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Encontro 1 - 5/7

§ 1. PRETENSA ORIGEM ORIENTAL

Platão - “Moisés Ateicisantes”, aquele que transforma as coisas/a vida? numa visão atéia.
Segundo a tradição filosófica judaica de Alexandria, a filosofia tem sua origem no Oriente
(p. 19).

Ocorre que a tradição oriental é essencialmente dogmática (ainda que religiosa, o


pensamento grego questiona em busca de sabedoria, ao invés de aceitá-la enquanto uma
transmissão pura e simples - p. 19-20), fato este que é diametralmente (?) oposto à tradição
grega, que tem a pesquisa em seu cerne, o questionamento, ao invés da tradição.

Testemunhos e viagens dos pensadores para regiões do Oriente (é possível criticar essa
noção de Oriente enquanto tudo que não pertence à matriz helênica - coloca-se num
mesmo agrupamento a cultura da Babilônia/Egito/etc).

Interessante é o questionamento a respeito do caráter civilizatório: teria um caráter


civilizatório ou apenas cultural? Por caráter civilizatório podemos entender que se concebe
uma sobreposição às culturas/hábitos que não se resumem aos dos gregos, no caso. A
racionalidade, por outro lado, é o paradigma dos homens (aqui talvez seja uma distinção de
gênero)., consequentemente não se resume a produção de conhecimento a um
determinado grupo (p. 20).

Nesse sentido, o que importa aqui é o caráter investigativo-racional, ou seja, de inquérito,


em que não se espera passivamente por uma verdade já dada ou revelada. Os pontos que
são levados em consideração são: a opinião corrente (doxa), tradição, mito.

§ 2. FIlOSOFIA: NOME E CONCEITO

“Amor ao conhecimento?” - seria Pitágoras, de acordo com Cícero, quem primeiramente


utilizou a expressão com esse significado (p. 21). Essa noção recebe seguimento em
Heráclito, mas especificamente Platão distingue a noção de filosofia em um duplo
significado: a) a função educativa apresentada por diversas áreas do conhecimento
(música, matemática, etc); b) a contraposição entre sabedoria, que é própria das
divindades, e doxa, isto é, a opinião, em que não se busca inquirir a respeito do verdadeiro
ser (p. 22).

Desta forma, “toda a ciência ou disciplina humana, enquanto pesquisa autónoma, é


filosofia”, ou seja, significa analisar o fenômeno em si, por si, de forma cada vez mais
detalhada e minuciosa, em cada uma de suas partes.

“O filosofar sem receio exprime a autonomia da pesquisa racional em que consiste a


filosofia”.

energheia - epicuristas - o que torna a vida feliz (Sexto Empírico)


epitedeusis - esforço para a sabedoria (Sexto Empírico)

O QUE É METAFÍSICA?
No aristotelismo, subdivisão fundamental da filosofia, caracterizada pela investigação das
realidades que transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a
todas as ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser;
filosofia primeira.
§ 3. PRIMÓRDIOS DA FILOSOFIA GREGA: OS MITóLOGOS, OS MISTÉRIOS OS SETE
SáBIOS, OS POETAS

Cosmologia enquanto meio de explicação do mundo através de uma formulação mítica. O


que podemos extrair daqui acerca da filosofia é a questão do estado originário das coisas e
das forças que as produziram (p. 24).

Por que o início do mundo é sempre o Caos? Aristóteles dizia que Hesíodo deve ter sido o
primeiro pensador a pensar no início de tudo, tendo sido ele o caos, talvez o grande
caldeirão de onde provém tudo o que será posteriormente ordenado. Será que este
conceito foi importado das tradições orientais? A título de exemplo, no Gênesis, Deus diz
que (Gênesis 1:2,3) :

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de
Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz.

Depois de Hesíodo, Anaximandro foi o poeta que pensou sobre a origem de tudo, nos
moldes da religião grega, “Ctonos era a terra, Cronos o tempo, Zeus o céu. Zeus
transformado em Eros, ou seja no amor, procede à construção do Mundo” (p. 24). Há, neste
mito, a diferença entre a matéria e a força organizadora da matéria (Eros, entendido como
força criativa e que gera atração entre os componentes da matéria).

Além da reflexão exposta na cosmologia do mito, ainda houveram os sete sábios:


Pítaco de Mitilene, Periandro de Corinto, Tales de Mileto, Sólon de Atenas, Quílon
de Esparta, Cleóbulo de Lindos e Bias de Priene), que por meio de frases curtas,
deram à humanidade conselhos atemporais e práticos, no que concerne o bem
viver.
Tales: “Conhece-te a ti mesmo”
Bias: "a maioria é perversa" e "O cargo revela o homem"
Pítaco: "Sabe aproveitar a oportunidade"
Sólon: "Toma a peito as coisas importantes" e "Nada em excesso"
Cleóbulo: "A medida é coisa óptima"
Míson: "Indaga as palavras a partir das coisas, não as coisas a partir das palavras"
Chílon: "Cuida de ti mesmo" e "Não desejes o impossível"

Por fim, entende-se que os primeiros filósofos, através de especulações quanto ao mundo
material, buscaram na natureza, um sentido que pudesse explicar a unidade normativa da
existência, enquanto que os fizeram o mesmo no mundo dos homens (p. 27). Será que
podemos entender a natureza da mesma forma com que se entendia na época dos gregos?

§ 4. AS ESCOLAS FILOSóFICAS

As escolas filosóficas gregas não tinham o mesmo formato das academias atuais. Neste
sentido, seus membros não estavam unidos apenas pelo saber acadêmico, mas também
por questões políticas, religiosas, entre outras. O esforço em conjunto era um aspecto
relevante a ser ressaltado aqui, isto é, a filosofia não encerrava o indivíduo em si mesmo,
mas demandava uma comunicação extensiva a fim de dar direção rumo ao objetivo
principal: a busca pelo saber.
§ 5. PERÍODOS DA FILOSOFIA GREGA

1. Período cosmológico - escolas pré-socráticas (exceto sofistas) - Objetivavam


entender a unidade que garantia a ordem do mundo e a possibilidade do
conhecimento humano.
2. Período antropológico - sofistas e Sócrates - individuação e harmonização da vida
em sociedade (unidade).
3. Período lógico - Platão e Aristóteles - condição e possibilidade a partir da relação
entre homem e ser; pode ser, grosso modo, chamado de síntese dos dois períodos
anteriores.
4. Período ético - estoicismo/epicurismo/ceticismo/ecletismo - conduta do homem é o
problema, além de diminuição do valor teorético da pesquisa.
5. Período religioso - neoplatônicos - a busca pela reunião do homem com Deus era o
objeto de pesquisa, a fim de alcançar a salvação.

§ 6. FONTES DA FILOSOFIA GREGA

A- obras e fragmentos (Plato = primeiro a apresentar à posteridade obra inteira);


B- testemunhos dos escritores posteriores.
Já no período tardio da filosofia grega, haviam os doxógrafos, comentaristas que
analisavam as obras dos períodos anteriores (tipo uma opinião qualificada, com
propriedade).

III - A ESCOLA JÓNICA

1. CARÁCTER DA FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA

O problema cosmológico é o que predomina neste escopo, apesar de que o homem


é tomado lateralmente como objeto de estudo. Aos pré-socráticos, princípios constitutivos
do mundo físico = princípios que constituem o homem.
Sobretudo, o que é buscado é o devir (a lei que regula a constituição do ser).
Numa linguagem aristotélica (ativo/dinâmico), os ditos pré-socráticos elencam à
physis enquanto substância voltada ao princípio de ação e de inteligibilidade do que é
múltiplo e vem a ser (p. 35). A investigação diante do mundo objetivo caminha
simultaneamente à investigação do homem.
Quanto ao mencionado acima, o caráter de uma filosofia considera expressamente a
natureza do problema e, conforme mencionado, nos pré-socráticos o problema é
cosmológico (p. 36). Há uma disputa em relação à produção das narrativas, isto é, que leva
em conta a produção de testemunhos a fim de demonstrar caráter religioso, como é o caso
dos neopitagóricos, dos neoplatônicos, etc, mas não é possível determinar o
desdobramento da filosofia em questão a partir dos próprios pressupostos. No entanto, é
impressionante a capacidade de isolar os problemas específicos por partes destes ditos
filósofos, no sentido de que conseguiam tangenciar os problemas caóticos trazidos por
poetas e por profetas mais antigos (p. 37).
Como síntese, podemos notar que os pré-socráticos foram capazes de,
objetivamente, distinguir homem de natureza, ou seja, conseguiram se afastar do misticismo
antigo.
§ 8. TALES

Tales de Mileto - fundador da escola jônica -, remonta aos anos 624-623 a.C., sendo
sua morte em meados de 546-545 a.C.. Astrônomo, matemático, político e físico, além de
filósofo.
Foi capaz de prever um eclipse solar (provavelmente o de 28/5/585 a.C.) e inventou
inúmeros teoremas de geometria. Descobriu, além disso, as propriedades do imã.
É com base nos relatos de Aristóteles (Met, 1, 3, 973b, 20) que localizamos sua
doutrina fundamental:

Tales diz que o princípio é a água, pelo que --sustentava ainda que a
terra está sobre a água; considerava, talvez, prova disso ver que o
alimento de todas as coisas é húmido e que até o quente se gera e
vive no húmido; ora aquilo de que tudo se gera é o principio de tudo,
Pelo que se ateve a tal conjectura, e ainda por terem os gérmens de
todas as coisas uma natureza húmida e ser a água nas coisas
húmidas o princípio da sua natureza. (p. 38).

Nesse ponto, tales imaginava a presença de uma força ativa, vivificadora e


transformadora na água, além de que o imã possuía uma alma em razão de atrair o ferro.

§ 9. ANAXIMANDRO

Homem político, nascido em 610-609 a.C., concidadão de Tales.


Foi o primeiro autor de escritos filosóficos na Grécia, numa obra em prosa. Além
disso, foi o responsável por designar em primeiro lugar a substância única com o nome de
princípio (arché), cuja fonte não se tratava dos elementos, mas do infinito (ápeiron), de onde
todas as coisas retiraram sua origem (p. 39).
Imprime, nesse sentido, uma característica de verdadeira e de própria corporeidade,
o que remonta à substância primordial à noção de massa quantitativa ou extensa.
Nesse sentido, não sendo possível encontrar um conceito de espaço incorpóreo
(indeterminação do Ápeiron) em Anaximandro, torna possível apenas a determinação por
meio da extensão. Logo, a extensão mostra-se infinita e englobante, o que torna o ápeiron
uma realidade transcendente.
O princípio que é estabelecido por Anaximandro como substância originária terá o
nome de “divino”, visto que o infinito é o que governa o mundo, isto é, é substância e
também lei do mundo. (p. 40).
Da separação, problema do processo através do qual as coisas derivam da
substância primordial, são gerados os mundos infinitos. Ora, é da separação que se sucede
a diversidade, contrastante à homogeneidade e a harmonia. No caso dos humanos, a
separação do infinito gera o referido contraste, sendo necessário e inevitável que se pague
com a morte o nascimento a fim de regressar à unidade.
É o problema da unidade que está lançado aqui, enquanto problema cosmológico,
posteriormente iluminado por Heráclito (p. 41).
No entanto, a própria natureza da substância primordial remete à infinidade de
mundos, mas seriam esses mundos infinitos do ponto de vista do espaço ou apenas
sucessivamente no tempo?
Por fim, remete-se à concepção de que a forma da terra é cilíndrica, sustentada por
algo; além de que os homens não são originários da natureza, sendo a origem remetida a
outros animais, a fim de se protegerem. Ainda que seja uma proposta estranha, o objetivo
era explicar o mundo naturalisticamente e se ater aos dados da experiência (p. 42-43).

§ 10. ANAXÍMENES

Nascido em 546-545 a.C., falecido em 528-525 a.C.. Possivelmente foi discípulo de


Anaximandro.
Apesar de reconhecer o ar como princípio, atribui algumas características trazidas
pelo princípio de Anaximandro: “Assim como a nossa alma, que é ar, nos sustém, assim o
sopro e o ar circundam o mundo inteiro" (fr. 2, Diels).“ (p. 43). O ar é tomado como o
princípio de movimento de todas as coisas.

Transformação das coisas: Ar enquanto duplo processo de rarefação e de condensação


Fogo - (rarefeito) <= Ar
Vento - (condensação) <= Ar
Nuvem <= Vento
Pedra <= Terra <= Água <= (condensação…) nuvem

Posteriormente, a doutrina será defendida por Diógenes de Apolónia (contemporâneo de


Anaxágoras). Nesse sentido, o viés dado à inteligência por Anaxágoras será concebido pelo
ar, por Anaxímenes, conforme a presença do ar que invade (pneuma), cria vida, movimento
e pensamento (p. 44).

§ 11. HERACLITO

Proveniente de Éfeso, pertence à nobreza da cidade. Contemporâneo de


Parmênides. Ambos nasceram por volta de 504-501 a.C.
É autor de uma obra em prosa designada posteriormente por “Acerca da natureza”,
composta por aforismos e sentenças breves.
Inicia-se com a constatação de um incessante devir das coisas: "Não é possível
descer duas vezes no mesmo rio nem tocar duas vezes numa substância mortal no mesmo
estado, pois que, pela velocidade do movimento, tudo se dissipa e se recompõe de novo,
tudo vem e vai" (fr. 91, Diels) (p. 44).
A substância, princípio do mundo, deverá explicar o devir incessante por meio de
extrema mobilidade. É no fogo que Heráclito reconhece-a. Nesse ponto, o fogo não é
corpóreo, mas princípio ativo, inteligente e criado: "Este mundo, que é o mesmo para
todos, não foi criado por qualquer dos deuses ou dos homens, mas foi sempre, é e será
fogo eternamente vivo que com ordem regular se acende e com ordem regular se extingue"
(fr. 30, Diels) (p. 44).
É na mudança que se encontra uma saída ou regresso ao fogo: "Todas as coisas se
trocam pelo fogo e o fogo troca-se por todas, como o ouro se troca pelas mercadorias e as
mercadorias pelo ouro" (fr. 90, Diels).
Não se trata de uma conflagração universal, como a atribuída pelos estóicos a
Heráclito, isto é, que tudo retornaria ao fogo primitivo, afinal, se trocarmos mercadoria por
ouro não implicaria na conversão de tudo em ouro.
É em Heráclito que se encontra na pesquisa filosófica a clareza da natureza e de
seus pressupostos: a natureza "gosta de ocultar-se." (fr. 123, Diels) (p. 45). Por
consequência, é na pesquisa que se abrem novos horizontes aos homens, sendo na razão
a vi na descoberta de uma profundidade cada vez mais distante e íntima.
No entanto, a pesquisa deve ser dirigida àquilo que liga o homem aos outros, numa
busca pela mais profunda essência, ou seja, à economia da comunidade? (não se deve
resumir ao ser-em-si, mas o verdadeiro ser que remete aparentemente a uma síntese do
ser-em-si, do ser-no-outro e do próprio outro?).
Qual o valor da pesquisa ao homem? É na vigília, na realidade da consciência, na
comunicação com os outros, que se alcança a lei que rege o todo? Não se trata de
pensamento (noesis), mas de sabedoria da vida (fronesis), o que determina a índole do
homem e o seu respectivo destino.
Deve, ainda, a pesquisa clarificar e aprofundar o significado, por meio da lei
mencionada acima.
Heráclito enfatiza também que é necessária uma longa pesquisa a fim de que o
homem se eleve.
Além disso, a harmonia é concebida em Heráclito como unidade que submete as
oposições e torna isso possível, não se tratando de uma síntese dos opostos seguida de
uma conciliação que anula as oposições.

A ESCOLA PITAGÓRICA

§ 12. PITÁGORAS

A tradição pitagórica apresenta elementos fictícios e lendários, isto é, os elementos


posteriores à doutrina estabelecida por pitágoras no mais das vezes apresenta caráter a-
histórico.
Pitágoras ([571-70]-[532-31] a.C.), nascido em Samos, foi discípulo de Ferecides de
Siros e de Anaximandro. Viajou ao Egito e pelos países do Oriente.
Em Crotona estabeleceu uma sua escola (religiosa, política e de pensamento).
Pitágoras é frequentemente apontado como protegido de Apolo - mito da flecha
dourada e do caráter hiperbóreo.
A única doutrina que pode ser atribuída ao autor é a da sobrevivência da alma após
a morte e sua subsequente transmigração a outros corpos, que será posteriormente
apropriada por Platão.

§ 13. A ESCOLA DE PITÁGORAS

Tratava-se de uma associação religiosa, política e filosófica, cuja admissão estava


subordinada a provas religiosas e sigilo.
Disciplina e regras de abstinência - dieta, “quietismo” etc.
Além disso, Pitágoras apresentava-se como a pessoa que recebia diretamente a
sabedoria das divindades, desta forma, os discípulos eram obrigados a conservar o segredo
sem tentar modificá-lo e por esta razão a escola se cobria de mistérios e de símbolos que
ocultavam o significado da doutrina aos profanos.

§ 14. A METAFÍSICA DO NÚMERO


Doutrina fundamental - Substância das coisas é o número.
Zalh ist alles - número é tudo - remete fundamentalmente a autores modernos, e.g., Leibniz.

Aristóteles - atribuição dos números, por Pitágoras, como a causa material que os jônios
atribuíram a um elemento corpóreo.

Desta forma, de acordo com a teoria pitagórica, pode-se entender que:


1.o Limite, ilimitado;
2.<' ímpar, par
; 3.O Unidade, multiplicidade,
4.O Direita, esquerda,
5.1> Macho, fêmea
6.o Quietude. movimento;
7.o Recta, curva;
8.o Luz, trevas;
9.o Bem, mal;
10.- Quadrado, retângulo
Os Pitagóricos pensam, todavia, que a luta entre os opostos se concilia por meio de
um princípio de harmonia; e a harmonia, como vínculo dos mesmos opostos, constitui para
eles o significado último das coisas.

§ 15. DOUTRINAS COSMOLÓGICAS


ANTROPOLóGICAS

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