Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Introdução
2
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Este artigo tem como objetivo apresentar uma análise da logística do transporte da produção
da soja no Brasil definindo, caracterizando e classificando os tipos de modais utilizados,
estabelecendo uma comparação entre eles e destacando as rotas mais praticadas no
escoamento da soja pelo país. O presente trabalho também apresenta a importância da soja no
cenário agroindustrial e como o gerenciamento logístico ajuda a tornar o produto mais
competitivo.
2. Metodologia
Neste artigo a análise dos transportes no escoamento da soja é dividida em três focos
principais, sendo eles os tipos de transportes existentes, com ênfase aos pertinentes ao
transporte da soja (hidroviário, ferroviário e rodoviário); características da soja, como por
exemplo a localização da produção, quantidade produzida no Brasil, colaboração desta com a
economia do país, entre outros; e a logística e o sistema de transporte da soja no Brasil,
levando em consideração a situação dos transportes no país e a quantidade transportada deste
produto, podendo analisar assim os custos, as distâncias, a agressão ao meio ambiente, e
outros aspectos provenientes do transporte da soja.
Segundo Gil (1991) a pesquisa exploratória tem como intuito proporcionar maior
familiaridade com o problema com vistas a torna-lo explicito ou a construir hipóteses.
Envolve o levantamento bibliográfico; análise de exemplos que favorecem a compreensão.
Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas.
Ainda de acordo com Gil (1991) a pesquisa bibliográfica é elaborada a partir de material já
publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com
material disponibilizado na internet.
A pesquisa foi realizada de forma exploratória. Para isso utilizou-se de fontes bibliográficas
como Alvarenga (2000), Fleury (2000), entre outros, além de uma analise do cenário
brasileiro sobre transporte e soja, levando em consideração as vias dos transportes, custos de
combustíveis, o mercado da soja, entre outros.
3. Transporte
3
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Segundo Alvarenga e Novaes (2000), para se organizar um sistema de transporte é preciso ter
uma visão sistêmica e planejada, onde se conheça no mínimo os fluxos nas diversas ligações
da rede; o nível de serviço atual; o nível de serviço desejado; as características sobre a carga;
e os tipos de equipamentos disponíveis.
Os transportes de cargas possuem cinco tipos de modais, cada um com custos e características
operacionais próprias, que os tornam mais adequados para certos tipos de operações e
produtos, são eles: ferroviário, rodoviário, hidroviário, por dutos e aeroviário. Na figura 1 é
apresentada a utilização de cada um deles no Brasil.
4
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
No caso focado neste estudo é notória a inviabilidade da utilização dos modais dutos e
aeroviário. O primeiro por ser para o transporte de materiais em fluxo contínuo, o que seria
muito difícil de realizar com um grão como a soja. Já o segundo apresenta como motivo da
inviabilidade o fato de ser destinado a produtos de alto valor agregado e que são transportados
em baixo volume, deixando assim o transporte com alto custo, que seria impossível para uma
commodity como é o caso da soja. Sendo assim não há necessidade de caracterizar esses dois
modais, já os outros três são aprofundados a seguir:
Modal Ferroviário
5
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Em relação aos custos, o transporte ferroviário apresenta custos fixos elevados, pois
necessitam de equipamentos, terminais, vias férreas, entre outros. Por outro lado seu custo
variável é muito baixo.
6
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Modal Hidroviário
O transporte hidroviário pode ser realizado por hidrovias, quando a movimentação é dentro do
continente, e pelo mar, quando a movimentação é de um país para outro de continentes
diferentes, sendo esse transporte chamado de marítimo. A soja é exportada pelo transporte
marítimo, e dentro do Brasil pode ser transportada por hidrovias, este sendo pertinente ao
presente estudo.
Segundo Dias (1987), o sistema hidroviário é teoricamente pouco oneroso, quase exclusivo da
Amazônia e outras regiões como o trecho do rio São Francisco, rio Paraná e de zonas de rios
menores em vários estados. É portanto um transporte de caráter regional nas grandes bacias.
Este tipo de transporte é utilizado para a movimentação de areia, carvão, produtos químicos,
granéis líquidos, grãos, entre outros. Podem-se citar como exemplo de meio de transporte
hidroviário navios dedicados, navios containers, entre outros.
7
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Com relação aos custos, o transporte hidroviário apresenta o menor custo comparado com os
demais modais. Sendo seu custo fixo considerado médio, utilizado em equipamentos, navios,
entre outros, e seu custo variável é baixo, pois consegue carregar grande quantidade de carga.
Modal Rodoviário
8
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Em relação aos custos, o transporte rodoviário apresenta custo fixo baixo, o que diz respeito à
construção de rodovias, e o custo variável é médio, sendo este referente a combustível,
manutenção, entre outros.
9
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Multimodalidade e Intermodalidade
Segundo Dias (1987) a intermodalidade dos transportes visa a diminuição dos custos. Esses
custos são provenientes das características de carga e dos serviços de transportes; além de
fatores de tempo manuseio, financeiro e geração de viagens.
10
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
4. A Soja
Segundo a Embrapa (2008), a soja teve seu primeiro cultivo registrado no Brasil em 1914 no
município de Santa Rosa, Rio Grande do Sul, como cultura forrageira sendo pouca utilizada
para a produção de grãos. Porém só foi amplamente explorada na década de 60 como
alternativa de cultivo sucessivo do trigo, e a maioria produzida nos estados da região sul do
país. Na década seguinte, devido ao aumento de área cultivada e também de produtividade, a
soja passou a ter importância significativa no cenário de agronegócio do país (EMBRAPA,
2008).
11
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Sendo a soja uma commodity, caracteriza-se por um produto de baixo valor agregado onde
cada aumento no custo, seja ela na produção ou transporte, impacta diretamente no valor final
do produto. Em 2003 ela gerou uma receita cambial direta de sete bilhões de dólares anuais
para o Brasil, sendo previsto um aumento desse valor para os próximos anos devido ao
aumento de mercado e de subprodutos oriundos da soja (EMBRAPA, 2008).
Estima-se que ocorra um aumento de demanda da soja nos próximos anos, levando em
consideração o aumento da renda per-capita de países compradores (por exemplo, a China), a
melhor distribuição de renda (como na Índia) e maior penetração do capitalismo em países
fechados economicamente.
Dentro da cadeia de suprimentos da soja, existem vários componentes que atuam para que
ocorra transformação de matéria-prima em produto acabado. Consideramos, entretanto,
apenas o transporte dos produtores de grãos de soja até seu consumidor, a fim de focar num
estudo sobre o transporte de commodities no Brasil.
Portanto, é preciso analisar com cuidado o modo como a soja será transportada até seu destino
a fim de garantir a competibilidade de mercado e conquistar novos clientes. Para isso é
necessário a diminuição de carga tributaria e impostos nos transportes e de serviços
portuários. A próxima parte do estudo é dedicada a essa analise dos modos como a soja pode
ser transportada.
12
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
No Brasil, entretanto, mostra-se de forma clara uma deficiência na área logística e falta de
estudos e profissionalização do ramo. Assim, problemas como a má utilização das hidrovias,
das malhas ferroviárias e rodoviárias ficam evidentes e passíveis de melhoria. Os modais do
transporte nacional precisam receber atenção especial por parte da agroindústria, pois
impactam profundamente na qualidade e no custo dos produtos.
A soja, por ter característica de produção sazonal, ou seja, a produção depende de quando a
safra ocorre (entre os meses de março e abril), apresenta uma forte utilização dos modais
logísticos quando requeridos. Nessa época, geralmente, ocorre a escassez de caminhões e
posteriormente, o aumento do custo de transporte. Tal impacto nesse período precisa ser
mitigado para que seja possível competir a nível mundial.
13
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
O setor de transporte é um dos setores que mais influenciam na eficiência dos diversos setores
da economia de um país. No Brasil, devido à escassez de hidrovias e ferrovias que interligam
grandes distâncias, o sistema de transporte rodoviário é o modal mais utilizado no transporte
de grãos, e em alguns casos, é a única opção. Entretanto, um dos grandes gargalos do setor de
transportes é a condição das rodovias do país.
Após os incentivos de apoio na década de 70 para que fosse um cultivo sucessivo ao trigo, a
soja ganhou espaço nos cultivos do país, se estendendo além do sul do Brasil, principalmente
para a região centro-oeste. Com isso, a malha de escoamento do grão precisou aumentar e se
ramificar para que pudesse transportar todo a soja produzida para armazéns e portos.
Assim, Ojima (2004) descreveu as principais rotas utilizadas bem como suas características:
Para a região sul: essa região foi a pioneira no cultivo da soja, portanto apresenta
rodovias já implantadas interligando centros produtores, plantas industriais e portos
distribuidores. Também existe a opção da rodo-hidrovia que liga Jacui – Lagoa dos
Patos até o Terminal Hidroviário de porto Estrela, e ainda a ferrovia America Latina
Logistica que liga a região sul com a parte inferior do estado de Mato Grosso do Sul.
Para a região sudeste: conta com uma alta densidade de rodovias, devido a
privatizações e investimentos realizados. É origem da hidrovia Tietê – Paraná, que é
utilizada como meio de transporte para grãos do centro-oeste, e também a ferrovia
Ferroban que chega até o porto de Santos.
Para o centro-oeste: possui rodovias que ligam com a região sul (Paraná), região norte
nordeste e região sudeste. Adicionado mais três ferrovias que orientam o escoamento
da produção regional e também auxiliam os Estados vizinhos com essa malha
14
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Essas três englobam quase todo o transporte de soja do país, sendo o meio mais utilizado o
rodoviário, seguido do ferroviário e posteriormente hidroviário.
Segundo Lieb (1978) os modais apresentam diferentes características entre eles, como custos
e aspectos qualitativos como velocidade, consistência, capacitação, disponibilidade e
frequência. Devido a isso, é economicamente necessário que sejam utilizados mais que uma
modalidade de transporte, levando em consideração as vantagens inerentes relacionadas a
cada uma delas, o que provoca uma redução do custo e um aumento na qualidade do serviço.
No caso da soja, esse custo é medido por tonelada transportada e remete a dificuldade de
escoar o produto até seu destino final. O que vem acontecendo com frequência é a utilização
de mais de um meio modal para transporte, ou em outras palavras, meios intermodais.
Como já foi visto os melhores modais de transporte para a soja são as hidrovias e ferrovias,
por esses conseguirem transportar grande quantidade de carga, levando a um baixo custo por
tonelada. Mas em contra partida esses tipos de transportes são limitados pelo fato de serem
inflexíveis, pois os rios não mudam de lugar e não há investimento na malha ferroviária, para
que esta aumente. Sendo assim o jeito encontrado para diminuir custos e aumentar a qualidade
da soja é a multimodalidade ou a intermodalidade, que integram dois ou mais modais,
utilizando o mínimo de transporte rodoviário possível, fazendo com que este sirva somente
para o trajeto do produtor até uma hidrovia ou ferrovia, e destas até o consumidor.
6. Conclusão
15
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
destes produtos, pois o transporte é uma atividade que apresenta custo, mas que não agrega
valor no produto. Sendo assim aquele que conseguir transportar uma mesma quantidade por
um custo menor estará ganhando mais e aumentando sua competitividade, e
consequentemente investindo mais no seu negócio, aumentando assim o retorno para o país.
Como verificado no estudo, os melhores modais de transporte para a soja são aqueles que
conseguem transportar grande quantidade, ou seja, o transporte ferroviário e o hidroviário.
Porém não são utilizados no transporte total desta commodity, pois em relação às hidrovias
existe uma limitação devida suas localizações, e em relação às ferrovias parece existir um
desinteresse por parte tanto do país quanto de empresas privadas de aumentar a malha
ferroviária. Isto acaba forçando as empresas a procurarem alternativas para diminuir seus
custos com transporte, levando assim a utilização de multimodais e intermodais, integrando a
esses modais mais propícios o transporte rodoviário, o qual é muito mais caro, além de
apresentar maior impacto ao meio ambiente.
7. Referências Bibliográficas
16
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
DIAS, Marco Aurélio P., Transportes e distribuição física. São Paulo: Atlas, 1987.
DOHLMAN, E.; SCHNEPF, R.; BOLLING, C. Soybean production costs and exports
competitiveness in the United States, Brazil, and Argentina. Economic Research Service,
USDA, 2001. Special Article. Oil Crops Situation and Outlook/OCS-2001.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1991.
LIEB, R. C. Transportation: the domestic system. Reston: Reston Publishing Co., 1978.
cap. 7
17