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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

MARCUS VICTOR MEZZOMO

PAULA GABRIELA BARBIERI

STELLA ROCCA WOEHL

VICTOR HUGO PETERSEN

IDEOLOGIA E RELIGIÃO SOB A ÓTICA MARXIANA

Trabalho de graduação apresentado à


disciplina de Direito e Sociedade do Curso
de Direito do Setor de Ciências Jurídicas
da Universidade Federal do Paraná

CURITIBA

2017
SUMÁRIO

ROTEIRO DO SEMINÁRIO........................................................................................3

1 – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS.............................................................................3

1.1 - EPISTEMOLOGIA E ORIGEM DO TERMO IDEOLOGIA................................3

2 – IDEOLOGIA SOB A ÓTICA MARXIANA...............................................................4

2.1 - FORMA INVERTIDA DE IDEOLOGIA..............................................................4

2.2 - IDEOLOGIA COMO FRUTO DA DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO..............4

2.3 - FALSA CONSCIÊNCIA DA IDEOLOGIA..........................................................5

3 – RELIGIÃO SOB A ÓTICA MARXIANA..................................................................6

3.1 - RELIGIÃO COMO "O ÓPIO DO POVO"...........................................................6

3.2 - RELIGIÃO COMO ALIENAÇÃO.......................................................................7

4 – IDEOLOGIA COMO MEIO DE DOMINAÇÃO.......................................................8

4.1 - SURGIMENTO DA IDEOLOGIA BURGUESA..................................................8

4.2 - SUPERESTRUTURA E DESMISTIFICAÇÃO DO MUNDO.............................8

REFERÊNCIAS.........................................................................................................11

ANEXO......................................................................................................................12
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ROTEIRO DO SEMINÁRIO

1 – Pressupostos Teóricos

1.1 - Epistemologia e origem do termo "ideologia"

Para melhor se compreender o conceito de 'ideologia' sob a ótica marxiana,


se faz necessário primeiramente compreender o significado e a origem de tal termo.
Este foi registrado pela primeira vez pelo filósofo francês Destutt de Tracy em seu
livro "Elementos de Ideologia", e consiste na junção de duas palavras gregas: idea
(aparência, protótipo ideal) e logos (estudo), significando, por sua vez, estudo das
ideias, o que representa a ideia original de De Tracy de criar uma "ciência da gênese
das ideias".
Assim como ressaltado por Terry Eagloton em sua obra "Ideologia", palavras
que possuem o sufixo "-logia" tendem a sofrer um curioso processo de inversão de
significado, onde deixam de significar o estudo de algum fenômeno para representar
o fenômeno em si. Como formas de exemplo, cita que quando se diz que "a biologia
humana não comporta determinado fenômeno", não está se referindo ao estudo do
corpo humano, mas sim ao corpo em si, da mesma forma que a geologia de um país
diz respeito aos próprios aspectos físicos ao invés do estudo dos mesmos. Nesse
sentido, demonstra-se que "ideologia", deixa de se referir ao estudo das ideias para
se referir ao próprio sistema de ideias, da mesma forma que o ideólogo passa a ser
quem expunha as ideias, e não mais quem as analisava.
Nesse sentido, a ideologia, para De Tracy, surge como "uma investigação
racional das leis que governam a formação e o desenvolvimento das ideias", tendo
como programa a função de trazer para o domínio da pesquisa científica o fenômeno
da análise da própria mente. No entanto, é necessário ressaltar que o próprio
conceito de ideologia nasceu em condições já ideológicas, como uma política
racional a fim de bater de frente com o irracionalismo do Período do Terror existente
durante a revolução francesa. Dessa forma, contou desde o princípio com o apoio de
Napoleão Bonaparte, o qual no entanto veio a se reverter posteriormente quando o
autoritarismo do general começa a entrar em confronto com o liberalismo político e o
republicanismo defendidos por De Tracy.
Dessa forma, os termos "ideologia" e "ideólogos" passam a ser dotados de
um sentido pejorativo a partir de declarações de Napoleão, em que compara os
ideólogos aos próprios metafísicos que eles tanto se esforçaram para desacreditar.
Esse significado napoleônico, por sua vez, viria a ser conservado por Marx
posteriormente, ao defender que "o ideólogo é aquele que inverte as relações entre
as ideias e o real. Assim, a ideologia que inicialmente designava uma ciência natural
da aquisição, pelo homem, das ideias calçadas sobre o próprio real, passa a
designar, daí por diante, um sistema de ideias condenadas a desconhecer sua
relação real com o real".
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A partir de um novo antagonismo político entre o radical liberal de De Tracy e


o reacionário político de Napoleão, o volume final de sua obra Elements trata
principalmente da questão da economia política. Assim, essa concepção da
economia política como parte de uma ciência geral da ideologia contribui para Marx
posteriormente adotar o conceito de ideologia que deixa de ter o sentido de meras
ideias abstratas para o de apologia política. Dessa forma, como destacado por
Eagleton, "o termo ideologia gradualmente deixa de denotar um cético materialismo
científico para significar uma esfera de ideias abstratas e desconexas, e é esse
significado da palavra que será então adotado por Marx e Engels".

2 – Ideologia Sob a Ótica Marxiana

2.1 - A forma invertida de ideologia

Como já apresentado em outras ocasiões, Marx mostra que a burguesia, ao


possuir os meios de produção, é a classe dominada e que o proletariado, ao não
possuir tais meios, é a classe dominante, e que através da mais-valia os
trabalhadores são explorados e sua força de trabalho passa a ser mero objeto.
Nesse sentido, ao se perguntar por que o trabalhador não se revolta contra o
sistema e o torna a seu favor, já que é o seu próprio trabalho que mantém o sistema,
sendo esta situação vista de forma tão natural pelo proletariado, a resposta nos
conduz diretamente ao conceito de ideologia para Marx e seu funcionamento.
Como parte de sua teoria do materialismo histórico científico, Marx defende a
determinação das forças do âmbito das ideias pelas forças reais e materiais. No
entanto, a ideologia surge como uma concepção idealista, causando uma inversão
no processo histórico-sociológico e deixando-o de ponta-cabeça. Nesse sentido,
tenta pregar que as ideias são o motor da vida real quando na verdade, para Marx,
são determinadas pela realidade material e o contrário disso não faz sentido.
Assim, utilizando-se de exemplos históricos para explicar o funcionamento
dessa inversão, assim como feito por Marilena Chauí em sua obra "O Que É
Ideologia", percebemos que tanto a Inconfidência Mineira quanto a Independencia
do Brasil foram processos decorrentes das condiçoes reais materiais da época. No
entanto, ao se tomar os efeitos pelas causas e as consequencias pelas premissas,
acabamos por entender o episódio da Incofidência como responsável por preparar
as condições reais que resultariam na independência.

2.2 - Ideologia como fruto da divisao social do trabalho

Em suas considerações sobre a ideologia, Marx e Engels propõem o


surgimento da ideologia como meio de dominação da classe burguesa a partir do
início da divisão social do trabalho e a consequente separação entre o trabalho
material e o trabalho intelectual. Nesse sentido, a ideologia pressupõe uma
separação que, para o pensamento marxista, não existe na realidade: a das ideias
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em relação aos meios nas quais elas são produzidas, uma vez que, na visão do
materialismo histórico dialético de Marx, a superestrutura (ou seja as ideias da
sociedade) e a infraestrutra (seus meios e modos de produção) são extremamente
interdependentes e inseparáveis, sendo a superestrutura diretamente dependente
da infraestrutura.
Nesse sentido, a partir do momento que as ideias passam a ser apreendidas
como entidades autônomas e dissociadas das práticas sociais, torna-se fácil
naturalizá-las e distorcê-las mediante um processo de inversão, podendo ser
erroneamente compreendidas como a própria origem e fundamento da vida
histórica, sendo esse, para Marx, o segredo de toda a ideologia. Assim, Marx se
opõe completamente à filosofia alemã ao afirmar que "não é a consciência que
determina a vida, mas a vida que determina a consciência".
Uma vez que as ideias acabam sendo vistos pela classe dominada como
sendo dotadas de autonomia, cabe aos pensadores, geralmente pertencentes à
classe dominante, apenas "descobri-las" ao invés de criá-las. Essa “descoberta” é,
na verdade, a forma de apresentar à classe dominada os próprios interesses da
classe dominante, de forma que se crie a impressão de serem interesses universais,
válidos igualmente para toda a sociedade. Para disseminarem tais interesses, por
sua vez, a classe dominante se aproveita do controle dos meios de produção
(infraestrutura) para utilizar a superestrutura a seu favor, de modo a aproveitarem-se
da mídia, da religião, da educação, da arte e da moral como meios de propagarem
seus ideais e institucionalizá-los.

2.3 - Falsa Consciência

A ideologia, por sua vez, é um instrumento de de dominação de classes: tem


por função preservar tal sistema ao apresentar uma explicação apaziguadora para
as diferenças sociais. Como dito por Marilena Chauí, "o papel da ideologia na luta de
classes é impedir que a dominação e a exploração sejam percebidos em sua
realidade concreta". Nesse sentido, a ideologia esconde sua origem como fruto da
luta de classes por meio da ocultação das divisões sociais como divisões de classes
através da dissimulação dos ideais da classe burguesa como sendo universais.
A ideologia, portanto, seria uma forma de consciência, mas uma consciência
parcial, ilusória e enganadora que se baseia na criação de conceitos e preconceitos
como instrumentos de hegemonia: uma falsa consciência.
A falsa consciência faz com que a classe dominada imagine estar perseguindo suas
proprias ideias e objetivos, enquanto na verdade está atendendo à necessidade
burguesa e seguindo as ideias que lhes são passadas. Essa consciência rabalha
apenas com a documentação intelectual que toma sem percebê-la como fruto do
pensamento da classe dominante e sem pesquisar se tem uma origem mais distante
e independente de seu próprio pensamento.
Um dos objetivos da ideologia é ofuscar a percepção de classes, exaltando as
características humanas comuns a todos os indivíduos de forma que a desigualdade
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social passe a ser algo derivado e de menor importância. Assim, a ideologia


burguesa justifica a igual capacidade entre todos os indivíduos, uma vez que todos
são proprietários de algo: dos meios de produção, das terras ou do próprio salário.
No entanto, isso não passa de uma falsa consciência, uma vez que a classe
burguesa, somente, é dona dos meios de produção e por consequência também das
terras e do próprio salário dos trabalhadores.
Dessa mesma forma, o Estado surge para os indivíduos como algo autônomo
e independende, ao qual somente lhes cabe a obediência, de maneira análoga à
percepção da separação de classes pelos trabalhadores: exterior à eles, porém com
uma diferenciação de interesses particulares contraditórios imperceptível. Nesse
processo, cada um não pode escapar da atividade que lhe é imposta socialmente. A
partir disso, todo o conjunto das ações sociais aparece nas ideias como se fosse
coisa em si, existentes por si mesmas e não decorrentes das ações humanas.

3- Religião Sob a Ótica Marxiana

3.1 - Religião como "O Ópio do Povo"

Diferentemente de Durkheim que vivenciou o enfraquecimento gradual do


poder da Igreja, Marx viveu em uma época na qual o poder religioso já havia se
extinguido. Como diz Rubens Alves em sua obra “O Que É Religião?”, o mundo do
século XIX é sacralizado do começo ao fim e só conhece a ética do lucro. Apesar de
haver água benta nas inaugurações de fábricas e mesmo que os capitalistas rezem
missas pela prosperidade, o sistema capitalista ignora os elementos espirituais.
Nesse momento, Marx discorda dos hegelianos que culpavam a religião por
todas as desgraças sociais de então: ele diz que a religião de nada tinha culpa pela
simples razão de que ela não fazia mais diferença alguma. Essa divergência é um
reflexo da inversão que Marx faz da dialética de Hegel quando afirma o primado da
infraestrutura sobre a super estrutura, na qual a religião se insere. Esse é, na
realidade, o fundamento da crítica religiosa marxiana: o homem faz a religião, e não
a religião faz o homem.
Nesse sentido, o homem encontrou na “realidade fantástica do céu” apenas
um reflexo invertido de si mesmo: Marx define a religião como uma projeção da
realidade terrena para um plano superior metafísico. Esse reflexo é invertido porque
o próprio mundo humano é invertido. Assim, a religião é a autoconsciência do
homem, que ainda não conquistou a si mesmo ou já se perdeu. Desse modo, a luta
contra a religião não passa de uma luta contra o próprio mundo.
Como diz Marx em a “crítica da filosofia do direito de Hegel”: o sofrimento
religioso é, ao mesmo tempo, expressão de um sofrimento real e protesto contra um
sofrimento real. A religião é o ópio do povo, suspiro da criatura oprimida, coração de
um mundo sem coração, espírito de uma situação sem espírito. Os homens criam a
religião em busca de uma felicidade ilusória que possa ao menos mitigar a
necessidade de uma felicidade real. No mesmo sentido, a exigência de que se
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abandone essas ilusões acerca de sua condição é, na realidade, um reflexo de algo


mais urgente: a necessidade de se modificar a realidade que precisa de ilusões para
ser suportada. A crítica do céu, é, fundamentalmente, a crítica da terra. Marx não a
criou para desamparar os homens que veem na religião um refúgio, mas para
desengana-los e guia-los à razão.
Rubens Alves em “O Que É Religião?” faz uma comparação interessante:
assim como o homem é que faz a religião, é o fogo que produz a fumaça. Então, do
mesmo modo que é impossível apagar o fogo ao assoprar a fumaça, também é
impossível mudar a realidade ao criticar a religião.

3.2 Religião como alienação.

Para Marx, bem como para Fauerbach, alienação é uma transferência de


nossa consciência para uma realidade fora de nós. Disso surge a ideia de que o
plano religioso nada mais é que um reflexo invertido do mundo material que
vivemos.
Marx afirma que o homem é um animal carente. Para suprir essas
necessidades, ele produz tanto coisas materiais como imateriais. A religião é uma
dessas coisas, que serve como apoio para suportar as condições de vida. Ela surge,
principalmente, porque a produção de coisas materiais não abarca algumas
questões da vida, como a morte, por exemplo.
Para Marx, a religião é uma ilusão que consola os fracos e, ao mesmo,
tempo, pode ser um instrumento para legitimar e consolidar o poder dos fortes.
Assim, o pensamento religioso é uma faca de dois gumes: quando o oprimido
justifica algo como sendo “a vontade de Deus”, as injustiças se transformam em algo
inevitável produzido por um ser superior misterioso, de modo que as condições
insuportáveis sejam suportadas por meio da esperança da salvação; por outro lado,
os opressores ao pronunciarem as mesmas palavras legitimam seus privilégios e
colocam o mesmo ser superior como o responsável pela exploração conduzida por
eles. Afinal, é vontade de Deus que haja quem explore e quem seja explorado.
É desse modo que as palavras de sofrimento, envolvidas pela sacralidade, se
transformam no ópio, na ilusão do povo, que precisa ser abolida para que a
felicidade verdadeira brote.
Um ramo da religião que é alvo de críticas e controvérsias, principalmente no
Brasil, é a Igreja Universal do Reino de Deus. Segundo um estudo realizado por uma
estudante de comunicação social da PUC-Rio, Rosa Maria Mattos, a IURD é a igreja
que mais cresce no Brasil. Ela se baseia na Teologia da Prosperidade, que é “um
conjunto de crenças que dá destaque a prosperidade terrena como sinal de fé e
benção divina”. Nos cultos, os pastores garantem concessão divina de prosperidade
material, cura física e emocional, e resolução de problemas familiares e afetivos. Ou
seja, na crença da Teologia da Prosperidade, só não é bem sucedido quem não
possui fé ou não obedece aos ensinamentos da bíblia. Esse sucesso, no entanto,
tem um preço: o dízimo é parte essencial da da ideologia da IURD. Ele é meio pelo
qual o crente deve provar a sua fé. Isso prova a enorme habilidade persuasiva deste
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religioso. Contudo, é importante ressaltar que o público alvo da IURD são pessoas
fragilizadas, tanto econômica quanto emocionalmente. Portanto, elas se encaixam
nas definições de Marx de população oprimida e alienada, que busca na religião um
amparo para aguentar sua condição.
Por outro lado, a Teologia da Prosperidade incentiva o luxo e a riqueza.
Assim, todos os fieis, inclusive os que possuem renda mais baixa, são envolvidos
pela lógica da compra, da posse, do sucesso material. Desse modo, nessa ideologia
o consumo tem papel central e, aos poucos, passa a se confundir com felicidade
para os crentes. Assim, como concluiria Marx, a IURD não passa de um instrumento
para legitimar e consolidar a ideologia da classe dominante.
Com efeito, Marx vislumbra o fim da religião: ela só existe onde há alienação.
Desse modo, quando não houverem mais opressores e oprimidos, isto é, onde
desaparecer a alienação, desaparecerá também a religião.

4 – Ideologia Como Meio de Dominação

4.1 - Surgimento da ideologia burguesa

Para compreender-se satisfatoriamente a resposta da pergunta "qual seria a


ideologia burguesa que Marx busca combater?", é preciso entender o seu
surgimento, que remota às revoluções burguesas no século XVIII. Nesse período, a
burguesia acreditava que seria possível emancipar o homem das correntes da
tirânicas dos reis, refundando a sociedade com bases racionais, que poderiam vir
somente através da educação.
A revolução intelectual do período foi um verdadeiro choque: a metafísica
eclesiástica que justificava o poder régio é substituída por um racionalismo material
e o poder tradicional rapidamente perde seu valor para o poder da moeda. Agora as
instituições sociais tornam-se obras do homem, e não do divino. Elas podem, dessa
forma, ser modificadas para atender as necessidades humanas de justiça e
felicidade. É através dessa efervescência que as ideias de toda sociedade começam
a mudar e ilustrar uma realidade que voltada para os valores burgueses
A burguesia começa a desenvolver, então, uma verdade alternativa, como se
um véu cobrisse a realidade do proletariado, agora livre do trabalho na terra, mas
preso à sua própria força de produção. A ideia de liberdade que a revolução
industrial trouxe possibilitava o sonho do enriquecimento através do trabalho árduo,
como se fosse possível ao proletário alcançar o mesmo que fez seu patrão (como
veremos mais adiante essa é apenas mais uma das inversões do capitalismo,
ferramenta usual da construção ideológica).

4.2 - Superestrutura e desmistificação do mundo


Na visão de Marilena Chauí a influência da burguesia no campo das ideias se
espalha através do domínio que se tem sobre a cultura, onde são disseminados
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valores que padronizam o homem, retirando sua individualidade, o que impede a


revolução. Esse controle é evidente quando se observa que os veículos de
comunicação em massa são dominados por oligopólios que muitas vezes atendem
aos seus próprios interesses
Como dito anteriormente, na concepção de Marx, podemos classificar a
ideologia como uma instituição pertencente à superestrutura, ou seja, é determinada
pelas relações sociais, que por sua vez são baseadas na forma em que estão
distribuídos os meios de produção. É, portanto, evidente que em uma sociedade
capitalista serão justamente os capitalistas burgueses que irão determinar o
ordenamento ideológico da sociedade. Vale ressaltar que, no entanto, Marx não
considera que a ideologia seja somente uma criação da classe dominante, mas
também (e em menor parte) uma visão desenvolvida pelo proletariado.
A ideologia que Marx crítica não é somente aquela que é estimulada pela
burguesia e disseminada culturalmente, mas também a ilusão que o proletário
desenvolve por si só para aliviar a sua realidade de miséria, e nas palavras de Terry
Eagleton “Com efeito, enquanto os homens, por força de seu limitado modo material
de atividade, são incapazes de resolver essas contradições na prática, tendem a
projetá-las nas formas ideológicas de consciência, isto é, em soluções puramente
espirituais ou discursivas que ocultam efetivamente, ou disfarçam, a existência e o
caráter dessas contradições”. O combate à ideologia burguesa seria, portanto,
sinônimo de desmistificar o mundo, mostrar sua verdadeira face sob os olhos da luta
de classe.
É nesse intuito que desde suas primeiras publicações (que ainda não
possuíam a criticidade ao capitalismo que é característica da literatura marxista)
Marx entende que o ordenamento social moderno, repleto de contradições, seria
incapaz de produzir respostas adequadas a essas contradições, uma vez que essas
respostas seriam apenas ilusões geradas pela inversão do ordenamento social, que
é o capitalismo.
Mais claramente, Marx critica qualquer debate de ideais que derive do mundo
capitalista, pois ele se basearia em uma ilusão. Exemplo disso é a crítica que Marx
faz aos jovens hegelianos (estudantes que, na época, desenvolviam seu
pensamento político e acadêmico através do Positivismo de Hegel): “...pois os
jovens hegelianos acreditam que a tarefa é libertar o homem das ideias errôneas.
Mas eles esquecem que a essas frases estão apenas opondo-se à outras frases e
não estão, de modo algum, combatendo o mundo real que de fato existe”. Esse
pensamento é clara construção da ideia de que o combate deve ser no “mundo real”,
ou seja, o mundo da luta de classes, distante da noção acadêmica de que se pode
corrigir o mundo através do combate às “ideias erradas”, ideias essas que, para
Marx, seriam apenas consequência das contradições sociais do mundo moderno. A
luta contra a ideologia, por conseguinte, não pode se manter somente no campo das
ideias, mas se aprofundar num profundo embate ideológico
Já em O Capital, Marx quase abandona o termo ideologia, embora se refira
várias vezes à inversão anteriormente descrita, o que faz com que muitos marxistas
a entendam como sinônimo de ideologia, o que não seria menos preciso, visto que
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é exatamente isso que é a ideologia para Marx: uma falsa consciência que faz algo
parecer o seu exato oposto. Para ilustrar esse fenômeno Marx usa como exemplo o
conceito de concorrência: a concorrência é contrária ao monopólio, e através dela as
empresas competem e se desenvolvem a fim de conquistar maior parcela do
mercado, o que, no entanto, gerará um monopólio quando findada a disputa por
mercados. O que para Marx é uma clara contradição do capitalismo, no entanto
passa desapercebida na sociedade, que está anestesiada por essa visão invertida
do mundo, presente em todos os aspectos da vida econômica no capitalismo
A ideologia, no entanto, possui hoje uma força que Marx não imaginou que
possuiria. Marx acreditava que o capitalismo teria fim quando suas contradições
ficassem tão evidentes que não fosse possível outra solução a não ser a revoltar-se
contra a maquinaria de opressão burguesa. Hoje, no entanto, a ideologia não é
apenas uma inversão da realidade, mas princípio que sustenta a dominação da
burguesia. Essa leitura é feita por diversos autores marxistas, que anos depois
aprofundaram os estudos de Marx, como Antônio Gramsci.
Por fim, se observa que a ideologia hoje é não só ferramenta de dominação,
mas também de manutenção do sistema capitalista e que somente com uma visão
crítica, sem qualquer pretensão de neutralidade, seria possível desmascarar seu
funcionamento como ferramenta de opressão.

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