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ANO I SÃO PAULO, SETEMBRO DE 1965 NÚMERO

OS NOSSOS PROPÓSITOS
Um punhado de homens
voluntários e desinteressados,
desses homens que sempre pu-
e bondade, tão descurados na
época presente.
De todas as categorias sociais
DOIS i
seram um pouco de suas vidas
a serviço das grandes causas so-
ciais, porque sempre acredita-
ram no altruísmo e na bonda-
surgem vontades e disposição
para o diálogo cordial e amigo
no intuito único de confrater-
nizar, dando à sociabilidade
DEMENTES
de humana, compenetrados de
que todos, indistintamente to-
dos, têm a obrigação de assu-
mir a sua parcela de responsa-
sua verdadeira expressão. Nas
mais diversas camadas nota-se
a inquietação dos homens de
boa vontade, sedentos de justi-
POR HORA
bilidade na construção de um ça, desejosos de acertar.
mundo melhor, resolveram pu- Entre eles estamos nós tam- Pedro Calallo
blicar este jornal. bém, e para tanto aceitamos a
nossa cota de sacrifícios na ár- Cada dia e cada momento que
Modesto em seu começo, por- passam, crescem e se alastram,
que toda iniciativa sem lucros e dua luta pela consolidação defi-
nitiva dos impostergáveis direi- em caráter alarmante, o descon-
desinteressada tropeça em seu tentamento e a insegurança no
inicio com a falta de recursos tos do homem.
Assim sendo, não temos a seio da população. Os contí-
financeiros, Dealbar pretende nuos conflitos políticos internos
ser um órgão de esclarecimen- pretensão de trazer nada de nô-
Vç> com a publicação deste pe- e de além fronteiras, o tremen-
to e orientação, no sentido de do e aviltante desequilíbrio
tornar efetivos e autênticos os queno jornal. Pascal, já o dis-
se: "Nada é novo debaixo do econômico que abrange a gran-
inalienáveis direitos do ho- de maioria do povo, geram in-
mem, pois que a vida só se sol". Trazemos apenas o since-
ro desejo de contribuir para o quietações tão profundas e de
compreende e justifica quando conseqüências tão desastrosas
é vivida com dignidade. estabelecimento, em seu intrín-
seco valor, da verdadeira e au- que já atingiram a seguran-
Sem ligação com partidos ça da própria sanidade men-
políticos ou seitas religiosas têntica Democracia, conquista
completamente livre e indepen- sublime e inestimável de todas tal das pessoas. A confirmação
dente, animado de esperanças as gerações anteriores. Luta- eloqüente do que acabamos de
remos pela extinção da fome e dizer nos vem de uma estarrece- _
e otimismo nesta hora em que
se impõem formulações nacio- da miséria, das guerras e de to- dora declaração feita por ara
nais. Dealbar se propõe levar dos os flagelos que afligem e Vereador em uma das câmaras
o seu arrimo a todas as causas separam os homens e que se de São Paulo.
nobres qué visem trabalhar no constituem em confrangedora ' Foi o Vereador Nazir Miguel,
sentido de reaproximar os ho- vergonha para a humanidade. consoante notícia que colhemos
mens, despertando neles o es- Estes são ps nossos propó- do Diário Popular do dia
pírito de solidariedade, de amor sitos. 22-5-1965, quem declarou, pro-
fundamente alarmado, que pas-
sam pelo serviço de pronto so-
corro de assistência aos psico-
patas a impressionante cifra de
dois doentes mentais por hora.
Pasmado ante tão tétrica esta-
tística, o Sr. Nazir Miguel repe-
tia: "Vejam, senhores! Dois lou-
cos por hora!" E disse ainda:
"Não sei a quem devemos ape-
lar, se ao Governo Federal, se
ao Governo Estadual, se ao Go-
verno Municipal".
Aqui está uma revelação pun-
gente que devia sacudir as en-
tranhas de quem tem culpa e
romper o gelo que envolve os
cômodos raciocínios de gabine-
te. Quarenta e oito pessoas
por dia, perdem o raciocínio na
tremenda luta pelo pão de ca-"
da dia.
Não temos a mínima inten-
ção de exagerar os males que
afligem a população brasileira,
provenientes de uma organiza-
ção social que os próprios go-
vernantes reconhecem defeituo-
v- sa. Mas, quando um mal come-
ça a esparramar-se em propor-
ções epidêmicas e esse mal atin-
ge precisamente o que o ser
humano tem de mais vital em
seu organismo, que é o cérebro,
tudo quanto se possa dizer con-
DEALBAR: na expressão do realidade concreta vestida de tra a desorganização vigente é
apóstolo, "a noite vai alta, e o esperanças. O sonho presente. sempre pouco e plenamente
dia se aproxima". A fé viva. justificado.
DEALBAR é a promessa al- Estamos acostumados a ler
Na vida, DEALBAR é a clari- jornais comuns, relatórios mé-
cançada, o prêmio obtido, a car- dicos que testemunham o avan-
dade após o negrume da luta.
A luz depois das trevas. A (Continua na póg. 2)' (Continua na pág. 2)

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ço das perturbações mentais va e ideal. É horizonte sem dos de apelo nascidos nas noi- mo, conduzem a uma sociedade
em todos os países civilizados. meridianos, nem fronteiras, tes da angústia e da incom- superior, justa e humana, e se
E estamos, também, plenamen- nem ódios de raças, nem a ro- preensão. isso pode fazer com que alguns
te convencidos que uma estru- DEALBAR é a côr branca resolvam esperar de braços cru
tura social que tem por base tina de pobres e ricos, nem o jzados essa apregoada evolução,
um aviltante desequilíbrio eco- escapismo dos dogmas. que desmancha os matizes de é bom lembrar-lhes que essa de-
nômico entre os seus habitan- DEALBAR é o dia certo, pa- todas as desgraças humanas. A mocracia e esse socialismo es-
tes, onde o indivíduo, para so- união dos homens de boa von- tão doentes e os cancros que
breviver, deve estar em contí- ra o homem livre, é a crença os abalam podem comprometer
num mundo melhor. DEALBAR tade. O preâmbulo e o pontt)
nuo desespero, só pode gerar e desviar suas evoluções, até.
fúrias, arrebatamentos e aliena- é o compromisso de que cada . final da confraternização uni- Por isso precisamos ser médicos
ção mental. O que, porém, nos um de nós saberá ser fiel à sua versal. e combater esses males. Mas,
causou surpresa, deixando-nos voz interior, e a todos os bra- como não se conhece o remédio
melancòlicamente impressiona- B. GUAFER para o câncer, há um trabalho
dos, foi o dilatado número de de laboratório a realizar-se. E
infelizes pessoas que diariamen- Erros e contradições do marxismo esse trabalho talvez se possa re-
te são atingidas pelo desequilí- sumir assim:
brio cerebral. de VARLAN TCHERKESOEF O novo esquema de eqüidade
Costumam dizer os senhores social precisa ser posto em fa-
Ministros de economia e finan-
ças em suas tranqüilas arengas
Humanismo Libertário e a Ciência Moderna ce com as problemáticas do
mundo moderno e dirigir-se aos
de televisão, quando se referem de PEDRO KROPOTIKINE jovens, a essa juventude mate-
ao sofrimento popular, que: — rialista, deparada com o ódio,
"O sacrifício é um tributo na- Preço por exemplar Cr$ 2.000 neurotizada pela Babel do sé-
tural". — Mas, senhores Minis- Pedidos para a COOPERATIVA EDITORA culo, existencialista pela visão
tros, dois loucos por hora é um da guerra, que aprendeu que
sacrifício muito grande que faz MUNDO LIVRE só duas fórmulas existem: ver-
chorar as pedras das ruas. São Cx. Postal, n.° 1 - Agência da Lapa - GUANABARA melho e azul. Essa juven-
quarenta e oito filhos do povo tude que quando filha de
que em diárias sucessões vão uma das metades do glo-
enfrentar as precárias condi- bo, se apercebe da morte e
ções de esfrangalhados sanató- julga que a vida que espera es-
rios, onde as possibilidades de teja no lado que não conhece e
recuperação são uma perpétua agarra-se a êle... Juventude
incógnita. que essas duas correntes procu-
O número assombroso destes ram alienar com futilidades
infelizes abrange milhares de gratuitas de uma ciência e de
famílias que ficam atribuladas, uma cultura não autênticas.
intranqüilas e traumatizadas, Todavia, esse trabalho de la-
cujo destino é, quem sabe, o boratório pode consumir mais
seu próprio esfacelamento. As-. tempo do que se espera, e, en-
sim compreende-se a onda avas- quanto se realiza, para evitar
saladora de crimes, roubos, ví- que se esteja de braços cruza
cios, suicídios e desaparecimen- dos, êle próprio exige uma ati-
tos, que ilustram tenebrosa- tude firme, objetiva, determina-
mente as páginas dos jornais. da, de forte repúdio às maqui-
É para isto que devem aten- nações obscenas desmascarando
tar os responsáveis pelos des- a gratuidade com que justifi-
tinos do país e procurar solu- cam os seus atos e desatos.
ções autênticas, justas e huma-
nas, sem parlapatórios inúteis, CHAMAMENTO KOPEZKY
sem corroídas palavrices que já O século de cenho sombrio Ocidente, e no caso chinês nu-
não encontram ressonância na debruçia-se para nós e sopra ma tentativa de assumir a lide-
desiludida e padecente popula- agouros maus. rança do Oriente. FÁLÁ Á CIÊNCIA
ção. É uma hora difícil, quase ne- Cada um dos dois lados se
gra. Nem sempre há uma orien-
agita em lutas internas e se tação uniforme entre os médi-
Negligentemente, de braços
dealbar cruzados, o mundo assiste à pro-
ameaçam um ao outro sem can-
sar. Concordam só em reduzir
cos sobre a conduta que deva
liferação dos regimes totalitá- ser seguida pelos pacientes
(Continuação da pág. 1) a problemática humana em após sofrerem enfarte do mio-
rios, articulados por forças dois termos: o vermelho e o
que crescem a passos lar- cárdio. Com base em longa ex-
reira a cumprir. Comunhão azul. São gêmeos na misti- periência, C. E. de Ia Chapelle
gos e «se avultam expandin- ficação, na chacina que come-
de ecos que não se apagam nun- do seu poder e degladian- e CA.R. Connor (Modem Con-
ca, e conscientização de todas tem. E em nome da liberdade cepts of Cardiovascular Disea-
dose entre si, sem medir tiranizam, em nome da vida se) estabeleceram as seguintes
as crenças. É o endosso que esforços, lançando mãos até do matam, e prometendo a paz
cada homem livre apõe nos tí- abominável. Cada qual justi- normas: o regime de convales-
preparam o desastre. cença dos pacientes que não ti-
tulos de liberdade, certo de fica suas brutalidades, suas vio- São tempos de guerra. São veram qualquer complicação
que não será fraudado nunca. lências, seus assassínios, na tempos em que fizeram de ca- após a crise coronariana não
ofensiva oposta, e elas, essas da homem um soldado. deve ser prolongado, especial-
É o resgate de todas as dívidasi, forças, sem que percebês- São tempos em que as mar-
o penhor de todos os compro- mente se se tratar do primeiro
semos, já fizeram a partilha do ginalizações e os braços cruza- enfarte. Cerca de um mês de
missos. globo. dos dos indiferentes que assis- completo repouso, sem tomar
DEALBAR é a palavra de Às vêees, como na índia há tem à luta pacificamente, tam- conhecimento de qualquer ati-
aviso, contra as alienações e a algum tempo, alguém se le- bém operam como soldados ar- vidade de responsabilidade.
vanta para erguer a bandeira regimentados nas fileiras dos Para os pacientes inteligentes,
teoria. É a cartilha da eman- do "terceiro esquema" e opor batalhões vermelhos ou azuis,
cipação, contra todas as igno- pode-se deixar a seu critério o
resistência. Mas, sempre, como porque permitem a ofensiva, aumento progressivo de suas
râncias. O roteiro para os vôos também ocorreu naquela opor- dão passos atrás e cedem terre- atividades, físicas e mentais.
claros da manhã que se abre tunidade, esse movimento é le- no. É tempo pois de agir, de Aquele que apresenta crise an-
pura às consciências da vigilân- vado a ridicularizar-se e pere- dizer basta! As lutas internas ginosa, reconhece de pronto
cer. A bandeira, pacientemen- que agitam esses dois grupos, e
cia. DEALBAR é brado e cla- a luta que travam entre si, de- seu limite de tolerância; já os
te espera, atirada ao chão, que demais devem evitar a fadiga
rim, é credo e crença, afirma- alguém a asteie, e no Ocidente vem propiciar a experiência de
ou a dispnéia de esforço. Du-
ção e vitória. É alvo em que e no Oriente, descobriram-na. um "terceiro esquema". Urge rante a convalescença, e mesmo
se cristalizam as nossas vigílias. Falsamente a China tem tenta- que se erga aquela bandeira
atirada ao chão, mas não inge- depois, uma das melhores for-
É manhã que remoça a virilida- do erguê-la, a França procura mas de atividade física é o an-
agitá-la, falsamente também, nuamente, como antes; não
de do embate. É bênção que dar a pé, desde que o paciente
porque essas duas nações não sem uma doutrina humana que não seja excessivamente gordo.
fortalece os heróis. É clima de assumem uma terceira posição, a sustente, não só com deses-
pero. Nestes casos, a obesidade é
compreensão e arauto de cora- articulam, cada qual na área uma sobrecarga para o coração
gem. das doutrinas totalitárias que Antes é preciso moldar esse
as englobam e suas resistências, esquema, meditar muito. Se é e a redução ponderável obvia-
DEALBAR é começo e é fim. assim como no caso francês que certo que a evolução da demo- mente se'impõe.
É eternidade presente. É pro- se deve à luta econômica do cracia e a evolução do socialis- (Continua no próx. número)

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foi que, fila hoje um cigarro cipiamos a compreender que cialmente habilidade — habili-
Velhos amigos que nos deixam deste amigo, fila amanhã outro
daquele, começamos a fumar.
não é lógico continuar a
envenenar o organismo devido
dade para fazer coisas, fosse
uma cadeira, música ou poesia.
Dolorosamente, em nosso pri- Fumar não é bem oermo, me- a uma contrariedade. Compre- As artes liberais eram ensina-
meiro número já temos que no- lhor diríamos "queimar-cigar- endemos, também, que é sim- das nas escolas como habilida-
ticiar o desaparecimento de ros", já que a fumaça não pas- plesmente uma reação animal des objetivas: Gramática, Retó-
dois grandes amigos nossos que sava da boca, não tragávamos. ficar aborrecido e nervoso por- rica, Lógica, Aritmética, Geo-
sempre estiveram prontos a Cumprido o tempo de servi- que os fatos não são como que- metria, Música e Astronomia.
prestigiar iniciativas desta na- ço tivemos baixa e fomos tra- ríamos que fossem. Hoje não falamos já em artes
tureza. balhar e residir na cidade de Isso trouxe-nos a calma e re- liberais, mas em ciências; isto
Antônio Oruso e Francisco Santos, porto de mar. Lá à vai- sultou em uma nova filosofia é, diversas categorias de conhe-
Rodriguez, que foram grandes dade se acrescentou o esnobis- de vida que se pode resumir na cimento expressas numa lingua-
e velhos amigos entre si, por- mo — só fumávamos cigarros frase atribuída ao Almirante gem verificável. As artes eram
que essa amizade vinha da Es- americanos e ingleses. Como o Hart: "Só desejo ter calma pa- uma maneira de "fazer" que im-
panha, terra natal de ambos, e ordenado era pequeno e os ci- Ta suportar com paciência o plicavam habilidade; as ciên-
prolongou-se por muitos anos, garros estrangeiros eram, para que não posso modificar, cora- cias são uma maneira de "co-
dado que trabalhavam na mes- o ano de 1920, caríssimos, pois gem e sabedoria para distin- nhecer" que implicam coerên-
ma empresa de gás de São Pau- custavam 2$500 o maço, nós os guir quando posso e quando cia lógica.
lo. Morreram com poucas sema- comprávamos nos botequins não posso". -A história das palavras reve-
nas de diferença. das redondezas do porto a Diante disso o hábito de fu- la a história das idéias.
Para eles vão as nossas imor- 1$200. Juntava-se, assim, à vai- mar se desfez por si. Não foi Chegamos ao divórcio total
redouras recordações, e para as dade ao esnobismo, a emoção necessário que o abandonásse- entre os conceitos, primitiva-
suas famílias os nossos profun- do perigo. Os cigarros estran- mos. Foi êle que nos abando- mente idênticos, de techne e
dos sentimentos e os nossos res- geiros vendidos nos botequins nou. ars.
peitos. entravam no País de contraban- E este é o único processo se- Técnica, método científico,
P. CATALLO do. Q muefôsse apanhado com- guro para se deixar de fumar habilidade artesanal, todos es-
prando-os corria o risco de ser ... uma vez só. Sim, porque há tes termos implicam competên-
preso. pessoas que deixam de fumar cia intelectual, e são caracte-
Como isso era emocionante! várias vezes, já que dentro de rísticas da nossa civilização tec-
E como os compradores se sen- algum tempo voltam ao vício. nológica, Mas, embora agoni-
tiam "grandes", diante dos olha- Há também os que dizem: zantes escolas de arte ainda en-
res de admiração dos circuns- "Não deixo de fumar porque sinem arte como habilidade,
tantes, ao puxarem do bôiso um não quero. Não me está fazen- é mais geralmente tida co-
maço de "Camel" ou uma lata do mal algum. Mas no dia em mo atividade instintiva, exer-
de "Wild Woodbine", para ofe- que eu resolver deixar, deixa- cida por uma minoria de pes-
recer um cigarro ao amigo ou rei". . soas talentosas, essencialmente
metê-lo na piteira de bambu Esses estão inconscientemen- por inspiração, quanto a sua
que acompanhava os "Woodbi- te tentando iludir-se devido _à origem, e pessoal quanto a sua
nes". vergonha que sentem de não manifestação e significação. A
Dentro de pouco tempo co- poderem livrar-se da escravi- sua importância é considerada
meçamos a tragar. As primei- dão. Detestam andar com os marginal numa civilização tec-
ras "tragadas" faziam-nos ver dedos encardidos, com um cons- nológica: um dom facultativo,
"mosquitos" luminosos e provo- tante pigarro, com mau cheiro que a maior parte dos orça-
cavam tosse ou náuseas. Mas e mau gosto na boca etc. Mas o mentos não permitem satisfa-
pouco a pouco o organismo foi vício os domina e por isso gos- zer. O princípio condutor du-
reagindo e se estabeleceu a to- tam de sonhar que quando qui- ma civilização tecnológica não
lerância. serem deixarão de fumar. é a elegância ou a beleza, mas
No fumar, propriamente, não O que se dá é exatamente o a eficiência da produção.
havia prazer. Mas como dava contrário. Aquele que está Estabelecer distinção entre a
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prazer, ao discutir, na rodinha consciente de que é escravo do arte e a ciência de governai; po-
de amigos, um problema impor- vício tem muito maiores proba- de parecer, hoje, exercício aca-
tante, como, por exemplo, a res- bilidades de se libertar dele. dêmico, mas integra-se no pro-
Por que aprendemos a fumar posta que havíamos dado a uma
garota, — parar e, ante a ansie-
E afinal, quem realmente
pensa não fuma, simplesmen-
blema vital que é distinguir en-
tre uma arte e uma ciência da
dade do auditório em saber te porque o fumar não é. própria vida. Considero este
e como deixamos esse qual fora essa resposta, sacar "Não é o quê?" — pergunta- problema vital com intenção
do bolso a caixa de fósforos, do rão. Não é coisa alguma posi- definida, pois creio que o bem-
maço um "Lucky Strike", batê- tiva, responderíamos. Não é estar futuro da humanidade de-
Por Oieno Castanho lo na caixa, com um gesto de saboroso. Não é bonito. Não é pende de se compreender o que
Andávamos pelos nossos de- displicência acendê-lo, tirar a necessário. Não é lucrativo (pa- está em jogo, e em seguida du-
zoito ou dezenove anos, quan- primeira baforada e então... ra o fumante). Só é negativo: ma clara opção entre as alter-
do começamos a fumar. E por só então, dar a resposta, em tem mau sabor, é ridículo, pois nativas. Pode ser um lugar-co-
quê? Pelos mesmos motivos que às sílabas escandidas se transforma o homem ou a mu- mum dizer que estamos numa
que movem todos os adolescen- misturam as baforadas azuis. lher em uma chaminé ambu- encruzilhada do desenvolvimen-
tes a adquirirem esse hábito: Como aquilo nos tornava impor- lante. É dispendioso — uma to humano, mas na realidade
imitação e vaidade. tantes! As frases mais vulga- despesa inútil — logo desneces- é um fato tremendo.
Fazíamos, nessa época, o ser- res adquiriam assim foros de sária. O homem não alcançou o seu
viço militar. E, como voluntá- sábios conceitos. E aqueles que fumam... pa- atual estádio superior na evo-
rio, mais jovem do que os de- E quem não conhece, ainda ra se tornarem importantes, que lução das espécies graças so-
mais soldados, na sua maioria hoje muito homem feito, às ve- pensam que um charuto, um ca- mente à força, ou ainda pelo
com vinte e um e mais anos, zes já com os cabelos grisalhos, chimbo ou mesmo um cigarro seu ajustamento as modifica-
sentíamos um certo complexo de que procede desse modo, co- lhes empresta uma personalida- ções do meio. Alcançou-o pelo
inferioridade. Eles eram mais mo se fosse um adolescente? de que não possuem... mere- desenvolvimento da consciên-
"homens" do que nós. Assim Outra vantagem era a de que cem a piedade dos que pensam, cia, que lhe tornou possível dis-
ao nos aborrecermos porque o pois sofrem de complexo de in- criminar a qualidade das coi-
mundo não fora feito de enco- ferioridade. sas.

dealbar menda para nós, segundo a nos-


sa fórmula, acendíamos um ci-
garro e o "ritual" de bater o
cigarro, tirar os fósforos etc.
servia para desfazer a tensão
Já meditaste, amigo leitor,
em como deve ser infeliz um
ente humano que para não se
sentir inferiorizado precisa an-
dar deitando fumo pelas ventas
Quer sejamos cientistas quer
artistas, o nosso objetivo é
aquilo a que Wordsworth cha-
mava "a alegria que ie estende
à mais larga comunidade": uma
expediente nervosa, que se esvaía com os como os lendários dragões de sociedade liberta das suas neu-
Diretor movimentos. que tanto se falava na idade roses, uma civilização liberta
PIETRO CATALLO Estávamos nessa época ainda média? da ameaça duma guerra que a
"adormecidos" Seguíamos a aniquile. Tal objetivo nunca
Toda correspondência com "onda" inconscientemente. No será alcançado por meio de leis
valores, originais, indicações entanto, devido à nossa profis- arte e vida políticas nem por qualquer coa-
etc, deve ser endereçada são de publicitário foi preciso
EXCLUSIVAMENTE para a (Continuação da pág. 4) ção totalitária. A mudança te-
nos dedicarmos ao estudo de rá de se processar orgânicamen-
Caixa Postal, 5739, em nome psicologia. Isto nos fêz "acor- cios, visto que personificavam
do Diretor. te, e deverá corresponder àque-
dar". Começamos então a com- as artes e as tinham como ativi- las leis vitais que desde o nas-
Redação e administração: preender os motivos de nossos dades delicadas. Não obstante, cimento determinam o equilí-
Rua Rubino de Oliveira, 85. atos, atos esses que até então durante a Idade Média arte . brio físico e psíquico do indi-
São Paulo. estavam mecanizados. E prin- continuou a significar essen: víduo em formação.

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artei
dizagem pragmática é essencial-
Por Herbert Read mente física:' a destreza de-
Tolstoi no seu livro "Que é senvolve-se pelo manejo dos ob-
a Arte?" tentou explicar a mis- jetos materiais. Destreza que
teriosa relação entre a arte e ainda é necessária em muitas
a vida. atividades industriais: dividi-
Tolstoi sabia que essa rela- mos o trabalho em especializa- -
ção era muito profunda e que do e não especializado. Mas t?
existe íntima relação entre a hoje muito freqüente entender-
beleza e a violência, entre o se mais por destreza a capaci-
amor e a morte. A nossa civi- dade de compreender e eontro-V
lização tecnológica ignora tais lar um processo mecânico do
valores, na sua cega ambição que a habilidade manual para .
A LUTA CONTRA A ABERRAÇÃO RACjSTA de poder e riqueza, e o preço dar forma a uma substância fí-
sica. É uma atividade mais ce:
truosas regras de "apar- disso é a neurose de massa,
Todo o mundo seguiu cujos sintomas são um desespe- rebral do que dos sentidos. Isto
com singular simpatia a theid" em um país "civili- ro apavorado, a apatia e a vio- se verifica até para as opera4,
lência pela violência. ções agrícolas; o lavrador, que-
grande campanha contra a zado" governado pelos her- dantes usava a pá e a enxada,
Esta neurose universal alas- foi substituído pelo mecânico
segregação racial realizada deiros dos bôeres. Nada têm trou-se com o progresso da tec- conduzindo um trator.
nos Estados Unidos, onde conseguido as reiteradas nologia. É a neurose dos ho- Tal mudança nas formas ele-
mens cujo principal consumo mentares da atividade humana
as demonstrações e marchas manifestações de repúdio e de energia consiste em puxar não podia deixar de afetar pro-
de milhares de manifestan- os protestos contra seme- uma alavanca ou tocar um bo- fundamente a vida mental e o.
tão, de homens que deixaram comportamento moral. A sua
tes negros e brancos alcan- lhante vergonha. A infân- de fazer coisas com as próprias mais óbvia expressão seria'
çaram vastas projeções. A mia continua castigando a mãos. Essa inatividade não é uma agressividade sem objeti-
apenas dos músculos e dos ner- vo. As energias não-emprega-
decisão do governo de Was- população negra, que re- vos, mas dos processos criado- dar. privadas da sua expansão
hington de proteger a mar- presenta uma grande maio- res que outrora exigiam a par- tradicional, explodem em vio-
cha sobre Alabama evitou ria, pela "raça privilegiada ticipação da mente. Se fosse lência.
possível fazer a comparação vi- Os gregos, embora deles nos
a ação violenta dos elemen- dos brancos. Por outra par- sual, num estudo de tempo e venha a nossa filosofia da arte,
tos racistas. Porém, a seita te, a morbonazi deixou he- movimento, entre as atividades não tinham palavra para desig-
quotidianas de um marceneiro nar "arte". Diziam Techne —
cavernícola da Ku Klux rança em muitos países. do século XVIII e de um en- equivalente à nossa palavra
Klan não deixou de consu- Não repetiremos o que genheiro-mecânico do nosso, as "Skill" (habilidade), de origem
do segundo apareceriam como escandinava e cuja significação
mar um assassinato e vários já foi dito tantas vezes so- uma concreção, uma borra de primitiva implica discrimina-
atentados. Esta organiza- bre a natureza psicótica dos repetição; e as do primeiro, co- ção. A raiz "ar" significa "ajus-
mo um espécime livre e até tar ou juntar". Aos romanos se
ção tem uma larga história que são possuídos pela ob- criador. devem provavelmente a distin-
de crimes e tem contestado, . sessão racista. No nosso As atividades de rotina já ção que se estabeleceu gradual-
existiam nos séculos anteriores, mente entre as artes e os ofí-
com sua conhecida lingua- tempo dos vôos espaciais, a mas em geral os seres huma-
xenofobia, a discriminação (Continua na pág. 3)
gem provocativa, altaneira nos achavam-se em contato com
e ultra-patriótica, ao anún- e segregação segundo a côr a Natureza, e dependentes das
cio de que será combatida da pele, são anacronismos
coisas. Muito antes da Revo-.
lução Industrial, já Jean Jac-
Quanto custa este
com a máxima energia. bárbaros que não podemos, ques Rousseau estabelecera es-
te princípio da educação: "Fa- pequeno jornal
Porém alguns objetivos e que não devemos tolerar. zei com que a criança confie Não basta o esforço de um gru-
Em qualquer lugar e com apenas nas coisas". Acreditava
matizes da cruzada encabe- que a criança aprende melhor
po de abnegados, que se sacri-
qualquer denominação que ficam idealisticamente por uma
çada por Luther King são experimentando e errando do causa comum. O nosso jornal
pela reivindicação de uma se manifestem, constituem que por fórmulas. Esta apren- precisa do apoio de pessoas co-
um fator de perturbação da mo V., que se interessam e
integral igualdade de direi-
tos para todos os homens e convivência, e afetam di- "Origem dos grandes que desejam realizar uma obra
de tanto valor para a sociedade.
reitos essenciais do ser hu- , Sem esse apoio, não podemos
mulheres, sem distinção de erros filosóficos" garantir que V. receba o próxi-
raça, credo ou cor. mano. mo número. As despesas exis-
de
Diante de um fenômeno tentes, embora não astronômi-
Quando se fala da luta Mário Ferreira dos Santos cas, representam uma pesada
que envergonha a todos os carga para a nossa modesta
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