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EXCELENTÍSSIMO JUIZO FEDERAL DA ____ SEÇÃO JUDICIÁRIA DE FLORIANÓPOLIS/SC

JOÃO _, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), identidade nº_ , CPF


nº , Título de Eleitor nº_ , endereço eletrônico _ , residente e
domiciliado à , Florianópolis, SC, CEP , por seu advogado que esta
subscreve, com endereço eletrônico , e endereço profissional à
____________ , CEP _, vem perante Vossa Excelência propor

AÇÃO POPULAR

Pelo rito especial da Lei nº 4.717/65 em face do Excelentíssimo Senador da República,


Sr. , partido , Estado SC, (nacionalidade), (estado civil), político, identidade nº_
, CPF nº , Título de Eleitor nº_ , endereço eletrônico _ ,
residente e domiciliado à , CEP _ , pelos motivos de fato e de direito a seguir
aduzidos.

I - DOS FATOS

O Autor indignou-se ao saber, em abril de 2009, por meio da imprensa, que o


senador que merecera seu voto nas últimas eleições havia determinado a reforma total
de seu gabinete, orçada em mais de R$ 1.000.000,00, a qual seria custeada pelo Senado
Federal.
A reforma inclui diversas benfeitorias extravagantes, tais como: sistema de
aquecimento e resfriamento individualizado por ambiente e sistema para projeção de
filmes em DVD. O Réu alega que tais melhorias seriam necessárias para a manutenção de
ambiente adequado, compatível com a função pública por ele exercida. O Autor, porém,
considera tais itens totalmente desnecessários, que visam somente proporcionar um
maior conforto ao Réu.
O processo licitatório para a execução dos serviços em tela já foi concluído,
porém ainda não houve o efetivo início das obras de reforma do gabinete do Réu.

II - DA TUTELA ANTECIPADA

Eis os requisitos que autorizam a tutela de urgência: o Fumus boni iuris:


conforme o disposto no Art. 37 da Constituição Federal, a Administração Pública deve-se
pautar, dentre outros, pelo princípio da moralidade, devendo-se ter a devida parcimônia
nos gastos que sejam custeados pelo Erário Público.
A reforma de um gabinete funcional somente deve ser realizada em caso de
comprovada necessidade ou utilidade, e nunca deve incluir benfeitorias que visem
somente ao conforto de seu ocupante, tais como as citadas nos fatos. Sendo assim,
parece clara a violação do princípio da moralidade no ato administrativo impugnado, que
deve ser anulado por insuficiência de motivo e desvio de finalidade.
Periculum in mora: afigura-se patente, a fim de evitar que tais obras de reforma,
inadequadas e imotivadas, venham a ser efetivamente realizadas.

III - DO DIREITO

O art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal, admite a impetração da ação


popular, por qualquer cidadão, visando anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural.
De acordo com o art. 6º da Lei nº 4.717/65, tal ação deve ser proposta em face
da autoridade responsável pelo ato impugnado, bem como frente aos beneficiários do
ato. No caso em tela, tanto o responsável quanto o beneficiário são o próprio Réu, que
determinou a reforma em seu gabinete, para seu próprio conforto.
Conforme já descrito, o Art. 37 da Carta Magna dispõe que a Administração
Pública deve se pautar por diversos princípios gerais, dentre os quais o da moralidade,
que abrange o cuidado com o Erário Público, evitando despesas e gastos desnecessários.
Tais diretrizes abrangem todos os Agentes Públicos, incluindo os Senadores da República.
O Réu, ao determinar a reforma de seu gabinete e incluir itens de luxo no escopo
dos serviços a serem contratados, agiu de forma abusiva em relação à Fazenda Pública,
promovendo gastos em valor muito acima do razoável, o que afronta diretamente o
princípio da moralidade.
Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco, no livro Curso de Direito
Constitucional, indicam os princípios que regem a administração pública:

“Além dos princípios da legalidade, impessoalidade,


moralidade, publicidade e eficiência, elencados no art. 37
da Constituição Federal, a Lei n. 9.784/99, que
regulamenta o processo administrativo no âmbito da
administração pública federal, dispõe que “A
Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse
público e eficiência.” Os princípios da finalidade, da
motivação, da razoabilidade, da proporcionalidade, da
ampla defesa, do contraditório, da segurança jurídica e
do interesse público, presentes apenas no texto legal,
decorrem dos princípios estabelecidos na Constituição.”
(Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira
Mendes, Paulo Gustavo Gonet Branco. – 12. ed. rev.
e atual. – São Paulo: Saraiva, 2017, pág. 989)

De acordo com o art. 2º, alíneas “d” e “e”, da Lei 4.717/65, deve-se considerar
nula a licitação realizada por ordem do Réu por não haver motivação idônea a justificar a
reforma em tela, o que configura um claro desvio de finalidade do ato administrativo,
que, em vez de ter por objetivo a melhoria do serviço público a ser prestado, visa tão
somente ao maior conforto do Agente Público, sem ganhos relevantes de eficiência ou
eficácia no desempenho de suas funções.

Neste diasepão, entende o TJ/ES:

APELAÇÃO CÍVEL N. 1085358-16.1998.8.08.0024


(024.910.111.103). APELANTE: ETURY DE BARROS.
APELANTE: MARCO ANTÔNIO TRÉS. APELADO: HILLER DO
CARMO. RELATORA: DESEMBARGADORA SUBSTITUTA
ELISABETH LORDES. ACÓRDÃO EMENTA: APELAÇÕES
CÍVEIS – AÇÃO POPULAR – NULIDADE DA SENTENÇA POR
OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL – REJEITADA –
PREJUDICIAL DE MÉRITO DE PRESCRIÇÃO – NÃO
ACOLHIDA. MÉRITO – PRINCÍPIO DO LIVRE
CONVENCIMENTO MOTIVADO – ELEMENTO SUBJETIVO
DEMONSTRADO - LESÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO –
LICITAÇÕES E CONTRATAÇÕES EM DETRIMENTO DA
COISA PÚBLICA (ARTS. 1º, CAPUT, 2º, LETRAS 'B' E 'E',
PARÁGRAFO ÚNICO, LETRAS 'B' E 'E', E ART. 11, DA LEI N.
4.717⁄65, C⁄C ART. 37, § 5º, DA CF⁄88)–
RESPONSABILIDADE DE EX-PREFEITO E DE SÓCIO DA
EMPRESA LICITANTE - RECURSOS DESPROVIDOS –
SENTENÇA MANTIDA. 1. - Segundo a jurisprudência do e.
TJES ¿a especialização da 3ª Vara para conhecer,
processar e julgar as ações civil públicas por ato de
improbidade administrativa e as ações populares na
Comarca da Capital, vai ao encontro de um aumento
significativo de demandas desta ordem. A criação desse
setor especializado objetiva a celeridade dos atos. (...) a
criação e a especialização da 3ª Vara está legalmente
respaldada, uma vez que não há na Resolução nº 05⁄12,
alterada pela Resolução nº 08⁄12, ilegalidade de
nenhuma ordem, nem delegação inconstitucional de
função legislativa. Não há afronta ao princípio do juiz
natural na especialização de Varas e consequentemente
a redistribuição dos processos, ainda que já tenha havido
decisões no juízo originalmente competente¿. (TJES –
Agravo de Instrumento n. 0901703-25.2012.8.08.0000,
Relator Desembargador substituto Fernando Estevam
Bravin Ruy, Segunda Câmara Cível, DJ: 12-12-2012).
Preliminar de nulidade da sentença rejeitada. 2. -
Segundo posicionamento do colendo Superior Tribunal
de Justiça, ¿é inaplicável o prazo de prescrição previsto
na Lei de Ação Popular (art. 21 da Lei n. 4.717⁄65)às
pretensões de ressarcimento ao erário, em razão da
imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário
estabelecida pelo § 5º do art. 37 da CF⁄88¿ (AgRg no
REsp 1159598⁄SP, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda
Turma, DJ: 26-09-2014). Prejudicial de mérito não
acolhida. 3. - A inobservância das regras inerentes ao
procedimento licitatório impede que a Administração
Pública tome ciência da proposta que lhe seria mais
vantajosa e, de consequência, vicia a formação do preço.
Precedente: AgRg no REsp 1243998⁄PB, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJ: 18-12-2013. 4. -
Os aspectos relacionados à lesão ao patrimônio público e
ao dever de indenizar foram analisados segundo o
princípio do livre convencimento, isto é, o magistrado é
livre para formar a sua convicção, mormente quando há
vasta prova documental nos autos, em especial um
relatório minucioso produzido pelo órgão de controle de
contas. 5. - Hipótese em que não há falar em
enriquecimento ilícito da Administração Pública, mas em
reparação de prejuízos por atos lesivos ao patrimônio
público (arts. 1º, caput, e 11, da Lei n. 4.717, de 29 de
junho de 1965), porquanto apurado nos autos o conjunto
de condutas ilícitas de que trata o artigo 2º, letras 'b' e
'e', parágrafo único, letras 'b' e 'e', da Lei 4.717⁄65, assim
como as perdas e danos de que trata o artigo 11, da Lei
n. 4.717⁄65, c⁄c artigo 37, § 5º, da CF, mediante
diligencias realizadas por parte do órgão de controle
externo da Administração, o qual produziu relatório
minucioso acerca das condutas praticadas pelos
apelantes, relacionando-as, particularizadamente, uma a
uma a cada desvio de verba pública decorrente da
malversação sucedida em processos licitatórios (e
contratações públicas) envolvendo o Município de Boa
Esperança e os apelantes. 6. - Recursos desprovidos.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os
Desembargadores que integram a Terceira Câmara Cível
do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito
Santo, de conformidade com a ata do julgamento e as
notas taquigráficas, em, à unanimidade, negar
provimento aos recursos interpostos pelos réus, nos
termos do voto da relatora. Vitória-ES., 17 de março de
2015. PRESIDENTE RELATORA

(TJ-ES - APL: 10853581619988080024, Relator: DAIR JOSÉ


BREGUNCE DE OLIVEIRA, Data de Julgamento:
17/03/2015, TERCEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 24/04/2015)

IV - DO PEDIDO

Pelo exposto, requer:


1) a concessão de liminar para suspensão dos efeitos da licitação para reforma do
gabinete do Réu;
2) a citação do Réu, para, querendo, contestar a presente ação, no prazo legal de 20
dias;
3) a intimação do Ministério Público Federal;
4) Seja julgado procedente o pedido para invalidação do ato impugnado, bem como
para condenar o réu ao pagamento de perdas e danos no valor X (despesas com a
licitação);
5) A condenação do réu ao pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios.

V - DAS PROVAS

O Autor requer a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente


documental e documental superveniente.

VI - DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Rio de Janeiro, 30 de março de 2020

Advogado
OAB/UF

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