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TÍTULO DO TEXTO

Capricorniano; Autotradução; Porto; Nascicídio; Convocação; Almas Conjuntas; Miopia.


ESTILO (CRÔNICA, POESIA, ARTIGO, ETC.)

Poesia.

NOME DO AUTOR E CONTATOS (TELEFONE, EMAIL, FACEBOOK)

Gabriela Silva de Sena.


(86) 998676734
engabizada@gmail.com
Facebook: Gabi Senna.

Texto.
Capricorniano.

Querido diário,
O amor passou na minha rua!
Bêbada, despida, sincera, alma nua
O que se segue, nada mais é que uma tentativa
Eu a fuçar um motivo pra isso
Uma explicação, uma justificativa
O que é compreensível
Quando se descobre aquele riso
Ou quando ele pende a cabeça pro lado
Como quem ouve um bom conselho
Atencioso, atento, atentado
Fria brisa, por dentro de repente gelado
Perco a concentração pro suor frio
Cada milímetro de pele; percebo
Acasacando teu peito e imagino
A mim, do teu lado, se te vejo
Deve ser minha sina esperar por ti
Quieta, paciente; fazer da espera desejo
Sou farol! De longe vagueio em você aqui
Num futuro próximo, calor de beijo
Mas não adianta! O que desejo mesmo
É que me fizesse de baú, me contasse teus segredos
Porque tá foda aqui do escuro
Me olha no olho, me entrega teus medos
Não precisa ser assim impessoal, tão duro
Eu sei que não quer que eu sofra
Não precisamos desse amor culto
Tu riu, vi de relance. Perdi o foco

Porra...

É que na verdade te ter não é o filme de romance


Descrito por mim em poesia
Eterna dúvida, me canso, TALVEZ te alcance
Você perto é isso: esperança e agonia
Porque todo esse mistério que te circunda
Me aguça; é, parece meio clichê
Nós no sábado, eu domingo, outra segunda
Pelo menos ainda posso pensar em te querer
Reli os versos, pareceu meio exagerado, admito
Só que é tão difícil. Às vezes me sinto morta
Deito pra relaxar mas, mano, eu frito
E o que tão somente me conforta
É sentir que posso ir além
Adentrando no caótico mundo que tu é
Me apaixonar pela tua história também
Aprendiz de ti, construindo a mulher
Que sonhei em ser
Vestida de argumentos, amante do que é belo
Olhar pro lado, poder te ver
Finalmente ter tudo o que quero
Então... vamos nos desfazer desse desespero!
Não tem essa de vaidade, de capricho
Nossa confusão é parecida, isso eu já entendo
Mas sinto
Que contigo eu consigo
Sol em capricórnio, já me preocupo
Pensa só, mas com cuidado
Mesmo assim não te culpo
A vida ensina a olhar pelo outro lado
Desconfiado, não sei se está confortável
Ou quer que eu vá embora
Às vezes, penso: será que é viável
Eu simplismente abrir a porra dessa porta
Aos gritos te declamar esse poema
Só que lembro que agora não sei sobre você
De mim 'cê sabe que sou problema
Talvez seja isso que me afaste de te ter
Espero ter dito tudo mesmo absurdo
Me noto mais leve, precisava do desabafo
Faço o bem, espero que o destino seja justo
Que esses versos soltos te traga pro meu lado
Claro que gostaria de te entregar em mãos
Minha confissão
Sem ter que te deixar se perguntar
Se é pra ti mesmo ou é viagem
E mesmo que a resposta seja não
Já valeu sentir a adrenalina, de verdade
Foi tipo roubar um cone
Enfim, tô indo, esfriou o meu café
Tá na cara, mas pra não expor teu nome
Termino a rima com uma palavra qualquer
-
Autotradução.

Tudo bem. Tá ok.


Eu posso culpar minhas esquisitices
Você diz que frieza combina muito comigo
Duvido, debato, é que sou de aquário...
Mas não vai nessa de signo
Eu mesma posso me apresentar
Também posso me matar pra te impressionar
Já disseram que atrai essa distância
Outros dizem que o mistério confunde
Sem muito grude, pra mim é invasão
Quando reparam que não, se vão
Tudo em vão, fico no chão
Semana que vem me apaixono pela vida
E fica tudo bem feito domingo em Parnaíba

Acredito que a busca é que faz o amor


Te dou uma vida pra adivinhar o resto
Você já sabe que eu me detesto
Ah, o amor... O amor. Amortecedor...
Que seja feita a minha vontade, amém
O jeito é escrever meu manifesto
É, eu não me recomendaria pra saúde de alguém.

Eu amo o som do saxofone


Não sinto assim tanta fome
Confio nos gatos
Talvez mais do que deveria
Poucos contatos, nem contagia
Sou filha, irmã e tia
É como me sinto melhor
Uma nota desafinada num forró
Imperceptível... Camaleoa
Cerveja não, traz um vinho
Eu não reclamo, eu adivinho
Minha vida é uma gangorra
Em cima, embaixo. De lá pra cá
Não preciso gritar
Meu tom de voz é alto se eu quiser
Já fui vadia, já andei na linha
Tive inveja da autoridade do Zé
Hoje me entendo bem mais como mulher
Gabriela pra mim parece pesado
Prefiro Gabi, é mais confortável
Gosto de perder tempo
Acho que os poemas precisam de rimas
Compasso violento mas eu tento
Traduzir as sensações minhas.

Nascicídio.
eu sou nada
absolutamente nada
ao meu redor vejo carne
que eu vejo apodrecer
eu não me importo
e ao redor do pôdre
outros nadas
em suas grandezas várias
esperanças deitadas
amargo, entro num frio conflito
o clima tenso
eu penso se morro ou se fico
grito na alma na pele arrepio
e pra você pode parecer que
morte não é um bom produto
na equação nada mais nada
contudo, não valeria o esforço e
nesse breve devaneio que me permito
eu posso falar de rostos que toquei
afago no gato, a tua boca que beijei
dos risos dados e outras coisas que não sei
não viveria! porque não vale a luta
só que nada sou e nada serei
numa dimensão maior que sua, talvez
de um jeito que
quando me reduzo aos detalhes
um manejo errado da palavra
gestos simples, feridas tão fundas
ataques diretos na psique humana
eu me perco mais, crio um conflito
tenho memórias confusas
hoje não sei o que dói
se me destroi, já sou ruína
indecisa se morro ou se fico
facas, cordas, carros na estrada
observo desencapado o fio
e tudo parece
e tudo parece ter potencial
pra um grito da minha alma
e eu não evito
aprendi a não adiar o
inevitável. lastimável, é...
de repente enxergo
no fim um jardim
num abraço e abraça
o nada que habita em mim
me abarca florindo
gestos bonitos vindos tão fácil
mas ainda flores num vaso
brilho fadado ao apagar
ao nada, ao acabar, ao fim
porque somos todos nadas
procurando jardins de amores assim
preenchendo nadas de mim.

Convocação.

Perceba seu lugar na luta


Na luta cabem saltos e túnicas
Cabem donas de casa e as putas
Leitoras assíduas e as que vão pra missa
As que preferem chá, as que em tudo veem malícia
Mulheres, povoem o mundo!
Saiam do poço profundo da submissão
Ouça rap, ouça um forrozão!
Dançe até o dia amanhecer, dança até o chão
Que mal faria se você se entender
Bem melhor com uma mulher?
Se as curvas dela te atraem mais que todos os músculos desfilados?
Errado é passar vontade, caralho!
Nunca se sinta deslocada, se sinta abraçada
Faça pra si, busque o prazer
Confia em si, procura aprender
Num trago, num gozo, num lugar novo

Saiba das dores da maternidade


O violento processo de perpetuação
Da nossa espécie, é o sonho da sociedade
O capitalismo brinca com a nossa noção
A TV constrói um cenário de delícias
A maior violência contra a vida da mulher de verdade
É chamada violência obstetrícia
Essa é a nossa realidade
Não sou menos mulher sem filhos
Saúdo às mães que trilham seu caminho
Não deixem que o capitalismo abra um buraco
Com comerciais de pernas sem celulite
Tipo a Bruna Marquezine, as panicats
E maquiagens exatamente pro seu biotipo
O bonito é personalidade sem essa audiência
Mas se o investimento em si é com consciência
Que mal faria um batom, um delineador?
Se não te causa dor, apenas seja!
Beija o espelho e muito axé!
Homens não são nossos inimigos, o sistema é
Reverteremos ao nosso favor, ao prazer feminino
Vamos ceder às tentações, alcançar feitiches
Tomar o poder das nações, ser menos atrizes
Desejar, entregar o corpo e o espírito
Mulheres, uni-vos!
Não quero uma de nós no seu partido
Quero revolução, quero um partido nosso
Se a sociedade não abrir seus ouvidos
Explodo os tímpanos com meu ódio!

Almas Conjuntas.

Cruel, pensamento carnal


Carnaval fora de época
Divago; de repente surreal
Diagonal, meu corpo comprime
Álcool viajando nas veias
Bêbada, porém, apenas de juras
Mãos na cintura explana a mensagem
Tamanha tensão, mão na nuca
Vazia sensação de vantagem
Ménage à trois
Nós e os cigarros
Sem corda eu me amarro
Não duvido e tu brota na boca
Não divulgo, nada de boba
Não divido, bota com força
Submisso n'um instante
Boca de veludo
Toques merecidos
Nada de sexo
Ela é feminina nossa transa
Curvas eminentes
Gradativamente
O corpo se lança
Não é notícia, nem conto
É mais íntima: crônica
Doença, não esqueça
Toda malícia, com certeza
Amanheça
Reassume teu posto
Por baixo, apanho
Unhas nas costas
Almas conjuntas.

-
Miopia.

Eu, hipovigil, confesso consciência


À distância, dificuldade tanta
Formas cênicas formam-se à pampa
Sem o contorno, sem a linha que separa
Torno tudo tela, em aquarela,
Atropelada silhueta reverbera
Atriz pela estrada? Eu sorria!
A pétala de uma tara assimétrica:
Viver sendo retrato, frio, congelado
Uma janela pr'aquele lado: a arte da fotografia
Aperto bem os olhos e aquele gato
Na verdade, era um saco de pão
Uma silhueta, vultos, assombração
Tinta a óleo, impressionismo de Gogh
Eu tinha olhos mas só via recortes
Nenhum rosto, nenhum remorso
Torço pescoço, finjo que não ouço
Não posso ir falando com todo moço
Se não conheci, eu mosco de novo.

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