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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2017.0000983606

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2151563-17.2017.8.26.0000, da Comarca de Sumaré, em que é agravante GENIVAL
BORGES DOS SANTOS (JUSTIÇA GRATUITA), é agravado EDITORA E
DISTRIBUIDORA DE LIVROS PREVENÇÃO E SAÚDE LTDA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 35ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores GILBERTO LEME


(Presidente), MORAIS PUCCI E FLAVIO ABRAMOVICI.

São Paulo, 18 de dezembro de 2017.

Gilberto Leme
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Agravo de instrumento n.º 2151563-17.2017.8.26.0000

Comarca: Sumaré
Agravante: Genival Borges dos Santos
Agravada: Editora e Distribuidora de Livros Prevenção
e Saúde Ltda.

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C.C. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. FASE DE
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. RELAÇÃO DE
CONSUMO. AUSÊNCIA DE ATIVOS FINANCEIROS E
DE BENS DA EXECUTADA. DESCONSIDERAÇÃO DA
PESSOA JURÍDICA. ADMISSIBILIDADE. ART.
28, § 5.º, DO CDC. Manifesta a relação de
consumo entre as partes, incide na
espécie a teoria menor prevista no art.
28 do CDC, de tal forma que dispensa a
comprovação do desvio de finalidade e da
confusão patrimonial, bastando que a
personalidade da pessoa jurídica
caracterize óbice aos prejuízos causados
ao consumidor.
Recurso provido.

VOTO N.º 19.692

Trata-se de recurso de agravo de


instrumento interposto à r. decisão que em ação declaratória
de inexistência de débito c.c. indenização por danos morais
em fase de cumprimento de sentença, indeferiu a
desconsideração da personalidade jurídica da ré-agravada, por
entender que a mera ausência de localização de bens
penhoráveis não caracteriza ocorrência de desvio de
finalidade ou confusão patrimonial.
Agravo de Instrumento nº 2151563-17.2017.8.26.0000 -Voto nº 19.692 2
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Alega o agravante que o incidente não


poderia ter sido julgado com fundamento no art. 50 do CC, mas
sim com base no art. 28 do CDC, o qual estabelece hipótese
mais ampla e genérica para a desconsideração da personalidade
jurídica. Aponta que desde 2014 a agravada não realiza
atividade operacional e não possui bens, tendo encerrado suas
atividades de forma irregular, sendo suficiente para a
aplicação do disposto no § 5.º, do art. 28 do CDC.

Recurso tempestivo, dispensado de


preparo em razão da gratuidade processual, sem pedido de
efeito ativo e com resposta.

É o relatório.

No caso dos autos, reconhecida a


ilegalidade do nome do autor-agravante no cadastro aos órgãos
de proteção ao crédito, a ré foi condenada ao pagamento de
indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00,
mantida em grau de recurso (fls. 30/35).

Iniciada a fase de cumprimento de


sentença, o exequente requereu a desconsideração da
personalidade jurídica da executada diante da ausência de
localização de bens em seu nome e do encerramento de suas
atividades desde 2014, o que foi indeferido pela r. decisão
agravada.

Pois bem. A pessoa jurídica tem


existência distinta da dos seus membros. Tem, pois,
patrimônio próprio. Dívidas suas não são dos sócios ou dos
administradores e vice-versa.

Agravo de Instrumento nº 2151563-17.2017.8.26.0000 -Voto nº 19.692 3


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No entanto, em caso de abuso da


personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz
desconsiderar a existência distinta da personalidade jurídica
da sociedade e estender certas e determinadas relações
obrigacionais aos bens particulares dos seus administradores
ou sócios (CC, art. 50). Ou seja, em casos de fraude ou má-
fé, praticados sob o manto da personalidade própria da pessoa
jurídica, o patrimônio dos seus membros pode ser atingido
para o cumprimento das obrigações dela.

É a aplicação da moderna teoria da


desconsideração da pessoa jurídica, que permite ao juiz que,
onde haja conduta indicativa de atos de desvio, declare a
personificação ineficaz, possibilitando alcançar a
responsabilidade pessoal de seus membros.

A incidência dessa doutrina tem como


pressuposto, como dito, a utilização abusiva da personalidade
jurídica. Tanto assim é que o Código de Defesa do Consumidor,
pioneiramente consolidando a doutrina, estabeleceu que o juiz
poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade
quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito,
excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação do estatuto ou do contrato social (art. 28, caput).

No caso dos autos, o agravante teve seu


nome indevidamente inserido no cadastro de proteção ao
crédito por suposta compra de livros que não foi por ele
efetuada sendo reconhecida a ilegalidade perpetrada pela
demandada, condenada ao pagamento por danos morais.

Verifica-se, portanto, que a empresa-


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executada praticou ato ilícito causando prejuízo ao


consumidor, além de que não foram encontrados bens passíveis
de penhora em nome da empresa, de forma a ensejar a aplicação
da desconsideração da personalidade jurídica. Note-se que é
bastante clara a relação de consumo entre as partes.

Com efeito, manifesta a relação de


consumo entre as partes, incide na espécie a teoria menor
prevista no § 5.º do art. 28 do CDC, que dispensa a
comprovação de desvio de finalidade e da confusão
patrimonial, bastando que a personalidade da pessoa jurídica
caracterize óbice ao ressarcimento dos prejuízos causados ao
consumidor (STJ, 3.ª T., REsp n.º 279.273-SP, rel. p. o ac.
Min. Nancy Andrighi, j. 4.12.03, m.v.).

No mesmo sentido:
“AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. Cumprimento de sentença
Desconsideração da personalidade jurídica Inclusão dos
sócios no polo passivo Admissibilidade Aplicação da
Teoria Menor Inteligência do artigo 28, § 5.º do Código de
Defesa do Consumidor Evidências de que a personalidade da
pessoa jurídica constitui óbice ao justo ressarcimento do
consumidor Ausência de indícios da solvência da empresa
Agravo não provido.” (Agravo de instrumento n.º
00092222-41.2013.8.26.0000, Rel. Des. Moreira Viegas, 5.ª
Câm.Dir.Priv., j. 22.5.13, v.u.)

“Agravo de instrumento. Ação de rescisão contratual e de


devolução de valores, em fase de cumprimento de sentença.
Decisão que indeferiu desconsideração da personalidade
jurídica.
1. Relação de consumo. Aplicação da teoria menor da
desconsideração da personalidade jurídica. Inteligência do
artigo 28, §5.º CDC.
2. Empresa não encerrada formalmente. Não localização de bens
passíveis de satisfazer o crédito. Personalidade jurídica que
está servindo de obstáculo ao ressarcimento dos agravantes.
3. Ainda que assim não fosse, constata-se que a pessoa
jurídica foi usada com desvio de finalidade. Requisitos
autorizadores do Código Civil presentes.
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4. Desconsideração da personalidade jurídica devida.


Agravo de instrumento provido.” (Agravo de instrumento n.º
2076128-42.2014.8.26.0000, Rel. Des. Edson Luiz de Queiroz,
5.ª Câm.Dir.Priv., j. 3.9.14, v.u.)

Dessa forma, de rigor a reforma da


decisão agravada a fim de desconsiderar a personalidade
jurídica da empresa-executada, com a inclusão de seus sócios
no polo passivo da ação.

Pelo meu voto, dou provimento ao recurso.

GILBERTO LEME
Relator

Agravo de Instrumento nº 2151563-17.2017.8.26.0000 -Voto nº 19.692 6

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