre
mudanças estruturais pesca e águas, cabendo o Meio Ambiente –
na propriedade e no aos Estados tratar de ou Conferência de
uso da terra no Brasil. matéria florestal. Estocolmo (Suécia).

1964 1967 1972


1965 1968

Passa a vigorar Realização da


uma nova versão Conferência Mundial
do Código Florestal da Biosfera.
(Lei nº 4.771 e 7.803),
ampliando políticas
de proteção e
conservação da flora.
Inovador, estabelece
a proteção das áreas
de preservação
permanente.
25
A Constituição de 1988 e o Deputado Ulysses Guimarães

É promulgada a
Inicia-se o controle da Constituição de 1988,
poluição provocada a primeira a dedicar
por atividades É editada a Lei capítulo específico ao
industriais. Por nº 6.938, que meio ambiente. Avançada,
meio do Decreto-Lei estabelece a Política impõe ao Poder Público
nº 1.413, empresas Nacional de Meio e à coletividade, em
poluidoras ficam Ambiente. A lei inova seu art. 225, o dever de
obrigadas a prevenir ao apresentar o defender e preservar
e corrigir os prejuízos meio ambiente como o meio ambiente
da contaminação objeto específico para as gerações
do meio ambiente. de proteção. presentes e futuras.

1975 1981 1988


1977 1985

É promulgada É editada a Lei


a Lei nº 6.453, nº 7.347, que disciplina
que estabelece a a ação civil pública
responsabilidade civil como instrumento
em casos de danos processual específico
provenientes de para a defesa do
atividades nucleares. meio ambiente e de
outros interesses
difusos e coletivos.

26
A Constituição de 1988 e o Deputado Ulysses Guimarães

O Brasil passa a dispor


da Lei de Política
Agrícola (Lei nº 8.171).
Com um capítulo
especialmente
dedicado à proteção
ambiental, o texto
obriga o proprietário
rural a recompor sua É criada a Política
propriedade com É instituído o Sistema Nacional de
reserva florestal Nacional de Recursos Educação Ambiental
obrigatória. Hídricos (Lei nº 9.433). (Lei nº 9.795).

1991 1997 1999


1992 1998

Criação do Ministério É publicada a


do Meio Ambiente. É Lei nº 9.605, que
realizada a Conferência dispõe sobre crimes
Mundial das Nações ambientais. A lei
Unidas sobre o prevê sanções penais
Meio Ambiente e e administrativas
Desenvolvimento para condutas e
– Eco 92 (Rio atividades lesivas
de Janeiro). ao meio ambiente.

27
A Constituição de 1988 e o Deputado Ulysses Guimarães

Surge a Lei do Sistema


Nacional de Unidades
de Conservação Código de cores para
(Lei nº 9.985), que diferentes tipos de Define-se separação
prevê mecanismos resíduos, a ser adotado dos resíduos recicláveis
para a defesa dos na identificação descartados pela
ecossistemas naturais de coletores e administração pública
e de preservação dos transportadores e sua destinação
recursos naturais (Resolução Conama (Decreto nº 5.940,
neles contidos. nº 275, de 25.4.01). de 25.10.06).

2000 2001 2006


2001 2002

É sancionado o Estatuto Acontece a Cúpula


das Cidades (Lei Mundial sobre
nº 10.257), que dota Desenvolvimento
o ente municipal de Sustentável – Rio+10
mecanismos visando (Johanesburgo,
permitir que seu África do Sul).
desenvolvimento não
ocorra em detrimento
do meio ambiente.

28
A Constituição de 1988 e o Deputado Ulysses Guimarães

Trata de É aprovada a lei


detalhamentos sobre que cria a Política
Educação Ambiental Nacional de Resíduos
(Resolução Conama Sólidos (PNRS / Lei
nº 422/2010). nº 12.305, de 2.8.10).

2010 2010
2010 2012

Estabelece critérios É sancionado o Novo


de sustentabilidade Código Florestal
ambiental na aquisição Brasileiro (Lei nº 12.651,
de bens, contratação de 28.05.12). É realizada
de serviços ou obras a Conferência das
para a Administração Nações Unidas sobre
Pública (Ministério Desenvolvimento
do Planejamento, Sustentável – Rio+20
Orçamento e Gestão (Rio de Janeiro).
(Instrução Normativa
nº 1, de 19.1.10).

Fonte:
Superior Tribunal de Justiça
Revista Nova Escola – Editora Abril
Legislação Federal – Câmara dos Deputados

29
Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável – Eco 92
Beth Azize

(Rio 92 – Proposta para a Amazônia) A Sra. Beth Azize (PDT-AM. Sem revisão da
oradora.) – Sr. Presidente, Srs. Deputados,
Dia Internacional da Terra. Proposta de hoje é o Dia da Terra, dia em que a humanida-
elaboração de projeto, a ser apresentado na de se dedica a homenagear o planeta em que
Eco 92, que harmonize a preservação do meio
ambiente com o desenvolvimento da Amazônia.
vivemos. Exatamente hoje trago ao conheci-
mento desta Casa e da Nação brasileira uma
Sessão 22/04/1991 – DCD 23/04/1991, p. 4424.
proposta de realização de um encontro pre-
liminar, em algum Estado da Amazônia, para
que possamos promover o que chamei de
Eco Amazônia, como uma reunião preparató-
ria para a Eco 92, que acontecerá em junho
do próximo ano, na cidade do Rio de Janeiro.
Essa proposta consiste em dar à sociedade, ao
povo brasileiro, às entidades ambientalistas de
todo o País a oportunidade de se reunirem para
discutir e formalizar uma proposta fechada so-
bre a Amazônia, a ser levada ao conhecimento

33
de todos os representantes de países estrangei- deixar claro que a Amazônia não é feita apenas
ros que estarão presentes à Eco 92. de rios, florestas e animais.
Essa preocupação não é só minha, Sr. Presiden- A Amazônia tem o homem, o ser humano que a
te, mas de todos nós da Amazônia. Estamos habita, hoje marginalizado, entregue à sua pró-
vendo os dias passarem e temos a consciên- pria sorte, à miséria e ao abandono de todos os
cia de que não possuímos qualquer documen- governos. Temos de apresentar um projeto po-
to formalizado ou proposta objetiva sobre a lítico e governamental para preservar o homem
Amazônia para que a Conferência Mundial do daquela região, para garantir sua sobrevivência,
Meio Ambiente a aceite e a discuta como uma pois ele é, na realidade, o preservador natural.
proposta da Nação e do povo brasileiro. Sr. Presidente apresentarei essa proposta ao
Se não fizermos isso, Sr. Presidente, nós, da Grupo Parlamentar da Amazônia junto à Co-
Amazônia, estaremos, como meros espectado- missão do Meio Ambiente, da qual sou suplen-
res, assistindo à discussão sobre uma área que te, e estou trazendo-a a público no plenário
integra o nosso País e faz parte da nossa vida. desta Casa, que é o foro competente para tra-
Estaremos vendo delegações estrangeiras de tar da questão da maior seriedade como esta.
países do Primeiro Mundo chegarem aqui com
um projeto pronto e acabado sobre a Amazô-
nia. Não podemos assistir a isso passivamente
e temos de interferir na Eco 92, participando
com um projeto da Amazônia que harmonize a
preservação com o desenvolvimento.
Na realidade, essa proposta atrairá para o Es-
tado do Amazonas, o coração da Amazônia,
milhares de brasileiros interessados em parti-
cipar da discussão sobre aquela região e que
não terão oportunidade de fazê-lo na Eco 92.
Sabe por que, Sr. Presidente? Porque é preciso

34
Fátima Pelaes

(Rio 92 – Proposta para a Amazônia) A Sra. Fátima Pelaes (Bloco-AP. Pronuncia


o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e
Oportunidade de fortalecimento, Srs. Deputados, à medida que, em todo o pla-
na Eco 92, de uma autêntica união neta, prossegue a ação destrutiva do homem
nacional em defesa da Amazônia.
sobre o meio ambiente, impõe-se a adoção de
Sessão 24/06/1991 – DCD 25/06/199, p. 11063. providências enérgicas para garantia do com-
plexo equilíbrio ecológico.
Como um dos itens fundamentais dessa dis-
cussão, vem atraindo crescente interesse a
Amazônia.
A confirmar sua importância na questão ambien-
tal, apresenta-se como uma das mais extensas
áreas florestais contínuas do mundo, cobrindo
cerca de 40% do território brasileiro e abrigando
uma variedade enorme de seres vivos.
Mas, além de ser a maior reserva genética
do mundo, a Amazônia, do ponto de vista

35
econômico, também reflete, em proporção de 5% da totalidade de nativos existentes à
direta, o conjunto de suas extraordinárias di- época do descobrimento do Brasil.
mensões físicas. Contrapondo-se à voracidade do modelo de
Alia, assim, ao fantástico potencial madeireiro, exploração econômica, não chega a surpreen-
estimado entre 48 e 78 bilhões de metros cúbi- der o fato de que a Amazônia permaneça ainda
cos, a capacidade da sua bacia hidrográfica na como o maior vazio demográfico do mundo.
geração de energia, as reconhecidas riquezas E, para completar o quadro, outro grave proble-
minerais e os principais produtos do extrati- ma surge com a evidente disposição externa de
vismo vegetal brasileiro, entre os quais borra- interferir nas questões brasileiras e, assim, esta-
cha, castanha, óleos e fibras. belecer a tutela dos países do Primeiro Mundo,
No entanto, principalmente a partir da década das grandes potências, sobre a Amazônia.
de 60, a região Amazônica passou a sofrer um Mas não basta o simples apego ao conceito de
desordenado e acelerado processo de ocupa- soberania nacional para rechaçar essas preten-
ção, com a implantação de grandes fazendas sões. É preciso exercer, de fato, a soberania com
de gado, os projetos de mineração, as inunda- responsabilidade, criando e fortalecendo orga-
ções de vastas áreas para construção de hidre- nismos capazes de definir meios e objetivos pre-
létricas e as queimadas, respondendo já pela cisos para a preservação da região Amazônica.
destruição de mais de 10% da área florestal.
Às vésperas da Eco 92, patrocinada pela ONU,
Entre as demais consequências, verifica-se, cumpre demonstrar com clareza e decisão o
pois, a redução drástica e geral da flora e da posicionamento nacional.
fauna regionais, o empobrecimento do solo, o
Ainda que, por diversos motivos, ocupe a
assoreamento do leito dos rios, a diminuição
Amazônia o centro da atenção mundial, nosso
do volume das águas, a poluição, o agravamen-
primeiro compromisso, sem desconsiderar as
to do “efeito estufa”, os irreparáveis danos à
exigências relativas à preservação ambiental,
camada de ozônio e a violenta agressão contra
reside propriamente na fidelidade ao progres-
as populações locais, em especial a de indíge-
so econômico e social interno.
nas, hoje reduzidas a cerca de 100 mil, menos

36
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

A propósito, não foi outra a intenção do legisla-


dor constituinte ao incluir, entre os princípios da
ordem econômica, a defesa do meio ambiente.
Ratificando a importância da Amazônia e de sua
preservação, recomendamos, em nome da in-
tegridade do ecossistema local, a disciplina das
atividades econômicas, por intermédio de meca-
nismos de controle e fiscalização permanentes.
Nesse sentido, instamos os membros desta
Casa a que, em reconhecimento ao conjunto
desses aspectos, inclusive no que se refere à
urgência, dediquem a máxima atenção e cui-
dado à apreciação das matérias relativas ao
assunto, bem como manifestem sua solida-
riedade à causa, contribuindo para o fortale-
cimento de uma autêntica união nacional de
defesa da Amazônia.

Fátima Pelaes
37
Orlando
Pacheco

(Rio 92 – A pobreza: um dos principais O Sr. Orlando Pacheco (Bloco-SC. Pronuncia


problemas ambientais) o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Deputados, a pobreza é um dos principais
Conclusão do relatório preliminar do governo problemas ambientais do Brasil.
federal para a Eco 92, onde aparece a
pobreza como um dos principais problemas A conclusão é do relatório preliminar do Go-
ambientais do Brasil. Necessidade de que verno para a Eco 92, que está sendo discutido
haja um equilíbrio ecológico e ambiental no por entidades ambientalistas de todo o País. A
país, com o estabelecimento de critérios no falta de saneamento básico e de coleta de lixo
uso das riquezas ambientais e ecológicas.
é responsável pela transmissão de doenças e
Sessão 22/08/1991 – DCD 23/08/1991, p. 14831. pela poluição de rios e lagos.
O relatório mostra que 75 milhões de brasileiros
não são atendidos por serviços de esgoto e 90%
do esgoto coletado nas cidades não tem trata-
mento adequado.
Esses dejetos são depositados em cursos de
água e representam um dos fatores de poluição.

39
No campo, apenas 6,8% da população é atendi- mínimo morrem antes de completar um
da por redes de esgotos e fossas sépticas. ano de idade;
A falta de atendimento sanitário aumenta no »» 66 anos é a expectativa de vida do brasi-
leiro, igual a da Argélia e Nicarágua (na
mesmo grau que a pobreza. Das casas que não
Argentina, a expectativa é de 71 anos; no
têm instalações sanitárias adequadas, 72% são
Japão é de 79 anos).
de famílias com renda mensal abaixo de três
O relatório, base do documento que o Gover-
salários mínimos:
no apresentará na Eco 92, diz que a preserva-
»» 20 milhões de pessoas não têm acesso à ção da Amazônia tem que começar pela solu-
água tratada (população urbana no Brasil: ção dos problemas econômicos locais. Para o
113 milhões);
Governo, o principal problema da região é o
»» 60 milhões de pessoas não são atendidas
valor da floresta.
por coleta de lixo;
»» 93,2% da população rural não é atendida E menor do que o lucro imediato conseguido
por rede de esgoto, água potável e por com a derrubada para venda de madeira ou
fossas sépticas; abertura de áreas agrícolas.
»» 90% dos esgotos coletados nas cidades No documento, o Governo reconhece a culpa
não recebem tratamento adequado; oficial por parte do desmatamento. Admite
»» 63% do lixo urbano coletado é jogado em
que os incentivos fiscais dados para coloniza-
cursos d’água;
ção da Amazônia financiaram a derrubada da
»» 34% do lixo urbano é jogado a céu aberto;
»» 53 crianças de cada mil morrem antes de
floresta. O Governo defende agora um modelo
completar um ano de idade (dados de 1986); de “desenvolvimento sustentado”, que preser-
»» 75 crianças de cada mil que nascem no ve a floresta.
Nordeste morrem antes de completar um Na verdade, Sr. Presidente, Srs. Deputados, é
ano de idade; preciso estabelecer um equilíbrio ecológico e
»» 103 crianças de cada mil nascidas em fa- ambiental, de tal maneira que a nossa fauna
mília com renda mensal até um salário e flora sejam usadas e preservadas, para que
o homem, o ponto convergente de todas as

40
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

coisas, não sofra as consequências funestas de


uma má programação.
Num país continental como o Brasil, é preciso
sabedoria na distribuição das suas riquezas,
pois, enquanto numa região do País há exces-
so, como acontece em Roraima, Pará e Amazo-
nas, onde existem mais jacarés que seres hu-
manos (dois mil jacarés para um homem), no
Sul há devastação da fauna e da flora. Portan-
to, são necessários critérios no uso das rique-
zas ambientais e ecológicas que o Criador nos
dá. A base seria a criação de reservas extrati-
vistas sustentadas por investimentos oficiais
de órgãos nacionais e internacionais para a
preservação da natureza no Brasil e no mundo.

Orlando Pacheco
41
Sandra
Cavalcanti

(Rio 92 – Brasil: Problemas de saneamento A Sra. Sandra Cavalcanti (Bloco-RJ. Sem


básico e tratamento da água) revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Deputados, ouvi atentamente os pronun-
Consequências para o Brasil da colocação da ciamentos feitos, na tarde de hoje, por colegas
Amazônia como tema principal da Eco‑92;
referencia a participação que teve no Seminário
que integram a bancada da Amazônia. Sou
de Tropicologia, realizado em Manaus, 1985, representante da bancada do Estado do Rio
onde abordou o assunto; resultados da I de Janeiro, mas me orgulha o fato de ter nas-
Conferência Internacional sobre Ecologia e Meio cido em Belém do Pará, onde ainda está mais
Ambiente, realizada em Estocolmo, Suécia, e da da metade de toda a minha família. Conheço
II Conferência, realizada em Toronto, Canadá. a Amazônia desde criança; frequento aquela
Críticas às declarações do Secretário Especial
do Meio Ambiente, Jose Lutzemberger, em
área e tive oportunidade, em 1985, de fazer a
recente reunião da ONU, realizada em Genebra. conferência-chave no Seminário de Tropicolo-
gia que se desenrolou na cidade de Manaus,
Sessão de 05/09/1991 – DCD 06/09/1991, p. 16257.
em que o tema naquele ano já era a defesa da
Amazônia e sua importância em relação à qua-
lidade de vida do planeta Terra.
Esse Seminário de Tropicologia foi organiza-
do pela figura extraordinária, talvez a mais

43
importante personalidade reconhecida no com déficit de água potável e de água de boa
mundo inteiro do ponto de vista da cultura e qualidade permita que às pessoas sobrevivem.
da audácia das suas posições, que foi Gilberto Em seguida, houve a reunião de Toronto, no
Freire. Recordo muito bem de, na ocasião, em Canadá – dez anos depois – quando o proble-
1985, ter chamado a atenção para este fato: vai ma água estava equacionado em todos os paí-
chegar o dia em que a Amazônia, a pretexto ses, inclusive no Brasil.
de ser o pulmão do mundo, a pretexto de ser o
Os brasileiros, que chegam aos Estados Unidos
local onde ocorre a transformação de energia
se espantam quando bebem água da torneira
no oxigênio que o planeta respira, vai ter seu
porque houve um programa, executado duran-
preço cobrado muito alto ao Brasil. Isso cons-
te 25 anos, cujo objetivo foi fazer com que toda
ta da minha conferência de 1985.
a água que carece em qualquer torneira nos Es-
Hoje, o que se vê é exatamente isso. A reunião tados Unidos fosse potável, de boa qualidade.
que acontecerá em 1992, no Rio de Janeiro, não
O Brasil aderiu ao Protocolo de Helsinque, e
vai tratar dos interesses brasileiros. Em 1972
Protocolo de Estocolmo e, no entanto, conti-
houve uma primeira reunião desse tipo, em
nuamos tendo no País uma das piores formas
Estocolmo, o primeiro encontro mundial para
de fornecimento de água domiciliar urbana e
tratar da qualidade de vida e meio ambiente,
de água para abastecimento das cidades ri-
que terminou com a “declaração de Estocolmo”.
beirinhas o que dá origem à maior variedade
Em função dessa declaração, houve no mundo possível de epidemias e de endemias. O País
um grande trabalho por parte da Organização gasta fortunas para tratar doenças que não
Mundial de Saúde, da Unesco e de organiza- existiriam se as águas estivessem tratadas, e
ções governamentais e não-governamentais, não fossem poluídas.
para manter, nas nações desenvolvidas e nos
O Deputado Victor Faccioni leu o trecho de
Países em desenvolvimento, uma política de
um artigo do Presidente do PDS, Paulo Maluf,
água potável, porque a tônica de Estocolmo
em que S.Sa. chama a baía da Guanabara de
foi essa: se o Planeta Terra, continuar poluindo
“o maior lixão do Continente”. É um equívoco
as suas águas doces, chegará ao final do século

44
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

do Deputado Faccioni e do Presidente Maluf. é o caso de Cubatão. Agora nesse encontro do


O maior lixão em matéria de poluição de água. Rio já tendo sido analisado os problemas da
é o rio Tietê ali em São Paulo. Estamos fazendo água e do ar em reuniões anteriores entram
há mais de vinte anos, no Rio de Janeiro, um na pauta de discussão as florestas. É por isto
trabalho de despoluição da baia da Guanaba- que nesta reunião do Rio temos que estar mui-
ra é o trabalho que queremos exibir em 1992 to atentos. Como esses outros países não têm
para o mundo, mostrando que já conseguimos florestas porque já devastaram todas as que
reduzir a menos de 50% a poluição mórbida da tinham, pode ser que eles queiram exigir do
baia da Guanabara. Se for completado o circui- Brasil o sacrifício de não desenvolver as áreas
to de estações de tratamento de água, tarefa brasileiras onde existem oxigênio do mundo.
relativamente simples e não tão cara assim. Por isso, Sr. Presidente, creio que a questão
Poderemos exibir na oportunidade um efeito está sendo muito mal colocada, tanto pelos
realmente extraordinário, a reconquista de chamados ambientalistas brasileiros, como
águas vivas da baia da Guanabara. pela imprensa e, pior ainda, pelo Secretário
Mas, Sr. Presidente, a primeira reunião foi so- encarregado do assunto esse professor gaú-
bre águas. A segunda, no Canadá, foi sobre o ar cho, figura internacional de ecologia, que co-
quando o mundo tomou conhecimento da rup- nhecia o mundo inteiro mas nunca havia pisa-
tura da camada de ozônio e de que estávamos do na Amazônia, até o ano passado.
perdendo proteção contra os raios ultraviole- Faço esses registros em meu nome pessoal,
tas, na ocasião, todas as indústrias que usavam porque não falo em nome da bancada do Rio
aerossóis, no mundo inteiro, foram convidadas de Janeiro, mas como uma brasileira que mora
a não fazê-lo para ajudar a despoluir o ar. no Rio de Janeiro – todos os brasileiros são,
Ora, Sr. Presidente, a poluição do ar no Brasil, de certa maneira, cariocas, e, sendo assim,
nas grandes cidades é um escândalo, começan- interessam-se pelas coisas dos outros Estados.
do por São Paulo. Seguida pelo Rio de Janeiro, Faço este registro repito – como uma carioca
Belo Horizonte e outras cidades industriais nascida em Belém do Pará.
que já são até modelos desse trabalho, como

Sandra Cavalcanti
45
É um desaforo imaginar que possa falar em
nome do Brasil, numa reunião dessas, uma fi-
gura tão carioca, tão ridícula e grotesca como
a desse professor gaúcho que, não entendendo
nada do que está acontecendo, aparece diante
do mundo. E não foi como um índio, cheio de
miçanga, bronco, incompetente como esses
que andam por aí e fazem sucesso. Mas, pior
do que isso, Sr. Presidente, para dizer a todo o
mundo o seguinte: “Eu posso ser o Secretário
de Defesa do Meio Ambiente do Brasil e não
entendo nada de Brasil”. Esse é o escândalo
maior que registramos no dia de hoje.
Era o que tinha a dizer.

46
Jandira Feghali

(Rio 92 – Crescimento populacional A Sra. Jandira Feghali (PCdoB-RJ. Sem revisão


e desenvolvimento sustentável) da oradora.) – Sr. Presidente, ilustres colegas,
faço questão de me pronunciar nesta tarde para
Protestos contra a matéria Estados tentar, juntamente com outros Parlamentares
unidos vão exigir esterilização na Eco 92,
publicada no Jornal de Brasília.
que ocuparam a tribuna, demonstrar o que é o
imperialismo e o uso do extermínio como ins-
Sessão de 14/04/1992 – DCD 15/04/1992, p. 6929.
trumento do desenvolvimento capitalista.
Não sei quantos parlamentares tiveram aces-
so à matéria publicada no Jornal de Brasília, no
domingo, cuja manchete é muito clara: “Esta-
dos Unidos vão exigir esterilização na Eco 92.”
No texto lá discutido, aprovado e apoiado por
outras representações, inclusive da Holanda,
da Inglaterra, da Venezuela e do Japão, eles di-
zem claramente o seguinte:

47
“A terceira proposta deste produtivas – obviamente, os pobres e, dentre
documento propõe expressamente esses, a raça negra.
como imperativos estratégicos para
Já no século passado, segundo Engels, as epi-
o desenvolvimento sustentável do
demias e endemias eram instrumentos do
mundo políticas para reduzir as altas
desenvolvimento do capitalismo, porque ex-
taxas de crescimento da população.”
terminavam as chamadas populações perifé-
E logo aqui no início está muito clara a posição ricas, reduziam as demandas sociais. E aquilo
dos Estados Unidos quando dizem que o con- que eles consideravam produtivo é aquilo que
trole da natalidade em todo o mundo subde- pode facilitar a concentração de renda. No
senvolvido, inclusive através da esterilização de Brasil, hoje, vemos extermínios e epidemias
mulheres, é importante para evitar a degrada- muito pouco combatidas, como a mortalidade
ção da vida no planeta. Mas esta foi uma exi- infantil – morre uma criança a cada dois minu-
gência dos Estados Unidos para fechar a pauta tos – a mortalidade pela fome e pelo extermí-
da Eco 92, em que o Presidente Collor de Mello nio, que, quando não é pelo assassinato direto,
dá sua opinião, pronto a admitir que é preciso é pelo impedimento do nascimento daqueles
realmente definir qual o Brasil que desejamos que eles consideram pobres.
em termos de crescimento de seu produto e em
Acho que isso é uma vergonha, é o absoluto
termos de densidade demográfica.
escancaramento do que é a política imperialis-
Ora, Sr. Presidente, isso é muito claro, isso é ta para o Terceiro Mundo. E, lamentavelmente,
para o Terceiro Mundo inteiro. Os técnicos, nós não vimos posição do Governo brasileiro
os parlamentares, o movimento de mulheres, contrária a isso. Muito diferente do que po-
todos aqueles que têm noção de soberania e demos imaginar que seria justo, o Presidente
noção de atendimento da sociedade no seu Collor admite a discussão do assunto dentro
conjunto já vêm denunciando que a esteriliza- da pauta da Eco 92. Quero dizer ao Presiden-
ção de mulheres no Terceiro Mundo faz parte te que nos preocupa muito o que será a Eco
de uma política primeiro-mundista de exter- 92, especialmente na discussão do desenvol-
mínio das populações que eles consideram im- vimento autossustentado da Amazônia, do ex-

48
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

termínio das populações indígenas e de outras


vidas humanas, usando a mulher como instru-
mento, através da esterilização cirúrgica.
Registro aqui que encaminhamos, imediata-
mente, a partir dessa notícia, ofício ao Ministro
da Saúde, exigindo o esclarecimento e a real
posição do Governo brasileiro. Venho sugerir
o que foi aprovado pela CPI da Esterilização,
ou seja, uma visita, amanhã, ao Ministro José
Goldemberg, para que nós não só protestemos,
mas também exijamos a mudança de posição
do Governo brasileiro diante dessa vergonha,
que é a exigência do extermínio de populações
do Terceiro Mundo feita pelos Estados Unidos e
seus aliados na preparação da Eco 92.

Jandira Feghali
49
Paulo Delgado

(Rio 92 – investimento na preservação O Sr. Paulo Delgado (PT-MG. Sem revi-


ecológica e ambiental) são do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Deputados, iniciou-se ontem, em São Pau-
Realização do encontro de parlamentares lo, no Memorial da América Latina, o Encontro
latino-americanos, no Memorial da América
Latina, em São Paulo, para discussão de
de Parlamentares Latino-Americanos para a
propostas relativas ao desenvolvimento e preparação de documentos a serem levados à
preservação do meio ambiente e a participação conferência das Nações Unidas que se realiza-
dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos rá no Rio de Janeiro, a Eco 92.
neste processo, que serão levadas a Conferencia
Como membro do Parlamento Latino-America-
Mundial do Meio Ambiente, Eco 92.
no, tenho a preocupação de lutar na América
Sessão 28/04/1991 – DCD 29/04/991, p. 7543 Latina para que a carta ecológica a ser aprova-
da pela Eco 92, como também os documentos
que surgirem das reuniões do Global Forum e
das organizações não-governamentais reflitam
a necessidade de um equilíbrio ecológico mun-
dial, no qual as nações desenvolvidas, em de-
senvolvimento e subdesenvolvidas possam en-
contrar uma fórmula de pacificar a concorrência

51
de interesses e de conflitos e as diferenças de do justamente pela falta de pudor de muitas
ritmos existentes entre esses vários países. nações desenvolvidas na forma como inves-
Temo que a Eco 92 se transforme num discurso tem os seus excedentes de capital e como pre-
pernóstico, onde haja muito mais orgulho de gam a sua expansão industrial.
aprofundar o fosso que separa o povo da com- Penso que não devemos ter nenhum tipo de
preensão, da necessidade da ecologia, do que receio de fixar a elaboração de uma legislação
realmente de definir questões concretas sobre onde o investimento na preservação ecológica
como o padrão de consumo dos países ricos e ambiental do nosso continente seja acompa-
deixará de influenciar no padrão de consumo nhado de uma mudança na legislação que faci-
dos países em desenvolvimento e subdesen- lite a presença de grandes capitais, desde que
volvidos e a produção do lixo rico seja um dos acompanhado da cautela de investir sem poluir.
fatores de desequilíbrio ambiental e de tutela Essas são algumas das preocupações de na-
negativa sobre a qualidade de vida de todos tureza geral presentes no Encontro de Parla-
os países do mundo. É preciso ir para a Eco 92 mentares Latino-Americanos nesses dois dias
com um senso crítico muito apurado, é neces- de discussão.
sário fugir do senso do modismo e ter até um
Espero que na reunião oficial da Eco 92, no Rio
certo antimodismo na participação daquele
de Janeiro, bem como no Fórum Global e nas
evento, procurando ser mais inovador do que
reuniões paralelas das organizações não-go-
vanguardista. Do contrário, poderemos ter
vernamentais, possamos encontrar o caminho
a aprovação de documentos que se transfor-
para que o Código Ecológico Mundial seja res-
mam em bandeiras de alarde, principalmente
peitado e aplicado principalmente aos países
na Europa e nos Estados Unidos, mas de muito
que mais poluem, os países desenvolvidos.
pouca eficácia para os países da América Lati-
na, onde precisamos, na verdade, de maciços
investimentos industriais, de maciços investi-
mentos na recuperação da qualidade de vida.
Nesses países as condições de vida têm piora-

52
Max Rosenmann

(Rio 92 – Controle populacional e O Sr. Max Rosenmann (Bloco-PR) Pronun-


desenvolvimento sustentável) cia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente,
Srs. Deputados, a explosão demográfica é um
Defesa da inclusão da explosão demográfica e do desafio grave, que precisa ser enfrentado por
controle da natalidade na pauta das discussões
da Eco 92. Projeto de lei de autoria do orador
todos os países do mundo, principalmente pe-
que dispõe sobre planejamento familiar. los subdesenvolvidos, onde as altas taxas de
natalidade e a má distribuição de renda pro-
Sessão 19/05/1992 – DCD 20/05/1992, p. 9567.
pulsionam a miséria.
Essa preocupação já foi externada pelo ex-chefe
do Governo alemão, Helmut Schimidt, pelo Di-
retor do Centro de Desenvolvimento do Ban-
co Interamericano de Desenvolvimento, Colin
Bradford Júnior, pelo ex-Secretário de Defesa
dos Estados Unidos, Robert McNamara, e pelo
Príncipe Charles, da Inglaterra, isso apenas para
citar alguma das personalidades de maior desta-
que no cenário mundial que chegaram a criticar
a Conferência das Nações Unidas para o Meio

53
Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-Eco 92, por Não estou aqui para defender a esterilização
não ter incluído a explosão demográfica como em massa ou qualquer outro método contra-
ponto central ou pelo menos um dos pontos ceptivo, que mutile ou seja criminoso, mas para
principais da sua pauta. lembrar que, se continuarmos a nos omitir es-
Para essas pessoas, e eu compartilho da sua opi- condidos covardemente atrás de falso moralis-
nião comum, não há política de meio ambiente mo, estaremos estimulando o crescente quadro
se não há controle das taxas de natalidade. da desigualdade social, que ameaça a estabili-
dade da economia, o bem-estar e a paz mundial.
De que adianta salvarmos rios, plantas, ar e
animais, se permitirmos que os homens vivam Quero lembrar que votei contra o aborto e
em condições subumanas de miserabilidade, contra a pena de morte, porque sou a favor
sujeitos a regras humilhantes de degradação? da vida, mas vida com letras maiúsculas, vida
com dignidade.
Não discutir e deixar de achar uma solução
para a explosão demográfica gerada pelas De que adianta chegarmos ao ano 2020 com
populações pobres é o mesmo que condená- uma população, segundo o IBGE, equilibrada,
las a uma miséria cada vez maior. Precisamos mas composta, em 95%, por pessoas miseráveis?
despojar-nos de falsos pudores, livrar-nos das A finalidade do planejamento familiar, na mi-
amarras criadas pelos dogmas e criar mecanis- nha visão e na visão de muitos homens de
mos que levem essas populações a ter acesso à bem, é justamente garantir uma qualidade de
informação necessária ao planejamento fami- vida que hoje não é possível de ser ofertada,
liar. Precisamos fazer isso em nome do próprio principalmente em países como o Brasil, onde
desenvolvimento equilibrado de cada país e do a bomba demográfica está combinada com a
mundo todo, porque, sabemos, crescimento da estagnação econômica.
população não significa aumento de qualidade Se analisarmos a Pesquisa Nacional por Amostra-
de vida, mas, sim, o surgimento de uma nação gem PNA, realizada em 1990 pelo IBGE, vamos
de marginalizados, sem acesso à alimentação, constatar que 26,6% dos trabalhadores brasilei-
à saúde, a educação e ao trabalho. ros recebem entre dois e cinco salários mínimos;

54
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

24% recebem até um mínimo; e porcentagem nos tornarmos uma nação com justiça social,
ainda maior está na faixa de miséria absoluta. Mas, se quisermos realmente essa justiça, pre-
Não existissem outros fatores decorrentes cisamos definir nossas propriedades:
dessa realidade, bastaria analisarmos apenas o Se queremos salvar os mico-leões dourados ou
custo de vida e quão pouco vale o salário mí- os menores de rua!
nimo para constatarmos que o controle da na- Não acho que uma escolha elimine a outra,
talidade, através de planejamento familiar, é a e é por isso que, como Helmut Schimidt, o
única forma que temos de diminuir um pouco Príncipe Charles, Robert McNamara e Colin
a penúria em que já vive a grande maioria dos Bradford Jr., defendo que a Eco 92 deveria ter
trabalhadores brasileiros. incluído a explosão demográfica e o controle
A pergunta que deve ser feita na hora de ana- da natalidade na pauta das discussões.
lisar e decidir pela implantação de um projeto Qual a vantagem de termos mais cinco ou dez
de planejamento familiar é até quando poderá milhões da habitantes, se eles estiverem vi-
a Nação continuar alheia, deixando essas famí- vendo em condições subumanas?
lias sem a mínima condição de sobrevivência,
Para revertermos esse quadro deprimente de
tendo filhos descontroladamente, em função
desigualdade e injustiça, devemos pôr os pés no
do desconhecimento que possuem sobre o
chão e nos convencermos de que o planejamen-
próprio corpo, a concepção e o nascimento?
to familiar é essencial e precisa ser coloca-lo em
Em 1989, o IBGE já constatava que 45 milhões prática desde cedo, didaticamente, nas escolas.
de crianças viviam em condições de miséria
E quero dizer que esta não é uma defesa espe-
total em nosso País. Um número vergonhoso,
culativa ou oportunista, baseada nas posições
que deve servir como arrancada para implan-
expressadas pelas personalidades que citei.
tarmos mudanças reais e urgentes.
Quero lembrar que já em março de 1991, pre-
É óbvio que esse crescimento demográfico ocupado com toda essa situação, apresentei
quantitativo e não qualitativo nos distancia Projeto de Lei, estabelecendo normas para o
cada vez mais do equilíbrio necessário para

Max Rosenmann
55
planejamento familiar, buscando justamente Meu projeto também prevê a laqueadura e a
atingir as soluções necessárias. vasectomia, mediante o patrocínio e a atuação
Meu projeto pretende oferecer, de forma gra- do Sistema Único de Saúde, e condições espe-
tuita, sem subterfúgios ou clandestinidade, o ciais, como uma gravidez que represente risco
acesso dessa população mais pobre e desinfor- de vida, quando a mulher, casada ou não, deci-
mada aos métodos de controle da natalidade. da, desde que tenha atingido a maioridade civil,
ou quando se tratar de portador de moléstia in-
É um projeto no qual o Estado se responsabi-
curável ou de cura problemática e demora da,
liza, através do Sistema Único de Saúde, pelo
suscetível de transmissão ao concepto.
estabelecimento de condições que permitam
o adequado planejamento familiar através de: Ao apresentar meu projeto, tive o cuidado de
»» provimento de recursos educacionais, justificá-lo em nossa própria Constituição, em
técnicos e científicos; vigor desde 1988, que consagra o planejamen-
»» fornecimento de orientação e informa- to familiar como um direito humano básico,
ções médicas pertinentes; cumprindo estabelecer normas e condições
»» prestação de assistência médica na exe- para o seu exercício, por cidadãos pertencen-
cução de laqueadura e vasectomia, com- tes a todas as classes sociais.
batendo a esterilidade; Assim, tal projeto nada mais pretende do que
»» assistência jurídica relativa aos trâmites regulamentar, de forma efetiva, o que já está
da adoção;
garantido constitucionalmente.
»» assistência integral à saúde da mulher
nos aspectos do planejamento familiar É um projeto verdadeiro, que não discute dog-
e reprodução humana, normatizada pelo mas, que não se esconde atrás de hipocrisias
Ministério da Saúde; ou tenta ignorar que a qualidade de vida é cada
»» informações médicas, psicológicas e so- vez pior, que o aborto é feito aos milhões pelo
ciais relativas aos métodos e técnicas de Brasil, nas condições mais impróprias e muitas
planejamento familiar e reprodução hu- vezes por verdadeiros charlatões, ou que a este-
mana, bem como técnicas necessárias à rilização campeia pelo País, atingindo mulheres
concepção e contracepção sob assistên-
cia especializada.
56
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

na faixa fértil de 18 a 20 anos, sob disfarces e mente àquilo que as famílias pobres não têm:
sem o consentimento real das interessadas. informação sobre métodos contraceptivos.
Apesar dessa realidade vergonhosa, meu proje- Já estamos pagando um preço bastante alto
to, que pretende acabar com a farsa nacional, por nossa omissão. Até quando vamos permi-
que leva para o Estado, de forma correta e edu- tir que milhares de crianças venham ao mundo
cativa, o que vem sendo feito irregularmente por mero desconhecimento, encaradas como
pela iniciativa privada, continua sem ser votado. “fatalidade divina”?
Aparentemente, os Parlamentares têm medo Homem e natureza são um só. De que adiantará
de discutir e votar o assunto. Parecem mais cuidarmos das árvores e animais em extinção,
preocupados em manter aparências, tapar o sol se não cuidarmos dos nossos semelhantes?
com a peneira, isentar-se de qualquer decisão.
Eu não estou aqui para dizer que aprovem meu
projeto. Mas estou aqui para dizer que está na
hora de dar um basta definitivo nessa covar-
dia medíocre e comodista, que nos impede de
discutir clara e abertamente um assunto que
interessa e muitos países como o Brasil, onde
as condições de vida digna estão cada vez mais
restritas a uma pequena parcela da população.
Não tenhamos a hipocrisia de pensar que nos-
so crescimento demográfico está calcado nas
outras faixas da pirâmide social. Sabemos que
as famílias com melhores condições e melhor
nível de informação têm diminuído o número
de filhos e o fazem porque têm acesso justa-

Max Rosenmann
57
Wellington
Fagundes

(Rio 92 – Pressões internacionais sobre a O Sr. Wellington Fagundes (PL-MT. Pronun-


política de meio ambiente no Brasil) cia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente,
Sras. e Srs. Deputados, estamos às vésperas
Importância da realização da Eco 92 no Rio de um dos maiores acontecimentos do mun-
de Janeiro; posição que o país deve assumir
com relação à política do meio ambiente.
do atual que será a realização da Conferência
Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimen-
Sessão 28/05/1992 – DCD 29/05/1992, p. 11275
to, a Eco 92, ou Rio 92, como queiram, promo-
vida pelas Nações Unidas e que provocará a
maior concentração de chefes de Estado de
toda a história fora do recinto-sede da ONU.
Já não é sem tempo que as nações de todo o
mundo sentam-se à mesma mesa para deli-
berar e pensar seriamente no futuro do nos-
so planeta e evitar uma catástrofe que venha
destruí-lo até por reações da natureza às
agressões permanentes que se faz contra o
meio ambiente e que poderá em breve espaço

59
de tempo, tornar inviável qualquer tipo de vida No entanto, isso chamou a atenção somente a
em nosso planeta. partir da década de oitenta, graças a violentas
Ao menos os objetivos anunciados são mais catástrofes naturais ocorridas, como abalos
do que louváveis. Já deveriam de há muito ter sísmicos, furacões e o sensível aquecimento
sensibilizado os detentores de poder em todo da atmosfera, decorrente principalmente da
o mundo, pois da segunda metade deste sécu- destruição acelerada da camada de ozônio.
lo até esta agora acentuou-se de forma verti- Há uma relação direta entre o crescimento
ginosa a agressão ao meio ambiente em decor- demográfico e a degradação dos recursos na-
rência de um avanço tecnológico e progresso turais. Quanto maior for a população, maiores
incontrolados, movidos pela competitividade serão os recursos necessários para alimentá-
e tendo como causa o espantoso desenvolvi- la. O consumo dos recursos, porém, não ocor-
mento econômico de todas as nações. re de maneira uniforme em todo o mundo.
A par do progresso industrial, consumidor de Uma criança americana consome muito mais
matéria prima por via de agressão ao meio do que um adulto pobre da América Latina,
ambiente, bem como o desmatamento indis- por exemplo. Havendo, portanto, uma ausên-
criminado, vem se alterando sensivelmente o cia total de igualdade nos padrões de consumo
ecossistema, o que se pode facilmente com- e na unificação dos recursos naturais do plane-
provar através das reações meteorológicas ta, pois o ritmo de crescimento populacional
que temos testemunhado. é bem maior nos países pobres e nos grandes
centros urbanos.
A partir de 1960 os cientistas vêm alertando os
governos para a falta de controle da expansão No início deste século, apenas dez por cento
industrial indiscriminada, o que vinha agredin- das pessoas viviam nas cidades e no limiar
do de forma grave a atmosfera, aliada à depre- do ano dois mil, esse índice está chegando
dação de reservas florestais importantes como a cinquenta por cento de toda a população
a Amazônia, entre tantas outras espalhadas mundial, com o agravante de que quinhentos
em todo o mundo, diga-se de passagem, mais milhões de pessoas estão vivendo em cidades
acentuada em países mais desenvolvidos. com mais de quinhentos mil habitantes.

60
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Na verdade, a grande equação a ser resolvida destes devem ser analisadas sob os aspectos
pelos cento e setenta países que estarão repre- políticos, inclusive os estratégicos, para que
sentados na Eco 92, é promover o desenvolvi- as medidas tomadas não venham a se consti-
mento econômico sem destruir a natureza. tuir em uma armadilha preparada pelos países
Países pobres são obrigados a recorrer dema- desenvolvidos, mais ricos e de maior poder,
siadamente aos seus recursos naturais para contra os altos interesses daqueles mais po-
equilibrar a balança de pagamentos, principal- bres e em franco desenvolvimento, como é o
mente tendo em vista suas colossais dívidas caso do Brasil, que será um dos mais visados,
externas, como é o caso do Brasil. em função de possuirmos aqui a maior reserva
ecológica do mundo e a maior fonte de recur-
Dessa forma, a questão das dívidas dos países
sos naturais, que devem ser usados para que
pobres, deverá ser um dos temas principais da
possamos sair da situação de crise em que
Eco 92, pois o desenvolvimento sustentado,
nos encontramos e dos contrastes sociais dos
exige mudanças nos intercâmbios de comércio
quais somos portadores.
e no acesso às modernas tecnologias.
A questão do Brasil e a exploração de suas ri-
Os grupos de trabalho constituídos dentro do
quezas naturais, ocultas em seu solo, se insere
Comitê Preparatório – PRECOPOM – já alinha-
no tema central da Eco 92, que é o meio am-
ram os temas e as diversas propostas, dentro de
biente e desenvolvimento.
questões como: desmatamento, desertificação e
seca; a preservação da biodiversidade para ga- Conforme já denunciamos desta mesma tri-
rantir o planteI genético da fauna e da flora; o buna no começo do ano, o Governo brasilei-
controle sadio, em termos ambientais, da biotec- ro tem tomado medidas absurdas, levado por
nologia; a defesa das águas continentais e mari- influências estrangeiras, a título da proteção
nhas; a produção, controle e tráfego de produtos ecológica e que culmina invariavelmente na
químicos e dejetos técnicos; a poluição em geral. proteção ambiental, como o caso da criação
da enorme reserva indígena dos ianomâmis,
Os assuntos são abrangentes e a conclusão
para proteger os interesses do comércio in-
dos técnicos e principalmente, as propostas
terno da comunidade europeia e podendo vir

Wellington Fagundes
61
a desaguar na manipulação dos índios e seus O que não se pode tolerar é a pressão de or-
gurus brancos, para a venda a preços ilusórios ganismos internacionais e financeiros, pre-
dos recursos, como minerais preciosos, a gru- tendendo-se levar o Governo Central e os go-
pos econômicos de países do Primeiro Mundo. vernos estaduais, a tomar decisões de ordem
Não restam dúvidas que a partir dos anos 60 interna, mesmo que elas criem problemas de
tem acontecido uma exploração desordenada ordem social grave, praticando a condenável
das riquezas do solo, a alienação criminosa a política do “toma lá da cá” sem atentar para a
grupos internacionais, bem como o desma- questão primordial do ser humano.
tamento na Amazônia tem sido predatório e O Brasil é um país de enormes riquezas em seu
poderia ser evitado, sem prejuízo de um de- solo que podem e devem ser exploradas, po-
senvolvimento planejado, muito embora ne- dendo ser estabelecida uma convivência pací-
cessitando para tanto de maior volume de re- fica entre a preservação e proteção ambiental,
cursos de modernas tecnologias. com o desenvolvimento.
Os trustes internacionais têm levado ao uso É fato incontestável que de uns vinte anos a
indiscriminado de agrotóxicos no trato da ter- esta parte, a Amazônia tem sido invadida por
ra para fins agrícolas, sem que ao longo destes uma verdadeira horda de agentes de nações
trinta e dois anos, os governos tenham se pre- estrangeiras, que outra coisa não fizeram, que
ocupado com a questão como deveriam. não fosse extrair ilegalmente a riqueza do solo
Há que se aceitar, sim, respeitados nossos direi- e principalmente levar nossa madeira para os
tos à independência, ao nosso livre arbítrio e de países do Primeiro Mundo.
decidir o que é bom ou o que é mau para o Brasil, Já nos pronunciamos desta tribuna sobre o
a ajuda dos países mais poderosos, desde que assunto da reserva indígena dos ianomâmis,
tenham os honestos propósitos de preservar a que graças à falta de conhecimento da própria
natureza e proteger o meio ambiente, mormen- FUNAI sobre o número exato dos que ali vi-
te com o fornecimento de tecnologia avançada. vem e à incapacidade de fiscalizar um territó-
rio tão imenso, vai contribuir para o extermí-
nio dos nossos silvícolas, que serão vítimas de

62
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

toda sorte de aventureiros a se apossarem dos pósitos da comunidade internacional em salvar


territórios deles, muito servindo a interesses o planeta terra sem a utilização de interesses
internacionais. escusos ao desenvolvimento que desejamos.
Não se pode deixar de admitir que todos os A Eco 92, que se inicia na próxima semana no
governos deste País, principalmente os desta Rio de Janeiro, com doze dias de duração, é a
segunda metade do século, foram negligentes grande esperança de que medidas honestas, de
na questão da proteção ecológica e ambiental. interesse realmente global, eficientes, possam
Sr. Presidente, nobres colegas, urge que se evitar principalmente a agressão à atmosfera.
busquem dispositivos legais que codifiquem Estes são os nosso augúrios. Mas há que ob-
todos os setores da ecologia e deem proteção servar que o Brasil, pelas suas autoridades e
ao meio ambiente, principalmente estabele- principalmente por este Congresso, deva as-
cendo medidas que possam ser postas imedia- sistir à Eco 92 com a consciência de quem,
tamente em prática, muitas delas decorrentes mais do que qualquer outro, possa estar pre-
das decisões que possivelmente serão toma- parado à manutenção do meio ambiente e de
das pela Eco 92. suas “reservas naturais”, que representam o
É inquestionável que de forma urgente, efi- maior “pulmão verde” do planeta.
ciente, séria, sem que nos curvemos a pressões Era o que tínhamos a dizer.
nem aos interesses escusos da comunidade
internacional, sejam elaboradas por esta Casa
leis mais precisas e severas que regulem o uso
de agrotóxicos na lavoura, a poluição dos rios
e da atmosfera, do garimpo e toda extração de
minerais e principalmente o desmatamento.
Torna-se indispensável, Sr. Presidente, Srs
Deputados, que todos nós, parlamentares, ob-
servemos se realmente há sinceridade nos pro-

Wellington Fagundes
63
Sérgio Arouca

(Rio 92 – Biodiversidade. Armamento nuclear) O Sr. Sérgio Arouca (PPS-RJ. Sem revisão do
orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
Importância da realização da Conferencia vários colegas já comentaram, a importância do
Mundial das Nações Unidas para o Meio grande encontro internacional que se realizará
Ambiente e Desenvolvimento – Eco 92, no
Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro.
no Rio de Janeiro.
Possibilidade da abordagem na conferência É extremamente importante que esta Casa
da extinção de todas as formas de reflita sobre o alcance desse grande encontro.
armas nucleares; posição do orador com Não temos dúvida de que se está estabele-
relação a questão da biodiversidade.
cendo, neste final de século, uma nova ordem
Sessão 01/06/1992 – DCD 02/06/1992, p. 11668 internacional, baseada exatamente no fim da
guerra fria e da bipolarização entre o Leste e o
Oeste e até na possibilidade de que o grande
temor de uma guerra nuclear seja efetivamen-
te afastado da face da terra.
Porém, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
o fim da bipolarização não está significando o
fim das polaridades. Durante essa Conferência,
creio que se estarão expressando novas formas

65
de polarização. A principal delas parece ser o O País tem defendido a tese de que não se deve
chamado conflito Norte-Sul, que, na realidade, patentear a biodiversidade; colocando a questão
é um conflito entre a pobreza e a riqueza, um no campo correto do enfrentamento com os paí-
conflito que não tem limites geográficos, por- ses ricos e, além disso, exigindo que esses países
que também acontece dentro dos países e den- também paguem o preço da despoluição.
tro dos países pobres. Entendemos que a explo- Acompanharemos nesta Casa, com muito cui-
são de Los Angeles foi um conflito desse tipo no dado, esse debate, que está ocorrendo simul-
interior da riqueza dos Estados Unidos. taneamente em vários lugares. A Comissão de
Essa Conferência do Meio Ambiente trata de Ciência e Tecnologia discute no momento a
introduzir nessa nova ordem internacional a propriedade industrial. Sou relator de um pro-
responsabilidade, para que os povos possam jeto de biodiversidade que veio do Senado. A
enfrentar de forma correta o problema das mim me parece que a Câmara deveria adotar
diferenças socioeconômicas e a miséria deste uma posição unitária em relação a todos esses
nosso mundo. Os países ricos são os que mais problemas, e não aprovar, de um lado, a bios-
consomem energia e também os que mais po- segurança e, de outro, alguma matéria sobre a
luem o mundo. Temos que pensar no resultado biodiversidade que difira da posição nacional
dessa conferência. A poluição, produzida pelos que se expressará nesse encontro.
países ricos, terá de ser socializada com os pa- Finalmente, embora a ameaça de uma guerra
íses pobres, e estes é que pagarão o preço da nuclear imediata esteja afastada, a não inclu-
despoluição? Os países pobres receberão as são da questão nos debates não significa que a
indústrias já afastadas do Primeiro Mundo? Os guerra está extinta. Num momento como esse,
países pobres, que hoje ainda são detentores seria importante que, junto com as reflexões
de imensas reservas naturais, que permitem da Eco 92, pudéssemos começar a deflagrar
uma grande riqueza no campo da biodiversida- um tipo de movimento que propusesse a ex-
de, terão que aceitar que essa biodiversidade tinção completa de todas as formas de armas
seja objeto de patentes? nucleares, desativando-se as existentes, para
A posição do Brasil – e somos oposição ao Gover- que, de uma vez por todas, pudéssemos acabar
no que está aí – tem sido correta nesse campo. com a maior poluição que existe, a atômica.
66
Benedita da Silva

(Rio 92 – Mulheres por um planeta A Sra. Benedita da Silva (PT-RJ. Pronuncia


saudável – Agenda 21) o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Deputados, as atenções de todo o mundo
Considerações sobre o documento “Mulheres estão voltadas para o Rio Janeiro, sede da “Con-
por um planeta saudável”, apresentado pelo
Movimento de Mulheres aos chefes de estado
ferência Internacional sobre Meio Ambiente e
presentes na Eco 92; a questão do planejamento Desenvolvimento”, a “Rio 92”, promovida pela
familiar como principal tema da pauta de ONU e que contará com a presença de chefes
reivindicações das mulheres nesta conferência; de Estado de quase todo o mundo. Paralela-
necessidade da conscientização dos países mente a este evento oficial propriamente dito,
desenvolvidos no que se refere a ação nefasta realiza-se o “Fórum Global”, reunindo todos os
de seus hábitos de consumo ao meio ambiente
setores da sociedade civil organizada, repre-
Sessão 09/06/1992 – DCD 10/06/1992, p. 12709. sentados por inúmeras ONG, para a discussão
dos temas de que a Conferência irá tratar.
O Movimento de Mulheres não poderia deixar
de marcar sua presença, trazendo sua contri-
buição, da maior importância para o debate. As
atividades das mulheres no “Fórum Global” es-
tão concentradas em espaço apropriadamente

67
chamado “Planeta FEMEA” (FE (ministas) e ME ou ao rio. As latas que carregam aumentam
(io) A (mbiente).) de tamanho à medida em que elas vão se tor-
Mulheres de todo o mundo reunidas em vá- nando mais velhas, começando com uma lata
rios encontros internacionais nestes últimos de suco de frutas e terminando em galões de
anos já definiram a pauta de reivindicações até 18 litros, iguais aos de suas mães. Carregar
que será apresentada a cada governante pre- água é algo tão inerente às suas vidas que se
sente à Conferência. As reivindicações femini- torna até mesmo uma reclamação menor. Em
nas constam do documento “Mulheres por um algumas regiões da África as mulheres gastam
Planeta Saudável – Agenda 21”. Pretendemos, oito horas por dia pegando água. A jornada é
com esse documento, tanto influenciar na to- exaustiva, roubando-lhes tempo e energia que
mada de decisões como participar na elabo- poderiam ser empregados para a vida. Contí-
ração de políticas e planos de ação que serão nuo carregamento de água distorce a pélvis da
acordados nesta ocasião. jovens, tornando sua gravidez e parto mais pe-
rigosos.” (Texto extraído da revista “Mulher e
O Movimento de Mulheres vem aprofundan-
Meio Ambiente”, publicação do CIM – Centro
do discussões sobre os temas ambientais,
Informação Mulher e do CEDI – Centro Ecu-
como biodiversidade, biotecnologia, desen-
mênico de Documentação e Informação.)
volvimento sustentável, ciência e tecnologia,
ecologia urbana, ecologia do trabalho e do Sr. Presidente, dentre os temas discutidos pe-
cotidiano, levantando críticas ao atual modelo las feministas um assunto tem provocado ma-
de desenvolvimento. nifestações de diversas autoridades interna-
cionais, antecipando a polêmica que causará
Para discutir os rumos da nova civilização que
na ”Rio 92” e que poderá direcionar os cami-
queremos construir é preciso encarar questões
nhos do Terceiro Mundo. Trata-se da política
que somente as mulheres estão colocando e
populacional, questão que incide diretamente
que a Conferência tem ignorado até agora.
sobre o nosso corpo.
Por exemplo: no Quênia, África, “as meninas
kikuiu, tão cedo quanto possam caminhar, vão Algumas pessoas defendem o controle popu-
com suas mães e irmãs mais velhas ao poço lacional como prioridade essencial para que

68
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

se evite a catástrofe do esgotamento dos re- ao crescimento populacional colocado como a


cursos naturais. A parte da natureza que ainda maior ameaça à natureza. O príncipe Charles,
não foi destruída deve ser preservada para uns que todos conhecem, referiu-se há poucas se-
poucos. Durante muito tempo a ideologia que manas à explosão populacional como um dos
justificou o controle populacional no Terceiro graves problemas que afetam o futuro da Ter-
Mundo foi o binômio população e pobreza. ra, ao lado da poluição e da pobreza dos países
Agora nos anos 90 essa ideologia amplia-se subdesenvolvidos, defendendo a inclusão do
para população‑pobreza‑meio ambiente. controle da natalidade na pauta da “Rio 92”.
Uma análise superficial da crise ambiental que Os ambientalistas ingleses contrapõem-se,
assola o planeta nos leva a crer que a crise é re- afirmando que é muito mais fácil atrair a aten-
sultante mais dos hábitos de consumo dos países ção da opinião pública para assuntos que de-
desenvolvidos do que propriamente do número vem ser resolvidos em outros países do que
de pessoas que o habitam. Estudos revelam que enfrentar as questões domésticas que vão me-
um habitante dos Estados Unidos, por exemplo, xer com a vida dos britânicos.
consome mais energia do que um nigeriano. E Mas a pedra de toque da abordagem desse
bem verdade que os estragos ambientais cau- tema – população – é a correlação existente
sados pela Guerra no Golfo Pérsico são infinita- entre três fatores anteriormente identificados
mente maiores do que os níveis de poluição de no trinômio crescimento populacional, degra-
certas localidades terceiro-mundistas. dação ambiental e pobreza que lançam sobre
Inglaterra, por sua vez, é uma das maiores res- as mulheres a responsabilidade pelo bem-
ponsáveis pela emissão de dióxido de carbono, estar da humanidade, uma vez que é em seu
que, segundo os cientistas, provoca o efeito ventre que se desenvolve a vida.
estufa, que está mudando perigosamente o Relatório da Comissão Brundtland, cujos recen-
clima do planeta. Esse país, todos sabem, tem tes trabalhos foram abertos pelo príncipe Char-
padrão elevadíssimo de consumo de recursos les, com aquelas declarações, afirma categórico:
naturais e energéticos. Curioso que é de lá, da “As atuais taxas de aumento
Inglaterra, que vêm as mais recentes críticas populacional não podem continuar.

Benedita da Silva
69
Elas já estão comprometendo a “A quantidade de meios disponíveis
capacidade de muitos governos de para o exercício dessa escolha
fornecer educação, serviços médicos (tamanho da família) mede o
e segurança alimentar às pessoas e, desenvolvimento de uma nação (...)”
mais ainda, sua capacidade de elevar “(...) Como a maioria dos países do
os padrões de vida. Esse hiato entre Terceiro Mundo, também o Brasil foi
pessoas e recursos é ainda mais submetido, a partir da década de 60,
dramático porque grande parte dos a programas de controle da natalidade
novos contingentes populacionais em nome da ameaça que a explosão
se concentram em países de baixa demográfica poderia significar para
renda, em regiões ecologicamente seu desenvolvimento. Nos últimos 20
vulneráveis e em famílias pobres.” anos a taxa de fertilidade das mulheres
E mais: brasileiras baixou em 50%, o que
“Um crescimento demográfico levaria um século para acontecer na
excessivo dilui os frutos do Europa. O crescimento populacional
desenvolvimento por um número caiu de 2,9% ao ano na década de
cada vez maior de pessoas, ao invés 60 para 2,1% na década de 80.”
de melhorar os níveis devida em A política de controle de natalidade – que ja-
muitos países em desenvolvimento; mais foi assumida oficialmente pelo Governo
uma redução das taxas atuais de brasileiro e que é financiada por organismos
Crescimento é um imperativo para internacionais – facilitou a prática controlista a
o desenvolvimento sustentável.” curto prazo. Enquanto os governos rechaçavam
A seguir, trecho da Declaração sobre Popula- a intervenção externa – favoreciam ao mesmo
ção e Meio Ambiente elaborada em reunião do tempo a ação, em todo território nacional, de
Fundo das Nações Unidas para a População, em organizações internacionais de controle po-
março de 1991, reafirmando o que já foi dito – a pulacional. A política de direitos reprodutivos
crença na correlação entre crescimento popula- em nosso País tem sido ditada, controlada ba-
cional e degradação ambiental: sicamente pelas companhias farmacêuticas

70
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

internacionais, pela medicina de grupo, pela Porque são as mulheres as mais penalizadas
rede privada e por instituições de planejamen- pela deterioração da qualidade de vida, a ma-
to familiar. A partir de 1980 o movimento de ternidade aparece, cotidianamente, como um
mulheres intervém nessa situação não somente risco difícil de ser assumido. A migração para
para criticar a ação dessas instituições contro- os polos industrializados converte milhares de
listas, como também para questionar a qualida- mães sozinhas em chefes de família, que suas
de de atendimento à saúde da mulher e o seu oportunidades estreitas no mercado do traba-
livre direito de escolha. lho não permitem sustentar. As políticas públi-
No Brasil, o IBGE, em 1986, afirmou que 71 % das cas de amparo à maternidade e à infância são
mulheres com idade entre 15 e 45 anos utilizam insuficientes e inoperantes. Quando são feitas
algum tipo de anticoncepcional. Mas se parar- pressões sociais para reversão desse quadro,
mos para analisar o tipo de método utilizado provocam efeitos adversos, como a retração
pelas brasileiras levaremos um susto. Enquanto no emprego da mão de obra feminina.
em países desenvolvidos apenas 7% das mulhe- A esterilização, apesar de ilegal, é uma prática
res em idade reprodutiva estão esterilizadas, no amplamente utilizada. Por essa razão criamos e
Brasil este índice sobe para assombrosos 45%. instalamos recentemente uma Comissão Parla-
Aqui a pílula anticoncepcional é usada por 41 %, mentar Mista de Inquérito para investigar a in-
enquanto, nos países desenvolvidos, por apenas cidência da esterilização de mulheres no Brasil,
13%. Estatísticas indicam que um bom número Comissão da qual sou Presidente e que está em
de brasileiras têm acesso à contracepção, mas pleno funcionamento, apesar dos percalços.
os métodos mais utilizados revelam a existên- A esterilização é uma prática amplamente utili-
cia de uma política populacional inescrupulosa zada em nosso País. É o resultado entre a falta
e sem critérios, pois a maioria das mulheres de políticas públicas sérias quanto aos direitos
brasileiras recorrem apenas a dois métodos: a reprodutivos, a falta de opções contraceptivas,
esterilização e a pílula, denunciando alto grau a rápida mudança nos padrões sexuais e familia-
de desinformação. res e a crescente degradação das condições de
vida. A absurda frequência de cesárias contribui

Benedita da Silva
71
para o aumento das ligaduras tubárias, pois a zer que, atualmente, é considerado letra morta
terceira cesariana poderá determinar a neces- na política de saúde do Governo brasileiro.
sidade médica da esterilização. A falta de urna A dramática realidade a respeito dos direitos
política clara a esse respeito vem permitindo reprodutivos no Brasil nos leva a constatar que
distorções na prática da esterilização tais como não existe, e nunca existiu em nosso País, uma
o diagnóstico falso, justificando e induzindo à política de saúde moderna e eficaz que permita
cirurgia; a exploração econômica das mulheres às mulheres a prática da contracepção sem ris-
que pagam por cirurgia já subsidiadas por agên- cos para sua saúde. Portanto, é necessário que
cias financiadoras e a prática, corriqueira, em essas questões sejam levadas em conta quando
época de eleições municipais, principalmente, se trata de discutir a dinâmica populacional bra-
da laqueadura, feita gratuitamente. sileira dentro do contexto das preocupações de-
Outra situação que nos chama a atenção é a mográficas mundiais. É preciso, também, que se
reduzida utilização dos demais métodos pelas tenha a consciência e a sensibilidade necessária
brasileiras: das mulheres que utilizam anticon- para perceber que o crescimento populacional é
cepcionais, apenas 12% recorrem a outros mé- sintoma de um problema maior, que é a pobreza.
todos naturais. A melhor maneira de conter o aumento popu-
Sr. Presidente, ao longo dos últimos anos o lacional não é esterilizando mulheres em massa
movimento de mulheres vem exigindo que a ou distribuindo anticoncepcionais internacio-
questão do planejamento familiar seja assu- nais. O desenvolvimento econômico e social, a
mida pelo Governo brasileiro. Esta é a condi- distribuição de riquezas, o aumento do poder
ção imprescindível para o fim da interferên- aquisitivo e com consequente atendimento edu-
cia das agências internacionais de controle cacional e de saúde são as chaves para a solução
populacional. O PAISM (Plano de Assistência do problema. A prosperidade dos últimos anos
Integral à Saúde da Mulher) – um programa dos países desenvolvidos, entre eles Estados
oficial criado como instrumento de defesa da Unidos e Inglaterra, é o exemplo mais concreto.
saúde das mulheres – encontra-se em sérias “A limitação da natalidade será
dificuldades de implantação, o que equivale di- a grande lacuna da Rio 92, pois

72
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

nenhum problema será resolvido veis de pobreza crescente permanecem como


se a população mundial continuar uma das maiores ameaças ao meio ambiente.
crescendo como agora.”
Sr. Presidente, os representantes de países de-
(Pronunciamento do ex-chanceler
senvolvidos continuam batendo na mesma te-
da Alemanha Helmut Schmidt, na
cla de que o crescimento populacional é a prin-
Conferência sobre a Nova Ordem
Internacional, realizada no Rio cipal causa da degradação ambiental, mas não
de Janeiro em abril passado.) estão dispostos a dar sua cota de sacrifícios,
como demonstra a atitude pouco democrática
Vale registrar aqui uma contradição com o que
dos Estados Unidos em recusar-se a assinar o
dizemos “senhores donos do mundo”: a queda
tratado da biodiversidade, preservando seus
nas taxas de crescimento demográfico tendo
interesses particulares. Então, enquanto eles
em vista a queda das taxas de fecundidade das
afirmam que é preciso acabar com os pobres,
mulheres brasileiras. Nunca é demais lembrar
nós afirmamos que o fundamental e urgente é
a relação existente entre queda de fecundida-
acabar com a pobreza.
de e altas taxas de esterilização. Também não
é demais repetir os índices de esterilização de Era o que tinha a dizer.
brasileiras entre 15 e 54 anos nos Estados de
Goiás (71,3%); Pernambuco (61.4%); Rio de Ja-
neiro (41,4%) e Paraná (42,8%), índices estes
que beiram o absurdo.
Estas estatísticas contrariam a visão de que é
fundamental reduzir as taxas de crescimento
demográfico para obter melhorias nos níveis
de desenvolvimento humano. As taxas de fe-
cundidade das mulheres brasileiras vêm de-
caindo desde as últimas décadas, porém, os ní-

Benedita da Silva
73
José Genoíno

(Rio 92 – Nota Oficial do Partido O Sr. José Genoíno (PT-SP. Pronuncia o se-
dos Trabalhadores ) guinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, passo a ler, para que conste dos
Leitura do documento “O Partido Anais da Casa, decisão adotada pelo PT com
dos Trabalhadores e a Rio 92”.
relação a Eco 92:
Sessão 11/06/1992 – DCD 12/06/1992, p. 13044.
1. “A Conferência Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento que se re-
aliza no Rio de Janeiro com a presença de
mais de uma centena de Chefes de Estado
e de Governo, de centenas de ministros,
parlamentares, cientistas e técnicos, e os
eventos paralelos que estão ocorrendo
no Foro Global, constitui-se em um mo-
mento privilegiado de reflexão e tomada
de decisões que incidirão sobre o futuro
da humanidade.
Ao mesmo tempo em que espera que as
delegações oficiais estejam à altura de

75
suas responsabilidades históricas, o Par- real” no leste europeu e a desintegração
tido dos Trabalhadores saúda os milhares da URSS, como se aprofundou a distância
de militantes ecologistas de todo o mun- entre o “Norte” e o “Sul” do planeta.
do que ocorreram ao Brasil para, nas dis- Junto com a reconfiguração econômica do
cussões paralelas, debater problemas cru- mundo – expressa na consolidação de no-
ciais de nosso planeta, definir alternativas vos blocos econômicos – assiste-se à ten-
em escala internacional e influir sobre a tativa dos Estados Unidos, sobretudo de-
decisões da conferência oficial. pois da guerra do Golfo, de afirmarem-se
Por reconhecer os limites da reunião ofi- com uma única potência político-militar,
cial, o PT confere enorme importância ao a despeito das dificuldades econômicas e
Foro, como expressão de uma vontade sociais que enfrentam. Consequência dis-
democrática que se expressa em escala in- to é a política dos EUA de bloqueio a Cuba
ternacional, para imprimir novos rumos ao e a persistência da ocupação do Panamá.
debate e às políticas de desenvolvimento A maior parte a América Latina, a totalida-
econômico e social da humanidade. de da África e partes significativas da Ásia
A articulação que hoje está ocorrendo no enfrentam hoje uma grave crise econô-
Rio de Janeiro deve ser o ponto de parti- mica e social. Esta crise atinge, ainda que
da para um grande movimento ecologista com uma intensidade menor, aos países
em escala planetária capaz de propor no- do Norte, onde cresce o desemprego, os
vas e consistentes alternativas para o de- fenômenos de pauperização e marginali-
senvolvimento humano. zação dramaticamente evidenciados pelos
recentes acontecimentos de Los Angeles.
2. A Rio 92 se realiza em condições inter-
nacionais bastante distintas daquelas As políticas neoliberais, que orientam a
existentes em 1987, quando de sua con- ação das grandes potências em suas rela-
vocação. Não só se produziram radicais ções com Sul, têm sido responsáveis por
transformações geopolíticas no mundo, recessões agudas, precipitando alguns
com o fim dos regimes do “socialismo países, que haviam experimentado um

76
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

considerável desenvolvimento no passa- classes trabalhadoras, que vêm suas con-


do, em processos de desindustrialização. dições de vida se degradar e suas parcas
Toda esta situação deixa atrás de si um conquistas serem ameaçadas. Implica em
rastro de miséria social sem precedentes. crescentes ataques à democracia política,
como demonstram os acontecimentos re-
Ao mesmo tempo em que preserva seus
centes da Venezuela e do Peru.
produtos com medidas abertas ou disfar-
çadas de protecionismo, o Norte impõe ao Mas é importante afirmar que estas
Sul o livre comércio, usa de sua situação políticas não são o resultado de meras
de monopólio para degradar os termos de imposições “de fora”, só se viabilizando
intercâmbio e tenta confiná-lo a um lugar em razão do apoio ativo das elites locais.
subalterno na divisão internacional do Articulando este conjunto de dificulda-
trabalho. Para tanto, nega-se a transferir des que afetam o Sul e particularmente a
tecnologia, e procura, através de uma po- América Latina, está o problema da dívi-
lítica acelerada de privatizações, diminuir da externa que sufoca nossas economias,
a capacidade do Estado de atuar como impedindo qualquer programa consisten-
elemento regulador do desenvolvimento te de retomada do desenvolvimento.
econômico e social, que passaria a ser de Sem estas considerações sobre a situação
agora em diante o resultado do funciona- econômica e política do mundo, não se
mento das “leis do mercado”. pode realizar qualquer discussão consisten-
A tentativa de construção desta “nova or- te sobre os problemas do meio-ambiente.
dem mundial” se faz com o sacrifício cres- 3. A degradação ambiental que hoje ame-
cente do direito à autodeterminação dos aça o planeta é a expressão dos valores
povos e da soberania nacional, princípios de uma sociedade é a expressão dos va-
que nada têm a ver com manifestações lores de uma sociedade que mercantiliza
passadas e presentes de nacionalismo ou as relações entre homens e mulheres,
mesmo de xenofobia. Faz-se, sobretudo, produzindo a injustiça social e a destrui-
com crescentes sacrifícios impostos às ção do patrimônio natural e histórico.
José Genoíno
77
Vivemos em sociedades em que a noção 4. O Governo Collor tenta utilizar a Rio 92
de progresso se reduz ao aumento do e o crescente interesse que as questões
PIB, em que dominam concepções etno- ecológicas desperta na população para
cêntricas que desrespeitam outros povos afirmar seus propósitos subalternos.
e culturas, em que se nega às mulheres a O fato dos problemas ambientais serem
cidadania reduzindo-se a funções repro- internacionais não exime o governo de pro-
dutoras e, com isso, submetendo- as a por um projeto de desenvolvimento nacio-
políticas de controle de natalidade, parti- nal, soberana e democraticamente constru-
cularmente a esterilização. ído, que incorpore a dimensão ambiental.
Estamos diante de grandes desafios: qual- Não basta a criação de reservas indígenas,
quer transformação econômica, social e po- de reservas extrativistas e de unidades de
lítica passa igualmente por uma revolução conservação se não houver uma política
cultural e ética, que aponte para uma socie- de democratização de propriedade da ter-
dade mais justa, solidária, ecologicamente ra – uma autêntica reforma agrária – e po-
responsável e radicalmente democrática. líticas públicas que apoiem efetivamente
A crise ambiental que vive hoje a huma- as populações tradicionais dessas áreas.
nidade, e que ameaça seu futuro, é o re- A política neoliberal de livre comércio
sultado de concepções economicistas e que servilmente o Governo Collor vem
produtivistas de desenvolvimento com- adotando, é, para só citar um exemplo,
partilhadas tanto pelo capitalismo como um duro golpe para os produtores de bor-
pelo socialismo estatista-burocrático. racha da Amazônia que são obrigados a
abandonar seu habitat para sobreviver.
O Partido dos Trabalhadores desde sua
fundação se insurgiu contra estes valores, De nada adianta o governo encher a
construindo sua concepção anticapitalista boca com expressões como “desenvolvi-
a partir de uma perspectiva eco-socialista. mento sustentável”, se as populações da
Amazônia e de outras regiões do País con-
tinuam desassistidas em áreas onde sua

78
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

relação com o meio ambiente as coloca em 5. O governo brasileiro não pode ser coniven-
risco permanente. Não há possibilidade te com a arrogância de alguns países – es-
de qualquer tipo de desenvolvimento se, pecialmente os Estados Unidos – que se re-
para pagar a dívida externa e obedecer as cusavam a assumir suas responsabilidades
imposições de ajuste econômico feitas pe- como principais agentes da degradação da
los organismos internacionais, o governo camada de ozônio, ao não admitirem im-
desestrutura os programas de habitação por a seus empresários as necessárias re-
e saneamento, inviabiliza os serviços pú- conversões de suas indústrias e produtos
blicos, particularmente os de fiscalização em conformidade com exigências ecológi-
ambiental. A tudo isso se soma o fato de as cas elementares. O governo brasileiro não
políticas ambientalistas do atual governo pode ser conivente também com as tenta-
aparecerem frequentemente associadas a tivas de postergar os acordos e tratados re-
escândalos de corrupção, como se depre- lacionados com materiais genéticos, biodi-
ende das denúncias relacionadas com a versidade e florestas. A tática das grandes
preparação da Rio 92, ou da complacência potências é a de esvaziar o debate destes
de funcionários de organismos do governo temas agora, quando os olhos do mundo se
para com os grupos madeireiros. voltam para o Rio e a pressão dos ecologis-
De nada adianta a retórica ambientalista tas se faz mais forte, para tentar soluções
do governo ou o marketing ecológico dos mornas e inócuas em tratados a serem as-
empresários, se a população trabalhadora sinados mais tarde.
vive nas fábricas e nos campos o inferno 6. Os brasileiros, nós, que convivemos com
produzido pela poluição industrial e pelos ecossistemas tropicais e com populações
agrotóxicos ou é submetida ao consumo e culturas que souberam respeitar o pro-
forçado de milhares de toneladas de pro- cesso de exuberante variedade genética,
dutos prejudiciais à saúde, lançados na devemos ser hoje capazes de reivindi-
atmosfera, nas águas e no solo, sem que car para nosso País e para todos aque-
sobre essas ações se exerça o controle de- les do Sul os recursos e as tecnologias
mocrático da sociedade.
José Genoíno
79
necessárias para viabilizar um novo mo- Uma das alternativas que permite associar
delo de desenvolvimento que articule a a crucial questão da dívida externa à da
justiça social com a convivência harmo- preservação ambiental é a de transformar
niosa com a natureza. os atuais débitos dos países do Sul em um
Cabe neste particular denunciar energica- fundo de desenvolvimento econômico,
mente a atitude de grandes potências que social e tecnológico no qual a preserva-
se negam a conceder recursos adicionais ção ambiental seja um item fundamental.
para que se possa implementar em escala Este fundo deverá ser administrado pelos
internacional uma autêntica política de países em desenvolvimento, garantidos
preservação ambiental. mecanismos de controle social de seu
Mas a transferência de tecnologia e sua uso. Sem enfrentar esta questão decisiva
apropriação não pode ser obra da ação de quem e como se financiam os custosos
centralizadora de grupos de tecnocratas, projetos de preservação ambiental, qual-
devendo estar sujeita aos mecanismos quer decisão que venha a ser adotada a
de controle social. Os imperativos de um respeito não passará de retórica estéril.
desenvolvimento ecologicamente harmô- Não podemos, igualmente, aceitar os
nico colocam na ordem do dia o aprofunda- planos de controle de natalidade – cuja
mento da democracia, com a multiplicação face mais cruel, é a esterilização clandes-
do controle social do Estado. tina de grande parte de nossas mulheres,
7. Não podemos ceder às pressões de trocar sobretudo da população pobre e negra –
a dívida externa por concessões em ma- sob o argumento de que não há meios
téria ecológica, que aumente mais ainda para alimentá-la.
a capacidade de intervenção estrangeira A realização de um programa de transfor-
no País a partir de propostas de “monito- mações econômicas, políticas e sociais em
ramento” unilateral de nosso desenvolvi- nosso País e na imensa maioria dos países
mento. A dívida é a expressão da “velha do Sul mostrará a existência de um enor-
ordem internacional”, cuja caducidade é me potencial capaz de resolver os proble-
cada dia mais visível. mas da fome e do subdesenvolvimento.
80
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

8. O Partido dos Trabalhadores tem uma prol de um novo modelo de desenvolvi-


tradição de luta em defesa dos valores de mento para a humanidade.
uma transformação social e política radi- A intervenção de expressivos setores da
cais que incorpora a dimensão ecológica sociedade civil de dezenas de países, a
como um aspecto essencial. presença de milhares de ONG, são sinais
Esta tem sido sua conduta nas lutas so- evidentes de que está criado um movi-
ciais nestes 13 anos de sua existência. Esta mento internacional de cidadania que
tem sido uma dimensão fundamental da tem como objetivo fundamental a preser-
ação de seus parlamentares. Esta tem vação do futuro da humanidade.
sido uma preocupação constante de to- Não podemos compactuar com políticas
das as administrações á frente das quais governamentais ou com a complacência
se encontram nossos militantes. de governos em relação àqueles que ar-
O Partido dos Trabalhadores é um partido rasam o solo do planeta, que poluem a
socialista e ecologista que tem dentre seus atmosfera alterando drasticamente as
filiados milhares de ativistas das lutas pela condições de vida de bilhões de pessoas,
preservação do meio ambiente e que tem que comprometem os cada vez mais es-
o privilégio e a honra de haver tido dentre cassos recursos de água.
seus militantes e dirigentes aquele que é O desafio colocado a todos os ecologis-
o símbolo desta nova articulação política e tas e autênticos socialistas não é sim-
cujo exemplo ilumina nos debates da Rio plesmente o de formular uma política
92: nosso companheiro Chico Mendes. de preservação – tarefa por si só enorme
9. O Partido dos Trabalhadores considera mas o de sentar as bases para um novo
que os debates da Rio 92, especialmente modelo de desenvolvimento econômico
os do Foro Paralelo podem constituir-se que altere radicalmente as atuais estru-
em um momento decisivo de fortaleci- turas de produção e que seja capaz de
mento de uma consciência universal em compatibilizar crescimento, justiça social
e proteção ambiental.

José Genoíno
81
Este novo modelo exige uma radical trans-
formação da política mundial, uma au-
têntica democratização dos organismos
internacionais – a ONU em primeiro lugar
– com o fim das tutelas que exercem sobre
a humanidade o FMI, Banco Mundial, G7 e
organismos congêneres. É de fundamen-
tal importância perseguir uma política de
paz de desarmamento e desmilitarização
do mundo, o que só pode ser obtido por
uma intervenção crescente de homens e
mulheres nas lutas cotidianas.
Esta presença de milhares de ecologistas
do mundo inteiro no Rio de Janeiro deve
ser entendida como o alvissareiro sinal de
que uma nova era está se desenhando na
qual cidadãs e cidadãos do mundo tomam
o destino e o futuro deste em suas mãos
em defesa daquela espécie que no sul do
mundo é a mais ameaçada: o ser humano.

Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992.


Luiz Inácio Lula da Silva,
Presidente do Partido
dos Trabalhadores.”
Era o que tinha a dizer.

82
Aldo Pinto

(Rio 92 – Avaliação crítica dos resultados O Sr. Aldo Pinto (PDT-RS. Sem revisão do ora-
da conferência. Degradação dos dor) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
solos. Produção de alimentos) durante a Eco 92, o Rio de Janeiro foi o centro
do mundo. O evento reuniu intelectuais, Chefes
Conclusões do orador com relação à Eco 92;
opinião de que a extinção da fome no país
de Governo, profissionais liberais, estudantes e
será alcançada com o aumento da produção o povo em geral. Todos, de uma forma ou de ou-
de alimentos; urgência na recuperação tra, procuraram externar as suas preocupações
dos solos agrícolas no território nacional; com os problemas ecológicos que ocorrem aqui
importância da redução dos juros bancários e em todo o mundo. Ecologistas de um lado, de-
para crescimento da produção agrícola fensores do desenvolvimento a qualquer preço
Sessão 15/06/1992 – DCD 16/06/1992, p. 13526. de outro, na Eco 92 destacaram-se, sobretudo,
os temas poluição do ar, devastação das reser-
vas florestais, poluição das águas, destruição da
fauna, meio ambiente e desenvolvimento.
Será que nós, as nações pobres do Terceiro
Mundo, temos condições de desenvolver uma
política desenvolvimentista e de crescimento
com o cuidado adequado com a preservação do

83
meio ambiente? Diga-se de passagem, aquelas O pior de tudo, Sr. Presidente, Srs. Deputados:
pessoas que vieram de outras partes do mundo há bem pouco tempo, o Governo Federal
e que se intitulavam tutores dos países pobres cantou em prosa e verso a safra agrícola, 70
no que diz respeito à preservação do meio am- milhões de toneladas de grãos, como se fos-
biente são, na verdade, as responsáveis pela se algo verdadeiramente extraordinário. Se-
destruição do meio ambiente em seus respec- tenta milhões de toneladas de grãos, Srs.
tivos países. Porém, temos muito que aprender. Deputados, são um terço da produção de mi-
Não gostaríamos, de forma alguma, de cometer, lho dos Estados Unidos. Nunca existiu; neste
aqui, os mesmos equívocos que cometeram os País, superprodução; o que sempre existiu
países ricos, os países ditos desenvolvidos. aqui foi subalimentação, subnutrição. O povo
Eu, em particular, tive a honra de ser convida- brasileiro consome 23 quilos de proteínas per
do para coordenar um debate internacional capita. É um dos consumos mais baixos do
na Eco 92 sobre a desagregação dos solos, mundo. Pensarmos em superprodução é uma
sua ocupação e meio ambiente. Tive ontem irresponsabilidade. Um país de grandeza con-
a oportunidade de ouvir a palavra de S. Ex., tinental como o Brasil produzir um terço ape-
o Presidente da República, que, no meu en- nas da produção de milho dos Estados Unidos
tender, com todo o respeito, sintetiza uma é algo totalmente constrangedor.
manifestação indiscutivelmente responsável: É por esta razão que tenho ressaltado a neces-
“precisamos acabar com a fome”. sidade de aumentarmos a produção de alimen-
Trazendo os ensinamentos que colhemos das tos. Nunca mais a política delfiniana de que “o
grandes discussões, travadas na Eco 92, em que importa é exportar”, equivocada, leonina,
que técnicos dos mais diferentes campos pro- sem um detalhamento correto das necessida-
curaram defender os seus pontos de vista so- des nacionais; nunca mais a política da econo-
bre o problema nacional, gostaria de dizer que mista Zélia, de que “o que importa é importar”.
só acabaremos com a fome no Terceiro Mundo Duas teses extremas, radicalmente colocadas
se conseguirmos produzir alimentos. e absurdamente sustentadas. No Brasil, onde
se consome esse percentual mínimo de prote-

84
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

ína, falar em exportar ou importar a qualquer nossa produção, se não aumentarmos a ferti-
preço é uma irresponsabilidade. lidade dos nossos solos? Esta foi a essência do
Em 1986, quando concorri ao Governo do meu debate de que tive a honra de participar na Eco
Estado, aprendi uma grande lição. No Plano Cru- 92. É preciso urgentemente reinvestir no setor
zado, quanto mais se falava sobre estelionato e agrícola, para que se possa aumentar a produ-
esbulho, mais se perdia votos. As autoridades ção, através do aumento da produtividade, no
governamentais baixaram, por decreto, os índi- sentido vertical. As autoridades competentes
ces de inflação a zero. O povo passou a comer, e deste País e o próprio Presidente precisam en-
o Governo, a importar carne de Chernobyl, lei- tender que não será com os juros exorbitantes
te e arroz de péssima qualidade, alimentos de cobrados pelos agiotas, pelos banqueiros, que
todo o mundo. Foram gastos mais de 13 bilhões hoje são mais donos de casas de penhor do
das nossas reservas na importação de alimen- que qualquer outra coisa, que haveremos de
tos. Mas a lição ficou. Naquela época, o povo aumentar a produção agrícola neste País.
comia; nenhum alimento ficava nas prateleiras Na Europa, no Japão e nos Estados Unidos é
dos supermercados, havia um grande desespe- adotada a política de subsídios, o que coloca
ro, por isso se partiu para a importação. em situação de não competitividade a agricul-
Meus companheiros, ilustres Deputados, é im- tura nacional. Como poderemos competir com
portante fazermos uma reflexão sobre a fome os países ricos, se lá a produção de alimentos
e não permitirmos essa desigualdade de tra- é entendida como uma questão de segurança
tamento em nosso País, o que vai ao encontro nacional, enquanto no Brasil tem sido encarada
daquilo que o Presidente falou no Rio de Ja- como uma forma de os bancos encherem suas
neiro. É preciso ter consciência e investir num burras a qualquer preço? Basta dizer – e que
setor que, sem dúvida alguma, é o que respon- repito o que já disse – que, há pouco tempo,
de mais rapidamente. Não há outro setor da os bancos detinham 4,5% do Produto Interno
atividade produtiva que responda de forma Bruto brasileiro e hoje ultrapassam os 16%, a
tão rápida como a agricultura. Mas, como po- maior concentração de renda do mundo!
deremos aumentar a nossa produtividade, a

Aldo Pinto
85
Precisamos investir no setor da produção para grande celeiro do Brasil, no maior produtor de
resgatar a nossa agricultura; precisamos dar grãos do País. O Rio Grande do Sul é, hoje, res-
um basta à agiotagem que está ocorrendo nes- ponsável por cerca de 28% da produção nacio-
te País; precisamos acabar com a fome. As au- nal de grãos. Mas, apesar dessa contribuição,
toridades competentes, sobretudo o Presiden- o que se constata, no dia-a-dia, é a espoliação
te da República, que entendeu esta mensagem, do agricultor, é o sucateamento da agricultu-
devem determinar, em caráter de urgência ur- ra, que se torna inviável em função da políti-
gentíssima, uma política verdadeiramente diri- ca econômico-financeira atualmente adotada
gida para o setor da produção. Não há produto pelo Governo brasileiro.
agrícola, em qualquer parte do mundo, que Por isso, Sr. Presidente, Srs. Deputados, se eu
consiga acompanhar uma correção monetária fosse fazer uma opção, para aumentar a pro-
diária. Só teremos condições de competir com dução em nosso País e minimizar a fome, in-
o mercado internacional, com essa correção discutivelmente optaria pelo investimento na
que aí está, com os juros exorbitantes que es- recuperação do solo em todo o Brasil. O solo é
tão sendo cobrados, se produzirmos cocaína. a base de tudo. Em qualquer parte do mundo,
Já disse isso e repito mais uma vez. é ele que responde aos tratamentos que o ho-
Os bancos não querem saber de nada, absolu- mem porventura lhe dá, de forma positiva ou
tamente. Não querem discutir o fato de que, negativa. As perdas por lixiviação, por erosão e
no Plano Collor, há bem pouco tempo, num por degradação têm sido constantes. Basta di-
passado bem recente, de forma equivocada, zer que há mais de dez anos não se liberam re-
debitou-se nominalmente na conta dos agri- cursos para investimentos na recuperação dos
cultores um percentual verdadeiramente es- solos do nosso País. Agora se estão alocando
candaloso, que ultrapassou os 74% e sucateou alguns recursos. Porém, a que preço? Sabem
a agricultura nacional. E falo isso de cadeira. as autoridades que isso está inviabilizando a
Há bem pouco tempo, como Secretário da transformação do Brasil num dos maiores pro-
Agricultura do meu Rio Grande do Sul, disse à dutores de grãos do mundo.
Nação que transformamos o nosso Estado no

86
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

A par dessas preocupações no campo ecológi- representa indiscutivelmente uma das gran-
co, agrícola e da espoliação econômico-finan- des prioridades que temos em nosso País: dar-
ceira, quero dizer que também fiz uma refle- mos atenção, e urgentemente, à recuperação
xão e concluí que o futuro do campo está na dos solos agrícolas no território nacional.
cidade. No momento em que o povo tiver um Registro também os documentos assinados
poder aquisitivo compatível, não haverá ali- no Rio de Janeiro, tais como a “Declaração de
mentos suficientes, no Brasil, para sustentá-lo. Princípios sobre Florestas”, a “Convenção so-
Vejam o que eu lhes falei a respeito de este- bre a Biodiversidade”, a “Convenção sobre o
lionato, em 1986; vejam o que eu lhes disse Clima e a “Agenda 21”, onde estão inseridos
sobre o esbulho do Plano Cruzado, mas vejam esses dados de que há pouco lhes falei sobre
também que eu lhes disse que, naquela opor- a degradação dos solos e a potencialidade dos
tunidade em que se deu um poder aquisitivo recursos hídricos no território nacional.
um pouquinho maior ao povo brasileiro, faltou Sr. Presidente, deixo aqui o nosso apoio, o nos-
comida em todo o território nacional. Consta- so endosso a todos aqueles que lutam para que
tamos, então, que os míseros 230 mil cruzeiros o Governo minimize esta situação aflitiva que
pagos ao trabalhador são incompatíveis com a campeia em nosso País. Nós estamos mais po-
dedicação do homem à terra, porque não é o bres – e estamos mesmo! E o que dizer, então,
salário do trabalhador que está estrangulando das camadas mais esquecidas. que estão viven-
o setor de produção de grãos ou de qualquer do com esses míseros 230 mil cruzeiros? Não é
setor produtivo, mas, sim, as taxas diárias de este o problema, não é esta a questão funda-
juros escorchantes cobrados por essas casas mental, não é este o item que faz com que o
que não são mais bancárias, mas de penhor, custo de produção aumente em progressão ge-
dirigidas por agiotas oficiais. ométrica, enquanto o valor dos produtos agrí-
Manifesto aqui, Sr. Presidente, a minha satis- colas sobe em progressão aritmética. Não é o
fação por ter participado, como coordenador, salário, Sr. Presidente: é, isto, sim, a liberalidade
de um debate internacional sobre um assunto do Governo, que permite que, de uma forma fá-
que me encanta e que, no meu entendimento, cil, se usurpe o dinheiro desta Nação.

Aldo Pinto
87
Sr. Presidente, o Rio de Janeiro foi, durante al-
guns dias. o centro do mundo, e concordo com
o Presidente da República quando diz que a Eco
92 não terminou no Rio de Janeiro. Mas quero
dizer a S.Exa. que, se esta é uma verdade, tam-
bém é preciso que entenda, de uma vez por to-
das, que não pode permitir que as instituições
financeiras continuem a espoliar esta Nação: é
preciso que entenda que é necessário reinvestir
num setor que tem capacidade de responder,
de forma mais rápida, mais definitiva, mais dire-
ta, às necessidades da população brasileira.
Era o que tinha a dizer.

88
Nelson Bornier

(Rio 92 – Avaliação crítica. Adequação O Sr. Nelson Bornier (PL-RJ. Pronuncia o


da legislação ambiental brasileira) seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Deputados, assistimos, com indisfarçável
Encerramento da Eco 92. Necessidade do satisfação, ao encerramento da Conferência
estudo, pelo poder legislativo, das decisões
desta conferência internacional; adequação
das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
de nossas leis à realidade ecológica. Desenvolvimento.
Sessão 16/06/1992 – DCD 17/06/1992, p. 13618 O Brasil se portou com dignidade, além das ex-
pectativas de todo o mundo. Mostramos capa-
cidade, espírito de organização, nível elevado
de civilidade, impressionando todos – autori-
dades, jornalistas, estudiosos e turistas – pelos
serviços de comunicações, hotelaria, seguran-
ça e apoio que prestamos e que não faltaram a
nenhum dos participantes daquele evento.
Infelizmente, Sr. Presidente, o volume de discur-
sos feitos na conferência não traduziu o mesmo
percentual de decisões práticas. A ecologia dis-
cursiva ainda é uma realidade que não atende

89
aos interesses maiores dos homens e da nature- a realização da Rio 92, não pode acomodar-se
za. O comportamento do Governo dos Estados diante das demais nações do mundo, mas deve
Unidos da América do Norte, que se negou a tornar-se o maior responsável na luta para que
somar-se à unanimidade em acordos relevan- todas as decisões da conferência sejam de fato
tes, foi um fator negativo na conferência. E de observadas e cumpridas por todos os governos
se perceber, no entanto, que a comunidade in- e países que tiveram assento naquele conclave.
ternacional não se acomodou à intransigência E mais, Sr. Presidente, este Poder Legislativo
da grande e poderosa nação americana, agindo deveria fazer um estudo das decisões da Eco
de modo livre em relação a esta, o que, em ver- 92, para que se examinasse a possibilidade ou
dade, se revelou positivo no contexto daquele a necessidade da adequação de nossas leis à
encontro das maiores autoridades mundiais. realidade ecológica brasileira, a qual se revelou
Passada a emoção da conferência encerrado o em razão daquela conferência. Nossa respon-
pano do grande palco, é preciso que as reso- sabilidade é grande neste sentido, pois, rece-
luções adotadas não caiam no esquecimento. bendo e hospedando o evento, não podemos
Necessário se faz que todas sejam realmente nos esquecer dos seus resultados, tornando-os
observadas e cumpridas, se em verdade quere- uma prática no Brasil, ainda que por força de
mos ver a natureza integrada à vida do homem leis a serem urgentemente editadas...
e o homem preservando-a e conservando-a
para o seu bem e das gerações futuras. A te-
oria tem sido o entrave ao esforço de quantos
lutam em favor da natureza. A retórica impede
que ações práticas venham a ser exercitadas.
Assim tem sido ao longo do tempo, e necessá-
rio se faz que esse círculo vicioso tenha o seu
término a partir dos resultados da Eco 92.
O Brasil, vanguardeiro na política ecológica
que se estabeleceu internacionalmente com

90
Rita Camata

(Rio 92 – Avaliação do papel do Parlamento A Sra. Rita Camata (PMDB-ES. Pronuncia o


brasileiro na construção de uma política ambiental seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
consentânea com as decisões da conferência) Deputados, conforme bem lembra Diogo de Fi-
gueiredo Moreira Neto, este final de século e
Importância da Conferencia Interparlamentar
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
de milênio há de marcar um fascinante câmbio
realizada em Brasília, Distrito Federal e da de prioridade política no Direito, pois “a conso-
Ação Parlamentar para a Implantação de lidação vitoriosa do ideal de legalidade já é uma
Objetivos traçados na Eco 92, realizada no conquista irredutível da humanidade”. Voltam-
Rio de janeiro, Estado do Rio de Janeiro. se agora todo o desvelo e esforço para “a afir-
Sessão 07/12/1992 – DCD 08/12/1992, p. 26135 mação jurídica do ideal de legitimidade”.
Neste contexto de busca de consolidação da
legitimidade, assume particular importância o
papel a ser desempenhado pelos parlamentos,
que não se limita à elaboração de leis e atos
normativos.
Sabido é que “em cada um dos estádios asso-
ciativos, os hábitos geram costumes, e esses,
instituições sociais; mas, apenas quando o

91
grupo toma consciência de si próprio eclode Assume, assim, importância particular a Con-
a ideia social de poder: não mais como um ins- ferência Interparlamentar sobre Meio Am-
trumento individual e egoísta do mais apto, biente e Desenvolvimento recentemente rea-
mas como um instrumento social de vocação, lizada nesta cidade.
meta individual”. Dela participaram representações de 49 pa-
“É nessa altura” – ressalta Diogo de Figueiredo íses e, dentre as afirmações que constam de
Moreira Neto – “que as instituições se diferen- seu documento final, é reconhecido o fato
ciam para canalizar o poder de direção do grupo de que, na Conferência das Nações Unidas
e se apresentam como instituições políticas”. E sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
alerta: “O poder, extremamente difuso na co- procurou-se algo além de simplesmente re-
munidade, eventualmente ganha personaliza- direcionar setores da atividade econômica ou
ção num patriarca, num cacique ou num pajé, produzir soluções temporárias – tentou-se,
mas somente na sociedade começa a transcen- ao contrário, redefinir a noção de desenvolvi-
der da concentração em pessoas para uma, con- mento, sedimentando-a em uma base de ra-
centração em instituições. Nessa passagem, do cionalidade, solidariedade e equidade, como
poder personalizado para o poder instituciona- caminho para garantir a sustentabilidade da
lizado, ele se aperfeiçoa enquanto instrumento, existência humana e condições de vida ade-
vocacionado a servir não mais a uma vontade quada para todos.
individual, mas a uma ideia”. É conhecido o fato de que os produtos da Con-
Vivemos, certamente, um momento histórico ferência do Rio emergiram sem que houvesse
em que a discussão, a troca, a procura de solu- contribuição direta dos parlamentos do mundo.
ções ganham importância, havendo uma valo- À medida que começa a implementar os resul-
rização dos parlamentos como veículos para a tados daquela Conferência, é, todavia, indis-
resolução de problemas e como instrumentos pensável a ação desses parlamentos, não como
de consenso, após a análise das ideias surgidas um requisito meramente legal ou estatutário,
do entrechoque social. mas também para preencher os vazios, solu-
cionar conflitos e para conferir aos resultados

92
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

da Conferência a necessária dimensão prática, atingir o desenvolvimento sustentável”, tanto


traçando-se as políticas de ação locais, com o pelas presentes como pelas futuras gerações.
aval do Poder Legislativo. Dentre as conclusões relativas à ação prática a
A ação dos parlamentos deverá, pois, dar con- ser desenvolvida por parlamentos e parlamen-
tinuidade ao processo iniciado no Rio, através tares, em nível nacional, cumpre destacarmos
de duas linhas principais de ação: os seguintes itens:
»» assegurando-se, primeiramente, de que 1. responsabilizaram-se os parlamentos e
resultados primários surjam nas esferas parlamentares presentes em desenvolver
nacionais, estabelecendo-se políticas de gestões, no sentido de que os governos
ação capazes de gerar bens locais e de con- que não assinaram, até o momento, as
tribuir para um efeito global cumulativo; Convenções de Biodiversidade e de Mu-
»» certificando-se, em segundo lugar, de que
danças Climáticas, façam-no sem maio-
as posições e programas apoiados pelos
res delongas;
diferentes governos possam alicerçar
desenvolvimento sustentado no mundo 2. comprometeram-se, igualmente, a esti-
todo, minimizando tanto a miséria quan- mular os diferentes governos a ratificar ou
to o desperdício. aderir aos outros tratados regionais e glo-
Estes aspectos são particularmente exemplifi- bais que se relacionem à proteção ambien-
cativos se considerarmos as disparidades hoje tal e desenvolvimento sustentáveis, tais
existentes no planeta, em que 25% das nações como a Convenção sobre Direito do Mar; a
mais ricas detêm 75% da renda mundial. No Convenção de Basileia a respeito do Con-
item 5 do documento final, textualmente está trole Transfronteiriço de Substâncias Pe-
declarado que “os parlamentares são os con- rigosas e sua Disposição; a Convenção de
dutores ou depositários da legitimação políti- Viena para a Proteção da Camada de Ozô-
ca da ação social e por estarem imbuídos desta nio, bem como o Protocolo de Montreal de
responsabilidade vital serão os primeiros a se- 1990 e suas emendas subsequentes;
rem cobrados, pelo sucesso ou fracasso em se 3. firmaram também o compromisso de for-
tificar as legislações ambientais locais

Rita Camata
93
aplicando as normas existentes que sejam seres humanos – já que a renda e condições
adequadas, ou, se for o caso, revisando-as materiais dos mais afortunados permitem-lhes
e emendando o que estiver inadequado, fugir dos ambientes pobres e das áreas degra-
coordenando-as com os compromissos dadas para viver e educar suas famílias em am-
contidos na Agenda 21 e demais docu- bientes sadios onde não seja hipotecada a saú-
mentos correlatos. de de seus filhos ou dos seus netos e bisnetos
Neste ponto, necessário é enfatizar-se a fun- lembremo-nos de que os efeitos mutagênicos
ção fiscalizadora dos parlamentos; temos, por e teratogênicos perpassam gerações.
exemplo, no Brasil, um sem-número de boas É importante refletirmos em profundidade a res-
leis que não descem à prática, por falta de con- peito das palavras do Secretário-Geral das Na-
vicção e fiscalização da ação executiva. ções Unidas ao encerrar a Conferência do Rio:
Necessário é, assim, que desempenhemos “Temos à nossa frente o grande
nosso papel de agentes conscientizadores e canteiro de obras planetário.
concretizadores do dever-ser que a legislação Conquanto o nível de engajamento
encerra, provocando o aprimoramento do de- não seja comparável à extensão e à
bate e da cidadania, com a consequente me- gravidade dos problemas globais, é
lhoria da eficácia administrativo-ambiental. um momento que serve aos processos
de conscientização, de tomada de
Como integrante da delegação brasileira, esta-
decisões e que deu lugar à mobilização.
mos providenciando cópias em português do A primeira conquista do Rio é a
documento final, para serem encaminhadas a forte ligação que solidamente se
todos os colegas. estabeleceu entre duas palavras de
Sugerimos, para próximo ano, que sejam apro- ordem: o desenvolvimento planetário
fundados neste Parlamento os estudos relati- e a proteção ambiental. A segunda
vos às conclusões das conferências que acon- aquisição da Conferência é iluminar
teceram neste ano, tendo-se presente o fato nossa estrada com uma luz diferente,
de que o direito ao ambiente equilibrado ante- que já denominamos “o espírito do
Rio”. Dele fazem parte três estratos:
cede a todos os demais direitos conferidos aos

94
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

uma dimensão intelectual, aquela da


coerência; uma dimensão econômica,
aquela do desenvolvimento planetário;
e, finalmente, uma dimensão política,
que é o sentido da perenidade, ou
seja, a responsabilidade. Senhoras
e Senhores, a estrada está traçada.
Não é o momento de repousar, pois
há tudo a fazer. Hoje é o homem um
destruidor formidável: à custa de seu
peso sobre a terra e de destruir a vida
à sua volta, vem colocando em risco
sua própria vida. A Terra tem uma
lamã. Reencontrá-la, ressuscitá-la,
tal é a essência do espírito do Rio.”
É vital, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
que aprofundemos nosso estudo e nosso conhe-
cimento relativamente ao problema ambiental,
do qual a saúde é o retrato fiel. Apenas assim
teremos base para formular nossas críticas
Precisamos conscientizarmo-nos de que não
somos representantes apenas de um segmen-
to social em um determinado local do Brasil –
somos artífices do presente e do futuro da Na-
ção brasileira.
Era o que tínhamos a dizer.

Rita Camata
95
Sarney Filho

(A Legislação ambiental brasileira O Sr. Sarney Filho (Bloco/PFL-MA. Sem re-


e o Congresso Nacional) visão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, vou utilizar este precioso espaço
A legislação ambiental brasileira: tendências parlamentar que é o Grande Expediente para
atuais e o papel do Congresso Nacional.
falar a respeito da questão ambiental. Faço-o
Sessão 04/08/1995 – DCD 05/08/1995, p. 16325 não somente por ser talvez um dos mais an-
tigos batalhadores da causa aqui, tendo sido
o primeiro signatário do requerimento para a
criação da Comissão de Defesa do Meio Am-
biente, em 1983, como também por ser agora,
o Presidente dessa Comissão.
Considero extremamente oportuno o enfoque
ambiental, uma questão cada vez mais rele-
vante dentro do nosso Congresso, como já o é
nos países desenvolvidos e para os organismos
internacionais.
Se olharmos retrospectivamente, seremos
compelidos a reconhecer que o tratamento

97
dado à questão ambiental evoluiu muito nas que, duas décadas depois, foi definitivamente
últimas três décadas, com reflexos evidentes consagrado na Conferência do Rio de Janeiro,
na esfera legislativa. a Rio 92. Nesse processo, os países em desen-
O movimento ambientalista, nas décadas de 60 volvimento desempenharam um papel funda-
e 70, foi marcado, pode-se dizer, pela denúncia mental, deslocando as atenções, então exclusi-
e pelas profecias apocalípticas sobre o futuro da vamente voltadas para os problemas causados
humanidade. As preocupações, especialmente pela afluência, para a questão da pobreza e do
nos países mais industrializados, dirigiam-se desenvolvimento.
sobretudo para os problemas da poluição e do As primeiras medidas na área legislativa,
explosivo crescimento populacional. acompanhando a evolução histórica do movi-
Com a evolução dos acontecimentos e o ama- mento ambiental, foram dirigidas para o con-
durecimento das discussões, aquelas atitudes trole da poluição, com o estabelecimento de
cederam lugar a posturas mais propositivas e re- padrões e normas de qualidade de efluentes, e
alistas que, respeitando as estruturas culturais, para a proibição, no campo da exploração agrí-
políticas e econômicas existentes, vêm procu- cola, florestal, mineral e outros recursos natu-
rando negociar, de forma gradativa mas segura, rais, de atividades consideradas degradadoras
a transição para uma sociedade sustentável. do meio ambiente.
O primeiro momento-chave nesse processo No Brasil, a partir de meados da década de 60
de consolidação do movimento ambientalista e especialmente nos últimos quinze anos, as-
e de uma postura mais pragmática foi sem dú- sistimos a aprovação de uma série de leis am-
vida a I Conferência Mundial sobre Meio Am- bientais, inclusive com a especial dedicação ao
biente e Desenvolvimento, então denominada tema de um Capítulo na Constituição Federal.
Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, A legislação ambiental brasileira é abrangente
realizada em Estocolmo, em 1972. e vem desempenhando um papel fundamental
A partir de Estocolmo começou a ser construí- na proteção da natureza e da qualidade am-
do o conceito de desenvolvimento sustentável biental. Não se pode, todavia, ignorar as cres-
centes dificuldades enfrentadas pelos poderes

98
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

públicos e pela própria sociedade para a apli- na maioria das vezes, só é mobilizado depois
cação efetiva dessas leis. que as águas já foram poluídas, as matas des-
Reconhece-se amplamente hoje que a melhor matadas, o solo contaminado.
forma de se proteger o meio ambiente é pre- As dificuldades não terminam aí. É sabido que
venindo sua degradação. Recuperar os am- as principais leis ambientais do País são fede-
bientes degradados é, em regras, mais custoso rais. Isto não seria, em princípio, um problema,
e, o que é pior, nem sempre possível, já que se esses documentos se limitassem a estabele-
os danos são muitas vezes irreversíveis. Além cer normas gerais, como, a propósito, estabe-
disso, a experiência vem demonstrando, espe- lece a Constituição Federal para as situações
cialmente na área industrial, que a adoção de em que compete à União, aos Estados e aos
princípios ecológicos, como a reciclagem e a Municípios legislar concorrentemente, como
conservação de energia, ao mesmo tempo em é o caso da área ambiental. O que se observa
que reduz os impactos negativos sobre o meio atualmente, entretanto, é o oposto, consequ-
ambiente, proporciona ganhos significativos ência talvez de uma excessiva vocação centra-
em termos de custos de produção, produti- lizadora do Governo Federal, aliada ao despre-
vidade e qualidade dos artigos produzidos. A paro da maior parte dos Estados e Municípios
adoção de uma postura preventiva em termos brasileiros para legislar e implementar uma
ambientais é seguramente o melhor e, em política ambiental consistente. O resultado é
muitos casos, o único caminho para assegurar que a imposição de regras minuciosas, elabo-
um meio ambiente sadio. radas na Capital Federal, em todo o território
Ocorre, todavia, que a legislação ambiental nacional, marcado, como sabemos, por uma
brasileira, à semelhança, na verdade, do que imensurável diversidade física, cultural e eco-
se observa em todo o mundo, é predominante- nômica, gera conflitos crônicos e insolúveis.
mente restritiva, proibitiva e policial. Esse tipo Além disso, a legislação ambiental abrange um
de lei cuida, em geral, dos efeitos e não das conjunto infindável de atividades dispersas por
causas dos danos ambientais. O aparato insti- um território de dimensões continentais. Os
tucional, nas esferas administrativa e judicial, órgãos ambientais não dispõem de recursos

Sarney Filho
99
materiais e humanos que lhes permitam cum- Multiplicam-se no Congresso projetos condi-
prir suas atribuições de fiscalização e controle cionando a ocupação do solo e uso dos recursos
comum mínimo de eficácia. naturais às normas ditadas pelos zoneamentos.
O resultado é conhecido: no confronto com O mesmo ocorre com relação aos decretos do
a realidade, as leis são simplesmente ignora- Executivo Federal. Por exemplo, o Projeto de Lei
das, desacreditadas, e tomam-se letra morta. nº 4.970, de 1985, que dispõe sobre a política flo-
Quando muito pune-se o pequeno produtor, o restal para a Amazônia, estabelece o Programa
caçador de subsistência, enquanto os grandes de Zoneamento Ecológico-Econômico da região
desmatadores, os grandes traficantes de espé- e determina que “seja vedado ao Poder Públi-
cies silvestres e mesmo aqueles que poluem co a concessão de crédito ou qualquer tipo de
em larga escala passam ao largo de qualquer incentivo aos empreendimentos que não obe-
constrangimento. deceram as normas definidas no zoneamento”
(art. 5°). Também o recente Decreto n° 1.282, de
Prevenir significa prever e evitar. Para isso, são
outubro de 1994, que, dentre outras medidas,
necessárias normas e instrumentos que esti-
regulamenta a exploração da Floresta Amazô-
mulem o planejamento e gestão racional do
nica, estabelece que “somente será permitida a
ambiente, que promovam o diálogo e a partici-
exploração a corte raso da floresta e demais for-
pação dos interessados na busca de soluções,
mas de vegetação arbórea da bacia amazônica
que assegurem a identificação precoce dos
em áreas selecionadas pelo Zoneamento Ecoló-
impactos negativos e a adoção de alternativas,
gico Econômico para uso alternativo do solo”.
que promovam, enfim, o que poderíamos cha-
mar a cultura da sustentabilidade. Esses dois instrumentos têm em comum o fato
de que não objetivam restringir atividades,
Nesse sentido, duas inovações relativamente
mas antes harmonizá-las com as exigências e
recentes, em termos de instrumentos legais
limites impostos pelo meio ambiente, ofere-
para a conservação e o uso sustentável do
cendo alternativas e introduzindo mecanis-
meio ambiente, merecem destaque: os estu-
mos de controle. Não impõem normas gerais
dos de impacto ambiental e o zoneamento
e inflexíveis, mas possibilitam soluções apro-
ecológico-econômico.

100
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

priadas à natureza do empreendimento e às tecnologias mais eficientes. Em outras pala-


características específicas do meio ambiente. vras, a introdução de mecanismos econômicos
Entretanto, instrumentos como os estudos de adequados obriga à atribuição de um preço
impacto ambiental e o zoneamento ecológico- apropriado para os recursos ambientais. Se o
econômico constituem apenas um primeiro valor econômico do meio ambiente é conta-
passo no sentido da adoção de normas capazes bilizado adequadamente, os bens e serviços
de promover a cultura da sustentabilidade. É ambientais são tratados em base de igualdade
fundamental ir além, com a institucionalização com os demais fatores de produção transacio-
de mecanismos que, mais do que orientar, pre- nados no mercado, o que assegura uma aloca-
miem a adoção, pelos agentes econômicos, de ção e um uso eficiente desses recursos.
métodos, técnicas e processos que salvaguar- Por outro lado, a incorporação dos custos am-
dem o meio ambiente, vale dizer, asseguran- bientais no preço dos produtos tem também
do a esses agentes maior competitividade no o propósito de interferir nas decisões do con-
mercado e maiores lucros. sumidor. O aumento dos preços dos produtos
Em linguagem econômica, o que se pretende ambientalmente mais nocivos envia um sinal
com esses mecanismos, que poderíamos cha- de mercado para que se procure um substituto
mar econômicos ou de mercado, é forçar a in- mais limpo. Na mesma medida em que reagi-
ternalização dos custos ambientais, as chama- rem os consumidores reagirão os produtores.
das externalidades ambientais negativas, nos A experiência tem demostrado que os instru-
custos internos de produção. mentos econômicos têm uma série de van-
Na medida em que os custos ambientais vão tagens, em relação às normas ou padrões de
sendo incorporados aos custos de produção, qualidade ambiental, que é o método tradicio-
vai-se tornando mais lucrativo não degradar nal com o qual os governos têm tentado equi-
o meio ambiente. A elevação dos preços esti- librar os custos privados com os custos sociais.
mula uma reorganização e racionalização dos A curto prazo, em geral garantem um certo
processos de produção, envolvendo a busca nível de melhoria ambiental a um custo social
de matérias-primas alternativas e aplicação de mais baixo, em função da liberdade que têm os

Sarney Filho
101
agentes econômicos para escolher os métodos te controláveis. Os instrumentos econômicos
de produção ou a tecnologia que consideram apresentam também uma maior flexibilidade.
mais eficientes, e também porque o custo ad- Para o administrador público, é frequentemen-
ministrativo para os governos é menor. A dife- te mais fácil e mais rápido modificar e ajustar
rença de custo entre regulamentações típicas uma determinada taxa ou imposto do que mu-
e instrumentos econômicos bem concebidos dar a legislação ou um regulamento.
pode ser, segundo alguns estudos americanos, Finalmente, os instrumentos econômicos cons-
de cinco a dez vezes. tituem uma fonte de recursos financeiros, que
A longo prazo, os instrumentos econômicos podem ser direcionada para programas especifi-
oferecem a empresas e pessoas um motivo camente ambientais ou utilizados como instru-
permanente para fazer mais do que exigem mento dentro de uma política fiscal mais ampla.
as normas. Se as empresas pagam uma tarifa É importante dizer que a cobrança pela utili-
mais alta, por exemplo, por quilo de resíduo zação de recursos naturais ou a tributação de
tóxico produzido, serão levadas a usar o míni- atividades ou produtos danosos ao meio am-
mo de material tóxico possível e a pesquisar biente não implica, necessariamente, um au-
novos processos que evitem sua utilização. mento da carga tributária sobre as empresas
Isso não se aplica apenas a indústrias. ou os consumidores. A incidência dos tributos
Os instrumentos econômicos apresentam vá- pode ser transferida do capital e do trabalho
rias outras virtudes. Por exemplo, podem afe- para emissões poluentes ou para a extração de
tar o comportamento de milhões de pessoas, o recursos naturais.
que muitas vezes é impossível através de nor- O que se observa hoje, na verdade, é que a
mas. Esse feito vai tomar-se tanto mais impor- maioria dos impostos é arrecadada sobre ati-
tante quanto mais os governos se derem conta vidades saudáveis à economia. Os Governos
de que a deterioração do ambiente é o resulta- obtém receitas sacrificando algum bem-estar
do, em grande parte, de milhões de decisões econômico. Em função do imposto de renda,
tomadas pelos mais diversos segmentos e não as pessoas trabalham um pouco menos do que
por umas poucas grandes empresas, facilmen- fariam, caso ele não existisse; em função de o

102
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

capital ser taxado, contam com um incentivo tindo o meio ambiente, porque proliferamos,
para poupar e para investir; menor do que, nas periferias das grandes cidades, os conjun-
de outro modo, poderia haver. Calcula-se que tos habitacionais, que promovem o desmata-
esses efeitos do sistema tributário custa anu- mento de grandes áreas e as pessoas não se
almente aos Estados Unidos de quatro a sete conta de onde vem a água para abastecer esse
por cento do PNB. conjunto, e para onde vai esta água, depois de
O Sr. Sérgio Carneiro – Nobre Deputado, utilizada. Se falamos de educação, falamos de
V.Exa. me concede um aparte? meio ambiente. Quando nós, que somos do
Nordeste, vemos crianças, com latas na cabe-
O Sr. Sarney Filho – Com todo prazer,
ça, ir buscar, a léguas de distância de sua casa,
Deputado Sérgio Carneiro.
água em açudes utilizados por homens e por
O Sr. Sérgio Carneiro – Deputado Sarney fi-
animais, estamos falando de meio ambiente.
lho, não queria interromper o brilhante pro-
Quando falamos de planejamento familiar, fa-
nunciamento de V.Exa.,, mas, como membro
lamos de meio ambiente, porque a explosão
da Comissão do Meio Ambiente, Defesa do
demográfica traz consequências graves ao
Consumidor e Minoria, da qual V.Exa. é Pre-
meio ambiente em todo o mundo. De forma,
sidente – e, diga-se de passagem, para tes-
nobre Deputado, que o parabenizo por esse
temunho deste Plenário, dirige-a muito bem
pronunciamento, e contribuo, modestamente,
quero associar – me humildemente a V.Exa.
com este aparte, fazendo estas observações,
neste aparte, dizendo que a despeito de to-
no intuito de que todos os companheiros aqui
dos esses avanços registrados por V.Exa. na
presentes possam defender em seus Estados
discussão ambiental, não só no Brasil, mas em
e em suas bases este componente ambiental
todo mundo, poderíamos avançar ainda mais,
existente em todas as questões do quotidiano
se as pessoas tivessem consciência de que em.
com as quais nós representantes do povo li-
todos os assuntos do nosso cotidiano está
damos diariamente, questões que traduzimos
presente a questão ambiental. Quanto discu-
aqui, nesta Casa, que é do povo. Mais uma vez,
timos, por exemplo, nobre Deputado Sarney
parabéns por seu pronunciamento,
Filho, a questão da habitação, estamos discu-
Sarney Filho
103
O Sr. Sarney Filho – Deputado Sérgio Carnei- meiros cinco anos espera-se uma arrecadação
ro, é com muita honra e com orgulho que in- de 4,3 bilhões de dólares.
corporo seu aparte ao meu pronunciamento. A Itália criou taxa de 10 centavos de dólar so-
Prossigo, Sr. Presidente. bre sacos plásticos, o que provocou uma queda
Os instrumentos econômicos ambientais po- de 40% no seu consumo. A Dinamarca intro-
dem incentivar a transição para uma socie- duziu um imposto sobre pesticidas vendidos
dade sustentável sem comprometer as metas em pequenas embalagens, uma vez que essas
orçamentais do Governo e assegurando, inclu- e seus conteúdos tóxicos tendem a terminar
sive, um maior desenvolvimento econômico. nos cestos de lixo domésticos. A Finlândia in-
troduziu um imposto sobre os navios petrolei-
Muitos países em todo o mundo já introduzi-
ros de caso simples que aportam no País, pois
ram impostos e taxas com fins ambientais. Um
esses petroleiros são mais susceptíveis a vaza-
levantamento detectou a existência de mais
mentos se vierem a encalhar.
de 50 impostos ambientais, inclusive impostos
sobre a poluição do ar e da água, lixo e barulho, A Itália gostaria de aumentar substancialmen-
assim como várias tarifas sobre produtos tais te suas tarifas de desembarque pelo barulho
como fertilizantes e baterias. das aeronaves e tributa as fazendas que pos-
suem mais de duzentos porcos mas não dis-
No Reino Unido, um imposto maior sobre a ga-
põe de instalações para o tratamento de lixo.
solina com chumbo aumentou a participação
A Dinamarca planeja multiplicar por dez sua
da gasolina sem chumbo de 4% em abril de
taxação de matéria-prima e triplicar a atual
1989 para 30% em março de 1990. E no fim de
do lixo, duas medidas que visam economizar
1989 0 Congresso dos EUA aprovou um impos-
a escassez de terrenos para aterros sanitários.
to sobre a venda de clorofluorcarbonos (CFC),
Tanto Cingapura como Oslo cobram pedágios
destruidores da camada de ozônio, para ace-
de carros que entram no centro da cidade.
lerar o fim gradativo da sua fabricação, que os
americanos decidiram interromper completa- Mais de uma dúzia de nações industrializadas
mente em tomo do ano 2000. Durante os pri- planejam, atualmente, reduzir suas emissões
de dióxido de carbono. Uma das medidas pro-

104
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

váveis é a taxação do carbono contido no car- ano 2000. Quando completamente implemen-
vão, petróleo e gás natural. Os impostos sobre tado, o imposto poderia gerar 120 bilhões de dó-
o carbono foram colocados em prática na Fin- lares em receitas volume equivalente a 30% da
lândia e nos Países Baixo, no Começo de 1990; receita federal de Impostos de Renda individuais
e a Suécia começou a cobrá-los a partir de 1991. em 1988. As emissões de carbono poderiam ser
No final de 1990, os 12 ministros do meio am- 37% menores do que as agora projetadas para o
biente da Comunidade Europeia (CE) reuniram- ano 2000, enquanto a eficiência energéticas do
se em Roma para discutir a possibilidade de País melhoraria em cerca de 23%.
estabelecer impostos ambientais para toda Co- Um grupo de pesquisadores alemães propôs
munidade. Não foi alcançado um acordo, mas um conjunto variado de impostos que teria
o encontro assegurou a inclusão dos impostos coletivamente arrecadado mais de 136 bilhões
ambientais na agenda política da Europa. de dólares.
Nos Estados Unidos, muitos impostos energé- É essencial enfatizar que a adoção de instru-
ticos foram propostos, incluindo maiores taxa- mentos econômicos não proporcione benefí-
ção sobre a gasolina, novas taxas sobre o pe- cios apenas ambientais, mas também, o que é
tróleo importado e impostos sobre o conteúdo particularmente importante, econômicos.
de carbono dos combustíveis fosseis. Entre es- O que se pode constatar hoje é que muitas das
ses, os impostos incidentes sobre o carvão na firmas que há dez ou quinze anos formaram
mina, sobre o petróleo no campo de poços ou equipes para pesquisar e desenvolver tecnolo-
terminal de descarga e sobre o gás natural na gia inovadas, a fim de se ajustarem aos novos
fonte são os que mais eficientes ti efetivamen- padrões ambientais, estão atualmente entre
te devem reduzir as emissões de carbono. as mais competitivas em seus campos, tanto
Um estudo americano de agosto de 1990 exami- no plano nacional quanto no internacional.
nou o efeito da criação de um imposto sobre o A maior eficiência e produtividade industrial
carbono durante a década seguinte, começando induzida pelas políticas ambientais não pro-
com 11 dólares por toneladas de carbono em 1991 duz efeitos apenas no ambiente de cada uma
e aumentando para 110 dólares por toneladas no
Sarney Filho
105
das empresas. Esses efeitos somados impõe A explicação para os efeitos positivos das po-
mudanças em escala nacional. É natural ima- líticas ambientais sobre a rentabilidade das
ginar, sobretudo tendo em vista experiências empresas é na verdade bastante simples: a
passadas, que o crescimento industrial se faça poluição é uma forma de desperdícios e um
acompanhar de aumentos correspondentes no sintoma de ineficiência industrial. Os resídu-
consumo de energia e matéria-prima. Nos últi- os, lixo, os efluentes, são um guia seguro para
mos dois decênios, porem, esses previsível pa- identificar onde e em que medida uma empre-
drão parece ter mudado radicalmente. À me- sa precisa interferir para aumentar sua eficiên-
dida que as economias desenvolvidas foram cia econômica.
crescendo, a demanda de matéria básicos, in- Um sinal marcante do consenso que começa a
clusive água e energia, foram-se estabilizando; se formar em tomo da importância da adoção
em certos casos, chegaram mesmo a declinar, de instrumentos econômicos ambientais são
em termos absolutos. os documentos assinados durante a Eco 92.
As duas altas dos preços do petróleo dos anos Especialmente importante é a Declaração do
70 obrigaram muitos países a pouparem di- Rio de Janeiro, que estabelece, no seu Princí-
nheiro com medidas de conservação, de busca pio n° 16, o seguinte: “As autoridades nacionais
de outros combustíveis e de aumento do ren- devem esforçar-se para promover a internali-
dimento energético global. Tais fatos demons- zação dos custos de proteção do meio am-
traram a importância das políticas de fixação biente e o uso de instrumentos econômicos,
de preços de energia, que levam em conta os levando-se em conta o conceito de que o po-
estoques atuais, os índices de esgotamento, luidor deve, em princípio, assumir o custo da
a disponibilidade de substitutos e qualquer poluição, tendo em vista o interesse do públi-
dano ambiental associado à estação ou ao co, sem desvirtuar o comércio e os investimen-
processamento. Também revelaram o poten- tos internacionais”.
cial das políticas de preços semelhantes para
Seguindo esta orientação, a Carta de Princí-
outras matérias-primas.
pios sobre Florestas diz que “a incorporação
dos custos e benefícios ambientais nas forças

106
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

e mecanismos de mercado, com o fim de al- por sua utilização. A remuneração pela utili-
cançar a conservação e o uso sustentável das zação dos recursos hídricos consta do Código
florestas, deve ser encorajada doméstica e de Águas de 1934. O princípio é tradicional no
internacionalmente” e “Políticas adequadas, campo da irrigação e vem-se estendendo a ou-
dirigidas ao manejo, conservação e desenvol- tros setores envolvidos no uso das águas.
vimento sustentável das florestas, incluindo, Mais recentemente, a Lei nº 6.938, de 31 de
quando for apropriado, incentivos, devem ser agosto de 1981, que instituiu a Política Nacio-
encorajados”. (Princípio 13, alíneas c e d). nal do Meio Ambiente, afirma como um dos
A Convenção sobre Diversidade Biológica, no seus objetivos “a imposição, ao poluidor e ao
art. 11. que trata de “Incentivos”, recomenda predador, da obrigação de recuperar e indeni-
que: “Cada Parte Contratante deve, na medida zar os danos causados e, ao usuário da contri-
do possível e conforme o caso, adotar medidas buição pela utilização de recursos ambientais
econômicas e socialmente racionais que sirvam com fins econômicos”. (Art. 4°, inciso Vll).
de incentivos à conservação e utilização susten- O princípio da cobrança pela utilização de re-
tável de componentes da diversidade bioIógica”. cursos hídricos foi introduzido nas Constitui-
Também a Agenda 21 recomenda a cobrança ções de São Paulo, Rio de Grande do Sul, Rio
pela utilização do recurso hídrico, levando-se de Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas e do Mato
em conta o seu custo marginal. Grosso, encontrando-se em curso, em alguns
No Brasil, a utilização de instrumentos eco- casos, leis regulamentadoras.
nômicos como um mecanismo de política Finalmente, é importante dizer que os me-
ambiental ainda é incipiente. Não obstante, canismos econômicos para a promoção da
o princípio está, desde há muito, presente na sustentabilidade não se limitam a impostos e
legislação nacional. taxas. Há um amplo espaço para o desenvol-
O Código Civil estabelece que o uso comum vimento de instrumentos inovadores. Nesse
dos bens públicos pode ser gratuito ou retri- sentido, merece citação o sistema, introduzido
buído, o que autoriza, portanto, a cobrança no Paraná e, salvo engano, também no Estado
de São Paulo, de compensação financeira dos
Sarney Filho
107
Municípios que abrigam em seu perímetro uni- ditorias ambientais periódicas; e os certificados
dades de conservação, mediante uma porcenta- de qualidade ambiental, como ISO 14000.
gem maior dos recursos gerados pelo ICMS. Es- A respeito disso, Sr. Presidente, na próxima
sas áreas protegidas são, muitas vezes, criadas terça-feira, o Ministério do Meio Ambiente
para beneficiar toda uma região, em prejuízo estará promovendo um seminário sobre a im-
relativo dos Municípios atingidos, isto é, os da plantação do ISO 14000; é um encontro mui-
proteção, em termos de restrições ao uso dos to importante e será aberto não somente aos
recursos naturais, são desigualmente distribuí- membros da Comissão de Defesa do Consumi-
dos. Com o ICMS ecológico, muitos Municípios dor, Meio Ambiente e Minorias, mas também
tiveram um aumento sensível na sua receita. a todos os Deputados interessados nesse selo
Esse mecanismo, além de dar maior legitimi- padrão-qualidade, que, certamente, dentro em
dade às áreas já existentes, estimula sua manu- breve, será obrigatório para que qualquer pro-
tenção e a criação de outras novas. Com esse duto possa ser vendido internacionalmente. A
mesmo propósito está em tramitação no Con- despeito dessas iniciativas, porém a verdade
gresso Nacional o Projeto de Lei Complemen- é que todo o trabalho nesta área está ainda
tar n° 127/92 propondo a criação de uma reserva por ser feito. Sr. Presidente, gostaria, se tives-
dos recursos do Fundo de Participação dos Mu- se tempo – mas não tenho – de citar o que a
nicípios destinada aos Municípios que abrigam Comissão de Defesa do Meio Ambiente e do
em seus territórios áreas naturais protegidas. Consumidor tem feito a esse respeito.
Outros exemplos de propostas criativas são as Só para ilustrar, Sr. Presidente, tivemos 43 reuni-
Reservas Particulares do Patrimônio Nacional, ões de audiência pública para discutir recursos
que, como o nome indica, são criadas por inicia- hídricos, política educacional e ambiental, Mata
tiva dos proprietários privados e estão isentas Atlântica, enfim, fizemos um trabalho que certa-
do pagamento do Imposto Territorial Rural – mente dará uma valiosa contribuição ao aperfei-
ITR; o selo verde, para identificar produtos fa- çoamento de nossa legislação, apontando cami-
bricados dentro de padrões ambientais; as au- nhos para essa complexa causa ambiental.

108
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Em questões novas e promissoras, como a do


pagamento de royalties pelo uso de recursos
genéticos, nos quais somos particularmente
ricos, ou pelo uso do conhecimento acumula-
do pelas populações tradicionais, com base no
princípio do direito de propriedade, pouco se
fez em todo o mundo.
Há, portanto, um longo caminho a percorrer
nesta que, no meu entender é a direção que
deverá ser trilhada pelo trabalho legislativo
nas próximas décadas. Essa é uma obra cole-
tiva, que vai demandar a colaboração de todos
os setores da sociedade, incluindo Parlamen-
tares, técnicos e peritos das mais diversas áre-
as, órgãos de governo e entidades privadas,
empresários, organizações não-governamen-
tais, e a população em geral.
Nesse processo, estamos convencidos de que
o Congresso Nacional, palco por excelência do
debate e escolha dos rumos do País, saberá
cumprir com o seu fundamental papel na defe-
sa do direito, das atuais e futuras gerações, ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida.

Sarney Filho
109
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável
Rio+10
Discursos de Deputados – Plenário
Luiz Ribeiro

(Rio+10 – Participação do Brasil) O Sr. Luiz Ribeiro (PSDB-RJ. Pela ordem.


Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Pre-
Elogio ao Ministro do Meio Ambiente, sidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta
José Carlos Carvalho, pela realização tribuna destacar a participação do Brasil nas
de reuniões prévias de preparação da
Cúpula Mundial Sobre Meio Ambiente e
reuniões prévias de preparação para a Cúpula
Desenvolvimento Sustentável (Rio+10). Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento Sustentável (Rio+10), que será realiza-
Sessão 15/05/2002 – DCD 16/05/2002
da de 26 de agosto a 4 de setembro em Joha-
nesburgo, África do Sul, com representantes
do mundo todo, para avaliar os resultados ob-
tidos na Eco 92.
Em outubro de 2001 foi realizado, no Rio de
Janeiro, o XIII Fórum dos Ministros do Meio
Ambiente da América Latina e Caribe. No en-
contro, o então Ministro Sarney Filho enfatizou
a indiferença dos países industrializados aos
compromissos assumidos para a sustentabili-
dade do planeta e ainda o compromisso destes

115
com o mundo ante os impactos ambientais que discussões sobre o combate à pobreza. Para o
suas economias têm causado. Destacou ainda Ministro do Meio Ambiente, a ênfase no com-
que deve ser cobrado dos países do Primeiro bate à pobreza desvia o foco do debate sobre
Mundo o cumprimento das ações tratadas e os padrões de produção e de consumo das
acertadas na Eco 92, como o desconto de par- economias industrializadas, principal causa da
te da dívida externa dos países em desenvolvi- poluição ambiental em escala planetária. Para
mento que investirem em meio ambiente e o S.Exa., a pobreza será discutida no contexto do
repasse de, pelo menos, 0,7% do PIB dos países desenvolvimento sustentável e não no modelo
desenvolvidos para projetos ambientais. Quase clássico da filantropia internacional.
nada foi realizado, ficando apenas no papel. Realiza-se nesta quarta-feira, dia 15, no Memo-
Na reunião, ficou acertado que países latinos rial da América Latina, em São Paulo, com a
e caribenhos abordarão, em Johanesburgo, os participação do Ministro José Carlos Carvalho,
seguintes temas: conversão em projetos de a 7ª Reunião do Fórum de Ministros de Meio
meio ambiente das dívidas externas dos países Ambiente da América Latina e Caribe, para a
em desenvolvimento; conservação e uso sus- definição da posição conjunta de desenvolvi-
tentável da biodiversidade; mudanças climáti- mento sustentável destes países a ser apre-
cas; adesão de todos os países ao Protocolo de sentada no evento Rio+10.
Kyoto; Agenda 21; entre outros pontos. Era o que tinha a dizer.
Com a saída de Sarney Filho, o Ministro José
Carlos Carvalho tem dado continuidade aos
trabalhos de discussão para a Rio+10 de for-
ma clara e objetiva. Em reunião com o repre-
sentante da União Europeia, para discutir a
agenda da reunião da cúpula, o Vice-Primeiro-
Ministro britânico não gostou do que ouviu e
discordou do representante europeu. O ob-
jetivo dos países desenvolvidos é priorizar as

116
Edinho Bez

(Rio+10 – Conexão entre o desenvolvimento O Sr. Edinho Bez (PMDB-SC. Pela ordem.
econômico, a proteção ambiental Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presi-
e a responsabilidade social) dente, Sras. e Srs. Deputados, a natureza e a
pessoa humana são os dois maiores bens que
Transcurso do Dia Mundial do Meio
Ambiente – 5 de junho. Importância
Deus, na sua infinita bondade, dispôs sobre a
da conciliação do desenvolvimento terra. É interessante observar que um depende
socioeconômico com a preservação do outro e que ambos, com a balança ajustada,
ambiental. Realização da Cúpula Mundial são capazes de propiciar a continuidade da vida
sobre Desenvolvimento Sustentável, neste fabuloso planeta, num convívio pacífico.
em Johannesburgo, na África do Sul.
Se os dois são produtivos num campo har-
Sessão 04/06/2002 – DCD 05/06/2002, p. 28418 mônico e conduzem seus próprios interesses;
num trabalho transparente e integrado, ga-
nham o desenvolvimento dos países e, sobre-
tudo, a paz mundial.
O Brasil tem 5,5 milhões de quilômetros qua-
drados de florestas tropicais, com a maior ri-
queza de biodiversidade do planeta. Tem 12%
do volume de água doce do mundo e infinitos

117
valores farmacológicos, biológicos e genéticos próprio hábitat, buscando a melhoria da qua-
que constituem um valioso patrimônio para lidade de vida na terra.
nós e os nossos descendentes. Calcula-se que Não é fácil balancear os interesses da eco-
o mercado mundial de produtos biotecnoló- nomia e os da ecologia. Os primeiros preo-
gicos gera cerca de US$ 600 bilhões por ano; cupam-se com os resultados econômicos da
que 25% dos medicamentos receitados pelos utilização dos recursos naturais e os segundos
médicos são encontrados nos vegetais; e que dedicam-se a estudar e resguardar a natureza
o setor florestal movimenta algo em torno de para que as gerações futuras possam subsistir
US$ 400 bilhões anualmente, gerando 60 mi- neste planeta. Acredito que um pode cooperar
lhões de empregos. com o outro e que os dois encontrem soluções
A sociedade mundial tem uma triste história apropriadas, numa moderada convivência,
secular que registra a ação predatória na na- para que as pessoas desfrutem de todos os be-
tureza executada pelo ser humano. Em vários nefícios que a ciência e a tecnologia colocam à
países existem regiões que foram demolidas, disposição da humanidade.
extintas e abandonadas pela autodestruição Pensando assim, uma nova situação foi criada:
do homem, que não teve o zelo de conservar os negócios doravante serão desenvolvidos
seu próprio meio ambiente. com preocupações ambientais crescentes e
Desde a época colonial, houve o desmata- com responsabilidade social. Nota-se que an-
mento de nossas florestas, poluição dos rios, tes os compradores escolhiam preços baixos,
excessiva exploração dos minerais, erosão de qualidade, e conferiam prazos de validade;
terras agricultáveis, contaminação dos solos, atualmente, querem mais: exigem produtos
secas devastadoras e grandes enchentes. ecologicamente adequados. Esse é o novo per-
O tempo passou e os problemas ambientais fil do consumidor que deseja contribuir para a
continuam a existir, mas a população come- preservação do nosso meio ambiente.
çou a tomar consciência de que ela também é É importante comentar os atuais problemas
responsável por esse desastre, e não só pode ambientais que estão preocupando a comuni-
como deve participar da recuperação do seu

118
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

dade estudiosa e a população: a água, a polui- como os pesticidas, fertilizantes, dejetos in-
ção, o lixo e o clima. dustriais e metais pesados ameaçam as águas
O Brasil é um país privilegiado por sua imen- subterrâneas e os solos dos países em desen-
sa variedade de córregos, riachos, rios, lagoas volvimento. As indústrias da construção civil,
e cachoeiras, que são utilizados no abasteci- plástico, alumínio, vidro, papel e de embala-
mento, na irrigação, na pesca, na navegação e gens estão preocupadas como seus produtos e
na geração de energia. A água faz parte essen- subprodutos, que podem aumentar os índices
cial de nossas vidas, é a seiva do nosso planeta. de poluição que danificam o ambiente.
Sem ela não podemos conceber como seriam a Existe no Brasil uma séria discussão: o destino
atmosfera, o clima, a vegetação, a agricultura e de 250 mil toneladas de lixo domiciliar e indus-
a indústria. Para conseguir água potável é ne- trial e de 4 mil toneladas de resíduos produzi-
cessário captação, investimento, tratamento e dos pelos serviços de saúde, que são coletadas
distribuição; por isso deve ser manipulada com a cada dia, com materiais patogênicos – capa-
racionalidade e precaução. Se, por uma lado, zes de transmitir doenças, químicos – poten-
ela é uma herança de nossos predecessores, cialmente tóxicos e radiativos. O lixo conso-
ela será um empréstimo aos nossos sucesso- me de 7 a 10% do orçamento dos Municípios.
res. Assim a sua utilização e gestão necessitam Quase todos esses produtos perigosos estão
de planejamento que leve em conta a solida- sendo despejados no ambiente sem tratamen-
riedade e o consenso, em razão da distribuição to adequado, muitas vezes sem nenhum trata-
desigual sobre a terra. mento, por causa da dificuldade financeira das
Quanto à poluição, deve-se analisá-la como Prefeituras. Existem lixos orgânicos, inorgâni-
um fator que contamina o ar, a água, o solo e cos, biodegradáveis, não-biodegradáveis, de
os cinco sentidos do ser humano, sendo ca- decomposição rápida e decomposição lenta.
paz de provocar enfermidades e até mesmo Mas apenas 4% do volume do lixo brasileiro é
a morte dos animais e dos vegetais. Ela pode reaproveitado. Por enquanto, a solução mais
ser a mãe das crises no futuro, caso não sejam eficiente para esse problema está nos três er-
tomadas providências adequadas. Poluentes res: reduzir, reaproveitar e reciclar.

Edinho Bez
119
Quanto ao clima, a terra deve esquentar mais controle dos desmatamentos; cuidados com a
rápido e com consequências devastadoras nos desertificação e incêndios florestais; incentivo
próximos cem anos. A principal causa desse à reciclagem; implantação de tecnologias de
aquecimento é a emissão de gases causado- controle ambiental; apoio à expansão do uso
res do efeito estufa, como o gás carbônico e do selo verde e manutenção de infraestrutura
o metano. O Protocolo de Kyoto, que o Bra- de visitação em nossos Parques Nacionais.
sil aprova, obriga todos os países poluidores a Defendo a ideia de que o desenvolvimento
uma redução dessa emissão em 5,2% menores sustentado deve ater-se ao aproveitamento
do que os níveis do total emitido em 1990, pois mais eficaz de recursos naturais disponíveis e
o aquecimento global começou a afetar a flora à preservação do meio ambiente. Isso implica
e a fauna em todo o planeta. O compromisso multiplicar a responsabilidade dos Governos,
social das pessoas e das empresas com o meio dos agentes econômicos e dos cidadãos na
ambiente deve ser permanente, atencioso e conservação do nosso hábitat, com medidas
racional, devendo haver consciência de todos, preventivas, ações repressivas e atividades
evitando sua deteriorização. compartilhadas. Através desse esforço conjun-
É preciso que se dê um basta à prepotência hu- to evitar-se-ia o colapso do ambiente, o que
mana, ao desrespeito para com seu próprio há- poderia propiciar verdadeiro declínio na quali-
bitat. Preconizo a necessidade de que sejam to- dade e na perspectiva de vida da humanidade.
madas algumas medidas: redução da emissão Tenho certeza de que o Governo Federal tem
de gases; combustíveis a partir da biomassa; muito a relatar de construtivo na Cúpula Mun-
proteção contra os acidentes industriais; pre- dial sobre Desenvolvimento Sustentável, em
servação das espécies ameaçada de extinção; Johannesburgo, na África do Sul, em setembro
estímulo ao uso de fontes de energia renová- próximo, pois os pontos da Agenda 21 foram
veis; incentivo aos licenciamentos ambientais; implementados com firme determinação no
proibição das queimadas; conservação dos re- País. Para exemplificar, em 1997, foi instituí-
cursos hídricos; divulgação da defesa da eco- da a destacada Lei das Águas; em 1998, a Lei
logia nas escolas; zelo pelos resíduos sólidos; do Crimes Ambientais; e entre 1994 a 2000,

120
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

os recursos para os projetos do Ministério do


Meio Ambiente cresceram de R$ 286 milhões
para R$ 1,6 bilhão. Há permanente diálogo de
cooperação entre o Governo Federal e as lide-
ranças da sociedade civil, na sua pluralidade,
em torno das soluções para os desafios exis-
tentes, com estratégias de gestão, na busca da
recuperação e da conservação no nosso meio
ambiente, que é fonte permanente de vida.
Estamos no caminho certo, lamentando ape-
nas alguns falsos representantes da nossa na-
tureza, mas como disse, alguns, pois a maio-
ria dos que têm visitado meu gabinete, aqui
em Brasília, mostra seriedade, competência e
comprometimento com a causa.
Era o que tinha a dizer.

Edinho Bez
121
Nilton Capixaba

(Rio+10 – Questões ambientais presentes O Sr. Nilton Capixaba (PTB-RO. Pronuncia


desde a Rio 92. Plano Agropecuário e o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e
Florestal do Estado de Rondônia) Srs. Deputados, na passagem do dia 5 de ju-
nho – Dia Mundial do Meio Ambiente –, não
Transcurso do Dia Mundial do Meio
Ambiente – 5 de junho. Realização da
poderia deixar de fazer um chamamento à
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento reflexão das autoridades de Rondônia: Go-
Sustentável, em Johannesburgo, África vernador, Secretários de Estado, Senadores,
do Sul. Importância do desenvolvimento Deputados Federais, Deputados Estaduais,
sustentável na preservação ambiental. Êxito Prefeitos, Vereadores, sociedade civil organi-
do Zoneamento Socioeconômico Ecológico zada, organizações não-governamentais e, de
e do Plano Agropecuário e Florestal do
Estado de Rondônia – PLANAFLORO
modo especial, produtores de Rondônia.

Sessão 11/06/2002 – DCD 12/06/2002, p. 30023


Nada melhor me ocorreu do que transcrever
em meu discurso trechos selecionados da in-
trodução do Relatório Brundtland, documen-
to básico da Conferência Mundial sobre Meio
Ambiente – Rio 92.
Quando se avizinha a realização, em Johanes-
burgo, da Rio+10, continua oportuna e da maior

123
correção a releitura do documento da ex-Minis- relativas ao meio ambiente. Muitas formas
tra Gro Harlem Brundtland, que é verdadeira de desenvolvimento desgastam os recursos
expressão dos riscos que representam o modo ambientais nos quais se deviam fundamen-
de vida dos povos ricos para a vida da Terra. tar, e a deterioração do meio ambiente pode
Os que buscam o êxito e sinais de esperanças prejudicar o desenvolvimento econômico. A
podem encontrar muitos: a mortalidade infantil pobreza é uma das principais causas e um dos
está em queda; a expectativa de vida humana principais efeitos dos problemas ambientais
vem aumentando; o percentual de adultos, no no mundo. Portanto, é inútil tentar abordar es-
mundo, que sabem ler e escrever está em as- ses problemas sem uma perspectiva mais am-
censão; o percentual de crianças que ingressam pla, que englobe os fatores subjacentes à po-
na escola está subindo; e a produção de alimen- breza mundial e à desigualdade internacional.
tos aumenta mais depressa que a população. Tais preocupações levaram a Assembleia Geral
No tocante ao desenvolvimento, há, em ter- da Organização das Nações Unidas – ONU a
mos absolutos, mais famintos no mundo do criar, em 1983, a Comissão Mundial sobre Meio
que nunca, e seu número vem aumentando. O Ambiente e Desenvolvimento. A Comissão é
mesmo ocorre com o número de analfabetos, um organismo independente, vinculado aos
com o número dos que não dispõem de água governos e ao sistema das Nações Unidas, mas
e moradia de boa qualidade e nem de lenha e não sujeito a seu controle.
carvão para cozinhar e se aquecer. Amplia-se, As atribuições da Comissão têm três objetivos:
em vez de diminuir, o fosso entre as nações reexaminar as questões críticas relativas ao
ricas e pobres, dadas as circunstâncias atuais meio ambiente e ao desenvolvimento e formu-
e as disposições institucionais. E há poucas lar propostas realísticas para abordá-las; pro-
perspectivas de que essa tendência se inverta. por novas formas de cooperação internacional
Os governos e as instituições multilaterais nesse campo, de modo a orientar políticas e
tornaram-se cada vez mais conscientes da im- ações no sentido das mudanças necessárias;
possibilidade de separar as questões relativas dar a indivíduos, organizações voluntárias,
ao desenvolvimento econômico das questões empresas, institutos e governos maior com-

124
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

preensão desses problemas, incentivando-os a usou uma grande parte do capital ecológico do
uma atuação mais firme. planeta. Essa desigualdade é o maior problema
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, até re- “ambiental” da Terra. É também seu maior pro-
centemente o planeta era um grande mundo no blema de “desenvolvimento”.
qual as atividades humanas e seus efeitos esta- A recente crise africana ilustra bem, de modo
vam nitidamente confinados em nações, setores bastante trágico, como a economia e a eco-
(energia, agricultura, comércio) e amplas áreas logia podem interagir de forma destrutiva e
de interesse (ambiental, econômico, social). Es- precipitar o desastre. Essa crise, desencadea-
ses compartimentos começaram a se diluir. Isso da pela seca, tem causas reais mais profundas,
se aplica em particular às várias “crises” globais em parte nas políticas nacionais que dispen-
que preocuparam a todos, sobretudo nos últi- saram pouquíssima atenção – e mesmo assim
mos dez anos. Não são crises isoladas: uma crise demasiado tarde – às necessidades da agricul-
ambiental, uma do desenvolvimento, uma crise tura de pequena escala e aos riscos inerentes a
energética. São uma só crise. rápidos aumentos populacionais. As raízes da
Nos últimos decênios, surgiram no mundo em crise estendem-se também a um sistema eco-
desenvolvimento problemas ambientais que nômico mundial que retira de um continente
põem em risco a vida. O número crescente pobre mais do que lhe dá. Não podendo pagar
de agricultores e de sem-terras vem gerando suas dívidas, as nações africanas que depen-
pressões nas áreas rurais. As cidades se en- dem da venda de produtos primários veem-se
chem de gente, carros, fábricas. E no entanto obrigadas a superexplorar seus solos frágeis,
esses países em desenvolvimento têm de atu- transformando assim terras boas em desertos.
ar num contexto em que se amplia o fosso en- Por causa das barreiras comerciais impostas pe-
tre a maioria das nações industrializadas e em los países ricos – e por muitos países em desen-
desenvolvimento, em matéria de recursos, em volvimento –, os africanos têm dificuldades de
que o mundo industrializado impõe as normas vender seus produtos a preços razoáveis, o que
que regem as principais organizações interna- pressiona ainda mais os sistemas ecológicos.
cionais e em que esse mundo industrializado já

Nilton Capixaba
125
Devido à “crise da dívida” da América Latina, senvolvimento sustentável é preciso atender
os recursos naturais dessa região estão sendo às necessidades básicas de todos e dar-lhes a
usados não para o desenvolvimento, mas para oportunidade de realizar suas aspirações de
cumprir as obrigações financeiras contraídas uma vida melhor. Um mundo onde a pobreza é
com os credores estrangeiros. endêmica estará sempre sujeito a catástrofes
Esse enfoque do problema da dívida é insensa- ecológicas ou de outra natureza.
to sob vários aspectos: econômico, político e Para que haja desenvolvimento global susten-
ambiental. Exige que países relativamente po- tável é necessário que os mais ricos adotem
bres aceitem o aumento da pobreza, ao mesmo estilos de vida compatíveis com os recursos
tempo em que exportam quantidades cada vez ecológicos do planeta – quanto ao consumo
maiores de recursos escassos. de energia, por exemplo. Além disso, o rápi-
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a hu- do aumento populacional pode intensificar a
manidade é capaz de tornar o desenvolvimen- pressão sobre os recursos e retardar qualquer
to sustentável, de garantir que ela atenda às elevação dos padrões de vida. Portanto, só se
necessidades presentes sem comprometer a pode buscar o desenvolvimento sustentável se
capacidade de as gerações futuras atenderem o tamanho e o aumento da população estive-
também às suas. rem em harmonia com o potencial produtivo
cambiante dos ecossistemas.
O conceito de desenvolvimento sustentável
tem, é claro, limites – não limites absolutos, Afinal, o desenvolvimento sustentável não é
mas limitações impostas pelo estágio atual da um estado permanente de harmonia, mas um
tecnologia e da organização social, que podem processo de mudança no qual a exploração
ser geridas e aprimoradas, a fim de proporcio- dos recursos, a orientação dos investimentos,
nar uma nova era de crescimento econômico. os rumos do desenvolvimento tecnológico e
a mudança institucional estão de acordo com
Para a Comissão Mundial sobre Meio Ambien-
as necessidades atuais e futuras. Sabemos que
te e Desenvolvimento, a pobreza generalizada
não é um processo fácil, sem tropeços. Es-
não é apenas um mal em si. Para haver de-
colhas difíceis terão de ser feitas. Assim, em

126
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

última análise, o desenvolvimento sustentável A revolução da convenção de 1992 consiste no


depende de empenho político. fato de que nela se reconheceu a soberania
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, empenho de cada país sobre seus recursos genéticos. A
político ou vontade política é um ingrediente biodiversidade deixou de ser de livre acesso.
que parece ter faltado mais nos países dos con- Passou a ser entendida como moeda de troca
tinentes desenvolvidos – Europa e América do por tecnologia.
Norte – do que na América Latina, na Ásia e na O Brasil percebeu a tempo a importância estra-
África, para apresentarem na Reunião de Cúpu- tégica da Convenção da Diversidade Biológica na
la do Desenvolvimento Sustentável, ou Rio+10, sua política externa. Rapidamente foi ratifica-
a realizar-se em agosto de 2002, na cidade de da a Convenção, embora a sua regulamentação
Johanesburgo, África do Sul. esteja se arrastando desde a primeira proposta,
É sabido que o mundo é dividido em países apresentada há quase oito anos, pela Senadora
com grande riqueza biológica e relativamente Marina Silva, do PT do Acre.
pouca tecnologia própria e países com pouca Enquanto no sudeste asiático vários países já
riqueza biológica e muita riqueza tecnológica. haviam se mobilizado, o Brasil, com certo atra-
Isso corresponde ao que a mídia convencionou so, mas com grande sucesso, vem encabeçan-
chamar o Sul versus o Norte, ou o grupo dos do um bloco latino-americano e do Caribe.
77 países mais a China versus o grupo dos oito Desde 2001 multiplicaram-se as reuniões de
países mais desenvolvidos. Ou seja, os pobres Ministros do meio ambiente. O objetivo é apre-
têm biodiversidade e os ricos têm patentes. sentar uma frente regional unida e mobilizada
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, até 1992 na reunião de Johanesburgo, que vai fazer, entre
a biodiversidade, a grande riqueza do Sul, era outras coisas, um balanço dos dez anos da Con-
considerada patrimônio da humanidade, de venção da Biodiversidade, Rio 92.
acesso livre, enquanto o acesso a processos ou A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
produtos patenteados – do Norte – era pago. Sustentável corre o risco de entrar em colap-
so. O WWF, juntamente com as organizações

Nilton Capixaba
127
Amigos da Terra e Greenpeace, enviou uma junho de 1988: “... uma política de ordenamen-
carta ao Secretário-Geral das Nações Unidas, to ambiental para ocupação das terras rurais
Kofi Annan, em uma tentativa de salvar a reu- do Estado de Rondônia, segundo o ZSEE Zone-
nião de Bali, que tem por objetivo decidir um amento Socioeconômico Ecológico”.
formato para um acordo internacional, em re- Tal medida foi reforçada pela Lei Complemen-
lação a temas essenciais, incluindo água, ener- tar nº 52, de 20 de dezembro de 1991, decre-
gia, saúde, agricultura e biodiversidade. tada pela Assembleia Legislativa e sancionada
“A menos que Kofi Annan interfira pelo Governador Oswaldo Piana Filho.
para aumentar a participação política Essa 1ª Aproximação foi feita com recursos
antes da chegada dos ministros à
modestos, quadro técnico local, liderado pelo
reunião de Bali, a Cúpula Mundial
engenheiro florestal Joel Mauro Magalhães e
sobre Desenvolvimento Sustentável
vai acabar se tornando a Rio Menos numa escala de detalhe de 1:1.000.000 (1 cen-
10, ao invés de Rio Mais 10”, disse tímetro no mapa equivale a 10 quilômetros
Rémi Parmentier, diretor político no terreno).
do Greenpeace Internacional. Diante das modificações ocorridas em Ron-
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é im- dônia, em face das ações do homem contra
portante este dia 5, em que é celebrado o Dia as força da natureza, houve necessidade de se
Mundial do Meio Ambiente. E, graças à coin- fazer uma atualização do Zoneamento do Es-
cidência dos fatos, é celebrado um dia antes tado, com a efetivação da 2ª Aproximação do
do dia 6 de junho, no qual foi sancionada a Lei Zoneamento Socioeconômico Ecológico, feito
Complementar nº 233/2000, do Zoneamento via processo de licitação internacional.
Socioeconômico Ecológico – ZSEE. O Plano Agropecuário e Florestal de Ron-
É importante que se informe à Casa que Ron- dônia – PLANAFLORO começou com a apro-
dônia é o único Estado brasileiro, na Amazô- vação da Mensagem Presidencial nº 090, de 20
nia, com clara preocupação ambiental, tendo de março de 1990, para que fosse autorizada à
fixado, pelo Decreto Estadual nº 3.782, de 14 de República Federativa do Brasil a contratação

128
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

de crédito externo, junto ao Banco Mundial, No ZSEE estão destacadas 73 áreas institucio-
no valor de 167 milhões de dólares, destinados nais (entre reservas biológicas, estações ecoló-
ao financiamento do PLANAFLORO. gicas, parques estaduais e nacionais, florestas
Os recursos para a execução do PLANAFLO- de rendimento sustentável e extrativistas e,
RO foram da ordem de 228,9 milhões de dó- inclusive, 22 reservas indígenas), todas demar-
lares, com a seguinte participação: recursos cadas e com estudos socioeconômicos efetiva-
da União financiados pelo BIRD, US$167,0 dos. Essas áreas representam 35% dos 238 mil
milhões; recursos da União (contrapartida), quilômetros quadrados da superfície do Estado.
US$ 31,0 milhões; recursos do Estado de Ron- O fato, Sr. Presidente, é que o ZSEE de Ron-
dônia, US$ 30,9 milhões. dônia é uma inovação, uma transformação do
A execução da 2ª Aproximação do Zoneamen- conceito de preservação, dentro de moldes
to, numa escala de 1:250.000 (1 centímetro no coerentes, defensáveis em qualquer lugar e
mapa = 2,5 quilômetros no terreno), foi uma a qualquer tempo: “... o Estado de Rondônia
das mais importantes partes integrantes do propõe-se a preservar nada menos do que 70%
PLANAFLORO. Para a execução da 2ª Aproxi- dos 238 mil quilômetros quadrados, e não 20%,
mação do Zoneamento foram destinados 20 como propõe o indicado pela Medida Provisó-
milhões de dólares e despendidos esforços de ria nº 2161 (Código Florestal).
uma equipe interinstitucional e interdiscipli- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o ZSEE
nar, por mais de seis anos. de Rondônia permite a exploração maior de
A 2ª Aproximação, depois de concluída, foi terras férteis e onde já existe rica infraestru-
votada e aprovada na Assembleia Legislativa tura de estradas, armazéns, serviços e o maior
Estadual e transformada em Lei Complemen- adensamento de propriedade e população.
tar nº 233/2000, de 17 de maio de 2000. A Lei É importante destacar que na Zona 1.1 de nos-
Complementar foi sancionada em 6 de junho de so Zoneamento permite-se explorar no máxi-
2000, pelo Governador José de Abreu Bianco. mo 80% da propriedade, porque não se traba-
lha na base da hipocrisia. Nessa Zona 1.1, como
nos Estados Unidos, na Europa e em todo o
Nilton Capixaba
129
Sul e Sudeste brasileiros, já se desmataram em
torno de 80%. Portanto, não adianta ali esta-
belecer 20% de reserva.
A proposta do Estado de Rondônia é que o
Congresso Nacional aprove a reserva de 80%
em toda a Amazônia, ressalvando-se os direi-
tos adquiridos, e que, nos Estados que tenham
o Zoneamento Socioeconômico Ecológico, na
escala de 1:250.000, prevaleçam os termos do
Zoneamento.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, com o
Zoneamento Socioeconômico Ecológico, Ron-
dônia está dando ao País e ao mundo um claro
exemplo de sentimento preservacionista e de
como fazer uma utilização futura de seus far-
tos recursos biotecnológicos em favor da po-
pulação do Estado. O PLANAFLORO e o ZSEE
dão claramente o rumo, a direção que a socie-
dade de meu Estado, Rondônia, escolheu com
acerto, determinação e inteligência.
Que os futuros dias 5 e 6 de junho – Dia Mun-
dial do Meio Ambiente e aniversário da san-
ção da Lei Complementar nº 233/2000 – sejam
merecedores de festas e justas celebrações,
das quais participem todos, juntos.
Muito obrigado.

130
Antonio Feijão

(Rio+10 – Proposta de demarcação do Parque O Sr. Antonio Feijão (PSDB-AP. Sem revi-
Nacional de Tumucumaque, no Estado são do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
do Amapá; Proposta de criação de matriz Deputados, do final de agosto aos primeiros
energética de energia limpa e do Fundo
Permanente de Compensação Ambiental)
dias de setembro, em Johanesburgo, na Áfri-
ca do Sul, o mundo se reunirá para discutir a
Realização da Cúpula Mundial sobre questão do meio ambiente e a pobreza, espe-
o Desenvolvimento Sustentável, em cialmente do Hemisfério Sul.
Johanesburgo, África do Sul. Apresentação, O Brasil enviou para o encontro mais de qui-
durante o evento, pela delegação brasileira, da
nhentas ONGs, que estão apresentando traba-
proposta de demarcação do Parque Nacional
de Tumucumaque, no Estado do Amapá. lhos na área de economia e de empreendimen-
tos sustentáveis, tanto na floresta amazônica,
Sessão 27/08/2002 – DCD 28/08/2002, p. 40827
como em outros tipos de florestas existentes
no território nacional e em áreas urbanas.
Mas o que caracteriza a delegação brasileira,
Sr. Presidente, é o fato de levar a proposta de
criação do Parque Nacional do Tumucumaque,
no Amapá. O Brasil não levará para a África
Austral uma certidão de avanço social, mas

131
mostrará ao mundo que é capaz de imobili- sentem o Brasil, que discutam a realidade do
zar economicamente a floresta amazônica em nosso País.
detrimento de poder passar o pires aos países Sr. Presidente, registro aqui a indignação do
ricos, que lá nada foram oferecer, a não ser sa- povo do Amapá, que viu 28% do seu territó-
ber se ainda podem garimpar a pobreza e ex- rio serem transferidos para um mundo rico no
plorar as riquezas do Hemisfério Sul. mesmo dia em que o Presidente George W.
Sr. Presidente, estamos levando para um am- Bush, através de decreto, autoriza o Parlamen-
plo debate sobre pobreza questões pontuais to norte-americano a permitir que os Estados
em escala microscópica, questões essas inca- Unidos da América cortem suas florestas,
pazes de trazer soluções, especialmente para como mecanismo de combate a incêndios.
a Amazônia. Do ponto de vista da ocupação, A reunião de Johanesburgo é mais um episó-
a Amazônia é quase 80% urbana. Não adian- dio da fábula de Jean de La Fontaine: os ratos
ta tentar resolver as questões da pobreza na estão reunidos, mas não há ninguém para pôr
floresta sem antes encontrar soluções para os o guizo no gato.
milhões de amazônidas que habitam nas pe-
quenas, médias e grandes cidades da região, Discurso 2
muitos deles vivendo na pobreza.
Anúncio de encerramento da Cúpula Mundial
Fico muito triste em saber que a sala que tra-
sobre Desenvolvimento Sustentável, Conferên-
ta da Amazônia foi batizada de Sala das Quei-
cia Rio+10, realizada em Johanesburgo, África
madas, por causa das imagens apresentadas,
do Sul. Desinteresse dos países desenvolvidos
como se nossa madeira fosse mais importante
no combate à pobreza e na redução da emissão
do que o homem que lá habita. Parece-me que
de gases poluentes. Revogação da proposta de
eles acham que a Amazônia é a última frontei-
criação de matriz energética de energia limpa,
ra de esperança.
apresentada pelo Presidente Fernando Henri-
Espero que um dia a Câmara dos Deputados que Cardoso por ocasião do evento. Corrobora-
leve para um debate desses pessoas que repre- ção da proposta de instituição de fundo perma-

132
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

nente de compensação ambiental apresentada de introduzir em todos os países uma matriz


ao Presidente da República. energética de energia limpa da ordem de 10%
Sessão 03/09/2002 – DCD 04/09/2002, p. 41780 de toda a geração de cada uma dessas nações.
O Sr. Antonio Feijão (PSDB-AP. Sem revi- Toda a comitiva do Presidente da República está
são do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. a caminho. Havia dito S.Exa. que iria à África do
Deputados, encerra-se hoje, em Johanesburgo, Sul e levaria a demarcação do Parque Nacional
África do Sul, a Conferência Rio+10, que teve do Tumucumaque, inteiramente decretado em
como objetivo discutir o combate à pobreza terras amapaenses. Levou essa prenda verde
no mundo, sobretudo a introdução de nova para passar o pires na frente dos países ricos.
ordem econômica que nasceu em 1982 – o de- E volta S.Exa. com a decepção que este Parla-
senvolvimento com bases sustentáveis, tanto mentar havia anunciado: cedemos nossos es-
na economia quanto na área social e, principal- paços econômicos. E os países ricos, em mo-
mente, no meio ambiente. mento algum, se sensibilizam em reduzir seu
Nós, desta tribuna, tínhamos anunciado mui- vampirismo econômico, que draga o plasma de
to antes que não havia interesse por parte dos nossa economia para atender aos juros altos
países desenvolvidos em tentar combater a dos empréstimos bancários.
pobreza, principalmente das nações em de- O Presidente Fernando Henrique Cardoso
senvolvimento do Hemisfério Sul. também solicitou ao Secretário-Geral das Na-
A imprensa mundial notificou que os países ções Unidas, Kofi Annan, que este fosse o re-
ricos, em especial os Estados Unidos da Amé- presentante da ONU na Secretaria de Desen-
rica, alguns membros da Comunidade Euro- volvimento Sustentável.
peia e alguns do grupo dos Tigres Asiáticos, Aqui vai a primeira lição deste amazônida ao
não querem mais, na base de sua geoecono- Presidente da República: o mundo não quer
mia, a responsabilidade de reduzir a emissão socializar a pobreza do Hemisfério Sul; os
de carbono. E foi revogada a proposta, que o grandes países ricos querem, sim, capitalizar
Presidente da República levou à África Austral, os espaços econômicos, os cenários verdes e

Antonio Feijão
133
as bases geradoras de água renovável. Pratica- poucos dias de S.Exa. partir para a África Aus-
mente 30% da água doce está intacta e inte- tral: que, antes de decretar qualquer pedaço
gralmente sem poluição nos espaços amazô- de chão brasileiro área intocável, propusesse
nicos. E eles nos empurram em direção a essa à ONU e ao G-8 a criação de um fundo perma-
tremenda guilhotina para cortar os extratos nente de compensação ambiental, a fim de que
econômicos que estão desde as mais profun- nós, que estamos preocupados com o futuro
das áreas geológicas até o direito de usar a ter- do planeta Terra e com o futuro das novas ge-
ra e as riquezas florestais. rações, possamos mostrar a eles a necessidade
Sr. Presidente, aproveito esta sessão do início da harmonia entre o desenvolvimento econô-
de setembro, mês no qual a Nação comemora mico, a qualidade de vida, o meio ambiente e
o dia da sua Independência, para declarar que uma responsabilidade ambiental. Só numa en-
a comitiva fúnebre retorna da reunião para a xurrada, num pedaço da Ásia e da Europa anti-
qual foi muito alegremente levando na mala ga, foram perdidos 45 bilhões de dólares, pre-
o maior parque florestal do mundo. É preciso juízos provocados pela falta de atenção com a
que o Itamaraty preste atenção quando dize- questão ambiental e com a pobreza. E concluo
mos que com esses países ricos não se negocia dizendo: nenhum novo modelo econômico po-
com a prenda adiante da proposta. derá resolver essa equação desequilibrada que
existe entre o homem, o trabalho e a natureza.
Primeiro, o Brasil deve encontrar-se com sua
Se queremos ter um meio ambiente respeitá-
sociedade para mudar a ordem econômica e
vel, é preciso tratar o homem com dignidade
ocupar os espaços econômicos, em especial
e com responsabilidade, porque só mediante
os da Amazônia, para depois dizer-lhes: ou ve-
uma economia responsável teremos também
nham ao nosso continente dividir a pobreza,
um meio ambiente sadio.
ou não vamos exportar gratuitamente nossas
riquezas, ou, mais grave ainda, o direito de
usufruir do nosso sonho de um futuro melhor.
Para concluir, ratifico o que propus em carta
ao Presidente Fernando Henrique Cardoso a

134
Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável – Rio+20
Decisões após a Rio+10
Fernando
Gabeira

(Projeto de lei que pune os crimes ambientais) O Sr. Fernando Gabeira (PV-RJ. Sem revi-
são do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Discussão do Substitutivo do Senado ao Deputados, considero, dentro dos limites da
Projeto de Lei 1.164, de 1991, que dispõe minha compreensão de história, que estamos
sobre as sanções penais a que estão sujeitos
os infratores da legislação protetora da
hoje vivendo um dia histórico na Câmara dos
fauna e da flora e dá outras providências. Deputados. Esta história talvez se tenha inicia-
Posicionamento favorável à matéria. do com D. Pedro I, quando, em 1828, lançou as
Sessão 28/01/1998 – DCD 29/01/1998, p. 2293 duas primeiras normas a respeito da proteção
ao meio ambiente, e prosseguiu em 1830, com
o Código Criminal inserindo como crimes a
destruição ilegal ou o desmatamento das flo-
restas brasileiras.
Desse tempo para cá, Sr. Presidente, tem havido
uma importante interação entre o Código Pe-
nal e as leis do meio ambiente no Brasil. Sempre
que uma lei era considerada importante era ela
anexada ao Código Penal, que passava a orien-
tar a aplicação da pena correspondente. Foram

139
elaboradas leis sobre pesca, sobre caça, e agora pamento necessário e cumprir as determina-
finalmente conseguimos um código que esta- ções ambientais.
belece todos os crimes contra o meio ambiente. Portanto, essa parte do acordo com os evangé-
Quero prestar, não só aos companheiros e com- licos teve a minha participação e aprovação, e
panheiras, mas também à opinião pública, um continuará assim, porque se trata de um acordo
depoimento com base na minha participação bem intencionado, transparente neste aspecto.
nesse processo. A primeira negociação impor- Pode ser até que o Presidente da República con-
tante que houve foi a referente à questão da po- siga votos da bancada evangélica; pode ser até
luição sonora. Recentemente, em entrevista na que S.Exa. tenha dado condições para que os
Rede Record de Televisão, tive oportunidade de evangélicos votem na reforma administrativa.
propor ao próprio Governo que retirasse ou que Da minha parte, como participante do acordo,
vetasse essa parte da lei, uma vez que os evan- não ganhei senão um lugar no inferno – com
gélicos e outros religiosos se sentiam ameaça- vista para o mar. Já que todos me destinam o in-
dos com a situação. E eles, como sabemos, são ferno, se os evangélicos me garantem um lugar
objetivamente ameaçados no Brasil. Portanto, com vista para o mar já me basta.
não podem ser acusados de paranoicos. Sr. Presidente, existem avanços indiscutíveis
Propusemos então ao Governo que discu- nesse projeto. O que hoje conquistamos no
tíssemos a questão em separado. E, naquele último momento da negociação merece ser
momento, também afirmei para os evangéli- mencionado. Trata-se do avanço que reconsi-
cos, na sua emissora, que eles não devem in- dera a responsabilidade jurídica de determi-
terpretar seu diálogo com Deus como sendo nadas empresas. Por que esse avanço é funda-
o inferno do vizinho, que não pode suportar o mental? Porque foi incorporado da legislação
barulho da igreja, e que teríamos condições de norte-americana, já está no Código de Defesa
formular uma lei mais hábil e mais ampla, que do Consumidor e atende à necessidade de
também garanta um financiamento àquelas reprimir aquelas empresas que contratam ou
igrejas para que elas possam dotar-se do equi- criam empresas para atuar no meio ambiente.
Essas empresas realizam o trabalho, fazem o

140
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

dano ambiental, mas não mais são responsá- na Amazônia. Seguindo esse caminho, esta-
veis por ressarcir os prejuízos que causaram. E remos dando um sinal de que a reserva legal
esse dispositivo que foi introduzido agora vai não é propriamente legal, mas uma reserva de
permitir que as empresas que contrataram ou- companheiro, uma reserva de amigos. Se for
tras, assim como sócios e aliados, sejam todos realmente uma reserva legal, não é possível
também responsabilizados. que se possa destruí-la sem a autorização do
Nesse projeto e no relatório do Deputado IBAMA. Portanto, esse é um ponto chave; no
José Carlos Aleluia, que considero um grande meu entender, o mais vulnerável do relatório
trabalho, um esforço democrático, existe um do Deputado José Carlos Aleluia.
grande problema, que é o art. 47. Quando for- No entanto, voto favoravelmente ao projeto,
mos discutir o destaque do Bloco de Oposi- ao relatório. Não estou aqui para reafirmar
ção, é necessário que todos atentem para ele, minha pureza ideológica, mas para resolver
porque o art. 47, tal como está na redação do problemas concretos de pessoas concretas,
relatório do Deputado José Carlos Aleluia, re- de um meio ambiente em vias de destruição
presenta um perigo muito grande, sobretudo no Brasil. Peço o voto favorável ao projeto do
para a Amazônia e a Mata Atlântica. Governo e o voto favorável aos destaques do
No art. 47 suprimiu-se a expressão “reserva Bloco de Oposição.
legal”. Atualmente, quando se destrói, quando
se queima, quando se modifica, necessita-se
de uma autorização do IBAMA. Agora, com
essa nova redação, não será mais necessá-
ria a autorização do IBAMA para se destruir,
para se queimar ou se modificar uma reserva
legal, que na Amazônia abrange 80% das pro-
priedades. Portanto, estaremos assim dando
um sinal totalmente oposto à revelação feita
esta semana sobre o recorde de destruição

Fernando Gabeira
141
Inocêncio
Oliveira

(Sistema Nacional de Unidades de Conservação) O Sr. Inocêncio Oliveira (PFL-PE. Sem revi-
são do orador.) – Sr. Presidente, creio que a
Posicionamento favorável ao Projeto de Lei aprovação desse projeto, que cria o Sistema
2.892, de 1992, que dispõe sobre os objetivos Nacional de Unidades de Conservação e esta-
nacionais de conservação da natureza, cria o belece medidas para preservação biológica, é
Sistema Nacional de Unidades de Conservação, de fundamental importância para o nosso País.
estabelece medidas de preservação da
diversidade biológica e dá outras providências. Queria louvar o trabalho desenvolvido pelo
Ministro Sarney Filho, que hoje merece o res-
Sessão 10/06/1999 – DCD 11/06/1999, p. 27256
peito de toda a comunidade científica, das
organizações não-governamentais e de todos
aqueles que desejam um desenvolvimento
sustentado em nosso País.
Sr. Presidente, esse projeto nada mais é do que
o estabelecimento de dispositivos convencio-
nais, que o Brasil subscreveu durante a Eco 92,
no Rio de Janeiro, para que pudesse, por in-
termédio da preservação, da conservação, do
manejo, da diversidade biológica e das zonas

143
de tampão, inscrever-se entre os países que lu- e que coloca sempre a coisa pública acima de
tam pela preservação do meio ambiente. qualquer outro interesse.
Sr. Presidente, participei ativamente das discus- É por isso, Sr. Presidente, é com esse sentimen-
sões sobre um dispositivo que poderia ser mal to que o Partido da Frente Liberal recomenda
interpretado, que não interessa nem ao Minis- o voto “sim”.
tro Sarney Filho, pela sua seriedade, e nem ao
Governo sério do Presidente Fernando Henri-
que Cardoso. Era como um cheque em branco,
no que se refere à decretação das unidades de
conservação; permitiria que o Poder Executivo
determinasse essas unidades de conservação.
Assim sendo, Sr. Presidente, acreditamos que
o projeto atende aos verdadeiros interesses
do País, sobretudo porque, se o homem de-
gradar o meio ambiente, Deus, por certo, sem-
pre haverá de perdoá-lo; o homem poderá ou
não perdoá-lo, dependendo dos institutos de
fiscalização, mas a natureza nunca haverá de
perdoá-lo. Com esse sentimento, acreditamos
que este projeto vêm ao encontro dos desejos
daqueles que almejam o desenvolvimento sus-
tentado, ou seja, um crescimento harmônico
do País sem, no entanto, provocar a deteriora-
ção do meio ambiente.
Queria louvar os Relatores da matéria, so-
bretudo o Líder do Partido Verde, Deputado
Fernando Gabeira, Parlamentar sério, correto

144
Edinho Bez

(Mata Atlântica) O Sr. Edinho Bez (PMDB-SC. Pela ordem.


Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, há
Importância da preservação da uma série de autoridades em Brasília, e como
Mata Atlântica brasileira. estarei em reunião com dois Ministros, gos-
Sessão 11/01/2000 – DCD 12/01/2000, p. 1326. taria de apresentar pronunciamento sobre a
Mata Atlântica, assunto que está sendo muito
tratado em Santa Catarina e que é importan-
tíssimo para o País.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a Mata
Atlântica é uma das florestas tropicais mais
ameaçadas do planeta Terra. Para ter uma
ideia de sua situação de risco, basta dizer que
à época do Descobrimento do Brasil ela ocupa-
va uma área em torno de 1 milhão de quilôme-
tros quadrados, ou 12% do território nacional,
estendendo-se pela costa do Rio Grande do
Norte ao Rio Grande do Sul. Adentrava pelo
interior em extensões variadas e praticamente

145
ocupava os Estados do Espírito Santo, Rio de Sras. e Srs. Deputados, a Mata Atlântica é o
Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, ecossistema brasileiro que mais sofreu os im-
bem como parcelas significativas de Minas Ge- pactos ambientais dos ciclos econômicos da
rais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, história do País. Esse processo de devastação
logrando alcançar a Argentina e o Paraguai. começou mal aqui chegaram os portugueses,
Inserem-se no domínio da Mata Atlântica as quando teve início a exploração predatória do
bacias dos Rios Paraná, Uruguai, Paraíba do pau-brasil, utilizado para tintura e construção.
Sul, Doce, Jequitinhonha e São Francisco. Em seguida, veio o ciclo da cana-de-açúcar,
Hoje, a área coberta com floresta nativa está com a derrubada de extensos trechos de mata
reduzida a apenas 7% de sua área original. Rios para dar lugar aos canaviais. No século XVIII,
importantes para a economia regional e o meio as minas de ouro e pedras preciosas levaram a
ambiente, como os citados, encontram-se po- colonizar o interior. A imigração levou a novos
luídos ou assoreados por causa dos sedimen- desmatamentos, que se estenderam até os li-
tos arrastados pela erosão do solo desprovido mites com o cerrado, para a implantação de
de vegetação. Seu patrimônio biológico tem agricultura e pecuária. No século seguinte, foi
sofrido considerável perda. Das 202 espécies a vez do café e, posteriormente, novo ciclo de
da fauna brasileira ameaçada de extinção, 171 extração de madeira, além da substituição da
são originárias da Mata Atlântica. floresta original por plantações homogêneas
de pinheiro e eucalipto para a produção de
Está ameaçado, também, o patrimônio cultural
papel e celulose.
do Brasil representado pelas comunidades in-
dígenas, caiçaras e roceiras, que, por séculos, Nesta última fase, a extração de madeira para
viveram em harmonia com o meio ambiente, a produção de carvão vem constituindo-se
retirando da mata e seus ecossistemas asso- em atividade das mais predatórias. O setor da
ciados, sem alterar seu equilíbrio ecológico, fumicultura vem sendo um dos principais res-
os recursos básicos para sua existência, e hoje ponsáveis pelo desmatamento na Região Sul.
estão sendo expulsas de seus locais e restritas A cada 300 cigarros produzidos, uma árvore
em suas atividades. é derrubada. O agravante é que mais de 70%

146
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

dos fumicultores dessa região (responsável maioria das cidades e regiões metropolitanas
por 90% da produção nacional de fumo) ainda do País, localizam-se ali, também, os grandes
utilizam lenha proveniente da Mata Atlântica polos industriais, petroleiros e portuários do
no processo de secagem do fumo. Brasil, respondendo por nada menos que 80%
Nosso Estado, Santa Catarina, tinha aproxima- do PIB nacional.
damente 85% de sua área coberta com rica e Apesar da devastação sofrida, a Mata Atlântica
densa Mata Atlântica, dos quais restam 17,35%. ainda possui remanescentes florestais de ex-
Segundo o Atlas da Mata Atlântica elaborado trema beleza e importância, nos quais a rique-
pela Fundação SOS Mata Atlântica, em conjun- za das espécies animais e vegetais é espantosa
to com o Instituto Nacional de Pesquisas Espa- e resulta num dos maiores índices de biodi-
ciais e o Instituto Socioambiental, no período versidade do planeta. Espécies imponentes
de 1990 a 1995, foram desmatados 70.065 hec- de árvores são encontradas na região, como o
tares, equivalente a 2,7 campos de futebol por jequitibá-rosa, de quarenta metros de altura e
hora, 24 horas por dia. O levantamento indica quatro metros de diâmetro. Destacam-se, ain-
que a fumicultura está entre os principais res- da, nesse cenário, várias outras espécies, como
ponsáveis por esses números, junto com a ex- o pinheiro-do-paraná, o cedro, as figueiras, os
pansão urbana e os assentamentos agrícolas. ipês, a braúna e o pau-brasil, entre muitas ou-
Segundo Miriam Prochnow, Presidente da As- tras. Paralelamente à riqueza vegetal, a fauna
sociação de Preservação do Meio Ambiente do é o que mais impressiona na região. Calcula-
Alto Vale do Itajaí, a fumicultura é responsável se que nela existam mais de 800 espécies de
também por muitos pequenos desmatamen- aves, 180 anfíbios e 131 mamíferos, inclusive as
tos, não detectados pelo Atlas e que somam quatro espécies de mico-leão que são exclu-
milhares de hectares por ano. sivos daquele ecossistema. A maior parte das
A região de domínio da Mata Atlântica é a espécies de animais brasileiros ameaçados de
mais importante em termos econômicos. Nela extinção é originária da Mata Atlântica, como
encontra-se a maior parte da população brasi- os micos-leões, a lontra, a onça-pintada, o
leira – o equivalente a 70%. Além de abrigar a tatu-canastra e a arara-azul-pequena. Outras

Edinho Bez
147
espécies encontradas na área são gambás, que a matéria seja votada o mais rapidamente
tamanduás, preguiças, antas, veados, cotias, possível nesta Casa, resultando em medidas
quatis e muitas outras. eficazes para que a Mata Atlântica seja preser-
A rica biodiversidade, resultante da variação vada de fato.
das condições climáticas, de altitude e de lati-
tude, ao longo de uma faixa florestal original-
mente contínua, é, portanto, um dos motivos
para preservar o que restou da Mata Atlântica.
Paradoxalmente, essa diversidade torna-a ex-
tremamente frágil. A destruição de parcelas
ainda que pequenas dessa floresta pode sig-
nificar a perda irreversível de inúmeras espé-
cies, por vezes sequer estudadas pela ciência.
A Mata Atlântica apresenta alto grau de ende-
mismo, isto é, a ocorrência de espécies que só
acontecem nesse ecossistema. Entre as pal-
meiras, bromélias e outras epífitas o grau de
endemismo chega a mais de 70%. Entre os ma-
míferos, 39% também são endêmicos, o mes-
mo ocorrendo com a maioria das borboletas,
dos répteis, dos anfíbios e das aves nativas.
A maior parte das vinte espécies de primatas
que nela sobrevivem é endêmica.
Não restam dúvidas, pois, quanto à necessida-
de de preservar o que resta da Mata Atlântica.
A propósito, Sras. e Srs. Deputados, há propo-
sições sobre o tema em tramitação. Esperamos

148
José Carlos
Coutinho

(Código Florestal) O Sr. José Carlos Coutinho (Bloco/PFL-RJ.


Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presi-
Apoio à disposição do Presidente Fernando dente, Sras. e Srs. Deputados, a intenção do
Henrique Cardoso quanto ao veto do Presidente da República de vetar parcial ou
projeto de lei do novo Código Florestal.
por total o projeto de lei que institui o novo
Código Florestal atende a interesses nacionais
inegociáveis.
O texto original constante da Medida Provi-
sória n.º 2.166, enviado ao Congresso para ser
convertido em lei, foi posto de lado, em razão
do substitutivo apresentado na Comissão Mis-
ta do Congresso pela bancada ruralista, que
aprovaram o substitutivo.
A iniciativa propõe novidades alarmantes, a
redução da área de preservação ambiental da
Amazônia.
Uma das barbaridades concebidas no substitu-
tivo permite reduzir de 80% para até 20% as

149
matas nativas das propriedades rurais destina- floresta tropical e de suas riquezas naturais.
das por lei à preservação. Abriu-se perspectiva Ânsia e ignorância. Não percebe que os solos
de devastação capaz de extinguir pelas derru- da região exibem baixa fertilidade. A exceção
badas a maior parte da biodiversidade amazô- são manchas de terras pretas e algumas áreas
nica e condenar ao malogro qualquer projeto aluviais na várzea do rio amazonas.
de desenvolvimento sustentado. À derrubada das árvores para ocupação da
Mas o caráter maligno da proposta não se es- agricultura, por exemplo, se segue contínuo
gota aí. Corre nos trilhos do substitutivo um empobrecimento do solo. São as quase oito
certo trem da alegria. Trata-se do dispositivo toneladas de folhas mortas, galhos, flores e
que concede aos produtores rurais o direito frutos que caem por hectare que sustentam a
de receber bônus do governo como prêmio floresta. É assim que se mantém a reposição
pela não utilização de áreas verdes. A com- dos minerais e matérias orgânicas na terra. O
pensação chegará ao absurdo de 70% do va- fenômeno explica o fracasso de tantos proje-
lor estimado para hipótese de arrendamento tos agrícolas implantados, e logo abandona-
da propriedade. Os ativos assim constituídos dos, na região.
podem ser usados para resgate de dívidas com O Presidente da República atuará com perfei-
a previdência, receita federal e até de emprés- ta noção de seus deveres, e do interesse na-
timos lastreados pelo tesouro. cional, se vetar as desastrosas inovações do
Está aí embutida espécie de pacote fiscal cujo substitutivo.
efeito será a frustração de receitas da União. Era o que tinha a dizer.
Um buraco no erário, que só poderá ser preen-
chido pela distribuição de novos sacrifícios aos
contribuintes. Além, é obvio, de criar no País
nova casta de privilegiados.
O substitutivo mostra a ânsia da Banca Rura-
lista, em explorar o empreendimento rural nos
tratos amazônicos ao preço da destruição da

150
Sarney Filho

(Balanço de sua gestão no Ministério do Meio O Sr. Sarney Filho (PFL-MA. Sem revisão do
Ambiente, governo Fernando Henrique Cardoso) orador.) – Sr. Presidente, Sra. Deputada, senho-
ras e senhores, este discurso, numa sessão de
Balanço da atuação do orador à frente do segunda-feira, numa semana em que os parti-
Ministério do Meio Ambiente. Urgente
aprovação, pela Casa, do projeto de lei sobre
dos estão realizando convenções regionais, de-
preservação da Mata Atlântica. Anúncio de veria ser voltado às cadeiras vazias.
encaminhamento da Agenda 21 Brasileira ao Padre Antônio Vieira, considerado o maior ora-
Presidente Fernando Henrique Cardoso pela dor da língua portuguesa, certa vez, do púlpi-
Comissão de Políticas de Desenvolvimento
to, fez um sermão aos peixes. Longe de mim,
Sustentável. Preparação do País para a
Segunda Cúpula da Terra, em Joanesburgo, Sr. Presidente, querer, de alguma forma, por
África do Sul. Redução da ajuda financeira dos menor que seja, comparar-me a esse grande
países ricos para preservação do ecossistema intelectual e homem da fé. Mas poderia hoje,
amazônico. Posicionamento do Governo sinceramente, dizer que estou fazendo um dis-
dos Estados Unidos da América contra curso não às cadeiras vazias, porque ele trata
o Protocolo de Kyoto, sobre redução da
do meio ambiente, mas à fauna e à flora, aos bi-
emissão de gases poluentes na natureza.
chos e às plantas, os quais devemos preservar.
Na última vez em que ocupei esta tribuna,
outubro de 1998, procurei traçar as principais

151
linhas que, a meu ver, deveriam nortear uma instrumentos necessários a este
nova gestão da Pasta do Meio Ambiente, no controle. Só assim construiremos a
segundo mandato do Presidente Fernando legitimidade de que precisamos para
Henrique Cardoso. conquistar uma posição independente
e autônoma nos fóruns de debate
Disse, na ocasião, que, a despeito da insigni-
e decisão a que nos referimos”.
ficante ajuda recebida dos países ricos para a
promoção do desenvolvimento sustentável, Estas palavras foram ditas em 1998.
conforme recomendado na Rio 92, precisáva- Tive, então, a oportunidade de ocupar por três
mos, no Brasil, construir uma política inter- anos e três meses o cargo de Ministro do Meio
na forte, que pudesse sustentar uma posição Ambiente e de poder colocar em prática as
mais incisiva do País no cenário internacional. ideias que defendi nesta tribuna. Hoje tenho a
As palavras exatas foram estas: satisfação de discorrer sobre uma política am-
biental revitalizada, internacionalmente reco-
“Nossa postura não pode mais ser
nhecida e participante das decisões nacionais.
caracterizada pela autopiedade,
pois isto destoa, e muito, de nossas Durante esse tempo, procuramos sanear o
pretensões, não só de ingresso na licenciamento e a fiscalização, fortalecer os
economia globalizada, como de órgãos ambientais nos Estados, modernizar
participação ativa no cenário político o combate às queimadas e ao desmatamen-
internacional. Para tanto, para termos to, ampliar e consolidar as áreas protegidas e
voz na grande mesa que negocia o formatar uma agenda ambiental urbana, até
gerenciamento ambiental do planeta, então inexistente na estrutura ministerial. A
é preciso, antes, estabelecermos uma reestruturação do IBAMA e a criação de 2.650
política interna coerente e eficaz,
novas vagas, a serem preenchidas por concur-
que demonstre nossa capacidade
so público, foram passos decisivos para a me-
de controle sobre as atividades
degradadoras do meio ambiente,
lhoria da capacidade operacional do Governo
que demonstre nossa capacidade em responder à demanda por controle no uso
técnica e política de operarmos os dos recursos naturais. Todo esse fortalecimen-

152
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

to normativo e institucional resultou num Mi- Ora, isso é pura e simplesmente “desenvolvi-
nistério consolidado e partícipe, como nunca mento sustentável” – esse conceito sobre o
antes, das decisões nacionais. qual até hoje debatem os teóricos e do qual
A confiança que depositamos no entendimen- duvidam os céticos. O Brasil hoje pode or-
to com a sociedade para o estabelecimento de gulhar-se de apresentar ao mundo inúmeros
cada nova regra de conduta relativa ao nosso exemplos de sustentabilidade.
meio ambiente foi fantasticamente correspon- O segundo reconhecimento veio durante o
dida, fortalecendo ainda mais nossa convicção Fórum Econômico Mundial, onde foi divulga-
na gestão democrática e participativa que pro- do o “ranking verde”, uma lista que classificou
curamos empreender em cada ação do Minis- 142 países de acordo com sua capacidade de
tério. O reconhecimento pelo nosso esforço, legar ambiente decente às suas duas próximas
já o recebemos da imprensa, das ONGs e dos gerações. O Brasil ficou em 20º lugar e, dentre
vários segmentos sociais envolvidos. os quesitos analisados, teve peso considerável
Já no fim de minha gestão, pudemos comemorar o da ação governamental.
duas manifestações de reconhecimento interna- Mesmo com esses dados, que, sem dúvida, ra-
cional à política que vínhamos empreendendo. tificavam nossa política e estimulavam ainda
Um artigo na revista Science, uma das mais con- mais nossa equipe a continuá-la, pois estáva-
ceituadas do mundo, fez elogios à política am- mos no caminho certo, eu costumava dizer que
biental adotada pelo Governo brasileiro. Os pes- resultados significativos ainda demorariam a
quisadores, autores do artigo, visitaram diversas aparecer, mas que a semente estava lançada.
localidades na Amazônia brasileira e concluíram Porém, Sr. Presidente, novos dados divulgados
que as políticas de conservação adotadas nos pelo INPE revelaram uma queda de 13,38% na
últimos dois anos poderiam garantir a preserva- taxa de desmatamento na Amazônia. Já haví-
ção de 70% a 80% da floresta sem comprometi- amos detectado, no biênio anterior, uma ten-
mento do desenvolvimento econômico. dência de estagnação da taxa. Tal tendência,
agora, parece apontar para uma redução signi-
ficativa dos índices.
Sarney Filho
153
Tal conquista somente foi possível porque, quando estávamos no “paredão” das grandes
além dos investimentos feitos, pudemos con- ONGs, por nosso descontrole sobre a degrada-
tar com a resoluta participação da sociedade ção ambiental. Com dados concretos na mão,
brasileira, que tem absorvido rápida e decisi- ocuparemos, cheios de dignidade, nosso lugar
vamente a ideia da sustentabilidade, adotan- na mesa de debates junto às demais nações e
do-a para a construção de seu futuro comum. discutiremos com indubitável autoridade novos
Entretanto, é preciso que a política ministerial compromissos globais que recuperem as condi-
prossiga, inclusive com os investimentos ne- ções ecológicas planetárias, que promovam a
cessários à continuidade das ações. inclusão social, enfim, que permitam o desen-
Nos últimos três anos, havíamos conseguido volvimento sustentável em todo o mundo.
dobrar, em termos nominais, o orçamento do Para a queda da taxa de desmatamento, certa-
Ministério, mas em 2002 ele foi fortemente mente contribuiu nossa opção para a Amazô-
contingenciado. Para este ano estavam previs- nia de aperfeiçoar os mecanismos de controle
tos 1 bilhão e 150 milhões de reais, dos quais fo- e, ao mesmo tempo, de estimular atividades
ram autorizados apenas 432 milhões, o que sig- econômicas rentáveis, que agregassem maior
nifica um corte de 62% nas previsões originais. valor aos produtos e fossem ambientalmente
Apesar das dificuldades, que esperamos sejam sustentáveis.
passageiras, podemos afirmar que nada mais Começamos pelo fortalecimento da fiscaliza-
estimulante poderia acontecer este ano do ção em toda a região e, em seguida, concebe-
que reunir bons resultados ambientais justa- mos o Sistema de Licenciamento Rural Geor-
mente quando vamos a Joanesburgo discutir referenciado, que foi inicialmente implantado
os rumos da cooperação internacional para a em Mato Grosso e este ano está sendo esten-
sobrevivência do planeta. dido para Rondônia e Pará.
Essa foi a situação que imaginei quando, desta Em Mato Grosso, onde as imagens de satélite
tribuna, em 1998, propus novos rumos à política informam em tempo real e com precisão se o
de meio ambiente do País. Uma situação bem proprietário desmatou além do permitido pela
diferente da de 1992, na Conferência do Rio, sua licença, o desmatamento já havia caído

154
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

32,44% em dois anos de funcionamento do sis- exploração, com rápido esgotamento do solo e
tema. A redução não tem impedido – e isso é proliferação de pragas.
importante frisar – que o Estado apresente as Entendíamos que maneiras mais adequadas
maiores taxas de crescimento do País. A exten- de promover o desenvolvimento deveriam ser
são desse modelo inovador para os outros Esta- incentivadas e assim o fizemos. A nova orien-
dos requer, no entanto, receptividade, vontade tação incluiu a exploração florestal manejada,
política e participação ativa dos Governos Esta- redirecionada para florestas nacionais e sob
duais e Municipais para que tenha êxito. padrões que permitam o aumento da oferta
Não nos bastava, no entanto, a consolidação para o mercado de madeira certificada. Tam-
de mecanismos de controle, sem que fosse le- bém o ecoturismo, o extrativismo e a biopros-
vada em conta a sobrevivência e a melhoria da pecção foram amplamente incentivados nesse
qualidade de vida de quem vive na floresta. No novo contexto de desenvolvimento. O Pro-
discurso que aqui pronunciei, em 1998, afirmei: grama de Desenvolvimento do Ecoturismo na
“Não há ser humano que deseje preservar a na- Amazônia Legal – PROECOTUR, atualmente
tureza de uma nação que não lhe tenha oferecido em fase de pré-investimento, contará, a partir
as condições mínimas de integração à sua socie- de 2003, com 200 milhões de dólares para se-
dade e à sua cultura”. rem investidos em três anos nos nove Estados
O modelo tradicional de desenvolvimento do da região, em polos de ecoturismo seleciona-
Brasil, infelizmente, resultou num alto custo dos. A intenção é preparar tais polos para o
ambiental e num baixíssimo retorno social. investimento privado, criando divisas, preser-
Nossa política pretendeu inverter essa equa- vando os bens ambientais e culturais da região
ção. A floresta não aceita mais a velha orien- e absorvendo a força de trabalho local.
tação de desmatar, queimar e plantar. A região Os bons resultados de nossas ações na Ama-
amazônica, por exemplo, não tem vocação zônia são parte de toda uma nova orientação
para esse tipo de atividade e, o que é pior, tem que adotamos para o País. Hoje, a política
respondido antagonicamente a esse tipo de ambiental brasileira destaca-se não só pelas
iniciativas de monitorar, fiscalizar e multar os

Sarney Filho
155
empreendimentos que infrinjam a legislação, Outro avanço significativo foi o estabeleci-
mas também pelo estímulo à mudança nos pa- mento da Política Nacional de Educação Am-
drões tecnológicos e à adoção, pela sociedade, biental, pela Lei nº 9.795, de 1999, e a consoli-
de práticas econômicas sustentáveis que pri- dação de um programa nacional, com a criação
vilegiem a valorização dos recursos naturais. de uma diretoria de educação ambiental, antes
Várias foram as ações, e em várias áreas, que inexistente no Ministério do Meio Ambiente.
permitiram a mudança no perfil da proteção Com esses instrumentos, o País deu um im-
ambiental no País. portante passo rumo à construção de valores
Ainda em 1999, regulamentamos a Lei de Cri- sociais, habilidades e atitudes voltadas para a
mes Ambientais, o que foi um grande avanço, conservação do meio ambiente. Os investimen-
pois consolidou os dispositivos legais aplicá- tos do programa têm permitido a multiplicação
veis aos crimes ambientais, tornando mais das ações de educação ambiental em todo o
fácil e rápido o enquadramento dos delitos e País, o que considero essencial para o sucesso
instituindo penas muito mais severas. de toda a política conduzida pelo Ministério.
A Política Nacional de Recursos Hídricos ga- Para complementar esse esforço, ainda nesta
nhou ainda maior viabilidade com a criação da semana, o Presidente deverá assinar decreto
Agência Nacional de Águas – ANA, em 2000. regulamentando a lei e definindo que a gestão
A agência reguladora tem permitido a concre- da Política Nacional de Educação Ambiental fi-
tização de importantes dispositivos da Lei das cará a cargo dos Ministérios do Meio Ambien-
Águas, como a valoração, a cobrança pelo uso te e da Educação, que deverão prever recursos,
e a outorga. Tudo de forma descentralizada e em seus orçamentos, para que a educação am-
participativa, características que tornaram ino- biental possa permear os mais diversos pro-
vadora nossa política dos recursos hídricos. A gramas e projetos governamentais.
criação da ANA veio completar a configuração Também relevante tem sido nossa luta – dos
prevista para a área de planejamento e gestão ambientalistas e de toda a sociedade – para a
da água no Brasil, país detentor do maior volu- atualização do Código Florestal, num contexto
me de água doce renovável do mundo. de melhor aproveitamento das vocações re-

156
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

gionais, de uso racional dos recursos ambien- Sr. Presidente, após todo o esforço empreendido,
tais e de responsabilidade social. O projeto de podemos dizer que temos hoje uma política bas-
conversão da medida provisória, hoje defen- tante consolidada de conservação da biodiversi-
dido pelo Governo, resulta de amplo debate e dade brasileira, com estratégias de conservação
de consulta pública nacional, organizada pelo para todos os biomas. Muitas novas áreas prote-
CONAMA, o que fez de nossa proposta a exata gidas foram criadas e o fortalecimento da gestão
representação dos mais legítimos anseios da das unidades de conservação ganhou enorme
sociedade pela conservação e o bom uso do impulso nesses últimos três anos.
patrimônio florestal brasileiro. Vejam os senhores que, em dez anos, haviam
Em 2000, também aprovamos a lei que cria o sido criadas onze Unidades de Conservação e
Sistema Nacional de Unidades de Conserva- Proteção Integral no Brasil. Com esse nosso
ção, que veio uniformizar e consolidar critérios esforço, somente no ano de 2001, criamos oito
para o estabelecimento e a gestão de áreas unidades e estamos, neste ano, prestes a criar
protegidas. O mais importante aspecto do Sis- mais oito unidades, cujos processos para cria-
tema Nacional de Unidades de Conservação – ção estão em análise final. Além dessas áreas,
SNUC é que ele estabelece um novo paradig- firmamos acordo de cooperação com o INCRA
ma para as nossas unidades de conservação, para recebermos cerca de 20 milhões de hec-
em que um dos principais indicadores de de- tares de terras na Amazônia, destinadas à cria-
sempenho deve ser o bem-estar e a qualida- ção de novas unidades de conservação.
de de vida das comunidades de seu entorno. Com relação à consolidação das áreas já exis-
Os parques nacionais devem contribuir para a tentes, vejam que até 1998 haviam sido elabo-
construção de um modelo de desenvolvimen- rados apenas dezenove planos de manejo. Já
to economicamente viável, socialmente justo sob nossa gestão, nada menos que 23 novos
e ambientalmente sustentável, preservando a planos foram finalizados. Os planos são estu-
natureza e, principalmente, fazendo-o de um dos fundamentais para a implementação das
modo participativo e democrático. unidades de conservação. Além deles, também
estão em execução os planos de uso público

Sarney Filho
157
para quatorze parques nacionais, capazes de Hoje mesmo, Sr. Presidente, vimos nos noti-
promover o ecoturismo e de implementar ciários da manhã e da tarde que nos Estados
oportunidades de negócios sustentáveis para Unidos estão ocorrendo enormes incêndios
as regiões de seu entorno. florestais. No ano passado, Austrália, Portugal
Corroborando todo esse esforço, também al- e Espanha também sofreram com isso. Esses
cançamos enorme sucesso no controle das são países ricos, que dispõem de frotas de
queimadas nas unidades de conservação. Aqui avião e helicópteros para combater o fogo.
importa fazer uma ressalva. Quando a impren- Como País pobre, optamos pela prevenção, o
sa divulga o aumento de focos de calor capta- que diminuiu em 86% queimadas de parques
dos por satélite, isso não quer dizer que estes e florestas. E hoje, seguramente, temos o me-
representem incêndios em unidades de con- lhor sistema de monitoramento de incêndios
servação ou em florestas. Portanto, não repre- por satélite do mundo. Estamos dando exem-
senta expressiva perda de biodiversidade. Sr. plo e distribuindo tecnologia.
Presidente, hoje 96% desses incêndios ocor- Ainda no âmbito de nossa política de conser-
rem em áreas agrícolas que já foram anterior- vação, criamos o Conselho de Gestão do Patri-
mente desmatadas. Está claro que essa antiga mônio Genético, que veio ocupar espaço fun-
prática de nossos agricultores tira elementos damental para coibir ações de biopirataria. Tal
vitais do solo e precisa ser urgentemente subs- iniciativa visa tornar a bioprospecção atividade
tituída por outras alternativas tecnológicas, o norteadora do desenvolvimento sustentável,
que está a cargo das campanhas feitas pelo pois o Conselho irá coordenar a gestão de nos-
Ministério da Agricultura. Ao Ministério do so patrimônio genético, disciplinando o aces-
Meio Ambiente cabe o controle dos incêndios so e a remessa de amostras e a elaboração de
nas unidades de conservação e em florestas. E, contratos de utilização dos recursos genéticos
nessas áreas de alta biodiversidade, podemos e das respectivas repartições de benefícios.
dizer com satisfação que nos últimos dois anos
Cabe aqui lembrar que uma enorme contribui-
a extensão desses incêndios diminuiu 86%.
ção à conservação da biodiversidade brasileira
encontra-se agora nas mãos desta Casa. Trata-

158
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

se da oportunidade de aprovarmos o Projeto de temas naturais está extremamente relaciona-


Lei da Mata Atlântica. Este bioma abriga 80% da à correção dos problemas ambientais nas
da população brasileira e, apesar de já bastante cidades. Nestas está o componente humano
devastado, conta ainda, o que é surpreendente, que precisa ser atendido para a real implemen-
com os maiores índices de biodiversidade do tação do desenvolvimento sustentável, sem o
País e do mundo, além de abastecer as grandes qual os biomas não serão preservados.
metrópoles do litoral brasileiro. A aprovação do A intrincada relação entre urbanização, indus-
PL será às vésperas da Rio+10, a demonstração trialização, crescimento econômico, desenvol-
do compromisso desta Casa com a conservação vimento social e meio ambiente era, até o iní-
de nossa biodiversidade e com a construção do cio de 1999, um objeto de difícil identificação
desenvolvimento sustentável no País. no contexto da agenda ambiental brasileira.
Faço apelo para que votemos o quanto antes o Apesar das diretivas emanadas da Agenda 21,
Projeto de Lei da Mata Atlântica, recentemen- o meio ambiente ainda estava sendo tratado
te aprovado pela Comissão de Constituição e como um tema dissociado do ser humano, da
Justiça e de Redação. A proposição conta com cidadania e do progresso do País.
a unanimidade dos segmentos desta Casa, é A consolidação de uma política ambiental ur-
moderna e incentiva não o conservacionismo bana, funcionando em consonância com as
em si, mas o desenvolvimento sustentável, so- iniciativas de conservação dos ecossistemas
lução para nossa biodiversidade. naturais, permitiu uma radical mudança na po-
Relacionadas nossas ações na agenda azul – lítica do Ministério do Meio Ambiente, na qual
das águas – e na agenda verde – da biodiversi- os aspectos sociais e econômicos passaram a
dade –, falta-nos discorrer sobre a construção, articular-se com as preocupações ambientais
pela primeira vez no âmbito do Ministério, de de forma concreta e objetiva. O fortalecimen-
uma agenda marrom para o País, que veio for- to do Fundo Nacional do Meio Ambiente é o
talecer a gestão integrada de nossos recursos exemplo mais candente dessa política.
ambientais. Não temos dúvidas de que a dimi- A partir dessa atuação, constatamos que a
nuição da pressão antrópica sobre os ecossis- área ambiental assume hoje um outro patamar
Sarney Filho
159
dentro do Governo, fazendo-se ouvir e interfe- incorporada ao Plano Plurianual e ser contem-
rindo em várias iniciativas de política pública e plada pela destinação de recursos do Orçamen-
em questões nacionais estratégicas, na condi- to da União, dos Estados e dos Municípios.
ção de transversalidade que lhe deve ser carac- A construção de agendas nacionais foi um dos
terística para que possamos, de fato, construir compromissos pactuados entre as nações repre-
o desenvolvimento sustentável neste País. sentadas na Conferência do Rio e é mais um dos
Despedi-me do Ministério dizendo à equipe resultados que o Brasil levará a Joanesburgo.
que ficava que o ano de 2002 estava repleto Numa avaliação geral, podemos dizer ao mun-
de novos desafios relacionados à consolida- do que nos últimos dez anos, mesmo sob con-
ção das últimas conquistas e à preparação do dições econômicas adversas, o Brasil avançou
Brasil para uma incisiva participação na Confe- significativamente em sua política de proteção
rência Rio+10. ambiental e de implementação do desenvol-
Tal previsão configurou-se em verdade, tanto vimento sustentável. A dimensão ambiental
que, ainda nesta semana, além da regulamen- tem sido paulatinamente internalizada no
tação da Lei de Educação Ambiental, estare- processo nacional de planejamento para o
mos colhendo o mais importante fruto da po- crescimento econômico. Sólidos arcabouços
lítica semeada: o Presidente recebe das mãos normativos e institucionais foram construídos
da Comissão de Políticas de Desenvolvimento para o controle das atividades potencialmente
Sustentável, coordenada pelo Ministério do degradadoras, e temos procurado promover
Meio Ambiente e paritária na representação alternativas econômicas sustentáveis nas mais
do Governo e da sociedade civil, a Agenda 21 diversas áreas da produção.
Brasileira, com recomendações de ações prio- Vamos a Joanesburgo, à Rio+10, carregados de
ritárias a serem implementadas, nos próximos bons resultados, mostrar o que fizemos a par-
dez anos, para a construção do desenvolvimen- tir dos compromissos assumidos na Rio 92. Eu
to sustentável no País. Nossa Agenda Nacional, diria que nenhum país com tamanha riqueza
resultado de amplo processo de planejamento natural e igual ordem de grandeza em proble-
democrático e participativo, precisa agora ser

160
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

mas avançou tanto nas questões ambientais não poderão se dispersar num revisionismo
como nós avançamos. de compromissos, como têm pregado os EUA,
Nossa posição é tão mais confortável que nos mas, sim, na consolidação e no avanço desses
tem permitido liderar toda a América Latina e compromissos.
o Caribe no propósito de levarmos uma pro- Devemos, como estamos fazendo, nos orga-
posta fechada de todo o continente para a nizar para, em Joanesburgo, insistir no cum-
Rio+10. Começamos as negociações entre os primento dos acordos já pactuados, pois nos
países do bloco ainda em outubro de 2001, no últimos dez anos assistimos a um retrocesso
Rio de Janeiro, quando recebemos todos os na cooperação internacional para o desenvol-
Ministros do Meio Ambiente da região. Recen- vimento sustentável.
temente, num novo encontro de Ministros em A ajuda financeira dos países ricos, que deve-
São Paulo, foi definida uma pauta comum, com ria passar a ser de 0,7% de seus PIB, não só
propostas formuladas sob a liderança do Bra- não se concretizou, como diminuiu. Em 1992,
sil, que foram reunidas no que passou a se cha- os países ricos contribuíam com até 0,37% de
mar “Declaração de São Paulo”, já apresentada seus PIB. Hoje, eles contribuem com 0,22%, ou
na reunião preparatória de Bali para a Rio+10. seja, em vez de aumentar para 0,7%, diminuiu
Nesta semana, mais uma vez, o Brasil irá des- para 0,2%. Portanto, os países em desenvolvi-
tacar-se na preparação para a Segunda Cúpula mento, na última década, não cumpriram os
da Terra, com o início da Conferência Rio+10 compromissos acertados.
Brasil, onde estarão presentes os Chefes de Para os países em desenvolvimento, a última dé-
Estado da Suécia, do Brasil e da África do Sul cada ficou ainda marcada pela abertura de suas
e representantes de mais de cinquenta países, economias, por um crescente endividamento e
na qual procuraremos resgatar e consolidar a consequente comprometimento orçamentário,
história da mobilização mundial pela defesa ficando bastante diminuídas suas capacidades
do meio ambiente e do desenvolvimento sus- de investimento e, portanto, de recuperação
tentável. Os esforços e as conquistas de Esto- ambiental e de desenvolvimento social.
colmo, em 1972, e do Rio de Janeiro, em 1992,

Sarney Filho
161
Quanto à atuação direta dos países desenvol- construindo no cenário internacional, precisa
vidos para a recuperação ambiental do plane- ser protagonista de proposições concretas, que
ta, assistimos a uma incipiente mobilização, apontem para o fim das barreiras protecionistas
ainda incapaz de fazer frente à magnitude dos às economias em desenvolvimento e para uma
problemas. Enquanto recebemos a notícia da cooperação internacional mais intensa, capaz
ratificação do Protocolo de Kyoto pelo Japão, de conter o ritmo da degradação e diminuir os
ouvimos do Presidente Bush que ele ainda não índices de miséria humana que tanto envergo-
está convencido das evidências científicas que nham nossa civilização.
liguem o aquecimento global às emissões in- Muito obrigado.
dustriais. Continua veementemente contra o
Protocolo de Kyoto, por este ameaçar seria-
mente a economia americana. Esse aparente
estado de cegueira deixa o mundo perplexo e
aterrorizado, por se dar conta de que a nação
hegemônica trata, na verdade, com desdém e
irresponsabilidade a qualidade de vida e a pos-
sibilidade de futuro de todo o planeta.
Mas o resto do mundo não pode se render a este
descaso permanente, a essa apatia irresponsá-
vel. Este é mais um motivo por que temos de
unir esforços para fazer da Rio+10 um sucesso.
O restante dos Governos precisa acenar para a
comunidade global com um pouco de esperan-
ça. Nesse contexto, o Brasil, pelas reservas am-
bientais estratégicas que possui, pela autorida-
de que suas políticas ambientais lhe conferiram
e pela posição política independente que vem

162
Davi Alcolumbre

(V Congresso Mundial de Parques, O Sr. Davi Alcolumbre (PDT-AP. Pronuncia o


Durban, África do Sul) seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, estivemos representando esta Câ-
Participação no V Congresso Mundial de mara de Deputados no V Congresso Mundial de
Parques, realizado na cidade de Durban,
África do Sul. Necessidade de alocação, pelo
Parques, realizado entre os dias 8 e 17 de setem-
Governo Federal, de recursos ao Parque bro, na cidade de Durban, África do Sul. Nosso in-
Nacional Montanhas do Tumucumaque. teresse em participar deste Congresso deveu-se
Sessão 01/10/2003 – DCD 02/10/2003, p. 51523 a criação, no meu Estado – o Amapá –, do maior
parque de floresta tropical do planeta, o “Parque
Nacional Montanhas do Tumucumaque”.
O V Congresso Mundial de Parques, que so-
mente se realiza de dez em dez anos, reuniu
mais de 3.000 pessoas que representaram
uma ampla diversidade de países, interesses
e experiências em relação as áreas protegidas.
O Congresso reconheceu que, em um pla-
no mundial, se tem avançado em termos de
criação de áreas protegidas, mas também

163
reconheceu o quanto é deficiente a implanta- do Amapá, expressamos preocupação pelo
ção participativa dessas áreas. fato de que as pessoas que habitam as áreas
As áreas protegidas, enfrentam pressões e protegidas ou seu entorno não tem acesso a
desafios básicos cada vez maiores, como os educação, saúde e outros serviços públicos
relacionados a pobreza, a globalização e as básicos que possibilitem a essas pessoas as
mudanças mundiais. Entre os principais pro- condições mínimas de dignidade de vida e sua
blemas cabe citar a perda e fragmentação de relação com a preservação desta áreas.
“habitat”, a exploração insustentável, o apare- Expressamos preocupação pela falta de opor-
cimento de espécies invasoras, a carência de tunidade aos nossos jovens para participarem
capacidade, a aplicação de políticas e incenti- ativamente de uma nova agenda de criação e
vos inapropriados e a distribuição inequitativa implantação de áreas protegidas, como a que
de custos e benefícios. o Estado do Amapá propôs no Congresso de
O Brasil apresenta áreas consideradas como Durban.
prioritárias para a conservação da biodiversida- O Amapá mereceu atenção especial no Con-
de do planeta, como a Amazônia, onde está situ- gresso ao anunciar para o mundo a criação do
ado o Estado do Amapá, que concedeu 56% de corredor da biodiversidade do Amapá, envol-
seu território para criação de áreas protegidas. vendo um conjunto de áreas protegidas e pro-
Infelizmente é triste afirmar que essas áreas postas de criação de outras áreas, totalizando
protegidas criadas no meu Estado, e que tanta cerca de 10 milhões de hectares.
importância tem para o equilíbrio ambiental É evidente que essa iniciativa necessita ser
do planeta, estão em situação de abandono e mais bem discutida com a população local.
descaso como consequência de políticas públi- Mas, sinaliza uma alternativa descentralizada
cas equivocadas ou inexistentes. de gestão para as áreas protegidas do Amapá,
Vimos na África do Sul, e sou testemunha, o cujo apoio da comunidade internacional foi
quanto a conservação, quando bem adminis- expresso publicamente em Durban por várias
trada, pode gerar desenvolvimento. No caso instituições do mundo inteiro.

164
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Sras. e Srs. Parlamentares, o Amapá foi enga-


nado pelo Governo anterior, que prometeu li-
berar recursos para investimento em projetos
de desenvolvimento no Estado como contra-
partida pela criação do Parque do Tumucuma-
que, o maior do planeta, e, até então, nenhum
recursos fora repassado para este fim.
Esperamos que este novo Governo entenda
nossos reclames, e efetivamente também nos
conceda ajuda para merecermos o título de
detentores não somente do maior parque flo-
restal do planeta, mas da população mais bem
assistida do país em todas as suas áreas.
Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.

Davi Alcolumbre
165
Aldo Rebelo

(Política Nacional de Biossegurança) Voto


Nossa tarefa é estabelecer um marco regula-
Parecer
tório claro e estável em biotecnologia. É pré-
Comissão Especial destinada a proferir
parecer ao Projeto de Lei nº 2.401, de condição para os necessários investimentos
2003. Projeto de Lei nº 2.401, de 2003 em pesquisa e desenvolvimento nessa área
Estabelece normas de segurança e mecanismos estratégica. Está no art. 1º, inciso I, da Cons-
de fiscalização de atividades que envolvam tituição Federal: a soberania é fundamento da
organismos geneticamente modificados – OGM República Federativa do Brasil.
e seus derivados, cria o Conselho Nacional
Poucos temas nos últimos anos têm susci-
de Biossegurança – CNBS, reestrutura a
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança tado tanta atenção quanto a engenharia ge-
– CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional nética. Dominar essa área do conhecimento
de Biossegurança e dá outras providências. torna-se, cada vez mais, condição necessária
Autor: Poder Executivo para a soberania dos países. Não tratamos
Relator: Deputado Aldo Rebelo neste caso de bens intangíveis ou de máqui-
nas frias: falamos do nosso alimento e dos re-
médios que tomamos.

167
Pretendeu o Poder Executivo com o Projeto de O substitutivo que apresentamos hoje, nasci-
Lei 2401/2003 aclarar as dúvidas que a prática do desse processo democrático, baseia-se nos
da Lei anterior suscitara e remover os entraves quatro princípios a que nos referimos desde as
decorrentes de sua interpretação. Busca-se tam- primeiras discussões em torno da proposta:
bém estabelecer as bases legais que permitirão 1. Absoluta prioridade à pesquisa e ao de-
alavancar o desenvolvimento nacional de forma senvolvimento tecnológico nacionais. Tra-
sólida e segura, permanente e sustentável. ta-se de capacitar o Brasil a competir com
Entendemos que o Projeto de Lei constitui im- as demais nações no campo da biotecno-
portante peça regulatória, modernizadora e logia e da engenharia genética. A Ciência
adequada aos objetivos buscados pelo Poder é uma conquista da humanidade. As dú-
Executivo. vidas geradas pelo seu avanço devem ser
Analisamos as 278 emendas oferecidas pelos tratadas à luz da razão. Respeitamos todas
nobres deputados e deputadas ao Projeto de as crenças e formas de pensamento, mas
Lei. Ouvimos as críticas e propostas apresen- o caráter laico do Estado brasileiro exige
tadas pelos especialistas e autoridades em que as políticas públicas sejam ditadas por
audiências públicas e em visitas a instituições razões objetivas, materiais.
de pesquisa. Lemos importantes documentos, 2. O cuidado com a saúde pública. A vin-
entre os quais destacamos o Relatório Final culação dos produtos geneticamente
da Subcomissão Especial de Alimentos Trans- modificados até agora conhecidos com a
gênicos da Comissão de Ciência e Tecnologia, alimentação humana e animal e sua inte-
subcomissão presidida pelo 9 nobre deputado ração com o setor de produção de medi-
Gustavo Fruet e que teve como relator o nobre camentos e vacinas levam-nos a valorizar
deputado Nelson Proença. as preocupações relacionadas à saúde das
populações, pelo uso ou pelo consumo de
Reunimo-nos também com líderes dos mais
Organismos Geneticamente Modificados
diversos setores da Ciência, da indústria e dos
(OGM). Este aspecto deve ser obrigato-
movimentos sociais.

168
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

riamente priorizado na formulação das É fundamental que o Brasil detenha, sobera-


políticas e da legislação para o setor. namente, os conhecimentos indispensáveis
3. A defesa e proteção do meio ambiente. A ao seu desenvolvimento nos campos da bio-
nação brasileira tem uma rica biodiversi- tecnologia e da produção alimentar. Seria um
dade. Devemos adotar atitude absoluta- crime de lesa-pátria aceitarmos passivamente
mente responsável, comprometida com a sermos deixados para trás nessa área de ponta
preservação de nossos recursos naturais do conhecimento humano. Trata-se de termos
e com a necessidade de políticas públicas domínio sobre nossa comida e nossos remé-
capazes de dar sustentabilidade ao pro- dios. Trata-se de termos controle sobre técni-
cesso de desenvolvimento. Os avanços cas que nos permitam mais competitividade
científicos e tecnológicos são importan- no mercado mundial do agronegócio, peça-
tes para a preservação ambiental. Do de- chave no equilíbrio de nossas contas externas.
senvolvimento de novas técnicas e novos Alguns Pressupostos Jurídicos de nosso substi-
conhecimentos é possível extrair formas tutivo. Estabelece a Constituição:
de explorar menos intensamente os re-
cursos naturais, preservá-los num grau “Art. 218. O Estado promoverá e incenti-
mais alto e permitir maior harmonia na vará o desenvolvimento científico, a pes-
convivência da sociedade com os ecossis- quisa e a capacitação tecnológicas.
temas. Se adequadamente aplicados, os §1º. A pesquisa científica básica receberá
conceitos científicos e as novas técnicas tratamento prioritário do Estado, tendo
são poderosos instrumentos de preserva- em vista o bem público e o progresso das
ção ambiental. O desenvolvimento cien- ciências.
tífico e a difusão do conhecimento na so- §2º. A pesquisa tecnológica voltar-se-á pre-
ciedade são fundamentais para a defesa ponderantemente para solução dos proble-
do meio ambiente. mas brasileiros e para o desenvolvimento
4. A defesa da soberania nacional e da sobe- do sistema produtivo nacional e regional”.
rania alimentar do Brasil.

Aldo Rebelo
169
Estabelece, também, o mesmo texto constitu- com a obrigação de preservar a diversidade e
cional: a integridade do patrimônio genético do País,
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e
“Art. 225. Todos têm direito ao meio am-
manipulação de material genético e de contro-
biente ecologicamente equilibrado, bem
lar a produção, comercialização e o emprego
de uso comum do povo e essencial à sadia
de técnicas que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida, impondo-se ao Poder
qualidade de vida e o meio ambiente.
Público e à coletividade o dever de defen-
Regulamentam-se, portanto, as obrigações pre-
dê-lo e preservá-lo para as presentes e fu-
vistas no art. 225 §1º, incisos II, IV e V da Cons-
turas gerações.
tituição Federal, no que diz respeito aos OGM.
§1º. Para assegurar a efetividade desse di-
reito, incumbe ao Poder Público. A Constituição Federal em momento algum
II – preservar a diversidade e a integridade restringe a utilização da biotecnologia, apenas
do patrimônio genético do País e fiscalizar requer que o desenvolvimento tecnológico e
as entidades dedicadas à pesquisa e mani- científico se dê sempre com vistas à preserva-
pulação de material genético; ção do meio ambiente.
IV – exigir, na forma da lei, para instala- O direito brasileiro não proíbe a manipulação
ção de obra ou atividade potencialmente de material genético. Ao contrário, a Consti-
causadora de significativa degradação do tuição a admite e a coloca sob a tutela do Esta-
meio ambiente, estudo prévio de impacto do, como está claro no inciso II do art. 225 do
ambiental, a que se dará publicidade; texto constitucional.
V – controlar a produção, a comercialização Outra questão que se apresenta e que busca-
e o emprego de técnicas, métodos e subs- mos resolver com o presente substitutivo diz
tâncias que comportem risco para a vida, a respeito à realização do estudo prévio de im-
qualidade de vida e o meio ambiente.” pacto ambiental.
O substitutivo que apresento ao Projeto de
A Constituição Federal ao estabelecer que o
Lei 2401/03 busca harmonizar a promoção
Poder Público exigirá o estudo de impacto
do desenvolvimento científico e tecnológico

170
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

ambiental quando da instalação de obra ou Uma vez determinada em que situação cabe
atividade que represente significativa degrada- a exigência do estudo de impacto ambiental,
ção do meio ambiente, não deixou ao intérprete surge a questão de quem tem competência
nenhuma liberdade, a não ser a de concluir que administrativa para enumerar as atividades de
sempre que uma atividade ou obra acarretar significativa degradação ambiental.
significativa degradação ambiental há de ser A própria Constituição Federal nos diz que
exigido o EIA/RIMA (Estudo de Impacto Am- caberá ao legislador ordinário discriminar em
biental/Relatório de Impacto Ambiental). Por lei específica as obras ou atividades potencial-
outro lado, o constituinte não explicitou o que mente causadoras de significativa degradação
vem a ser “significativa degradação do meio ambiental.
ambiente”. Não o fez, porque não haveria ra-
Cabe aqui fazer uma ressalva importante. Qual
zões técnicas para fazê-lo, uma vez que estas
seja, a quem compete no caso dos OGM de-
questões são afetas a definições e conceitos
terminar se a atividade acarreta ou não sig-
próprios das normas infraconstitucionais.
nificativa degradação do meio ambiente. A
Remeteu, portanto, o constituinte tal tarefa Constituição Federal não atribui a um órgão
ao legislador ordinário para que, na forma da específico a competência para determinar que
lei, este regulasse o que é atividade ou obra atividades são potencialmente poluidoras.
potencialmente causadora de significativa de-
O caput e o § 1º do art. 225 impõem ao Poder
gradação ambiental, que enseja a realização
Público o dever de defender, preservar e asse-
do EIA/RIMA.
gurar a efetividade desse direito.
Ressalte-se mais uma vez que a Constituição
Como se vê, a ordem constitucional está di-
Federal não exige estudo de impacto ambien-
rigida ao Poder Público de modo indistinto,
tal para qualquer atividade, mas tão somente
genérico, não apontando repartição, órgão ou
para aquelas atividades que possam vir a cau-
autoridade do Poder Público investido dessa
sar “significativa” degradação do meio ambien-
competência. A indeterminação de qual ór-
te, restringindo, deste modo, o tipo de risco.
gão estaria incumbido especificamente desse

Aldo Rebelo
171
dever extrai-se não apenas da generalidade da titucional e em juízo de avaliação política, criar
expressão Poder Público na letra da Constitui- a CTNBio e a ela atribuir a competência em ma-
ção, mas igualmente da parte final do caput do téria de biossegurança ambiental, deliberando
art. 225 quando imputa esse dever expressa- que cabe a ela determinar, no caso específico
mente à coletividade. de OGM, que atividades podem causar signifi-
Podemos afirmar, então, que cabe ao legislador cativa degradação do meio ambiente, exigindo
infraconstitucional dizer qual órgão será com- assim a realização do estudo de impacto am-
petente para exercer as atividades contidas no biental, previsto na Constituição Federal e na
art. 225 da Constituição. Não há, portanto, im- legislação ambiental genérica (Lei 6938/81).
pedimento legal para que em relação a OGM Reitere-se novamente que a Constituição Fede-
seja promulgada lei específica para cuidar desta ral só exige o EIA/RIMA de atividades potencial-
questão. Não há, tampouco, norma legal que mente causadoras de significativa degradação
impeça a criação de um órgão específico en- ambiental e que deverão assim ser definidas na
carregado de fiscalizar as entidades dedicadas forma da lei. Isto pressupõe que o Poder Públi-
à pesquisa e manipulação de material genético, co (no caso de OGM a CTNBio) antes decida se
e cuidar da preservação da diversidade e inte- a atividade é ou não causadora de significativa
gridade do patrimônio genético do país, que no degradação ambiental, para efeito de se exigir o
caso do substitutivo em questão é a Comissão estudo de impacto ambiental.
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Ora, a Constituição Federal em momento al-
Essa discricionariedade, prevista no art. 225 da gum define “Poder Público” de forma a ensejar
Constituição Federal, de permitir que o legis- a exclusão da CTNBio da condição de Poder
lador ordinário, na forma da lei, escolha esse Público, razão pela qual não vemos óbice cons-
ou aquele órgão para deliberar sobre OGM e titucional que impeça a criação da CTNBio,
biossegurança ambiental, integra o juízo de como órgão vinculado ao Ministério da Ciência
valor político, próprio do legislador. e Tecnologia, nem tampouco razões para que a
Concluímos, desta maneira, que pode o Con- mesma não seja considerada Poder Público, nos
gresso Nacional, por força de dispositivo cons- termos do art. 225 da Constituição Federal.

172
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

O presente substitutivo buscou ainda elidir o Este posicionamento se justifica com base no
suposto conflito de competência existente en- art. 2º, § 2º, da Lei de Introdução ao Código
tre a lei de biossegurança (lei especial) e lei de Civil. A lei especial não revoga a geral, mas
meio ambiente (lei geral). excepciona as disposições que se relacionam,
Neste tema duas questões se afiguram: a pri- embora genericamente, com as da lei especial.
meira diz respeito à competência da CTNBio Estamos certos, portanto, de que não há impe-
para deliberar sobre as atividades com OGM ditivo legal que impeça atribuirmos à CTNBio
que são de significativa degradação do meio a competência para deliberar sobre OGM e
ambiente e que ensejam a realização do res- também sobre as atividades que efetivamente
pectivo estudo de impacto ambiental; a se- causem significativa degradação ao meio am-
gunda trata dos métodos adotados pela lei biente, posto tratar-se o presente substitutivo
de biossegurança e pela lei de meio ambiente de norma especial sobre OGM.
para determinar as atividades potencialmente As normas da Lei 6938/81 são gerais em ma-
causadoras de degradação ambiental. téria ambiental, pois dizem respeito ao am-
No que diz respeito à competência da CTNBio biente como um todo. As normas propostas
para deliberar sobre a questão dos OGM en- no presente substitutivo são especiais, porque
tendemos ser caso em que a legislação especial dizem respeito apenas a um dos aspectos do
derroga lei geral. Ou seja, optamos no presente meio ambiente, que é a construção, manipula-
substitutivo por atribuir competência à CTNBio ção e liberação de OGM.
para proceder à análise dos casos envolvendo Apesar do entendimento manifestado acima,
OGM, inclusive para deliberar sobre os casos no sentido de que a norma especial prevalece
em que efetivamente se constata significativa sobre a geral, e com o objetivo de elidir quais-
degradação ambiental. A competência genérica quer situações de conflito na área jurídica, bus-
para determinar os casos de significativa degra- camos também harmonizar no presente subs-
dação ambiental, exceto para OGM, continua titutivo os método de análise utilizados pela
sendo de competência do IBAMA. lei de biossegurança e pela lei ambiental no
que diz respeito à identificação das atividades
Aldo Rebelo
173
com OGM que são potencialmente causado- quado para OGM, pois garantirá que um órgão
ras de degradação do meio ambiente. altamente especializado no tema identifique as
A lei atual de biossegurança adota o método atividades que possam oferecer significativo ris-
de análise caso a caso e atribui competência co de degradação ambiental. Optamos, portan-
à CTNBio para identificar caso a caso as ati- to, por alterar a redação do Código 20 do Anexo
vidades envolvendo OGM que são potencial- VIII da Lei 6938/81, que tem servido de argumen-
mente causadoras de significativa degradação to para justificar o conflito entre a lei de bios-
do meio ambiente, e portanto passíveis de exi- segurança e a lei de meio ambiente, que passa
gência de EIA/RIMA. Já a legislação de meio a ter em nosso substitutivo a seguinte redação:
ambiente (Lei 6938/81), com a alteração feita “Art. 38. A descrição do Código
pela Lei 10.165/00, criou um rol de atividades 20 do Anexo VIII da Lei no 6.938,
consideradas poluidoras do meio ambiente, de 31 de agosto de 1981, passa a
que consta do anexo da Lei 6938/81, incluídas vigorar com a seguinte redação:
neste rol as atividades com OGM. “Código 20, Descrição: silvicultura;
exploração econômica da madeira
Depreendemos daí que a legislação de meio
ou lenha e subprodutos florestais;
ambiente trabalha com a ideia de risco presu-
importação ou exportação da fauna
mido, estabelecendo de forma apriorística que e flora nativas brasileiras; atividade
tudo que envolve a liberação de OGM no meio de criação e exploração econômica
ambiente é poluidor, seja qual for a atividade. de fauna exótica e de fauna silvestre;
Os métodos adotados pelas duas leis, como utilização do patrimônio genético
se pode perceber, são distintos e acabam por natural; exploração de recursos
ensejar argumentos no sentido de que ambas aquáticos vivos; introdução de espécies
estariam em conflito. exóticas, exceto para melhoramento
genético vegetal e uso na agricultura;
Entendemos que o método de análise caso a introdução de espécies geneticamente
caso (cada evento de transformação genética modificadas previamente identificadas
deve ser avaliado pela CTNBio) é o mais ade- pela CTNBio como potencialmente

174
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

causadoras de significativa degradação economicamente viáveis para prevenir a degra-


do meio ambiente; uso da diversidade dação ambiental”.
biológica pela biotecnologia em
O princípio já havia sido adotado por nosso
atividades previamente identificadas
Constituinte em 1988, quando no caput do
pela CTNBio como potencialmente
art. 225 determinou que a lei regulasse as nor-
causadoras de significativa
degradação do meio ambiente.” mas dos incisos II e V do § 1º, determinando
que fossem adotadas medidas para prevenir a
Ao introduzir esta modificação na redação da
destruição do meio ambiente.
Lei 6938/81 acreditamos harmonizar definiti-
vamente a metodologia para análise das ati- O Princípio da Precaução não significa a proi-
vidades com OGM que causam significativa bição de se utilizar uma nova tecnologia. O
degradação ao meio ambiente, reiterando na princípio não pode ser interpretado, à luz da
própria lei ambiental que a competência para Constituição Brasileira, como uma proibição
determinar se o OGM é ou não potencialmen- do uso da tecnologia na agricultura, porque o
te poluidor é da CTNBio, órgão especialmente Constituinte de 1988 estabeleceu, em seu art.
criado para deliberar sobre OGM. 187, inciso III, que a política agrícola levará em
conta principalmente o incentivo à pesquisa e
Este substitutivo contempla, ainda, o Princípio
à tecnologia.
da Precaução.
A aplicação do princípio significa que, existindo
Ele está expresso no Princípio 15 da Declara-
incerteza científica, devem ser adotadas medi-
ção sobre Meio Ambiente e desenvolvimento
das para prevenir e controlar eventuais danos
adotado no Rio de Janeiro, em junho de 1992,
à saúde do consumidor e ao meio ambiente, e
por ocasião da Conferência das Nações Unidas
não medidas proibitivas.
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Se-
gundo tal princípio “quando houver ameaça de Através do presente substitutivo, o que se
danos sérios ou irreversíveis, a ausência de ab- busca efetivamente é dar cumprimento ao
soluta certeza científica não deve ser utilizada Princípio da Precaução, no que diz respeito às
como razão para postergar medidas eficazes e atividades relativas à utilização de OGM.

Aldo Rebelo
175
Ao regulamentar os incisos II, IV e V do § 1º do petência, determinar a necessidade, e quais
art. 225 da Constituição Federal e estabelecer são os estudos que a atividade em questão re-
normas de segurança e mecanismos de fiscali- quer, de forma a evitar eventuais riscos a pes-
zação de atividades que envolvam OGM e seus soas e ao ecossistema. Certamente, o substi-
derivados, com certeza damos cumprimento tutivo ora apresentado atende ao Princípio da
ao Princípio da Precaução. Precaução. O presente substitutivo impõe um
A biossegurança consiste no conjunto de téc- estudo prévio a ser feito pela CTNBio, cria um
nicas e práticas voltadas para o controle e mi- ente capaz de cuidar do assunto de forma es-
nimização de riscos advindos das práticas de pecializada e sujeita os OGM a um permanen-
diferentes tecnologias em laboratórios ou no te monitoramento. Isto é dar cumprimento ao
meio ambiente. Assim, uma vez estabelecidas Princípio da Precaução.
as normas regulamentadoras da engenharia Centrado nestes princípios, e com base nas in-
genética no Brasil, damos pronto atendimento formações recolhidas e nas análises realizadas,
ao Princípio da Precaução. propusemos Substitutivo que apresenta modi-
Vale observar que o Princípio da Precaução ficações em relação ao Projeto de Lei original:
não se restringe à realização do estudo de im- 1. Instituição de Fundo para financiamento
pacto ambiental. Tal princípio de fato se reali- de pesquisas em plantas utilizadas predo-
za por meio de todas as medidas necessárias minantemente por agricultores familiares,
para garantir a preservação do meio ambiente, em produtos e insumos de uso dessa ca-
incluídas a criação de uma Comissão Especial tegoria de produtores e para realização
(CTNBio) especializada para analisar a poten- de estudos de análise de risco dos OGM
cialidade danosa de determinado OGM (análise no meio ambiente e na saúde humana. Os
de risco) e o fato de prevermos uma análise caso recursos para este Fundo provirão de uma
a caso, portanto específica para cada situação. Contribuição de Intervenção no Domínio
O princípio requer, na verdade, que a inserção Econômico, denominada CIDE-OGM, a ser
de atividade no meio ambiente seja precedida cobrada sobre o comércio e a importação
de uma análise que permita, a quem tem com- de sementes e mudas transgênicas.

176
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

2. Modificações na composição do CNBS e respectivos Ministérios, aportarão co-


da CTNBio, de forma a incluir represen- nhecimentos específicos às discussões e
tantes ministeriais que, a nosso ver, não às decisões tomadas.
poderiam deixar de participar das deci- 4. Optamos por valorizar o papel técnico e
sões desses fóruns. Neste caso, propuse- decisório da CTNBio. Propomos que ela
mos a inclusão dos Ministros da Defesa, mantenha a atribuição de identificar as
da Fazenda e do Planejamento, Orçamen- atividades relacionadas a OGM poten-
to e Gestão no CNBS e do Ministério da cialmente danosas ao meio ambiente e
Defesa na CTNBio. que tenha autonomia para decidir acer-
3. Para tornar mais precisa e rigorosa a in- ca da importação de OGM ou derivados,
dicação dos membros da CTNBio, e num quando destinados a pesquisas. Estabele-
esforço de democratização dos processos ce também o poder vinculante do parecer
utilizados para tal, propusemos modifica- da CTNBio junto aos órgãos de registro e
ções mais profundas em sua composição. fiscalização quanto aos aspectos de bios-
A intenção é fortalecer o papel das so- segurança. Propomos que a CTNBio te-
ciedades científicas e da sociedade civil nha autonomia para decidir sobre proje-
na escolha dos membros da Comissão, tos de pesquisa em OGM. Suas decisões
preservando seu caráter científico e téc- serão definitivas, tomadas em última
nico. Propusemos a modificação do item instância. Após pronunciada sua decisão,
relativo aos representantes de entidades caberá aos órgãos de registro e fiscaliza-
na CTNBio, esclarecendo que serão espe- ção exercerem a atividade de fiscalização,
cialistas nos respectivos temas. Entende- não lhes cabendo, neste caso, novas au-
mos que a característica eminentemente torizações ou análises para decisão.
técnica da Comissão estará mais adequa- 5. Já no que se refere à liberação comercial de
damente preservada com a presença de produtos OGM, propomos um rito próprio
especialistas que, a partir de sugestões que, acreditamos, dará a necessária segu-
da sociedade civil e por indicação dos rança à sociedade e a agilidade adequada

Aldo Rebelo
177
à análise dos processos: amplia-se o poder çoadoras de caráter estruturante, proce-
da CTNBio, de modo a considerar final e demos a outras importantes alterações
definitivo seu parecer, quando contrário que nos permitimos relatar sucintamente:
à liberação. Já nos casos em que o pare- a. Mantivemos o CQB – Certificado de
cer seja favorável à liberação, o poder da Qualidade em Biossegurança. Julgamos
CTNBio seria limitado: amplia-se nes- que é o instrumento adequado – dado o
te caso o poder do CNBS, de tal forma a poder que conferimos à CTNBio – para
conferir-lhe a atribuição de apreciar os pe- o controle do licenciamento das entida-
didos de liberação comercial e ratificar, ou des de pesquisa.
não, a decisão favorável da CTNBio. Para
b. Retiramos da categoria de derivados de
tornar mais ágeis os processos, propõe-se
OGM as substâncias puras, quimicamen-
prazo para que o CNBS delibere.
te definidas, que, mesmo produzidas a
6. Retiramos do Projeto de Lei disposição partir ou com a participação de OGM,
que veda “produção, armazenamento ou
não contenham o OGM, a proteína he-
manipulação de embriões humanos des-
teróloga ou o ADN recombinante. Desta
tinados a servir como material biológico
forma, retira-se da análise, pelos meca-
disponível”. Nosso país deve manter uma
nismos propostos pela Lei, um grande
oposição firme à clonagem humana para
número de produtos que não expres-
fins reprodutivos. Apresentei, inclusive,
sam a proteína de OGM e são, portanto,
Projeto de Lei neste sentido. Creio, po-
iguais aos demais produtos existentes.
rém, que não devemos criminalizar a pes-
quisa científica e o estudo das chamadas c. Determinamos que somente estarão
células-tronco, detentoras de enorme po- sob a égide da Lei dos Agrotóxicos os
tencial terapêutico em doenças ainda re- OGM que servem de matéria-prima
sistentes a outras formas de tratamento. para a produção de agrotóxicos.
7. Além dessas anteriormente referidas, que d. A não convalidação dos atos até então
se constituem em modificações aperfei- praticados pela CTNBio poderia acar-

178
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

retar uma situação de incerteza jurídica A partir da apreciação que fizemos, voto pela
para os que realizam atividades nesta constitucionalidade, juridicidade e boa técnica
área, o que ensejaria inclusive proposi- legislativa do PL nº 2.401, de 2003 e das emen-
tura de ações judiciais para garantir di- das a ele apresentadas. Voto, também, pela
reitos já adquiridos. Como afirmado no compatibilidade e pela adequação orçamen-
início, nosso objetivo é estabelecer um tária e financeira das proposições em análise.
marco regulatório claro e estável em bio- Quanto ao mérito, voto pela aprovação do
tecnologia de OGM. Para de evitar uma Projeto de Lei nº 2.401, de 2003 e, de forma
situação de incerteza jurídica que não integral ou parcial, das Emendas nº 02, 03, 07,
interessa ao país, optamos por manter 08, 09, 35, 36, 37, 40, 42, 49, 51, 60, 62, 64, 65,
em vigor os CQBs, comunicados e pare- 69, 71, 73, 76, 80, 82, 83, 85, 89, 101, 111, 113, 117,
ceres já emitidos pela CTNBio. Incluímos 119, 130, 143, 146, 149, 150, 151, 152, 155, 159, 160,
dispositivo que mantém, explicitamente, 161, 170, 174, 176, 177, 178, 179, 180, 187, 198, 199,
as decisões, comunicados e pareceres já 200, 205, 206, 210, 211, 212, 213, 214, 215, 220,
emitidos pela CTNBio, de forma a dar 222, 224, 225, 226, 227, 228, 229, 231, 232, 238,
segurança jurídica relativamente às ativi- 242, 245, 246, 249, 262, 270, 275, 277 e 278, na
dades que foram, até o momento, reali- forma do Substitutivo que apresento, e pela
zadas, dentro dos preceitos legais. rejeição das demais.
e. Finalmente, incorporamos, no Subs-
titutivo, todos os crimes e penas que Sala da Comissão, de de 2004.
constam da Lei de Biossegurança, de tal Deputado Aldo Rebelo
forma a, diferentemente do que propõe Relator
o Projeto de Lei, podermos revogar por
inteiro a Lei nº 8.974, de 1995, que, da
forma como proposto, ficaria vigorando
apenas com um artigo.

Aldo Rebelo
179
Ann Pontes

(Biodiesel-Biossegurança-Transgênicos) A Sra. Ann Pontes (PMDB-PA. Sem revi-


são da oradora.) – Sr. Presidente, Sras. e
Conciliação entre o desenvolvimento Srs. Deputados, sem querer parecer utópica,
e a preservação do meio ambiente. e mesmo correndo o risco de dizer o óbvio,
Divulgação do biodiesel. Alerta sobre
os impactos advindos da produção de
acredito que nossa preocupação com o meio
organismos geneticamente modificados. ambiente deve ser encarada como a própria
Congratulação à Casa pela aprovação do defesa da vida, a garantia da harmonia e da so-
projeto de lei sobre biossegurança. brevivência da espécie.
Sessão 06/02/2004 – DCD 07/02/2004, p. 4728 Sendo assim, todo cuidado é pouco quando
nos depararmos com questões vinculadas ao
desenvolvimento desenfreado ou com o dis-
curso desenvolvimentista.
Os ecologistas, os defensores do meio ambien-
te, correriam o risco de ver banalizadas suas
teorias e passariam a imagem de pessoas retró-
gradas, avessas ao progresso, ou seres movidos
por uma utopia. Poucos se dão conta de que

181
sem um meio ambiente conservado e equilibra- Um relatório, divulgado em Washington, aler-
do simplesmente não haverá progresso. ta para o perigo de se trabalhar com genes ar-
O progresso está, justamente, em conseguir- tificialmente modificados.
mos conciliar desenvolvimento e preservação. O principal ponto de um estudo produzido
Nesta luta inerente ao processo de desenvol- pelo departamento de agricultura americano é
vimento, existem casos bem-sucedidos que que nenhum método de controle e isolamen-
precisam ser divulgados, como, por exemplo, o to das experiências, com o cultivo de plantas
biodiesel, solução de combustível bem menos modificadas, bem como a criação de animais
poluente, uma vez que efetua a chamada “quei- alterados geneticamente, é seguro.
ma limpa”, por se utilizar do aproveitamento Segundo os especialistas, ao escapar para o
de vegetais como a soja, o algodão, o girassol, meio ambiente, as células modificadas tendem
entre outros. Além de não agredir o meio am- a dispersar-se e se impor sobre a vida natural.
biente, ainda possibilita economia sem perda De acordo com artigo publicado pelo jor-
de qualidade e proporciona benefícios socioe- nalista Mauro Santayana, do jornal Correio
conômicos por meio da geração de empregos Braziliense, que explorou a questão, um dos
e do desenvolvimento da agricultura. exemplos citados é o do salmão, que teve seus
De outro lado, no entanto, os transgênicos, que genes alterados, a fim de crescer muito mais e
também geram indiscutíveis benefícios econô- rapidamente. Ao desenvolver-se, essa espécie
micos, ainda não conseguiram ter a segurança adquire qualidades que superam as dos peixes
comprovada. E tão preocupante quanto, no normais, levando vantagens tanto na disputa
caso de culturas como a soja, a grande maioria pelos alimentos quanto na disputa pelas fê-
das experiências valem-se de uma prática pre- meas. Pressupõe-se com isso que, ao ganhar
datória da natureza para a sua implementação. os rios e oceanos, eles acabarão por eliminar a
Por essa razão, a polêmica em torno dos trans- espécie natural.
gênicos ainda está longe do fim. No caso das plantas, sujeitas a se espalharem
por conta da polinização, o perigo é semelhante.

182
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, essas


ações pressupõem um impacto na cadeia de
causa e efeito que regem, impiedosamente, as
leis da natureza. Imaginem isso no Brasil, que
possui uma das maiores biodiversidades do
planeta! E mais: uma diversidade ainda desco-
nhecida para nós.
Nossa responsabilidade é gigantesca. O dis-
curso não pode ser encerrado com alegações
econômicas de geração de empregos. Precisa-
mos ir muito além para que as gerações futu-
ras não herdem os resultados de nossos erros.
Por fim, Sr. Presidente, quero exaltar o marco
legal que esta Casa ofereceu ao País na quarta-
feira passada com a aprovação da Lei de Bios-
segurança. A Câmara dos Deputados está em
sintonia com a Constituição Federal, que prega
o direito a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado. Isso é responsabilidade de todos.
Parabéns a esta Casa!

Ann Pontes
183
Edson Duarte

(Desmatamento – Desertificação – Transgênicos


– Recursos Hídricos – Fontes renováveis de O Sr. Edson Duarte (PV-BA. Sem revisão do ora-
energia – Energia nuclear – Marina Silva.) dor.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, es-
tamos às vésperas de data importante em nosso
Transcurso do Dia Mundial do Meio Ambiente. calendário: o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Aumento da conscientização social sobre
a importância da preservação ambiental. Como Vice-Líder do Partido Verde nesta Casa,
Continuidade da devastação dos ecossistemas não poderia deixar de ocupar esta tribuna para
brasileiros, com destaque ao crescimento do fazer referência à data tão simbólica e impor-
índice de desmatamento da floresta amazônica. tante não só para todos nós, integrantes do Par-
Aceleração do processo de desertificação pelo tido Verde em todo o País e no mundo, como
modelo agrícola adotado no País. Inexistência
também de todos os habitantes do planeta.
de estudos confiáveis acerca da segurança
do consumo de organismos geneticamente Nesta data tão significativa, temos a gran-
modificados. Degradação dos recursos de oportunidade de promover debates sobre
hídricos. Necessidade de estudo criterioso do nosso modo de vida, o modelo de desenvol-
impacto ambiental da propalada transposição vimento adotado, nossas condições de vida e
das águas do Rio São Francisco. Defesa do
a situação de degradação do meio ambiente,
investimento em fontes renováveis de geração
de energia. Imperiosidade do fortalecimento da natureza, dos rios e das florestas. Enfim,
da fiscalização nuclear no Brasil. Desempenho toda degradação a que estamos assistindo
da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Sessão 04/06/2004 – DCD 05/06/2004, p. 26703
185
compromete não só nossa qualidade de vida fil, uma nova forma de se viver, um novo mode-
como também nossa existência neste planeta. lo de desenvolvimento.
Portanto, durante toda esta semana e na pró- Se há o que comemorar em relação ao avanço
xima, estaremos assistindo em todo o País a da consciência da sociedade, não há, no en-
diversas manifestações. Esse é o resultado de tanto, o que se comemorar com relação aos
uma população cada vez mais consciente e índices de degradação a que temos assistido.
preparada para a importância ambiental. É o Nossas florestas continuam sendo destruídas.
resultado de um trabalho desenvolvido pela Muitas delas estão virando carvão. E, no lugar
mídia, pelas escolas, por diversas instituições das florestas, estamos assistindo à formação
governamentais, mas com destaque para as de desertos.
organizações não governamentais, os apai- Na Amazônia, no período de 2002 a 2003,
xonados pela causa ambiental. São homens e houve uma taxa de crescimento de 2% da área
mulheres conscientes e que, há muitos anos, desmatada, chegando a 23.750 quilômetros
lutam em defesa da preservação ambiental. A quadrados. Esse é o resultado do incremento
todos eles quero agradecer e parabenizar pelo da agricultura, o que favorece o desmatamen-
ideal, pela luta, pelos sonhos que abraçaram to desenfreado e insustentável, que leva à des-
e dos quais fizeram a causa de suas próprias truição da floresta, sem que se reflita sobre se
vidas e que tanto colaboraram para o aumento esse é o melhor modelo e se há sustentabili-
da consciência sobre a questão ambiental. dade para as práticas adotadas na região ama-
Por conta dessa consciência é que estamos as- zônica tanto na agricultura como na pecuária.
sistindo a manifestações em todo o País, inclu- Da década de 70 para cá, aumentou em 16,3%
sive em Brasília, promovidas pelos governos, a área desmatada, o que corresponde a quase
pela mídia, pelas escolas, creches e diversas 600 mil quilômetros quadrados de desmata-
instituições. Enfim, todos os segmentos da so- mento da floresta amazônica, uma área im-
ciedade têm destacado a importância do tema pressionante, valiosa riqueza para a humani-
e a necessidade de desenharmos um novo per- dade que vem sendo destruída sem que haja
reação das autoridades. Parece que somos

186
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

incompetentes, pequenos diante do modelo dade e desequilíbrio do meio ambiente, o que


atual. Parece que somos apenas um detalhe ocasiona o surgimento de novas pragas. Inse-
diante da força do capital, do interesse econô- tos que até então viviam em perfeito equilíbrio
mico e dos gananciosos, que não conseguem com o meio ambiente se transformam em pra-
enxergar que dessa forma não é possível haver gas devido ao desequilíbrio promovido pelos
desenvolvimento. venenos. E, aí, mais venenos.
Aliás, não podemos sequer chamar de de- Estamos comprometendo a saúde da popu-
senvolvimento o empreendimento que não lação. Nossos alimentos estão envenenados.
leva em consideração os recursos naturais e Até já chamamos de veneno, tamanho é o grau
a preservação ambiental, porque todo inves- de intoxicação dos alimentos. E é por isso que
timento feito será perdido se não houver sus- as pessoas estão cada dia mais doentes.
tentabilidade para que se possa produzir hoje, Doenças como o câncer, que têm aparecido
amanhã e sempre. na população, são o resultado desse modelo
Na mesma proporção em que aumentamos agrícola, dependente de insumos químicos e
nossas fronteiras agrícolas, aumentamos a de venenos que têm sido derramados em nos-
área desertificada no Brasil, degradamos e sa lavoura.
erodimos o solo, o que provoca queda da pro- Portanto, é preciso mudar, mas a mudança
dutividade e compromete a produção, sem não se dará com os transgênicos. É preciso
que possamos resolver o problema da fome. que a Lei de Biossegurança seja aprovada,
O modelo agrícola que adotamos é insustentá- para que a população se sinta segura em rela-
vel. Como os promotores desse modelo sabem ção aos alimentos.
disso, querem agora apresentar a transgenia, a Dizem que os transgênicos são seguros. A Co-
mudança genética, como se essa fosse a solu- missão de Agricultura, a bancada ruralista,
ção para os problemas causados por esse mo- aprovou lei que isenta os agricultores de qual-
delo insustentável, baseado na mecanização quer responsabilidade sobre as consequências
pesada e na dependência de insumos e vene- causadas pelos transgênicos. Se não fazem
nos, que provocam degradação, insustentabili-
Edson Duarte
187
nenhum mal à saúde da população e ao meio cultura e nosso País em reféns desse mercado
ambiente, por que essa preocupação em isen- controlado por meia dúzia de multinacionais.
tar os agricultores? E, se os transgênicos são tão A questão ambiental não se limita aos alimen-
bons e não causam qualquer problema, por que tos. Temos de considerar também a água. Nos-
a resistência em rotulá-los? Por que até o mo- sos rios estão acabando. Os que não morreram
mento não há um único produto transgênico estão sendo transformados em esgotos.
rotulado em nossos supermercados, impedindo
Sei que todos nesta Casa e os que estão as-
a população de fazer sua escolha, conforme de-
sistindo à TV Câmara têm uma história para
termina a lei, que até agora não foi cumprida?
contar de um rio que morreu ou que está mor-
Ora, se não fazem mal, por que não apresen- rendo. É a nossa forma de tratar a natureza.
tam estudos sobre os efeitos dos transgênicos Queremos água limpa, água pura. Os nossos
para a população, para nossas crianças, para esgotos, os nossos dejetos vão para os rios.
aqueles que estão consumindo produtos cria- Para que uma cidade possa captar água limpa,
dos em laboratórios? Porque só querem o lu- é preciso fazer tratamento, gastar dinheiro. No
cro, só se limitam ao lucro. Que se dane a vida entanto, devolve-se aos rios água suja. Tudo o
das pessoas, a saúde da população. Uns estão que não presta é jogado no rio. Há ainda des-
morrendo, mas outros consumidores estão matamentos e mineração. Os agrotóxicos, o
nascendo. Consumidores não são pessoas; são mercúrio, os dejetos industriais e até hospita-
consumidores. O mercado não vê pessoas, não lares estão sendo jogados em nossos rios.
vê coração, não vê alma. Pessoas morrem, al-
A legislação brasileira é recente, mas é boa,
gumas envenenadas, mas outras nascerão para
uma das melhores leis de recursos hídricos do
continuar consumindo e garantindo o lucro das
mundo. Todavia, pouco se aplicou.
multinacionais que controlam a agricultura, os
insumos e agora querem controlar as semen- Pergunto: onde estão os comitês de bacias hi-
tes, por meio da Lei de Patentes. Aliás, já estão drográficas criados pela lei? Quantos já foram
controlando. Querem transformar nossa agri- instalados no Brasil? Dos comitês instalados,
quantos estão funcionando plenamente? Onde

188
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

estão os planos de bacia? Como determinar messas, e ainda não resolveram o problema da
ações e intervenções nas bacias hidrográficas seca, da pobreza e da fome no Nordeste, parti-
sem que o plano exista ou tenha sido aprovado cularmente no semiárido.
pelo comitê? Era possível anunciar a transpo- É preciso conversar com a população da região
sição das águas do Rio São Francisco sem um para saber da viabilidade desse megaprojeto
plano aprovado pelo comitê, que nem existia, que visa apenas fortalecer a concentração de
sem estudo de impacto ambiental, sem se co- renda, muito alta no semiárido, onde poucos
nhecer a Bacia do Rio São Francisco, sem se sa- ganham muito e a grande maioria não ganha
ber o potencial do rio? Qual a sustentabilidade nada. É preciso saber se um poço artesiano não
desse megaprojeto? Será que sua sustentabili- resolveria o problema daquela comunidade.
dade se resume aos votos que poderá render Para fazer um poço artesiano, faltam 10 mil re-
nas próximas eleições? É lamentável que ainda ais; para viabilizar o malfadado projeto de trans-
se encaminhem propostas dessa natureza em posição do Rio São Francisco, de resultados du-
nosso País. Parece que ainda não nos cansa- vidosos, seriam gastos 6 bilhões de reais.
mos dos erros e tragédias que provocamos, em
Ouço, com prazer, o aparte do Deputado Paes
nome do pior interesse eleitoreiro.
Landim, figura respeitada nesta Casa, sobretu-
Deputado Paes Landim, não haverá transpo- do pelas posições muito lúcidas em relação ao
sição sem a garantia de que esse projeto será desenvolvimento do nosso País.
para o bem da sociedade. Não permitiremos
O Sr. Paes Landim – Deputado Edson Duarte,
que os nordestinos – também sou nordestino,
agradeço-lhe a generosidade. Destaco o traba-
sou de Juazeiro, na Bahia, às margens do Rio
lho de V.Exa., uma das mais agradáveis jovens
São Francisco, e sei o que é a seca, pois Juazei-
revelações do Parlamento brasileiro, sobretu-
ro também é atingido pela seca, assim como o
do o seu desempenho nos temas ambientais.
sertão da Bahia – sejam enganados por esse
Na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvi-
projeto de transposição para acabar com a
mento Sustentável, o seu desempenho e a pai-
seca do Nordeste. Trata-se de falsa solução
xão pela temática ambiental tem sido, efetiva-
para falso problema. Já foram feitas várias pro-
mente, um grande momento nesta Casa, que,
Edson Duarte
189
infelizmente, até agora, não tem percebido a Nacional das Águas até agora não foi capaz de
dimensão do problema ambiental para o Brasil formular estudos sérios para essas bacias hi-
e o mundo. O discurso de V.Exa. é rico, aborda drográficas. Parece que seu papel principal era
vários temas. Destaco apenas um deles. Embo- formular diagnósticos, sobretudo diretrizes de
ra o princípio seja favorável à eventual adução como operar nessas bacias para resguardá-las,
de água do São Francisco a jusante de Sobradi- mantê-las preservadas. O Rio Parnaíba, por
nho, na direção de Remanso ao Piauí, 30 a 40 exemplo, está morrendo à mingua. Criamos,
quilômetros das bacias, V.Exa. tem toda a ra- há cerca de 3, 4 anos, o Parque das Nascen-
zão. Não se estudou exaustiva, científica, eco- tes para proteger o Rio Parnaíba, na sua foz –
nômica e ecologicamente não só a Bacia do Piauí, Goiás, Bahia e Tocantins –, mas até hoje
São Francisco, mas de todos os rios brasileiros. ele não foi implementado. Deve ser destruída
O Rio Parnaíba, segundo rio mais importante a ganância de depredadores, de empresas,
do Nordeste, depois de São Francisco, o rio da enfim, a falta de cultura da nossa população
unidade nacional, tem também sofrido dete- sofrida do sertão. Ou se tomam providências
rioração fantástica nos últimos anos, sem que imediatas ou veremos a morte anunciada do
nenhuma providência seja tomada pelo Gover- Rio Parnaíba, que já foi navegável. É importan-
no Federal. Há tradição republicana de não se te a tese de V.Exa., a insistência de que a bacia
dar muita atenção ao estudo das bacias hidro- hidrográfica não só de São Francisco, mas tam-
gráficas. Certa feita – e espero voltar lá para bém de todos os grandes rios brasileiros sejam
tal fim –, encontrei, na biblioteca do saudoso devidamente estudadas.
Presidente Prudente de Moraes, no Museu de O Sr. Edson Duarte – Deputado Paes Landim,
Itu, um livro do Ministro da Agricultura do Im- incorporo seu aparte ao meu pronunciamento
pério, no qual mostrava que todo ano era fei- e agradeço a V.Exa. as palavras gentis.
to relatório das bacias hidrográficas do Brasil.
Algumas iniciativas importantes estão sendo to-
Estavam lá a bacia do Rio Gurgueia, do Piauí, e
madas. Destaco o trabalho do Secretário de Re-
de outros rios, a exemplo do Contrato, que já
cursos Hídricos, João Bosco Senra, e de sua equi-
morreu. Isso é o que falta ao Brasil. A Agência
pe, no que diz respeito às bacias hidrográficas.

190
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Há um trabalho elogiável sendo feito no Brasil, quer ação humana neste País ou em qualquer
resultado de um esforço não só do Governo, parte do planeta.
mas também da sociedade civil. Destaco nesta discussão, além da Amazônia, a
Havia logicamente pressão internacional sobre Mata Atlântica, que continua sendo destruída,
o Programa de Ação Nacional de Combate à sobretudo depois da crise do cacau. Só restam
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca. 7% do patrimônio da Mata Atlântica, que é
Ou seja, há ações importantes em curso no Bra- muito valiosa, o resto desapareceu do nosso
sil. Se há degradação por um lado, há reação por território. A caatinga tem-se transformado em
outro. É claro que a reação é pequena diante do deserto e o cerrado tem desaparecido para dar
nível de degradação a que chegamos depois de lugar à fronteira agrícola, que é importante,
500 anos de destruição do patrimônio natural mas não se pode deixar de levar em considera-
e depois de um modelo de desenvolvimento ção o patrimônio natural.
equivocado, mal pensado, imediatista, concen- Ressalto a importância de democratizarmos o
trador de renda e de oportunidade. debate sobre a energia em nosso País. De que
Estamos desenhando outro campo. Contamos matriz energética precisamos? O Presidente
com a Ministra Marina Silva, com seu compro- Lula anunciou o fortalecimento da energia
misso, seu papel e sua simbologia. A Ministra renovável.
está trabalhando com o tema ambiental em Estamos apresentando projeto que estimu-
todas as políticas públicas do Governo, mas la todas as fontes de energias renováveis. A
não é fácil. A sociedade e sobretudo os pode- construção de barragens já atingiu 1 milhão de
res são conservadores. Há dificuldade de se pessoas neste País, das quais 70% não recebe-
considerar legítimo e necessário o problema ram qualquer tipo de benefício.
ambiental. A questão não é mais simbólica, de
Precisamos mudar o curso da política energé-
meia dúzia de apaixonados pelo meio ambien-
tica brasileira, começando pela transparência e
te, mas de sobrevivência. É impossível imagi-
democracia nas decisões. Não queremos usina
nar políticas públicas que não considerem a
nuclear. É suja, é atrasada, não atende às nossas
vertente ambiental fundamental para qual-

Edson Duarte
191
necessidades, é poluente e de alto risco para a tecnológico. O Brasil precisa de tecnologia mo-
sociedade! Angra III não pode ser concluída. Já derna, mas precisa ter responsabilidade no mo-
jogamos muito dinheiro fora. E não temos di- mento de garantir segurança à população. Não
nheiro para isso. Portanto, precisamos investir podemos permitir que se repita acidente de
no que é moderno, nas fontes renováveis. Goiânia. Que garantia temos de que não have-
Precisamos fortalecer a fiscalização nuclear no rá outro acidente como aquele? Nenhuma. Não
Brasil. São mais de 30 mil equipamentos espa- temos nenhuma garantia, porque a fiscalização
lhados pelo território nacional sem aparente ainda é muito frágil. Equipamentos radioativos
controle. Quem diz isso é o Tribunal de Contas estão espalhados por todo o País, muitos vêm
da União, é o próprio CNEN – Conselho Nacio- sendo descartados. Precisamos ter muito cui-
nal de Energia Nuclear, órgão responsável pela dado, mas muito cuidado mesmo.
promoção da atividade nuclear e radioativa no Sr. Presidente, teria muito a falar neste dia,
Brasil. Ele fiscaliza, mas não dá autonomia aos mas tratar de meio ambiente em um único
seus fiscais, que não têm sequer amparo legal Grande Expediente é missão impossível.
para realizar tais fiscalizações. São muitos os desafios e os problemas, mas te-
Em Caetité, só este ano, ocorreram dois aci- mos a solução. É preciso fortalecer as ações am-
dentes na mina de extração de urânio. Dois bientais promovidas pela Ministra Marina Silva
acidentes! E com usina nuclear não pode haver e sua equipe do Ministério do Meio Ambiente.
acidente. Ocorreram dois acidentes em Cae- Estudos de impacto ambiental não impedem o
tité, assim como em Resende. Por isso solici- desenvolvimento; muito pelo contrário, garan-
tamos a instalação de Comissão Externa, para tem o desenvolvimento saudável e duradouro.
tomarmos conhecimento do que vem aconte- Precisamos fortalecer o Sistema Nacional do
cendo naqueles locais. Meio Ambiente – SISNAMA e o Conselho Na-
Enfim, o Brasil tem competência para entrar na cional do Meio Ambiente – CONAMA; precisa-
área nuclear? Da forma como estamos tratando mos constituir conselhos municipais de meio
o assunto, anuncia-se o enriquecimento do urâ- ambiente. A sociedade também pode se orga-
nio. Ele é importante? É claro que sim: é avanço nizar nos grêmios, nos bairros, nas escolas, no

192
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

trabalho, nos sindicatos, em todos os lugares


deste País. A defesa do meio ambiente não se
pode resumir ao dia 5 de junho; tem de ser feita
todos os dias, não pode ser matéria de alguns
poucos, mas de todos nós.
Sr. Presidente, ao encerrar, quero agradecer a
V.Exa. e parabenizar todos os Parlamentares,
destacando a atuação de todos os membros
tanto da Comissão de Meio Ambiente e Desen-
volvimento Sustentável, como das Frentes Par-
lamentares e de outras Comissões desta Casa
que têm atuado em defesa do meio ambiente.
Por fim, parabenizo o Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e a Ministra Marina Silva pelas
iniciativas. Como disse, são muitos os desa-
fios, há muito que se corrigir na política am-
biental deste País. E não será missão apenas
de um governo, mas de todos, agora e sempre,
junto com a sociedade.
Era o que tinha a dizer.

Edson Duarte
193
Francisco Turra

(Sistema Nacional de Unidades de O Sr. Francisco Turra (PP-RS. Sem revi-


Conservação da Natureza) são do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, farei registro que me parece mui-
Encaminhamento da votação do parecer pela to pertinente, apesar de saber que não causará
admissibilidade da Medida Provisória 239 de
2005 (Acrescenta art. à Lei 9.985 de 2000,
efeito algum nesta votação, até porque o texto
que regulamenta o art. 225, § 1º incisos I, II, da medida foi modificado.
III e VII da Constituição Federal e institui o Não sei por que demoramos tanto a aprovar
Sistema Nacional de Unidades de Conservação o novo Código Florestal Brasileiro, que resol-
da Natureza, para autorizar o Poder Público a
verá definitivamente todas essas questões. Fa-
decretar limitação administrativa provisória
ao exercício de atividades causadoras de zemos remendos que aumentam ainda mais a
degradação ambiental em área de criação de diferença que existe entre a Amazônia e o Sul
unidade de conservação e proibir a exploração do País. A melhor forma de preservar o meio
ou corte raso de floresta e vegetação ambiente é dar ao produtor rural o direito de
nativa).Avaliação crítica da proposição. acesso à tecnologia. Quem não sabe que, com
Discordância do tratamento da matéria
o aumento da produtividade, reduz-se a área
por intermédio de Medida Provisória.
de plantio? O desmatamento que se verificou
Sessão 31/05/2005 – DCD 01/06/2005, p. 22046 nos últimos anos está agora, lamentavelmen-
te, em escala crescente e assustadora.

195
Lamento muito que estejamos mexendo no
texto constitucional sem termos ainda aprova-
do o Código Florestal. Aliás, sou autor do Có-
digo Florestal do Rio Grande do Sul, que ainda
está vigendo e considero a medida provisória
instrumento inadequado para tratar da maté-
ria. Sei que o texto foi arrumado, graças ao es-
forço de tantos Parlamentares, a exemplo do
Deputado Mendes Ribeiro Filho e do Relator,
mas ainda assim não concordo com a forma
com que se apresenta. A interpretação que
alguns órgãos ambientais darão a esta norma
será um complicador a mais para algumas re-
giões do Brasil.
O produtor não quer destruir o meio ambiente.
No Sul do País aumentamos significativamente
a cobertura verde, e sem medida provisória. Esta
que apreciamos é coercitiva e pode atrapalhar a
vida do pequeno produtor, especialmente.
O Código Florestal estabelecerá definitiva-
mente este importante marco. O Deputado
Moacir Micheletto deve ter razão muito boa
para apressar a votação.
Obrigado.

196
Rodrigo
Rollemberg

(Protocolo de Kyoto. Mudanças Climáticas. O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB-DF.


Desmatamento. Pacto em Defesa do Clima)
Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras.
e Srs. Deputados, assomo à tribuna esta tar-
Considerações sobre mudanças climáticas e acordos
internacionais relativos ao tema, em especial o de para fazer uma reflexão sobre 3 temas que
Protocolo de Kyoto e o Painel Intergovernamental considero da maior importância: mudanças
sobre Mudanças Climáticas. Preponderância do climáticas, agroenergia ou biocombustíveis e
desmatamento e de queimadas na emissão de gases ameaças ao bioma cerrado.
relacionados ao efeito estufa no País. Potencial
de inclusão social dos investimentos em fontes
Como V.Exas. podem perceber, os 3 temas es-
renováveis de energia. Elevada taxa de desmatamento tão absolutamente interligados.
na região do cerrado. Defesa da aprovação da Desde 1992, quando da realização da Eco 92, 154
Proposta de Emenda à Constituição nº 115, de 1995, países assinaram a Convenção Quadro das Na-
sobre a inclusão do cerrado na relação de biomas
ções Unidas sobre Mudança do Clima. A partir
considerados patrimônio nacional. Oportunidade
da participação da sociedade civil na elaboração de daí, o mundo começou a despertar para as gra-
plano nacional para enfrentamento dos efeitos do ves consequências que o aquecimento global
aquecimento global. Propostas para política nacional poderia trazer para o futuro da humanidade.
de mudanças climáticas contidas no Pacto em Cinco anos depois, em 1997, a conferência
Defesa do Clima, lançado pela Frente Parlamentar
Ambientalista e pelo Conselho Empresarial
dos países aprovou o Protocolo de Kyoto, tra-
Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. tado que estabelece compromissos e metas
Sessão 08/08/2007 – DCD 09/08/2007, p. 38851
197
concretas para os países desenvolvidos no grande representante. V.Exa. é o exemplo de
que tange à redução de emissão de gases de que na Capital brasileira, no coração do cerra-
efeito estufa. do, há um defensor do desenvolvimento sus-
O Sr. Eduardo Gomes – Deputado Rodrigo tentável, com grandes qualidades. Parabéns e
Rollemberg, V.Exa. me permite um aparte? conte sempre comigo.
O Sr. Rodrigo Rollemberg – Pois não, O Sr. Rodrigo Rollemberg – Agradeço ao
Deputado Eduardo Gomes. Deputado Eduardo Gomes as palavras gene-
rosas. Sinto-me honrado em participar da Co-
O Sr. Eduardo Gomes – Embora esteja no iní-
missão de Mudanças Climáticas, muito bem
cio do seu pronunciamento – e tenho absoluta
presidida por V.Exa.
certeza de que V.Exa. dará atenção a esses 3
assuntos – quero apenas dar meu testemunho O Protocolo de Kyoto estabelece que os paí-
à população do Distrito Federal a respeito do ses desenvolvidos terão obrigação de reduzir
grande representante que trouxe para esta suas emissões coletivas de gases de efeito
Casa. Também sou estreante, e tenho visto estufa em pelo menos 5%, se comparados aos
com que intensidade V.Exa. defende o Distrito níveis de 1990, para o período entre os anos de
Federal. E isso vem se refletindo nas avaliações 2008 e 2012. Um dos instrumentos previstos
positivas da sociedade de Brasília, dos seus no Protocolo de Kyoto é o MDL – Mecanismo
pares de todo o Brasil e por meio das pesqui- de Desenvolvimento Limpo, que permite que
sas do próprio DIAP, que apontou V.Exa. como os países desenvolvidos financiem projetos de
uma liderança ascendente nesta Casa. Na qua- redução ou comprem os volumes de emissões
lidade de Presidente da Comissão Mista Espe- resultantes de iniciativas desenvolvidas em
cial de Mudanças Climáticas, quero dizer que países emergentes. Diga-se de passagem, a
tenho a honra de ser colega de V.Exa. e, ain- proposta do MDL foi originária da delegação
da, fazer referência à qualidade, ao interesse brasileira, especialmente do Ministério da Ci-
e à forma competente como desenvolve seu ência e Tecnologia e do Ministério das Rela-
mandato. Parabéns aos eleitores do Distrito ções Exteriores.
Federal, parabéns aos socialistas, que têm um

198
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Mas foi a partir das conclusões do Painel In- tam sobre as vulnerabilidades do nosso País
tergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em relação ao aquecimento global, que deve
divulgadas no início deste ano, que o alarme se manifestar sob diversos aspectos, como por
foi disparado. A mídia deu grande cobertura exemplo: aumento na frequência de eventos
e a sociedade tomou conhecimento de forma climáticos extremos, sobretudo enchentes e
ampla de que o planeta está aquecendo. As secas, com perdas na agricultura e ameaça à
consequências poderão ser terríveis e há um biodiversidade; mudanças no regime hidroló-
grau de certeza superior a 90% de que a res- gico, com graves impactos sobre a capacidade
ponsabilidade é do ser humano. de geração hidrelétrica; a expansão de vetores
Segundo estudiosos de todo o mundo, o aque- de doenças endêmicas; e a elevação do nível do
cimento planetário se dá em função dos au- mar, que afetará regiões litorâneas onde se con-
mentos globais de concentração de dióxido centra grande parte da população brasileira.
de carbono, que se devem, principalmente, ao Concedo o aparte ao Deputado Rodovalho.
uso de combustíveis fósseis e à mudança no O Sr. Rodovalho – Nobre Deputado Rodrigo
uso da terra, especialmente desmatamentos Rollemberg, companheiro e amigo do Distrito
e queimadas. Já os aumentos de concentração Federal, parabenizo V.Exa. por este discurso.
de metano e óxido nitroso são devidos, princi- Sem dúvida, é extremamente preocupante a
palmente, à agricultura. situação do meio ambiente. Acredito que vi-
Segundo o Inventário Nacional de Emissões vemos o momento, praticamente, divisor de
de Gases de Efeito Estufa, 22,5% das emissões águas. Nossa sociedade desenvolve um estilo
brasileiras decorrem da queima de combustí- de vida ambientalmente não sustentável. Co-
veis fósseis, ao passo que os desmatamentos meçamos a colher as consequências em todos
e queimadas respondem por 75% das emissões esses grandes fenômenos que têm sobrevindo.
de dióxido de carbono. O Brasil é, atualmente, Nobre Deputado Rodrigo Rollemberg, estava
o 4º maior emissor de gases de efeito estufa do há pouco na Comissão de Meio Ambiente e
mundo, em torno de 2,5% e 3% das emissões Desenvolvimento Sustentável recebendo uma
mundiais. Por outro lado, especialistas aler- comitiva de brasileiros de diversas cidades

Rodrigo Rollemberg
199
que se opõem ao Projeto Angra III, que cau- uma corrida em busca de fontes renováveis de
sará ainda mais poluição. Sou físico, professor energia, sobretudo o álcool ou etanol, produ-
universitário na área de Física, com especia- zido da cana-de-açúcar. Há grande expectati-
lização em ressonância magnética nuclear. va também em relação ao aumento de deman-
Trabalhei no combate ao acidente ocorrido da por biodiesel.
com o Césio-137, em Goiânia, sou praticamen- É nesse contexto que se abrem boas oportuni-
te vizinho daquele local, e sei a angústia que dades e graves ameaças para o País. Se o Brasil
causa um problema radioativo. Temos, sim, souber aproveitar essa oportunidade com so-
que ter compromisso profundo com a questão berania, inteligência, conhecimento científico
ambiental, efeito estufa, aquecimento global, e tecnológico, responsabilidade ambiental e
contaminação das águas, e com a grande deci- social, pode fazer da produção de agroenergia
são que definirá nosso futuro: se investiremos o maior programa de inclusão social já desen-
em usinas nucleares ou se encontraremos ou- volvido na história do País. Se, por outro lado,
tra forma de energia. V.Exa. está de parabéns deixar que o mercado e os interesses privados
por esse discurso. Conte com nossa aquies- por lucros rápidos prevaleçam sobre os inte-
cência, nossa solidariedade para lutarmos jun- resses sociais, sem a regulação do Estado, po-
tos por um modo de vida, especialmente pelo deremos assistir a um processo cruel de con-
equilíbrio ecológico. É disso que o planeta pre- centração de renda e de destruição de nossos
cisa, particularmente as próximas gerações. ecossistemas, especialmente o cerrado.
Parabéns, Deputado Rodrigo Rollemberg!
Por isso, esta Casa, o Congresso Nacional,
O Sr. Rodrigo Rollemberg – Agradeço ao deve ser o firme pilar de defesa dos interesses
Deputado Rodovalho, colega do Distrito Fede- nacionais e populares.
ral e lutador pelas causas ambientalistas.
Nenhum país tem mais condições de se adap-
O alerta feito pelo IPCC levou o mundo e, de tar aos novos desafios que o Brasil, porque
forma muito especial, os países desenvolvidos nossa matriz energética está, em grande parte,
a repensarem suas matrizes energéticas – em assentada em hidrelétricas. Segundo, porque
grande parte de origem fóssil – e a iniciarem nenhum país desenvolveu tecnologias tão

200
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

avançadas para a produção de biocombustí- O Sr. Rodrigo Rollemberg – Concedo um


veis. Terceiro, porque 75% de nossas emissões aparte ao nobre colega Edson Duarte.
são oriundas de desmatamentos e queimadas, O Sr. Edson Duarte – Deputado Rollemberg,
ou seja, ao reduzir o desmatamento, reduzi- quero parabenizá-lo pelo oportuno pronun-
mos nossas emissões e preservamos nosso ciamento que faz nesta tarde na Câmara dos
maior patrimônio: a biodiversidade. Deputados. Este é o tema que está em discus-
Concedo um aparte ao nobre Deputado Jofran são em todo o País e em todo o mundo. V.Exa.
Frejat. traz uma abordagem perfeita e tecnicamente
O Sr. Jofran Frejat – Deputado Rodrigo Rollem- consistente. Quero apenas lembrar que esta-
berg, tenho a satisfação de saudar V.Exa., que mos às vésperas de comemorar amanhã uma
está no seu primeiro mandato na Câmara Fede- triste data, que diz respeito à bomba jogada
ral. Já o conheço há muitos anos e sei da preo- em Nagasaki. Trata-se de um momento mui-
cupação que tem demonstrado com a ciência, to triste para a história da humanidade a lem-
a tecnologia, o meio ambiente. O Brasil tem a brança de todas aquelas vítimas que morre-
possibilidade de se desenvolver com o biodiesel ram. Neste momento, a questão nuclear tem
e a reformulação de elementos que possam fa- sido ressuscitada, ou querem ressuscitá-la no
vorecer o ambiente. Seguramente, a entrada de Brasil, sob o pretexto de que ajudaria na dis-
V.Exa. nesta Casa abrilhantará e permitirá uma cussão do aquecimento global. Não é verdade.
discussão mais profunda dos assuntos que nos A questão nuclear é um programa atrasado,
preocupam. Hoje ainda não sentimos exata- superado e não apresenta saídas para o nos-
mente o que pode resultar dessa agressão ao so País, que possui muitas opções no campo
meio ambiente. V.Exa. está alertando, mais uma energético. Precisamos desenvolver tecnolo-
vez, para o que pode ser a verdadeira catástrofe gias e garantir que o Brasil seja exportador,
deste planeta. Conte com nossos esforços para além de outros produtos, de tecnologia sus-
fazer com que o Brasil seja realmente uma gran- tentável na produção de energia. Parabenizo
de Nação, livre daquela tecnologia que conta- V.Exa. pelo pronunciamento que faz e espero
minou e poluiu o País e o planeta. que desta Casa ganhemos as ruas, a sociedade

Rodrigo Rollemberg
201
como um todo, promovendo este debate, para des do planeta, e que vem tombando, gritando
que se tomem providências o mais rápido pos- por socorro nos uivos das queimadas e arden-
sível para um plano de combate aos efeitos do do em crematórios ilegais de carvoarias que
aquecimento global. Esta Casa, V.Exa., todos abastecem siderúrgicas que, igualmente, não
nós precisamos liderar esta campanha no Bra- respeitam a lei.
sil. Muito obrigado. Concedo um aparte ao nobre Parlamentar Ro-
O Sr. Rodrigo Rollemberg – Agradeço aos berto Britto.
nobres Parlamentares as palavras. Sem dúvi- O Sr. Roberto Britto – Nobre Deputado Ro-
da, este debate precisa ser aprofundado nesta drigo Rollemberg, gostaria de parabenizá-lo
Casa. O País precisa, cada vez mais, crescer em pelo belo discurso e pelo tema também extre-
energia. Precisamos debater profundamente mamente oportuno. Quero apenas dizer que
as alternativas mais viáveis, de maior interesse existe hoje uma preocupação quanto ao etanol,
para o País. pelo plantio da cana-de-açúcar. Se começarmos
Concederei apartes daqui a pouco. a desmatar para plantar cana-de-açúcar para
É exatamente este patrimônio, a biodiversida- produção de etanol, vamos esquecer exata-
de, presente sobretudo na floresta amazônica mente dos alimentos, essenciais para a nossa
e no cerrado, que estará ameaçado pelo cres- vida e a vida do campo de maneira geral. Então,
cimento desordenado e descontrolado do eta- deve haver um limite para que também outros
nol. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, produtos sejam plantados em nosso País. Para-
32% do total das emissões brasileiras de gases béns, mais uma vez, pelo seu belo discurso!
de efeito estufa provêm de desmatamentos O Sr. Rodrigo Rollemberg – Agradeço ao no-
e queimadas na Amazônia e 15%, do cerrado bre Deputado Roberto Britto o seu aparte.
brasileiro. Ainda segundo especialistas, a área Sr. Presidente, em audiência pública recente,
de cerrado desmatada no último ano foi supe- realizada pela Comissão de Ciência e Tec-
rior à área desmatada na floresta amazônica. nologia da Câmara dos Deputados, a Profa.
Estamos falando de um bioma essencial para o Mercedes Bustamante, do Departamento de
Brasil, dono de uma das maiores biodiversida-

202
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Ecologia da UnB, mostrou a importância es- A Sra. Vanessa Grazziotin – Deputado Ro-
tratégica do cerrado e as enormes ameaças drigo, agradeço a V.Exa. pelo aparte que me
que pairam sobre ele. concede e o cumprimento pelo belo trabalho
O cerrado ocupa aproximadamente 20% do ter- que desenvolve aqui no Congresso Nacional,
ritório brasileiro. Por sua distribuição central, é sobretudo na área ambiental e de ciência e
a área de transição com os principais biomas tecnologia. V.Exa. me concede o aparte exa-
brasileiros. Estão no cerrado nascentes das ba- tamente no momento em que fala sobre o
cias hidrográficas do Tocantins, do São Francis- cerrado, a região que representa nesta Casa.
co e do Paraná. A região é responsável por mais Entretanto, quero dar o meu testemunho so-
de 70% da descarga de água desses rios. Estima- bre a sua dedicação na defesa do meio am-
se que existam 10 mil espécies de plantas nessa biente como um todo, o que o tem levado a
região, das quais 4.400 são endêmicas. ser um dos grandes defensores da Amazônia,
apesar de não vir daquela região. V.Exa. tem
Trinta e oito grupos étnicos ainda vivem na re-
participado, na Comissão Mista Especial de
gião do cerrado.
Mudanças Climáticas, de várias atividades que
No entanto, 15% do carvão consumido pelas si-
temos desenvolvido em relação à Amazônia e
derúrgicas mineiras vêm de Goiás e 70% da pro-
ao meio ambiente. Parabéns pelo pronuncia-
dução de carvão na Bahia é clandestina e des-
mento! Acima de tudo, parabéns pelo com-
tinada às siderúrgicas de Minas Gerais. A taxa
promisso que V.Exa. tem mostrado e declara
anual de desmatamento do cerrado é alarman-
ao Brasil, especialmente à sua região! Muito
te, de 1,5% ao ano. A despeito de sua extensão e
obrigada. Cumprimento-o não somente pelo
biodiversidade, o cerrado é pouco representado
pronunciamento, como também por suas ati-
no sistema público de áreas protegidas, aproxi-
vidades na Casa.
madamente 6% apenas dessas áreas.
O Sr. Rodrigo Rollemberg – Obrigado,
Concedo o aparte à nobre Deputada Vanessa
Deputada Vanessa Grazziotin.
Grazziotin.
Concedo um aparte ao Deputado Julio Semeghini.

Rodrigo Rollemberg
203
O Sr. Julio Semeghini – Nobre Deputado Ro- sa que diz respeito ao futuro da humanidade.
drigo Rollemberg, serei breve. Quero me so- Não é uma questão partidária, mas filosófica e
lidarizar com todos os que me antecederam e urgente, de defesa da vida.
parabenizá-lo pela competência e pelo trabalho Esta Casa já produziu avanços significativos,
que faz para ajudar a implementar o seu parti- como a Lei nº 11.097, de 2005, que introduz o
do, o PSB, que hoje tem o Ministério da Ciência biodiesel na matriz energética brasileira e cria
e Tecnologia e representa muito bem a inter- incentivos para a empresa que compre maté-
face com este Congresso e com a Câmara dos ria-prima da agricultura familiar. A Comissão
Deputados. Cumprimento-o, acima de tudo, de Altos Estudos da Câmara prevê que, para
pela sensibilidade dos temas que tem escolhi- cada 1% de óleo diesel substituído por biodiesel,
do, como o aquecimento global, a defesa do seu produzido pela agricultura familiar, 180 mil no-
cerrado, do seu povo, da sua terra e de um País vos empregos diretos e indiretos poderão ser
mais justo e preservado. Parabéns pela sensibi- criados. Mas precisamos avançar e podemos
lidade, pela competência e pelo brilhante traba- avançar produzindo, como disse, o maior pro-
lho que faz nesta Casa, Deputado! grama de inclusão social da história deste País.
O Sr. Rodrigo Rollemberg – Muito obrigado, Precisamos estimular as miniusinas de biodiesel
Deputado Julio Semeghini. e as mini e microdestilarias de álcool. Isso pro-
É preciso uma união nacional em defesa do duzirá uma verdadeira revolução silenciosa no
cerrado. Essa luta é de todos os brasileiros. Por campo.
isso, peço aos nobres colegas a aprovação ur- Precisamos investir fundo em pesquisas que re-
gente da PEC nº 115/95, de autoria do Deputado sultem em desenvolvimento científico e tecno-
Gervásio Oliveira, que eleva o cerrado brasilei- lógico no que se refere à produção de energia
ro à condição de patrimônio nacional. por meio de biomassa, de florestas energéti-
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, pouco cas – energia a partir do hidrogênio. Precisamos
poderá ser feito neste País no que se refere ao estimular o avanço da cana estritamente em
enfrentamento das mudanças do clima sem o áreas já antropizadas, em áreas de pastagens
apoio do Congresso brasileiro. Esta é uma cau- degradadas. Precisamos estimular a utilização

204
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

de tecnologias desenvolvidas pela EMBRAPA do Clima, que propõe o engajamento de toda a


de Integração Lavoura–Pecuária, consorciando sociedade na luta contra o aquecimento global,
a produção de grãos para alimentação e para através da implementação de ações capazes de
energia com a recuperação dessas áreas de pas- transformar a realidade, estabelecendo uma
tagens degradadas, que só no cerrado atingem política nacional de mudanças climáticas, ba-
mais de 50 milhões de hectares. seada em 10 itens:
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em re- 1. O fim do desmatamento, para garantir
cente audiência pública realizada na Comissão maior governança nas florestas, e o forta-
de Mudanças Climáticas, o Sr. Luiz Pinguelli lecimento das instituições responsáveis
Rosa, Secretário-Executivo do Fórum Brasi- pela implementação e fiscalização;
leiro de Mudanças Climáticas, anunciou que 2. Fomento a iniciativas que visam a incorpo-
o Governo brasileiro prepara a criação de um rar à matriz energética brasileira, de forma
plano nacional por meio do qual o Governo e a sustentável, energia proveniente de fon-
sociedade traçariam estratégias de ação para tes renováveis, aproveitamento das imen-
enfrentar as consequências do aquecimento sas potencialidades do País nessa área;
global. Queremos saudar essa iniciativa, mas 3. Conscientização da sociedade quanto aos
é fundamental que a elaboração desse plano efeitos adversos da mudança do clima,
seja feita com ampla participação da socieda- bem como às medidas que estão sendo
de, especialmente do Congresso Nacional e da tomadas para reduzir nossas emissões;
Comissão de Mudanças Climáticas. 4. Identificação das vulnerabilidades do País
O momento não poderia ser mais propício. à mudança climática, inclusive no que diz
Ainda hoje, num evento organizado pela Frente respeito à biodiversidade, e definição das
Parlamentar Ambientalista, da qual eu faço par- medidas de adaptação necessárias;
te, e pelo Conselho Empresarial Brasileiro para 5. O estabelecimento de metas de redu-
o Desenvolvimento Sustentável – CEBEDS, ção de emissões que as empresas e o
com a participação de várias instituições da País podem adotar e a formalização de
sociedade civil, foi lançado o Pacto em Defesa uma posição internacional mais ativa e

Rodrigo Rollemberg
205
comprometida com a redução da emis- O Congresso Nacional brasileiro não se furta-
são de gases de efeito estufa, envolvendo rá a enfrentar essa questão, com a responsa-
instituições públicas, privadas e da socie- bilidade que tem, porque isso certamente nos
dade civil; será cobrado pelas gerações futuras.
6. Ampliação da Comissão Internacional de Agradeço a V.Exa. a generosidade.
Mudanças do Clima, assegurando a parti-
O Sr. Presidente (Narcio Rodrigues) – Cum-
cipação ativa de outros setores da socie-
primentamos o ilustre Deputado Rodrigo
dade, como empresas e organizações da
Rollemberg pelo pronunciamento extremamen-
sociedade civil, inclusive na definição da
te oportuno que produz nesta tarde, em sinto-
posição brasileira em fóruns internacio-
nia com os principais anseios do povo brasileiro.
nais relacionados ao tema;
7. Pesquisas que promovam o valor econô-
mico de nossa biodiversidade;
8. Consideração e priorização das questões
socioambientais, inclusive a mudança cli-
mática, nos programas e ações dos pla-
nos plurianuais;
9. Estimular a disseminação de eventos po-
sitivos, tais como programas de eficácia
energética e a ampliação do uso susten-
tável de combustíveis provenientes de
fontes renováveis;
10. Fomentar o desenvolvimento de um mer-
cado nacional para energias limpas como
solar, eólica, pequenas centrais hidrelétri-
cas e outras.

206
Sarney Filho

(Conferência das Partes – Mudanças O Sr. Sarney Filho (PV-MA. Como Líder.
climáticas, Bali, Indonésia) Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srs.
Deputados, senhoras e senhores ouvintes da
Importância da realização da XIII Conferência Rádio Câmara e telespectadores da TV Câma-
das Partes (COP) da Convenção Marco
sobre Mudança Climática, na Ilha de Bali, na
ra, gostaria de registrar a abertura da XIII Con-
Indonésia. Conveniência de assunção pelo ferência das Partes (COP) da Convenção Mar-
Brasil da liderança mundial na redução da co sobre a Mudança Climática, atualmente,
emissão de gases causadores do efeito estufa. talvez o fórum internacional mais importante
Relevância do papel da Câmara dos Deputados para essa discussão.
na elaboração de políticas ambientais.
Sr. Presidente, em Bali vão ser discutidas as
Sessão 03/12/2007 – 04/12/2007, p. 64259 mudanças climáticas produzidas de maneira
muito maior do que naturalmente seriam pela
ação do homem no seu processo civilizatório.
Mudanças climáticas que ameaçam o equilí-
brio ecológico, a própria vida no planeta Ter-
ra, por cujas emissões os países desenvolvidos
são os maiores responsáveis. Mas os países
em desenvolvimento, tais como China, Índia e

207
Brasil, já começam a assumir a liderança nesse Quanto ao mérito, a confusão é muito grande.
triste processo. Há países, por exemplo, como o Brasil, como já
Portanto quero registrar o começo dessa dis- disse, que até agora não assumiram a postura
cussão internacional, nossa preocupação e de ter uma meta de redução de suas emissões.
nossa solidariedade àqueles que querem um Índia e China também não. Só que o Brasil tem
mundo melhor, que desejam que nosso desen- um grande diferencial: 75% de nossas emissões
volvimento se faça de maneira mais harmôni- se dão por causa do desmatamento na Ama-
ca, respeitando-se não somente a qualidade de zônia. Então, se o diminuirmos, como fizemos
vida dos seres humanos, mas o próprio equilí- nos 2 últimos anos – só nos últimos 10 meses
brio da vida no planeta Terra. A agenda que se começou a crescer de novo -, vamos ter assu-
vai discutir nessa reunião é muito importante. mido uma meta de redução, porque, quando
ocorre o desmatamento, ocorre imediatamen-
Meu caro Presidente, 2 coisas importantes vão
te o cálculo das emissões, feito no nosso único
se discutir lá. Primeiro, o fim do Protocolo de
inventário até agora existente.
Kyoto, em 2012. Os países desenvolvidos sig-
natários tinham como meta reduzir suas emis- Pois bem, o Brasil deveria assumir uma meta,
sões em até 5,2% das emissões de 1990. Esse constranger países como China e Índia. Esses,
acordo, em 2012, vai findar. É necessário um sim, para assumirem uma meta de suas redu-
novo tipo de pacto entre as nações. ções, vão ter de mexer na sua matriz energéti-
ca, nas suas emissões de gazes de efeito estufa,
Desde já, em 2007, temos de começar a pre-
principalmente, oriundos de combustíveis fós-
parar o terreno para que, em 2009, já haja um
seis. Nós não. Para o Brasil assumir, basta que
novo pacto internacional para cuidar das mu-
diminua o desmatamento na Amazônia. Basta
danças climáticas em 2013. Esses assuntos são
isso para que o Brasil lidere o processo mundial
demorados, envolvem Congresso, decisões
de redução das emissões e possa, com altivez,
de fóruns internacionais, exigem consenso. É
liderar esse processo internacionalmente.
preciso que, desde já, se comece a buscar um
modelo, um processo de entendimento. Mas há também a discussão de que o mundo
deveria assumir como meta apenas um aque-

208
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

cimento de 2 graus até o fim deste século. Pois cional unificada de combate ao aquecimento
bem. Para assumir essa meta, cientificamen- global. Até agora não temos essa política. São
te teríamos que reduzir, hoje, as emissões no vários Ministérios com inserções diferenciadas.
mundo todo em 50%. Mesmo assim, já há paí- Sr. Presidente, espero que essa reunião, a
ses, como as Ilhas Maldivas e Tuvalu, que com Conferência da Partes, que se vai dar também
esse aquecimento de 2 graus estarão destina- junto com aqueles que assinaram o Protocolo
dos à extinção, ou seja, serão consumidos pelo de Kyoto, traga esperança não só para o Bra-
aumento do nível dos mares. sil, mas também para o mundo, de que vamos
Sr. Presidente, é isso que está em discussão e é encontrar o caminho comum da convivência,
por isso que esta Casa precisa ficar atenta a es- para que possamos assegurar a melhoria do
sas discussões. Hoje, o Poder Legislativo tem bem-estar da raça humana e também da vida
uma Comissão Mista encarregada de oferecer do planeta Terra.
parecer a respeito das políticas públicas con- Que o Brasil possa unificar a sua linguagem
tra o aquecimento global, ou seja, mudanças e assumir a liderança nesse processo tão im-
climáticas. Temos também grupos de trabalho portante, já que o nosso País é megadiverso,
na Frente Parlamentar Ambientalista e na Co- ou seja, é um País que vai ser sempre o berço
missão do Meio Ambiente. de futuros inventos genéticos, porque nós te-
A Câmara dos Deputados já aprovou projetos mos o maior banco genético da Terra, que está
de lei importantes de autoria de Deputados, espalhado nas nossas florestas tropicais, que
como, por exemplo, o projeto de lei que obri- estamos destruindo mesmo sem conhecê-las.
ga o Brasil a, voluntariamente, sem nenhum Sr. Presidente, espero também que de lá saia
compromisso internacional, assumir metas de uma solução para que as nossas políticas pos-
redução. Para quê? Para aquilo que já tínhamos sam combater com eficácia o problema, inclu-
dito anteriormente. Há outros projetos de lei sive decretando-se o desmatamento zero.
que obrigam o Brasil a fazer seu inventário de
Afora tudo isso, quero dizer que talvez os
emissões a cada ano. Há outras matérias que
outros Poderes tenham dúvidas se estão
obrigam o nosso País a adotar uma política na-

Sarney Filho
209
cumprindo com as suas obrigações, mas nós,
da Câmara dos Deputados, temos a certeza de
que, nesse aspecto, cumprimos nosso papel.
O Sr. Presidente (Cleber Verde) – Deputado
Sarney Filho, esta Presidência parabeniza
V.Exa. pelo discurso tão oportuno, que cer-
tamente revela a preocupação desta Casa
com relação à questão ambiental. Aliás, o
Deputado Arlindo Chinaglia já tomou provi-
dências no sentido de compensar o impacto
ambiental com a plantação de milhares de
árvores no Estado de São Paulo. Parabenizo
V.Exa., Deputado Sarney Filho, que tão bem
representa o Estado do Maranhão.

210
Miro Teixeira

(Klabin, Israel; Ricupero, Rubens. Fundação O Sr. Miro Teixeira (Bloco/PDT-RJ. Sem re-
Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável) visão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, entre os dias 3 e 14 será realizada a
Realização de conferência internacional sobre Conferência de Bali sobre meio ambiente.
meio ambiente, na Ilha de Bali, Indonésia.
Matéria sobre a posição brasileira no evento, dos Em alguns momentos, o Brasil assumiu a hege-
Profs. Israel Klabin e Rubens Ricupero, publicada monia da discussão ambiental; temos autorida-
pelo jornal O Globo. Pedido de encaminhamento des fantásticas no assunto e enormes interesses
do pronunciamento do Parlamentar ao a preservar, como, por exemplo, a Amazônia.
Ministério das Relações Exteriores.
Nessas oportunidades, geralmente podemos ler
Sessão 28/11/2007 – DCD 29/11/2007, p. 6353
trabalhos muito profundos, profícuos, produti-
vos. Muitas intenções são manifestadas, mas,
dificilmente, encontramos algo como a matéria
hoje publicada no jornal O Globo, à pág. 36.
Venho, então, à tribuna dizer às Sras. e aos Srs.
Deputados que essa é uma matéria a ser lida.
Ela é uma exceção, um artigo bem fundamen-
tado, com conclusões e propostas. É difícil en-
contrar, em tão curto espaço, com tamanhas

211
limitações, propostas tão objetivas a serem 3º) Para tanto, seria lógico incluir as florestas
assumidas como posição brasileira. nativas num expandido Mecanismo de
E, por imaginar que a Câmara dos Deputados Desenvolvimento Limpo, exigindo-se
compensações pela contribuição à redução
possa apoiar essas sugestões, é que passarei
das emissões, pelos serviços ambientais
a lê-las, indo direto ao final do artigo. O tra-
prestados à comunidade internacional,
balho, ressalto, é dos Profs. Israel Klabin e Ru- inclusive em matéria de biodiversidade, e pela
bens Ricupero, membros do Conselho Curador renúncia a outros usos legítimos do solo;
da Fundação Brasileira para o Desenvolvimen-
4º) O Brasil se empenharia em tentar
to Sustentável. coordenar posições comuns com os países
É a proposta contida no referido artigo: da América Latina, evitando o isolamento
“1º) A posição brasileira deveria ser no qual se encontrou com frequência
‘diferenciada’ em relação tanto aos em temas como os das florestas. (...)
desenvolvidos, quanto aos países de 5º) As políticas brasileiras nas negociações
matriz energética ‘suja’ como a China e foros internacionais deveriam ser
e a Índia. Nosso papel deveria ser de objeto de consulta transparente com os
intermediário e facilitador, como foi nos setores interessados da sociedade civil,
dois grandes momentos de nossa ação em processo genuíno de informação,
no tema: a Conferência do Rio de Janeiro diálogo e intercâmbio de opiniões.”
em 1992 e a definição do Mecanismo Sr. Presidente, peço a transcrição na íntegra
de Desenvolvimento Limpo em 1997;
deste artigo.
2º) O Brasil tem de reconhecer sua
Mais do que isso, se as Sras. e os Srs. Deputados
responsabilidade nas queimadas
na Amazônia e outros pontos do
concordarem, imagino que, por intermédio da
território, inclusive nas relacionadas Comissão de Relações Exteriores da Câmara
à colheita de cana, comprometendo- dos Deputados, poderíamos encaminhar essa
se a pôr fim ao desmatamento por proposta ao Ministério das Relações Exteriores.
meio de metas quantificáveis; O Deputado Marcelo Itagiba, que aqui está,
também leu o artigo e, entusiasmado, veio ao

212
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

plenário a fim de igualmente pedir sua trans-


crição. Mas, como eu estava inscrito, S.Exa.
pediu que eu o requeresse também em seu
nome, o que faço no momento.
Vejo que o Deputado gostaria de um aparte,
mas, lamentavelmente, presumo que este ho-
rário não me permite concedê-lo. Se por ge-
nerosidade de V.Exa. eu puder conceder, Sr.
Presidente...

Miro Teixeira
213
Rio+20 (Expectativas e propostas)
Alfredo Sirkis

(A economia verde e a governança) O Sr. Deputado Alfredo Sirkis – Inicialmente


queria agradecer muito ao Sergio Besserman
Frente Parlamentar Ambientalista – Rio+20 por ter evitado que esta reunião fosse, como
Em Busca De Uma Economia Sustentável tantas outras, extremamente abstrata, uma
Câmara dos Deputados – 27/3/2012. nuvem de palavrório em torno da Rio+20. Co-
locou o dedo na ferida, na essência das coisas.
Eu vou procurar, sem o mesmo brilho dele, atu-
ar exatamente na mesma linha.
A Rio+20 tem duas grandes características. Por
um lado, é uma conferência oficial das Nações
Unidas, com 193 países que precisam decidir
por consenso aquilo que conseguirem aprovar.
Por outro lado, é um processo político multi-
facetado que envolve segmentos da socieda-
de internacional e da sociedade do país que
está sediando essa reunião, onde é possível se
avançar politicamente. Refiro-me a ideias, mo-
bilização em torno de ideias, mobilização em

217
torno de propostas dentro da nossa sociedade tir. As pessoas que não têm discurso, que estão
e do mundo como um todo, da sociedade civil presas ao passado, a polarizações do passado,
globalizada. Diante disso, temos de escolher de repente, descobrem um mote para começar
qual é o nosso caminho, o nosso nicho. a discutir se é neoliberalismo ou não, quando,
Existe, com legitimidade, uma quantidade enor- desculpem-me, o neoliberalismo está enterra-
me, uma pletora de discussões sendo colocadas do, está morto que nem um vampiro, que nem
na Rio+20 que não são os dois temas da con- o Drácula, com uma barra de madeira cravada
ferência oficial, que vêm a ser economia verde no peito. Não é essa a discussão.
e governança. Mas vou inicialmente falar des- A melhor forma de discutir o assunto é sair
ses dois temas. Quer dizer, nem vou falar sobre do campo conceitual e ir para o campo práti-
governança, porque nada acontecerá na confe- co. A Conferência das Nações Unidas, em vez
rência internacional das Nações Unidas sobre de fazer um documento balofo, de obesidade
governança. Nada vai acontecer. Vão mudar o mórbida, de mais de 100 páginas, deveria con-
nome de um programa, que é o PNUMA, para siderar quatro, cinco, seis pontinhos singelos,
uma agência e vão transformar uma comissão para ver se avança alguma coisa.
em conselho. Seria toda uma outra discussão Nós tivemos a oportunidade, em nossa Subco-
saber por que nada vai mudar em termos de go- missão, de estabelecer essa discussão e pro-
vernança. Mas a realidade é essa. por quatro pontos, simples, singelos. Possivel-
Onde pode eventualmente haver algum avan- mente, haverá outros, mas vamos começar.
ço, desde que, de fato, as coisas mudem pro- Em primeiro lugar, temos que discutir e questio-
fundamente, é na questão da economia. Que- nar profundamente o PIB como o grande alfa e
ro dizer que não achei muito feliz a escolha do ômega dos indicadores em termos de desenvol-
nome “economia verde”, não porque eu não vimento. Não é. O PIB não é isso. É muito boa
seja favorável à economia verde, e sim porque uma metáfora, um exemplo que foi dado pelo
é um conceito confuso, traz um ruído de co- nosso colega Deputado Eduardo Azeredo, que
municação e uma série de polêmicas que não falou da Ilha de Espanhola, onde ficam dois pa-
têm nada a ver com aquilo que se quer discu- íses, a República Dominicana e o Haiti. Ao lon-

218
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

go da história, por uma série de razões que não Penso que deveria haver uma simplificação,
vem ao caso considerar, a República Domini- sendo incorporados alguns vetores fundamen-
cana preservou as suas florestas, e o Haiti des- tais em termos ambientais e sociais. A ONU
truiu completamente as suas florestas. Quem tem condições de fazer isso a tempo da con-
sobrevoa a Ilha de Espanhola vê, de um lado, a ferência no Rio? Não, é claro que não. Mas ela
parte florestada e, do outro, a parte completa- pode aprovar como princípio o fato de que o
mente desmatada. Isso coincide com a fronteira PIB já era e que precisamos de um novo indi-
dos dois países. Hoje em dia, o Haiti é o país cador. Se a Conferência for capaz de fazer isso,
mais pobre da região, com uma série de situa- já será um avanço fantástico.
ções que conhecemos. Quando se deu esse pro- Segundo ponto: recomendação para que os
cesso, durante a fase em que se promovia esse países mexam nos respectivos sistemas tribu-
amplo desmatamento, como se comportavam tários. Não seria aumento da carga tributária,
os PIBs do Haiti e da República Dominicana? É pelo menos não em todos os países – alguns,
claro que o PIB do Haiti estava lá em cima, e de fato, precisam aumentá-la. Seria considera-
o da República Dominicana estava cá embaixo. da, ao menos, a substituição de tributos que são
Só esse exemplo nos mostra que o PIB, simples- regressivos do ponto de vista ambiental e so-
mente, não quer dizer nada. cial por tributos que levem em conta questões
Uma comissão de notáveis, tendo à frente Sti- como intensidade de carbono, biodiversidade.
glitz, Prêmio Nobel de Economia, foi encarre- Falo de tributos, e falo também de subsídios.
gada pelo Presidente Sarkozy de elaborar um Toda política de taxação, de subsídio, de não
estudo sobre um novo indicador. Eles produ- taxação precisa ser revista à luz da preocupa-
ziram um catatau. É até muito interessante. ção com as mudanças climáticas e com a ex-
Foi redigido numa linguagem acessível a cada tinção da biodiversidade no planeta. Isso tem
um de nós. Não está em economês, está numa que ser uma parte integrante dos critérios que
linguagem que conseguimos entender rapida- compõem os sistemas de tributação dos 193
mente. E existe ali uma profusão de questões países que estão ali.
que deveriam fazer parte do indicador.

Alfredo Sirkis
219
Também tem que se discutir a questão de ta- outra é fazer isso com aquecimento solar de
xas internacionais. Há toda a discussão sobre água, energia solar, economia de eletricidade,
a Tobin tax. Neste momento os recursos nas de água. Cabe, então, um grande investimento
mãos dos Estados nacionais e dos Governos público, uma visão neokeynesiana com conte-
são relativamente limitados. Há trilhões – tri- údo de economia verde.
lhões – de dólares nas mãos do capital espe- Finalmente, atribuição de valor econômico aos
culativo. Tem que haver uma estratégia inteli- serviços ambientais prestados por ecossis-
gente para direcionar esses trilhões que estão temas. É totalmente absurdo que os serviços
ali, andando feito espectro que ronda a Terra, que são prestados pela Floresta Amazônica,
a que o Sergio se referiu, para uma economia em termos de absorção de carbono e renova-
produtiva, de um lado, geradora de emprego ção de oxigênio, que são prestados pelo Panta-
e renda, e de baixo carbono, de outro. Um dos nal, que são prestados pelos manguezais, que
instrumentos nesse caso pode ser uma taxa, o novo Código Florestal quer destruir, é total-
como a Tobin tax, que tem sido muito discu- mente absurdo que esses serviços ambientais
tida por aí afora, dentro de uma perspectiva sejam precificados, considerados como algo
que estimule a economia de baixo carbono e a que não vale nada, que está aí para ser tas-
preservação da biodiversidade. cado, como se diz no Rio de Janeiro. Tem que
O terceiro ponto seria um investimento públi- haver o reconhecimento do valor econômico
co no campo desses 193 países e das agências intrínseco desses serviços ambientais.
multilaterais. Seria um New Deal planetário, Eu falei de quatro, mas há outras importantes
com grande investimento público gerador questões que poderiam ser consideradas. Se
de empregos nas áreas de reflorestamento, essa conferência fosse capaz de definir que es-
recuperação ambiental, energias limpas e re- ses quatro pontos são princípios válidos para
nováveis, saneamento, habitação, com toda serem posteriormente esmiuçados, dentro da
a perspectiva verde incorporada, evidente- lentidão que é peculiar ao processo das Na-
mente. Uma coisa é construir casas e edifícios ções Unidas, essa conferência não estaria per-
totalmente divorciados do ambiente natural, dida, já seria um avanço.

220
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Tenho ouvido muito se falar de metas. Quero Para concluir, duas palavras sobre a questão
dizer o seguinte: seria positivo que a Rio+20 do clima. É evidente que não pode haver dis-
definisse metas numa série de campos; agora, cussão de economia verde nem de governança
ao fazer isso, não dá para esquecer que já de- internacional que esteja divorciada da discus-
finimos metas. A Agenda 21, aprovada na Rio são sobre o clima, por razões óbvias. Como
92, é um conjunto de metas e ações. Existem isso é impossível na conferência oficial, re-
as metas do milênio. Certo, são para os países solvemos fazer algo. A iniciativa não é minha
em desenvolvimento, não alcançam todos os – tive apenas a ideia –, é das Subcomissões
países. Mas é complicado começar a definir Rio+20 do Congresso Nacional, tanto do Sena-
metas sem fazer o balanço das metas que an- do quanto da Câmara, das Comissões de Meio
teriormente definimos. Ambiente, de Relações Exteriores e de Ciência
Um dos grandes problemas da Rio+20 é que e Tecnologia do Congresso Nacional, com o
não está previsto um momento em que ela re- apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, do Go-
alize, de fato, um follow-up, um check-list da Rio verno do Estado de Pernambuco e de algumas
92, o que acho seria totalmente pertinente. Se organizações não governamentais. A singela
temos uma conferência que fecha um ciclo ini- iniciativa é chamada de Desafio Rio-Clima, Rio
ciado há 20 anos pela Rio‑92, tínhamos que ter Climate Challenge, que consiste numa espécie
um momento em que se fizesse o check-list da de jogo de guerra que, na verdade, é um jogo
Convenção do Clima, da Convenção da Biodi- profundamente de paz. É uma simulação entre
versidade, da Convenção da Desertificação e grupos de contato de diversos países do que
da Agenda 21, para ver o que fizemos, onde seria um acordo internacional que atendesse,
avançamos, onde não avançamos. Então, para de fato, aos parâmetros da ciência.
estabelecer realmente novas metas, o que Sabemos que hoje o IPCC diz que a concen-
acho louvável, temos de fazer um balanço do tração de gases de efeito estufa na atmosfera
que diabo aconteceu com as metas que ante- terrestre não pode ultrapassar 450ppm. Para
riormente foram fixadas. termos 50% de chance de que a temperatura
se mantenha em 2 graus, coisa que o Sergio

Alfredo Sirkis
221
diz ser praticamente impossível, com o que até
concordo, é necessário manter a concentração
de gases de efeito estufa na atmosfera nesta
proporção, 450ppm. Há, contudo, um abismo
em relação ao conjunto de metas obrigatórias
assumidas pelos países signatários do Anexo I
do Protocolo de Kyoto e às chamadas NAMAs,
as metas voluntárias. Se todos cumprirem reli-
giosamente isso tudo, ainda assim haverá uma
distância abissal, chamada de gap, no linguajar
climático internacional.
Então, o objetivo desse exercício é justamente
ver o que seria necessário para, de fato, lidar
com essa questão do gap e mostrar para a so-
ciedade global, dentro da linha apresentada
aqui pelo Sergio Besserman, diante da emer-
gência planetária relacionada à questão cli-
mática, que é possível e necessário proceder
dessa maneira. Provavelmente teremos mais
de um cenário a respeito de como isso pode
ser alcançado.
Muito obrigado. (Palmas.)

222
Aline Corrêa

(Cidades sustentáveis) A Sra. Aline Corrêa (PP-SP. Pronuncia o se-


guinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Resultados positivos da realização do Deputados, quero compartilhar com toda esta
Fórum Campinas+21, realizado no Município Casa de Leis os primeiros resultados positivos
de Campinas, Estado de São Paulo.
Temas debatidos durante o evento.
do “Fórum Campinas + 21”, realizado no The
Royal Palm Plaza, nos últimos dias 26 e 27 de
Sessão 29/03/2012 – DCD 30/03/2012
março. Durante os dois dias de trabalho, cerca
de 450 convidados, entre lideranças políticas,
empresariais e gestores públicos, assistiram
a seminários que discutiram temas extrema-
mente atuais: “Mobilidade Social e Educação
em Direitos Humanos”, com a presença da mi-
nistra Maria do Rosário, e “Cidades Sustentá-
veis”, sob a minha coordenação.
O objetivo deste ambicioso projeto do Fórum
das Américas, da Anhanguera Educacional e
do Instituto Sustentar foi traçar um plano de
metas capazes de aliar o desenvolvimento

223
econômico ao crescimento sustentável para a tabilidade. E a pauta que discutimos nos últi-
Região Metropolitana de Campinas, no primei- mos dois dias, nobres Pares, não é a agenda
ro dia do Fórum Campinas +21. Com apoio do do amanhã. Estamos falando das ações e deci-
Grupo RAC de Comunicação, o Fórum defen- sões que devem ser assumidas a partir de ago-
deu a união permanente de forças para traçar ra. Este será o mais importante diferencial dos
um caminho ordenado para a região responsá- agentes públicos já nas eleições municipais de
vel por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do 2012. Gestores públicos que não se compro-
Estado de São Paulo. meterem com a sustentabilidade estarão fada-
Os problemas e as soluções que foram temas dos ao insucesso.
de debates neste encontro de líderes regionais Por fim, insiro neste meu pronunciamento,
serão apresentados em uma carta compro- para que fiquem registrados na ata dos tra-
misso na Rio+20, uma conferência da Orga- balhos do Legislativo Federal, trechos do dis-
nização das Nações Unidas (ONU) sobre de- curso do presidente do Grupo RAC, empre-
senvolvimento sustentável, que será realizada sário Sylvino de Godoy Neto, que valorizou o
no Rio de Janeiro entre 13 e 22 de junho. Aliás, caráter apartidário do Fórum “Campinas+21”.
faço minhas as palavras do diretor do Núcleo Segundo ele, “interesses e vaidades devem ser
de Sustentabilidade da Associação das Nações deixados de lado quando o assunto em discus-
Unidas Brasil (ANUBRA) empresário Fernando são é o crescimento sustentável. Além disso,
Garnero, principal idealizador do Fórum Cam- disse, é fundamental que todos os componen-
pinas+21, que em seu discurso de abertura do tes do debate sejam utilizados de forma con-
evento afirmou que “o debate de soluções é a junta, com objetivo claro e definido de evitar
tônica para um desenvolvimento consciente”. impasses e permitir a viabilização do progres-
Outro dado relevante, e que merece registro, é so dentro de um contexto de preservação”.
o fato de ter sido a primeira vez que Campinas, Era o que tinha a destacar. Muito obrigada.
cidade que é sede de grandes debates empre-
sariais e tecnológicos, foi alçada à condição
de polo nacional de discussões sobre susten-

224
Arnaldo Jardim

(Legislação sobre resíduos sólidos) O Sr. Arnaldo Jardim (Bloco/PPS-SP. Pela


ordem. Sem revisão do orador.) – Sra. Presi-
Elogio à Presidenta Rose de Freitas. Congratulações denta Rose de Freitas, Sras. e Srs. Deputados,
ao Deputado Newton Lima pela iniciativa de criação o dom divino da reprodução, da maternidade,
de Frente Parlamentar em Defesa da Indústria
Nacional. Criação da Política Estadual de Resíduos
aliada a isso, comprovada e cientificamente,
Sólidos e do Programa Estadual de Implementação uma capacidade superior à do homem de su-
de Projetos de Resíduos Sólidas, em São Paulo. portar a dor, tudo isso significa mulher, mãe,
Realização da Conferência das Nações Unidas trabalhadora, capacidade de poder acumular
sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, tarefa e ser o esteio da família.
no Rio de Janeiro. Importância dos investimentos
da prevenção de catástrofes naturais. Realização Permita-me, Deputada Rose de Freitas, dar-lhe
das eleições municipais de 2012. Adoção de um grande abraço. Você, que, além de ser
agenda positiva pela Casa. Necessidade de mulher, do ponto de vista de gênero, acresce
definição das votações de matérias de interesse a isso, e isso faz toda a diferença, uma com-
do País. Comprometimento do orador com o preensão do papel da mulher. Exerce isso,
desenvolvimento sustentável do País. Realização
simboliza isso, encarna isso. Você é guerreira,
da 5ª edição do Campus Party Brasil, evento de
tecnologia e inovação, em São Paulo, Estado de São enfrenta contradições. Você tem a capacidade
Paulo. Aprovação de medidas destinadas à mitigação de inovar e, muitas vezes, estimular-nos. Você
dos efeitos da crise financeira internacional. fez isso há poucos instantes quando eu, ao seu
Sessão 08/03/2012 – DCD 09/03/2012
225
lado, tentava conversar sobre determinada cir- setoriais, e foi tudo fruto daquele projeto que
cunstância política. Você tem essa têmpora de nós conduzimos aqui com o apoio de todos e
pensar adiante, seguir adiante. Eu sou seu fã que instituiu a Política Nacional de Resíduos.
e quero simbolizar num grande abraço toda a O segundo pronunciamento é uma reflexão
saudação à mulher. minha que tem a ver até com essa questão que
Quero dizer da minha alegria de perfilar ao lado conversávamos sobre medidas provisórias,
do Newton Lima, que conheço desde os tempos sobre os desafios maiores que teremos na le-
de estudante. Ele orgulha a todos nós, Reitor gislação, para falar lá da Comissão de Minas e
que foi de uma universidade federal e também Energia, Deputada Rose, onde tantas vezes es-
Coordenador-Geral do Conselho de Reitores tivemos juntos, o desafio do novo marco regu-
das Universidades do Brasil. O seu início de latório da mineração, a renovação das conces-
mandato tão curto, mas já tão intenso, é um re- sões no setor elétrico, a vinda agora da nova
flexo da sua capacidade. Estamos juntos. Vamos Presidenta da PETROBRAS, e ontem entramos
fazer essa Frente existir. Aquele repto que lan- com requerimento que deverá acontecer de
çamos à Presidente da Casa, Deputada Rose de forma muito breve.
Freitas, de termos aqui uma Comissão Geral em E, finalmente, há uma reflexão nossa sobre ou-
que a Casa, como um todo, possa discutir esse tra área, a da juventude que agrega, de novas
problema, que é estratégico, é fundamental referências de instrumentos, novas formas de
para o País e, tenho certeza, será realidade. Pa- linguagem que vimos em São Paulo naque-
rabéns, Newton, por essa iniciativa! le evento da Campus Party. Aqui nós fizemos
Agrego aqui, neste minuto restante, Sra. Pre- uma reflexão. Estamos inclusive tentando dis-
sidente, três pronunciamentos. O primeiro re- cutir de que forma esses instrumentos moder-
trata iniciativas que conseguimos no âmbito do nos podem alterar a relação entre represen-
Governo de São Paulo, que concretiza uma Polí- tantes e representados, Deputados e eleitores,
tica Nacional de Resíduos. Lá já existe a implan- Poder constituído e sociedade.
tação de política de logística reversa em quatro
setores. Estamos assinando também acordos

226
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Estas são algumas reflexões que semanalmen- ponsabilidade pós-consumo, um importante


te nós divulgamos naqueles que são os artigos passo para a implementação da lei estadual
dos jornais de São Paulo. em harmonia com a lei nacional que estabe-
Muito obrigado, Deputada Rose. Um grande e lecem a gestão e o gerenciamento adequados
querido abraço a V.Exa., e a todas as mulheres dos resíduos sólidos.
o nosso respeito. Responsáveis pelas aprovações da Política Es-
A Sra. Presidenta (Rose de Freitas) – Parabe- tadual de Resíduos Sólidos (nº 12.300/2006)
nizo V.Exa. por todas as iniciativas que sempre e pela Política Nacional de Resíduos Sólidos
tomou nesta Casa, dinamizando os trabalhos. (nº 12.305/2010), comemoramos a vocação
V.Exa. é um exemplo de Parlamentar. Agrade- vanguardista do Governo paulista ao avançar
ço ao nobre Deputado as generosas palavras. na seara de políticas públicas para alicerçar
um desenvolvimento sustentável, ambiental-
Pronunciamentos encaminhados mente correto, economicamente viável e so-
pelo orador cialmente responsável.

Sra. Presidenta, Sras. e Srs. Deputados, as re- Acordos setoriais e termos de compromisso
centes legislações sobre resíduos sólidos têm Os Termos de Compromisso Setoriais de Resí-
mobilizado o poder público, o setor empresa- duos Sólidos entre a Secretaria de Meio Am-
rial e a sociedade no sentido de colocar em biente, a Companhia Ambiental do Estado de
prática as diretrizes estabelecidas pelos mar- São Paulo (CETESB) e representantes paulistas
cos regulatórios. dos setores de óleos lubrificantes, produtos de
O Palácio dos Bandeirantes foi palco de um higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, de
marco histórico, ocasião em que estivemos materiais de limpeza e afins, agrotóxicos e de
com o Governador Geraldo Alckmin, o Se- pilhas e baterias portáteis, estabelecem como
cretário de Meio Ambiente, Bruno Covas, e irão funcionar os sistema de logística reversa
representantes do setor produtivo durante a dos resíduos pós-consumo das embalagens em
assinatura dos termos de compromisso de res- cada um desses setores e terão início imediato.

Arnaldo Jardim
227
Os modelos serão acompanhados periodica- o Governo Estadual, por meio da Secretaria
mente pela CETESB e poderão ser revistos e de Meio Ambiente, o Sindicato da Indústria da
modificados se e quando houver necessidade. Construção Civil (SINDUSCON-SP) e a Associa-
Ao todo, são quatro modelos diferentes de res- ção Brasileira das Empresas de Limpeza Pública
ponsabilidade pós-consumo. São eles: e Resíduos Especiais (ABRELPE), com o objetivo
de instituir um mapeamento que permita cons-
Embalagens de óleos lubrificantes: seus repre-
truir indicadores relativos a geração, transporte
sentantes criarão um sistema próprio para o
e destinação final dos resíduos sólidos.
recebimento e coleta das embalagens;
Embalagens de produtos de higiene pessoal, Instrumentos Econômicos
perfumaria, cosméticos, materiais de limpeza e No evento, ainda foi anunciado o repasse de
afins: as entidades representativas vão estabe- R$ 1,750 milhão por meio do Ministério do
lecer convênios com as Prefeituras e coopera- Meio Ambiente para a elaboração do Plano Es-
tivas de materiais recicláveis para coleta das tadual de Resíduos Sólidos (PERS), conforme
embalagens; estabelecido pela Política Nacional de Resídu-
Embalagens de agrotóxicos: um dos setores mais os Sólidos (PNRS).
adiantados em relação à logística reversa, pois Programas Estaduais
realiza um trabalho desde 1997, vai usar os ca-
Também foi criado o Programa Estadual de Im-
nais de comércio próprio desses insumos para
plementação de Projetos de Resíduos Sólidos,
coleta das embalagens;
que, entre outras medidas, estabelece:
Pilhas e baterias: o setor vai utilizar os canais
»» Elaboração do Plano Estadual de Resídu-
dos grandes comércios varejistas para coleta os Sólidos;
das embalagens. »» Apoio à gestão municipal de resíduos só-
Sistema Declaratório lidos;
»» Apoio a reciclagem, coleta seletiva e me-
Importante instrumento das políticas de resí-
lhoria da destinação final de resíduos;
duos sólidos, o Sistema Declaratório de Infor-
mações foi objeto do convênio assinado entre

228
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

»» Educação ambiental para gestão de resí- Sra. Presidenta, Sras. e Srs. Deputados, a re-
duos sólidos. tomada dos trabalhos na Câmara Federal traz
Legado para o futuro grandes desafios, entre os quais destaco: a
O protagonismo do Estado de São Paulo em aprovação de medidas para mitigar os efeitos
relação à gestão dos resíduos sólidos e sua da crise internacional, deliberar sobre ques-
legislação própria, por meio do Governador tões previdenciárias e definir proposições de
Geraldo Alckmin, do Secretário de Meio Am- prevenção a catástrofes, além disso tratar de
biente, Bruno Covas, e equipe, a qual saúdo temas que repercutirão na Rio+20 – Conferên-
na figura do Secretário-Adjunto Rubens Rizek, cia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
serve para reafirmar convergências com a Polí- Sustentável, momento em que o mundo estará
tica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). olhando o Brasil. O tempo é curto, o ritmo dos
trabalhos precisa ser intenso, pois a sociedade
O evento é um sinal claro para que Estados e
não pode esperar!
Municípios incorporem e coloquem em práti-
ca as diretrizes dos marcos legais, além de um Relembro que, durante o recesso parlamentar,
alerta ao setor empresarial de que o caminho no mês de janeiro, realizamos uma reunião
a ser seguido é por meio do diálogo e da co- da chamada Comissão Representativa, a qual
operação, princípios de uma responsabilidade mais uma vez integrei. Apresentei a solicitação
compartilhada, pois a negação quanto à ade- para convocar o Ministro da Integração Nacio-
quação de determinado segmento levará a nal a prestar contas sobre a falta de recursos
medidas de coerção. empenhados e não investidos na prevenção de
catástrofes naturais, o que poderia ter evitado
Às vésperas da realização da Rio+20 – Confe-
tragédias como as que mais uma vez testemu-
rência das Nações Unidas sobre Desenvolvi-
nhamos na “época das chuvas” – confira o arti-
mento Sustentável, as políticas públicas para
go Chuvas: Tragédias do descaso.
destinação e tratamento adequados dos resí-
duos sólidos são uma realidade inexorável e
que vieram para ficar.

Arnaldo Jardim
229
Eleições municipais amento do crédito para fortalecer o mercado
Reconheço que ano eleitoral é sempre mais interno; garantia dos investimentos necessá-
conturbado. A partir de junho, a dinâmica das rios em infraestrutura – confira o Manifesto
eleições estará muito presente e envolverá os em prol da Infraestrutura e o PL sobre as Par-
Parlamentares. Lideranças em suas regiões, cerias Público Privadas – PPPs.
sua participação é fundamental na eleição Em suma, o nosso desafio é trabalhar para
de candidatos a prefeito e vereador dos seus que o País tenha iniciativa e a Câmara dos
partidos. Apesar de ser um momento salu- Deputados participe ativamente deste esforço
tar para o aperfeiçoamento da democracia, o coletivo, envolvendo Governo, Legislativo, Ju-
acirramento dos embates regionais não pode diciário e toda a sociedade. Todavia, não pode-
inviabilizar a votação de uma agenda positiva mos abrir brechas ao “descritério”, como, por
no Congresso Nacional. Por isso, reitero aqui o exemplo, o uso de recursos do BNDES para
compromisso de fazer com que a discussão de favorecer determinado segmento, corporação
méritos se sobreponha às querelas partidárias. ou empresa. É preciso ter critérios balizados
pelo interesse público!
Agenda positiva
Existem votações e impasses que se arrastam
Relembro alguns itens que deverão tornar a
desde o ano passado e que precisam de uma
pauta muito densa e com consequências muito
definição. No começo de março, teremos a vo-
importantes para a vida de todos os brasileiros.
tação do Código Florestal, um tema espinhoso
Primeiramente, existe um debate em torno que coloca em lados opostos produtores rurais
de um conjunto de medidas para mitigar os e ambientalistas. Também há questões refe-
efeitos da crise internacional, em especial na rentes à Previdência Social, como a rediscus-
Zona do Euro, e que permitam a manutenção são sobre o Fator Previdenciário e a aprovação
de crescimento de nossa economia: desonera- do Fundo de Previdência dos Servidores Públi-
ções tributárias de setores estratégicos; medi- cos (FUNPRESP), que deverão ter prioridade.
das de prevenção a um possível/quase certo
Deveremos ainda votar em 2º turno a PEC 270,
aumento das barreiras protecionistas; barate-
que trata da aposentadoria integral dos servi-

230
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

dores públicos, da aposentadoria por invalidez Estes três temas ganham ainda mais rele-
permanente, independentemente da causa, vância às vésperas da Rio+20 – Conferência
além de uma série de medidas que sugerimos das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
como prioridades, como a Política Nacional de Sustentável, que será realizada no final deste
Defesa Civil e de Prevenção de Catástrofes, para semestre.
que não fiquemos discutindo sobre “o leite es- Portanto, este é o momento de arregaçar as
tar derramado”. Na área de energia, há o debate mangas e correr contra o tempo para que pos-
fundamental sobre a questão das concessões do samos debater, deliberar e avançar na definição
setor que vencem em 2015, além do novo Marco de questões estratégicas para o futuro do País.
Regulatório do Setor de Mineração – confira o
Sra. Presidenta, Sras. e Srs. Deputados, a cida-
artigo Urgência para o setor de energia.
de de São Paulo abriga o principal evento de
Compromisso público inovação do País. A 5ª Campus Party reúne cer-
Especificamente sobre o nosso mandato, vou ca de 200 mil visitantes e sete mil “residentes
priorizar uma agenda compromissada com o fixos” que vão morar em barracas dentro das
desenvolvimento sustentável, em que destaco: dependências do Anhembi, na Capital paulista,
»» A implantação da comissão encarregada
um evento grandioso que demonstra a força
de discutir uma nova legislação sobre a da chamada “Geração Z”, que nasceu em plena
biodiversidade; era digital, utiliza a Internet, os smartphones
»» A realização do Seminário sobre o Paga- e as redes sociais com a mesma desenvoltura
mento por Serviços Ambientais (PSA) e com que a minha geração fazia uso do rádio e
apresentar o parecer conclusivo sobre a da TV. Eles são o reflexo de uma das maiores
questão no âmbito da Comissão de Fi- inovações da história que produz transforma-
nanças e Orçamento; ções imensas na nossa sociedade.
»» O acompanhamento in loco da imple-
mentação de todos os pontos da Política Uma cidade digital
Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS. Em pauta, haverá palestras sobre empreende-
dorismo, concursos para o desenvolvimento

Arnaldo Jardim
231
de aplicativos que podem gerar novas empre- fazem de tudo, em meio a um dinamismo sem
sas e planos de negócios. Neste ano o tema igual, uma interação global capaz de criar uma
principal é o projeto de lei americano SOPA linguagem própria e estabelecer novos costu-
(Lei para parar a pirataria on-line), adiado in- mes e comportamentos!
definidamente após uma série de protestos na
Números crescentes
Internet, que teve seu ápice na demonstração
de repúdio com o Wikipédia, que bloqueou a O Brasil é o quarto país em presença nas redes
versão em inglês da enciclopédia digital por sociais, 97% dos internautas estão em redes de
um dia inteiro. Resisto, neste instante e espa- relacionamento como o Twitter e o Facebook. O
ço, à ideia de discutir um assunto tão instigan- número de usuários do Facebook atingiu a im-
te, que facilmente renderia um novo artigo, pressionante marca de 36 milhões de brasileiros.
mas destaco a possibilidade de acompanhar as Aprender sempre
transmissões on-line do evento (live.campus- Reconheço que no início desta “Revolução Di-
party.org), assim como disponibilizo a sua gital” estava cauteloso sobre a necessidade de
programação completa (bit.ly/cp-agenda). incorporar estas ferramentas ao nosso manda-
O público, em sua maioria, é formado por jo- to. Lembro das primeiras reuniões com a minha
vens ensejados a sonhar por um mercado ex- equipe, quando discutíamos as possibilidades
tremamente dinâmico, capaz de catapultar ao de atuação em cada uma das redes sociais.
restrito mundo dos bilionários jovens como Acredito que uma das melhores definições é de
Mark Zuckerberg, o fundador da rede social Gil Giardelli, especialista no Mundo.com, com
Facebook, de apenas 27 anos, um dos mais 12 anos de experiência: “Um bom conteúdo de
proeminentes ícones desta geração. redes sociais é aquele que gera relacionamento,
Um ideal que me faz lembrar a celebre frase engaja e estimula o diálogo não apenas com os
de Glauber Rocha: “uma câmera na mão e uma seus usuários, mas também entre os usuários.
ideia na cabeça”. Os instrumentos de trabalho Deve ser simples, relevante, interessante e na-
desses jovens são outros, bem mais modernos, tural, além de colaborar para a construção da
como computadores e laptops, telefones que sua identidade no universo digital”.

232
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Após penar no início, hoje não consigo essa nova realidade, principalmente em se tra-
viver sem... tando de uma pessoa pública, estará perdendo
Atualmente, tenho 2.264 seguidores no Twitter o bonde da história.
Arnaldojardim e 5.911 pessoas que acompa-
nham a minha fan page no Facebook. Além de
contar com um blog (266 membros) e um site
oficial, com cerca de 100 visitas diárias. Trata-
se de passos iniciais para um mandato parti-
cipativo! A intenção é estabelecer uma via de
duas mãos: numa apresento meus artigos, re-
lato minhas atividades e exponho minhas opi-
niões; na outra recebo um feedback imediato,
sugestões, críticas e elogios de internautas.
Essa vivência nas redes sociais me permite
interagir diretamente com o cidadão, sem in-
terlocutores, debater desde grandes temas na-
cionais, como também demandas específicas
de uma cidade. Mais do que isto, permite-me
aprender com gente criativa, em meio a uma
nova linguagem, capaz de renovar a prática po-
lítica, criar novas referências entre os cidadãos
e seus representantes, estimular um novo tipo
de democracia participativa.
Este é um caminho sem volta, onde não há lu-
gar para meias verdades, discursos prontos. A
regra básica é interagir, buscar sempre o diá-
logo, pois quem não se acostumar/adequar a

Arnaldo Jardim
233
Assis Carvalho

(Rio+20 – Economia verde) O Sr. Assis Carvalho (PT-PI. Sem revisão do


orador.) – Sr. Presidente, neste momento o
Promoção de evento no Auditório Nereu Brasil se prepara para a Rio+20, a Conferência
Ramos da Casa, com vistas à realização das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, no Rio
Sustentável.
de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro. Encontro Este Parlamento esteve reunido no último dia
do orador com o Diretor-Geral interino do 27, no Auditório Nereu Ramos, num evento
Departamento Nacional de Obras Contra as coordenado pelo Deputado Sarney Filho, da
Secas – DNOCS, Ramon Flávio Rodrigues.
Frente Parlamentar Ambientalista. Entre os
Sessão 29/03/2012 – DCD 30/03/2012 participantes, registro a presença da Ministra
do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, do Minis-
tro Paulino Franco, Chefe da Divisão de Meio
Ambiente do Itamaraty, e também de Hélder
Muteia, representante no Brasil da Organiza-
ção das Nações Unidas para Agricultura e Ali-
mentação – FAO.
Sobre o evento, deixo aqui algumas conside-
rações, seguindo a linha do que disse Hélder

235
Muteia no que diz respeito aos diálogos sobre preendo o combate à extrema pobreza como
o desenvolvimento sustentável: de fundamental importância, e, dentro desse
1. A questão da segurança alimentar, com- tema, as questões da escassez de água, da de-
preendendo o combate à extrema pobreza gradação ambiental e da fome. E, por sua vez,
como de fundamental importância e, den- o desenvolvimento sustentável para todos
tro deste tema, as questões da escassez de é um tema que pode ser debatido através da
água, da degradação ambiental e da fome. observação das desigualdades regionais. Aqui
2. O desenvolvimento sustentável para to- aponto como eixo fundamental a questão das
dos, cujo debate só pode ser feito olhan- desigualdade regionais, que fomenta as desi-
do para as desigualdades regionais. Aqui gualdades sociais. E também vejo como ponto
aponto como eixo fundamental a questão relevante, dentro da situação de extrema po-
das desigualdades regionais, que fomen- breza do sertanejo, a falta de água e a degra-
tam as desigualdades sociais. E também dação da Caatinga, que está novamente ame-
vejo como ponto relevante, dentro da açada de extinção. Enfim, a cidade sustentável
situação de extrema pobreza do serta- é uma questão que nos coloca de frente, mais
nejo, a falta de água e a degradação da uma vez, com a questão das desigualdades
Caatinga, que está ameaçada, novamen- regionais e nos mostra – repito – que não se
te, de extinção. deve olhar para as cidades piauienses da mes-
3. A questão das cidades sustentáveis, que ma forma como se olha para as cidades do Sul
nos coloca de frente, mais uma vez, com a e para as cidades do Nordeste.
questão das desigualdades regionais e nos Todos esses pontos convergem para a questão
mostra que não se deve olhar para as cida- das desigualdades, que tem sido o foco do meu
des piauienses da mesma forma como se mandato neste Parlamento. Englobando esses
olha para as cidades do Sul e do Sudeste. pontos aqui mencionados, propus alguns pro-
Portanto, Sr. Presidente, não dá para pensar jetos de distribuição de renda, através da justa
em desenvolvimento sustentável sem pen- partilha do pré-sal, da justiça fiscal, da distri-
sar a questão da segurança alimentar. Com-

236
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

buição de grandes fortunas e da desoneração de gênero, da inclusão da mulher, da juventu-


da cesta básica. de, do acesso à informação, às novas tecnolo-
Também considero de fundamental importân- gias e, como já é recorrente em nossa defesa, a
cia que a Conferência Rio+20 trate do tema questão das desigualdades sociais.
da agricultura familiar, que tem sido um dos É assim que almejo a participação do Brasil
grandes pilares da contribuição para a produ- na Conferência. Queremos debater a econo-
ção de alimentos. Isso tem sido reconhecido mia verde, sem dúvida, mas também tirar as
mundialmente pelos governos. Muito já se nossas dúvidas. O que isso significa? Isso gera
avançou, mas muito ainda precisa se avançar inclusão? Contribui para a erradicação da po-
neste debate. breza? Depois da Conferência, o que aconte-
A questão da economia solidária, em minha cerá? Quais os compromissos que os países
opinião, é muito mais importante que o deba- ricos, em crise, terão naturalmente com esse
te sobre a economia verde, que os países ricos, grande projeto?
em crise, querem nos impor. Também deve ser Por fim, Sr. Presidente, somente para registrar,
focada a questão da economia solidária nesta estive ontem também na CODEVASF, dialo-
Conferência. gando com o Dr. Ramon Flávio Rodrigues, que
Quanto à questão do clima, devem ser desta- é o Diretor-Geral interino do DNOCS. Na pró-
cados a má distribuição de água para o Semiári- xima semana faremos aqui o registro sobre a
do no Nordeste, o combate ao desmatamento cidade de Parnaíba, tratando deste assunto.
e a preservação dos biomas como a Caatinga, Muito obrigado.
o Cerrado, conhecido como berço das águas,
por sua malha de nascentes, córregos e rios
importantes, e o Pampa sulino, como patrimô-
nios nacionais.
Por fim, Sr. Presidente, deve ser pautada a
questão dos direitos humanos, da igualdade

Assis Carvalho
237
Bohn Gass

(Embrapa-âncora verde) O Sr. Bohn Gass (PT-RS. Pela ordem. Sem


revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e
Apoio ao plano de ação da Empresa Brasileira de Srs. Deputados, quero aqui, mais uma vez, re-
Pesquisa Agropecuária para 2012, intitulado Ano gistrar a minha grande satisfação com a nossa
EMBRAPA para uma Agricultura Mais Verde.
Artigo publicado no site do orador sobre o tema.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
EMBRAPA. Aliás, na Comissão de Agricultura,
Sessão 21/03/2012
elegemos como prioridade o debate da inte-
gração entre pesquisa e extensão rural.
Temos a Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária – EMBRAPA e o Sistema Brasileiro
de Assistência Técnica e Extensão Rural –
SIBRATER. A notícia que trago aqui é a de que a
EMBRAPA apresenta ações para 2012 com foco
na agricultura verde, no Projeto EMBRAPA Ver-
de. Esse programa é muito importante, porque
precisamos defender a sustentabilidade.
Estamos no ano da Rio+20. Há várias situações
climatológicas desfavoráveis, exatamente por

239
conta de um modelo de agricultura que se de- sua ação. Na pessoa do Presidente Arraes saú-
senvolveu sem respeitar os temas ambientais do toda a equipe, o colegiado da diretoria, os
e de sustentabilidade. A EMBRAPA, portan- servidores e os pesquisadores da EMBRAPA,
to, apresenta esse programa para fortalecer que estão, em todo o Brasil, fazendo pesquisas
ações em benefício de uma agricultura mais em diversas áreas de atuação para fundamen-
sustentável. Este é o plano de ação da empresa tar ainda mais nossa agricultura.
para 2012: Ano EMBRAPA para uma Agricultu- Sr. Presidente, este é o registro que quero fa-
ra Mais Verde. zer sobre a proposta Ano EMBRAPA para uma
Esse plano de ação está pautado em quatro Agricultura Mais Verde.
grandes pilares: Fortalecendo a Gestão; For- Aproveito para pedir o registro nos Anais de
talecendo a Pesquisa, o Desenvolvimento e artigo de João Manoel de Oliveira publicado
a Inovação; Fortalecendo e Consolidando a em meu site, www.bohngass.com.br.
Transferência de Tecnologia; e Fortalecendo a
Muito obrigado.
Transparência e a Eficiência na Gestão.
Faço este registro, Sr. Presidente, colegas Artigo a que se refere o orador
Deputados, porque a EMBRAPA, além de ser
a empresa de pesquisa do Brasil, também é O Plano de Ação da EMBRAPA para 2012, que
um instrumento de auxílio a outras nações. visa fortalecer e reconhecer as ações em bene-
Há várias nações na América Latina e na África fício de uma agricultura mais sustentável, foi
que têm em algumas áreas pesquisas desen- o tema levado ao plenário pelo Vice-Líder da
volvidas em sistema de solidariedade interna- bancada do PT na Câmara Federal Deputado
cional articulado pela nossa EMBRAPA. Está Elvino Bohn Gass, do Rio Grande do Sul, nesta
para ser consolidada também a EMBRAPA In- quarta-feira, 21 de março.
ternacional e a ampliação, do ponto de vista da “É muito acertada a opção
administração, do Conselho da empresa. da EMBRAPA em investir em
ferramentas tecnológicas que possam
Portanto, quero homenagear a EMBRAPA, va- garantir ao País a posição de âncora
lorizando e enfatizando todos os aspectos da

240
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

verde em termos de agricultura em biental: “O Brasil está sendo olhado pelo mun-
todo o mundo”, afirmou Bohn Gass. do. É crescente a demanda pelo conhecimento
O petista chamou a atenção para os quatro e pelas tecnologias agrícolas tropicais. Vem aí
pilares que a empresa definiu como foco do a Rio+20. Temos um brasileiro comandando a
seu plano de ação: “Fortalecendo a Gestão”, FAO, José Graziano. Sim, é nosso papel, neste
“Fortalecendo a Pesquisa, o Desenvolvimento momento histórico, direcionar nossos esfor-
e a Inovação”, “Fortalecendo e Consolidando a ços no sentido de sermos a vanguarda a mun-
Transferência de Tecnologia” e “Fortalecendo a dial de uma agricultura mais verde.”
Transparência e a Eficiência na Gestão”.
Avaliando o trabalho da EMBRAPA como ab-
solutamente fundamental, na orientação das
políticas públicas do Governo Federal para a
agricultura, Bohn Gass disse que, ao eleger
a sustentabilidade como meta, a empresa dá
mostras do que chamou de um verdadeiro
compromisso com o futuro.
Também mereceu destaque do Vice-Líder
petista a importância que o plano de ação
da EMBRAPA dá à questão da transparência:
“Como bem disse o presidente Pedro Arraes,
sabemos que é preciso mudar a cultura e avan-
çar em algo mais inovador, disponibilizando as
informações necessárias para a sociedade”.
Por fim, Bohn Gass saudou o Projeto EMBRAPA
Verde, que prevê ajustes na infraestrutura e
nos processos das unidades da empresa que já
desenvolvem pesquisas de alta relevância am-
Bohn Gass
241
Fernando
Coelho Filho

(Preservação dos recursos hídricos) O Sr. Fernando Coelho Filho (Bloco/PSB-PE.


Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presi-
Transcurso do Dia Mundial da Água. Importância dente, Sras. e Srs. Deputados, o dia 22 de mar-
da preservação dos recursos hídricos brasileiros. ço tem sido dedicado, desde 1992, para refle-
Sessão 29/03/2012 – DCD 30/03/2012 xões e discussões sobre diferentes questões
relativas à água, este bem natural tão precioso
para toda a humanidade.
E ao transcurso do 22 de março deste ano, a
comemoração do Dia Mundial da Água assu-
miu significado muito especial, não apenas
por marcar vinte anos de sua instituição pela
Organização das Nações Unidas – ONU, mas
também porque estamos às vésperas da Con-
ferência para o Desenvolvimento Sustentável,
a Rio+20, que será realizado no Rio de Janeiro,
nos dias 20 a 22 de junho próximo.
Explica-se a crescente preocupação no mundo
inteiro: é que grande parte das fontes de água

243
própria para o consumo sofre a contaminação mesmo, inúmeros municípios nordestinos,
por agentes poluidores e a degradação pela principalmente nos Estados de Alagoas, Bahia
ação predatória do homem. Estudos consisten- e Sergipe, vivenciam uma estiagem de grandes
tes demonstram que se não houver a devida proporções, fazendo vítimas comunidades in-
conscientização dos povos e dos governantes teiras e a economia regional.
para a preservação dessas fontes, haverá certa- Por isso, a alardeada posição bastante favorá-
mente escassez e até mesmo falta de abasteci- vel de nosso país em relação ao volume de água
mento de água em várias regiões do planeta. doce, Senhor Presidente, precisa ser interpreta-
Como se sabe, Senhor Presidente, o Brasil ocu- da sob diferentes ângulos e aspectos, podendo
pa posição bastante privilegiada nesse contex- é claro constituir-se realmente em diferencial
to global, possuindo cerca de 13% das reservas decisivo em termos de competitividade econô-
de água do mundo inteiro, embora também mica, sobremodo na produção de alimentos.
seja preciso salientar que tais reservas estão Diante de tal contexto, o Brasil deve assumir
mal distribuídas em nosso território, uma vez exemplar postura de preservação da água, até
que mais de dois terços se encontram na re- mesmo como país anfitrião da referida Confe-
gião Amazônica, distante dos grandes centros rência das Nações Unidas, para liderar propos-
populacionais e consumidores brasileiros. tas e medidas consentâneas com a própria De-
Assim, tal indicador de caráter geográfico de- claração Universal dos Direitos da Água, que
termina sérios problemas e desafios a serem atribui a cada cidadão, a cada cidade, região e
enfrentados e resolvidos: de um lado, a neces- nação a responsabilidade por preservar esse
sidade de abastecimento de grandes cidades verdadeiro patrimônio de todos os povos, de
e onde o fornecimento de água potável já evi- todo o planeta.
dencia situação crítica; de outro, a questão do O País tem evoluído gradualmente, em espe-
semiárido nordestino, que compreende apro- cial, nos últimos anos, com aumento da cons-
ximadamente 10% do território nacional e é cientização e de investimentos na área, mas
considerada a região mais populosa do mun- ainda falta muito para garantirmos a condição
do com essas características de clima. Agora de sustentabilidade desejável, face ao aumen-

244
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

to geométrico do consumo de água e ao cres- recursos do governo federal ainda são insu-
cimento desordenado de nossos centros urba- ficientes para atender às necessidades; mais
nos, com o inchaço populacional. do que isso, há muita carência de capacidade
Cabe melhorar o gerenciamento de nossos técnica nos municípios para a elaboração de
recursos hídricos, ação que implica, por exem- projetos no setor.
plo, possibilitar o acesso da população à coleta São dados que atribuem a verdadeira dimen-
de esgoto devidamente tratado. Hoje, pratica- são para o problema, a exigir um grande esfor-
mente metade dos brasileiros ainda não dis- ço do poder público, da iniciativa privada e de
põe do serviço de coleta de esgoto, carência toda a sociedade, porque os recursos aplicados
que acaba por inviabilizar o aproveitamento nessa área representam consideráveis ganhos
de fontes de água mais próximas para abaste- para a preservação do meio ambiente, a saúde
cer as cidades. da população e a economia do País.
São lamentáveis as cenas a que se assiste, de Saúdo, pois, a todos os que integram órgãos
contaminação e degradação de rios, lagoas e em defesa da água em nosso país; aos que se
nascentes próximos às cidades, ou mesmo dedicam a trabalhar em projetos de irrigação
dentro de sua área, com graves problemas de no meio rural, utilizando-se de técnicas racio-
poluição, portanto, sem condições de ofere- nais para o uso adequado; enfim, aos que se
cer água para o consumo humano. Problemas empenham em cada vez mais conscientizar
graves decorrentes principalmente do despejo a população a não desperdiçar água e, acima
de esgotos e dejetos ou de contaminação por de tudo, a não poluir nossas grandes riquezas
agrotóxicos e fertilizantes, enfim, verdadeiros representadas pelas fontes de abastecimento
atentados ao meio ambiente. que visam atender à demanda do meio rural e
É bem verdade que o Programa Nacional de de nossos centros urbanos.
Despoluição de Bacias Hidrográficas investiu Era o que tinha a dizer.
desde 2001 mais de 200 milhões de reais na
instalação de 55 estações de tratamento de es-
goto, com custo total de R$ 720 milhões. Os
Fernando Coelho Filho
245
Fernando Ferro

(Melhoria da matriz energética) O Sr. Fernando Ferro (PT-PE. Pela ordem.


Sem revisão do orador.) – Sra. Presidenta,
Indignação do orador com a demissão de Sras. e Srs. Parlamentares, eu quero, em pri-
jornalista da Fundação Biblioteca Nacional, meiro lugar, estranhar o assunto que diz res-
em face de pressão política exercida pelo
Presidente do PSDB. Realização da Conferência
peito à liberdade de imprensa.
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Foi iniciativa do Presidente do PSDB solicitar
Sustentável, a Rio+20, na Capital fluminense. e conseguir a demissão do jornalista respon-
Defesa da aprovação de projeto de lei sável pela revista da Biblioteca Nacional, por-
sobre a inclusão de fontes renováveis de
que ele fez uma resenha sobre o livro A Priva-
energia na matriz energética brasileira.
taria Tucana.
Sessão 29/03/2012
Muitos jornalistas e meios de comunicação
acusam o PT, mas jamais ouviram de nossa
parte qualquer tentativa de demitir aqueles
que nos criticaram, porque nós respeitamos
a liberdade de imprensa. Então, deixo aqui
o registro da atitude autoritária e ditatorial
do Presidente do PSDB, que demitiu o jorna-
lista responsável pela revista da Biblioteca

247
Nacional, que, segundo nos informa, fez uma O verdadeiro debate que acontecerá exigirá
resenha sobre o livro A Privataria Tucana. de todos nós novas bases para o desenvolvi-
Mas eu queria tratar, neste momento, de um mento, em que se preservem os recursos na-
assunto que diz respeito ao papel do Brasil turais, se incentive a justiça e se promovam as
no contexto internacional, que é exatamente condições mais elementares do direito huma-
a realização do encontro Rio+20, a Conferên- no – a vida, a dignidade, a qualidade de vida e
cia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e a sustentabilidade.
Desenvolvimento, que acontecerá dos dias 26 Portanto, esta Casa pode contribuir com várias
de maio a 4 de junho, aqui no Brasil. iniciativas. Inclusive, quero cobrar da Mesa a
Haverá um debate mundial sobre a questão do aprovação de um projeto de lei muito impor-
meio ambiente, quando se fará ou, pelo me- tante, que diz respeito à inserção das fontes
nos, tentará um ajuste da opinião mundial so- renováveis na matriz energética brasileira, de
bre a situação climática da Terra; os riscos da uma maneira articulada e valorizando a sua in-
espécie humana frente as ações a que se sub- teração com a agricultura familiar, a sua possi-
mete o planeta Terra; os riscos da promoção bilidade de geração localizada.
das mudanças climáticas sobre a vida humana; Isso permite que todos possam produzir e
a promoção e a exploração de recursos natu- consumir energia com qualidade, exercendo
rais, que acontecem hoje em escala planetária, direitos de cidadania, uma vez que o direito à
com suas consequências; e a necessidade de energia é um dos direitos humanos defendidos
medidas que articulem os diversos governos, pela ONU, que nós entendemos que a Rio+20
para impedir o avanço dessa política de des- pode proteger.
truição da espécie humana.
Serão debatidas a nossa política sobre as
águas; a nossa política para energia; a nossa
política para a segurança alimentar; e a pro-
moção da política que elimine a pobreza no
planeta Terra.

248
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Frente Parlamentar O Projeto de Lei nº 630, que relatamos, ofe-


Ambientalista – Rio+20 rece uma série de sugestões, como uma con-
Em busca de uma Economia Sustentável tribuição do Parlamento, para dotar o País de
Câmara dos Deputados – 27/3/2012. legislação nessa área do marco das energias
renováveis, que hoje são regulamentadas por
O Sr. Deputado Fernando Ferro – Boa tarde meio de decretos ou de iniciativas, que, de
a todos. certa maneira, propiciaram, no caso das fon-
Sr. Presidente, de maneira rápida vou expres- tes eólicas, ampliação da sua presença. Isso,
sar uma preocupação, já que teremos oportu- de certa forma, foi bafejado pela crise na Eu-
nidade, com esse evento mundial, de refletir ropa, que terminou deslocando produtores e
não apenas sobre conceitos e incertezas que oportunidades para o Brasil e para a América
surgem nesse debate, mas também a respeito Latina. Mas, enfim, deveríamos definir regras
do papel que o Parlamento brasileiro tem em mais perenes nesse campo.
relação a isso. Nesse sentido, esta Frente Parlamentar pode
Uma questão em que trabalhamos por quase oferecer sugestões, pode inclusive atuar para
mais de 1 ano nesta Casa foi a elaboração de que se aprove neste ano, como um dos com-
uma proposta de marco legal sobre energias promissos relativos à contribuição do Brasil na
renováveis no Brasil. Como ocorre em vários Rio+20, legislação que possa compatibilizar,
países, tínhamos uma série de projetos de lei, entre os países, um marco legal mundial sobre
com diversas sugestões e propostas de utiliza- energias renováveis. Compreendo que não seja
ção e de melhora da nossa matriz energética possível uma uniformização total, mas, dentro
Já é boa, comparada à média mundial, mas das características de cada país, há possibilida-
isso não nos autoriza a ficar tranquilos ou sen- de se elaborar uma legislação nessa linha.
tados diante dessa glória, achando que isso é Minha sugestão, portanto, é no sentido de
normal. Temos que aprofundar exatamente a que possamos, inclusive como resultado desta
diversificação da matriz e a sua limpeza. reunião, levar ao Presidente da Câmara, Mar-
co Maia, o esforço de se colocar essa matéria

Fernando Ferro
249
para que pelo menos no Brasil se apresente na
Rio+20 com um dado, e, em particular, o Legis-
lativo brasileiro, com uma contribuição no sen-
tido de dotar o País de um marco legal de fontes
renováveis alternativas, que nós não possuí-
mos. Evidentemente, vivemos alguns movimen-
tos, como o PROINFA e algumas ações, mas não
articuladas dentro de uma visão mais global e
mais includente de um conceito de matriz ener-
gética limpa, mas assim poderemos contribuir
com o debate, como a expressão da vontade do
Parlamento brasileiro de colaborar não apenas
no discurso, mas com ações práticas que viabili-
zem posturas no sentido da construção de uma
economia mais sustentável. Era isso, Sr. Presi-
dente. (Palmas)

250
Fernando
Marroni

(Economia verde-conceito) O Sr. Fernando Marroni (PT-RS. Sem revisão


do orador.) – Sra. Presidenta Janete Pietá, que-
Otimismo quanto à realização da ro fazer um registro sobre a Rio+20. Estamos a
Conferência das Nações Unidas sobre 111 dias desse evento, e é preciso que se afirmem
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20,
no Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro.
as conquistas que o Brasil teve nesse período.
Declarações da Ministra do Meio Ambiente, Foi muito feliz a Ministra Izabella Teixeira no
Izabella Teixeira, a respeito do evento. Senado, onde disse que a Rio+20 não é uma re-
Reestruturação do Programa das Nações edição da Eco 92. Trata-se das Nações Unidas,
Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA.
do mundo, trata-se de refletir sobre a nova
Sessão Ordinária 01/03/2012 – DCD 02/03/2012 economia verde, a tal economia sustentável
com inclusão social e distribuição de renda, da
riqueza, em favor da vida.
Penso que essa edição dessa conferência das Na-
ções Unidas deve ser um momento ímpar para
o Brasil reafirmar seus compromissos, reafirmar
seus avanços, dizer que já cumpriu 68% das me-
tas que devem ser efetivadas até 2020 e que
continuaremos a perseguir o desenvolvimento

251
sustentável, sustentando principalmente a vida e novos temas surgem como pautas obrigató-
das populações menos favorecidas. rias. Portanto, como bem disse a Ministra, a
Muito obrigado. Rio+20 não deve resumir-se a uma revisão da-
quilo que foi tratado em 1992.
Pronunciamento Encaminhado Em 2012 precisamos reconhecer que alguns
Pelo Orador temas ainda eram muito incipientes na oca-
sião da Eco 92 e, agora, são fundamentais para
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, aque-
que possamos reduzir os impactos ambientais
les que nos assistem, faltando exatos 111 dias
no planeta de forma responsável e, sobretudo,
para o Brasil sediar a Conferência das Nações
sustentável.
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a
Rio+20, torna-se cada vez mais necessário fa- Como bem lembrou a Ministra Izabella, um
lar sobre os temas que serão discutidos, sejam dos assuntos mais importantes da Rio+20 será
os relativos aos avanços obtidos no Brasil e no a definição com maior clareza sobre a aplica-
mundo na questão ambiental, sejam os refe- ção do conceito de economia verde. Afinal de
rentes aos desafios que se avizinham, e ine- contas, é preciso que haja consenso entre as
vitavelmente terão que ser enfrentados nos nações para a transferência de tecnologia que
próximos anos. possibilite uma aplicação plena da economia
verde, de modo a não ser apenas mais uma
Digo isso porque ontem, durante audiência
simples ação preservacionista. Para que seja
pública realizada no Senado, a Ministra do
realmente viável, é preciso que a economia
Meio Ambiente, Izabella Teixeira, foi muito fe-
verde leve à inclusão social e contribua com a
liz ao dizer que essa conferência que se reali-
geração de empregos.
zará no Rio de Janeiro entre os dias 20 e 22 de
julho não é uma nova edição da Eco 92. Apesar Outro ponto a ser discutido: a reestruturação
de estarmos sediando o evento exatamente 20 do Programa das Nações Unidas para o Meio
anos após aquela histórica conferência, muita Ambiente, o PNUMA. Criado há 4 décadas, o
coisa mudou no planeta nas últimas 2 décadas, programa agora precisa ser revisto. Aprovei-
tando-se a Rio+20, deve ser debatida a possi-

252
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

bilidade de se fortalecer o PNUMA, tornando-


o uma espécie de agência internacional.
Acredito, Sra. Presidente, e todos que nos as-
sistem, que a Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, que mar-
ca os 20 anos da Eco 92, não poderia ser rea-
lizada em local melhor, o Brasil, e em melhor
ocasião, este ano. Isso porque o Brasil mudou
muito nessas 2 décadas que separam os dois
eventos. Enfrentamos problemas históricos
como o desemprego e a pobreza e colocamos
o País em um novo patamar de desenvolvi-
mento, aliando, em tudo isso, ações políticas
de crescimento econômico a uma preocupa-
ção constante com a diminuição dos impactos
ambientais e a promoção de técnicas susten-
táveis. Hoje o Brasil é uma referência mundial
quando o assunto é preservação ambiental.
Sendo assim, vejo com grande otimismo a re-
alização da Conferência da ONU e confio em
que, ao final do evento, o Brasil terá novamen-
te feito história quanto ao tema do desenvol-
vimento sustentável. A Rio+20 tem tudo para
ser um marco tão importante quanto foi a
Eco 92 há 20 anos.
Muito obrigado, Sra. Presidente.

Fernando Marroni
253
Irajá Abreu

(Proposta brasileira – gestão dos recursos hídricos) O Sr. Irajá Abreu (PSD-TO. Pronuncia o se-
guinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Participação do orador no VI Fórum Mundial Deputados, neste mês de março participei em
da Água, realizado em Marselha, França. Marselha, na França, do VI Fórum Mundial da
Importância do Brasil como produtor mundial
de alimentos. Apresentação de propostas pelo
Água, o evento debateu temas extremamente
Parlamento brasileiro à gestão do potencial oportunos no momento em que a humanidade
hídrico do País na Conferência das Nações atinge a marca de 7 bilhões de habitantes. Até
Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, 2050 a projeção é que teremos no planeta 3
a Rio+20. Transcurso do Dia Mundial da Água. bilhões de pessoas a mais buscando condições
Sessão 28/03/2012 – DCD 29/03/2012 de se alimentar, de moradia, trabalho e de con-
sumo sobrevivência. O agronegócio brasileiro
tem hoje, e terá cada vez mais, papel estratégi-
co. O Brasil é um grande produtor de alimentos
e celeiro do mundo. As atividades produtivas
no campo correspondem a 22% do PIB (Produ-
to Interno Bruto) brasileiro, geram 37% de to-
dos os empregos nacionais, são postos de tra-
balho fundamentais. Chamo a atenção sobre

255
a importância da capacitação do trabalhador Crescemos em momentos de crise, mantemos o
rural e manutenção e ampliação dessas ativi- equilíbrio e estamos mais confiáveis e mais sóli-
dades produtivas para evitar o colapso que já dos que tantas outras nações. No entanto, é im-
testemunhamos com a transferência cada vez portante, senhoras e senhores, reconhecer mais
mais abrangente do homem do campo para as uma vez nesta tribuna o papel do agronegócio
cidades. Preservar os empregos no campo é como âncora sólida da economia brasileira.
antes de um mecanismo de incentivo ao setor Em todo Brasil 27% do território nacional está
produtivo rural uma política social necessária. sendo utilizado para as atividades produtivas,
O agronegócio é responsável por 37% das ex- atingindo uma ocupação de cerca de 230 mi-
portações brasileiras. Os alimentos cultivados lhões de hectares. As Áreas protegidas de ve-
no Brasil já abastecem os supermercados, são getação nativa somam 61% do Brasil.
requisitados e apreciados por consumidores dos Nos últimos anos, atingimos um crescimento
maiores e mais exigentes mercados mundiais. de 250%, somando um total de mais de 154 mi-
Apesar das carências preexistentes no setor lhões de toneladas em produtos cultivados.
de infraestrutura de transportes, a produção Diante deste cenário extremamente positivo,
avança e o agronegócio, a força que vem dos resultado de um esforço conjunto de produto-
campos de norte a sul deste país continental, res, pesquisadores, do trabalho árduo de mi-
é a base sólida que contribuiu para que o Brasil lhares de trabalhadores do agronegócio brasi-
seja hoje um país estável e de credibilidade. leiro é que venho destacar o papel estratégico
O avanço econômico brasileiro nas últimas dé- do país para a produção de alimentos e a segu-
cadas é vertiginoso. Este ano alcançamos o pa- rança alimentar no mundo.
tamar da 5ª maior economia mundial à frente O Brasil detém 13,7% da água doce do mundo,
da França e da Inglaterra, países historicamente uma das maiores reservas hídricas do planeta.
consolidados economicamente. Em apenas três Nem todos os países possuem essa riqueza:
anos, subimos dois degraus da consolidação água, terra e sol, elementos fundamentais para
econômica e produtiva, passamos de 7ª para a garantir a produção de alimentos e atender a
posição que alcançamos neste ano de 2012. demanda crescente.

256
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

No Fórum Mundial da Água, reunião prepara- ra Kátia Abreu, juntamente com a EMBRAPA
tória para os representantes do parlamento (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
brasileiro apresentar propostas à gestão do po- e a ANA (Agência Nacional de Águas) apre-
tencial hídrico na Rio+20, Conferência da ONU sentaram como proposta para o mundo a
sobre Desenvolvimento Sustentável, em que criação do Instituto de Área Permanente, as
inclusive a questão da água deve ser um temas APPs mundiais, que consiste em normatizar a
centrais, tive a oportunidade de participar de preservação das fontes de água potável, pela
debates que evidenciavam o potencial do Brasil conservação da vegetação nativa das margens
e a nossa a importância para o mundo. O even- de rios, córregos e nascentes.
to em que participaram 25 mil representantes A experiência bem sucedida brasileira as APPs,
de 140 países, uma preocupação comum ficou que vem sendo colocada em prática em todo o
evidente: a escassez de terra aráveis e as limi- território nacional, foi apresentada às nações
tações da oferta de água restringem a expansão como ação efetiva para preservação dos recur-
da produção, na maior parte do mundo. sos hídricos.
Sr. Presidente, como exemplo da gravidade Na Rio+20, em junho, voltaremos a defender
desta questão, destaco estudo da OCDE (Or- a ideia das Áreas de Preservação Permanen-
ganização para a Cooperação e o Desenvolvi- te a ser implantada em todo mundo. Assim,
mento Econômico), grupo de cooperação in- a exemplo das ações de preservação que es-
ternacional formado por 34 países, a maioria tão sendo realizadas no Brasil e garantindo o
ricos, publicado no dia 15 de março. O relatório a conservação do potencial hídrico dos rios
“Previsões ambientais para 2050: As Consequ- brasileiros, visamos garantir a conservação da
ências da Inação”, traz dados alarmantes, en- vegetação nativa de potenciais hídricos extre-
tre eles que a demanda por água potável cres- mamente importantes para a humanidade na
cerá 55% até 2050. Ásia, na África, na Europa e na Oceania.
No Fórum Mundial da Água o Brasil teve uma Neste mês em que comemoramos o dia Mun-
participação ativa. A presidente da Confede- dial da Água, 22 de março, quero compartilhar
ração Nacional da Agricultura (CNA), senado- com a população brasileira o orgulho que senti
Irajá Abreu
257
como representante legislativo e do Estado do
Tocantins de mostrar ao mundo que estamos
dando exemplo: ampliando a produção, bus-
cando como aliados a pesquisa a ciência e a
tecnologia, crescendo de forma sólida e abran-
gente com respeito a leis ambientais rigoro-
sas, comprometidos com o futuro da humani-
dade e conservando de forma ostensiva uma
das maiores riquezas mundiais, os recursos
hídricos do Brasil.
É o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado.

258
Ivan Valente

(Rio+ 20 – Expectativas. Avaliação O Sr. Deputado Ivan Valente – Respeitando


crítica da posição brasileira) o cansaço do pessoal, cumprimento a Mesa,
os companheiros e companheiras. Serei curto
Frente Parlamentar Ambientalista – Rio+20 mesmo.
Em busca de uma Economia Sustentável
Em primeiro lugar, queria dizer que a Rio+20 é
Câmara dos Deputados – 27/3/2012. um grande palco. Ela não muda a economia, não
muda os processos que estão em evolução.
O que a economia verde pretende discutir? Se-
ria o modo de produzir e consumir de maneira
diferente? É a economia de baixo carbono? A
economia verde, para mim, não sei, soa meio
mal. A moeda americana é verdinha. Então, já
se fica com impressão ruim desse negócio.
O problema é outro. O que me importa mais
aqui é dizer o seguinte. Vindo para cá hoje, li,
no jornal Valor Econômico, se não me enga-
no, que a grande maioria dos Chefes de Es-
tado, considerando-se os Estados Unidos e a

259
Europa, não confirmou presença ainda. Só os Existem mais de 40 trilhões de dólares giran-
Chefes de Estado da África e da América La- do pelo mundo, enquanto o PIB real talvez seja
tina confirmaram presença nessa conferência. menos de um décimo disso, o PIB da indústria,
Sabemos que os protocolos, na maioria das da produção agrícola, etc.
vezes, não são cumpridos, como é o caso do Sr. Presidente, faço questão de falar um pouco
Protocolo de Kyoto. Sabemos que questões sobre o papel do Brasil. Isso está me importan-
centrais da atualidade, como biodiversidade, do em especial. Vamos sediar a Rio+20. O Bra-
mudanças climáticas, não estão no centro da sil é a quinta economia do mundo, é um dos
pauta da Rio+20, mas podem ali ser colocadas. maiores territórios do mundo, é o país que tem
Esse é ponto. O colocar depende muito da for- grandes vantagens comparativas: água, biodi-
ma como se traduzem na política as questões. versidade. Exemplo disso são as nossas flores-
Para mim, discutir Rio+20 é discutir economia tas. O Brasil tem voz. Essa é a questão. Então,
mundial. Discutir economia mundial é a solu- o Brasil pode fazer desse palco um espaço im-
ção que os europeus estão dando. Eles exigem portante, central, para apresentar propostas
cortes monumentais e sacrifícios brutais, por relativamente à questão climática, à produção
exemplo, do povo grego, exigem que junte 13 econômica, à geração de energia, a matrizes
bilhões de euros, e depois o Banco Central desse tipo. O Brasil tem condições de desem-
europeu dá 1 trilhão de euros para os banquei- penhar um papel de vanguarda, algo que não
ros europeus se safarem. tenho visto. Ao contrário.
Nesta própria Mesa, a FAO está falando de Nesse sentido, Deputado Sarney, na peroração,
fome, fome na África, fome no mundo, e 1 tri- quero perguntar o seguinte: como vamos nos
lhão de euros são dados aos banqueiros para apresentar como vanguarda na Rio+20 apro-
se safarem. vando um retrocesso brutal, que é esse Código
Enquanto existir economia especulativa, não Florestal ruralista que está aqui? (Palmas.)
existirão soluções imediatas. Entenderam? Além disso, criminosamente – quero usar esse
É criminosa a forma como hoje são geridos termo –, foi aprovada na CCJ, semana passada,
os próprios recursos. A economia é de papel. a Proposta de Emenda à Constituição nº 215,

260
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

de 2000, que rigorosamente retira da União a mento e trabalhe a favor da reprimarização da


capacidade de demarcar terras indígenas, ter- economia brasileira e não de um outro modelo
ras quilombolas e de unidades de conservação. alternativo. (Palmas.)
O que é isso? É com essa aura que o Governo
brasileiro vai entrar numa conferência como a
Rio+20? Ao contrário, deveríamos ser o exem-
plo. Não podemos apresentar como vantagem
comparativa para o mundo isto: jogar fora os re-
latórios da SPBC e das universidades e dizer que
vamos continuar fazendo com que o BNDES fi-
nancie uma FRIBOI da vida, que produz carne,
com um boi por hectare. Esse é o rendimento.
Então, essa é a questão. É a nossa crise.
Para nós, estes são pontos centrais da Rio+20:
discutir a questão climática, discutir a questão
da biodiversidade, debater sobre a economia
mundial, mobilizar a sociedade. Isso levaria o
Brasil a ter um papel de vanguarda.
Antes disso, temos de fazer a nossa lição de
casa: não deixar que retrocessos como os rela-
cionados ao Código Florestal e à PEC 215 pas-
sem pelo Congresso Nacional. No caso do Có-
digo Florestal, como não se trata de emenda
constitucional, que ao menos a Presidente da
República vete os dispositivos que anistiam os
responsáveis por desmatamento, desfloresta-

Ivan Valente
261
Luiz Noé

(Itaipu Binacional – Preservação ambiental) O Sr. Luiz Noé (Bloco/PSB-RS. Pela ordem.
Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, co-
Contribuição da empresa Itaipu Binacional legas Parlamentares, neste momento em que
para a preservação ambiental, demonstrada na discutimos a Rio+20 e a sustentabilidade do
produção de biogás no Município de Marechal
Cândido Rondon, Estado do Paraná.
meio ambiente, a Itaipu Binacional nos dá
exemplo da proteção do meio ambiente, da
Sessão 27/03/2012 – DCD 28/03/2012
crença na nossa tecnologia e, principalmente,
da fixação do homem no campo.
Quando falamos em energia hídrica, sempre
vêm à nossa mente as hidrelétricas, as áreas
alagadas, fato que está presente em todo o
País. A Itaipu realiza um trabalho de proteção
do meio ambiente e, principalmente, de valo-
rização do homem do campo com dignidade,
quando desenvolve uma tecnologia para a pro-
dução de biogás.
Ora, a produção de biogás já é uma tecno-
logia muito utilizada pelos países europeus,

263
notadamente o domínio, a técnica e o conheci- de comunicação – que aquilo que está sendo
mento da Alemanha. O que percebemos, com a feito lá na Itaipu Binacional seja conhecido e
parceria com a Itaipu no Município de Cândido utilizado por outros Estados. Trata-se de uma
Rondon, é que essa tecnologia precisa ser adap- tecnologia nossa, pesquisada pelos nossos
tada à cultura e às condições brasileiras. cientistas brasileiros e que serve para todo o
Um pequeno produtor que possui cerca de 20 Brasil, assim como outras linhas de pesquisa.
bovinos e utiliza o esterco de bovinos, suínos O biogás é tecnologia nossa.
ou aves produz energia que disponibiliza à
própria rede elétrica. Isso é um avanço. Além
da produção primária normal, ele consegue
transformar os resíduos dessa produção em
energia sustentável, que é colocada na rede
elétrica. Isso é renda para o produtor, é digni-
dade para muitos que não teriam mais opção
para continuar produzindo.
Além disso, há o impacto ambiental. Hoje,
os nossos Estados, principalmente os do Sul,
vivem um grande problema, que é a questão
dos dejetos suínos. A produção brasileira é
grande e, quando os dejetos vão para os nos-
sos lençóis d’água, há contaminação do solo e
da água. Mas, utilizando esses dejetos na pro-
dução de energia, também se tem um adubo
desse resíduo, que não agride a natureza e faz
com que haja melhor produção.
Eu estou colocando para os colegas e o Brasil –
e peço que seja reproduzido por nossos meios

264
Márcio Macêdo

(Preservação dos recursos hídricos) O Sr. Márcio Macêdo (PT-SE. Pronuncia o se-
guinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Transcurso do Dia Mundial da Água. Deputados, o Dia Mundial da Água foi criado
Contaminação de mananciais brasileiros pela pela Organização das Nações Unidas no dia 22
ação predatória do homem. Participação no
6º Fórum Mundial da Água, realizado em
de março de 1992. Mas porque a ONU se preo-
Marselha, França. Manifesto parlamentar acerca cupou com a água se sabemos que dois terços
da governança da água extraído do evento. do planeta Terra é formado por este precioso
Sessão 27/03/2012 – DCD 28/03/2012 líquido? A razão é que pouca quantidade, cerca
de 0,008 %, do total da água do nosso planeta
é potável, ou seja, própria para o consumo. E
como sabemos grande parte das fontes desta
água (rios, lagos e represas) esta sendo conta-
minada, poluída e degradada pela ação preda-
tória do homem. Esta situação é preocupante,
pois poderá faltar, num futuro próximo, água
para o consumo de grande parte da popula-
ção mundial. Pensando nisso, foi instituído o
Dia Mundial da Água, cujo objetivo principal é

265
criar um momento de reflexão, análise, cons- dos aos respectivos usos, e a utilização racional
cientização e elaboração de medidas práticas e integrada dos recursos hídricos, com vistas ao
para resolver tal problema. desenvolvimento sustentável.
Com esse intuito, estivemos neste mês em Quero compartilhar com o povo brasileiro e
Marselha, na França, para participarmos do 6º os nobres pares o resultado deste manifesto
Fórum Mundial da Água. Tal evento é conside- que recomendou que cada país assegure que
rado como o mais importante do mundo para o acesso à água potável e ao saneamento bá-
discutir e pensar esse importante bem natu- sico, em termos de qualidade, aceitabilidade,
ral, que é vital, finito e tem valor econômico. acessibilidade e custos, sobretudo para as
O objetivo do fórum é construir comprometi- populações mais vulneráveis, seja prioridade
mentos técnicos e políticos para a conserva- e que haja recursos para isso. A questão do
ção, proteção, planejamento, gestão e uso da saneamento seja encarada de forma integral.
água em todo o planeta. Estivemos participan- Instauração de uma gestão comum envolven-
do em missão oficial juntamente com outros do coatores estatais e não-estatais. Para isso
parlamentares brasileiros e de outros países é preciso que políticas hídricas entre países
cuja preocupação resultou em um manifesto que compartilham recursos hídricos incluam
parlamentar acerca da governança da água. por parte de todos os atores envolvidos a in-
Durante o evento, defendi que o a implemen- teração água, energia e segurança alimentar.
tação da Lei das Águas, da Lei de Saneamento Desenvolvimento agrícola, industrial e urbano,
Básico e das demais normas relativas aos recur- utilizados de maneira econômica quanto aos
sos hídricos, bem como a crescente atuação das recursos hídricos, de forma respeitosa com a
entidades por elas responsáveis, conformam natureza buscando desenvolvimento susten-
uma nova realidade na gestão das águas no tável e a melhoria na gestão de recursos hí-
Brasil, muito mais democrática e transparente. dricos. Reafirmação do papel fundamental, no
E o objetivo final, contudo, é assegurar à atual e âmbito político como operacional das autori-
às futuras gerações a necessária disponibilida- dades locais e regionais como fiadores de uma
de de água, em padrões de qualidade adequa- gestão sustentável e equitativa dos serviços

266
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

de água e saneamento e dos recursos hídricos. Assim, faço o convite a nossos pares para que
E mais. Comprometemo-nos coletivamente: junto como os Parlamentos do mundo possa-
»» adotar as disposições correspondentes mos apresentar soluções e compromisso para
a nossas responsabilidades para que as a assegurar o acesso à água potável e ao sanea-
políticas de água e os mecanismos de mento básico e a gestão sustentável dos recur-
solidariedade possam ser aprimorados sos hídricos no âmbito das plataformas especí-
através da elaboração de propostas de lei ficas implementadas pelo Fórum de Marselha.
e na votação de recursos orçamentários;
Muito obrigado a todas e a todos.
»» realizar ações a fim de que entrem em vi-
gor textos, resoluções e convenções so-
bre os cursos de água e aquíferos trans-
fronteiriços e propor encontros entre
parlamentares dos países desenvolvidos
para contribuir para a instauração de
uma nova governança da água e do sane-
amento no plano mundial; – participar da
governança do instrumento de conheci-
mentos de forma acessível aos parlamen-
tares do mundo;
»» realizar ações para estabelecer um me-
canismo de acompanhamento-avaliação
as soluções e compromissos adotados no
marco dos Fóruns Mundiais de Água, a
disposição de todos os coparticipantes e,
particularmente, dos parlamentares;
»» assegurar a promoção destas propostas
e compromissos na Cúpula Rio+20 em
junho de 2012, que será realizada no Rio
de Janeiro.

Márcio Macêdo
267
Moreira Mendes

(O avanço da agropecuária pela O Sr. Moreira Mendes (PSD-RO. Sem revi-


inovação tecnológica) são do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, o Brasil sediará, de 4 a 6 de junho,
Realização da Conferência das Nações no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
– Rio+20, no Rio de Janeiro, Estado do Rio
Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Sus-
de Janeiro. Sugestões para inclusão de temas tentável, a Rio+20. O evento reunirá gover-
na agenda do evento, especialmente do nantes e representantes da sociedade civil dos
setor agropecuário. Pujança da agricultura países membros da ONU, para debaterem e
brasileira. Fatores determinantes do proporem alternativas de crescimento do pla-
aumento da produtividade do setor. neta baseadas na conservação dos recursos
Sessão 12/04/2012 – DCD 13/04/2012 naturais e solidariedade social.
Trata-se, sem dúvida, de uma oportunidade
ímpar para discutirmos temas como o uso da
água, acesso a alimentação, preservação dos
oceanos, mudanças climáticas, qualidade do
ar e superação da pobreza por intermédio de
programas de transferência de renda e inclu-
são produtiva.

269
Sem qualquer sombra de dúvida, os temas que Sr. Presidente, caros colegas,
serão discutidos na Rio+20 têm relação direta O que os participantes da Rio+20 precisam
com a agropecuária. O uso adequado da água, entender, e também essas ONGs que andam
a produção de alimentos e a qualidade do ar por aí a nos ofender, (financiadas que são pe-
estão na base da atividade agropecuária. los nossos concorrentes), é que, no Brasil, o
Portanto, o Brasil não pode deixar de aprovei- aumento da produção decorre dos ganhos de
tar a conferência da ONU para apresentar a produtividade. Basta vermos os dados da Com-
força do setor e seu compromisso com o futu- panhia Nacional de Abastecimento (CONAB)
ro sustentável do planeta, com a sanidade ani- para comprovar isso.
mal e vegetal e a segurança alimentar. A agro- Na safra de grãos de 1976/1977, a agricultura
pecuária brasileira é motivo de orgulho para brasileira ocupou uma área de 37,3 milhões de
todos nós e temos que colocá-la no centro dos hectares e obteve uma colheita de 46,9 milhões
debates da conferência da ONU. de toneladas. Na temporada de 2010/2011, a
Dono da maior agricultura tropical do mundo, área plantada foi de 49,9 milhões de hectares
o nosso País fornece hoje alimentos para mais e a produção totalizou 162,8 milhões de tone-
de 200 mercados. Nossa pauta de exportações ladas. Ou seja, enquanto a área cultivada cres-
inclui açúcar, café, soja (grão, farelo e óleo), ceu 34% (12,6 milhões de hectares), a produção
suco de laranja, frutas e carne bovina, frangos alcançou o volume de 162,8 milhões de tone-
e suínos, entre outros produtos. O campo ladas de grãos – um crescimento de 247%; ou
brasileiro produz comida de qualidade e gera seja, mais que triplicou nesse período.
emprego e renda, contribuindo decisivamente Que nação deste planeta apresenta tais núme-
para a redução da pobreza, de Norte a Sul. Não ros? Sabem o porquê de alcançamos números
por acaso, somos reconhecidos internacional- tão positivos, de tamanho sucesso? Porque
mente como uma potência agrícola, status que temos uma conceituada e reconhecida inter-
assusta os nossos concorrentes. Por isso, não nacionalmente EMBRAPA e outros institutos
podemos deixar de transformar a Rio+20 em de pesquisa por este Brasil afora, assim como
uma vitrine da nossa agropecuária. temos agricultores capacitados e dispostos a

270
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

produzir alimentos para o abastecimento in- Quero encerrar minhas palavras, afirmando,
terno e ainda gerar excedentes exportáveis. de maneira simples, mas em alto e bom tom:
Os números da Companhia Nacional de Abas- Presidenta Dilma, não tema aqueles que pre-
tecimento (CONAB) refletem o acerto da agri- tendem insultar V.Exa. naquele evento, por-
cultura brasileira em investir no aumento da que, no que diz respeito ao agronegócio, o Bra-
produtividade, na inovação. Essa opção repre- sil está preparado para fazer bonito na Rio+20.
senta mais investimentos em pesquisa, no de- Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.
senvolvimento de novas tecnologias e na ado-
ção de sistema de produção ambientalmente
corretos, como o plantio direto na palha, além
do emprego de técnicas de uso racional dos
recursos hídricos, de redução do emprego de
agroquímicos nas lavouras e da adoção de prá-
ticas conservacionistas do solo.
Por isso, é mais do que necessário fazer com
que a agropecuária brasileira tenha papel cen-
tral nos debates da Rio+20. Sem alimentos, o
mundo não sobrevive. E a produção de comida
exige não só a adoção de sistemas de produ-
ção amparados no desenvolvimento susten-
tável, como também a eliminação de práticas
que distorcem os mercados. Nesse contexto,
a conferência da ONU é um fórum qualificado
e representativo para que possamos discutir o
futuro do planeta, com a garantia de alimentos
para todos e redução da pobreza.

Moreira Mendes
271
Perpétua
Almeida

(Novos critérios para a aferição do IDH – A Sra. Perpétua Almeida (Bloco/PCdoB-AC.


Índice de Desenvolvimento Humano) Pela ordem. Sem revisão da oradora.) –
Sr. Presidente, colegas Parlamentares, na úl-
Participação da oradora em reunião destinada tima sexta-feira, juntamente com o Deputado
ao debate da Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, a
Alfredo Sirkis, Presidente da Subcomissão
Rio+20, realizada no Ministério das Relações Rio+20 desta Casa, e com o Senador Fernando
Exteriores. Necessidade do estabelecimento Collor, da Comissão de Relações Exteriores do
de novos parâmetros para a aferição do Índice Senado Federal, participamos, representando
de Desenvolvimento Humano – IDH. o Congresso Nacional, da reunião ocorrida no
Sessão 12/03/2012 Itamaraty sobre a Rio+20, coordenada pelo
Ministro das Relações Exteriores, Antonio
Patriota, à qual contou ainda com a presença
da Ministra do Meio Ambiente, Izabella Tei-
xeira, da Ministra-Chefe da Casa Civil, Gleisi
Hoffmann, e do Secretário-Geral da Presidên-
cia, Gilberto Carvalho.
Nessa reunião, o Sr. Sha Zukang, Secretário-Ge-
ral da Rio+20, elogiou o Brasil pela organização

273
para receber aproximadamente 50 mil pessoas Precisamos, primeiro, promover uma política
que comparecerão ao evento, que ocorrerá em de desenvolvimento para essas regiões, para
junho no Estado do Rio de Janeiro. que a cobertura florestal e a floresta em pé
Sr. Presidente, uma das minhas preocupações sejam lucrativas para as comunidades que lá
reside no principal eixo da Rio+20, a respon- vivem, e, segundo, precisamos também conta-
sabilidade de os países reafirmarem compro- bilizar o item “floresta em pé” para quem, de
missos anteriores, da Eco 92, no sentido de certa forma, protegeu a floresta.
garantirem uma política de desenvolvimento A grande maioria dos Estados da Amazônia
sustentável rumo a uma economia verde. brasileira – o Amazonas e o Acre, por exem-
Foi com esse tema que levantei a necessidade plo – tem uma grande cobertura florestal, mas
de o Brasil realizar hoje um debate que garanta isso não pode implicar punição para quem ga-
novos critérios para o IDH. rantiu a floresta em pé. Pelo contrário, deve
haver incentivo para garantir mais recursos e
Se vamos discutir desenvolvimento sustentá-
promover o verdadeiro desenvolvimento sus-
vel rumo a uma economia verde, como expli-
tentável com equidade e equilíbrio, proporcio-
car os números de desenvolvimento do Brasil,
nando cidadania legítima para as populações
com base no Índice de Desenvolvimento Hu-
que moram na floresta.
mano – IDH, em relação ao Nordeste brasileiro
ou à Amazônia, os quais demonstram, por Acho importante que o Brasil paute esse tema.
exemplo, que a Amazônia brasileira, que tem a Inclusive, a Ministra Isabella Teixeira e o pró-
maior cobertura florestal do País, tem os Mu- prio Ministro Antônio Patriota se posiciona-
nicípios com o pior IDH do País? O que esta- ram a favor de uma discussão acerca desse
mos fazendo para garantir o desenvolvimento tema, porque vamos debater a economia ver-
desses pequenos Municípios? Como explicar de na Rio+20. Por isso, deve haver o compro-
que essa região tenha a maior cobertura flo- metimento dos países, mas, ao mesmo tempo,
restal, mas seus Municípios apresentem o pior precisamos garantir que as florestas em pé
IDH do País? rendam dinheiro para quem está lá na ponta
cuidando delas. Assim, poderão ter uma vida

274
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

mais digna e contribuir para o desenvolvimen- organizações a partir da Eco 92; saber quais
to sustentável das suas comunidades. foram as lacunas deixadas, quem garantiu e
Muito obrigada, Sr. Presidente. quem assumiu os seus compromissos, firma-
dos há 20 anos.
Frente Parlamentar O Brasil precisa ter a compreensão de que o de-
Ambientalista – Rio+20 senvolvimento dos países que não cumpriram
Em busca de uma Economia Sustentável os seus compromissos até aqui, em detrimento
Câmara dos Deputados – 27/3/2012. do não desenvolvimento de outros países, como
o Brasil, é a nossa grande preocupação. Para ga-
A Sra. Deputada Perpétua Almeida – Bom rantir o sucesso da Rio+20, com a assinatura de
dia a todas e a todos, amigas e amigos aqui compromissos reais, cada um tem que assumir
presentes. a sua parte. Para nós, não há desenvolvimento
Queria saudar os colegas da Mesa, os Parla- sustentável sem a garantia do envolvimento da
mentares e as entidades aqui presentes, per- questão econômica, da questão ambiental e
mitam-me, na pessoa da Presidente em exercí- acima de tudo da questão social.
cio da Casa, da Ministra Izabella Teixeira e do Eu dizia, na nossa última reunião de organização
Presidente dos trabalhos desta Comissão. da Rio+20, que, se formos avaliar o desenvolvi-
O Brasil receberá um grande evento nos pró- mento humano do planeta e do Brasil e analisar-
ximos meses. Aliás, o Brasil, a partir de ago- mos a Região Norte do Brasil, principalmente,
ra, começa a receber grandes eventos. É tan- que tem a maior cobertura florestal, verifica-
to que a Comissão de Relações Exteriores da remos que são exatamente daquela região os
Casa organiza debates acerca da nossa prepa- piores IDH do País. Isso nos traz a responsabili-
ração para garantir a segurança nesses gran- dade de resolver primeiro um problema interno.
des eventos. Como vamos valorizar aqueles que cuidaram do
E é claro que a Rio+20 nos traz uma preocupa- planeta, que cuidaram das suas florestas, que
ção maior, uma responsabilidade muito maior: cuidaram dos seus rios? Como vamos incluir
medir o comprometimento dos países e das na contabilidade do nosso País a valorização e

Perpétua Almeida
275
a garantia do desenvolvimento sustentável de pulsionar e inclusive aprovar uma legislação
todas essas populações, se os melhores IDHs do que garanta a sustentabilidade econômica, a
planeta e/ou do Brasil estão exatamente naque- participação e o desenvolvimento de toda a
las cidades que não se protegeram? Então, nós sociedade.
precisamos inverter essa lógica. Um bom encerramento de debates e uma
Se o rumo da Rio+20 é o do desenvolvimento grande participação a todas as entidades.
sustentável, em busca de uma economia ver- Muito obrigada. (Palmas.)
de, nós precisamos inverter a lógica do desen-
volvimento, para que aquele que preservou o
planeta até aqui seja compensado por isso.
Acho que precisamos resolver esse problema
internamente, para fazer um debate global e
internacional. E é claro, todos os países devem
colocar no papel o seu compromisso sobre o
que precisa ser feito para o desenvolvimento
sustentável. E acho que o Brasil deve ter essa
preocupação de documentar e acima de tudo
de assumir o compromisso de trazer os líderes
mundiais até a conferência, para que todos fa-
çam o seu comprometimento.
Da nossa parte, estamos buscando entendi-
mento no sentido de criar uma Comissão re-
presentativa da Câmara dos Deputados, que
participe e intervenha conjuntamente, para
que haja um único objetivo na participação da
Casa. A partir da Rio+20, uma parte da legis-
lação vai vir até nós, para que possamos im-

276
Rebecca Garcia

(Redução de emissões por desmatamento e A Sra. Rebecca Garcia (PP-AM. Pronuncia


degradação, conservação, manejo florestal o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e
sustentável, manutenção e aumento dos Srs. Deputados, a discussão em torno do paga-
estoques de carbono florestal, REDD)
mento pela manutenção do patrimônio flores-
Defesa de discussão pela Casa do Projeto
tal está madura. Os índios mundurukus, segun-
de Lei nº 195, de 2011, sobre a instituição do o jornal O Estado de S.Paulo, edições de 11 e
do sistema nacional de redução de 15 de março, celebraram contrato com a empre-
emissões por desmatamento e degradação, sa irlandesa Celestial Green Ventures, a quem
conservação, manejo florestal sustentável, cederam, por R$120 milhões, direitos sobre a
manutenção e aumento dos estoques de exploração de uma área da Floresta Amazônica.
carbono florestal, o chamado REDD+.
Outros 30 contratos desse tipo teriam sido ce-
Sessão 11/04/2012 lebrados por diversas etnias indígenas. É hora,
portanto, de discutirmos o Projeto de Lei nº 195,
de 2011, com substitutivo de minha autoria, que
regulamenta situações como essa e funciona
como antídoto contra a ação de oportunistas.
Minha ideia é instituir o Sistema Nacional de
Redução de Emissões por Desmatamento e

277
Degradação, Conservação, Manejo Flores- Na Bélgica, na Floresta das Ardenas, o am-
tal Sustentável, Manutenção e Aumento dos biente mantém-se bucólico, cercado de fazen-
Estoques de Carbono Florestal. É o chamado das agropastoris, e ainda é possível ver cenas
REDD+, acolhido em todas as discussões inter- como a de um casal de javalis selvagens atra-
nacionais sobre o meio ambiente. vessando, com suas crias, uma das pequenas
O contrário é o sistema atual, a partir do Proto- estradas impecavelmente asfaltadas.
colo de Quioto, pelo qual quem refloresta tem Por que só o caboclo amazônico tem que viver
direito a financiamentos, créditos, incentivos abaixo da linha de pobreza, sob as agruras da
em geral, podendo até, grosso modo, transfor- enchente, como agora – 25 Municípios amazo-
mar o desmatamento num negócio rentável. nenses estão em estado de emergência pela
Os fundos nacionais – mudança de clima, subida dos rios –, ou sob a penúria da vazante,
Amazônia, Meio Ambiente e desenvolvimento quando os rios baixam de tal forma que os pei-
florestal – podem se voltar para a direção cer- xes desaparecem?
ta, preservando os patrimônios florestal, como É esse homem, sofrido desse jeito, com incom-
o que resta da Mata Atlântica e da Floresta preensões de toda sorte, que mantém 98% da
Amazônica, e imaterial – o modo de vida dos Floresta Amazônica, no território do Estado do
nossos índios e caboclos. Amazonas, preservados. Até quando?
O mundo nos oferece exemplos importantes. O negócio celebrado à Torquemada por índios e
Em Berchtesgaden, na Alemanha, o Kehlstei- irlandeses tem lições a nos oferecer. A primeira
nhaus – “Ninho da Águia” –, Quartel General delas é que a demanda pelo crédito de carbono
de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial, existe. A segunda é que, sem regulamentação,
tornou-se relíquia histórica, no topo da mon- esse mercado pode ser tomado como pretexto
tanha Kehlstein. Para chegar até lá, o turista ou por criminosos praticantes de biopirataria, ex-
morador toma moderno trem e vai serpentean- ploração ilegal de madeira e minérios ou apro-
do pela rarefeita floresta dos Alpes Bávaros. veitadores da ingenuidade do nosso povo.

278
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

O Projeto de Lei nº 195, de 2011, colocou o Bra-


sil na vanguarda do REDD+, sendo objeto de
discussões, no ambiente internacional, acerca
da defesa do meio ambiente. Voltará à pauta,
certamente, por ocasião da Rio+20. Seria mui-
to bom se pudéssemos apresentá-lo aprovado,
vigente, como exemplo da maturidade brasilei-
ra na questão ambiental. Vamos lutar por isso.

Rebecca Garcia
279
Rose de Freitas

(Rio+20 – Frente Parlamentar A Sra. Vice-Presidenta da Câmara dos


Ambientalista – Audiência Pública) Deputados (Rose de Freitas) – Bom dia a to-
dos. É um prazer participar desta conferência,
Frente Parlamentar Ambientalista – Rio+20 deste evento realizado mais uma vez pela Fren-
Em busca de uma Economia Sustentável te Parlamentar Ambientalista que tem feito
Câmara dos Deputados – 27/3/2012. um belo trabalho nesta Casa e pelo Brasil afo-
ra. Saúdo o Presidente da Comissão de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e a
Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara
dos Deputados, comandada pelo Deputado
Sarney Filho; saúdo a Ministra de Estado de
Meio Ambiente, Sra. Izabella Teixeira, que es-
peramos que consiga nos próximos dias, com
muito diálogo, apaziguar os ânimos desta Casa
e promover um grande entendimento para que
nós possamos votar a Lei Geral da Copa.
Cumprimento a Sra. Perpétua Almeida, uma
grande Parlamentar desta Casa, Presidente da

281
Comissão de Relações Exteriores e de Defesa pação mundial, que vai procurar definir para
Nacional; o Presidente da Fundação SOS Mata as próximas décadas essa agenda com esse
Atlântica, Sr. Roberto Klabin; o representante desenvolvimento sustentável de que tanto fa-
da Divisão de Meio Ambiente do Ministério lamos na hora de redigir as nossas leis e que
das Relações Exteriores, Sr. Paulino Franco; e sempre fica fora das leis.
o representante da Organização das Nações Então, o Brasil hoje tem essa preocupação,
Unidas para Agricultura e Alimentação, a FAO mas ainda não se tem a militância necessária
no Brasil, Sr. Helder Muteia, a quem saúdo dentro do Legislativo, do qual eu faço parte no
com grande prazer. meu sétimo mandato. E, portanto, essa agen-
Minhas palavras serão breves. Estou aqui na da vai se impor necessariamente em todos os
condição de Presidente interina da Casa, tam- seus patamares da vida nacional. Eu quero crer
bém representando o Presidente Marco Maia, que essa discussão que se impôs internacio-
que hoje exerce interinamente o cargo de Pre- nalmente tem um conceito que vai reverberar
sidente da República. Quero dizer que nós te- fortemente na construção do futuro das próxi-
mos – desculpe-me, estou com o discurso dos mas gerações.
royalties, deixa eu trocar, esperem aí, só 1 minu- Portanto, não é uma pauta insossa, não é uma
tinho. É porque eu também coordeno a Frente pauta eleitoral, não é uma pauta pontual. É
Nacional pela Redivisão dos Royalties no Brasil. uma pauta permanente. Tem que ser um tra-
Eu quero saudar aqui a iniciativa tomada pelo tado de países, e tem de ser cumprido fidedig-
Deputado Sarney Filho e dizer que nós vive- namente por qualquer mandatário: aquele que
mos novos tempos no Brasil e no mundo. E a estiver no comando de uma Casa de Leis ou
preocupação que todos têm com o meio am- aquele que estiver no Poder Executivo.
biente já não é a preocupação de um grupo E é nesse contexto e em caráter preparatório
seleto de Deputados ou de intelectuais ou de para a Rio+20 que a Frente Ambientalista vem
um setor ligado ao meio ambiente. Essa confe- oferecendo essa contribuição para esse deba-
rência que vai ser sediada no Brasil vai refletir te, promovendo encontros no Brasil inteiro – e
exatamente um pensamento e uma preocu- nós a parabenizamos por isso –, em cada re-

282
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

gião, com temas os mais relevantes, tais como além de contribuir efetivamente com o pen-
Biomas, Recursos Hídricos, Meio Ambiente samento nacional, consoante com aquilo que
Urbano, Energia, Segurança Alimentar. são as responsabilidades da classe política da
Efetivamente o Brasil estará preparado para qual faço parte. Vai marcar uma contribuição
estar presente no Rio não apenas como espec- de desenvolvimento sustentável que não pode
tador, mas como um País que pode contribuir ser uma metáfora, e vai ser o grande norteador
de fato. Apesar de o assunto ser inovador, ele do crescimento socioeconômico do planeta. E
não é inovador como militância. Ele é inovador eu falo neste momento do Brasil.
como prática. Há uma preocupação no Gover- Então, saúdo todos os que aqui estão presen-
no da Presidenta Dilma, há uma preocupação tes, agradeço a presença de todos e digo, em
muito grande nesta Casa, haja vista que a Fren- meu nome próprio, que o nosso compromisso,
te Ambientalista arregimentou um grande nú- Deputado Piau, Deputada Jandira, Deputado
mero de Parlamentares. E ontem, com a visita Amauri, nosso querido Deputado Domingos
que tivemos nesta Casa, recebemos uma notí- Dutra e todos os Deputados que aqui estão, é
cia de que a Frente Ambientalista terá uma co- absorver todos os dados da realidade, para que
missão para tratar dos assuntos do mar, o que possamos construir um Brasil melhor.
é fortemente positivo para o Brasil. Eu sempre digo que na questão ambiental as
Nesse ciclo de palestras, com esse caráter pro- mulheres são mais ativas, mas eu queimei mi-
ativo, a Frente Ambientalista teve um êxito nha língua, porque hoje estamos vendo que
que eu gostaria muito de registrar em torno não há mais diferença. Apesar de sermos mais
da economia verde, que não se encerra ab- da metade da população, não temos número
solutamente no certame do Rio de Janeiro. É suficiente nesta Casa para refletir essa realida-
esse tema que nós gostaríamos que tivesse de, mas temos uma coisa que é muito sincera:
uma agenda perpétua no nosso País. Aí temos as mulheres se comovem mais com a questão
certeza de que o Brasil vai retratar com fide- ambiental, por isso estão educando as meni-
lidade, nesse momento, a preocupação que nas e os meninos mais preparadamente para
hoje grassa em todas as gerações do Brasil, olhar a questão ambiental com mais carinho e

Rose de Freitas
283
dedicação. Acho que homens e mulheres têm
que cuidar desse futuro, como se fôssemos re-
nascer amanhã num mundo muito melhor do
que esse em que vivemos hoje.
Muito obrigada. (Palmas.)

284
Sabino Castelo
Branco

(Rio+20 – Postulações dos estados amazônicos. O Sr. Sabino Castelo Branco (PTB-AM. Pro-
Fórum Mundial pela Sustentabilidade) nuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente,
Sras. e Srs. Deputados, como amazonense, con-
Realização do 3º Fórum Mundial de victo e ativo defensor do meio ambiente, tenho
Sustentabilidade, em Manaus, Estado do
Amazonas, e do Fórum dos Governadores
a satisfação de destacar a realização de duas
dos Estados da Amazônia Legal, em Belém, reuniões importantes sobre o tema que acon-
Estado do Pará. Postulações dos Estados teceram recentemente na Região Amazônica.
amazônicos junto à Conferência das Nações Destaco a realização do 3º Fórum Mundial de
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável –
Sustentabilidade, encerrado no último dia 24,
Rio+20, preconizadas na Carta da Amazônia.
em Manaus, e Fórum dos Governadores dos
Sessão 29/03/2012 Estados da Amazônia Legal, realizado em Be-
lém dia 26 deste mês. Ambos os eventos prio-
rizaram temas relevantes sobre sustentabilida-
de com vistas a compor a Carta da Amazônia.
A carta da Amazônia representará o postulado
dos estados brasileiros que integram a região
Amazônica para a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

285
Rio+20, que acontecerá em junho, no Rio de O Fórum reveste-se de legitimidade por in-
Janeiro. O Rio+20 é a maior conferência sobre tegrar representantes dos 9 estados da Ama-
o meio ambiente da história. zônia – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão,
A Carta da Amazônia, que deve ser elaborada Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, e To-
possivelmente no mês de maio, tem o objetivo cantins, e representar a região que abriga a
de incluir a região num programa de estraté- maior floresta tropical e a maior biodiversi-
gias sustentáveis que toma por base as ques- dade do planeta e, por isso, ocupando o foco
tões como a produção e o consumo de ener- central das discussões ambientais no mundo.
gias, o uso renovável dos produtos da floresta, Na Conferência das Nações Unidas sobre De-
a relação da indústria com o meio ambiente, senvolvimento Sustentável Rio+20 deve ser
dentre outros temas. elaborada uma agenda de compromisso sus-
Após três dias de discussões, o concorrido e tentável para o planeta para mais um perío-
bem organizado 3º Fórum Mundial de Susten- do de 20, a expectativa de que os países sig-
tabilidade, que contou com estudiosos e cele- natários a cumpram regiamente, ao contrário
bridades como o ex-presidente da República do que aconteceu no Rio 21, quando diversos
Fernando Henrique Cardoso, concebeu dez países desenvolvidos desprezaram parcial ou
itens que devem integrar a Carta. totalmente o acordado no evento.
Por sua vez, a agradável cidade de Belém hos- Os temas que devem ser tratados na Rio+20
pedou o Fórum dos Governadores dos Estados deve certamente se debruçar nas recorrentes
do Amazônia Legal, na segunda reunião prepa- temas tais como poluição, camada de ozônio,
ratória para a confecção da Agenda da Amazô- acidez oceânica, predação à fauna e à flora,
nia com objetivo de construir uma proposição dentro outros.
harmônica em expressar a opinião de todos os Não podemos esquecer de que o ser humano
estados representantes para a confecção da é parte integrante da natureza. E a forma mais
Carta da Amazônia, instrumento legal que in- inteligente de proteger o meio ambiente é a
tegra a proposta dos estados amazônicos para promoção da vida digna ao ser humano. Tais
o evento do Rio. benefícios podem ser alcançados através da

286
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

universalização da educação e do desenvol-


vimento de técnicas que permitam a explo-
ração sustentável dos recursos naturais pelo
homem do campo e pelo nativo de regiões ob-
jeto de preservação.
Comumente essas pessoas são tidas como vi-
lãs da destruição, quando na verdade é a ga-
nância provinda dos grandes centros urbanos
e de empresários inescrupulosos que amea-
çam o equilíbrio dos recursos naturais.
Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamen-
tares, espero que a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
Rio+20 produza resultados práticos, que pos-
sam ser postos em prática pelo homem mais
simples e que os países assumam, cada um,
sua parcela de responsabilidade. Sem esque-
cer que a Terra é um celeiro dado por Deus
para nossa administração.
Muito obrigado.

Sabino Castelo Branco


287
Sibá Machado

(Preservação dos recursos hídricos) O Sr. Sibá Machado (PT-AC. Sem revisão do
orador.) – Sr. Presidente, estou inscrito no Pe-
Transcurso do Dia Mundial da Água. Importância queno Expediente e vou abordar o transcurso
da preservação dos recursos hídricos brasileiros. do Dia Mundial da Água. Na sequência falarei
Sessão 22/03/2012 pela Liderança do meu partido, e gostaria mui-
to de fazer um bom debate com o represen-
tante do PSDB que acabou de falar da tribuna.
Sr. Presidente, neste Dia Mundial da Água e às
vésperas de um dos mais importantes encon-
tros mundiais que tratam da causa ambiental
e da relação homem/natureza, gostaria de
lembrar que antes do advento do capitalismo
o mundo vivia uma relação econômica de alto
respeito ao meio ambiente, entendendo toda
a existência da natureza como a presença de
Deus. Portanto, Deus estava na natureza, e por
Deus estar na natureza as comunidades mais
tradicionais a respeitavam; na Índia, até hoje

289
a vaca é sagrada e não pode ser abatida. Com tes dos centros urbanos, próximos aos rios.
o advento do capitalismo, Deus teve de ser re- Os ribeirinhos, por exemplo, moram em casas
tirado da natureza, e ao ser dito que Deus es- de frente para as águas. Nos centros urbanos
tava no céu, não mais na natureza, ficou esta- os cursos d’água são imediatamente trans-
belecido que a natureza existia para nos servir, formados em aterros sanitários, às vezes em
e se é para nos servir tudo vira negócio, tudo simples lixões, onde todos os dejetos sólidos
pode virar mercado. Esse é o problema, Sr. Pre- e químicos são despejados. Soma-se a isso, Sr.
sidente. Por isso os acordos mundiais sobre Presidente, a má utilização que se faz da água
meio ambiente não conseguem garantir uma doce, já parca, ao ponto de poder haver no fu-
situação mais positiva. Quem vai querer per- turo conflitos entre países, povos e nações. Há
der espaço? Quem vai querer perder domínio? quem, para lavar o carro, deixe durante horas a
E por aí vai. Vejamos o problema específico da mangueira aberta; há quem faça o mesmo para
água: o Planeta Terra tem 510 milhões de quilô- lavar calçadas. Varrem a calçada com água!
metros quadrados; desses, 140 milhões são de Façamos uma conta: a pessoa que faz greve
terras emersas, os continentes e as ilhas; 370 de fome pode levar até 65 dias para ir a óbi-
milhões de quilômetros quadrados são cober- to; já a pessoa que para de tomar água morre
tos de água, e praticamente de água salgada. De entre o sétimo e o décimo segundo dia sem o
água doce no planeta são praticamente 3%, dos líquido, dependendo da resistência; por fim, a
quais boa parte está acomodada na forma de pessoa que fica sem respirar, se for campeão,
gelo nos polos e nos picos das montanhas mais não sobrevive ao sétimo minuto de apneia. Ou
altas, parte está na atmosfera, de onde vêm as seja, em primeiro lugar vem o ar, em segundo
chuvas, parte está no subterrâneo, nos chama- a água, em terceiro o alimento; depois vêm as
dos lençóis freáticos ou aquíferos, e parte, esta outras coisas.
mais acessível, na superfície da Terra – rios, la- Qual é, portanto, a grande preocupação que le-
gos, igarapés e pequenos cursos d’água. vantamos neste Dia Mundial da Água? Vamos
Nós estamos bem no centro, mas há os que ter a Rio+20. Desde 1992 os chefes de Estado,
moram nas regiões de florestas, áreas distan- a chamada cúpula do mundo, reúnem-se no

290
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Rio de Janeiro para tratar desse assunto. Mas Neste dia, neste meu discurso, quero para-
na hora de assinar os tratados para resolver o benizar os grandes geógrafos brasileiros Aziz
problema da retirada do lixo, do mesmo lixo que Ab’Saber e Milton Santos, e tantos outros que
contribui para a contaminação do lençol freáti- produziram uma base de conhecimento muito
co, para resolver o problema da retirada dos tu- sólido da geografia do nosso País.
bos de esgotos, dos dejetos que são jogados in Muito obrigado, Sr. Presidente.
natura nos rios e igarapés na maioria das cida-
des do mundo inteiro, especialmente do nosso
Brasil, transformam-se imediatamente...
O Sr. Presidente (Luiz Couto) – Peço-lhe que
conclua.
O Sr. Sibá Machado – Já concluo, Sr. Presiden-
te. Peço apenas 1 minuto.
Então, todo o mundo quer transformar seu belo
rio urbano num Rio Tietê. Estamos aqui diante
de um Deputado de São Paulo. O Rio Tietê, há
centenas de anos, com certeza era uma mara-
vilha para quem morava em suas margens. In-
felizmente, qualquer cidadezinha que acaba de
nascer já transforma seu igarapé num depósito
de lixo, de sujeira, de coisa ruim, fétida, aca-
bando com a vida. Mas a natureza, na sua for-
taleza, ainda assim, num fenômeno ecológico/
biológico denominado resiliência, faz com que
a duzentos e poucos quilômetros, saindo de São
Paulo, o mesmo rio reerga-se e comece a mos-
trar vida novamente, nasça de novo.
Sibá Machado
291
Wilson Filho

(Preservação do bioma da Caatinga O Sr. Wilson Filho (PMDB-PB. Sem revisão do


na Região Nordeste) orador.) – Sr. Presidente Luiz Couto, brasileiros
e brasileiras, venho aqui neste momento para,
Preservação do bioma da Caatinga na qualidade de Presidente da Comissão Perma-
na Região Nordeste.
nente da Amazônia, Integração Nacional e de
Sessão 04/04/2012 Desenvolvimento Regional, solicitar seja dado
como lido discurso em que falo da importância
de valorizarmos um dos biomas que correspon-
de a 13% de qualquer vegetação existente em
todo o Brasil, um bioma que faz e completa 70%
do Semiárido nordestino: a Caatinga.
A região semiárida corresponde a cerca de 70%
da Região Nordeste e 13% do território brasi-
leiro, e nela está o bioma da Caatinga como
o principal ecossistema existente naquela re-
gião. Naquele bioma, a falta de capacidades de
armazenagem da água, devido a solos rasos e

293
pedregosos, dificulta ainda mais a situação dos Mas, ao contrário do que muitos pensam, a
homens e das mulheres que lá habitam. Caatinga é de riquíssima biodiversidade e
Então, Sr. Presidente, dou como lido este pro- contém enorme potencial para o desenvolvi-
nunciamento para fazer desse assunto mais mento, apesar de os ecossistemas do bioma da
uma sugestão do Congresso Nacional para o Caatinga encontrarem-se bastante alterados.
evento Rio+20. As principais ameaças àquela região se carac-
O Sr. Presidente (Luiz Couto) – Muito obriga- terizam pela alta deficiência de práticas de
do, Deputado Wilson. manejo sustentável e de recuperação da vege-
tação degradada, inexistência de mecanismos
Pronunciamento encaminhado para criação de áreas protegidas e falta de in-
pelo Orador centivos para práticas de uso e conservação
dos recursos naturais, aliada à deficiência na
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Nor- produção e divulgação de informações a res-
deste brasileiro abriga extensa área do se- peito do assunto.
miárido com o bioma da Caatinga ameaçado
Por isso, torna-se necessário um enfoque go-
de extinção, que se reveste de extrema rele-
vernamental no desenvolvimento sustentável
vância para o clima regional e global, para a
do bioma da Caatinga, contribuindo para que
conservação da biodiversidade, tendo um pa-
a sociedade brasileira conserve a natureza do
pel-chave na economia da região e do Brasil.
semiárido, harmonizando a atividade humana
A região semiárida corresponde a cerca de 70% com a conservação da biodiversidade e com o
da Região Nordeste e 13% do território bra- uso racional dos recursos naturais da Caatin-
sileiro e nela está o bioma da Caatinga como ga, para o benefício dos cidadãos de hoje e
o principal ecossistema existente naquela re- das futuras gerações. Afinal, o bioma da região
gião. Naquele bioma, a falta de capacidades de do semiárido poderá passar por graves trans-
armazenagem da água, devido a solos rasos e formações que irão influenciar diretamente a
pedregosos, dificulta ainda mais a situação dos agricultura e o abastecimento de água.
homens e das mulheres que lá habitam.

294
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

A Caatinga, Sras. e Srs. Deputados, é um dos uma concepção de desenvolvimento nordesti-


biomas brasileiros mais ameaçados pelo uso no sustentável.
intempestivo dos recursos naturais. As maio- As principais demandas ambientais da região
res extensões de áreas em processo de deser- nordestina podem ser efetivamente resol-
tificação no Brasil, com perda gradual de ferti- vidas. Sou daqueles que acreditam nisso. O
lidade do solo, estão localizadas no semiárido, semiárido oferece condições suficientes de so-
local onde se encontra aquela vegetação, re- brevivência para o sertanejo, obtendo lucro de
sultado da combinação do cultivo inadequado sua atividade. Estudos realizados nos últimos
da terra às variações climáticas. 20 anos mostram que a Caatinga tem poten-
Quarenta por cento daquele território estão cial para atender a demanda por energia dos
desmatados e um dos principais motivos é a setores industrial e comercial, sem compro-
extração ilegal de madeira para geração de meter a sustentabilidade do bioma.
energia – é bom lembrar que entre 30% e 40% A Caatinga tem uma condição muito grande,
da energia do Nordeste ainda é proveniente da se for bem explorada de forma adequada, den-
lenha e do carvão. A lenha é retirada de forma tro dos limites ambientais e climáticos, de ala-
não sustentável, inclusive para o abastecimen- vancar o desenvolvimento do Nordeste.
to de polos industriais.
Sr. Presidente, vamos aproveitar agora, no mo-
É premente, portanto, neste momento em que mento em que os demais países do mundo,
se prepara a Conferência das Nações Unidas seus cientistas e a sua mídia voltam os olhos
sobre Desenvolvimento Sustentável, que se para o Brasil, onde se realizará a Conferência
realize uma espécie de radiografia da situação Rio+20, para clamar pela salvação e pelo de-
da Caatinga, a qual se qualifique como uma ex- senvolvimento sustentável do semiárido e do
posição de ideias abalizadas. bioma Caatinga. Nós, nordestinos, temos pres-
Além disso, é preciso um enfoque que se vol- sa. O tempo urge, e o planeta pode fenecer.
te para os recursos hídricos e a possibilidade Obrigado.
de emprego de energias limpas no Nordeste,
em uma discussão profícua que contribua para
Wilson Filho
295
Zé Geraldo

(Bolsa Verde) O Zé Geraldo (PT-PA. Sem revisão do ora-


dor.) – Sr. Presidente, eu quero registrar no
Extensão do Programa de Apoio à Conservação meu pronunciamento dois fatos importantes.
Ambiental, o chamado Bolsa Verde, à
população ribeirinha da Ilha de Marajó, O primeiro é a inclusão de 6 mil famílias de
Estado do Pará. Nomeação do engenheiro ribeirinhos da Ilha do Marajó no Bolsa Verde,
agrônomo Roberto Ricardo Vizentin para a programa que tem o objetivo de atender fa-
Presidência do Instituto Chico Mendes de mílias, em situação de extrema pobreza, que
Conservação da Biodiversidade – ICMBio. desenvolvam atividades de conservação de
Sessão 03/04/2012 recursos naturais no meio rural. Cada família
receberá 300 reais a cada trimestre.
O segundo fato é a nomeação, em 29 de março,
do agrônomo Roberto Ricardo Vizentin para a
direção do Instituto Chico Mendes, que tem um
grande desafio, inclusive o de ajudar a resolver
os passivos fundiários nas áreas de conservação
que foram criadas nos últimos anos neste País.

297
Então, eu quero pedir a V.Exa. que seja dada Vizentin é profundo conhecedor das Unida-
ampla divulgação deste meu pronunciamento des de Conservação no Brasil, tendo já exer-
nos meios de comunicação desta Casa. cido várias funções na área ambiental e rural
em seu Estado, Mato Grosso; e vários cargos
Pronunciamento encaminhado pelo Orador
de direção do Ministério do Meio Ambiente,
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, apro- sendo o último cargo o de Secretário de Extra-
veito hoje esta tribuna para comentar dois tivismo e Desenvolvimento Rural Sustentável.
acontecimentos na área ambiental que, sem
Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
dúvida, irão favorecer uma melhor gestão am-
o novo Presidente possui experiência e quali-
biental na Amazônia e no Brasil. O primeiro
dades técnicas para conduzir um órgão que é
acontecimento tem a ver com uma ação do
responsável pela gestão das 310 Unidades de
Governo Dilma para incentivar a conservação
Conservação do Brasil. Penso ainda que a ges-
dos ecossistemas e o uso sustentável dos re-
tão destas e das várias outras unidades que
cursos naturais na Amazônia; o segundo trata
ainda serão necessariamente criadas, baseada
da gestão do Instituto Chico Mendes.
na proteção, fiscalização e monitoração, levará
Portanto, estou falando da inclusão de 6 mil em conta, também, as milhares de famílias que
famílias de ribeirinhos da Ilha do Marajó, no vivem nestas Unidades ou mesmo fora destas,
Estado do Pará, no Programa Bolsa Verde; e da mas que de alguma forma favorecem para a con-
nomeação, dia 29 de março, quinta-feira pas- servação e proteção dos nossos ecossistemas.
sada, do agrônomo Roberto Ricardo Vizentin
E, por falar nessas famílias, Sr. Presidente, que
para o Instituto Chico Mendes de Conserva-
muitas vezes se encontram em pobreza extre-
ção da Biodiversidade (ICMBio).
ma, parabenizo o Governo Federal pela exten-
Tratando já do último ponto, Roberto Ricardo são do Programa Bolsa Verde aos ribeirinhos,
Vizentin é engenheiro agrônomo por forma- Programa este que até a semana passada aten-
ção e doutorando em Agroecologia, Sociolo- dia apenas moradores das Unidades de Conser-
gia e Desenvolvimento Rural Sustentável, pela vação e assentamentos ambientalmente dife-
Universidade de Córdoba, na Espanha. O Sr. renciados, em condições de pobreza extrema.

298
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Agora recebemos a boa notícia de que as co- O Programa de Apoio à Conservação Ambiental
munidades ribeirinhas que vivem em situação Bolsa Verde, lançado em setembro de 2011, con-
de extrema pobreza receberão, também, este cede, a cada trimestre, um benefício de R$ 300
benefício. E a notícia não poderia ser melhor: às famílias em situação de extrema pobreza que
ao contemplar inicialmente as 6 mil famílias vivem em áreas socioambientais prioritárias.
de ribeirinhos da Ilha do Marajó, no meu Esta- Segundo dados dos Ministérios envolvidos,
do, o Governo Federal, na prática, implementa são 16,2 milhões de pessoas nesta condição,
mais uma ação para o combate à pobreza de das quais 47% estão na área rural. A proposta
uma região que tem o menor IDH de toda a é promover aumento na renda dessa popula-
Região Norte e um dos ecossistemas mais vul- ção, ao mesmo tempo em que se incentiva a
neráveis do País. conservação dos ecossistemas e o uso susten-
Para orientar as famílias que vivem nessas tável dos recursos naturais.
áreas da Amazônia, o Conselho de Desenvol- O Ministério do Meio Ambiente é responsável
vimento Territorial do Marajó reuniu-se nessa pela coordenação do Programa Bolsa Verde,
quinta e sexta-feira (29 e 30 de março), na Ilha com a participação direta dos Ministérios do
do Marajó, para apresentação especial do pro- Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Desenvol-
grama e definição da estratégia de atendimen- vimento Social e Combate à Fome (MDS), que
to aos beneficiários da região. fazem uma gestão compartilhada, abrangendo o
As comunidades da Ilha do Marajó já estão sen- Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio-
do previamente identificadas, com o objetivo de diversidade (ICMBio) e o Instituto Nacional de
agilizar o processo de adesão dos seus morado- Colonização e Reforma Agrária (INCRA) como
res ao Programa. Quero lembrar ás futuras famí- os gestores das áreas selecionadas.
lias beneficiadas que as suas áreas devem estar A primeira etapa do Programa aconteceu no fi-
cadastradas com documentos que reconhecem, nal de 2011, com a identificação de cerca de 18 mil
estabelecem e descrevem as regras de uso dos famílias localizadas em 33 Unidades de Conser-
recursos naturais, de convivência dos benefici- vação (florestas nacionais e reservas extrativis-
ários e de ocupação da região socioambientais. tas) e em 140 assentamentos ambientalmente
Zé Geraldo
299
diferenciados da reforma agrária, geridos pelo
INCRA, localizados na Amazônia Legal, sendo
inseridas 16.634 famílias.
A meta para a segunda etapa do Programa, em
2012, é beneficiar 50 mil famílias, em virtude
da promoção do Programa, que vem sendo di-
vulgado como parte dos preparativos da Con-
ferência Rio+20. O público-alvo será ampliado
para todo o Brasil, envolvendo, além das áreas
já listadas, também projetos de assentamen-
tos convencionais e áreas de ribeirinhos agro-
extrativistas cadastradas pela Secretaria do
Patrimônio da União.
Tenho dito.

300
Código Florestal
Janete Capiberibe

(Código Florestal – crítica) A Sra. Janete Capiberibe (Bloco/PSB-AP.


Pela ordem. Pronuncia o seguinte discur-
Insatisfação da sociedade brasileira com so.) – Sr. Presidente e colegas Parlamentares,
alterações efetuadas no Código Florestal estamos diante de um desafio estratégico para
brasileiro pelo Congresso Nacional. Repúdio
da bancada federal amapaense à emenda
o futuro do Brasil: com a votação do Código
oferecida à matéria pelo Senado Federal, Florestal, vamos decidir entre o desenvolvi-
destinada à redução em 50% da reserva florestal mento sustentável e a hegemonia do PIB agro-
de propriedades rurais em Estados brasileiros. pecuário, pondo em risco a diversidade dos
Urgência na realização de investimentos nossos biomas.
nas áreas de ciência pesquisa e tecnologia.
Encaminhamento à Presidência Dilma Rousseff, A sociedade está insatisfeita com a anistia aos
pela bancada federal amapaense, de pedido para crimes ambientais, com a redução de florestas
retirada do art. 13, § 5º, constantes no projeto de em áreas de APP e de Reserva Legal e com a
lei sobre a criação do novo Código Florestal. permissão para novos desmatamentos, além
Sessão 02/03/2012 – DCD 03/03/2012 de outros crimes ambientais. Oitenta e cinco
por cento dos brasileiros rejeitam o novo Có-
digo e pedem o veto da Presidenta Dilma, que
sinalizou que vai fazê-lo.

303
A hegemonia da camada exportadora de com- consolidar há décadas. E os Deputados e os
modities agrícolas – soja e gado, além da ma- Senadores comprometidos com o Amapá não
deira – retirou do Código Florestal as dimen- permitirão essa agressão.
sões da preservação e do desenvolvimento A mudança feita pelo Senado provocaria um
sustentável, restringindo-o ao objetivo de retrocesso estrutural, quando o Governo do
apenas um usuário das terras, águas e flores- Amapá multiplica os investimentos nos insti-
tas. Porém, o Código deve incorporar todas as tutos estaduais de pesquisas científicas para a
perspectivas relativas ao potencial das flores- biodiversidade, que aliam conhecimento tradi-
tas brasileiras. A Amazônia deve desenvolver- cional e científico para desenvolver a ciência e a
se sob outro modelo de produção. tecnologia voltadas à vocação florestal.
O Amapá e o Acre são bons exemplos. Se referendar a proposta do Senado, esta Casa
O Amapá tem 98% de seu território coberto retrocederá nas conquistas do Amapá e da
por floresta amazônica primária nativa, o me- Amazônia para o desenvolvimento harmônico
lhor indicador florestal do Brasil. E não quere- com os biomas locais. Não precisamos mudar
mos alterar nossa vocação, tampouco dizimar o Código Florestal. Precisamos mudar a men-
as populações indígenas. Mas o projeto em talidade dos gestores públicos, Parlamentares,
debate nos assusta. investidores e produtores rurais.
Emenda feita pelo Senado quer reduzir em É desnecessário avançar sobre florestas ou
50% a reserva das propriedades rurais em Es- áreas de preservação para aumentar a produ-
tados cujas áreas protegidas superem os 65%. ção agrícola. Há um estoque de 51 milhões de
Essa emenda foi feita sob medida para atingir hectares degradados, que, recuperados, quase
unicamente o meu Estado, o Amapá. dobrariam a área cultivada.
Por isso, reunida hoje, a bancada amapaense É urgente investir em ciência, tecnologia e pes-
disse repudiar a emenda do Senado. quisas adequadas; ampliar o investimento em
É inaceitável colocar em risco um modelo de biotecnologia e no potencial florestal para a in-
desenvolvimento sustentável que se tenta dústria alimentícia, farmacêutica e naval, além

304
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

de proteger as riquezas hidrográfica, antropoló- caber fazê-lo neste momento regimental, a reti-
gica e sociocultural da Amazônia. rada do § 5º do art. 13 do bojo do projeto de lei.
É urgente implantar políticas públicas interse- E o Amapá agradecerá muito ao Relator e a
toriais e transetoriais para o desenvolvimento esta Casa se for retirado do texto esse pará-
com sustentabilidade e qualidade de vida do grafo, na votação que ocorrerá na terça ou na
povo, bem como adotar regulamentações que quarta-feira, quando será apreciado em roda-
façam cumprir a lei vigente, o Código Florestal. da final o Código Florestal.
Ao mesmo tempo em que ocorre a Rio+20, de- Sras. e Srs. Deputados, em vez de repetir o
bater a lei ambiental é uma chance histórica modelo de produção predatório usado no pas-
para o Brasil firmar-se como Nação líder e pro- sado, o Brasil pode continuar a produzir mais
por nova dinâmica climática global. com sustentabilidade, ensinando ao mundo a
Apesar do momento delicado, a sociedade, lógica da pós-modernidade e tendo como mo-
esta Casa e a Presidenta Dilma saberão encon- delo o Amapá e a Amazônia.
trar uma saída digna, de outro ponto de parti- Para concluir, Sr. Presidente, solicito a V.Exa.
da, para atualizar a Lei nº 4.771, seja por meio a divulgação deste meu pronunciamento nos
de regulamentações, seja por meio de medidas órgãos de comunicação desta Casa.
provisórias, seja por meio de políticas públicas Muito obrigada.
pactuadas com a sociedade, com os produto-
res e com o Parlamento.
A bancada federal do Amapá – aí incluídos os
Senadores José Sarney, Randolfe Rodrigues e
Capiberibe, os oito Deputados Federais do Es-
tado e mais o Governador – se reuniu na sema-
na passada com o Relator do Código Florestal,
o Deputado Paulo Piau, do PMDB, e entregou
uma documentação a S.Exa., solicitando, por

Janete Capiberibe
305
Lira Maia

(Código Florestal – Área de proteção ambiental) O Sr. Lira Maia (DEM-PA e como Líder. Sem
revisão do orador.) – Muito obrigado.
Movimentação no Congresso Nacional com
Sr. Presidente, colegas Parlamentares, no ano
vistas à votação e aprovação da Lei Geral da
Copa e do novo Código Florestal. Reflexões passado vim pouco a esta tribuna porque pre-
sobre a urgência de nova lei florestal e as sidi a Comissão de Agricultura – a atividade da
peculiaridades do produtor rural brasileiro. Comissão me consumiu muito o tempo –, e no
Sessão 22/03/2012 – DCD 23/03/2012 segundo semestre, fiquei basicamente envol-
vido com o plebiscito que realizamos no Pará,
coordenando a campanha de criação do Esta-
do do Tapajós.
Este é um ano mais normal. Com muita honra,
sou titular na Comissão de Agricultura, e suplen-
te na Comissão da Amazônia, na Comissão de
Meio Ambiente e na Comissão de Orçamento.
Hoje, Sr. Presidente, gostaria de fazer uma re-
flexão sobre o funcionamento desta Casa nos
últimos dias.

307
A imprensa nacional divulgou ontem, com a vir defender o Código Florestal. E eu acho
muito alarde, que a base aliada está rebelada e oportuno, até porque os nossos Líderes não
que o motivo é a não liberação de emendas ou estão chegando a um consenso. Acho que fal-
nomeação de aliados. ta tato nessa história. É importante que o Par-
Sr. Presidente, a nossa República, a nossa Pátria, lamento, aqui no plenário, decida, e foi o que
o nosso País tem Três Poderes distintos, inde- aconteceu ontem.
pendentes: Poder Executivo, Poder Legislativo Vejam bem. Quanto ao Código Florestal, eu
e Poder Judiciário. A boa prática democrática gostaria de explicar, didaticamente, para os
mostra que deve haver harmonia entre eles. O meus colegas e para o todo o País, que 95% do
que não pode é um Poder mandar em outro. texto estão conciliados. É o mesmo texto, da Câ-
Eu não vejo nada de anormal no que ocor- mara e do Senado. Nós estamos divergindo em
reu ontem nesta Casa: o fato de a maioria dos apenas 5%. E, nesses 5%, o Senado fez grandes
Deputados rejeitarem votar matéria importante avanços. Está pacificado; e nós estamos acei-
para o País, em função de outra matéria que re- tando porque o texto realmente foi melhorado.
puto mais importante ainda, o Código Florestal. Mas nós não podemos ser irresponsáveis, Sr.
Vejam bem, sou Deputado da Oposição, do Presidente. E, dentro daquilo que o Regimento
Democratas, e estou disposto a discutir e votar estabelece e permite, nós temos aqui que lutar
as duas matérias. Acho que a Lei Geral da Copa pela produção brasileira. É só fazer uma grande
é importante para o País. Estamos numa fase reflexão. Acho que o que está faltando é inter-
de organização desse grande evento mundial locução com a Presidenta da República. Parece-
que mexe com todos, e acho que temos que me que a Presidenta Dilma não está a par, de
demonstrar competência na organização da fato, do que está escrito no Código Florestal.
Copa. Mas, como Deputado do interior, enge- Será uma aberração, uma irresponsabilidade
nheiro agrônomo, agente de extensão rural, nossa aprovar esse Código sem consolidar
funcionário do meu Estado, ex-Secretário de área aberta. Só para que o País entenda, áre-
Estado de Agricultura, ex-Presidente da Co- as de preservação permanente, as APPs, são
missão de Agricultura, não posso me furtar aquelas áreas próximas a rios, igarapés, lagos,

308
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

olhos d’água, topo de morro. Enfim, existe uma O Brasil tem 851 milhões de hectares de terra,
série de conceitos de áreas de APP. Mas nós, dos quais 236 milhões produzem. Ora, nós não
que conhecemos a realidade deste País, não temos um estudo definido sobre o prejuízo que
podemos, de forma alguma, votar uma lei que este País vai ter se parar de plantar em APP
vá dar oportunidade de o Ministério Público, a aberta. O Ministério da Agricultura calcula em
Polícia Federal, chegar junto a famílias. Eu vou torno de 85 milhões de hectares; o Ministério
dar um exemplo. Na beira do Tapajós, do Ama- do Meio Ambiente, em 33 milhões. Enfim, há
zonas, do Xingu, do próprio Rio São Francisco, vários cálculos. Mais de 30% das áreas pro-
existem famílias produzindo ali há mais de 300 dutivas vão deixar de produzir. Aí, nós vamos
anos. Não são pessoas; são famílias produzin- pagar um preço alto, porque a agricultura bra-
do ao longo de séculos. E nós estamos para sileira é quem salva, hoje, o superávit primário
vamos votar uma lei que autoriza o Ministério da economia brasileira. Esta é uma reflexão.
Público pedir à Polícia Federal que tire o pro- Eu acho que, ontem, foi dado um exemplo de
dutor dali. Por quê? Porque nós não estamos que os Deputados estão atentos ao País, estão
consolidando área aberta. defendendo os produtores rurais. Às vezes, eu
Existem pessoas, ou mal intencionadas ou mal fico preocupado, pois colegas aqui na tribuna
informadas, dizendo que nós estamos liberan- dizem que estão aqui para defender o pequeno
do e perdoando os desmatadores. Vejam bem. produtor rural brasileiro.
Recentemente, o Governo Federal publicou o Sr. Presidente, só quem resiste a esse Código
PIB nacional, um PIB baixo, modesto, de 2,7%. Florestal da forma como está são os grandes
E olhem que só dois setores aparecem supera- produtores; os médios sobrevivem, os pequenos
vitários neste País: o setor da agropecuária e o quebram, acabam. Temos que deixá-los produzir.
setor da mineração. A agropecuária chegou ao Imaginem um produtor de hortaliças que tem 2
PIB com 4%, graças a Deus; do contrário, o País hectares ou 5 hectares, com 2 igarapés dentro.
teria corrido o risco de ter tido um crescimen- Acabou! Além de nós estarmos extinguindo as
to zero ou abaixo de zero. áreas produtivas ou a produzir, nós estaremos
obrigando os produtores rurais a recompor.

Lira Maia
309
Então, é preciso que se faça uma reflexão. E Eu tenho certeza de que o que está haven-
aqueles que fazem interlocução com a Presiden- do hoje não é uma disputa pela preservação
ta da República devem levar a S.Exa. a informa- ambiental, mas uma briga e uma disputa de
ção real, exata. Nós não temos o direito de nesta mercado. Nós somos os maiores produtores
Casa extinguir o pequeno produtor rural, sobre- do mundo em muitos produtos: suco de la-
tudo aquele que trabalha nas APPs. ranja, carne de frango, açúcar e muitos outros
Aprovando esse Código Florestal, daqui para a produtos. Existem muitos países que não têm
frente não é preciso derrubar mais nenhuma ár- mais para onde crescer, pois já ocupam todas
vore; deixem como está. Quem já trabalha em as suas áreas. Nós estamos crescendo não
APP, que continue trabalhando; quem não traba- apenas em área. Para se ter uma ideia, nos últi-
lha, não trabalhará mais. O País fica como está. mos 30 anos o Brasil duplicou sua produção e
cresceu apenas 25% nas suas áreas. E 75% des-
Se nós formos fazer um comparativo com os
se crescimento foi na base da produtividade,
outros países do mundo, Sr. Presidente, veja
do emprego de tecnologia. O País cuidou dis-
bem, o Brasil ainda tem 61% de área nativa. O
so. Temos uma empresa de respeito, gerando
País está fazendo seu dever de casa. A Amazô-
tecnologia, chamada EMBRAPA, empresa que
nia ainda tem mais de 80% da sua área nativa.
o mundo todo está copiando. Temos hoje a
Os Estados Unidos têm menos de 1%; a Euro-
melhor produtividade em muitos produtos, e
pa, menos de 1%.
o Brasil tem que se convencer disso.
Eu, particularmente, no ano passado, apro-
Vamos, sim, votar um código florestal, porque
vei um projeto de indicação, na Comissão de
o último é de 1965, com mais de 16 mil pendu-
Agricultura, para que a Presidenta Dilma leve
ricalhos – resoluções, decretos, não sei mais o
para a reunião do Rio+20 a sugestão de que
quê. Ninguém mais sabe interpretar o Código
os países-membros da ONU adotem o mesmo
Florestal brasileiro. Precisamos ter um novo
Código Florestal brasileiro. Isso foi aprovado, e
código, mas um código responsável.
está com S.Exa.
Acho oportuno que o Governo, a Oposição,
os colegas Deputados estejam conscientes de

310
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

que o País precisa desta Casa para normatizar, a certeza de que o Código Florestal brasileiro
para dar as regras. Acho muito interessante trará tranquilidade ao setor ambiental, à agri-
que as Lideranças, com muito tato, cheguem a cultura, à governabilidade do País, e a todos
um consenso e, na próxima semana, coloquem nós, para que o Brasil continue produzindo.
uma pauta que contemple a Lei Geral da Copa Vejam bem, nós, que temos origem na agricultu-
e o Código Florestal brasileiro. Vamos votar ra, que defendemos aqui o produtor rural e tam-
essas duas matérias num dia só. Não tem pro- bém somos responsáveis pelo meio ambiente,
blema; a Casa já se manifestou sobre isso. vamos lutar a cada dia, não na tribuna, mas nos
Nós não podemos, nesta Casa, brincar, dando bastidores, fazendo o que for possível e o que
um trança-pé no outro, querendo se colocar na for preciso para concluir a votação dessa lei.
frente do outro. Temos que ser responsáveis, Que os nossos Líderes tenham discernimento
sobretudo com o País. Não é o que eu acho ou para chegar a um acordo e que os responsáveis
o que o meu partido acha; é aquilo que nós sa- por esta Casa coloquem em pauta a matéria.
bemos, conhecemos e defendemos nesta Casa. Que venha na próxima semana!
O produtor rural brasileiro tem que continuar
produzindo sem ser molestado. Ele tem que
ter a proteção das leis.
O produtor rural brasileiro exerce uma função
nobríssima, que é produzir alimento. Lembro-
me de quando o produtor brasileiro era chama-
do de herói da Pátria. Hoje, muitos dos produ-
tores estão sendo denominados de bandidos
da Pátria. Vejam a nossa responsabilidade!
Portanto, deixando de lado a disputa partidá-
ria, Oposição e Situação, esta Casa tem real-
mente de levar a sério este setor, precisa ter

Lira Maia
311
Nelson
Marquezelli

(Código Florestal – crítica ao O Sr. Nelson Marquezelli (Bloco/PTB-SP.


Substitutivo do Senado Federal) Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras.
e Srs. Deputados, a votação do Código Flores-
Posicionamento pela rejeição da tal não é uma questão de Governo, e sim de
proposta do Senado Federal de criação
do novo Código Florestal brasileiro
Estado. A agricultura brasileira não poderá so-
aprovada pelo Senado Federal. frer solução de continuidade por força de de-
savisados e desinformados, adeptos do atraso
Sessão 20/03/2012 – DCD 21/03/2012
econômico e social.
O Brasil mudou, Sr. Presidente, e mudou para
melhor, principalmente graças ao esforço de-
senvolvido pelo ex-Presidente Lula, que sempre
entendeu a importância da agricultura brasilei-
ra para a geração de superávit na nossa balança
comercial, com o estancamento do processo
inflacionário e a transferência dos recursos ge-
rados pelo campo para geração de emprego, pa-
gamento de nossa divida externa e diminuição

313
da pobreza no País. Esse marco histórico e eco- Analisemos ponto a ponto a matéria.
nômico devemos ao agricultor brasileiro. Já no artigo primeiro é imposto um texto que
Se pegarmos a evolução dos índices de infla- causará insegurança jurídica quanto à aplica-
ção e dos preços dos alimentos dos últimos 10 ção da lei, pois se consagra que as florestas e
anos, veremos que os alimentos tiveram papel demais formas de vegetação nativas são reco-
relevante na sustentação dos preços e no com- nhecidas de utilidade e são bens de interesse
bate à inflação. comum a todos os habitantes do País, exercen-
Fiz esse introito, Sr. Presidente, para relembrar do-se os direitos de propriedade com as limita-
aos menos conhecedores do campo, muito de- ções que a legislação e, especialmente, a nova
les travestidos de líderes ecológicos, que a ins- lei, o novo Código Florestal, estabelecerão.
tituição de um novo marco legal florestal deve Não é possível que tenhamos no texto legal
ser analisada com critérios justos, sempre pen- uma aberração jurídica de tamanha grandeza.
sando-se no equilíbrio entre a produção agríco- Como pode o agricultor brasileiro trabalhar
la e o respeito ao nosso meio ambiente. com tranquilidade, sabendo que sua área de
O agricultor brasileiro, Sr. Presidente, é aque- preservação permanente e de reserva legal
le que acorda de madrugada para produzir o poderão a qualquer tempo ser desapropriadas
alimento do povo brasileiro, e ele deve ser res- a bem do interesse do País?
peitado em toda a sua inteireza profissional. Mais adiante, também não concordamos com
Voltemos à análise do Código. a limitação do pousio a 25% da propriedade,
Não é possível que, depois de longos 13 anos com prazo de 5 anos, e com o novo conceito da
de luta e trabalho nesta Casa, só agora o Se- área abandonada, ligado ao conceito de pro-
nado Federal tenha encontrado a fórmula má- dutividade do imóvel. Isso abre espaço para
gica para atender ao desafio de fazer um novo graves riscos de uma desapropriação direta.
Código Florestal, moderno e eficaz. O texto lá O art. 18, § 3º, também não pode ser aceito por
inovado traz insegurança jurídica e econômica esta Casa, pois a alteração não constava do
para o País. texto aprovado pela Câmara dos Deputados.

314
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Sr. Presidente, este Código, em hipótese al- O Sr. Valdir Colatto – V.Exa. me concede um
guma, pode vir à votação e ser aprovado por aparte, Deputado?
esta Casa. Se não respeitarmos o direito ad- O Sr. Nelson Marquezelli – Pois não,
quirido da população brasileira e também da Deputado Valdir Colatto.
agricultura nacional, não é possível votarmos
O Sr. Valdir Colatto – Deputado Nelson Mar-
uma lei que retroagirá 300, 400, 500 anos, e
quezelli, V.Exa. toca neste Grande Expediente
penalizará gerações de agricultores. Hoje está
num dos temas mais importantes que o Bra-
na terra o tataraneto daquele que a desmatou
sil precisa discutir, um tema que já está sen-
anos atrás. Esses descendentes produzem ali-
do tratado desde 2004. Quero cumprimentar
mentos para a mesa do povo brasileiro e pro-
V.Exa. pelo pronunciamento e o Deputado Ro-
dutos para a nossa pauta de exportações. Sem
naldo Caiado pela presidência da sessão neste
área consolidada, não é possível aprovarmos
momento. Com certeza, o agricultor brasilei-
o Código, em cima da agricultura nacional e,
ro está sendo discriminado nessa questão da
indiretamente, de todas as cidades e popu-
área consolidada. Vejam a injustiça que fazem
lações urbanas deste País. Porque não é só o
com nossos agricultores: quem mora numa
homem do campo que será penalizado. Pena-
palafita, num casebre, numa casa pobre em
lizados também serão o operário brasileiro, as
qualquer beira de rio deste País, está ilegal,
famílias de baixa renda, que não terão recur-
ambientalmente falando; quem mora numa
sos para comprar alimentos. Só em São Paulo,
mansão em área urbana, como a área do Lago
quase 1 milhão de hectares serão banidos da
Paranoá ou de qualquer outro lago, ou no li-
área produtiva brasileira. Só em São Paulo! O
toral brasileiro, está legal e pode ficar lá tran-
que acontecerá é que os alimentos terão seus
quilo jogando esgoto na água. Está tudo certo.
preços majorados e o povo pobre, o operário,
Temos que começar a mostrar isso ao País.
o trabalhador nacional, terá que custear do
Esta não é uma questão só da área rural, é um
próprio bolso um Código impensado, que não
assunto do Brasil. Eu já disse antes que, se a
analisou as consequências da mudança.
agricultura não é importante para o Governo,
que ela seja importante para o Brasil. É isso o

Nelson Marquezelli
315
que estamos discutindo, Deputado Ronaldo caria 20% nesse fundo, 35% ou 80%, depen-
Caiado. Precisamos mostrar isto. O desafio é dendo de onde é oriundo. O Brasil faça isto,
este. Por que o agricultor tem que se afastar aí sim nós vamos resolver a questão do meio
dos rios, se a civilização sempre esteve perto ambiente, nós vamos recuperá-lo. Vamos bus-
deles, até se iniciou perto deles? Toda civili- car o replantio de milhões de hectares, de 85
zação fez isso. O Brasil está se afastando dos milhões de hectares segundo o Ministério da
rios, das águas. Deputado Nelson Marquezelli, Agricultura, de 33 milhões segundo o Minis-
precisamos cuidar da água, do esgoto, do lixo, tério do Meio Ambiente, e por aí afora. Deixo
mas não como fazem na sua terra com o Rio aqui o desafio, Deputado Ronaldo Caiado, de
Tietê, um esgoto a céu aberto. Ninguém fala criarmos um grande fundo, do nosso patrimô-
nisso. Não existe ambientalista que toque nes- nio, como o que querem impor ao agricultor
se assunto! Precisamos acertar isso. Por que o ao proibi-lo de utilizar as áreas consolidadas.
produtor tem que constituir um fundo ou dar Se houver área consolidada na área rural, com
parte do seu patrimônio – 20% no Sul, 35% no certeza, Deputado Caiado, vamos apresentar
Centro-Oeste, 80% na Amazônia – para aju- uma emenda para que se mantenham as áreas
dar na preservação do meio ambiente, e nós consolidadas na área urbana. Está escrito lá,
que moramos nas cidades não precisamos APP. E o que é APP? Está lá, no art. 4º. APP, ou
dar nada? Aliás, quero fazer uma proposta, no Área de Preservação Permanente, é aquela, na
sentido de nós criarmos um fundo na Câmara área urbana ou rural, que está a 30 metros de
dos Deputados em que cada morador de uma qualquer leito de rio de até 10 metros, até 500
determinada região tenha que aplicar uma metros, dependendo da largura do rio, e nas
porcentagem do seu salário, para preservar o montanhas, nas encostas e por aí afora. Vamos
meio ambiente. O morador da Região Norte implantar isso no Brasil. Assim eu acho que
teria que colocar no fundo 80% do seu salá- está tudo certo, que nós podemos equilibrar o
rio; o da Região Centro-Oeste, 35%; e nós, da jogo. Parabéns pelo seu trabalho, Deputado, e
Região Sul, 20%, a fim de preservar o meio pela oportunidade do seu pronunciamento so-
ambiente. Cada funcionário desta Casa colo-

316
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

bre o nosso Código, como já fez aqui também Florestal vai desativar suas margens produti-
o nosso Deputado Junji Abe. Obrigado. vas, 100 metros de cada lado, na sua extensão,
O Sr. Nelson Marquezelli – Deputado Val- ignorando que muitas margens de rios são
dir Colatto, a EMBRAPA fez uma estimativa compostas de piçarra, ou de pedras naturais,
da área agrícola a ser perdida só nos quatro ou de morros íngremes, onde nem é possível
módulos fiscais. Serão no Brasil 11 milhões, fazer plantio, onde não existe vegetação, áreas
664 mil, 687 hectares, uma área maior que a de que não podem ser aproveitadas.
certos países da Europa, maior do que muitos E nós vamos com essa lei dar ao Ministério
países que militam no mercado internacional, Público uma arma, uma arma a esses meninos
maior que muitos Estados brasileiros. Um país que estão ingressando agora na promotoria
que está em crescimento não pode se dar ao pública. Acionando a Internet, fazendo buscas
luxo de dispensar 11 milhões e 600 mil hecta- no Google, vão poder exigir dos proprietários
res de área produtiva. Nós precisamos, além uma cobertura florestal de 15 a 100 metros ao
de manter essas áreas produzindo, procurar longo das margens dos rios do Brasil. É inacre-
agregar outras áreas, áreas degradadas, áreas ditável a falta de bom senso, a falta de sensi-
que estão sendo mal utilizadas pelas proprie- bilidade dos que propõem um Código dessa
dades agrícolas, pelo Governo, área verde, seja natureza. E nós vamos precisar votar um Códi-
quem for o proprietário, para que tenhamos go que prejudica a família produtiva do Brasil,
mais produção. Não precisamos de um Código sem nenhuma exceção, a família de todos que
que anula 11 milhões e 600 mil hectares, até trabalham na agricultura.
quatro módulos fiscais. E acima de quatro mó- Ouço o aparte do Deputado Luis Carlos
dulos fiscais, quantos nós vamos eliminar? Heinze.
Vejam o exemplo do meu Estado, São Paulo. O Sr. Luis Carlos Heinze – Deputado Marque-
Nós temos o Rio Paraná, o Rio Grande, o Rio zelli, hoje, durante o almoço, V.Exa. disse que
Tietê, que atravessa o Estado de ponta a pon- seu Estado tem 8.800 rios, córregos...
ta, o Rio Piracicaba, o Rio Pardo, o Rio Para-
napanema e outros rios de porte. O Código

Nelson Marquezelli
317
O Sr. Nelson Marquezelli – São 8.880 peque- do Governo têm que trazer com urgência esta
nos córregos. matéria à votação. O Líder Henrique Eduardo
O Sr. Luis Carlos Heinze – Imagine o Rio Gran- Alves propôs em dezembro que a data máxima
de do Sul e o Paraná, Deputado Giovani Cheri- fosse 6 e 7 de março, mas já estamos no dia 20
ni; ou seu Estado de Goiás, Deputado Ronaldo de março e ainda não votamos. Querem nos
Caiado. Imaginem, no Brasil inteiro, 15, 30, 50 e dar um balão e deixar para votar o Código só
100 metros. Dão os 11 milhões de hectares que depois da Rio+20. Não. Temos que votar com
o Dr. Evaristo, competentemente, levantou. O urgência a matéria, dada a sua relevância para
Deputado Valdir Colatto fez aqui uma afirma- a sociedade brasileira. Muito obrigado.
ção. Queria que os funcionários da Casa, que O Sr. Nelson Marquezelli – A preservação das
os Parlamentares... Eu vou além. Queria ver águas, em qualquer país do mundo, não se faz
se isso fosse feito com a PETROBRAS, com as através da cobertura vegetal, mas sim comba-
empresas de petróleo, com a Vale do Rio Doce, tendo esgotos, produções agrícolas em mar-
com os bancos, com as megaempresas multi- gem do rio sem que haja curva de nível, sem
nacionais, queria ver se elas tivessem que doar proteção, porque essas plantações podem jo-
20%, 35%, 70%...! Ah, o mundo teria desabado, gar na água defensivos, adubo em excesso. É
Deputado Marquezelli! Mas como os produto- assim que se preserva a qualidade da água, e
res rurais são 5 milhões e 200 mil, dos quais não com cobertura vegetal. Cobertura vegetal
90% são pequenos produtores, todo mundo só protege nascentes, minas de água, não o rio
mete a mão. Nós, nesta Casa, vamos mexer na que corre. Na correnteza do rio, na margem,
lei atual e dizer que a responsabilidade agora não adianta cobertura vegetal, florestas. Nas
vai ser do produtor. A lei de hoje diz que é do margens de rio é preciso haver curva de nível
Estado brasileiro, mas nós vamos mudar isso em altura suficiente, para que o rio não receba
e transferir essa responsabilidade para o pro- das áreas plantadas defensivos e adubos de má
dutor rural, pequeno, médio ou grande. Para- qualidade, que podem se misturar com a água.
béns pelo seu discurso, Deputado Marquezelli. Pois não, companheiro Giovani Cherini.
Esta Casa, o Deputado Marco Maia, os Líderes

318
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

O Sr. Giovani Cherini – Deputado Nelson balho. Este projeto tem que ser votado o mais
Marquezelli, quero parabenizá-lo pelo brilhan- rápido possível.
te discurso e pela sua posição em relação ao O Sr. Nelson Marquezelli – Deputado Gio-
Código Florestal. Eu também acho que nós te- vani Cherini, V.Exa. tem razões, e muitas. Veja
mos que votar essa matéria logo, para termos bem, no Estado de São Paulo há mais de 8 mil
um marco legal na agricultura e a partir dele córregos. E o que é um córrego? Não é um
criarmos uma nova tese, uma nova visão: quem rio, porque ele quer 15 metros. Mas ele diz o
polui tem que pagar, e quem preserva tem que limite no Código, e todos aqueles que têm no
receber. Não existe outra saída no mundo capi- mínimo uma cobertura vegetal de cada lado da
talista que não essa. Nós não temos como dizer margem de 15 metros... Há rios com 10 metros,
a um cidadão que ele tem que dar parte da sua com 8 metros, com 6 metros, com 5 metros.
propriedade particular para ajudar a sociedade. Há córregos com 2 metros, com 1 metro de lar-
Nós temos é que fazer com que aquele que po- gura! Córregos onde se produzem hortaliças,
lui pague pela poluição. O Brasil vende hoje 3 frutas de mesa, como morangos e similares,
milhões e 800 mil automóveis por ano, petró- verduras em grande quantidade, para abas-
leo... Enfim, há aqui uma infinidade de empre- tecer a Capital de São Paulo, flores, como em
sas que poluem. Depois de aprovado o Código Holambra e nas cooperativas todas. Na região
aqui na Câmara, temos que fazer como se faz de Rio Pardo há produção de cebola e de ba-
lá em Nova Iorque, onde eles economizam 1 tata em quantidade suficiente para abastecer
bilhão de dólares por ano pagando aos agricul- o Brasil e ainda exportar para vários países da
tores para preservar a água. É isso o que nós América do Sul e até da Europa.
temos de fazer. Não adianta querer fazer socia-
Aonde chegaremos se exigirmos da população
lismo no meio rural e capitalismo na cidade.
que produz à margem de pequenos riachos
O Sr. Nelson Marquezelli – V.Exa. Tem razão. de 1 metro, de 1 metro e meio, de 2 metros, 15
O Sr. Giovani Cherini – Essa é a fórmula. Pa- metros de cada lado? Como vamos trabalhar
rabéns, Deputado Marquezelli, pelo seu tra- o processo de irrigação que estamos implan-
tando agora no Nordeste com a transposição

Nelson Marquezelli
319
do Rio São Francisco? O que fazer às margens Desta forma vamos preservar 62% das matas e
do Rio São Francisco? Há quilômetros e quilô- florestas do País. Ora, não existe país que te-
metros, um canal d’água em cujas margens vão nha mais de 5% do seu território com cobertu-
produzir – já estão produzindo – uva. ra vegetal. Nós estaremos preservando para o
Como vamos fazer para a largura ser de, no mí- mundo 62% de nossas terras agricultáveis, ter-
nimo, 15 metros? Em alguns lugares ela vai ser ras em condições de produzir, em condições
de 30 metros, de 40 metros. Nas represas vamos de dar uma vida melhor ao povo brasileiro.
ter mais de 70 metros, mais de 80 metros. Como Pois não, meu Líder.
desalojar a grande quantidade de produtores O Sr. Leandro Vilela – Quero parabenizar V.Exa.
que estão às margens desses rios? Como vamos pelo brilhante pronunciamento e compartilhar
fazer no Rio Grande do Sul, onde a melhor uva deste momento extremamente importante.
para a produção de vinho está na encosta de Sem dúvida nenhuma esta Casa não pode re-
morros, na lateral de morros? Sabem por que troceder, não pode simplesmente aceitar aquilo
elas estão lá? Para ficarem protegidas do vento que muitas vezes é uma vontade de Governo.
sul. O morro serve de proteção para a produção. A vontade dos produtores é que este País seja
Como vamos fazer com a bananicultura do Vale justo. O Governo, que muitas vezes incenti-
do Ribeira? As margens dos rios, de todos, pro- vou o desmatamento para aumentar a produ-
duzem bananas. Como vamos fazer com a única ção, agora quer novamente colocar a conta em
produção de chá do País, que é feita no Sul? A cima do homem do campo, do produtor rural.
plantação também está nas encostas, perto de Cumprimento V.Exa. Esta Casa precisa manter
pequenos riachos, para que se possa molhá-la. a coerência, precisa manter o que votou, pre-
O Código atual fere o direito adquirido. Como cisa aprovar um Código Florestal que seja não
vamos fazer onde não há área consolidada? do interesse do Governo, mas do interesse do
E área consolidada, Deputados, existe para produtor rural, do homem do campo, do setor
os dois lados: quem desmatou consolidou, e produtivo e do agronegócio brasileiro. Para-
quem não desmatou também consolidou. Não béns, Deputado Nelson Marquezelli.
se pode desmatar. O Sr. Nelson Marquezelli – Muito obrigado.

320
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Deputado, V.Exa. sabe que, se aprovarmos o ram para produzir e aqueles que desmataram
Código sem área consolidada, o Estado de Goi- para especular com madeira. Nós não pode-
ás vai ter um grande prejuízo. As maiores áreas mos permitir isso. Temos que separar o joio
produtoras de soja estão no Estado de Goiás. do trigo. Área consolidada é a espinha dorsal
Estamos hoje vendo a aberração de um inves- do novo Código. Se houver, esta Casa aprova
timento feito há mais de 100 anos, há 200 anos o Código Florestal brasileiro que está sendo
no Brasil. Aqueles que trabalham com meio apresentado; se não houver, esta Casa não
ambiente acham que para deixar uma terra pode aprová-lo. O Governo Dilma, o Governo
agricultável basta estalar os dedos, e ela fica Lula, o Governo Fernando Henrique e todos
pronta no dia seguinte. Não sabem que para os Governos dos últimos 50 anos pregaram
desmatar, limpar e deixar a terra em condições que tínhamos que plantar. “Plante que o João
produtivas são necessários muitos anos, gera- garante.” Quem não se lembra desse slogan?
ções, até para se mudar o conceito de Cerrado “Plante que o Governo financia.”
pobre para área produtiva. Isso demora anos. Quantos bilhões e bilhões do Banco do Bra-
Agora, numa penada apenas, com a aprovação sil, com a simples aprovação do Código, serão
do Código, veremos o absurdo de se retirar jogados no lixo? E o sacrifício de gerações e
a produção, só em propriedades de até qua- gerações para fazer tornar essas áreas produ-
tro módulos fiscais, de mais de 11 milhões e tivas? Agora, numa penada só, tira-se a área
500 mil hectares. consolidada, porque é o que meia dúzia de
ambientalistas defendem, com pressão inter-
Eu não voto esse Código. Só votarei se nele
nacional sobre o Governo brasileiro.
estiver consagrada a área consolidada. Quem
desmatou, quem produz até hoje, quem lutou Chega! Nunca mais podemos aviltar o direito
para que este País crescesse, para que tivés- adquirido dos brasileiros. Jamais poderemos
semos este crescimento, precisa ter o amparo reduzir a área produtiva do Brasil.
desta Casa, precisa ter o reconhecimento dos Muito obrigado, Sr. Presidente.
Deputados. Nós não podemos colocar numa
vala comum aqueles que realmente trabalha-
Nelson Marquezelli
321
Pronunciamento encaminhado Fiz esse introito, Sr. Presidente, para relembrar
pelo Orador aos menos conhecedores do campo, muito
deles travestidos de líderes ecológicos, que a
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a vota-
instituição de um novo marco legal florestal
ção do Código Florestal não é uma questão de
deve ser analisada com critérios justos, sem-
governo, e sim de Estado.
pre pensando-se no equilíbrio entre a produ-
A agricultura brasileira não poderá sofrer solu-
ção agrícola e o respeito ao meio ambiente.
ção de continuidade por força de desavisados
O agricultor brasileiro, Sr. Presidente, é aquele
e desinformados, adeptos do atraso econômi-
que acorda às 4 horas da manha para produzir o
co e social.
alimento do povo brasileiro, e ele deve ser res-
O Brasil mudou, Sr. Presidente, e mudou
peitado em toda a sua inteireza profissional.
para melhor, principalmente graças ao esfor-
Voltemos agora á análise do texto que em bre-
ço desenvolvido pelo ex-Presidente Lula, que
ve votaremos na Câmara dos Deputados.
sempre entendeu a importância da agricultura
brasileira para a geração de superávit na nos- Não é possível que, depois de longos 13 anos,
sa balança comercial, com o estancamento do só agora o Senado Federal tenha encontrado
processo inflacionário e a transferência dos re- a fórmula mágica para atender ao desafio de
cursos gerados pelo campo para a geração de fazer um Código Florestal moderno e eficaz.
emprego, o pagamento da nossa dívida exter- Estamos conscientes de que o substitutivo do
na e a diminuição da pobreza no País. Deputado Paulo Piau, com algumas modifica-
Esse marco histórico e econômico devemos ao ções, será o ideal para o agricultor brasileiro.
agricultor brasileiro. O texto inovado no Senado Federal traz inse-
Se pegarmos a evolução dos índices de infla- gurança jurídica e econômica ao País.
ção e dos preços dos alimentos dos últimos 10 Analisemos ponto a ponto:
anos, veremos que os alimentos tiveram papel Já no primeiro artigo é imposto um texto que
relevante na sustentação dos preços. causará insegurança jurídica quanto à aplica-
ção da lei, ao se consagrar que as florestas e

322
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

demais formas de vegetação nativas são reco- que o órgão ambiental tenha a obrigação de
nhecidas de utilidade e são bens de interesse embargar obra ou atividade para uso alterna-
comum a todos habitante do País, exercendo- tivo do solo fora das hipóteses legais. O texto
se os direitos de propriedade com as limita- da Câmara era autorizativo, e dizia a redação
ções que a legislação e, especialmente, a nova do texto que o órgão ambiental “poderia em-
lei, o novo Código Florestal, estabelece. bargar” e não que “deveria embargar”. A in-
Não é possível que tenhamos no texto legal teligência dos nobres Senadores ultrapassa o
uma aberração jurídica como essa. limite do bom senso. A elasticidade da inter-
pretação legislativa é que causa insegurança
Como pode o agricultor brasileiro trabalhar com
jurídica no País.
tranquilidade, sabendo que a qualquer tempo a
sua propriedade poderá ser desapropriada em O art. 54 também é inovador ao determinar
nome de um pseudo-interesse comum? que o proprietário faça a proposta de reserva
legal e deixe a cargo do órgão ambiental a via-
Mais adiante, também não concordamos com
bilidade do registro simplificado no CAR para
a limitação do pousio a 25% da propriedade,
a agricultura familiar.
com prazo de 5 anos, e com o novo conceito de
área abandonada, ligado ao conceito de pro- Insurgimo-nos também contra as alterações
dutividade do imóvel. Isso abre espaço para feitas no art. 60, §§ 4º e 5º, que alteraram o
graves riscos de desapropriação. texto da Câmara dos Deputados, que previa a
suspensão das sansões quando da adesão ao
O art. 18, § 3º, também não poder ser aceito
PRA. O Senado Federal só permite a suspen-
por esta Casa, pois a alteração não constava do
são das sansões após a assinatura de TAC.
texto aprovado pela Câmara dos Deputados.
E agora a maior das aberrações, Sr. Presiden-
É inadmissível a suspensão imediata das ativida-
te, o desvirtuamento da Emenda nº 164, o
des agrícolas em áreas desmatadas após 7 de ju-
principal ponto aprovado pela Câmara dos
lho de 2008, com a publicação do novo Código.
Deputados no texto do Código Florestal.
O texto aprovado pelo Senado Federal tam-
bém impôs o estabelecimento de regra para

Nelson Marquezelli
323
O Senado Federal agora inova o texto ao exigir nestes Estados aumenta substancialmente os
a recomposição de parte da propriedade, entre números que acabei de apresentar.
15 e 100 metros, para os pequenos agriculto- Com base na proposta aprovada no Senado
res brasileiros, de até quatro módulos fiscais, Federal, dos 196 rios do Estado de São Paulo,
o que causaria impacto devastador na agricul- com extensão total de 6.496 quilômetros, nós
tura familiar. teríamos uma perda de 130.461 hectares da
Somente com essa penada do Senado Fe- área plantada.
deral o Brasil perderia 11.664.687 hecta- No Estado de Minas Gerais, do total de 26 rios,
res, o que representaria uma diminuição de com extensão total de 5.974 quilômetros, a
R$6.593.608.000,00 no faturamento da agri- perda é de 120.032 hectares.
cultura brasileira.
Em Goiás, de 25 rios, com extensão de 5.999
Sr. Presidente, são mais de 6 bilhões de reais o quilômetros, a perda é 120.600 hectares.
que vão tirar do agronegócio brasileiro.
Esses dados demonstram o quanto a redução
Isso é de uma irresponsabilidade sem tamanho. da área plantada em beira de rios será caótica
Quem vai pagar essa conta na hora que chega- para a produção agrícola brasileira.
rem os títulos dos bancos? Outros exemplos com que devemos nos preo-
Não vamos compactuar com esse texto esd- cupar são as pastagens em encostas de morros.
rúxulo que quer ser empurrado goela abaixo Tive a oportunidade, durante o programa Pala-
na Câmara dos Deputados. vra Aberta, da TV Câmara, de fazer esta crítica:
Peço ao ilustre Presidente que inclua nos Anais “Sítios e pequenas propriedades na
desta Casa tabela de estimativa do impacto encosta de serras serão totalmente
para os pequenos agricultores. prejudicados. Um pasto inclinado, que
Tive o cuidado de fazer um levantamento dos pode estar com os dias contados caso
rios que cortam os Estados de São Paulo, Mi- o novo Código Florestal seja aprovado.
nas Gerais e Goiás. A perda da área plantada Com esse Código sendo aprovado da forma
como está no substitutivo do Senado, grande

324
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

parte da área de pasto está em área de pro- com as áreas desérticas do Peru e os bananais
teção por declividade. Então essas áreas não do Vale do Ribeira.
poderiam ser usadas mais para pastagem, da Não podemos alterar as áreas consolidadas
forma como está previsto no Código. O que é para a produção agrícola, e devemos focar na
uma insensatez no nosso entender, porque, a proteção das águas, nas curvas dos rios, cujas
pastagem não estando degradada, não há ne- margens são variadas.
nhum problema.
Em São Paulo nós temos cerca de 5.800 rios
Só na região de Bragança Paulista, no meu com menos de 2 metros de margem e 18.500
Estado, saem 65 milhões de litros de leite por córregos com 1,30 metro de margem, e, da for-
ano. Cidades do Vale do Paraíba, que produ- ma como esta redigido o texto do Senado, nós
zem quase 120 milhões de litros, também po- iríamos acabar com o plantio de hortaliças, fei-
dem perder áreas por causa do relevo. jão, arroz irrigado, banana, milho verde, cebo-
A perda poderia chegar a 40% da produção la, batata, alho e frutas de mesa.
caso aprovássemos esse substitutivo do Sena- Esse monstrengo jurídico quer destruir a agri-
do Federal.” cultura brasileira.
Sr. Presidente, se esse Código Florestal existis- Como impor a recomposição de vegetação na-
se em Israel, o povo israelense iria morrer de tiva de áreas produtivas, se elas foram ocupa-
fome, pois 80% da produção de alimentos lá é das em consonância com a lei que estava em
feita na beira dos rios, por sistema de irrigação. vigência naquela época. Não podemos retroa-
O mesmo aconteceria com a produção de uva gir para prejudicar milhares e milhares de pro-
na Califórnia, com a produção de alimentos no dutores rurais.
Rio Mississipi, com a produção nos Alpes Su- A utopia legislativa é tão grande que os pró-
íços, com a produção de arroz nos países do prios programas do Governo irão para o lixo.
sudeste asiático, com o café na Colômbia e nas
Um desses programas, que é o grande sonho
encostas dos morros de Minas Gerais, com a
de realização da nossa Presidenta Dilma Rous-
produção às margens do Rio Nilo, no Egito,
seff, o PAC, seria podado em 200 mil hectares

Nelson Marquezelli
325
de área irrigada, impossibilitando a geração de
milhares e milhares de empregos para peque-
nos produtores rurais no Nordeste brasileiro.
O projeto intitulado Mais Irrigação, com orça-
mento de 10 bilhões de reais, seria inviabilizado
pela insensibilidade colocada no texto do proje-
to de Código Florestal pelo Senado Federal.
Finalizo, Sr. Presidente, afirmando que só po-
demos planejar bem o atual desenvolvimento
se não recorrermos ao caminho do desperdício
de recursos, e com uma agricultura forte.
Somos favoráveis à proteção ambiental no de-
senvolvimento, causa nobre e virtuosa, mas não
concordamos que meio ambiente e desenvolvi-
mento agrícola sejam antagônicos. Eles podem
e devem caminhar juntos e harmônicos.
Muito obrigado.

326
Roberto de
Lucena

(Código Florestal. Rio+20) O Sr. Roberto De Lucena (Bloco/PV-SP. Sem


revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Retrocessos contidos no texto do novo Deputados, no ano de 1992 o Brasil teve o privi-
Código Florestal brasileiro aprovado pela légio de sediar um dos mais importantes even-
Casa. Expectativa quanto à realização da
Conferência das Nações Unidas sobre
tos do mundo, a Eco 92, um momento histórico,
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, no estratégico, importante, que não apenas acen-
Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro. deu os debates em torno do meio ambiente
Sessão 26/04/2012 – DCD 27/04/2012 como anunciou o surgimento de uma geração
que se levantava em defesa o planeta.
Desde então passaram-se 20 anos, e continuam
a ser ouvidos os ecos daquele evento, que foi
um marco para a humanidade e um motivo de
orgulho para o Brasil. Agora, novamente, para
orgulho de todos os brasileiros, em junho deste
ano o nosso País será a sede do evento Rio+20,
quando estaremos avaliando o que foi feito des-
de a Eco 92 e o que mais precisamos fazer.

327
Nos momentos que antecedem o evento, nas rias, o que equivale a dizer que pode abrigar
reuniões e ações preparatórias, podemos sen- toda sorte de assuntos, de tal modo que as ex-
tir que os olhos do mundo já se voltam para o pectativas de soluções, acordos e progressos
Brasil, e novas expectativas são apresentadas. também adquirem proporções maiores, relevo
Com os impasses verificados recentemente e dimensões consideráveis.
na Convenção do Clima em Durban, na Áfri- Mais uma vez haverá a oportunidade de dis-
ca do Sul, acentuaram-se as expectativas com cutirmos compromissos, colocando-se frente
relação à Rio+20, a Conferência das Nações a frente países ricos e pobres, poluidores his-
Unidas em Desenvolvimento Sustentável, a tóricos e representantes de nações em desen-
realizar-se em junho de 2012, no Rio de Janeiro. volvimento. Importa, sem dúvida, alcançar o
A rigor, nos últimos 20 anos, também houve equilíbrio, o entendimento e a concordância
poucos avanços no que se refere aos grandes acerca da necessidade de proceder a mudan-
temas da Rio+92, ou seja: desmatamento, cli- ças, de conter os efeitos ambientais dos pro-
ma, biodiversidade, Agenda 21 mundial. cessos econômicos e ao mesmo tempo manter
os níveis de crescimento na medida suficiente
Entre os antecedentes da reunião de 2012,
para vencer os problemas de países afetados
vale atentar inclusive para as profundas di-
pela pobreza endêmica.
vergências nas discussões entre comunidades
tradicionais e indígenas, ONGs e corporações Esperamos, sim, que os países se distanciem
transnacionais. cada vez mais da atitude de recusar metas obri-
gatórias de controle de emissões, que adotem
O temário definido pela ONU para o encon-
medidas eficazes e imprescindíveis em favor da
tro no Rio de Janeiro consiste basicamente na
preservação da vida no planeta, em defesa dos
“economia verde no contexto do desenvolvi-
recursos hídricos e do compartilhamento de
mento sustentável e da erradicação da pobre-
responsabilidades, antes que seja tarde demais.
za” e no “marco institucional para o desenvol-
vimento sustentável”. Portanto, a temática Relatório recente da Organização das Nações
prevista comporta amplo conjunto de maté- Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO
mostra que a progressiva degradação e a es-

328
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

cassez dos recursos naturais “põem em perigo das para a redução de impactos sobre o meio
os sistemas-chaves da produção de alimentos ambiente e a realização de maior volume de
no mundo, na hora em que já se discute como investimentos, visando ao estabelecimento
se fará para alimentar nove bilhões de pesso- definitivo de caminhos, condições, garantias e
as em 2050”. modelos de desenvolvimento sustentável.
Para aumentar a produção de alimentos será Ontem encerramos aqui neste plenário as dis-
preciso aumentar o consumo de energia. E cussões que se desenvolveram nesta Casa so-
esse processo gera também mais emissão de bre o Código Florestal. Infelizmente, a poucos
gases, que contribuem para mudanças do cli- dias da Rio+20, não conseguimos dar uma boa
ma. O que fazer, então? notícia para o Brasil e para o mundo. Deixa-
Evidentemente, será necessário, entre outras mos de valorizar, de prestigiar quem preserva,
medidas, modificar os hábitos de consumo e a na medida em que anistiamos os que desma-
produção geral. Impõe-se, com efeito, inverter taram. Não observamos o pressuposto da sus-
esse quadro, que combina necessidade de au- tentabilidade, na medida em que não prioriza-
mento da produção agrícola, expansão da pe- mos a compatibilização da atividade produtiva
cuária, elevação da temperatura planetária e com a efetiva proteção ambiental.
uma série de outras práticas que ao longo dos Na prática, o instituto da Área de Preservação
anos vêm concorrendo para a degradação de Permanente – APP deixa de existir, na medida
terras e sistemas hídricos. em que se remete ao Executivo e aos Estados
Assim, conforme enfatiza a FAO, é de funda- a responsabilidade pela sua fixação, bem como
mental importância diminuir a dependência a obrigatoriedade de sua recomposição, ge-
do sistema de alimentação em relação aos rando um espaço de total insegurança jurídi-
combustíveis fósseis. Defende-se, nesse sen- ca nessa questão, entre outros aspectos, pelo
tido, o uso de fontes alternativas de energia. fato de que Estados situados em um mesmo
bioma poderão ter limites diferentes de APPs.
Todas essas questões devem ser discutidas na
Rio+20, em busca das soluções mais adequa- A demasiada ampliação da consolidação de ati-
vidades no interior de APPs, e agora até mesmo
Roberto de Lucena
329
no interior das Unidades de Conservação, in- ambiental e a melhora da qualidade de vida do
clusive as de Proteção Integral, coloca em risco cidadão brasileiro, veio a público manifestar
todo o arcabouço legal vigente, bem como todo seu total repúdio pelas propostas aprovadas
o esforço voltado a uma efetiva consolidação tanto na Câmara como no Senado.
da gestão ambiental no Brasil, no momento em Sei que poderia ter sido ainda bem pior. La-
que o País está prestes a sediar a Rio+20. mento a nossa falta de compromisso com as
Com a aprovação da nova lei na forma proposta, futuras gerações, com a vida e com o planeta.
o Brasil estará institucionalizando a opção pelo Lamento que tenhamos perdido a oportunida-
atraso, em lugar de escolher o rumo da lideran- de histórica de deixar nosso marco na defesa
ça mundial em prol da economia verde. Teremos da natureza e na proteção universal da vida.
todos de arcar com as consequências dessa op- Finalizo, Sr. Presidente, dizendo que defender
ção equivocada, e nossos filhos e netos também. o meio ambiente é muito mais que defender
Nossa expectativa é de que a Presidenta Dilma questões ambientais; é defender a vida, em
se mantenha alinhada com seus compromis- sua plenitude e em todas as esferas, e é missão
sos de campanha e vete o Código Florestal. A que cabe a todos nós.
proposta leva a um crescente desmatamento, Era o que tinha a dizer.
e, por consequência, ao não cumprimento das
Muito obrigado.
metas fixadas para a redução das emissões dos
gases responsáveis pelo efeito estufa. Ao in- Que Deus abençoe o Brasil.
centivar a ocupação de áreas de risco e as de
preservação permanente, está-se menospre-
zando a relação direta que essa ocupação tem
com a lamentável ocorrência das catástrofes
que têm afetado o nosso País a cada início do
ano, tirando milhares de vidas.
Dessa forma, a bancada do Partido Verde, fiel
aos seus compromissos com a efetiva proteção

330
Rosane Ferreira

(Posicionamento do Partido Verde em A Sra. Rosane Ferreira (Bloco/PV-PR. Como


relação ao texto do Código Florestal Líder. Sem revisão do oradora.) – Obrigada,
aprovado pela Câmara dos Deputados) Sr. Presidente. Gostaria de fazê-lo.
Preocupação do Partido Verde com o risco de Sr. Presidente, nós, brasileiros, temos enorme
redução da disponibilidade hídrica no País caso dificuldade em enfrentar as situações que se
aprovado o Substitutivo do Senado Federal à apresentam, preferindo sempre a versão cor-
proposta do novo Código Florestal brasileiro. de-rosa dos fatos. Preferimos alegar, por exem-
Contaminação dos recursos hídricos brasileiros. plo, mesmo diante de tragédias, que “Deus é
Expectativa de veto, pela Presidenta Dilma
brasileiro” – como se Deus nos liberasse da
Rousseff, a dispositivos do Código Florestal
com alteração do texto pelo Senado Federal. nossa responsabilidade pelos nossas atitudes.
Sessão 12/04/2012 Essas reflexões me vêm a propósito diante do
aumento do risco – totalmente subestimado –
que corremos com relação à disponibilidade
hídrica, em virtude da possibilidade da aprova-
ção do novo, e piorado, Código Florestal.
Desde Pero Vaz de Caminha se acredita que a
água em nosso País é abundante e inesgotá-
vel. Pero Vaz de Caminha já dizia: “Águas são

331
muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa, corpos d’água compromete a produção, tanto
que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, pela redução da vazão, como pelos prejuízos
por bem das águas que tem”. que os sedimentos causam às turbinas. Não por
Entretanto, essa água é desigualmente distri- acaso, as empresas geradoras se esforçam para
buída pelo território. Há diversas regiões do garantir a proteção no entorno dos reservató-
País, além do Nordeste, que vivem sob estres- rios. Esses esforços, entretanto, não isentam o
se hídrico: menos de 1.000 metros cúbicos por conjunto da sociedade de fazer a sua parte, para
habitante por ano. garantir nosso suprimento de energia.
Além disso, quantidade não significa quali- Para a agropecuária, a água não é apenas um
dade. Nossas águas estão contaminadas com recurso natural; é insumo de primeira necessi-
esgoto doméstico, defensivos agrícolas, fer- dade. Para ilustrar, na produção de 1 quilo de
tilizantes, insumos e dejetos industriais. Não arroz, gastam-se 3 mil litros de água; 1 quilo
apenas as águas superficiais, mas também as de carne de boi, 15.500 litros de água; 1 litro
subterrâneas estão contaminadas. Conside- de leite, mil litros de água. É isso mesmo: para
rando a deficiente capacidade de tratamento produzir 1 litro de leite, gastam-se 1.000 litros
das águas e a sinergia entre tantas substâncias de água. E a implantação de irrigação pode au-
tóxicas, é difícil saber que água beberemos ou mentar a produtividade em até 200%.
daremos a nossos filhos. Assim, os produtores agrícolas deveriam, a
Quanto ao fato de a água ser um recurso reno- nosso ver, serem os primeiros a buscar, por
vável, é verdade, se não considerarmos nem a todos os meios, proteger os cursos d’água, as
qualidade nem a escala de tempo. Quem não nascentes e as áreas de recarga dos aquíferos.
se lembra das chuvas ácidas? O que vemos, entretanto, são as constantes
Quanto à nossa necessidade crescente de pro- agressões aos corpos d’água e tentativas de
dução de energia, é bom lembrarmos que cerca reduzir as medidas legais de proteção, como
de 70% da nossa matriz elétrica é de origem hí- as Áreas de Proteção Permanente – APPs. É
drica, o que significa que o assoreamento dos quase como rasgar dinheiro; algo incompreen-
sível, numa lógica racional. A versão aprovada

332
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

pelo Senado do Substitutivo ao Código Flores- forços no sentido de que essas alterações sejam
tal, na prática, reduz as APPs, o que fará com vetadas por S.Exa. a Presidente Dilma Rousseff.
que a poluição difusa, os defensivos agrícolas, Sr. Presidente, V.Exa., que enfrenta hoje no seu
fertilizantes e sedimentos atinjam mais rapi- Estado problema tão sério com relação à seca,
damente os corpos d’água, contribuindo assim sabe que temos que estar sensibilizados para
para a degradação da qualidade da água e o as- cuidar do maior patrimônio dos brasileiros e
soreamento. Na verdade, degradando a água brasileiras: as nossas águas.
que o próprio produtor vai usar!
Muito obrigada.
Voltando a Pero Vaz de Caminha, é bom lem-
brar que ele disse “dar-se-á nela tudo, pelo Pronunciamento Encaminhado
bem das águas que tem”. Ou seja, sem água, Pela Oradora
nada feito!
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em que
No ano em que o Brasil sediará a conferência
pese seu potencial, o Brasil enfrenta um pro-
Rio+20, é bom nos lembrarmos de um dos
blema crônico, desde seus primórdios: nós,
princípios acordados há 20 anos, Sr. Presiden-
brasileiros, temos enorme dificuldade em en-
te: que a água é um recurso limitado e vulne-
frentar as situações que se apresentam, prefe-
rável, necessário à vida, ao desenvolvimento e
rindo, sempre, a versão cor-de-rosa dos fatos.
ao meio ambiente.
Preferimos alegar, por exemplo, mesmo diante
Nesse sentido, peço aos meus pares que refli- de tragédias, que “Deus é brasileiro” – como
tam cuidadosamente sobre as consequências se Ele nos liberasse da nossa responsabilidade
das atitudes que tomarmos nesta Casa e do pelos nossas atitudes.
papel que nos será atribuído pelos nossos des-
Não sei exatamente como isso começou, mas
cendentes.
vejo, cada vez mais preocupada, que essa ten-
O Partido Verde, em articulação com diversos dência continua firme e forte, mesmo quando
setores da sociedade civil, está envidando es- confrontada por evidências gritantes.

Rosane Ferreira
333
Essas reflexões me vêm a propósito diante do substâncias tóxicas, é difícil saber que água be-
aumento do risco – totalmente subestimado beremos ou daremos a nossos filhos.
– que corremos com relação à disponibilidade Quanto ao fato de a água ser um recurso reno-
hídrica, em virtude da possibilidade da aprova- vável, é verdade, se não considerarmos nem a
ção do novo, e piorado, Código Florestal. qualidade nem a escala de tempo. Quem não
Deve ser enfatizado que esse risco já existe, em se lembra das chuvas ácidas?
função de vários fatores, inclusive de dois mitos: Quanto à nossa necessidade crescente de pro-
»» o Brasil tem uma das maiores vazões su- dução de energia, é bom lembrarmos que cerca
perficiais do planeta; de 70% da nossa matriz elétrica é de origem hí-
»» a água é um recurso renovável, pelo ciclo drica. O que significa que o assoreamento dos
hidrológico. corpos d’água compromete a produção, tanto
Desde Pero Vaz de Caminha (“Águas são mui- pela redução da vazão, como pelos prejuízos
tas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, que os sedimentos causam às turbinas. Não por
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por acaso, as empresas geradoras se esforçam para
bem das águas que tem”) acredita-se nessa garantir a proteção no entorno dos reservató-
abundância de água. Entretanto, essa água é rios. Esses esforços, entretanto, não isentam o
desigualmente distribuída pelo território. Há conjunto da sociedade de fazer a sua parte, para
diversas regiões do País, além do Nordeste, garantir nosso suprimento de energia.
que vivem sob estresse hídrico – menos de
Para a agropecuária, a água não é apenas um
1.000 m³/habitante/ano.
recurso natural – é insumo de primeira necessi-
Além disso, quantidade não significa qualidade. dade. Para ilustrar, para a produção de 1 quilo de
Nossas águas estão contaminadas com esgoto arroz, gastam-se 3 mil litros de água; 1 quilo de
doméstico, defensivos agrícolas, fertilizantes, carne de boi, 15.500 litros de água; 1 litro de leite,
insumos e dejetos industriais. Não apenas as mil litros de água. E a implantação de irrigação
águas superficiais, mas também as subterrâ- pode aumentar a produtividade em até 200%.
neas. Considerando a deficiente capacidade de
tratamento das águas e a sinergia entre tantas

334
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Assim, os produtores agrícolas deveriam, a Do ponto de vista das mudanças climáticas,


nosso ver, serem os primeiros a buscar, por a poluição de origem agrícola, além dos efei-
todos os meios, proteger os cursos d’água, as tos diretos sobre a água, também reforçam as
nascentes e as áreas de recarga dos aquífe- emissões tóxicas que contribuem para a polui-
ros. O que vemos, entretanto, são constantes ção atmosférica. E a poluição hídrica por ferti-
agressões aos corpos d’água e tentativas de lizantes nitrogenados aumenta as emissões de
reduzir as medidas legais de proteção, como óxido nitroso, um potente gás de efeito estufa.
as Áreas de Proteção Permanente – APPs. É Assim, peço aos meus pares que reflitam, cui-
quase como rasgar dinheiro; algo incompreen- dadosamente, sobre as consequências das ati-
sível, numa lógica racional. A versão aprovada tudes que tomarmos nesta Casa e o papel que
pelo Senado do Substitutivo ao Código Flores- nos será atribuído pelos nossos descendentes.
tal, na prática, reduz as APPs, o que fará com
O Partido Verde, em articulação com diversos
que a poluição difusa, os defensivos agrícolas,
setores da sociedade civil, está envidando es-
fertilizantes e sedimentos atinjam mais rapi-
forços no sentido de que essas alterações sejam
damente os corpos d’água, contribuindo assim
vetadas por S.Exa. a Presidente Dilma Rousseff.
para a degradação da qualidade da água e o as-
soreamento. Na verdade, degradando a água Peço que o presente pronunciamento seja re-
que o próprio produtor vai usar! gistrado nos Anais desta Casa e divulgado no
programa A Voz do Brasil.
Voltando a Pero Vaz de Caminha, é bom lem-
brar que ele disse: “(...) dar-se-á nela tudo, pelo
bem das águas que tem”. Ou seja, sem água,
nada feito.
No ano em que o Brasil sediará a Conferên-
cia Rio+20, é bom nos lembrarmos de um dos
princípios acordados há 20 anos: que a água é
um recurso limitado e vulnerável, necessário à
vida, ao desenvolvimento e ao meio ambiente.

Rosane Ferreira
335
Sarney Filho

(Código Florestal – Retrocesso) O Sr. Sarney Filho (Bloco/PV-MA. Como Lí-


der. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,
Retrocesso da proposta de criação Sras. e Srs. Deputados, em resposta à afirma-
do novo Código Florestal brasileiro. ção que tenho ouvido aqui muito, no dia de
Adiamento da votação da matéria.
hoje, de que o Código Florestal atua como ini-
Sessão 06/03/2012 bidor do processo produtivo, de que mesmo os
pequenos avanços que vieram do Senado vão
comprometer de forma bastante grave a pro-
dução – já houve inclusive cálculos de litros de
leite que se iria perder –, eu gostaria de acen-
tuar dois dados importante. Hoje, a estrutura
produtiva do País mostra que a agropecuária
ocupa 18,6% do nosso território, ou seja, 158,8
milhões de hectares, enquanto as terras des-
tinadas à produção de lavouras permanentes
e temporárias ocupam cerca de 59,8 milhões
de hectares. Por outro lado, a adoção de ino-
vações tecnológicas na agropecuária, mesmo

337
que em escalas mínimas, poderá contribuir Não. Para beneficiar alguns poucos grandes
para o aumento da produtividade com a con- proprietários, que vão ser os maiores benefi-
sequente liberação de áreas para a produção ciados dessa mudança na legislação. Enquanto
de lavouras. isso, os nossos direitos difusos, que são os direi-
Meus amigos Deputados e Deputadas, aqueles tos da sociedade, e a função socioambiental da
que estão nos vendo e nos ouvindo, na agrope- terra ficam esquecidos, alijados.
cuária uma cabeça de gado consome hoje em É um retrocesso aquilo que se anuncia para a
torno de 1,1 hectare de terra. Essa é a média da votação, que, graças a Deus, não será mais hoje.
nossa pecuária. Temos mais um tempo para pensar. Não deve-
Ora, num cálculo simples, se reduzíssemos, mos aprovar nem aquilo que saiu da Câmara,
por inovações tecnológicas, Deputado Vicen- que é o pior, nem aquilo que saiu do Senado,
tinho, para que fossem duas cabeças de gado que é o menos ruim. Vamos ficar em consonân-
por hectare, só essa inovação daria em torno cia com a nossa sociedade, com as aspirações
de 70 milhões de hectares para a agricultura. da juventude, com as expectativas do mundo,
que deseja um novo tipo de economia, com no-
Então, o que eu quero dizer com isso é que não
vos parâmetros de consumo e de produção.
há ameaça. O Código Florestal atual não amea-
ça a produção, tanto que a produção a cada ano Portanto, temos uma semana a mais para re-
tem aumentado, enquanto o desmatamento fletir. E eu faço um apelo a todos os compa-
tem diminuído. Neste momento, em que nós nheiros e companheiras, Deputados aqui pre-
vamos ter a Rio+20, em que o mundo discute as sentes, para que reflitam, ouçam as suas bases
mudanças climáticas, em que o Acre, por exem- e voltem para cá dizendo que não será neces-
plo, sofre a maior cheia da sua história, em que sário que apequenemos a nossa legislação am-
o clima global visivelmente passa por um desar- biental tão bem-sucedida.
ranjo, nós vamos mexer numa legislação que
está dando certo. Para quê? Para beneficiar a
maioria da população, para beneficiar os lavra-
dores, os camponeses, o pequeno agricultor?

338
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Pronunciamento encaminhado Hoje a estrutura produtiva do País mostra que


pelo Orador a agropecuária ocupa 18,6% do nosso territó-
rio, ou seja 158,8 milhões de hectares, enquan-
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a afir-
to que as terras destinadas à produção de la-
mação de que o Código Florestal vigente atua
vouras permanentes e temporárias chegam a
como um inibidor do processo produtivo, prin-
59,8 milhões de hectares.
cipalmente em função de um eventual desco-
nhecimento do mesmo, é uma grande falácia, Por outro lado, a adoção de inovações tecnoló-
pois desde 1934 o País já se preocupava com gicas na agropecuária, mesmo que em escalas
a proteção de suas florestas. E mais, proibia o mínimas, poderá também contribuir para o au-
corte raso em 25% da área de cada proprieda- mento da produtividade e com a consequente
de, conforme disposto pelo primeiro Código liberação de áreas para a produção de lavouras
Florestal brasileiro que foi estabelecido pelo permanentes e temporárias. Conforme estu-
Decreto n° 23.793, de 23 de janeiro de 1934, e do divulgado pela Sociedade Brasileira para o
posteriormente revogado pela Lei no 4.771, de Progresso da Ciência – SBPC, aumentando-se a
15 de setembro de 1965, que instituiu o Código lotação de 1,0 para 1,5 cabeças por hectare e o
Florestal vigente. desfrute para 30% se manteria o abate anual de
40 milhões de cabeças e se reduziria a área de
Certamente não foi este o motivo da atual re-
pastagem em mais de 70 milhões de hectares,
visão, nem tampouco os eventuais entraves
área maior que a ocupada pela agricultura no
para a expansão do agronegócio.
País. Estes 70 milhões, observado o Zoneamen-
Áreas disponíveis para a expansão do agrone-
to Ecológico e Econômico, também podem ser
gócio existem. Hoje dispomos de dezenas de
disponibilizados para a produção de lavouras.
milhões de hectares de áreas degradadas, os
Assim, verificamos claramente que a expansão
quais se devidamente recuperados poderão vir
do agronegócio não será e não está limitada
a compor a base produtiva do País, observadas
pela falta de áreas para este fim, ou pela legis-
as recomendações emanadas do Zoneamento
lação ambiental vigente. Isto nos leva a uma
Ecológico e Econômico – ZEE.

Sarney Filho
339
reflexão sobre os reais motivos da presente re- ponto de vista da legislação ambiental, como
visão do Código Florestal. condição de concessão de crédito rural, é que
Ora, o Código vigente é de 1965, escrito não se começou esta avassaladora e desleal agres-
por ambientalistas mas por técnicos da agri- são à legislação ambiental.
cultura, que mesmo com um intuito prioritário Entendemos, por conseguinte, que a presente
voltado para a produção, não esqueceram da revisão, foi motivada, única e exclusivamen-
importância de se conservar e preservar o nos- te, por estes motivos, menos nobres, os quais
so patrimônio florestal. Isto ocorreu, portanto, estão, lamentavelmente, ligados aos aspectos
há mais de 45 anos. econômicos e financeiros, e não à pseudone-
Também, estamos a mais de 15 anos do ad- cessidade de ajustes operacionais.
vento da Medida Provisória 1.511, de 1996, que Além desta questão central, obviamente,
ampliou, em especial, os percentuais a serem oportunistas de plantão viram nesta revisão
observados para fins de Reserva Legal de 50% uma forma rápida de se beneficiar também,
para 80%, no caso da Amazônia. materializada nas diversas anistias colocadas
Durante todo este período o Código nunca de maneira sistêmica em todo o texto, resol-
havia sido contestado com tanta veemência, vendo os seus passivos ambientais históricos.
pois, na verdade, nunca representou nenhum Esta percepção do setor ruralista, que dispõe
tipo de empecilho ao desenvolvimento agro- de representantes em diversos partidos e ban-
pecuário do nosso País. cadas, de não se adequar ao arcabouço legal vi-
Apenas, após a edição da Lei de Crimes Am- gente, mas de fazer com que o mesmo atenda
bientais e de seus decretos regulamentares aos seus interesses, também é extremamente
dispondo sobre as infrações e estipulando equivocada e ultrapassada, e certamente vai se
prazos e punições quanto à obrigatoriedade reverter, à curto prazo, em vultosos prejuízos
de se averbar a Reserva Legal, e da Resolução para o setor em termos mercadológicos, para
n° 3.545, de 2008, do Banco Central, estipulan- a Nação e para os recursos ambientais.
do que os imóveis devem estar regulares, do

340
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

O Partido Verde, sempre fiel aos seus compro-


missos, que privilegiam a qualidade de vida para
o homem, por meio do uso racional e sustentá-
vel dos recursos ambientais, estará, mais uma
vez, atento e vigilante, para que tal falácia não
se concretize, inclusive junto à Sra. Presidente
da República, lutando pelo veto, se a proposi-
ção for aprovada no Congresso Nacional.
Assim, à luz de todo exposto, Sr. Presidente,
fica aqui o nosso alerta, buscando corrigir este
equívoco que hoje se contrapõe aos anseios de
proteção do nosso meio ambiente, em benefi-
cio do agronegócio.
Muito obrigado.

Sarney Filho
341
Abelardo Lupion

(Criação do novo Código Florestal brasileiro) O Sr. Abelardo Lupion (DEM-PR. Sem revi-
são do orador.) – Muito obrigado, Sr. Presi-
Criação do novo Código Florestal brasileiro. dente, Sras. e Srs. Parlamentares, hoje vou usar
Sessão 14/03/2012 – DCD 15/03/2012 o meu Grande Expediente para conversar so-
bre o Código Florestal. Existe hoje muita gen-
te satanizando o tema. Há muita gente que,
quando falamos em consolidação, nos acusa
de radicalismo, que estamos aqui tentando fa-
zer com que haja anistia, o que é mentira; es-
tão dizendo que estamos nos preparando para
derrubar a Amazônia, é mentira. Enfim, vou
tentar dirimir algumas dúvidas daqueles que
estão nos ouvindo.
Nós, a Câmara Federal, aprovamos a consoli-
dação das áreas de preservação permanentes
até 22 de julho de 2008 no Código Florestal,
que foi para o Senado. Por que 22 de julho de
2008? Porque a partir daí o Decreto nº 6.514

343
regularizou a Lei dos Crimes Ambientais, que água de 2 metros de largura, terá de recompor
é a Lei nº 9.605. 30 metros na extensão das faixas marginais e
A partir daí, qualquer ato contra o meio am- poderá hipoteticamente produzir em apenas
biente será punido. Sem essa lei não haveria a um quarto da sua propriedade. Ou seja, os 4.2
mínima possibilidade de punição, porque não módulos vão virar um módulo de produção.
estavam regulamentados ainda os crimes am- O outro exemplo são as propriedades que
bientais. Agora, enviamos para o Senado, que cercam as grandes cidades e que produzem
fez algumas modificações boas e algumas de- os hortifrutigranjeiros. Talvez seja a área mais
sastrosas no texto da Câmara. afetada, e são propriedades pequenas. Há pro-
Se me perguntarem se o texto é o ideal para a priedades de 20 mil metros quadrados produ-
produção e para o meio ambiente, eu diria que zindo hortifrutigranjeiros.
é o primeiro passo que estamos dando para Essas propriedades, com dois módulos fiscais
tentar ver qual é o impacto de um Código Flo- cada, se houver um leito de água de 1 metro de
restal na situação da área rural brasileira. largura, serão todas perdidas, 100% perdidas.
Quero mostrar alguns exemplos para cada um Isso em volta das grandes cidades, atingindo
dos senhores. Aos imóveis rurais que possuam aqueles que nos dão o repolho, que nos dão a
as áreas consolidadas em área de preservação alface, que nos dão o mamão.
permanente com largura até 10 metros será Os ribeirinhos do Nordeste e do Norte, e até
admitida a manutenção das atividades agros- do meu Paraná, vão desaparecer e ficar na mais
silvopastoris, desde que haja a recomposição absoluta miséria, pois todos que vivem à beira
de 15 metros das faixas marginais contados das dos rios por questão óbvia de sobrevivência,
bordas do leito regular. com a exigência da recomposição, darão lugar
Agora, quero mostrar o exemplo do que signi- à vegetação.
fica o que veio do Senado. Uma propriedade Gente, o mundo foi aberto pelos rios, o Brasil
com 4.2 módulos fiscais, ou seja, as áreas que foi aberto pelos rios. Nós temos de entender
já estão consolidadas, cortadas por um curso de que o cidadão quando chegava a algum lugar

344
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

fazia a sua casa à beira d’água, a pocilga à beira O texto também não é claro. A metade do rio
d’água e o galinheiro à beira d’água por uma seria para que lado? Aqui se aplicam ou não
questão óbvia, ele precisava puxar água dali. os 30 metros? A insegurança jurídica continua
Nós fizemos um cálculo que mostra que mais imperando.
de 400 mil ribeirinhos serão expulsos das suas Nas encostas ou parte delas, com declividade
áreas. E tem gente que acha que é mais. superior a 45 graus, bordas, tabuleiros, chapa-
Quero agora mostrar a agricultura familiar, das, topo de morros, montes, montanhas, fica
que tinha até quatro módulos fiscais. Uma pro- permitido apenas o pastoreio em vegetação
priedade com quatro módulos cortada por um nativa. Acabou o Vale do Paraíba, em São Pau-
rio de 12 metros terá que recompor as faixas lo! Acabou o leite nas montanhas de Minas
marginais com a metade da largura do rio, na Gerais! O texto é claro: capim nativo. Não
extensão de todo o curso d’água. existe mais capim nativo. Centenas de anos
procurando, a nossa EMBRAPA fazendo pes-
O texto não é claro! A metade da largura do
quisa para nós melhorarmos a produtividade
rio seria para cada lado ou não? O texto não
dos nossos campos, serão perdidos? O adven-
explica isso. O que vai acontecer? Inseguran-
to da brachiaria, do panicum, enfim, isso tudo
ça jurídica. Estamos dando uma arma para
será perdido? A lei é clara.
sermos punidos com ela, porque o texto não
é claro. E nós não podemos mexer, porque foi Outro grande problema. Eu tenho aqui – me
mexido aqui e no Senado. Precisamos resolver acusaram até de estar fazendo uma revolução,
esse assunto. que eu estava sendo radical – a Resolução do
CONAMA nº 303, está aqui na minha mão, que
Uma propriedade com 100 hectares, ou seja,
diz o que é APP. E aqui diz o seguinte:
com dez módulos fiscais, cortada por um cur-
so d’água de 50 metros que tenha produção de “Art. 3º Constitui Área de Preservação
arroz de várzea terá que recompor 25 metros Permanente a área situada:
nas faixas de extensão do curso, perdendo ..........................................................................
toda a sua produção nessa área.

Abelardo Lupion
345
IX – nas restingas: O Sr. Valdir Colatto – V.Exa. me concede um
a) em faixa mínima de 300 metros, me- aparte?
didos a partir da linha de preamar O Sr. Abelardo Lupion – Deputado Colatto,
máxima...;” com muita honra.
Ou seja, quem tem casa, terreno, a 300 metros
O Sr. Valdir Colatto – Deputado Lupion, mui-
do mar, está fora da lei. Só se resolve esse as-
to obrigado pela oportunidade. Parabéns pelo
sunto se consolidarmos o que já existe.
pronunciamento que esclarece ao Brasil o
Toda a primeira quadra de qualquer cidade li- que não vamos votar nesta Casa. Muita gen-
torânea brasileira, inclusive o Rio de Janeiro, te contesta a decisão sábia desta Casa, que
está fora da lei. E se nós não consolidarmos aprovou a Emenda 164, consolidando as áreas
essa excrescência feita pelo CONAMA vai con- urbanas e rurais do Brasil. Por quê? Porque a
tinuar valendo. Isso é uma excrescência! E vai Área de Preservação Permanente, segundo o
continuar valendo. Código Florestal hoje, a Lei nº 4.771 estabele-
Será que nós vamos admitir uma coisa dessa ce que será considerada Área de Preservação
e não fazer a consolidação das APPs? Será que Permanente urbanas e rurais de 30 metros a
nós vamos fazer uma lei olhando no retrovi- 500 metros, topo de morro, encosta, etc. E
sor? Será que nós vamos punir aqueles que, também nas cidades, o rio não para na bei-
no princípio de anterioridade, no princípio do ra das cidades, ele a invade, e ali também há
ato jurídico perfeito, há 50, 60 anos estavam que se fazer a preservação. V.Exa. coloca bem
dentro da lei? Hoje, no ano de 2012, vamos pu- claro esses dados. Só para enriquecer o seu
nir esse cidadão que deixou essa propriedade pronunciamento, quero registrar que, no dia
para os seus herdeiros? É isso que estamos vo- 26 de fevereiro de 2010, o Diário Catarinen-
tando. Não é uma lei apenas, é a vida dos bra- se mostra a autuação de 15 mil residências na
sileiros que nós estamos decidindo no Código Lagoa da Conceição, em Florianópolis. O Mi-
Florestal, inclusive da área urbana. nistério Público autuou todos que moravam
a 30 metros da areia. Aqueles que já estavam
construídos a 30 metros, e aqueles que não

346
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

estavam construídos a 300 metros, como de- Parabéns pelo seu pronunciamento. Nós pre-
termina a Resolução nº 303 do CONAMA, que cisamos que esta Casa conheça esses dados.
V.Exa. está mencionando. Então, é preciso que O Sr. Abelardo Lupion – Obrigado, Deputado
esta Casa saiba que, se nós não votarmos aqui Valdir Colatto.
as áreas consolidadas, estaremos expulsando
O Sr. Domingos Sávio – um aparte, Deputado
não sei quantos milhares de agricultores, mas
Abelardo Lupion?
também milhares de pessoas que moram nas
cidades. O que nós temos de fazer, na verda- O Sr. Abelardo Lupion – Ouço V.Exa., Deputado
de, é um trabalho para prevenir a poluição, o Domingos Sávio, com muita honra.
esgoto que vai direto para os rios, e 60% dos O Sr. Domingos Sávio – Deputado Lupion,
Municípios brasileiros não têm tratamento minhas primeiras palavras são para dar meu
de esgoto. É isso que os países desenvolvidos testemunho de sua luta nesta Casa em de-
fazem: tratar o esgoto e a água, não deixar ir fesa do produtor rural, do trabalhador rural,
para lá e não afastar pouco mais ou pouco me- mas em defesa do que é justo. E, neste caso
nos as pessoas. Hoje nós estamos isolando os especial, V.Exa. foi extremamente feliz de já
rios brasileiros, de 15 metros a 100 metros, e iniciar seu pronunciamento esclarecendo para
aqueles que não foram ocupados de 30 metros o Brasil inteiro as absurdas mentiras que ten-
a 500 metros. Isso é impossível. Para não falar tam colocar na cabeça do cidadão mais incau-
de todo o litoral a 300 metros. Santa Catari- to, menos precavido, fazendo muitas vezes o
na perdeu mais de 3 bilhões de investimentos jogo de colocá-lo contra os Deputados que,
externos de hotéis que não vieram se instalar a exemplo de V.Exa., lutam pelo trabalhador,
no Estado, porque queriam se instalar perto pelo produtor e em defesa do meio ambiente.
da praia. O Deputado Jorginho Mello, que foi Regulamentar o Código Florestal é muito bom
Presidente da Assembleia, sabe disso, e foram para o meio ambiente brasileiro, uma vez que,
embora para Cancun, porque queriam que na nossa regulamentação, não estamos auto-
afastassem 300 metros da praia, mas eles que- rizando sair por aí desmatando como querem
riam construir perto da praia. Esse é o Brasil. dizer. Ao contrário, estamos deixando claros

Abelardo Lupion
347
os limites. Agora, essa matéria que V.Exa. abor- afastar 100 metros da máxima cheia, como se
da mais uma vez e que teve cerca de 400 votos nascesse água em toda a margem de um lago
a favor, neste plenário, e que qualquer cidadão artificial. Na nascente, são 50 metros; na beira
de bom-senso haverá de defender, que é o uso de um lago artificial que já inundou as terras
consolidado, é um princípio fundamental do mais baixas, as terras mais férteis, vêm man-
Direito. Na verdade, nós estamos garantindo o dar afastar 100 metros na máxima cheia? Uma
que a Constituição já garante para evitar a in- aberração! Portanto, nós temos, sim, que vo-
segurança jurídica, para evitar a perseguição, tar o uso consolidado. V.Exa. é um guerreiro
para evitar abarrotar os tribunais no Brasil de nessa causa. O povo do Paraná tem motivo de
causas absurdas, tentando demolir casas, ten- sobra para se orgulhar de V.Exa. No entanto,
tando destruir propriedades, tentando trazer essa causa é de todo o Brasil. Não é uma causa
prejuízos. Aliás, já estão fazendo isso. Alguns de ruralistas contra ambientalistas. Quem se
promotores mais afoitos estão tomando atitu- posiciona assim não é ambientalista, é “am-
des de mandar processar, de punir produtores bientaloide”. Essa é uma causa em defesa do
rurais que ali estão há 2, 3 séculos. Alguém que Brasil, para preservar o meio ambiente, mas
se instalou há mais de 1 século, que construiu respeitando o produtor rural, respeitando
a sua casa, fez a sua plantação, cuidou do meio quem está produzindo e precisa continuar tra-
ambiente, tanto que está lá até hoje, com o balhando. Portanto, o uso consolidado equiva-
córrego fluindo, de repente ouve de alguém le a direito adquirido, direito de trabalhar, de
dizer: “Não, o CONAMA agora disse que é produzir, de manter a sua casinha construída
300 metros afastado da maré mais alta.” En- há séculos, desde a época em que não havia
tão, tem que demolir Copacabana inteira? É energia elétrica, porque o Brasil foi colonizado
lógico que eles não vão demolir Copacabana, na proximidade dos rios e dos córregos. Não
mas vão impedir o desenvolvimento turísti- se pode sair demolindo tudo! Agora, ao apro-
co em outras regiões do País. Assim fez tam- var o uso consolidado, não quer dizer que este-
bém o CONAMA com o entorno dos lagos jamos aprovando desmatamento em beira de
artificiais, dizendo que a produção tem que se córrego e beira de rio. Nada disso. A lei é clara:

348
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

estabelece os limites de APP, respeitam-se os mo direito de qualquer outro cidadão sobre o


limites de APP, mas aquilo que de 2008 para resguardo da Constituição brasileira. Veja só:
trás já estava ocupado tem que ser respeitado. o mundo vive uma situação em que se deve
Parabéns, Deputado Abelardo Lupion! reconhecer a importância do meio ambiente.
O Sr. Abelardo Lupion – Muito obrigado, Eu sou um desses. Eu acho que temos de mu-
Deputado Domingos Sávio. dar o nosso comportamento com relação ao
meio ambiente. O nosso produtor rural, que
Deputado Moreira Mendes, com muita honra,
histórica e tradicionalmente aprendeu a tratar
ouço seu aparte.
o meio ambiente de uma forma, está tendo
O Sr. Moreira Mendes – Deputado Lupion,
agora que mudar seu conceito em relação a
V.Exa. aborda hoje um tema que domina e o
isso. E olha que nós todos estamos fazendo um
trata com muita propriedade. Quero aqui apar-
esforço muito grande. Nessa mudança, de um
teá-lo primeiro para parabenizá-lo por trazer
lado, o produtor tem que dar atenção especial
essa informação e ajudar a esclarecer este Bra-
ao meio ambiente – e ele sabe disso hoje –, de
sil e, sobretudo, a sociedade urbana, desinfor-
outro lado, a sociedade brasileira tem que en-
mada a respeito dessa questão. Lamento pro-
tender a importância do produtor. Quando se
fundamente que os que vivem na cidade não
trata de mudar regras, você tem que estabele-
tenham noção da importância da produção
cer uma transição. O que estamos pedindo na
e do produtor rural. Quero dizer a V.Exa. que
consolidação da área ocupada é exatamente
vivo numa região na Amazônia que, por essa
essa transição. Nós vamos passar de um tem-
questão da consolidação das áreas ocupadas,
po que podia ocupar, e elas foram ocupadas,
das APPs, vai ser a região mais prejudicada do
como disse meu antecessor, há 100, 200, 300
País. Aliás, não tem sido diferente nessa ques-
anos, e agora estão querendo que ele saia de
tão de meio ambiente. Estão colocando uma
lá, como se nada houvesse acontecido. Isso é
redoma de vidro em cima da Amazônia, como
um crime de lesa-pátria, é um estelionato que
se aquilo fosse algo intocável, esquecendo os
se comete contra essas pessoas. Portanto, eu
quase 25 milhões – vou repetir: 25 milhões –
quero lhe parabenizar e dizer que, nesta luta
de brasileiros que vivem lá, que têm o mes-
Abelardo Lupion
349
da consolidação das áreas ocupadas em APP, fazendo uma propaganda antibrasileira, e a mí-
sem avançar um único milímetro para um lado dia está dizendo que nós estamos destruindo a
nem para outro, aquilo que está ocupado na Amazônia, que nós estamos plantando soja na
produção deve continuar na produção. Obri- Amazônia, que nós estamos produzindo cana
gado pelo aparte. na Amazônia. Mentira! Temos 60% do Brasil
O Sr. Abelardo Lupion – Eu gostaria de mos- preservado em matas e vegetação nativa. Pro-
trar a cada um dos senhores aqui também, duzimos em apenas 270 milhões de hectares.
Deputado Inocêncio Oliveira, nosso Líder, pro- Desses 270 milhões, num ufanismo, a Ministra
dutor rural e nelorista, que muito nos honra na me disse que vai tirar da área de produção 33
classe, que houve uma publicação americana milhões de hectares. Nós vamos comer, expor-
infeliz, é verdade, de todas as entidades ame- tar e fazer o quê? Trinta e três milhões de hec-
ricanas, inclusive a Associação Americana de tares da área produtiva do Brasil, o que já mexe
Produtores de Soja, a American Soybean As- com pouco mais de 30% do Brasil.
sociation, que é a maior entidade dos Estados Gente, temos que ter responsabilidade. Não
Unidos, tem 27 Parlamentares eleitos por ela, podemos dizer mentira. Agora fizeram a tal da
que diz o seguinte (isso é uma tradução jura- pitonisa da Rio+20, que vai fazer as denúncias
mentada feita pelo Deputado Bernardo): “Fa- mundiais a respeito do que estão fazendo no
zendas aqui, florestas lá.” Diz ainda que os Esta- Brasil. É bom que faça, porque nós, da bancada
dos Unidos têm que segurar o Brasil, senão eles da agricultura, estaremos lá, todos os dias, para
perdem a competitividade no mundo, têm que defender este País. Nós, da Frente Parlamentar
deixar o Brasil só com florestas, não podem, sob da Agricultura e da Pecuária, estaremos lá com
hipótese nenhuma, dar moleza para o Brasil. um estande para mostrar a realidade.
O que significa? Eles, americanos e europeus, O código que nós fizemos, que nós estabele-
estão jogando pesado e bancando essas ONGs. cemos na volta do Senado, Deputado Inocên-
O que nos deixa irritados é que há gente den- cio, foi revisado por 20 cientistas, muitos da
tro desta Casa a serviço dessas ONGs. Estão própria EMBRAPA, e mostrou exatamente a
inviabilizando regiões inteiras neste País, estão realidade. Não foi feito politicamente; foi feito

350
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

cientificamente, tecnicamente. A partir dali é ele sai de São Paulo, vira um lixo a céu aberto,
que nós estamos trabalhando. esgoto a céu aberto.
O que nós estamos tentando mostrar para o Precisamos conscientizar o Brasil inteiro da
Brasil é que precisamos, sim, preservar. Agora, necessidade de preservarmos a água.
precisamos, antes de tudo, produzir comida. É Agora, esse desafio não é destruindo ninguém.
a agricultura e a pecuária que sustentam este
Uma coisa que eu queria falar, para concluir
País, que dão superávit primário, que fizeram
meu raciocínio, é que lei se faz daqui para a
com que o Brasil fechasse suas contas no azul.
frente. Lei não pode reverter contra o cidadão.
Agora chegou o momento da verdade. Não po-
O princípio do direito adquirido, o princípio
demos inviabilizar a produção.
da anterioridade, o princípio do ato jurídico
Há uma coisa que me deixa muito chateado: perfeito tem que ser preservado, tem que ser
não existe cidade brasileira que tenha 100% de respeitado pela própria Constituição, Carta
canalização do seu esgoto doméstico. Magna do País.
A minha cidade Curitiba, conhecida como a Não temos o direito de não consolidar o que já
capital verde do País, a capital ecológica, joga foi feito no País, não temos o direito de legislar
muito do seu lixo doméstico no Rio Iguaçu e para o passado, não temos o direito de punir
mata o Rio Iguaçu quando passa por Curitiba. aqueles que já se foram e não temos o direito
Precisamos, sim, conscientizar as áreas urba- de fazer uma lei olhando pelo retrovisor. Nós
nas de que é preciso investimento em sanea- temos, sim, que fazer leis, mas fazê-las daqui
mento. É preciso investimento para que não para a frente, dando norte à nossa população,
poluamos os rios. ao nosso produtor rural, para onde ele deve
Por exemplo, os paulistas. Onde nasce o Rio seguir, nunca penalizando aquele que alimen-
Tietê, ele é piscoso, bonito, é um rio com muita ta o País, aquele que dá condições ao cidadão
vida. Quando ele chega em São Paulo, ele con- urbano, às vezes, esses homens de ONGs, de
tinua bonito, piscoso. Agora, na hora em que falar mal do produtor rural, mas com a barriga
cheia, graças ao trabalho do produtor rural.

Abelardo Lupion
351
O Sr. Newton Cardoso – Deputado, só 1 se- Estamos solidários com V.Exa., para darmos ao
gundo. País um presente: o novo Código Florestal.
O Sr. Abelardo Lupion – Pois não, Deputado O Sr. Abelardo Lupion – Muito obrigado,
Newton Cardoso. Deputado Newton Cardoso.
O Sr. Newton Cardoso – Em aditamento às Eu queria, nesse meu último minuto, Deputado
suas palavras, Deputado Abelardo Lupion, Inocêncio, para não atrapalhar o pronuncia-
esse documento juramentado não é segredo mento dos companheiros, concitar a Casa a
para ninguém, não nos Estados Unidos. É um ler – está no site do Deputado Paulo Piau – o
documento de defesa do povo norte-america- que nós estamos imaginando fazer. É uma coi-
no, contra o Brasil. Evidentemente, neste País sa racional, científica.
quem manda não somos nós, os ruralistas, Consolidando este País, podemos começar
não, mas meia dúzia de Deputados do Partido vida nova. Nós podemos, sim, tratar do futuro.
Verde, infelizmente, contra 300 Deputados da E precisamos, desesperadamente, que seja vo-
bancada ruralista. Esse pessoal não conhece tado o Código Florestal.
cebola, alho, leite, vaca, boi; não sabe da ori-
Já fechamos com 13 partidos da Casa para votar
gem do homem da roça, como nós somos. Por
na semana que vem. Queremos concluir o Códi-
tudo isso a nossa Presidente precisa atentar
go Florestal para que possamos voltar a traba-
para um fato gravíssimo: ela não pode votar a
lhar, dar segurança jurídica ao nosso produtor
proposta do Senado. Já avançamos muito nas
rural e poder fazer um Brasil maior ainda.
áreas consolidadas. Precisamos ter coragem
nesta Casa, e para isso estamos unidos. O Muito obrigado, Deputado Inocêncio.
PMDB, por unanimidade, é contra o parecer do
nosso colega Deputado Paulo Piau, que que-
ria, por A mais B, votar a proposta do Senado.
Os partidos políticos, todos eles, estão unidos
para dar a esta Casa uma prova de força, de
coragem e de respeito ao homem do campo.

352
Henrique
Eduardo Alves

(Posicionamento do PMDB na O Sr. Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN.


votação do Código Florestal) Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, Brasil
que nos assiste nesta hora, gostaria de come-
çar, como Líder do PMDB, a relembrar uma tar-
de/noite como esta, no ano passado, quando
esta Casa, a principal responsável pela cons-
trução do Código Florestal Brasileiro, fez aqui
uma votação inesquecível e emocionante. De-
bate, polêmica fazem parte do jogo parlamen-
tar e democrático.
O tempo passou. A matéria foi ao Senado. Lá,
reconheço de público a melhoria, o avanço, a
qualificação que os Senadores ilustres empres-
taram ao texto nascido nesta Casa. Eis que che-
ga para a palavra final a quem deveria dá‑la mes-
mo, que somos nós da Câmara dos Deputados.

353
Então, primeiro, reconhecimento neste novo sofrido, mas amadurecido, e tantas vezes in-
momento que estamos vivendo aqui e agora. compreendido, mas profundamente honrado –,
É preciso declarar que, se da outra vez eu fiz e que, em nome da minha bancada, em nome do
disse diferente, agora eu faço questão de afir- PMDB, dos 78 Deputados que compõem o Par-
mar que nesta fase o nosso Governo, o Gover- tido, os 76 presentes nesta Casa são favoráveis
no que eu apoio, da Presidenta Dilma Rousseff, ao relatório do Deputado Paulo Piau. (Palmas.)
respeitou integralmente a posição de cada Par- Deputado Paulo Piau, V.Exa. nos honrou pro-
lamentar, de cada bancada e de cada partido. fundamente.
Eu posso dar o testemunho que, em momento As questões que aqui se discutem são de viés
algum – a Presidenta, nem se fala! –, nenhum puramente ideológico, do ponto de vista ra-
dos Ministros pressionou, exigiu; ao contrário, dical. E vou dar bom exemplo em relação os
respeitou e dialogou, apenas, como é dever do apicuns e salgados, um dos itens melhorados
Governo nas questões técnicas necessárias e do Deputado Paulo Piau. Querer considerar
respeitosas. apicuns e manguezais como se houvesse entre
Portanto, deixo logo claros aqui o meu agra- eles conflitos, um degenerando o outro, é uma
decimento e meu respeito à posição do meu falácia. No meu Estado, por exemplo – dados
Governo, respeitosa, em relação a esse tema. do próprio IBAMA –, há 40 anos existe a carci-
E até acrescento a participação importante do nicultura, a criação de camarões em cativeiro.
Ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, do Há 40 anos! Nos últimos 25 anos os mangue-
meu partido, que ajudou em todo esse proces- zais do meu Estado cresceram 20% – houve
so; da Ministra do Meio Ambiente, Izabella Tei- crescimento –, mostrando que a carcinicultura
xeira, que ajudou, sim, a construir quase 95%, não atinge, não prejudica. Portanto, os man-
num consenso, desse texto. guezais é que temos que respeitar.
Agora, quando chegamos a este ponto, chega a Em relação à questão mais fundamental, ainda:
hora final. E de novo aqui, em nome do PMDB, dos pequenos agricultores em curso d’água, das
eu quero declarar ao Brasil, antes da votação – APPs, que se tornam a principal bandeira dessa
nestas horas decisivas para o partido, que tem proposta, que foi de Aldo Rebelo e agora é de

354
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Paulo Piau. São 3 milhões e 600 mil pequenos Governo e Oposição. Eu não quero sair daqui –
agricultores que esse Código Florestal deve nem pensar! – com a consciência de que teria
proteger. Querem que ele os criminalize, como derrotado o meu Governo, não porque nós so-
se fossem bandidos, marginais. Quem não se mos Governo.
lembra da campanha Plante, que o Governo Ga- O Governo é ambientalista? É. Mas é ruralista,
rante? O Governo mandando o homem plantar, é pecuarista e soma as tendências. Se há um
à época sem crédito, sem tecnologia, sem ma- país que respeita o meio ambiente e a nature-
quinário, com seu suor, com suas mãos, que foi za de maneira exemplar é o nosso Brasil.
à beira dos rios para fugir da seca, para evitar ir
Nós queremos também que este mesmo Bra-
para as cidades, abandonados à marginalidade,
sil, que é orgulhoso, exuberante na sua produ-
debaixo dos viadutos. Eles foram para a terra
tividade, na sua produção agrícola, some esses
buscar a sua sobrevivência, o seu direito, o seu
dois instrumentos que nos orgulham na for-
presente, o futuro da sua família.
matação desse Código Florestal.
Pois são essas pequenas famílias, são esses
Deixo aqui, Sr. Presidente, essas palavras, ab-
pequenos agricultores que nós queremos, não
solutamente consciente. Nesta Casa, há 40
proteger, muito menos anistiar, mas respeitar.
anos, esta é uma das matérias mais impor-
Se Deus quiser, nesses dois exemplos, espero
tantes que se vota. Não é apenas o votar, é o
que esta Casa, mais uma vez, confirme o voto
criar projeto parlamentar; nasceu daqui, uma
que já deu, afirmando nesta hora o respeito a
Casa tão agredida, tão injustiçada. Espero que
todos os contrários. O bonito dessa democra-
amanhã haja o reconhecimento do Brasil que o
cia é isso. O importante desta Casa – e só ela
Parlamento brasileiro fez, criou, debateu, dis-
tem – é isto: na hora da dúvida, do questiona-
cutiu, aprovou e venceu um Código Florestal,
mento e do embate prevalece o convencimen-
que esta noite vamos votar.
to e, ao final, prevalece o voto.
Ao encerrar, Sr. Presidente, duas palavras
Nesta hora, rendo respeito às bancadas da
apenas, homenagens que tenho que prestar.
Oposição, que, em todo momento, souberam
Em primeiro lugar, ao Vice-Presidente Michel
separar essa questão. Não é uma questão de

Henrique Eduardo Alves


355
Temer. Foi ele que, sentado nesta cadeira, Sr. digo: Moacir Micheletto. Quis o destino e Deus
Presidente, criou a Comissão Especial para que hoje ele não estivesse mais aqui. Sei que ele
analisar uma proposta há 7 anos envergonha- está num bom lugar a nos olhar e a nos abenço-
damente adormecida nesta Casa. ar. É a palavra de homenagem que lhe presto.
Em segundo lugar, uma homenagem a V.Exa., Quero pedir a esta Casa uma homenagem, que
Presidente Marco Maia. Eu e esta Casa toda sa- não seja apenas minha, nem do meu partido,
bemos da coragem, da sensibilidade que V.Exa. pela sua história, pela sua vida, pela sua atua-
teve que ter para esta sessão estar acontecen- ção, pela sua formação democrática, pelo Có-
do nesta noite. V.Exa. não adotou nem postura digo Florestal. Peço a esta Casa uma homena-
de Governo nem de agradar a Oposição, V.Exa. gem não silenciosa, mas uma salva de palmas a
teve a postura de Presidente do Parlamen- Moacir Micheletto, um dos grandes lutadores
to brasileiro. Eu quero aplaudi-lo, Presidente deste projeto. (Palmas.)
Marco Maia, por sua atitude. (Palmas.) Era isso, Sr. Presidente. Agora é cada um cum-
A terceira homenagem que presto é a Aldo prir o seu dever.
Rebelo. Não podemos nos esquecer dele. Hoje Ao meu colega Jilmar Tatto, Líder do PT:
não está aqui, é Ministro de Estado, mas foi Deputado Tatto, meu querido Líder, compre-
com ele que esta história começou. Foi ele endo exatamente a sua posição e a da sua
quem andou por todo o Brasil, cidade por cida- bancada, mas um partido democrático como o
de, de ribeira a ribeira, de beira de rio a beira PT, nessa história, há de compreender que, no
de rio, em propriedades pequenas, grandes, embate, na discussão, não se vence nem se im-
médias. Ao meu querido Aldo Rebelo a home- pondo, nem se ameaçando, nem se enganan-
nagem desta Casa; esta vitória vai ser sua tam- do, nem se iludindo.
bém, se Deus quiser. (Palmas.)
Esta é a hora da verdade do Brasil que nos vê
E a última, a derradeira, até emocional porque e que nos ouve. Esta é a hora de radicalismo
saudosa, a um Deputado que parece que estou fora. Esta é a hora do bom senso, do Brasil real.
vendo ali olhando para mim, de frente, de cabe- Esta é a hora da vitória do Código Florestal, se
ça erguida, um lutador obstinado por este Có-

356
Preservação ambiental, um discurso de todos
da Eco 92 à Rio+20

Deus quiser, para uma maioria contundente,


emocionada, consciente, valorizando o Poder
Legislativo e a atividade parlamentar.
Vamos à nossa vitória, se Deus quiser.
Muito obrigado. (Palmas.)
O Sr. Presidente (Marco Maia) – Obrigado ao
Deputado Henrique Eduardo Alves.

Henrique Eduardo Alves


357
A o se deparar com esta co-
letânea, o leitor poderá
perceber a seriedade como a
E sta coletânea reúne discur-
sos proferidos na Câmara
dos Deputados que abordam
Câmara dos
questão ambiental é tratada Deputados temas referentes ao meio am-
na Câmara dos Deputados, biente desde a Conferência
em Brasília. É bom ressaltar das Nações Unidas sobre o
que não estamos falando ape- Meio Ambiente e o Desenvol-
nas de discursos no Plenário vimento (CNUMAD), realizada

Preservação Ambiental, um discurso de todos


Ulysses Guimarães. entre 3 e 14 de junho de 1992
Ao longo desse período, foram no Rio de Janeiro – também
...“É consagrador o testemunho da ONU de que nenhuma
realizadas também diversas conhecida como Eco 92, Rio 92,
outra Carta no mundo tenha dedicado mais espaço ao Cúpula ou Cimeira da Terra –
audiências públicas, com a
participação dos principais es- meio ambiente do que a que vamos promulgar....” até as vésperas da Conferên-
pecialistas em meio ambiente cia das Nações Unidas sobre
do país, notadamente na Co- Desenvolvimento Sustentável,
missão da Amazônia, Integra- a Rio+20, que será realizada

da Eco 92 à Rio+20
Deputado Ulysses Guimarães
ção Nacional e de Desenvol- entre 20 e 22 de junho de 2012,
Presidente da Assembleia Nacional Constituinte
vimento Regional – CAINDR, também no Rio de Janeiro.
Em 5 de outubro de 1988, quando da promulgação da atual Carta Magna
na Comissão de Agricultura, São 62 discursos transcritos na
Pecuária, Abastecimento e íntegra, que procuram abordar
Desenvolvimento Rural – os principais temas tratados

Preservação
CAPADR, e na Comissão de durante e também entre os

Obras Comemorativas | Homenagem | 04


Meio Ambiente e Desenvolvi- dois eventos.
mento Sustentável – CMADS.

Ambiental,
Pesquisa realizada no Portal
Assim como os discursos, es- da Câmara dos Deputados na
ses conteúdos também pode- Internet (www.camara.gov.br)
rão ser consultados no ende- revelou que foram pronuncia-
reço: http://www2.camara. dos 6.801 discursos, entre 1991
gov.br/deputados/discursos- um discurso de todos e 2012, sobre os temas: Meio
e-notas-taquigraficas Ambiente, Mudanças Climá-
da Eco 92 à Rio+20 ticas, Preservação de Flores-
tas, Agenda 21 e Protocolo de
Kyoto.

Conheça outros títulos da Edições Câmara no portal da Câmara dos Deputados:


www2.camara.gov.br/documentos-e-pesquisa/publicacoes/edicoes Brasília | 2012

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