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Divina Comédia e a retratação da mulher no século XIV

A inaudita representação pura de Beatriz e suas alegorias em “Paraíso”

A Divina Comédia é uma trilogia composta por 33 poemas cada, escritos por Dante Alighieri.
No livro da editora Martin Claret, traduzido por J. P. Xavier Pinheiro, a obra totaliza 521
páginas, com comentários e notas de rodapé. Dante, em composições rigidamente
estruturadas em tercetos, narra uma jornada pelo Inferno, Purgatório e Céu, com fortes
reflexões sobre a sociedade que se mantém até hoje. Sendo ele mesmo o protagonista, vê-se
perdido numa floresta, acuado por três feras. Beatriz, sua falecida paixão de toda a vida,
manda Virgílio guiar Dante para a salvação por um caminho alternativo. Juntos, adentram o
mundo espiritual e começam a odisseia.

É uma peça chave para a compreensão da retratação de Beatriz saber da paixão de Dante por
ela. Nunca concretizada, o casal foi impedido de se juntar pela família e, pouco depois, pela
morte de Beatriz. Em Divina Comédia e em outras obras, Dante a apresenta respeitavelmente
como pura, quase uma divindade. Ele a enaltece em vários momentos do texto, de maneira
discreta. “Olhava o céu Beatriz, eu a encarava. [...] Voltou-se e disse leda, quanto bela”. Ele a
representa como símbolo de pureza, a luz de Deus enquanto verdade.

Logo no inicio da obra, o autor estabelece a pureza de Beatriz: ela não pode ir ao Inferno e ao
Purgatório para guia-lo ao Céu. Pede então ajuda à Virgilio, poeta admirado por Dante, para
leva-lo até ela. No céu, ela o purifica num rio e repreende-o por seus pecados. Arrependido,
segue com ela no Paraíso, onde se depara com as esferas dos abençoados. Nestas, Beatriz
serve também de alegoria à teologia. Quando, ao debater com Pedro Damião na Sétima Esfera
sobre o triste estado da igreja, ela se torna mais cativante, revela-se a crítica de Dante à
sociedade, que aos poucos esquece os valores cristãos, e sua opinião favorável ao culto à
teologia. No ascender ao Empireo, espaço além da existência física, Beatriz deixa de
acompanhar Dante, pois a teologia, a interpretação humana, passa a ser insuficiente para
compreender o lugar.

De forma geral, a imagem purificada de Beatriz perpassa os poemas de forma sutil, porém bem
arquitetada e utilizada. Favorece o entendimento das reflexões de Dante, assim como a
compreensão do contexto da época. As brigas por riqueza que afastavam os homens do
“caminho da salvação” e a idealização da mulher como pureza são deixadas implicitamente na
narrativa, e mesmo assim Dante majestosamente coordena sua crítica e as descrições
detalhadas da jornada.

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