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JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL
1 INTRODUÇÃO
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Mestrando em Direito no Centro Universitário FG (UniFG). Especialista em Docência do Ensino
Superior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Especialista em História Social do
Trabalho pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Graduado em Pedagogia e
História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e em Direito pela Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB).
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inserção no mundo republicano não será diferente, pois as camadas sociais
mais abastadas é que conduzirão o país aos novos caminhos políticos, mas os
caminhos sociais e econômicos permanecem os mesmos, em que pese o fim
da escravidão, que se deu mais por uma necessidade do sistema capitalista
que aqui impera do que por questões humanitárias. Esta realidade só faz
aumentar o fosso sempre enorme entre pobres e ricos no Brasil. As
desigualdades sociais são uma constante em toda a sua história, onde o
Estado sempre teve um papel central, seja no período colonial, com as amarras
da metrópole portuguesa, seja no Império, com o centralismo dos Imperadores
que defendiam os interesses de uma elite agrária, seja no período republicano,
onde as estruturas do Estado se mantém imutáveis. É nesse quadro político,
econômico e social bastante atual que reside o problema em estudo.
Os esforços constitucionais de inserção de direitos sociais no Brasil se
deram a partir dos movimentos constitucionais da convulsão política de 1930 ,
que resultou na segunda e breve Constituição da República de 1934. De
inspiração francamente weimariana, promoviam uma série de princípios que
“[...] faziam ressaltar o aspecto social, sem dúvida grandemente descurado
pelas Constituições precedentes.” (BONAVIDES, 2017, p. 374). Foi um longo
período de idas e vindas no Brasil que durou aproximadamente 50 anos (1934 -
1988), onde tivemos grandes convulsões políticas, intimamente ligadas às
convulsões econômicas e sociais que as acompanhavam: revoluções, suicídio
e impeachment de Presidentes, golpes de Estado etc. (BONAVIDES, 2017,
375).
Em meio à instabilidade, os direitos sociais sempre estiveram na
berlinda,
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Alguns teóricos já apontam para o surgimento de uma quarta dimensão (v.g., direito à democracia) e
quinta dimensão (v.g., direito á paz) e até de sexta dimensão de direitos (v. g., direito a água potável).
Estes temas não serão trazidos à baila neste breve estudo por ultrapassarem o seu objetivo.
No dia 13, de manhã, os sinos soaram a rebate em Paris. Artesãos e
jornaleiros, operários e pequenos comerciantes, mulheres e velhos
armados de punhal, de pistolas, de machado s, de pedras, precipitam-
se pelas ruas. Sob a pressão da turba desvairada , as tropas recuam
de bairro em bairro. [...] A insurreição armada estende -se e se avulta.
À noite, a maior parte da Capital está nas mãos do povo amotinado.
(MANFRED, 1965, p. 70).
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A este respeito teceremos maiores comentários ao longo desse trabalho.
funcionando aquele “[...]tão-somente, na imagem sempre referida, como um
algodão entre os cristais (os indivíduos).” (GALDINO, 2005, p. 153).
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Exemplo paradigmático da interpretação extensiva e que posiciona os direitos sociais além da mera
esfera programática é a do parágrafo 1º do artigo 5º da Constituição Federal de 1988, que diz, ipsis
litteris: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.” Há,
porém, divergências doutrinárias acerca de serem os direitos sociais direitos subjetivos na mesma
condição jurídica que os direitos de liberdade. (Grifos meu).
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Emenda Constitucional nº 26, de 2000.
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Emenda Constitucional nº 64, de 2010.
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Emenda Constitucional nº 90, de 2015.
todos direitos trabalhistas inerentes a esses. É de se destacar também a extensão
dos direitos trabalhistas aos trabalhadores domésticos 8, que antes tinham direitos
trabalhistas mínimos. Os artigos 8º, 9º, 10 e 11, trazem uma série de direitos
relacionados à sindicalização ou associação profissional, direito de greve,
participação dos trabalhadores nas discussões e deliberações que lhes digam
respeito e representação dos trabalhadores junto aos empregadores. 9
4 O NEOLIBERISMO
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Emenda constitucional nº 72, de 2013
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Não é objeto desse trabalho discutir as modificações do mundo do trabalho no Brasil perpetradas pela
Lei 13.467/2017, conhecida como reforma trabalhista, que promoveu uma série de alterações nas
relações de trabalho vigentes, sendo inclusive muito debatida a sua constitucionalidade.
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Teoria econômica idealizada por John Maynard Keynes durante a crise econômica dos EUA em
1929. Defendia a intervenção direta do Estado na economia, a redução dos juros, a busca pelo pleno
emprego e a efetivação de benefícios sociais para a população mais pobre.
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Série de programas implementados nos Estados Unidos da América, após a crise econômica de
1929, com o intuito de recuperar a economia.
do dinheiro, porém parco em todos os gastos sociais e nas intervenções
econômicas.” (ANDERSON, 1995, p. 2).
Observa-se que o neoliberalismo proposto tinha uma outra defesa: a luta
contra os sindicatos. Para tanto, defendia a manutenção de uma elevada taxa
de desemprego, formando assim um exército de mão-de-obra reserva,
objetivando com isso enfraquecer a luta dos trabalhadores, esvaziando seus
sindicatos representativos.
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Primeiro Presidente eleito pelo povo após o regime militar, Collor de Melo sofre um processo de
impeachment, motivado por denúncias de corrupção, no episódio que ficou conhecido como esquema
Collor-PC Farias. O Presidente renunciou ao cargo e foi condenado à perda dos direitos políticos por
oito anos. Atualmente, é Senador da República.
A realidade concreta demonstra empiricamente que a solidez dos direitos
sociais no Brasil ainda é um dever-ser. Na verdade, em uma análise mais acurada, os
direitos fundamentais no Brasil, inclusive os de primeira dimensão, aqueles das
liberdades individuais, ainda aponta para o fato concreto de que toda a normatividade
e institucionalização dos direitos, elevados á categoria de constitucionais, só
demonstra e confirma a “questão da impotência do dever-ser [...]”(HABERMAS, 1997,
p. 83), quando confrontados com a realidade.
O espírito social da Constituição de 1988 fica ameaçado, principalmente com o
rearranjo da economia a partir dos anos 1990, quando o ideário neoliberal passa a
vigorar no País, impactando sobremaneira a política social com a trajetória de
diminuição do Estado. Desse modo, com a identificação do Estado brasileiro ao
ideário neoliberal, ocorre uma inversão de valores que será extremamente prejudicial
à efetividade dos direitos sociais. As políticas sociais e de interesse geral, antes
reguladas por governos e parlamentos eleitos democraticamente, passam a ser
reguladas pelo mercado que, obviamente, não visam o bem estar geral da população,
mas a maximização dos seus lucros. (FERRAJOLI, 2013, p. 388).
O ajustamento do País aos ditames do neoliberalismo, assolado que estava por
problemas econômicos, leva a diversas propostas de emendas à Constituição que, de
uma forma ou de outra, reduzem todo o aparato normativo que garantia o
financiamento e, portanto, a efetividade dos direitos sociais. Essas emendas deixam
claro o embate entre dois aspectos: de um lado, a estabilização da economia, que se
daria através do chamado tripé macroeconômico, qual seja, a estabilização monetária,
um câmbio flutuante e a estabilização da dívida pública; do outro lado,
antagonicamente, estão o Estado de bem estar que a constituição idealiza e almeja,
através das garantias dos direitos sociais.
Nesse cenário, a tensão entre estabilidade econômica e efetividade dos direitos
sociais tem sido uma constante no Brasil. (PINTO, 2019, p. 4474). Dessa tensão,
constata-se que a alegada escassez de recursos tem sido limite fático intransponível
para a efetividade dos direitos sociais, ficando ela vinculada à reserva do possível.
Dessa maneira, em que pese os conteúdos compromissórios da Constituição
brasileira, observa-se que o catálogo de direitos sociais ainda é um simulacro,
solapado que é por um dos predadores do direito, do qual não consegue se livrar, que
são os condicionantes da economia. (STRECK, 2014, p. 284).
5 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2004.
GALDINO, Flávio. Introdução à teoria dos custos dos direitos: direitos não
nascem em árvore. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2005.