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Foucault
Escrito por Cassiano Terra Rodrigues
Segunda, 24 de Dezembro de 2012
Não deve nos ser difícil entender o aumento do poder sobre a vida
humana, em nossa época de transgênicos, células-tronco e tudo o
mais que faz o ser humano brincar de ser Deus. Para Foucault, depois
da formação da sexualidade moderna, o biopoder surge como um
poder sobre a vida que responde a urgências históricas específicas,
surgidas depois de consolidado o racismo moderno, biológico e de
Estado, exemplificado pela instituição da escravidão e pela difusão da
ideologia da guerra entre as raças. O biopoder surge com a
estatização da vida biológica, com a estatização do homem como ser
vivo, e institui-se com as políticas da vida biológica (inclusive as que
incidem sobre a sexualidade) e como poder sobre a morte (no caso do
racismo). Em outras palavras, o biopoder ganhará forma, em primeiro
lugar, com as disciplinas que buscam enquadrar não mais as ideias,
mas o corpo individual humano. E essas disciplinas, de sua vez,
contribuirão para a consolidação de uma verdadeira biopolítica,
voltada ao controle não mais dos corpos individuais, mas de
populações inteiras.
Para Foucault, a partir da Era Clássica, o poder muda seu foco – trata-
se, agora, de fazer viver e deixar morrer, isto é, de abandonar à
morte. Eis a diferença histórica que nos constitui, segundo Foucault:
o objetivo do poder é normalizar e regular a vida das pessoas, e esse
é o traço individualizante do poder; o traço totalizante está em que as
disciplinas operam para garantir o poder sobre as massas, já que a
explosão demográfica e a industrialização fazem ruir as bases do
poder antigo. O poder de nossa época não é mais o poder de Crassus,
que fazia morrer ou deixava viver conforme a uma decisão arbitrária,
apesar de pautada na ordem legal de Roma. O poder de nossa época
obedece a necessidades racionais específicas, ele se exerce conforme
regras e instituições que possibilitam e restringem a nossa vida –
quem consegue viver sem trabalhar? Que vida é possível fora do
âmbito da produção? Como sobreviver sadiamente em sociedade sem
regras de higiene e normas de boa conduta social? O poder de nossa
época define o direito de intervir para fazer viver, o direito de intervir
sobre a maneira de viver, sobre o “como” da vida – e qualquer
pessoa, com um mínimo de discernimento, reconhecerá a situação em
que tem de obedecer a normas para continuar sua vida. No entanto, é
possível normalizar e regular tudo? Uma vida completamente
normalizada transforma-se em sua antítese!
Cordiais saudações.
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