Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
walter kohan
sammy lopes
fabiana martins (orgs.)
Rio de Janeiro
Nefi, 2016
22
Universidade
Universidade dodo Estado
Estado do
do Rio
Rio de
de Janeiro
Janeiro (UERJ)
(UERJ)
Reitor:
Reitor: Ruy
Ruy Garcia
Garcia Marques
Marques
Vice-Reitora:
Vice-Reitora: Maria
Maria Georgina
Georgina Muniz
Muniz Washington
Washington
Sub-Reitor
Sub-Reitor de
de Pesquisa
Pesquisa ee Pós-Graduação:
Pós-Graduação: Egberto
Egberto Gaspar
Gaspar de
de Moura
Moura
Programa
Programa de
de Pós-Graduação
Pós-Graduação em em Educação
Educação (PROPEd)
(PROPEd)
Coordenador:
Coordenador: José
José Gondra
Gondra
Vice-Coordenadora:
Vice-Coordenadora: Lígia
Lígia Aquino
Aquino
Núcleo
Núcleo de
de Estudos
Estudos de
de Filosofias
Filosofias ee Infâncias
Infâncias (NEFI)
(NEFI)
Coordenador:
Coordenador: Walter
Walter Omar
Omar Kohan
Kohan
Conselho
Conselho Editorial
Editorial
Alejandro
Alejandro Ariel
Ariel Cerletti,
Cerletti, Universidad
Universidad dede Buenos
Buenos Aires
Aires
Carlos
Carlos Bernardo
Bernardo Skliar,
Skliar, FLACSO,
FLACSO, Argentina
Argentina
César
César Donizetti
Donizetti Leite,
Leite, UNESP
UNESP -- RioRio Claro
Claro
Gregorio
Gregorio Valera-Villegas,
Valera-Villegas, Universidad
Universidad Experimental
Experimental Simón
Simón Rodríguez,
Rodríguez, Venezuela
Venezuela
Gustavo
Gustavo Fischman,
Fischman, Arizona
Arizona State
State University
University
Juliana
Juliana Merçon,
Merçon, Universidad
Universidad Veracruzana,
Veracruzana, México
México
Junot
Junot Cornelio
Cornelio Matos,
Matos, UFPE
UFPE
Karin
Karin Murris,
Murris, Cape
Cape Town
Town University
University
Marina
Marina Santi,
Santi, Università
Università degli
degli Studi
Studi di
di Padova,
Padova, Italia
Italia
Maximiliano
Maximiliano Durán,
Durán, UERJ
UERJ
Olga
Olga Grau,
Grau, Universidad
Universidad dede Chile
Chile
Paula
Paula Ramos
Ramos de
de Oliveira,
Oliveira, UNESP,
UNESP, Araraquara
Araraquara
Pedro
Pedro Pagni,
Pagni, UNESP,
UNESP, Marília
Marília
Rosana
Rosana Fernandes,
Fernandes, UFRGS
UFRGS
Sílvio
Sílvio Donizetti
Donizetti de
de Oliveira
Oliveira Gallo,
Gallo, UNICAMP
UNICAMP
Wanderson
Wanderson Flor
Flor do
do Nascimento,
Nascimento, UnBUnB
Equipe
Equipe de
de redação
redação (NEFI/UERJ)
(NEFI/UERJ)
Alessandra
Alessandra Lopes
Lopes
Allan
Allan Rodrigues
Rodrigues
Fabiana
Fabiana Martins
Martins
Marcelly
Marcelly Custodio
Custodio
Simone
Simone Berle
Berle
Capa:
Capa: Marcelly
Marcelly Custodio
Custodio de
de Souza
Souza
Diagramação:
Diagramação: Simone
Simone Berle
Berle ee Marcelly
Marcelly Custodio
Custodio de
de Souza
Souza
Revisão
Revisão Técnica:
Técnica: Fabiana
Fabiana Fernandes
Fernandes Ribeiro
Ribeiro Martins
Martins
Dados
Dados Internacionais
Internacionais dede Catalogação
Catalogação na
na Publicação
Publicação (CIP)
(CIP)
(Câmara
(Câmara Brasileira
Brasileira do
do Livro,
Livro, SP,
SP, Brasil)
Brasil)
Walter
Walter Omar
Omar Kohan;
Kohan; Sammy
Sammy William
William Lopes;
Lopes; Fabiana
Fabiana Fernandes
Fernandes Ribeiro
Ribeiro
Martins
Martins (orgs.)
(orgs.)
O ato
O ato de
de educar
educar em
em uma
uma língua
língua ainda
ainda por
por ser
ser escrita
escrita –– 11 ed
ed –– Rio
Rio de
de Janeiro:
Janeiro:
NEFI, 2016
NEFI, 2016 ––
ISBN: 978-85-93057-03-8
ISBN: 978-85-93057-03-8
1.1. Educação
Educação –– Filosofia.
Filosofia. 2.
2. Ensino
Ensino de
de Filosofia
Filosofia I.I. Título.
Título. II
II Série.
Série.
CDD 370.1
CDD 370.1
Índice para
Índice para catálogo
catálogo sistemático:
sistemático:
1.1. Educação
Educação :: Filosofia
Filosofia 370.1
370.1
© 2016
© 2016 Núcleo
Núcleo de
de Estudos
Estudos de
de Filosofias
Filosofias ee Infâncias
Infâncias (NEFI/UERJ)
(NEFI/UERJ)
Site: www.filoeduc.org
Site: www.filoeduc.org
Email: publicacoesnefi@gmail.com
Email: publicacoesnefi@gmail.com
33
sumário
apresentação:
apresentação: línguas
línguas do
do mundo
mundo em
em um
um mundo
mundo de
de línguas
línguas 99
i.i. política,
política, sujeito,
sujeito, educação
educação 19
19
un
un “nosotrxs”
“nosotrxs” como
como sujeto
sujeto colectivo
colectivo de
de la
la educación
educación 21
21
alejandro
alejandro cerletti
cerletti
“o
“o desejo
desejo deseja
deseja sua
sua própria
própria repressão”:
repressão”: traços
traços de
de uma
uma educação
educação fascista
fascista 29
29
sílvio
sílvio gallo
gallo
[…]
[…] segurança
segurança pública,
pública, formação
formação policial
policial ee empresariamento
empresariamento da
da sociedade
sociedade […]
[…] 37
37
anderson
anderson duarte
duarte
sylvio
sylvio gadelha
gadelha
ciudadanía,
ciudadanía, argumentación
argumentación yy función
función filosófica.
filosófica. desafíos
desafíos político-pedagógicos
político-pedagógicos […]
[…] 45
45
marisa
marisa berttolini
berttolini
aa dimensão
dimensão política
política do
do ensino
ensino de
de filosofia
filosofia ee da
da formação
formação docente
docente 51
51
junot
junot cornélio
cornélio matos
matos
ii.
ii. nós,
nós, os
os frágeis
frágeis ee pequenos
pequenos especiais
especiais 61
61
ilil bambino
bambino di
di eraclito
eraclito 63
63
giuseppe
giuseppe ferraro
ferraro
el
el lenguaje
lenguaje de
de la
la norma
norma yy los
los individuos
individuos frágiles
frágiles 79
79
carlos
carlos skliar
skliar
maestrxs
maestrxs yy profesorxs
profesorxs de
de una
una “escuela
“escuela especial”:
especial”: narrativas
narrativas yy pensamientos
pensamientos 89
89
patricia
patricia r.
r. redondo
redondo
infância
infância ee imagem
imagem ee corpo
corpo ee linguagem:
linguagem: emem modo
modo dede ensaio
ensaio 103
103
césar
césar donizetti
donizetti pereira
pereira leite
leite
aa pesquisa
pesquisa como
como gesto
gesto infantil
infantil de
de (auto)
(auto) educação:
educação: notas
notas para
para pensar
pensar um
um ser
ser professor
professor 115
115
simone
simone berle
berle
ana
ana paula
paula saraiva
saraiva morais
morais
filosofia
filosofia libertária
libertária ee educação
educação infantil:
infantil: corpos-pensamentos
corpos-pensamentos aos
aos ‘cuidados
‘cuidados de
de si’!
si’! 123
123
lígia
lígia prando
prando
iii.
iii. filosofia
filosofia com
com crianças
crianças 135
135
“tia,
“tia, vai
vai ter
ter fisolofia
fisolofia hoje?”
hoje?” 137
137
edna
edna olímpia
olímpia dada cunha
cunha
[…] el
[…] el propósito
propósito de
de que
que cada
cada vez
vez sean
sean más
más los
los que
que se
se representen
representen el
el mundo
mundo como
como propio
propio 143
143
laura v.
laura v. agratti
agratti
pensar, experienciar
pensar, experienciar yy jugar:
jugar: otros
otros lenguajes,
lenguajes, otras
otras prácticas...
prácticas... 149
149
maría teresa
maría teresa suárez
suárez vaca
vaca
lola maría
lola maría morales
morales mora
mora
filosofia na
filosofia na escola:
escola: pensando
pensando as
as dimensões
dimensões do
do papel
papel público
público da
da educação...
educação... 159
159
vanise de
vanise de cássia
cássia dutra
dutra gomes
gomes
edna olímpia
edna olímpia da
da cunha
cunha
[…] the
[…] the community
community of
of philosophical
philosophical inquiry
inquiry and
and aa participatory
participatory action
action research
research 169
169
cristina rossi
cristina rossi
44
aa cadeira
cadeira unesco:
unesco: prática
prática da
da filosofia
filosofia com
com crianças
crianças […]
[…] 181
181
edwige
edwige chirouter
chirouter
marie-paule
marie-paule vannier
vannier
iv.
iv. áfrica
áfrica ee nós
nós 191
191
filosofia
filosofia africana
africana na
na antiguidade:
antiguidade: tecendo
tecendo mundos
mundos entre
entre ancestralidade
ancestralidade ee futuridade
futuridade 193
193
renato
renato noguera
noguera
tecendo
tecendo mundos
mundos entre
entre uma
uma educação
educação antirracista
antirracista ee filosofias
filosofias afro-diaspóricas
afro-diaspóricas da
da educação
educação 203
203
wanderson
wanderson flor
flor do
do nascimento
nascimento
imagem,
imagem, visão
visão ee conhecimento:
conhecimento: modos
modos de
de ver,
ver, modos
modos de
de dar
dar aa ver
ver 211
211
valter
valter filé
filé
v.
v. educar
educar em
em nossa
nossa américa
américa 221
221
la
la experiencia
experiencia filosófica
filosófica como
como crítica
crítica yy expectativa
expectativa en
en arturo
arturo andrés
andrés roig
roig 223
223
adriana
adriana maría
maría arpini
arpini
educar
educar en
en la
la interculturalidad:
interculturalidad: diá-logos
diá-logos con
con los
los kevin
kevin 227
227
mauricio
mauricio langon
langon
escuela
escuela popular
popular yy emancipación:
emancipación: una
una apuesta
apuesta para
para el
el continente
continente americano
americano 237
237
maximiliano
maximiliano duran
duran
vi.
vi. aa escola
escola ee oo educacional
educacional no
no escolar
escolar 247
247
school
school experiences:
experiences: an
an attempt
attempt toto find
find aa pedagogical
pedagogical voice
voice 249
249
maarten
maarten simons
simons
jan
jan masschelein
masschelein
collective
collective demands
demands for
for schole
schole (free-time)
(free-time) in in the
the neoliberal
neoliberal debt
debt economy
economy 259
259
jason
jason thomas
thomas wozniak
wozniak
dar
dar la
la cara.
cara. notas
notas sobre
sobre la
la escuela
escuela como
como espacio
espacio público
público 269
269
jorge
jorge larrosa
larrosa
the
the language
language of of the
the school.
school. alienating
alienating or
or emancipating?
emancipating? 291
291
jan
jan masschelein
masschelein
maarten
maarten simons
simons
la
la escuela
escuela como
como phármakon
phármakon en
en la
la toxicidad
toxicidad tecnológica
tecnológica contemporánea
contemporánea […]
[…] 301
301
inés
inés dussel
dussel
vii.
vii. narrativa,
narrativa, escrileitura,
escrileitura, ficção
ficção 311
311
para
para uma
uma escrita
escrita académica
académica inventiva:
inventiva: oo legado
legado da
da teoria
teoria social
social pós-moderna
pós-moderna 313
313
jorge
jorge ramos
ramos do
do óó
pesquisa
pesquisa empírica-transcendental
empírica-transcendental dada diferença:
diferença: arquivo,
arquivo, escrileitura
escrileitura ee tradução
tradução de
de dados
dados 327
327
sandra
sandra mara
mara corazza
corazza
perspectivas
perspectivas sobre
sobre uma
uma escola
escola sem
sem órgãos
órgãos 341
341
marcelly
marcelly custodio
custodio de
de souza
souza
vida,
vida, misericordia
misericordia yy militancia.
militancia. la
la identidad
identidad narrativa
narrativa de
de un
un pedagogo
pedagogo social
social 351
351
gladys
gladys madriz
madriz
la
la escuela
escuela como
como voluntad
voluntad de
de ficción:
ficción: de
de la
la verdad
verdad moral
moral aa la
la metáfora
metáfora 365
365
gregorio
gregorio valera-villegas
valera-villegas
55
viii.
viii. musicalidade,
musicalidade, teatralidade
teatralidade ee arte
arte na
na educação
educação 381
381
educare
educare inin jazz:
jazz: otto
otto tratti
tratti di
di una
una nuova
nuova pedagogia
pedagogia 3823
3823
383
marina
marina santi
santi
música,
música, pensamento
pensamento ee educação
educação musical
musical menor
menor 395
395
pablo
pablo de
de vargas
vargas guimarães
guimarães
[…]
[…] la
la paradoja
paradoja contextual
contextual enen la
la configuración
configuración del
del hecho
hecho teatral
teatral como
como presencia
presencia […]
[…] 405
405
ricardo
ricardo sassone
sassone
humanidad
humanidad yy cuerpos
cuerpos tecnológicos.
tecnológicos. el
el bioarte
bioarte en
en la
la enseñanza
enseñanza de
de la
la filosofía
filosofía 419
419
gabriela
gabriela d’odorico
d’odorico
ix.
ix. tempo,
tempo, finitude,
finitude, inquietude
inquietude ee formação
formação de
de si
si 429
429
la
la duración
duración en
en el
el espacio
espacio educativo
educativo 431
431
olga
olga grau
grau
educación
educación filosófica
filosófica ee inquietud
inquietud de
de sí.
sí. diálogos
diálogos entre
entre estanislao
estanislao zuleta
zuleta yy pierre
pierre hadot
hadot 439
439
óscar
óscar espinel-bernal
espinel-bernal
óscar
óscar pulido-cortés
pulido-cortés
reflexiones
reflexiones sobre
sobre lala finitud
finitud yy su
su aproximación
aproximación aa los
los jóvenes
jóvenes 451
451
angel
angel alonso
alonso salas
salas
colóquios
colóquios sobre
sobre educação:
educação: dada vida,
vida, oo que
que se
se sabe;
sabe; do
do estudo,
estudo, oo que
que se
se pode
pode […]
[…] 457
457
daison
daison nelson
nelson ferreira
ferreira dias
dias
josé
josé menna
menna oliveira
oliveira
rosana
rosana aparecida
aparecida fernandes
fernandes
desaprender,
desaprender, viajar,
viajar, resistir
resistir -- por
por modos
modos outros
outros de
de formar
formar professores
professores -- 467
467
rosimeri
rosimeri de
de oliveira
oliveira dias
dias
heliana
heliana de
de barros
barros conde
conde rodrigues
rodrigues
66
77
S
e as diferentes línguas expressam estéticas e políticas distintas de desejo,
pensamento e ação, a partir das quais lidamos sensivelmente com as
intensidades dessemelhantes das coisas e dos seres existentes neste mundo,
tais linguas determinam, pelo menos em parte, nosso modo de nos afetar com este mesmo
mundo, de experimentá-lo e de fabular para ele certas imagens, e outras não.
Assim, não é o mesmo engendrar uma visão de mundo, por exemplo, a partir da
perspectiva identitária de um "Eu" - conforme o estilo usual das línguas dominantes - do
que assumir posições incomuns, como a afirmação de um "nosotros", construída por certas
línguas minoritárias e ancestrais, originárias de nossa América. Ou, ainda, a emergência de
línguas inventadas no encontro que temos entre nosotros.
De tal ponto de inflexão, as linhas de sentido que se desenrolam para compor o
presente livro se propõem a explorar o enlace amplo do encontro entre Filosofia e Educação,
a partir de uma busca comunitária pela constituição de um "nós". Busca essa desencadeada
em meio à tentativa de enunciar os mundos informes que se tecem entre nós-outros no
chão da escola, no fazer escola dentro da própria escola, forçando-nos a exprimir o ato de
educar em uma língua impronunciável, ainda por ser escrita.
Nestes termos, as seções desenhadas em função de se poder articular um corpo
intenso para o presente volume, de modo a expressar a natureza singular da referida busca
- apesar de ganharem uma organização formal (materialmente, linear e sucessiva) -,
revelam e ordenam subtemas e textos necessariamente interconexos, os quais não deixam
de manifestar os encontros coletivos de enunciação que os engendraram e desenvolveram
no fluxo produtor do VIII Colóquio Internacional de Filosofia e Educação, estendido entre os
dias 3 a 7 de outubro de 2016 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Deste modo, os trabalhos que configuram as nove seções desse livro tornam-se
passíveis de serem intensivamente experienciados por práticas diferenciais de leitura-
escrita, numa lógica de encadeamento outra, capaz de entretecer possibilidades inabituais
para o percurso: movimentos, repousos, conexões, quebras/rupturas, pontos múltiplos de
entrada e saída.
Conforma-se, assim, a possibilidade do leitor configurar seus próprios planos ou
platôs de composição para o devir do pensamento, tecendo roteiros e estilos singulares de
leitura para esse corpo-livro. Nestes termos, a seguinte proposta de ordenação das suas
seções deve ser tomada apenas como um referencial de partida: a) política, sujeito, cidade;
b) nós, os frágeis e pequenos especiais; c) filosofia com crianças; d) áfrica e nós; e) educar
em nossa américa; f) a escola e o educacional no escolar; g) narrativa, escrileitura, ficção;
h) musicalidade, teatralidade e arte na educação; i) tempo, finitude, inquietude e formação
de si.
Tal processo coletivo de produção - que inclui, portanto, aquilo que cada leitor-
coautor poderá fazer passar entre os diversos planos que constituirão suas práticas de
leitura-escrita-, expressa uma tentativa grupal de criar uma língua na qual confluem estilos
diferenciais de pensar-enunciar os problemas educativos do nosso tempo.
Procura-se, nesse sentido, induzir uma experimentação comunitária de concepção
de um "nós-outro" que possa pronunciar-se afirmativamente; isto é, conforme o
acolhimento da necessidade de se engendrar uma noção comum problemática-conceitual
singular, apta a exprimir o que nos coage na atualidade a conceber modos inusitados de
pensar e fazer educação.
Esse “nosso-livro-outro” não se direciona, por conseguinte, a cultivar a
possibilidade de se estabelecer, ao final, certa harmonia entre vozes que diferem;
10
10 |apresentação
|apresentação
procurando alcançar um concenso ou equilibrio que faria o real repousar novamente sobre
a ordem do atual e/ou do possível. Ao contrário, procura expressar, sim, as seguintes
questões: Em meio às crises e sob os efeitos diversos das modalidades de exercer os poderes
em nosso tempo: como temos problematizado o sentido da educação e, consequentemente,
o sentido da própria atividade escolar na contemporaneidade? Como tem sido possível
delinear relações mais alegres e potentes entre nós e os outros na ação de aprender e na de
ensinar? Por quais descaminhos novas estéticas ensinantes e aprendentes têm conseguido
se esboçar? Que contrapontos temos traçado entre nossas errâncias educativas e o eterno
retorno da força do que difere?
Enfim, trata-se de um convite para tentar costurar juntos, e estender em um varal
no pensamento, uma colcha de retalhos espaço-temporal que manifeste a seguinte questão:
em meio aos sufocos que enfrentamos no presente, o que temos feito de nós-outros
enquanto sujeitos do discurso menor da educação?
A título de esclarecimento, informamos a opção de publicar os textos em suas
línguas originais. Sabemos dos riscos dessa decisão, assim como daqueles associados à
ousadia de traduzi-los. Dessa forma, estendemos também um convite para desabitar os
lugares cômodos e fáceis demais no terreno do pensamento: um desafio, uma força e um
alento que vêm da necessidade de se criar modos outros de vivenciar o mundo da produção
acadêmica. Ler numa língua ainda não conhecida e fazer reverberar afetos de uma leitura
inventiva; ler em uma língua conhecida e fazer do significado, sentido e, do sentido,
inventar um ato educativo ainda não escrito.
um corpo-livro
Nas texturas de mundos que se tecem entre nosotros, em uma língua que talvez
nunca chegue a ganhar a forma de uma escrita, múltiplos sentidos atravessam e concebem
o encontro educativo, fazendo-nos questionar: haveria algo que possa constituir um
comum a partir do heterogêneo das individualidades que convergem em uma situação de
aprender e ensinar?... Na primeira seção “Política, sujeito, educação”, Alejandro Cerletti
abre o livro com o texto “Un ‘nosotrxs’ como sujeto colectivo de la educación”, analisando
o título do VIII Colóquio Internacional de Filosofia e Educação e, com ressonâncias
badiounianas, nos convida de maneira singular a pensar o ato de educar como um
entrelaçamento de mundos a partir do qual surge um sujeito coletivo - um nosotrxs sem
gênero, sem identidade fixa, sem condição de possibilidade prévia.
Na sequência, Silvio Gallo desenvolve o instigante texto “O desejo deseja sua
própria repressão: traços de uma educação fascista”, inquerindo pelos traços de uma
educação fascista e se seria possível conjurar o fascismo ou como resistir a ele nos
processos educativos. O trabalho realça que o fascismo se manifesta quando “o desejo
deseja sua própria repressão, explorando a ideia de que os processos educativos, como
micropolíticas do desejo, estão abertos sim a constituições ultra autoritárias; de modo que é
possível educar o desejo para autoreprimir-se. Sublinha também que mesmo uma educação
fascista pode ser palco de resistência, de produção de linhas de fuga e de construção de
horizontes libertários.
Nessa mesma linha, discutir as transformações verificadas no campo da segurança
pública, no contexto que se estende das sociedades modernas às sociedades de controle,
tanto no âmbito das políticas públicas de segurança quanto no dos processos de
subjetivação que incidem junto à formação policial e à conduta da população é o objetivo
de Anderson Duarte e Sylvio Gadelha no potente “Considerações sumárias sobre a relação
entre segurança pública, formação policial e empresariamento da sociedade, na
governamentalidade neoliberal”. O texto busca denunciar o papel desempenhado pelos
walter
walter kohan,
kohan, sammy
sammy lopes
lopes ee fabiana
fabiana martins
martins || 1111
conceito de alienação em Marx à instituição criada por Rodríguez, Durán sustenta a tese de
que, ainda hoje, é possível realizar o projeto de escola igualitária e emancipadora.
Na seção “A escola e o educacional no escolar”, a escola como skholé é o conceito
fundamental abordado pelos dois textos escritos (ambos a quatro mãos) por Jan
Masschelein e Maarten Simons. Em “Experiências escolares: uma tentativa de encontrar a
voz pedagógica”, eles oferecem uma perspectiva que poderíamos chamar de pedagogia da
educação, criticando a forma externa, instrumentalizadora e funcional por meio da qual a
filosofia costuma se relacionar com a educação. A partir da provocadora tese de que os
filósofos costumam esquecer que foram à escola, os autores buscam oferecer oferecer uma voz
estritamente pedagógica para compreender o específico da escola e da experiência escolar.
Essa mesma linha é desdobrada no segundo texto da dupla, “A linguagem da escola.
Alienação ou emancipação?”, onde eles fazem um esforço para explorar o que faz da escola
uma escola a partir do ponto de vista educacional, em termos do que eles chamam de uma
“linguagem escolar”: as efetivas e reais operações realizadas nesse particular arranjo de
pessoas, tempo, espaço e matéria.
O artigo “Demandas coletivas de skholé (tempo livre) na economia neoliberal da
dívida” de Jason Wozniak, procura alargar a análise
análise da
da criação
criação do
do “homem
“homem endividado”,
conceito desenvolvido por Maurizio Lazzarato, colocando em questão como as instituições
educacionais nos Estados Unidos - funcionando sobre o paradigma do credor-devedor -,
endividam profundamente as pessoas, desempenhando um papel na produção e reprodução
de subjetividades endividadas. Para entender a dívida, a vida endividada e a produção da
subjetividade endividada, Jason Wozniak estuda a dívida sob a perspectiva temporal e
como ela coloniza o futuro, “rouba” tempo, impondo um ritmo particular às vidas
cotidianas individuais e coletivas. Na contracorrente, Wozniak pensa a escola como tempo
livre e, portanto, espaço de refúgio e resistência ao endividamento como forma de vida.
“Dar a cara. Notas sobre a escola como espaço público” é, segundo Jorge Larrosa,
um simples trabalho de professor que analisa parte de um filme e as discussões realizadas a
partir do filme. Permeado de fragmentos do escritor Rafael Ferlosio, estuda a escola como
espaço público - onde professores e alunos tornam as coisas públicas, e onde o mundo,
tornado matéria de estudo, é posto (conforme afirma Arendt) no interior de uma esfera
pública. Ali traz as perplexidades de um autor-professor face ao valor e sentido dado nos
dias atuais ao espaço escolar, propondo “desnudar um puro espaço de rostos e de relações
entre rostos no qual se define, simultaneamente, sua separação e sua comunidade, sua
exposição e seu segredo, sua firmeza e sua vulnerabilidade”. Assim, a leitor fica cara a cara
com a escola como abertura, vazio, espaço interfacial, drama.
Encerrando a seção, "A escola como phármakon na toxidade tecnológica
contemporânea. Reflexões sobre a crítica à escola na cultura digital" é um artigo de Inés
Dussel que analisa as relações entre as ditas “novas formas de conhecimento”, trazidas
pelos novos meios digitais (marcados pelo ideal de flexibilidade, onipresença e adequação
individual ao usuário), e os modos “escolares” de saber, que se sustentam, segundo a
autora, no ideal da crítica, da reflexão e da construção argumentativa. Face às novas
configurações tecnológicas e culturais, Inés Dussel problematiza, pois, os modos de ser e
fazer escola hoje.
Chegamos, assim, à sétima seção, “Narrativa, escrileitura, ficção” iniciada pelo
texto de Jorge Ramos do Ó, “Para uma escrita académica inventiva: o legado da teoria
social pós-moderna”. O problema que envolve o ato de escrever na academia é o de saber
como produzir enunciados que abandonem os princípios constantemente expressos pela lei
e as instituições que a introduzem no corpo social. A partir dessa pujante problemática,
Jorge do Ó destaca que a grande dificuldade face à investigação - e que tentamos transpor
para a realidade do texto - é e será sempre a de forçar o presente a sair dos processos de
16
16 |apresentação
|apresentação
pensamento, o autor enfatiza (na esteira de Deleuze e Guattari) não a presença de práticas
musicalizadas - muitas vezes usadas para disciplinarizar as crianças, principalmente na
Educação Infantil; mas, ao contrário, a função estética, ética e política da criação musical, a
exploração de materiais sonoros e a escuta atenta a obras e ruídos. Nesse sentido, Vargas
pensa uma educação musical menor, que resiste àquela de maioria, segundo a qual
existiriam verdades musicais instituídas para a educação musical. O texto defende,
portanto, a experimentação sonora não-estereotipada e não-referencial.
O terceiro trabalho da seção, “Estratégias “teatro-performativas” para o traçado de
cartografias de “inclusão” e “exclusão”. Aportes para o estudo das “condições de
possibilidade da cena” – análise da teatralidade como “cena potencial”- e desenvolvimento
de dispositivos de captura “estético-po(i)éticos”, procura colocar em jogo diversas
experiências “expressivo-comunicativas”, sob a perspectiva da complexidade do
“mundo/continuum” da ação. Para tanto, Ricardo Sassone desenvolve seu texto em quatro
eixos: o da filosofia prática e aplicada, o do desenvolvimento da ação inerente ao mundo da
performance, o da determinação “cronotópica” e, por fim, o desenvolvimento de
dispositivos de captura “estético-po(i)éticos”. Sob o ponto de vista da educação, Sassone
propõe que se pense um deslocamento do “philodrama” ao “sociodrama”.
Gabriela D’Odorico, em “Humanidade e corpos tecnológicos. A bioarte no ensino
da filosofia”, trabalha sobre as transformações que a ciência e a tecnologia vêm produzindo
na vida humana. A autora defende que a intervenção biotecnológica e bioartística traz a
necessidade de se colocar em questão o estatuto da vida, do corpo e do humano,
atualizando problemáticas que perpassam a história da filosofia. No seu texto, há um
íntimo intrínseco entre arte, filosofia e tecnologia, propondo a hipótese da bioarte como
uma produção cultural, no bojo de uma antropologia filosófica contemporânea.
Finalmente, na seção “Tempo, finitude e inquietude de si”, Olga Grau escreve “A
duração no espaço educativo” em um diálogo com H. Bergson que, embora não tenha
escrito nada especifico sobre as interfaces da filosofia e da educação, permite estabelecer
inúmeras relações entre seus conceitos e o campo da filosofia da educação. O texto de Olga
se constitui como uma tessitura entre o mundo bergsoniano e o mundo da filosofia da
educação; articulando, especificamente, o conceito de duração aos espaços educativos. De
maneira singular, com referências às ficções de Borges, Olga Grau trabalha a expressão
“educação da atenção” para propor uma educação que potencialize a percepção, conforme a
plasticidade e vitalidade intuitivas próprias da arte.
A fim de pensar o significado e a possibilidade de uma educação filosófica, Óscar
Espinel-Bernal e Óscar Pulido-Cortés trabalham sobre três perguntas centrais,
íntimamente relacionadas: “o que é a educação?”, “o que é a filosofia?”, e, finalmente, “o
que é a educação filosófica”? Nestes termos, o trabalho que dá seguimento à seção,
“Educação filosófica e inquietude de si. Diálogos entre Estanislao Zuleta e Pierre Hadot”;.
concebe, com Nietzsche, o exercício filosófico como ato intempestivo. Em outras palavras,
como pensamento investigativo e criativo. No diálogo entre Zuleta e Hadot, é construída
uma concepção ético-política de filosofia e educação como cuidado de si e cuidado do
outro, entendendo o outro como prática coletiva. Defende-se, na contramão da tendência
técnica e cientificista, uma educação emancipatória, direcionada à criatividade e ao
exercício da problematização.
Angel Alonso aborda, em “Reflexões sobre a finitude e sua aproximação aos
jovens”, a maneira com que problemáticas de difícil tratamento, como dor, sofrimento e
morte; foram abordadas nas aulas do Colégio de Ciências e Humanidades da Universidade
Nacional Autônoma do México (CCH-UNAM). Pertencente à condição humana, a
finitude perpassa a história da filosofia; ademais, no bojo de uma sociedade marcada pela
“cultura da morte”, se apresenta como potente conceito a ser trabalhado nas aulas de
18
18 |apresentação
|apresentação
filosofia. No presente texto, o autor narra sua experiência e traz seu aporte teórico e
metodológico acerca dessa complexa problemática.
Ao tecerem as linhas de escrita de “Colóquios sobre educação: da vida, o que se
sabe; do estudo o que se pode; e da filosofia, a eterna busca da verdade”; Rosana Fernandes,
Daison Nelson Ferreira Dias e José Menna Oliveira discorrem de forma contundente
sobre os equívocos que incidem nas instituições de ensino em torno do estudar e do pensar,
desenvolvendo a ideia da amizade como condição para pensar e para aprender, bem como
abordando as distinções deleuzeanas entre o conceito de “pensar” e a “Imagem Dogmática
do Pensamento”. Neste percurso, utilizam-se dos fragmentos de relatos de casos clínicos,
descrições de situações de ensino e aprendizagem praticadas em hospitais psiquiátricos,
congressos médicos e salas de aula.
Encerrando a seção, e dando fechamento ao livro, Rosimeri Dias e Heliana Conde
abordam, em “Desaprender, viajar, resistir - por modos outros de formar professores”, as
novas práticas de formação situadas entre a Universidade e a escola básica, desenvolvidas
através de projetos de pesquisa-intervenção por uma das autoras. Nesse trabalho,
elementos relacionados às práticas de cuidado de si na filosofia antiga, retomados por
autores contemporâneos, funcionam como intercessores para a discussão/problematização
da formação de professores na atualidade: Que relações podem ser, por meio da formação,
estabelecidas, inventadas, multiplicadas, moduladas? Em que sentido abrimos espaço e
tempo para modos outros de formar? Em uma escrita tecida por trechos das cartas de
Sêneca a Lucílio, e para além da normatividade, as autoras pensam a formação (de si)
como uma técnica de vida, formação inventiva que, enquanto produção de subjetividade,
afirma a potência do problema, da pergunta, da hesitação como ato educativo.
Prezado leitor-autor, está aberto o convite para ler o livro de diversos modos, em
diferentes lugares e contextos; para estabelecer uma leitura afetiva, intensa, que prescinda
de prescrições. A partir do hífen que articula as relações entre educação-filosofia, esboçam-
se aqui mil platôs, mil línguas, mil escrito-leituras, que abrem entre-espaço-tempos para o
devir de uma resistência ativa: um murmúrio ou um rumor, um som indistinto e contínuo
de muitas vozes, que procura romper com o sufoco e fazer passar à vida um pouco de
possível.
i. política, sujeito,
educação
20
20
21
21
alejandro cerletti11
D
esde el título (“Mundos que se tecem entre ‘nosotros’: o ato de educar em
uma língua ainda por ser escrita”), la convocatoria de esta VIII edición del
Colóquio Internacional de Filosofia e Educação nos plantea múltiples desafíos y
nos invita a recorrerlos. Y nos invita también a que cada uno lo haga a su
manera. Lo pueda hablar a su manera. Este Co-loquio nos ofrece entonces la posibilidad del
común de un hablar juntos, tal vez de un conversar o de un dialogar.
Y ya desde el título, la invitación a pensar-nos dice que hay mundos (en plural) y
hay una textura, un entrelazado, habido o por haber. Nos sugiere que hay hilos y un tejido:
el “nosotros”, se sospecha, tendría algo que ver con un entramado (un “entre”). Habría ya
“mundos” preexistentes que se involucran o tendrían que ver con un “nosotros”, y el
educar, entendido como “acto”, se hace en una lengua que será, en algún momento, escrita.
El título, en síntesis, ofrece al pensamiento al menos seis nudos conceptuales (o tal
vez metafóricos): mundos, tejidos, nosotros, educar (como acto), lengua (una lengua),
escritura.
Pues bien, comencemos a preguntarnos sobre todo esto, porque al fin y al cabo esta
es la tarea de la filosofía.
¿Quién sería el “nosotros”? ¿Cuándo se hace referencia a “nosotros” estamos a la
vez hablando de “todos”? ¿Ese “nosotros” qué dimensión adquiriría y qué abarcaría?
¿Puede haber un “nosotrxs” de la educación (o, al menos, de cualquier acto que aspire a
adjetivarse como “educativo”)? ¿Habría algo que haga un común de lo heterogéneo de las
individualidades que convergen en una situación de aprender y enseñar? La educación
obligatoria, por ejemplo, crea un espacio común de institucionalización donde
convergemos todos. Ese forzamiento a compartir, ¿puede implicar algún tipo de nosotrxs?
La infinita multiplicidad que cada unx es, ¿se puede entrelazar en un acto, en un lugar, en
un momento, y gestar algo diferente de lo que éramos antes? ¿Cada unx es diferente en un
nosotrxs? ¿Cuándo hacemos algo juntos, somos otrxs? ¿La diferencia está entre cada uno de
nosotros o entre el cada uno y el nosotros? En otros términos: ¿cuál es la diferencia más
significativa: la de “los unos” entre sí, o la de lo uno y lo múltiple? Y en especial: ¿la
primera persona del singular (yo) es el condición de la primera del plural (nosotros)?
¿Podría ser al revés? ¿Toda subjetivación es siempre individual y lo colectivo es una
agregación posterior?
Desplacémonos por un instante a la segunda parte del título. ¿Lo que nos uniría
sería una lengua (una lengua común)? ¿Y una lengua común por ser escrita? Pero, ¿por qué
debería ser escrita? ¿Qué sería lo diferente que aporta la escritura al diálogo, a la
conversación, al entramado vivo de las palabras, a la oralidad? Recordemos la larga
tradición oral de nuestros pueblos originarios y el impacto cultural que ha significado
someterla a la escritura, algo que les resultaba completamente ajeno. Y no sólo por la
lengua extraña que los alfabetizaba y les imponía una nueva tradición sino por duplicar la
dimensión de su existencia. Los caracteres latinos ya eran portadores de otro mundo.
Podríamos seguir problematizando largamente el título de la convocatoria y
pensando o pensándonos a partir de él. No son pocas cosas las que induce, de manera
comprimida.
La filosofía siempre tuvo que ver con preguntarse, pero no con un preguntarse
infinito en el que nunca se alcanzan respuestas. Por más que su pulsión etimológica y la
11 Universidad
Universidad de
de Buenos
Buenos Aires.
Aires. Universidad
Universidad Nacional
Nacional de
de General
General Sarmiento.
Sarmiento. Email:
Email: acerlett@filo.uba.ar
acerlett@filo.uba.ar
22
22 || alejandro
alejandro cerletti
cerletti
tradición digan que lo más importante no es el saber sino el deseo de saber y que lo
esencial es el preguntar, toda pregunta genuina tiene aspiraciones de respuesta. Aunque
luego esa respuesta pueda volver a ser cuestionada. Hay momentos en que la voluntad
filosófica de interrogación se detiene para poder decir algo. Quien dice algo, quien afirma
algo, detuvo el preguntar en un lugar. Lo que ocurre es que no todos nos detenemos en los
mismos lugares. Cada filosofía, o cada pensamiento en acto, es una exhibición implícita o
explícita de los lugares donde el preguntar se detuvo para poder expresar algunas ideas.
Voy a detener el preguntar en algunos puntos, en algunos lugares que permitan tal
vez empezar a construir un mundo posible, de entre todos los posibles y los imposibles.
Me interesa un aspecto del espíritu de la convocatoria: el “aún”, la expresión que
visibiliza un por llegar. Lo que todavía no está pero en algún momento puede estar o puede
tener lugar. Desde el título se infiere que ese lugar es la escritura. Se vislumbra que un
entramado es posible, y que es posible en una lengua escrita.
Voy a proponer un paso más atrás: que pensemos antes que nada el pasaje del
todavía no al ahora sí; esa suerte de tránsito de un no-ser al ser. Que intentemos darle fuerza
conceptual a esa transición, o mejor aún, al momento y las circunstancias de esa transición,
y qué efectos podría llegar a tener en el caso de la educación o en el “acto” de educar. En
especial, cómo aparece un “nosotros”, qué y quién sería el nosotrxs de la educación y qué
podría significar esa subjetivación en plural.
De entre las afirmaciones que detienen el preguntar, adoptaré algunas. Me
referenciaré en una concepción del ser y del acontecer que, espero, me posibilite abrir
algunos caminos conceptuales fértiles. Se hallarán en esta perspectiva, algunos ecos
badiouanos (BADIOU, 1999; 2008).
Lo que es, es una multiplicidad; y no una multiplicidad de “unos” sino una
multiplicidad de multiplicidades. O, en otros términos, todo lo que es, es una diseminación
infinita de multiplicidades.22 Somos multiplicidades infinitas. Cada unidad, cada individuo,
cada grupo determinado es una particular segmentación de las multiplicidades que somos.
Un recorte o una delimitación configura un “uno” o una identidad. Dicho de otra manera,
somos un mar de diferencias. Diferimos con otros y hasta con nosotros mismos (nadie es
otro y ni siquiera somos lo que fuimos). La diferencia es la trivialidad del ser. No hay más
que diferencias, y diferencias de diferencias. Cada unidad es un recorte de esas diferencias
infinitas, de esas multiplicidades de multiplicidades. Por lo tanto, cada individuo es una
arbitrariedad, porque exhibe una detención posible de ese mar de diferenciaciones.
Ahora bien, teniendo esto en cuenta, ¿cómo pensar entonces un nosotrxs educativo?
Habría que pensar en algo que detenga la diseminación de diseminaciones, que
circunscriba las multiplicidades de multiplicidades y haga que sea posible alguna identidad,
un eventual nosotrxs y, a la vez, que no coarte a aquellx/s que lo compone/n. Es decir, el
nosotrxs sólo es eventual, acontece en algún momento. No se lo puede deducir de lo anterior
y su continuidad depende del actuar y el pensar de ese nosotrxs.
Pero, a su vez, nosotros no vivimos nunca en una permanente diseminación.
Vivimos ya en un mundo. El mundo en que vivimos es una brutal segmentación de todos
los mundos posibles en el que nos sorprendemos existiendo. En él nos individualizamos,
nos subjetivamos, y nos constituimos en un horizonte de lo posible. Lo que hay es esto. Y
la vida es una continuidad aparentemente inexorable de esto que vivimos a diario.
En lo personal, mucho más que las continuidades, me han interesado las
discontinuidades, lo que permite pensar lo otro de lo mismo. Frente a las monotonías o los
tonos dominantes, me atraen las disonancias; lo que altera la armonía. Cuando se está
22 Un
Un ser
ser del
del todo
todo oo un
un todo
todo del
del ser
ser son,
son, por
por lo
lo tanto,
tanto, imposibles.
imposibles. No
No hay
hay delimitación
delimitación del
del ser
ser como
como todo
todo que
que
no
no termine
termine en
en alguna
alguna onto-teología.
onto-teología.
un
un “nosotrxs”
“nosotrxs” como
como sujeto
sujeto colectivo
colectivo de
de la
la educación
educación || 23
23
referencias
BADIOU,
BADIOU, Alain.
Alain. ElEl ser
ser yy el
el acontecimiento.
acontecimiento. Buenos
Buenos Aires:
Aires: Manantial,
Manantial, 1999.
1999.
______.
______. Lógicas
Lógicas de
de los
los mundos.
mundos. Buenos
Buenos Aires:
Aires: Manantial,
Manantial, 2008.
2008.
CERLETTI,
CERLETTI, Alejandro.
Alejandro. Didáctica
Didáctica aleatoria
aleatoria de
de la
la filosofía,
filosofía, dialéctica
dialéctica del
del aprendizaje
aprendizaje filosófico.
filosófico. In:
In:
CERLETTI,
CERLETTI, Alejandro;
Alejandro; COULÓ,
COULÓ, Ana Ana (orgs.).
(orgs.). Didácticas
Didácticas dede la
la filosofía.
filosofía. Entre
Entre enseñar
enseñar yy
aprender
aprender aa filosofar.
filosofar. Buenos
Buenos Aires:
Aires: Noveduc,
Noveduc, 2015,
2015, p.
p. 15-32.
15-32.
28
28
29
29
sílvio gallo11
11 Universidade
Universidade Estadual
Estadual de
de Campinas
Campinas –– UNICAMP.
UNICAMP. Email:
Email: silvio.gallo@gmail.com
silvio.gallo@gmail.com
30|
30| sílvio
sílvio gallo
gallo
cria
cria os
os partidos
partidos fascistas,
fascistas, ee não
não vice-versa.
vice-versa. [...]
[...] Como
Como oo fascismo
fascismo éé sempre
sempre ee emem toda
toda
parte
parte um um movimento
movimento apoiadoapoiado nasnas massas,
massas, revela
revela todas
todas as as características
características ee
contradições
contradições da da estrutura
estrutura do do caráter
caráter das
das massas
massas humanas:
humanas: não não é,
é, como
como geralmente
geralmente
se
se crê,
crê, um
um movimento
movimento exclusivamente
exclusivamente reacionário,
reacionário, mas
mas simsim umum amálgama
amálgama de de
sentimentos
sentimentos de de revolta
revolta ee ideias
ideias sociais
sociais reacionárias.
reacionárias. [...]
[...] AA revolta
revolta fascista
fascista tem
tem
sempre
sempre origem
origem nana transformação
transformação de de uma
uma emoção
emoção revolucionária
revolucionária em em ilusão,
ilusão, pelo
pelo
medo
medo da da verdade.
verdade. [...]
[...] oo fascismo
fascismo éé aa expressão
expressão máxima
máxima do do misticismo
misticismo religioso.
religioso.
[...]
[...] AA mentalidade
mentalidade fascista
fascista éé aa mentalidade
mentalidade do do “Zé
“Zé Ninguém”,
Ninguém”, que que éé subjugado,
subjugado,
sedento
sedento de de autoridade
autoridade e, e, ao
ao mesmo
mesmo tempo,
tempo, revoltado.
revoltado. [...]
[...] OO fascismo
fascismo nãonão éé um
um
partido
partido político,
político, mas
mas umauma certa
certa concepção
concepção de de vida
vida ee uma
uma atitude
atitude perante
perante oo
homem,
homem, oo amoramor ee oo trabalho.
trabalho. (REICH,
(REICH, 1972,
1972, passim).
passim).
Reich ressalta, assim, que o fascismo é mais do que uma ação no nível da política;
ele é, sobretudo, uma forma de vida, uma maneira de lidar com nossos desejos e nossas
frustrações. Se pode emergir como uma “grande política”, como um fascismo de Estado,
foi por conta desta força subterrânea.
Foucault, no curso do Collège de France Em Defesa da Sociedade, introduziu o
conceito de biopoder, um novo tipo de poder que já não mais se exerce sobre o corpo do
indivíduo, mas sim sobre toda uma população. Se durante a hegemonia do poder de
soberania, em que o soberano tinha o direito de matar seu súdito ou então deixá-lo viver,
os Estados modernos que operam no registro do biopoder inverteram a equação: trata-se de
fazer com que os indivíduos pertencentes a um Estado – agora denominados como
cidadãos – vivam; ao Estado cabe, ainda, deixá-los morrer.
Mas, no contexto desta nova forma-Estado, um problema emerge: como poderia o
Estado exercer um legítimo poder de morte sobre os indivíduos, fundamental para garantir
sua coesão e sua permanência? Foucault mostra que isso se dá através daquilo que ele
chama de “racismo de Estado”, isto é, o poder do Estado de segregar o estranho, o
estrangeiro, o indesejável. Numa dada sociedade, é exatamente aquele de uma outra “raça”
que é tomado como estranho e como indesejável, na medida em que significa uma
possibilidade de mistura, de miscigenação, que contribuiria para uma “despurificação da
raça”. Ora, é em nome da pureza da raça, da manutenção de uma certa coletividade,
portanto, que o Estado arvora-se no direito de segregar e mesmo de matar este outro que é
estranho a nós, embora familiar.
Por outro lado, podemos também afirmar que o mecanismo do racismo de Estado é
o que fundamenta o uso legal da pena de morte: o Estado arvora-se o direito de punir com
a privação da vida aqueles seres estranhos, quase alienígenas, capazes de cometer
atrocidades contra outras pessoas. É em nome do bem-estar da coletividade, da segurança
da maioria, que o Estado mata legalmente os delinqüentes.
Foucault prossegue sua análise, mostrando que no século XX os principais
exemplos deste racismo de Estado estiveram presentes nos Estados totalitários, animados
pelo fascismo: em especial os alemães do Terceiro Reich e o Estado Soviético sob o
stalinismo. Ali o direito de segregação e de morte foi largamente exercido, em nome da
manutenção das condições de vida dos “melhores”, fossem eles os arianos ou os
trabalhadores socialistas. Era perfeitamente “natural” que seu vizinho, vivendo há anos no
mesmo bairro, fosse preso e desaparecesse; afinal ele sempre tinha sido um tanto ou quanto
estranho: era judeu, no caso alemão; ou um burguês não revolucionário, no caso soviético.
A análise de Foucault é muito interessante, na medida em que explica uma política
de Estado pela política cotidiana: a força do fascismo reside em lidar com os desejos mais
inconfessáveis de cada indivíduo, como já o tinha mostrado Wilhelm Reich em Psicologia
de Massas do Fascismo. É esta mesma linha que seguem Deleuze e Guattari em Mil Platôs,
no ensaio Micropolítica e Segmentaridade.
“o
“o desejo
desejo deseja
deseja sua
sua própria
própria repressão”:
repressão”: traços
traços de
de uma
uma educação
educação fascista
fascista || 31
31
E assim chegamos, uma vez mais, ao fascismo. A sua força, segundo Deleuze e
Guattari, reside no fato de que ele seja um fenômeno de massa. Vale a pena seguir sua
caracterização:
Diremos,
Diremos, da da mesma
mesma forma,
forma, queque oo fascismo
fascismo implica
implica um
um regime
regime molecular
molecular que que não
não se
se
confunde
confunde nem nem com
com osos segmentos
segmentos moleculares
moleculares nem nem com
com sua
sua centralização.
centralização. Sem
Sem
dúvida,
dúvida, oo fascismo
fascismo inventou
inventou um um conceito
conceito dede Estado
Estado totalitário,
totalitário, mas
mas não
não há
há porque
porque
definir
definir oo fascismo
fascismo por
por uma
uma noção
noção que
que ele
ele próprio
próprio inventa:
inventa: háhá Estados
Estados totalitários
totalitários
sem
sem fascismo,
fascismo, dodo tipo
tipo estalinista
estalinista ouou do
do tipo
tipo ditadura
ditadura militar.
militar. O
O conceito
conceito de
de Estado
Estado
totalitário
totalitário só
só vale
vale para
para uma
uma escala
escala macropolítica,
macropolítica, para
para uma
uma segmentaridade
segmentaridade dura dura ee
para
para um
um modo
modo especial
especial de
de totalização
totalização ee centralização.
centralização. Mas
Mas oo fascismo
fascismo éé inseparável
inseparável
de
de focos
focos moleculares,
moleculares, queque pululam
pululam ee saltam
saltam dede um
um ponto
ponto aa outro,
outro, emem interação,
interação,
antes
antes dede ressoarem
ressoarem todos
todos juntos
juntos nono Estado
Estado nacional-socialista.
nacional-socialista. Fascismo
Fascismo rural
rural ee
fascismo
fascismo de de cidade
cidade ouou dede bairro,
bairro, fascismo
fascismo jovem
jovem ee fascismo
fascismo ex-combatente,
ex-combatente,
fascismo
fascismo dede esquerda
esquerda ee de
de direita,
direita, de
de casal,
casal, de
de família,
família, de
de escola
escola ee de
de repartição:
repartição: cada
cada
fascismo
fascismo sese define
define por
por um
um microburaco
microburaco negro,
negro, que
que vale
vale por
por si
si mesmo
mesmo ee comunica
comunica
com
com osos outros,
outros, antes
antes de
de ressoar
ressoar num
num grande
grande buraco
buraco negro
negro central
central generalizado.
generalizado. HáHá
fascismo
fascismo quando
quando umauma máquina
máquina de de guerra
guerra encontra-se
encontra-se instalada
instalada emem cada
cada buraco,
buraco, emem
cada
cada nicho.
nicho. (DELEUZE;
(DELEUZE; GUATTARI,
GUATTARI, 1996, 1996, p.
p. 91-92)
91-92)
Fenômeno de massa, molecular, o fascismo estende rizomaticamente seus
tentáculos pela teia social. São os microfascismos, os fascismos do cotidiano, aqueles
cristalizados nas relações de casal, nas relações entre irmãos, entre pais e filhos, nos locais
de trabalho, nas relações pedagógicas, que tornam o fascismo um fenômeno socialmente
forte. São os fascismos moleculares que puderam, em alguns momentos históricos, fazer
emergir um fascismo molar, um Estado fascista. Uma vez mais nossos autores explicam:
ÉÉ uma
uma potência
potência micropolítica
micropolítica ou
ou molecular
molecular que
que torna
torna oo fascismo
fascismo perigoso,
perigoso, porque
porque éé
um
um movimento
movimento de de massa:
massa: umum corpo
corpo canceroso
canceroso maismais dodo que
que umum organismo
organismo
totalitário.
totalitário. O
O cinema
cinema americano
americano mostrou
mostrou com
com freqüência
freqüência esses
esses focos
focos moleculares,
moleculares,
fascismo
fascismo dede bando,
bando, de
de gangue,
gangue, dede seita,
seita, de
de família,
família, dede aldeia,
aldeia, de
de bairro,
bairro, de
de carro
carro ee
que
que não
não poupa
poupa ninguém.
ninguém. Não
Não há
há senão
senão oo microfascismo
microfascismo parapara dar
dar uma
uma resposta
resposta àà
questão
questão global:
global: por
por que
que oo desejo
desejo deseja
deseja sua
sua própria
própria repressão,
repressão, como
como pode
pode ele
ele desejar
desejar
sua
sua repressão?
repressão? (DELEUZE;
(DELEUZE; GUATTARI,
GUATTARI, 1996, 1996, p.
p. 92-93)
92-93)
É por isso que “é muito fácil ser antifascista no nível molar, sem ver o fascista que
nós mesmos somos, que entretemos e nutrimos, que estimamos com moléculas pessoais e
coletivas” (idem, p. 93). Estamos acostumados, nós, professores, a este jogo de um
“fascismo de escola”? Em que medida nossos discursos democratas escondem relações
fascistas no cotidiano escolar, com nossos colegas, com os funcionários da escola e,
sobretudo, com os estudantes? Em que medida estamos sendo fascistas em nossas relações
pedagógicas? Em que medida não desejamos a repressão, não reprimimos o desejo do novo,
a curiosidade pelo diferente, em nome de amor e proteção?
Na filosofia política que desenvolvem em Mil Platôs (e que já havia sido iniciada
antes em O Anti-Édipo) Deleuze e Guattari contrapõem as figuras do Estado e da máquina
de guerra. O Estado é uma invenção dos sedentários, dos povos que vivem em cidades. O
Estado age sobretudo pelo estriamento do espaço e das relações, isto é, criando normas,
regras, técnicas, burocracias, modelos, contenção e direcionamento de fluxos. O Estado age
pela territorialização. Mas ele encontra-se permanentemente ameaçado por outra invenção
política, completamente alheia a ele: a máquina de guerra, que por sua vez é uma invenção
dos nômades. A máquina de guerra procede por desterritorizalizações, pelo alisamento do
espaço, isto é, pela liberação dos fluxos, pelo desvio, pelo escapar às normas e burocracias.
A máquina de guerra consiste em uma outra maneira de viver o espaço e as relações. 22
A máquina de guerra pode ser capturada pelo Estado; a máquina de guerra pode
devir em Estado, deixando de ser máquina de guerra. Mas ela também pode alojar-se no
22 Para
Para uma
uma visão
visão mais
mais detalhada
detalhada ee aprofundada
aprofundada destes
destes temas,
temas, ver
ver os
os textos
textos Tratado
Tratado de
de Nomadologia:
Nomadologia: aa máquina
máquina
de
de guerra
guerra ee O
O Liso
Liso ee oo Estriado,
Estriado, em
em Mil
Mil Platôs.
Platôs. Na
Na edição
edição brasileira,
brasileira, estes
estes textos
textos encontram-se
encontram-se no
no volume
volume 5. 5.
“o
“o desejo
desejo deseja
deseja sua
sua própria
própria repressão”:
repressão”: traços
traços de
de uma
uma educação
educação fascista
fascista || 33
33
interior do Estado, escavando trincheiras e vivendo nele e dele, como verdadeiro parasita,
sem no entanto territorializar-se no Estado. Aí está o fenômeno do fascismo: alojar-se no
interior do Estado, utilizar-se dele, sem no entanto tornar-se estritamente estatal; nisso
reside seu poder e sua força.
33 Comentários
Comentários de
de Almodóvar
Almodóvar no
no site
site oficial
oficial de
de La
La Mala
Mala Educación:
Educación:
(http://clubcultura.com/clubcine/clubcineastas/almodovar/malaeducacion/comentarios.htm),
(http://clubcultura.com/clubcine/clubcineastas/almodovar/malaeducacion/comentarios.htm), acessado acessado em
em
18/05/06.
18/05/06. Tomo
Tomo aa liberdade
liberdade dede citar
citar no
no original
original espanhol
espanhol para
para manter
manter osos jogos
jogos de
de palavras
palavras feitos
feitos pelo
pelo diretor,
diretor,
que
que éé também
também um
um artista
artista da
da palavra.
palavra.
34|
34| sílvio
sílvio gallo
gallo
Primeira. A cena em que Juan e Sr. Berenguer saem de um cinema, que tem em
cartaz dois clássicos do cinema noir, e o Sr. Berenguer diz: “Parece que todos os filmes
falam de nós”; isso acontece depois que Ignacio foi morto, e os dois entram num galpão
cheio de bonecos e máscaras gigantes, como se fosse possível escolher, a cada momento,
que identidade vestir. E a despeito da identidade que se vista – lembremos que o Sr.
Berenguer, funcionário de uma editora já havia sido o padre Manolo, professor no colégio
de Ignácio – essas vestes parecem transparentes para as câmeras, desvelando nossos corpos
e nossas “identidades”: parece que todos os filmes falam de nós...
Segunda. A cena em que Zahara aparece “cantando” (na verdade, dublando, o que
já é outra máscara) e em que veste um traje especialmente desenhado por Jean-Paul
Gaultier, que é um corpo de mulher, como uma segunda pele. No corpo da travesti, onde
está a mulher? Na roupa que é uma segunda pele, um segundo corpo?
Estas duas cenas são particularmente emblemáticas porque os personagens de
Almodóvar aparecem como “consumidores de subjetividades à venda”, aderindo a uma
subjetivação como se se trocasse a roupa, como se se trocasse a máscara. Subjetividades
fluidas, líquidas, abertas... Subjetividades construídas socialmente, resultantes de processos
educativos em que a escola e o cinema, por exemplo, são máquinas de subjetivação.
A escola católica é mostrada no filme como máquina de produção de subjetividades
identitárias: constrói-se todo um panorama, em especial em torno da ritualística, das
roupas, da música, das festas, nas quais se oferece a cada criança uma identidade. E tudo
acontece para que sua subjetividade seja forjada, construída, como uma espécie de
“deformação”, um movimento violento em direção àquela máscara. É como se cada um
vestisse sua própria batina e dela não saísse jamais. Mas Almodóvar mostra que mesmo
essa máquina, poderosíssima naquela sociedade autoritária, perde parte de seu poder com a
redemocratização da Espanha e a onda de liberdade que se abate sobre ela: padre Manolo
deixa a batina e passa a ser o sr. Berenguer. Enrique e Ignacio, cada um destroçado a seu
modo pela máquina de subjetivação da escola católica, reconstroem a si mesmos e a suas
vidas, com mais tragédia ou menos tragédia.
Num outro contexto social e político, as máquinas de produção de subjetividades
são outras, mas continuam presentes. E aí Almodóvar lança luz sobre o cinema: não é por
acaso que o jovem cineasta Enrique tem sua própria produtora, a “El Azar” (quando a
produtora do próprio Almodóvar, também criada na década de 1980, chama-se “El Deseo”).
O cinema é, a um só tempo, uma arte e uma indústria, condensadas na figura da pequena
produtora. E se a máquina escolar católica produzia subjetividades identitárias, a máquina
do cinema parece abrir mais horizontes, produzindo múltiplas identidades, identidades não
fixas, mas cambiantes, camaleônicas...
Na escola autoritária Enrique e Ignacio crianças tinham no cinema uma linha de
fuga; qual a linha de fuga na produção de subjetividades da máquina cinematográfica?
Talvez a própria vida. Portas que se abrem, como no início do filme, e um portão que se
fecha, como em seu final; mas sempre novos roteiros e novas possibilidades. Se a máquina
escolar católica era a “má-educação”, será o cinema uma espécie de “boa-educação”?
Talvez, mas apenas talvez.
Penso que La Mala Educación chama nossa atenção e nos faz pensar sobre esse
problema da produção de subjetividades. Ao mesmo tempo em que fala de uma “má”
educação, a crueldade e a falta de liberdade no colégio de padres, o abuso sexual como
traçando as trilhas futuras do desejo daquelas crianças, Almodóvar fala de uma “boa”
educação, na medida em que são justamente essas experiências que os fazem viver, que os
fazem produzir suas histórias. Se somos vazios de identidade, esse “abismo de ser” de que
nos fala Sartre, a educação que nos oferece uma identidade, uma possibilidade de ser, um
figurino para constituir um personagem, é a um só tempo má e boa, pois se nos forja, se
36|
36| sílvio
sílvio gallo
gallo
nos coloca num palco delimitado, é ela que nos dá a condição de atuar, de agir, de aceitar
esse palco e esse cenário ou mesmo de transformá-los. No final das contas, é a má
educação que nos faz ser; no final das contas, essa educação que parece má encontra seu
duplo, o da boa educação. Se La Mala Educación tem toques autobiográficos, como
Almodóvar não se cansou de afirmar, falando inclusive de um ajuste de contas consigo
mesmo e com seu passado, embora sem nenhum intuito de vingança, podemos inclusive
afirmar que foi esse tipo de má educação de que ele próprio foi vítima que nos presenteou
com sua filmografia. Má educação e boa educação, talvez nem tão diferentes assim.
finalizando
Para fechar essa exploração bastante introdutória do tema, diria que o belo filme de
Almodóvar nos faz pensar na educação para além de bem e mal, parafraseando Nietzsche.
Educação, apenas, da qual não podemos escapar. Educação que sofremos e gozamos,
educação que nos faz ser. No final das contas, parece mesmo que “todos os filmes falam de
nós”, na mesma medida em que todas as escolas falam de nós.
Se a escola é lugar de vida e de desejo, a escola está aberta a maquinações fascistas,
que fazem com o que o desejo deseje sua própria repressão. E impõe um violento jogo de
poder e de subjetivação. Violência às vezes física, às vezes simbólica, não raro as duas
juntas. Mas, da mesma forma que a escola é abertura para o fascismo, pelo mesmo jogo do
desejo como produção ela é possibilidade de linhas de fuga, de criação e de singularidade.
Se a escola pode ser o palco de um microfascismo, pode ser também lugar de resistência, de
aprender a não ser fascista, cuidando de si e dos outros, inventando uma outra ética.
Pode ser que não tenhamos antídoto para um “fascismo de escola”. O remédio pode
ser o próprio veneno, as tentativas de conjurar o fascismo podem ser os vetores de sua
instituição. De algum modo, parece ser isto o que vivemos hoje no Brasil: as tentativas de
consolidação de uma educação democrática, aberta às diferenças, que opera pela inclusão
num sistema que é para ser de todos e para todos, acabaram consolidando certos avanços,
mas também abrindo caminhos para a constituição de subjetividades fascistas. Bastou
acender o estopim para que tais subjetividades, então caladas, encontrassem a luz do dia e
passassem a se manifestar e a se afirmar, sem qualquer pudor.
Mas, ainda que não haja antídotos, é preciso conviver com o veneno para saber
domá-lo e encontrar novos caminhos. Saídas libertárias são sempre possíveis; dependem
dos agenciamentos de desejos que seremos capazes de colocar em operação.
referências
GUATTARI,
GUATTARI, Félix.
Félix. Revolução
Revolução Molecular:
Molecular: pulsações
pulsações políticas
políticas do
do desejo.
desejo. 2ª
2ª ed.
ed. São
São Paulo:
Paulo: Brasiliense,
Brasiliense,
1985.
1985.
GUATTARI,
GUATTARI, Félix;
Félix; ROLNIK,
ROLNIK, Suely. Suely. Micropolítica:
Micropolítica: cartografias
cartografias do
do desejo.
desejo. Petrópolis:
Petrópolis: Vozes,
Vozes, 1986.
1986.
DELEUZE,
DELEUZE, Gilles;
Gilles; GUATTARI,
GUATTARI, Félix. Félix. Mil
Mil Platôs
Platôs –– vol.
vol. 3.
3. São
São Paulo:
Paulo: Ed.
Ed. 34,
34, 1996.
1996.
DELEUZE,
DELEUZE, Gilles;
Gilles; GUATTARI,
GUATTARI, Félix. Félix. Mil
Mil Platôs
Platôs –– vol.
vol. 5.
5. São
São Paulo:
Paulo: Ed.
Ed. 34,
34, 1997.
1997.
FOUCAULT,
FOUCAULT, Michel.
Michel. EmEm defesa
defesa da
da sociedade.
sociedade. São
São Paulo:
Paulo: Martins
Martins Fontes,
Fontes, 1999.
1999.
REICH,
REICH, Wilhelm.
Wilhelm. Psicologia
Psicologia de
de Massas
Massas do
do Fascismo.
Fascismo. São
São Paulo:
Paulo: Martins
Martins Fontes,
Fontes, 1972.
1972.
SARTRE,
SARTRE, Jean-Paul.
Jean-Paul. O O Ser
Ser ee oo Nada.
Nada. 7ª
7ª ed.
ed. Petrópolis:
Petrópolis: Vozes,
Vozes, 1999.
1999.
37
37
11 Universidade
Universidade Federal
Federal do
do Ceará
Ceará –– UFC.
UFC. Email:
Email: anderson.selva@hotmail.com
anderson.selva@hotmail.com
22 Universidade
Universidade Federal
Federal do
do Ceará
Ceará –– UFC.
UFC. Email:
Email: sylviogadelha@uol.com.br
sylviogadelha@uol.com.br
38|
38| anderson
anderson duarte;
duarte; sylvio
sylvio gadelha
gadelha
33Para
Para Foucault,
Foucault, arte
arte de
de governar
governar ee governamentalidade
governamentalidade sãosão termos
termos que
que se
se equivalem,
equivalem, remetendo
remetendo ambos
ambos aa um um
“conjunto
“conjunto constituído
constituído pelas
pelas instituições,
instituições, osos procedimentos,
procedimentos, análises
análises ee reflexões,
reflexões, os os cálculos
cálculos ee as
as táticas
táticas que
que
permitem
permitem exercer
exercer essa
essa forma
forma bem
bem específica,
específica, embora
embora muito
muito complexa,
complexa, de de poder
poder queque tem
tem por
por alvo
alvo principal
principal aa
população,
população, por
por principal
principal forma
forma de
de saber
saber aa economia
economia política
política ee por
por instrumento
instrumento técnico
técnico essencial
essencial os
os dispositivos
dispositivos de de
segurança.
segurança. Em Em segundo
segundo lugar,
lugar, por
por ‘governamentalidade’
‘governamentalidade’ entendo
entendo aa tendência,
tendência, aa linha
linha dede força
força que,
que, emem todo
todo oo
ocidente,
ocidente, não
não parou
parou dede conduzir,
conduzir, ee desde
desde háhá muito,
muito, para
para aa preeminência
preeminência desse
desse tipo
tipo de
de poder
poder queque podemos
podemos chamar
chamar
de
de ‘governo’
‘governo’ sobre
sobre todos
todos os
os outros
outros –– soberania,
soberania, disciplina
disciplina –– ee que
que trouxe,
trouxe, por
por umum lado,
lado, oo desenvolvimento
desenvolvimento de de toda
toda
uma
uma série
série de
de aparelhos
aparelhos específicos
específicos de
de governo
governo [e[e por
por outro
outro lado],
lado], oo desenvolvimento
desenvolvimento de de toda
toda uma
uma série
série de
de saberes.
saberes.
Enfim,
Enfim, por
por ‘governamentalidade’
‘governamentalidade’ creiocreio que
que se
se deveria
deveria entender
entender oo processo,
processo, ou
ou antes,
antes, oo resultado
resultado do
do processo
processo pelo
pelo
qual
qual oo Estado
Estado de de justiça
justiça dada Idade
Idade Média,
Média, queque nos
nos séculos
séculos XV XV ee XVI
XVI sese tornou
tornou oo Estado
Estado administrativo,
administrativo, viu-se
viu-se
pouco
pouco aa pouco
pouco governamentalizado.
governamentalizado. (FOUCAULT,
(FOUCAULT, 2008c, 2008c, p.
p. 143-144,
143-144, grifos
grifos dos
dos autores).
autores).
considerações
considerações sumárias
sumárias sobre
sobre aa relação
relação entre
entre segurança
segurança pública,
pública, formação
formação policial
policial ee empresariamento
empresariamento || 39
39
da
da sociedade,
sociedade, nana governamentalidade
governamentalidade neoliberal
neoliberal
população, aqui tomada como corpo-espécie no qual incidem processos biossociais em larga
escala, de nível macro, demandando que os mesmos sejam apontados, descritos,
conhecidos e administrados ou geridos pelo Estado. Tais são os casos de fenômenos como
natalidade, morbidade, mortalidade, endemias, pandemias etc. Nessa forma moderna de
governo da população, a taxa de homicídios será um dos dados em constante avaliação,
especialmente por envolver prioritariamente homens em idade considerada “produtiva”,
ou seja, indivíduos em condições de trabalhar. Durante coletiva de imprensa por ocasião do
lançamento do “Atlas da Violência” de 201644, pelo Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas do Governo Federal (IPEA), o técnico de Planejamento e Pesquisa, Daniel
Cerqueira, ao comentar o fato de que 46,4% dos homens que são mortos por homicídios
estão na faixa etária de 15 a 29 anos, afirmou que “As mortes apresentam consequências na
produtividade futura do país em geração de renda55”, chamando a atenção para a implicação
econômica dos homicídios.
Um dos vários planos de segurança orquestrado de certo tempo para cá está em
plena execução no estado de São Paulo. Lá, com efeito, desde 2014 adotou-se um programa
de “bônus por redução nos índices de criminalidade”, com a implantação do sistema de
metas. Apenas no ano de 2014 foram “investidos” mais de 173 milhões de reais no
pagamento de 222.720 bônus, que variaram entre 350 e 4.500 reais a mais no salário dos
policiais que ajudaram a atingir as metas estabelecidas pelo governo. A própria Secretaria
de Segurança Pública explica o programa:
Criado
Criado emem 2014
2014 aa partir
partir de
de sugestões
sugestões da
da sociedade
sociedade civil,
civil, oo Programa
Programa dede Metas
Metas ee de
de
Bonificação
Bonificação Policial
Policial éé uma
uma das
das ações
ações do
do projeto
projeto São
São Paulo
Paulo contra
contra oo Crime.
Crime. O O
objetivo
objetivo principal
principal éé premiar
premiar oo esforço
esforço dos
dos policiais
policiais na
na redução
redução dada criminalidade.
criminalidade.
ÉÉ baseado
baseado em em umum modelo
modelo dede gestão
gestão desenvolvido
desenvolvido em em conjunto
conjunto pela
pela Secretaria
Secretaria da
da
Segurança
Segurança Pública,
Pública, comando
comando dasdas polícias
polícias ee Instituto
Instituto Sou
Sou da
da Paz.
Paz.
Um
Um dosdos pilares
pilares dodo programa
programa éé aa adoção
adoção da da meritocracia
meritocracia na na gestão
gestão das
das polícias,
polícias,
uma
uma prática
prática comum
comum na na iniciativa
iniciativa privada.
privada. (SÃO
(SÃO PAULO,
PAULO, Governo
Governo do do Estado,
Estado,
2015,
2015, s.p.).
s.p.).
44 O
O “Atlas
“Atlas da
da Violência”
Violência” do
do ano
ano de
de 2016
2016 constatou
constatou aa ocorrência
ocorrência de
de 59.627
59.627 mortes
mortes por
por homicídios
homicídios no
no país.
país. Um
Um
recorde
recorde que
que coloca
coloca oo país
país no
no topo
topo dodo ranking
ranking desse
desse tipo
tipo de
de morte
morte em
em todo
todo oo mundo.
mundo. Disponível
Disponível em:
em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/160322_nt_17_atlas_da_violencia_2016_fi
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/160322_nt_17_atlas_da_violencia_2016_fi
nalizado.pdf>.
nalizado.pdf>. Acesso
Acesso em:
em: 15
15 mai.
mai. 2016.
2016.
55 TAXA
TAXA de de homicídios
homicídios nono Brasil
Brasil atingiu
atingiu recorde
recorde em
em 2014.
2014. IPEA,
IPEA, 23
23 mar
mar 2016.
2016. Disponível
Disponível em:
em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=27412>.
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=27412>. AcessoAcesso em:
em: 15
15
mai.
mai. 2016.
2016.
considerações
considerações sumárias
sumárias sobre
sobre aa relação
relação entre
entre segurança
segurança pública,
pública, formação
formação policial
policial ee empresariamento
empresariamento || 41
41
da
da sociedade,
sociedade, nana governamentalidade
governamentalidade neoliberal
neoliberal
instituições públicas, dentre as quais a polícia se destaca. Como observa Alfredo Veiga
Neto (2000) a respeito dessas mudanças, “ou se privatizam as atividades estatais
(lucrativas), ou se submetem as atividades (não-lucrativas) à lógica empresarial” (VEIGA
NETO, 2000, p. 190). É possível observar essas mudanças na administração dos serviços
essenciais do Estado, tais como a educação, a saúde e a segurança pública.
Quanto à questão do controle dos índices de cometimento do crime, já é farta a
literatura disponível que mostra o tipo de monitoramento estatístico e probabilístico por
parte das polícias e órgãos de segurança, que é realizado para orientar suas ações de
policiamento. Um marco no modo de atuação policial sob essa nova racionalidade é
apresentado no artigo lançado em 1982, nos Estados Unidos, pelos criminólogos James Q.
Wilson e George L. Kelling, chamado The Police and neighborhoodsafety: brokenwindows
(1982), no qual apresentam sua Broken Windows Theory (teoria das janelas quebradas),
teoria que, conforme aponta o sociólogo francês Loïc Wacquant (2001, p. 26), “jamais foi
comprovada empiricamente”.
Logo no início do referido artigo, os autores indagam: “Como pode um bairro bairro se
se
tornar mais seguro quando a taxa de criminalidade não tem diminuído diminuído – na verdade,
podendo até ter aumentado?”. Nota-se aí uma mudança de perspectiva. A livre circulação,
inclusive do crime e do criminoso, é uma premissa. Não se se trata efetivamente de baixar os
índices de criminalidade,
criminalidade, mas,
mas, sim,
sim, de
de controlá-los
controlá-los e mantê-los dentro de padrões
economicamente aceitáveis, produzindo algo que seria semelhante a um equilíbrio de
mercado. Daí a emergência dos conceitos de ordem e desordem, que passam a tomar corpo
e importância nas estratégias de segurança subsequentes, gerando táticas de policiamento
como as de Tolerância Zero e Policiamento Comunitário, ambas com inspiração na Teoria das
Janelas Quebradas66.
Outro exemplo é a adoção, por grande parte das instituições de segurança pública
no Brasil, da doutrina de policiamento comunitário. Essa doutrina foi implantada no Brasil,
segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP, 2007), “quando as polícias
militares estaduais buscavam a reestruturação de seus processos com base na Constituição
Federal de 88” (SENASP, 2007, p. 278). Em uma das disciplinas contidas em manuais de
policiamento comunitário produzidos e distribuídos pelo Governo Federal, disciplina cujo
nome sugestivo é gestão pela qualidade na segurança pública77, encontra-se a seguinte
afirmação: “há razões convincentes para a polícia acreditar que chegou a hora de alterar
suas políticas e práticas, principalmente para adequá-las às práticas já utilizadas na
administração de empresas privadas.” (SENASP, 2007, p.183). Neste contexto, o policial
comunitário se configura em imagem que deve encarnar idealmente o novo sujeito policial
da contemporaneidade, imagem esta articulada pelas políticas de subjetivação neoliberais.
Assim, nesta reprogramação, adjetivos como “proatividade”, “autonomia”, “liderança”,
“flexibilidade”, “capacidade de relacionamento interpessoal”, dentre outros, passam a
constituir o perfil valorizado e desejado pela polícia comunitária. Tais características são
alcançadas através de investimentos de cada policial em seu próprio capital humano (ou
capital intelectual).
66 Para
Para aprofundamento
aprofundamento do
do tema,
tema, ver
ver GADELHA;
GADELHA; DUARTE,
DUARTE, 2014.
2014.
77 Pablo
Pablo Gentili
Gentili (2000,
(2000, p.
p. 116),
116), ao
ao se
se referir
referir aa uma
uma série
série de
de processos
processos ocorridos
ocorridos nos
nos anos
anos 1980
1980 nos
nos domínios
domínios da
da
educação
educação ee em
em outros
outros domínios
domínios sociais,
sociais, afirma
afirma que
que “a“a retórica
retórica da
da qualidade”
qualidade” se
se impôs
impôs rapidamente
rapidamente como
como
senso
senso comum
comum nas nas burocracias,
burocracias, entre
entre os
os intelectuais
intelectuais ee –– mais
mais dramaticamente
dramaticamente –– em em um um número
número nada
nada
desprezível
desprezível dede indivíduos
indivíduos queque sofreram
sofreram ee sofrem
sofrem as as consequências
consequências dessas
dessas políticas
políticas conservadoras:
conservadoras: os
os
professores,
professores, os
os pais
pais ee os
os alunos.
alunos. Tal
Tal retórica
retórica aplica-se
aplica-se tanto
tanto àsàs políticas
políticas de
de segurança
segurança pública
pública que
que vêm
vêm sendo
sendo
adotadas
adotadas nos
nos últimos
últimos anos
anos (em
(em parte,
parte, responsáveis
responsáveis pela
pela formação
formação ee subjetivação
subjetivação dos
dos novos
novos policiais)quanto
policiais)quanto àà
percepção
percepção que
que as
as populações
populações pobres
pobres ee operárias
operárias passam
passam aa ter
ter das
das intervenções
intervenções dada polícia
polícia e,
e, mais
mais amplamente,
amplamente,
do
do modo
modo como
como oo Estado
Estado vem
vem se
se encarregando
encarregando da da segurança
segurança pública.
pública.
42|
42| anderson
anderson duarte;
duarte; sylvio
sylvio gadelha
gadelha
Assim, da mesma forma que os mecanismos da polícia atuaram naquele período nos
interstícios existentes entre as instituições de sequestro, permitindo a generalização das
disciplinas em todos os espaços sociais, também em nosso presente ela tem atuado na
educação e, mais amplamente, na formação, mesmo que de forma indireta, dos indivíduos.
É nesse sentido que o ex-secretário nacional de segurança pública, Ricardo Balestreri (2003,
p. 24) vai afirmar o policial, especialmente o “policial comunitário”, como um “pedagogo
da cidadania”. Essa dimensão pedagógica que permearia, na qualidade de inerente, não só a
ação policial, mas o funcionamento do dispositivo de segurança como um todo, e que teria
influência na modulação das condutas das populações, sobretudo dos estratos mais pobres,
é definida por ele como “inabdicável”.
A partir deste contexto, em que atuam vários microdispositivos pedagógicos, dentre
os quais se inclui o microdispositivo propriamente policial, que concorre, juntamente com
outros, para a educação, formação e subjetivação dos indivíduos, é possível falar em um
empresariamento da segurança pública. Este processo atuaria, de forma dupla, agindo tanto na
transformação das políticas de segurança pública, que então adotam paradigmas e modelos
que obedecem a uma “operacionalidade empresarial”, na forma de gestão (GAULEJAC,
2007), quanto na produção de subjetividades policialescas, securitárias ou atuariais, isto é,
sujeitos adequados a uma sociedade de (in)segurança. O “indivíduo-microempresa” de que
fala Gadelha (2009, p.149) teria a característica de policiar-se a si mesmo e aos seus
semelhantes cotidianamente, além de realizar cálculos atuariais e securitários ao realizar
seus investimentos em segurança e ao se relacionar socialmente. Nesta perspectiva,
poderiam também ser analisadas as delações estimuladas pelos órgãos de segurança
pública88, as avaliações por pares e as relações de concorrência em diversos ambientes de
88 Chama
Chama aa atenção
atenção oo programa
programa “Disque
“Disque Denúncia”,
Denúncia”, do
do estado
estado do
do Rio
Rio de
de Janeiro.
Janeiro. Criado
Criado em
em 1995,
1995, oo programa,
programa,
apesar
apesar de
de ser
ser amplamente
amplamente utilizado
utilizado ee divulgado
divulgado pela
pela Secretaria
Secretaria de
de Segurança
Segurança Pública
Pública do
do estado,
estado, não
não éé um
um
serviço
serviço público.
público. Trata-se
Trata-se de de uma
uma parceria
parceria estabelecida
estabelecida entre
entre oo poder
poder público
público ee aa Organização
Organização Não Não
Governamental
Governamental Movrio.
Movrio. Totalmente
Totalmente financiado
financiado por
por empresas
empresas privadas,
privadas, oo programa,
programa, além
além de
de estimular
estimular aa
denúncia
denúncia por
por parte
parte dos
dos cidadãos
cidadãos comuns,
comuns, oferecendo
oferecendo recompensas
recompensas emem dinheiro,
dinheiro, também
também oferece
oferece premiações
premiações aa
policiais.
policiais. Segundo
Segundo oo site
site do
do programa:
programa: “Essa
“Essa premiação
premiação recebe
recebe oo nome
nome de
de Prêmio
Prêmio Gol
Gol ee tem
tem por
por objetivo
objetivo
divulgar
divulgar oo bom
bom desempenho
desempenho das das polícias
polícias ee reconhecer,
reconhecer, publicamente,
publicamente, seus
seus profissionais.
profissionais. São
São premiados
premiados
aqueles
aqueles que
que cumprem
cumprem sua sua tarefa
tarefa de
de maneira
maneira legítima,
legítima, sem
sem violar
violar direitos
direitos ee gerar
gerar vítimas”.
vítimas”. Ver
Ver site
site do
do
programa.
programa. Disponível
Disponível em:em: <http://disquedenuncia.org.br/>.
<http://disquedenuncia.org.br/>.
considerações
considerações sumárias
sumárias sobre
sobre aa relação
relação entre
entre segurança
segurança pública,
pública, formação
formação policial
policial ee empresariamento
empresariamento || 43
43
da
da sociedade,
sociedade, nana governamentalidade
governamentalidade neoliberal
neoliberal
considerações finais
O conceito de segurança, abrangente e complexo que é, está em permanente
construção e precisa não só ser disputado, mas, sobretudo, problematizado. Para alguns,
cujo entendimento da agonística social é perspectivado por um viés jurídico-político, ou
jurídico-filosófico, ele tanto pode ser entendido como um direito humano fundamental, ao
lado dos direito à vida e do direito à liberdade, quanto dá margem a que seja utilizado como
argumento e instrumento de governo para retirada desses mesmos direitosfundamentais.
A segurança pública tem, sobretudo, as funções de vigilância, monitoramento, controle e
governo das populações pobres e, nesse contexto a expressão, “por razões de segurança”
pode ser uma chave para a execução de medidas autoritárias e típicas de um estado de
exceção.
Na realidade das atuais sociedades de (in)segurança, policiadas sob uma
governamentalidade neoliberal, os mecanismos de gestão e de produção de subjetividades
serializadas têm proliferado, dando ensejo a um empresariamento da segurança pública,
característico do que Gilles Deleuze (1992) chamou de sociedades de controle, e colocando em
risco o que se entende por democracia, como diz Agamben (2014).
Cabe aos que pensam e aos que lutam nesse complexo campo estratégico, munirem-
se de ferramentas e instrumentos para a crítica a esse modelo de segurança e de sociedade.
Para Foucault (2005, p.242), é necessário que o intelectual seja um “destruidor das
evidências e das universalidades, que indica nas inércias e coações do presente os pontos
fracos, as brechas, as linhas de força”.
referências
AGAMBEN,
AGAMBEN, Giorgio.Giorgio. Como
Como aa obsessão
obsessão por
por segurança
segurança muda muda aa democracia.
democracia. 06.06. Jan
Jan 2014.
2014. Le
Le Monde
Monde
Diplomatique
Diplomatique Brasil.
Brasil. Disponível
Disponível em:em: <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1568>.
<http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1568>.
Acessado
Acessado em:em: 09/03/2014.
09/03/2014.
BALESTRERI,
BALESTRERI, RicardoRicardo B.B. Direitos
Direitos Humanos:
Humanos: coisa
coisa de
de polícia.
polícia. Passo
Passo Fundo:
Fundo: Gráfica
Gráfica Editora
Editora Berthier,
Berthier,
2003.
2003.
BAYLEY,
BAYLEY, D. D. H.H. Padrões
Padrões de de policiamento.
policiamento. Tradução
Tradução de de Renê
Renê Alexandre
Alexandre Belmonte.
Belmonte. São São Paulo:
Paulo:
Editora
Editora dada Universidade
Universidade de de São
São Paulo,
Paulo, 2006.
2006.
BOSCHETTI,
BOSCHETTI, Ivanete. Ivanete. Implicações
Implicações da da reforma
reforma da da previdência
previdência na na seguridade
seguridade social
social brasileira.
brasileira.
Psicologia
Psicologia & & Sociedade,
Sociedade, v.15,v.15, n.
n. 1,1, p. p. 57-96,
57-96, jan./jun.
jan./jun. 2003.
2003. Disponível
Disponível em: em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822003000100005>.
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822003000100005>.
Acessado
Acessado em:em: 11/05/2016.
11/05/2016.
BRASIL.
BRASIL. Constituição.
Constituição. Constituição
Constituição da da República
República Federativa
Federativa do do Brasil.
Brasil. Brasília,
Brasília, DF:
DF: Senado
Senado Federal,
Federal,
1988.
1988.
CERQUEIRA,
CERQUEIRA, Daniel Daniel etet al.
al. (Orgs.).
(Orgs.). Atlas
Atlas da
da Violência
Violência 2016.
2016. Brasília:
Brasília: IPEA,
IPEA, 2016.
2016. Disponível
Disponível em:
em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/160322_nt_17_atlas_da_
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/160322_nt_17_atlas_da_
violencia_2016_finalizado.pdf.
violencia_2016_finalizado.pdf. Acessado
Acessado em:
em: 15/05/2016.
15/05/2016.
DELEUZE,
DELEUZE, Gilles.
Gilles. Conversações.
Conversações. São
São Paulo:
Paulo: Editora
Editora 34.34. 1992.
1992.
FOUCAULT,
FOUCAULT, Michel. Michel. Microfísica
Microfísica dodo poder.
poder. Rio
Rio de
de Janeiro:
Janeiro: Graal,
Graal, 2005.
2005.
______.
______. Nascimento
Nascimento da da biopolítica.
biopolítica. São
São Paulo:
Paulo: Ed.
Ed. Martins
Martins Fontes,
Fontes, 2008a.
2008a.
______.
______. Vigiar
Vigiar ee punir.
punir. 6.
6. ed.
ed. Petrópolis:
Petrópolis: Vozes,
Vozes, 2008b.
2008b.
______.
______. Segurança,
Segurança, território,
território, população.
população. São
São Paulo:
Paulo: Ed.
Ed. Martins
Martins Fontes,
Fontes, 2008c.
2008c.
GADELHA,
GADELHA, Sylvio. Sylvio. Biopolítica,
Biopolítica, governamentalidade
governamentalidade ee educação:
educação: Introdução
Introdução ee Conexões
Conexões aa partir
partir de
de
Michel
Michel Foucault.
Foucault. Belo
Belo Horizonte:
Horizonte: Autêntica,
Autêntica, 2009.
2009.
44|
44| anderson
anderson duarte;
duarte; sylvio
sylvio gadelha
gadelha
GADELHA,
GADELHA, Sylvio;
Sylvio; DUARTE,
DUARTE, Anderson.
Anderson. O O policiamento
policiamento comunitário
comunitário como como dispositivo
dispositivo
neoliberal
neoliberal dede governo
governo nono campo
campo dada segurança.
segurança. In:In: AVELINO,
AVELINO, Nildo; Nildo; VACCARO,
VACCARO, Salvo. Salvo.
Governamentalidade
Governamentalidade || segurança.
segurança. São
São Paulo:
Paulo: Ed.
Ed. Intermeios,
Intermeios, 2014,
2014, p.
p. 129-169.
129-169.
GAULEJAC,
GAULEJAC, Vincent
Vincent de.de. Gestão
Gestão como
como doença
doença social:
social: ideologia,
ideologia, poder
poder gerencialista
gerencialista ee fragmentação
fragmentação social.
social.
Aparecida:
Aparecida: Ideias
Ideias && Letras,
Letras, 2007.
2007.
GENTILI,
GENTILI, P.P. A.A. A.
A. OO discurso
discurso da da “qualidade”
“qualidade” como como novanova retórica
retórica conservadora
conservadora no no campo
campo
educacional.
educacional. In:In: GENTILI,
GENTILI, P.A.A.;
P.A.A.; SILVA,
SILVA, T. T. T.da.
T.da. (Orgs.).
(Orgs.). Neoliberalismo,
Neoliberalismo, qualidade
qualidade total
total
ee educação:
educação: visões
visões críticas.
críticas. 10
10 ed.
ed. Petrópolis:
Petrópolis: Ed.
Ed. Vozes,
Vozes, 2001.
2001.
SÃO
SÃO PAULO.
PAULO. Governo
Governo do do Estado.
Estado. Secretaria
Secretaria dede Segurança
Segurança Pública.
Pública. Secretário
Secretário anuncia
anuncia pagamento
pagamento dede
bônus
bônus aa policiais
policiais dos
dos dois
dois primeiros
primeiros trimestres
trimestres dodo ano.
ano. 2323 set.
set. dede 2015.
2015. Disponível
Disponível em:em:
<http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/lenoticia.aspx?id=36223>.
<http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/lenoticia.aspx?id=36223>. Acessado Acessado em: em: 12/04/2016.
12/04/2016.
SENASP.
SENASP. Curso
Curso nacional
nacional de
de multiplicador
multiplicador de
de polícia
polícia comunitária.
comunitária. 2. 2. ed.
ed. Brasília:
Brasília: Secretaria
Secretaria Nacional
Nacional dede
Segurança
Segurança Pública,
Pública, 2007.
2007.
BRASIL.
BRASIL. Governo
Governo Federal.
Federal. Taxa
Taxa dede homicídios
homicídios nono Brasil
Brasil atingiu
atingiu recorde
recorde em
em 2014.
2014. IPEA,
IPEA, 2323 mar
mar 2016.
2016.
Disponível
Disponível em:
em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=27412>.
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=27412>.
Acessado em:
Acessado em: 15/05/2016.
15/05/2016.
VEIGA-NETO, Alfredo.
VEIGA-NETO, Alfredo. Educação
Educação ee governamentalidade
governamentalidade neoliberal:
neoliberal: novos
novos dispositivos,
dispositivos, novas
novas
subjetividades. In:
subjetividades. In: PORTOCARRERO,
PORTOCARRERO, Vera; Vera; CASTELO
CASTELO BRANCO, BRANCO, Guilherme
Guilherme (org.).
(org.).
Retratos de
Retratos de Foucault.
Foucault. Rio
Rio dede Janeiro:
Janeiro: NAU,
NAU, 2000.
2000. p.
p. 179-217.
179-217.
WACQUANT, Loïc.
WACQUANT, Loïc. As
As prisões
prisões da
da miséria.
miséria. Tradução
Tradução de de André
André Telles.
Telles. Rio
Rio dede Janeiro:
Janeiro: Jorge
Jorge Zahar
Zahar
Editor, 2001.
Editor, 2001.
WILSON, J.
WILSON, J. Q.;
Q.; KELLING,
KELLING, G. G. L.L. The
The Police
Police and
and neighborhood
neighborhood safety:safety: broken
broken Windows.
Windows. The The
atlantic
atlantic Monthly,
Monthly, mar.
mar. 1982.
1982. Disponível
Disponível em:
em:
<http://www.theatlantic.com/magazine/archive/1982/03/broken-windows/304465/>.
<http://www.theatlantic.com/magazine/archive/1982/03/broken-windows/304465/>.
Acessado em:
Acessado em: 19/04/2016.
19/04/2016.
45
45
marisa berttolini11
11 Instituto
Instituto de
de Perfeccionamiento
Perfeccionamiento yy Estudios
Estudios Superiores
Superiores –– IPES/Uruguay.
IPES/Uruguay.
Email:
Email: marisaberttolini@gmail.com
marisaberttolini@gmail.com
46|
46| marisa
marisa berttolini
berttolini
22 BERTTOLINI,
BERTTOLINI, Marisa;
Marisa; GONZÁLEZ,
GONZÁLEZ, Isabel;
Isabel; LANGON,
LANGON, Mauricio.
Mauricio. Argumentación:
Argumentación: un
un aporte
aporte filosófico
filosófico aa la
la
educación,
educación, Informe
Informe de
de Investigación.
Investigación. Montevideo:
Montevideo: CFE-IPES,
CFE-IPES, 2014
2014 (sin
(sin publicar).
publicar).
ciudadanía,
ciudadanía, argumentación
argumentación yy función
función filosófica.desafíos
filosófica.desafíos político-pedagógicos
político-pedagógicos aa partir
partir de
de una investigación|| 47
una investigación 47
normativamente de las promesas del proyecto moderno, que sigue siendo, al menos en el
discurso, la ideología hegemónica.
Los argumentos reproducen un pensamiento que implícitamente se considera
“políticamente correcto” y aún las posturas más radicales en contra aclaran que “no se
trata de discriminación”. Las instituciones parecen haber sido efectivas en la construcción
de las subjetividades de los estudiantes. Podríamos afirmar que ha funcionado con eficacia
el dispositivo normalizador.
Pero algo hacía ruido. Sentíamos la necesidad de una interpretación más sutil del
discurso de los alumnos. Y así creemos haber visualizado la cuestión inquietante.
Descubrimos que la ideología liberal clásica se ha internalizado en los jóvenes con
fuerza de “verdad”. Los valores se postulan como evidentes y se construyen argumentos
sobre un modelo axiomático-deductivo.
La normativa jurídica vigente aparece como atemporal y casi “natural” (“el
matrimonio es…”) y en relación a la familia hay dificultades para concebir alternativas a la
organización teóricamente hegemónica. Tanto en las posturas a favor como en contra se
observa una sobrevaloración de la relevancia de la familia en la conformación de la
afectividad de los niños.
Para posicionarse en contra del matrimonio igualitario se acude al carácter
imprescindible de la familia nuclear, y se le atribuye importancia esencial a los roles
masculino y femenino en la educación de los hijos.
Resulta paradójico que en algunos casos se acepta y justifica la posibilidad
fuertemente transgresora y disruptiva de los vínculos homosexuales respecto a los criterios
hegemónicos de normalización, apelando a principios clásicos y al valor de la familia
nuclear moderna, que por otra parte, en su modalidad heterosexual está en crisis profunda.
Otra muestra de la capacidad del sistema de fagocitar las experiencias alternativas.
Las categorías de libertad, igualdad, derechos individuales, aparecen
sustancializadas. Se han naturalizado. Se han vuelto tradición, devienen en dogma, ocupan
el lugar de la religión. De esta manera pierden su fuerza vital, la capacidad transformadora,
se debilita su función utópica y emancipatoria.
Falta conciencia de su historicidad. El presente no se reconoce como construcción
social y resultado de contingencias históricas y luchas sociales
Si la premisa es “todos somos iguales” o “todos somos libres”, se disuelve el desafío
político. No hay conflicto, no hay proyecto, no es necesario el esfuerzo.
Ya en 1981, en una conferencia en Madrid sobre Las palabras, Julio Cortázar desde
su condición de escritor comprometido, expresa esta preocupación.
Si
Si algo
algo sabemos
sabemos loslos escritores
escritores eses que
que las
las palabras
palabras pueden
pueden llegar
llegar aa cansarse
cansarse yy aa
enfermarse, como
enfermarse, como sese cansan
cansan yy se se enferman
enferman loslos hombres
hombres oo loslos caballos.
caballos. Hay
Hay
palabras que
palabras que aa fuerza
fuerza de
de ser
ser repetidas,
repetidas, yy muchas
muchas veces
veces mal
mal empleadas,
empleadas, terminan
terminan
por agotarse,
por agotarse, por
por perder
perder poco
poco aa pocopoco susu vitalidad…Digo:
vitalidad…Digo: “libertad”,
“libertad”, digo:
digo:
“democracia”, yy de
“democracia”, de pronto
pronto siento
siento queque he
he dicho
dicho esas
esas palabras
palabras sinsin haberme
haberme
planteado una
planteado una vez
vez más
más susu sentido
sentido másmás hondo,
hondo, susu mensaje
mensaje más
más agudo,
agudo, yy siento
siento
también que
también que muchos
muchos de de los
los que
que las
las escuchan
escuchan las
las están
están recibiendo
recibiendo aa su su vez
vez como
como
algo que
algo que amenaza
amenaza convertirse
convertirse en en un
un estereotipo,
estereotipo, en
en un
un clisé
clisé sobre
sobre el
el cual
cual todo
todo el
el
mundo está
mundo está de
de acuerdo
acuerdo porque
porque esa esa es
es la
la naturaleza
naturaleza misma
misma deldel clisé
clisé yy del
del
estereotipo: anteponer
estereotipo: anteponer un un lugar
lugar común
común aa una
una vivencia,
vivencia, una
una convención
convención aa unauna
reflexión, una
reflexión, una piedra
piedra opaca
opaca aa un
un pájaro
pájaro vivo
vivo (CORTÁZAR,
(CORTÁZAR, 1981) 1981)
Esto es lo que nos remite a Nietzsche y “las tres transformaciones del espíritu” y
nos sugiere la imagen inquietante del león transmutando en camello.
La rebelión original del león rompe con la carga pesada de la tradición y representa
el movimiento de liberación que se nutre de la confrontación. Pero domesticado el león,
50|
50| marisa
marisa berttolini
berttolini
lejos de habilitar el florecimiento del niño creador, puede transmutar en un nuevo camello,
con ropaje de la modernidad, pero con el mismo peso que esclaviza.
Y es aquí donde la educación filosófica debe asumir el desafío y desarrollar una
ontología crítica del presente a la que nos invita Foucault.
La filosofía puede hacer la mediación crítica sobre lo que se ha naturalizado,
instalar la pregunta sobre las condiciones de producción de las instituciones que
habitamos, de los valores que reconocemos como deseables, de los saberes que aceptamos
como válidos
La educación filosófica debe orientarse a que los sujetos reconozcan cómo han
entrado a formar parte de una determinada representación de la verdad (FOUCAULT, 1994,
p.122), y cuáles son las reglas de juego de los dispositivos que han construido su
subjetividad.
Este reconocimiento no es garantía, pero es condición de posibilidad de la ruptura
que habilite a imaginar y construir proyectos múltiples y alternativos de vida en común
que no anulen sino que se nutran de la diversidad.
referencias
CORTÁZAR,
CORTÁZAR, Julio.
Julio. Las
Las palabras.
palabras. [Conferencia].
[Conferencia]. Madrid,
Madrid, 1981,
1981, s/f.
s/f. Consultado
Consultado en:en: 18/06/2016.
18/06/2016.
Disponible
Disponible en:
en: http://bohemiaylibre.blogspot.com.br/2012/08/conferencia-de-julio-
http://bohemiaylibre.blogspot.com.br/2012/08/conferencia-de-julio-
cortazar-madrid.html
cortazar-madrid.html
FOUCAULT, Michel.
FOUCAULT, Michel. Hermenéutica
Hermenéutica del
del sujeto.
sujeto. Madrid:
Madrid: Ediciones
Ediciones de
de la
la Piqueta,
Piqueta, 1994.
1994.
NIETZSCHE, Friedrich.
NIETZSCHE, Friedrich. De
De las
las tres
tres transformaciones.
transformaciones. In:
In: NIETZSCHE,
NIETZSCHE, Friedrich.
Friedrich. Así
Así habló
habló
Zaratustra. Madrid:
Zaratustra. Madrid: Alianza,
Alianza, 1972.
1972.
51
51
A
discussão que temos empreendido nos últimos anos acerca do Ensino de
Filosofia e as implicações de sua presença obrigatória na escola pública
conduziu-nos de volta a uma preocupação constante em nossas primeiras
incursões pela temática do ensino: a formação dos professores para o trabalho pedagógico
com a filosofia enquanto componente curricular do ensino médio. Nosso ponto de partida
ancorou-se no pressuposto antropológico que coloca a inerente necessidade da educação
como via de permanente concretização do projeto de humanização desses animais que
chamamos de homens e mulheres para seguir na sequela daqueles que preconizam a
formação profissional como organização da efetiva possibilidade de intervenção no mundo
da vida. Finalmente, esbarramo-nos na esfera da vida política como esteio da vida ética e
da militante compromisso com a justiça e equidade social e os requesitos para a formação
considerando essa importante dimensão da vida do ser humano.
Em nosso olhar a dimensão humana e a profissionalização reportam-se à formação
política. Essa se refere ao desenvolvimento de atitudes que exigem o compromisso político
do professor, como intelectual transformador na aula, na escola, no contexto social,
comprometido com a prática social (PÉREZ GOMEZ, 2000). Entretanto, revela sua
própria dimensão humana que o coloca no convívio e confronto cotidiano com os outros.
Se volvermos os olhos para a LDB, no que tange à formação dos profissionais da
Educação, encontraremos assentado que esses devem ser formados de “modo a atender aos
objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características do
desenvolvimento do educando” (art. 61). Os artigos 32 e 35, referindo-se, respectivamente,
ao Ensino Fundamental e Médio, focalizam o ensino, como mediação que possibilita, ao
indivíduo, a prática da cidadania. Teriam, então, os professores, entre seus atributos, a
incumbência de atuarem, na formação de cidadãos. A preconizada cidadania tão
fortemente requisitada pelas normativas e textos acadêmicos deixa implícita a “adesão” a
um determinado projeto político assinalados em bandeiras de lutas no chão do concreto da
vida.
Preside nossa concepção a ideia de que A Educação não é um empreendimento
neutro, e o educador está envolvido em um ato político de forma consciente ou não. À
medida que tem consciência do seu papel político-pedagógico, pode optar por orientar suas
ações por uma concepção democrática, crítica e formar alunos que pensem e atuem
criticamente.
O artigo 62 reza que o professor será formado, em Cursos de Licenciatura, de
graduação plena. Tais cursos, a nosso ver, em coerência com o que prescreve a legislação,
deverá colocar, como preocupação inicial, o perfil desse docente a ser formado. Pensamos:
dado que este tem, como tarefa, a formação de cidadãos, deve, também ele, em princípio,
ser formado, em atendimento às prerrogativas de sua cidadania. Ele é, portanto, um
cidadão.
Wanderley (1987, p.187-199) aponta alguns traços identificadores do professor como
cidadão. Citamos alguns: domínio das áreas de conhecimento em que atua e da área
educacional, competência técnica e política, ser redimensionalizador do conteúdo da
11 Universidade
Universidade Federal
Federal de
de Pernambuco
Pernambuco –– UFPE.
UFPE. Email:
Email: junotcmatos@gmail.com
junotcmatos@gmail.com
52|
52| junot
junot cornélio
cornélio matos
matos
Tal abordagem observa a convicção socializada por Freire (2004) quando alude que
toda ação educativa é uma forma de intervenção no mundo, enquanto experiência humana,
portanto, ideológica.
Para Masetto (1998) o professor em sala de aula não deixa de ser um cidadão,
devendo organizar uma prática pedagógica que reconheça o contexto social e cultural como
processo histórico, portanto, propenso a incorporar a construção da vida e da história de
seu povo. Giareta, Vizivale e Meneghel (2008, p.133) defendem que
Os
Os educadores
educadores de de professores,
professores, ou
ou seja,
seja, as
as modalidades
modalidades educativas
educativas de
de formação
formação dede
professores,
professores, emem sua
sua dimensão
dimensão política,
política, são
são convidadas
convidadas aa estender
estender oo olhar
olhar ee dar
dar
consciência
consciência aosaos exercícios
exercícios dede poder
poder que
que sese efetivam
efetivam nana educação
educação ee delinear
delinear os
os
limites
limites ee alcances
alcances das
das intervenções
intervenções legislativas
legislativas na
na vida
vida acadêmica
acadêmica emem nome
nome deste
deste
poder.
poder. Tal
Tal caracteriza
caracteriza oo conhecimento
conhecimento não não mais
mais como
como um um conjunto
conjunto de de saberes
saberes
pré-
pré- ordenados
ordenados porpor um
um grupo
grupo de
de especialistas,
especialistas, mas
mas como
como produto
produto dede cooperação
cooperação
democrática,
democrática, ondeonde alunos
alunos dos
dos programas
programas de de formação
formação de de professores,
professores,
aproximados
aproximados de de políticas
políticas culturais
culturais de
de transformação
transformação emancipatória,
emancipatória, entendem-no
entendem-no
como
como manifestação
manifestação do do que
que acontece
acontece quando
quando aa experiência
experiência éé interrogada
interrogada àà luz
luz da
da
consciência
consciência histórica
histórica interceptando
interceptando aa experiência
experiência pessoal.
pessoal.
Não podemos ignorar que a Filosofia que volta à escola em pleno século XXI, no
bojo de um movimento que parece consolidar as reformatações produtivas do capital
principiadas no século passado, não é qualquer filosofia. À questão de sua concepção — e
falamos em concepção atentando para os demandantes de uma tal filosofia que, em
princípio, deve contribuir com a “formação do cidadão crítico”, ou seja, que encerra um
saber a priori — e sua ensinabilidade é necessário adicionar aquela que indaga o “para quê”,
ou seja, a que projeto histórico ela é chamada a servir. Assim, é possível atentar para a
complexidade do fenômeno, pois não é tão simples quanto parece: não se trata de discutir
exclusivamente se ela, a filosofia, presta-se ou não à disciplinarização e ao ensino. é
importante termos em conta que a relação das novas gerações com as filosofias estará, em
22 A
A esse
esse respeito
respeito consultar
consultar Pelloso
Pelloso (2010,
(2010, p.
p. 334)
334)
33 Conferir
Conferir aa respeito
respeito Carrilho
Carrilho (1987,
(1987, p.25-26):
p.25-26): “É
“É que,
que, se
se há
há disciplina
disciplina cujo
cujo conteúdo
conteúdo tenha
tenha variado
variado nono
conjunto
conjunto dos
dos currícula
currícula escolares,
escolares, surgindo
surgindo ora
ora pletórico
pletórico ee dominante
dominante em em relação
relação às
às outras
outras disciplinas,
disciplinas, ora
ora
encurralado
encurralado ee emem quase
quase desaparecimento,
desaparecimento, essa
essa disciplina
disciplina éé aa filosofia.
filosofia. EE poucas
poucas disciplinas
disciplinas terão
terão também
também
suscitado
suscitado tantas
tantas discussões
discussões ee debates
debates sobre
sobre oo seu
seu nível
nível de
de inserção,
inserção, oo seu
seu tem
tem de
de leccinação
leccinação escolar,
escolar, e,
e,
sobretudo,
sobretudo, os
os seus
seus conteúdos
conteúdos ee objetivos”.
objetivos”.
54|
54| junot
junot cornélio
cornélio matos
matos
grande parte, influenciada pelo trabalho que os professores de filosofia realizarão nas
escolas.
A questão do retorno obrigatório da Filosofia como componente obrigatório do
Ensino Médio levanta inúmeras polêmicas embora exista consenso quanto à sua
importância na formação cultural de adolescentes e jovens no momento em que buscam
respostas fundamentais para as escolhas que deverão fazer na construção de seu projeto de
vida. Tal importância encontra amparo em Navia (2005, p. 277-278) quando ressalta:
[...]
[...] não
não há
há nenhuma
nenhuma outra
outra instância
instância onde
onde se
se reflete
reflete sobre
sobre oo fundamento
fundamento ee os os
limites
limites dodo conhecimento,
conhecimento, tratando
tratando de de gerar
gerar critérios
critérios sobre
sobre aa distinção
distinção entre
entre
conhecimento
conhecimento fundamentado
fundamentado ee não não fundamentado
fundamentado ee de de tirar
tirar fora
fora oo obscurantismo
obscurantismo
ee aa mistificação
mistificação dada ciência;
ciência; não
não háhá outro
outro âmbito
âmbito onde
onde sese reflete
reflete sobre
sobre problemas
problemas
éticos,
éticos, estéticos,
estéticos, antropológicos,
antropológicos, sócio-históricos
sócio-históricos ee culturais,
culturais, procurando
procurando um um
antídoto
antídoto contra
contra oo dogmatismo,
dogmatismo, oo fanatismo
fanatismo ee aa intolerância.
intolerância. Uma
Uma instância,
instância, além
além
disso,
disso, onde
onde sese desenvolve
desenvolve as as capacidades
capacidades dede argumentação
argumentação ee discussão
discussão dede ideias
ideias
explicitamente
explicitamente fundamentadas
fundamentadas ee com com elucidação
elucidação dos dos princípios
princípios supostos
supostos
implicados
implicados como
como modelo
modelo privilegiado
privilegiado de de qualquer
qualquer análise,
análise, elucidação,
elucidação, ee avaliação
avaliação
que
que inclua
inclua princípios
princípios gerais.
gerais.
Uma pergunta que tem ocupado boa parte daqueles que estão empenhados na
pesquisa acerca do ensino de Filosofia diz respeito à especificidade da Filosofia, sua
disciplinarização e ensinabilidade, enquanto componente curricular no ensino médio.
Indaga-se qual o diferencial da filosofia no currículo, “pois a Filosofia enquanto
pensamento crítico e reflexivo tem como característica colocar a si mesma em questão”
(MARCONDES; FRANCO, 2011, p. 7). O que ela - e somente ela - é convocada a fazer no
processo de aprendizagem dos adolescentes e jovens. Possivelmente tal reposta não é de
fácil construção por que, na verdade, parece que não há um papel para a Filosofia, mas
algumas tarefas no conjunto de componentes que constituem a arquitetura curricular do
Ensino Médio. Com isso, está indicado que há problemas especificamente filosóficos a
serem enfrentados e, outros de natureza pedagógica. Nossa meta será a de propor uma
discussão que encare a problemática como filosófica deixando em suspenso questões de
natureza pedagógica. Assim, deveremos considerar que o modelo de formação dos
estudantes das licenciaturas em Filosofia não revela clareza da natureza de um curso de
formação de professores por parte dos docentes responsáveis pelas componentes
curriculares específicas, nem por aqueles que trabalham com as componentes pedagógicas
(sintomas: desarticulação, fragmentação, falta de diálogo) e que, ademais, são
pouquíssimos os filósofos que pesquisam e discutem o Ensino de Filosofia como problema
filosófico. Basta considerar que os temas relativos à Filosofia da Educação e ao Ensino de
Filosofia são cadastrados como subáreas da Educação.
Segundo Mac Dowell (2010, p. 10) o cenário acadêmico atual nos apresenta “as
atividade filosófica reduzida praticamente à interpretação de textos, à discussão do que
disseram ou não disseram diferentes autores.”. Os professores de Filosofia foram formados
em regime disciplinar e estão em sua maioria convencidos que o ensino de filosofia se
justifica pela sua própria historicidade. Regozijam-se na pose de um suposto saber
absoluto, fechado, em seu absoluto solipsismo 44. O autor citado informa que
44 A
A tal
tal respeito
respeito cabe
cabe aa posição
posição de
de Karl
Karl Jaspers
Jaspers que
que transcrevemos
transcrevemos aqui:
aqui: “O
“O que
que éé filosofar?
filosofar? Para
Para aqueles
aqueles que
que
acreditam
acreditam nana ciência,
ciência, um
um saber
saber possível
possível dede se
se possuir,
possuir, oo pior
pior da
da filosofia
filosofia éé que
que ela
ela jamais
jamais fornece
fornece resultados
resultados
apodíticos.
apodíticos. As
As ciências
ciências conquistaram
conquistaram conhecimentos
conhecimentos certos,
certos, que
que se
se impõe
impõe aa todos;
todos; aa filosofia,
filosofia, aa pesar
pesar de
de seus
seus
esforços
esforços milenares,
milenares, jamais
jamais obteve
obteve um
um tal
tal sucesso.
sucesso. ÉÉ incontestável
incontestável que
que em
em Filosofia
Filosofia não
não há
há unanimidade,
unanimidade, no no
estabelecimento
estabelecimento de de um
um saber
saber definitivo.
definitivo. Sempre
Sempre queque um
um conhecimento
conhecimento se se impõe
impõe por
por razões
razões apodíticas,
apodíticas, ele
ele se
se
torna
torna científico
científico ee cessa
cessa de
de ser
ser filosófico,
filosófico, passando
passando aa pertencer
pertencer aa um
um domínio
domínio particular
particular dodo conhecível...
conhecível... A A
palavra
palavra grega
grega philosophos,
philosophos, filósofo,
filósofo, éé formada
formada porpor oposição
oposição aa sophos,
sophos, sábio.
sábio. Ela
Ela designa
designa aquele
aquele queque ama
ama aa
sabedoria
sabedoria ee não
não aquele
aquele que,
que, possuindo
possuindo aa sabedoria,
sabedoria, intitula-se
intitula-se sábio.
sábio. Esse
Esse sentido
sentido persiste
persiste ainda
ainda hoje:
hoje: aa
aa dimensão
dimensão política
política do
do ensino
ensino de
de filosofía
filosofía ee da
da formação
formação docente|
docente| 55
55
O
O professor
professor universitário
universitário está
está continuamente
continuamente ocupado
ocupado comcom mil mil atividades
atividades
prescritas:
prescritas: aulas
aulas aa preparar
preparar ee ministrar,
ministrar, trabalhos
trabalhos aa corrigir,
corrigir, alunos
alunos aa orientar,
orientar,
formulários
formulários aa preencher,
preencher, relatórios
relatórios aa redigir
redigir reuniões
reuniões aa assistir.
assistir. Mais
Mais ainda.
ainda. Ele
Ele
precisa
precisa fazer
fazer conferências,
conferências, participar
participar dede congressos,
congressos, publicar
publicar anualmente
anualmente pelo
pelo
menos
menos umum artigo
artigo significativo,
significativo, para
para obter
obter pontos
pontos em
em vista
vista das
das avaliações
avaliações da
da
CAPES
CAPES ee de de sua
sua própria
própria instituição.
instituição. Sem
Sem produção,
produção, não
não há
há reconhecimento,
reconhecimento, nemnem
promoção.
promoção. (Idem,
(Idem, p.13-14)
p.13-14)
Para concluir que “evidentemente, uma vida filosófica será tanto mais autêntica
quanto mais fecunda. Mas a fecundidade do pensar nada tem a ver com a produtividade
quase mecânica de textos mais ou menos repetitivos e anódinos”. (Ibid, p. 15).Tal
fecundidade, opina, “não se mede pela quantidade das páginas escritas, mas pela qualidade
do pensamento” (Idem).
Para Mac Dowell (2010, p.16) “a pergunta filosófica se situa na tensão entre a
experiência subjacente e o saber explícito; ela é provocada pela distância entre o que já sei
implicitamente e aquilo do qual ainda não tomei posse em um discurso refletido.” Assim,
“todo o processo de compreensão do mundo está fundado nesta experiência radical de seu
ser”. (MAC DOWELL, 2010, p. 16). Como diz Heidegger:
Começamos
Começamos aa filosofar
filosofar quando
quando entramos
entramos emem diálogo
diálogo com
com os
os filósofos.
filósofos. Isto
Isto
implica
implica que
que discutamos
discutamos comcom eles
eles sobre
sobre aquilo
aquilo do
do qual
qual eles
eles falam.
falam. (...)
(...) Uma
Uma coisa
coisa éé
averiguar
averiguar asas opiniões
opiniões dos
dos filósofos.
filósofos. Outra,
Outra, inteiramente
inteiramente diferente,
diferente, éé discutir
discutir com
com
eles
eles oo que
que dizem,
dizem, i.e.
i.e. aquilo
aquilo sobre
sobre que
que eles
eles dizem.
dizem. (HEIDEGGER,
(HEIDEGGER, 1956, 1956, p.31).
p.31).
essência
essência da
da filosofia
filosofia éé aa busca
busca da da verdade,
verdade, nãonão sua
sua posse,
posse, mesmo
mesmo se se ela
ela trai
trai aa si
si mesma,
mesma, como
como acontece
acontece
frequentemente,
frequentemente, atéaté degenerar-se
degenerar-se em em dogmática,
dogmática, em em um
um saber
saber colocado
colocado emem fórmulas,
fórmulas, definitivo,
definitivo, completo,
completo,
transmissível
transmissível pelo
pelo ensinamento...
ensinamento... FazerFazer filosofia
filosofia éé estar
estar aa caminho.
caminho. Em Em filosofia,
filosofia, as
as questões
questões são
são mais
mais
essenciais
essenciais do
do que
que as
as respostas,
respostas, ee cada
cada resposta
resposta torna-se
torna-se uma
uma nova
nova questão
questão (1965,p.
(1965,p. 138-147)
138-147)
55 Studium
Studium philosophiae
philosophiae nonnon estest ad
ad hoc
hoc quod
quod sciatur
sciatur quid
quid homines
homines senserint,
senserint, sedsed qualiter
qualiter se
se habeat
habeat veritas
veritas
rerum.
rerum. (In
(In De
De Caelo,
Caelo, lib.1
lib.1 l.22
l.22 n.8).
n.8).
66 NIETZSCHE,
NIETZSCHE, Friedrich.
Friedrich. EcceEcce Homo.
Homo. WieWie manman wird
wird was
was man
man ist.
ist. In:
In: Werke
Werke (ed.
(ed. Karl
Karl Schlechta),
Schlechta),
München:
München: Carl
Carl Hanser
Hanser Verlag,
Verlag, Vol.
Vol. II,
II, 1955.
1955.
56|
56| junot
junot cornélio
cornélio matos
matos
se
se transforma
transforma em em moda,
moda, éé porque
porque ouou nãonão há
há verdadeira
verdadeira filosofia
filosofia ou ou uma
uma
verdadeira
verdadeira filosofia
filosofia foi
foi desvirtuada
desvirtuada ee abusada
abusada segundo
segundo propósitos
propósitos alheios,
alheios, para
para
satisfazer
satisfazer àsàs necessidades
necessidades do do tempo.
tempo. (...)
(...) Todavia,
Todavia, oo que
que éé inútil
inútil pode,
pode, ee com
com
maior
maior razão,
razão, ser
ser uma
uma força.
força. O O que
que desconhece
desconhece todatoda ressonância
ressonância imediata
imediata na na
prática
prática dede todos
todos osos dias,
dias, pode
pode estar
estar em
em profunda
profunda consonância
consonância com com oo queque
propriamente
propriamente acontece
acontece na na história
história de
de um
um povo.
povo. Pode
Pode até
até mesmo
mesmo ser ser aa sua
sua pre-
pre-
sonância
sonância ee prenúncio.
prenúncio. O O queque se
se acha
acha fora
fora do
do tempo,
tempo, terá
terá seu
seu próprio
próprio tempo.
tempo. ÉÉ oo
que
que vale
vale da
da filosofia.
filosofia. EE éé essa
essa aa razão
razão de
de não
não se
se poder
poder estatuir
estatuir dede per
per si
si ee em
em geral
geral
aa tarefa
tarefa da
da filosofia
filosofia e,
e, por
por conseguinte,
conseguinte, também
também oo queque dela
dela se
se deve
deve esperar.
esperar. Cada
Cada
estádio
estádio ee cada
cada princípio
princípio dede seu
seu desenvolvimento
desenvolvimento traz traz consigo
consigo aa sua
sua lei.
lei. Somente
Somente
se
se pode
pode dizer
dizer oo que
que aa filosofia
filosofia não
não pode
pode ser
ser nem
nem prestar.”
prestar.” (HEIDEGGER,
(HEIDEGGER, 1953, 1953,
p.6-7;
p.6-7; 1966,
1966, p.
p. 45-46)
45-46)77
77 HEIDEGGER,
HEIDEGGER, Martin.
Martin. Einführung
Einführung in
in die
die Metaphysik.
Metaphysik. Tübingen:
Tübingen: Max
Max Niemeyer,
Niemeyer, 1953
1953 [GA
[GA v.40].
v.40]. [Introdução
[Introdução
àà Metafísica
Metafísica (trad.
(trad. Emmanuel
Emmanuel Carneiro
Carneiro de
de Leão).
Leão). Rio
Rio de
de Janeiro:
Janeiro: Tempo
Tempo Brasileiro,
Brasileiro, 1966.
1966.
aa dimensão
dimensão política
política do
do ensino
ensino de
de filosofía
filosofía ee da
da formação
formação docente|
docente| 57
57
88 A
A esse
esse respeito
respeito vale
vale aa nota
nota de
de Gallo
Gallo (2002,
(2002, p.
p. 203):
203): OO ensino
ensino dede filosofia
filosofia não
não pode
pode ser
ser abarcado
abarcado por
por uma
uma
didática
didática geral,
geral, nãonão pode
pode serser equacionado
equacionado unicamente
unicamente como
como uma uma questão
questão pedagógica
pedagógica porque
porque háhá algo
algo dede
específico
específico nana filosofia.
filosofia. Há
Há algo
algo que
que faz
faz com
com que
que aa filosofia
filosofia seja
seja filosofia
filosofia ee não
não ciência,
ciência, ee não
não religião,
religião, ee não
não
opinião,
opinião, ee éé esse
esse algo
algo que
que faz
faz com
com que
que oo ensino
ensino de
de filosofia
filosofia careça
careça também
também de de um
um tratamento
tratamento filosófico,
filosófico, de
de
uma
uma didática
didática específica,
específica, para
para além
além de
de toda
toda ee qualquer
qualquer questão
questão estritamente
estritamente pedagógica.
pedagógica.
58|
58| junot
junot cornélio
cornélio matos
matos
uma
uma outra
outra questão:
questão: se
se não
não se
se pode
pode fazer
fazer coisa
coisa alguma
alguma com
com filosofia,
filosofia, será
será que
que aa
filosofia
filosofia não
não pode
pode fazer
fazer algo
algo naqueles
naqueles que
que com
com ela
ela se
se envolvem?
envolvem?
Refletindo sobre o escrito, Marcondes e Franco (2011, p. 31) reflete sobre a filosofia
expressando que
OO objetivo
objetivo dela
dela não
não éé criar
criar visões
visões de
de mundo
mundo ou ou sistemas
sistemas coerentes
coerentes dentro
dentro dos
dos
quais
quais poderíamos
poderíamos ordenar
ordenar todas
todas as
as coisas,
coisas, mas
mas interrogar
interrogar os
os entes,
entes, deixando-o
deixando-o
falar
falar de
de si
si mesmos.
mesmos. Essa
Essa interrogação,
interrogação, que
que ao
ao invés
invés de
de formular
formular soluções
soluções se
se dispõe
dispõe
aa ouvir
ouvir oo “outro”,
“outro”, altera
altera toda
toda ee qualquer
qualquer relação
relação do
do homem
homem comcom oo mundo.
mundo. ÉÉ nesse
nesse
sentido
sentido que
que se
se pode
pode dizer
dizer que
que aa filosofia
filosofia transforma
transforma aqueles
aqueles que
que com
com elaela se
se
envolvem.
envolvem.
Parece, então, que um desafio que nos é colocado neste século de intensa produção
conhecimento e de elevado enaltecimento das tecnologias será priorizar a pessoa para que
possam viver uma experiência que ultrapasse o íntimo de si: seu intelecto, seus afetos, seus
sentidos, seu ser. Ajudá-lo a pensar com Platão e apesar de Platão. Contribuir para que
entendam que a extemporaneidade de Nietzsche não é a única palavra possível no
contexto em que ele viveu e nem se presta à transposição pura e simples para o
entendimento deste tempo que chamamos hoje. Assumir uma perspectiva de mediador que
busca aprender quando ensina e ensinar quando aprende. Socializar que a pergunta não
esgota o problema e nem o problema se encerra com uma possível resposta. Uma outra
questão pode ser nosso próprio despreparo para sermos professores, uma vez que para atuar
como docente no Ensino Superior a exigência mínima, no caso das universidades, é que
tenhamos mestrado. Entretanto, um curso de Pós-graduação, em tese, nos qualifica para a
pesquisa mas, não necessariamente, para a docência. Porém, quanto a isso recorro a
Cerletti (2003, p.23) quando afirma que
aa incerteza,
incerteza, oo incômodo,
incômodo, aa insatisfação
insatisfação ouou aa impossibilidade
impossibilidade dede dar
dar conta
conta
cabalmente
cabalmente dodo mais
mais básico
básico de
de nossa
nossa atividade,
atividade, longe
longe dede ser
ser um
um obstáculo
obstáculo –– ou,
ou,
talvez,
talvez, precisamente
precisamente por
por sê-lo
sê-lo –– constitui
constitui oo motor
motor dodo filosofar.
filosofar.
O Ensino de Filosofia em sua compulsória presença na escola não pode e não deve
passar sem que nós, educadores e educando no campo da filosofia, nos apercebamos de sua
complexidade, da armadilha que ele pode representar para nós, mas, também, das
possibilidades que ele oportuniza. Entretanto, o trabalho não é somente lá, no terreno
arenoso da escola de ensino fundamental e médio. Ele começa entre nós e nossa
responsabilidade não pode ser delegada para pessoas que contam com boa vontade,
conhecimento e experiência de docência, mas não conta com uma formação específica. Por
isso digo que o desafio é transdisciplinar, requer paciência e esforço de diálogo, requer
disposição para inventar e formatar outro modelo de formação de professores no qual
sejamos parceiros, exige de nós a convicção de que pensar em educação “significa pensar,
necessariamente, no homem e na sociedade, tanto do ponto de vista filosófico como
político” Cerisara (2001, p. 170). Bauman (1999, p. 11) escreveu que “Questionar as
premissas supostamente inquestionáveis do nosso modo de vida é provavelmente o serviço
mais urgente que devemos prestar a nossos companheiros humanos e a nós mesmos”.
referências
BAUMAN,
BAUMAN, Zygmunt.
Zygmunt. Globalização
Globalização –– As
As consequências
consequências humanas.
humanas. Rio
Rio de
de Janeiro:
Janeiro: Zahar,
Zahar, 1999
1999
CERLETTI,
CERLETTI, Alejandro
Alejandro A.,
A., Ensino
Ensino dada filosofia
filosofia ee filosofia
filosofia do
do ensino
ensino filosófico.
filosófico. In:
In: GALLO,
GALLO, Silvio
Silvio
et
et al
al (org.)
(org.) Filosofia
Filosofia do
do ensino
ensino de
de Filosofia,
Filosofia, Petrópolis,
Petrópolis, RJ:
RJ: Vozes,
Vozes, 2003.
2003.
CESIARA,
CESIARA, Ana
Ana Beatriz.
Beatriz. Rousseau:
Rousseau: aa educação
educação nana infância.
infância. São
São Paulo:
Paulo: Scipione,
Scipione, 2001.
2001.
DEMO,
DEMO, Pedro.
Pedro. Pobreza
Pobreza Política.
Política. Campinas:
Campinas: Autores
Autores Associados,
Associados, 1996.
1996.
aa dimensão
dimensão política
política do
do ensino
ensino de
de filosofía
filosofía ee da
da formação
formação docente|
docente| 59
59
FREIRE,
FREIRE, Paulo.
Paulo. Pedagogia
Pedagogia da da Autonomia:
Autonomia: saberes
saberes necessários
necessários àà prática
prática educativa.
educativa. 2929 ed.
ed. São
São Paulo:
Paulo: Paz
Paz
ee Terra.
Terra. 2004.
2004.
______.
______. Pedagogia
Pedagogia do do Oprimido.
Oprimido. 35. 35. ed.
ed. Rio
Rio dede Janeiro:
Janeiro: Paz
Paz ee Terra,
Terra, 2005.
2005.
GALLO,
GALLO, Sílvio.
Sílvio. Filosofia
Filosofia no no Ensino
Ensino Médio:
Médio: em em busca
busca de de umum mapamapa conceitual.
conceitual. In:In: FÁVERO,
FÁVERO,
Altair
Altair A.A. et
et al.
al. (org).
(org). UmUm olhar
olhar sobre
sobre oo ensino
ensino de
de filosofia.
filosofia. Ijuí:
Ijuí: Editora
Editora Unijuí,
Unijuí, 2002.
2002.
GIARETA,
GIARETA, Fioravante;
Fioravante; VIZIVALI,
VIZIVALI, Paulo; Paulo; MENEGHEL,
MENEGHEL, Stela Stela M. M. A A dimensão
dimensão política
política na
na prática
prática
pedagógica
pedagógica da da formação
formação de de professores
professores no no ensino
ensino superior.
superior. Disponível
Disponível em: em:
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/763_653.pdf
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/763_653.pdf Consultado
Consultado
em:
em: 17/04/2016.
17/04/2016.
HEIDEGGER,
HEIDEGGER, Martin. Martin. Was Was ist ist das
das –– die
die Philosophie?.
Philosophie?. Pfullingen:
Pfullingen: Neske,
Neske, 1956
1956 [GA
[GA v.11].Que
v.11].Que éé isto
isto ––
[A
[A Filosofia?
Filosofia? Identidade
Identidade ee Diferença].
Diferença]. Tradução
Tradução ee notas:
notas: Ernildo
Ernildo Stein.
Stein. Petrópolis/RJ:
Petrópolis/RJ:
Vozes,
Vozes, 2009.
2009.
______.
______. Introdução
Introdução àà Metafísica.
Metafísica. Tradução
Tradução de de Emmanuel
Emmanuel Carneiro
Carneiro de de Leão.
Leão. RioRio de
de Janeiro:
Janeiro: Tempo
Tempo
Brasileiro,
Brasileiro, 1987.
1987.
_____.
_____. Einführung
Einführung in in die
die Metaphysik.
Metaphysik. Tübingen:
Tübingen: Max Max Niemeyer,
Niemeyer, 1953 1953 [GA
[GA v.40].
v.40]. [Introdução
[Introdução àà
Metafísica
Metafísica (trad.
(trad. Emmanuel
Emmanuel Carneiro
Carneiro de de Leão)].
Leão)]. RioRio de
de Janeiro:
Janeiro: Tempo
Tempo Brasileiro,
Brasileiro, 1966.
1966.
JASPERS,
JASPERS, Karl. Karl. Introdução
Introdução ao ao Pensamento
Pensamento Filosófico.
Filosófico. Tradução
Tradução de de Leônidas
Leônidas Hegenberg
Hegenberg ee Octanny
Octanny
Silveira
Silveira dada Mota.
Mota. São
São Paulo:
Paulo: Cultrix,
Cultrix, 1965.
1965.
MAC
MAC DOWELL,
DOWELL, João João Augusto
Augusto A. A. A. A. A A Missão
Missão da da Filosofia
Filosofia hoje.hoje. Sapere
Sapere Aude.
Aude. Belo
Belo
Horizonte/MG,
Horizonte/MG, v.1, v.1, n.1,
n.1, p.10-29,
p.10-29, 1º1º sem.
sem. 2010.
2010.
MARCONDES,
MARCONDES, Danilo; Danilo; FRANCO,
FRANCO, Irley. Irley. A A Filosofia:
Filosofia: oo que
que é?é? Para
Para que
que serve?.
serve?. Rio
Rio de
de Janeiro:
Janeiro:
Zahar,
Zahar, PUC/Rio,
PUC/Rio, 2011. 2011.
MORAES,
MORAES, Maria Maria Cândida.
Cândida. O O Paradigma
Paradigma Educacional
Educacional Emergente.
Emergente. 11. 11. ed.
ed. Campinas:
Campinas: Papirus,
Papirus, 2005.
2005.
NAVIA,
NAVIA, Ricardo.
Ricardo. O O ensino
ensino médio
médio de de filosofia
filosofia nasnas presentes
presentes condições
condições culturais
culturais ee sociais
sociais de
de nossos
nossos
países.
países. In:
In: RIBAS,
RIBAS, Maria
Maria AliceAlice (org).
(org). Filosofia
Filosofia ee ensino:
ensino: aa filosofia
filosofia nana escola.
escola. Ijuí:
Ijuí: Unijuí,
Unijuí, 2005,
2005,
p.
p. 278-290.
278-290.
MAC
MAC DOWELL,
DOWELL, João João Augusto
Augusto A. A. A. A. A A Missão
Missão da da Filosofia
Filosofia hoje.hoje. Sapere
Sapere Aude.
Aude. Belo
Belo
Horizonte/MG.
Horizonte/MG. v.1 v.1 -- n.1
n.1 1º
1º sem.
sem. 2010
2010 p.10-
p.10- 29.
29.
NIETZSCHE,
NIETZSCHE, Friedrich.Friedrich. Ecce
Ecce Homo.
Homo. Wie
Wie man man wird
wird was
was man
man ist.
ist. Vol.
Vol. IIII [Ecce
[Ecce Homo.
Homo. Como
Como cheguei
cheguei
aa ser
ser oo que
que sou]
sou] Tradução
Tradução de de Lourival
Lourival de de Queiroz
Queiroz Henkel.
Henkel. Rio Rio de
de Janeiro:
Janeiro: Edições
Edições dede Ouro,
Ouro,
1955.
1955.
PELLOSO,
PELLOSO, Gelamo,Gelamo, Rodrigo.
Rodrigo. O O Ensino
Ensino de de Filosofia
Filosofia nono Brasil:
Brasil: umum breve
breve olhar
olhar sobre
sobre algumas
algumas dasdas
principais
principais tendências
tendências no no debate
debate entre
entre os os anos
anos de de 1934
1934 aa 2008.
2008. Educação
Educação ee Filosofia.
Filosofia.
Uberlândia/MG,
Uberlândia/MG, v. v. 24,
24, nº
nº 48.
48. p.
p. 331-350,
331-350, Julho/Dezembro
Julho/Dezembro 2010. 2010.
SILVA, Franklin
SILVA, Franklin L. L. Currículo
Currículo ee formação:
formação: oo ensino
ensino da da filosofia.
filosofia. Revista
Revista Síntese.
Síntese. Belo
Belo Horizonte,
Horizonte, v.v.
20, n.63,
20, n.63, p.
p. 797-806,
797-806, out/dez,
out/dez, 1993.1993.
60
60
61
61
il bambino di eraclito
giuseppe ferraro11
I bambini sono i più vicini all’inizio della vita. Vengono al mondo. Sono dove il
mondo comincia. La storia della filosofia si dice abbia inizio con la ricerca
dell’arché. Il rimando è immediato. L’arché è il principio che sostiene la vita. I
quattro elementi della natura attribuiti ai presocratici lasciano pensare a una funzione
simbolica d’iniziazione: il fuoco purifica, l’acqua lava, l’aria dà respi- ro, la terra nutre. C’è
dunque come un passaggio dalla vita al mondo o, piuttosto, dal mondo alla vita. Una
soglia. Un inizio. Un principio, dove la parola rincorre i suoni della natura per imitarli,
seguendo tracce indecifrabili che portano al mondo in cui la vita ha casa ed esistenza.
Arché è anche “ingresso”. Si dice così “architrave” quella che regge la casa e fa da porta,
con fregi che narrano il racconto del luogo in cui si sta entrando. Parmenide, il
“venerando” del dialogo di Platone, parla della Porta attraversando la quale essere e
pensare devono potersi dire insieme per- ché la Verità si congiunga alla Giustizia che di
quell’ingresso ha la chiave (DK 28 B 1). Nietzsche parlò della “porta carraia” (1976).
Platone dell’uscita dalla caverna. C’è dunque sempre una soglia, un inizio, un principio
dove si parla di filosofia. E i bambini sono all’inizio della vita.
“Là dove comincio arriverò alla fine”, si legge ugualmente in Parmenide (DK 28 B
5) e in Eraclito (DK 22 B 103). Tenere tutt’insieme. Hegel avrebbe detto lo stesso, così
Husserl nelle sue Idee (2002). L’ “eterno ritorno” ne è la cifra ricorrente, si ritrova a ogni
passo del cammino della filosofia. Sarà come non perdere l’inizio, il principio, l’origine. E
alla fine ricominciare. Non sarà semplicemente una dottrina del tempo, ma un compito,
un esercizio, su come pensare il tempo proprio e della vita intera che ritorna ogni volta. Il
ritorno è l’inizio, a ogni nuovo incontro si ritorna all’inizio della vita. Improvviso come il
volto dell’altro che non conosci e quello del bambino che viene al mondo. L’improvviso fu
l’istante del tempo di Platone, exaifnes, il bordo del tempo che appare e scompare, come il
lampo, velocità della luce che supera la barriera del tempo e lo mette in movimento
sfuggendo al suo dispiegamento (Platone, Parm. 156d). L’improvviso, exaifnes, si muove in
entrambe le direzioni della quiete e del movimento, quel che resta e quel che viene, quel
che è stato e quel che, venendo, ritorna. La filosofia insegna un tale intreccio del tempo:
due direzioni opposte che s’incontrano nell’improvviso dell’essere e non più. Anche
quando distinguiamo “passato” e “futuro”, dobbiamo intendere un tale doppio movimento
dell’ “uno”. Il futuro è questa strana espressione che indica un passato remoto (fu) in
participio d’avvenire, indicando quel che racconteremo come passato remoto (fu) del
presente che viviamo adesso. È quando il presente non è raccontabile che manca il suo
futuro. L’incontro vissuto si dà come racconto. Come il bambino che quando ritorna a casa
a chi gli chiede “Cosa hai fatto scuola?” risponde “Niente”, lasciando intendere ciò che
non si dà al racconto e che perciò non resta. Ciò che nasce e ci è caro, l’amore
all’improvviso, è quel che raccontiamo ed è vero nella voce che lo narra nel suo venire al
mondo. Non c’è futuro senza racconto del presente. Quel che ci manca è il racconto. Ci
manca l’incontro con l’altro, con quel che viene, non c’è dell’altro, quando quel che viene
non ci tiene nella cura del momento che che si
si dispiega
dispiega all’improvviso
all’improvviso come una nascita.
Com’è la vita che viene ritornando al mondo. Come il bambino di Eraclito.
11 Università
Università deglli
deglli studi
studi “Federico
“Federico II”
II” di
di Napoli.
Napoli. Email:
Email: ferraro.filosofia@gmail.com
ferraro.filosofia@gmail.com
64|
64| giuseppe
giuseppe ferraro
ferraro
L’improvviso sta tra la quiete e il cambiamento, due direzioni, le stesse che rendono
possibile il dialogo e la parola che divide la voce interiore separando lo Stesso e il Sé, quasi
a dire che lo “Stesso” è l’ “Altro” dal quale si ritorna in Sé per essere se stesso. Il
cambiamento è tra il movimento e la quiete, tra la vita e la morte, improvviso è il
cambiamento e la nascita che dice dell’altro che vie- ne e inizia un tempo, una vita che
incontra altre vite, che s’intrecciano in quel legame che è la filia esprime come sapere
(sofia) dell’aver caro, ed è questa la filosofia. Le cose avvengono, nascono, ritornano,
restano, vanno via, si perdono, si raccolgono, ci sono care come un figlio e amore, così
viviamo l’eternità che è come il tempo tutt’insieme, Aion. Eterno è il sentimento del tempo
che sappiamo aver caro. Sub specie aeternitatis, avrebbe detto Spinoza intendendo
l’esistenza stessa, ipsam exisistentia, nel suo valore di verità (Explicatio Definitiones, Pars
Prima), senza “quando, ante et post” (SPINOZA, 2007, Pr. XXXIII, sc. 2, Pars I). Vedere
le cose sub specie aeternitatis. Con i bambini tutto ciò che è saputo è di nuovo conosciuto
come prima non si sapeva di sapere. La verità è così, si viene sempre a sapere e quando è
saputa sfugge al sapere che cerca di trattenerla, viene di nuovo, invocando altro sapere,
non più postumo, e inquisitorio di cause e di tracce, di colpe e accusativo, ma un sapere che
viene, generativo, genitivo di chi viene di nuovo a sapere venendo di nuovo al mondo.
Vedere il mondo con gli occhi di un bambino è vederlo sub specie aeternitatis. Del
mondo possiamo riferire come lo trovammo, bisogna mettersi all’opera per lasciarlo e dire
di come ci cambiò e lo cambiammo. “L’opera d’arte è l’oggetto visto sub specie aeternitatis; e
la vita buona è il mondo visto sub specie aeternitatis. Questa è la connessione tra arte ed
etica”, si legge nei Quaderni di Wittgenstein (1968, dal 7.10.16). Il mondo si cambia
cambiando la propria vita, e quel mondo che non permette di fare della vita propria
un’opera di cambiamento è un mondo ottuso, va cambiato.
La filosofia può spiegare, definendosi come Logica, può interpretare il mondo,
facendosi Ontologia, può cambiarlo e farsi Arte. “I filosofi hanno fin qui solo
diversamente interpretato il mondo”, ora però bisogna cambiare la filosofia perché il
mondo si possa cambiare sotto la specie dell’eternità, sotto la specie della vita che viene al
mondo dandole uno stile d’esistenza proprio di ognuno perché il comune è insieme il
proprio e l’improprio, ciò che è proprio di sé e propriamente d’altri, di ogni altro sé, di chi
venendo al mondo trova un proprio mondo in cui ritornare e farsi opera, come ritorna il
bambino che viene al mondo e ne è l’opera. Come opera è il bambino. Improvvisa. Com’è
l’opera d’arte che viene improvvisa al suo autore che, se vero artista, non potrà mai
riprodurla, copiandola, ma solo generarne un’altra diversa, non uguale, ma nel suo stile.
L’eternità è un bambino che muove il tempo tutt’insieme. Come il bambino di Eraclito.
Vedere le cose sotto la specie dell’eternità è come mirarle nell’ingenuità
dell’infanzia e degli amanti. Bisogna apprenderla l’infanzia o, che è lo stesso, bisogna
imparare ad amare perché il sapere non “avvizzisca nell’aria chiusa della scuola”, perché il
sapere non sia più solo inquisitorio del già saputo, giustificatorio, perdendo così la verità
che cerca invano di mostrare. La filosofia è l’unica espressione di sapere che porta un
sentimento nella sua denominazione, si dice filia, che è insieme amicizia e amore, quel che
si ha caro, filos, il legame più importante, quello che rende tale ogni altro come significante
del legame di vita e mondo. L’opera della filosofia è l’arte di questo legame, il suo stile è
nel taglio della sua tessitura.
La soglia è come un taglio, separa per accostare. La cultura di un paese si può
leggere nel taglio della pietra da costruzione. Si taglia per separare e per ammassare, per
unire in ordine d’architettura. Si taglia per legare. Ogni legame viene da una separazione,
la marca, la mantiene. La filosofia è fatta di passaggi che si rincorrono, uguali, di voce in
voce. Somiglianti, corpo in corpo, perché la somiglianza è questa, l’intrecciarsi della vita
nei corpi che si assomigliano. Sema e soma: il segno e il corpo, si può dire. La parola e la
ilil bambino
bambino di
di eraclito
eraclito || 65
65
voce. Sapere a questo modo è incorporare, dire e dare voce. Così come nella voce si dà la
somiglianza familiare del padre e del figlio, della madre e della figlia. Sentire nella voce
dell’altro la propria ci accomuna. La vocazione di una terra è nelle voci di quelli che la
abitano e la vivono.
La voce fu per Aristotele il principio dell’interpretazione, peri ermeneias, di ciò che si
sostiene, perché la voce è espressione dei sentimenti, che tutti e ovunque possono
intendere, esprimendo nella coralità delle diverse note di parole delle lingue la vocazione
della terra intera, di ciò che si sente da dentro la vita e che ognuno può intendere, perché è
il suono il senso di là del segno che nella parola è significato. Quasi che significare, ficcare
dentro il segno scritto che diventa segno, scrigno delle voci che sono passate arando il
linguaggio delle parole che ci avvicinano gli uni agli altri in una sola comunità di vita. Il
senso è il suono della voce che risuona nelle parole che lo significano.
Il sapere della filosofia non è perciò accusativo, è genitivo. Non è il sapere che cosa,
ma il sapere di cosa. Non sapere la cosa che si dice, ma è sapere della cosa che si sente dire.
Il filosofo è come l’artigiano del pensare. C’è come una tradizione orale sotto la sto- ria
scritta della filosofia. Bisogna intendere ancora la portata di quella “filologia della voce”
che Platone chiarisce nel suo Protagora. Quando si dice non di una filologia del testo, che
attribuisce a chi è assente l’autorità dello scritto, la sua attribuzione. Bisogna piuttosto
attribuire a chi legge quel che ritrova nel testo. Bisogna intendersi su questa riflessività:
chi non si legge nel testo che legge, non sta leggendo. Chi non si iscrive in quel che scrive,
non sta scrivendo, non inscrive nella legge del testo. Non testimonia. Chi non si studia in
quel che studia, non sta studiando. Scrivere non “fare”, perché è “stare”. Sulla pagina
bianca lo scritto è come il velo disteso della voce interiore, lasciata, offerta, dimenticata.
Questo “stare” di chi scrive è un legame tra il mondo e la vita.
Ogni filosofia è un racconto. Husserl diceva in Erste Philosphie (2007), che ogni
filosofia è un poema, una Dichtung, lasciando pensare anche a una legatura, una cornice, un
raccordo, un tenere insieme. Ogni filosofia è racconto. Le cose vere si possono solo
raccontare. Non hanno definizione. Anche l’amore vero si può solo raccontare, si può dare
una definizione solo quando non si ha o si è perduto e mai avuto. Vale per ogni cosa vera,
anche per la libertà, si sa darne una definizione quando non si ha o si è perduta, quando si
è liberi, si può solo raccontarla. Anche un’esperienza didattica si può dire riuscita solo
quando si può raccontare, diversamente non resta, non ritorna. Il bambino che rientra a
casa da scuola e gli si chiede cosa ha fatto in classe, risponde “niente”, se quello che ha
“imparato” non è raccontabile.
Ai bambini poi si fanno i racconti. I bambini fanno inventare i racconti. I bambini
sono un racconto. È come per il dono. I bambini non hanno nulla da donare. I bambini
sono un dono. Sono loro stessi la condizione del racconto. Si può essere certi che quando
perdiamo l’infanzia, non sappiamo più raccontare. Non sappiamo che cos’è amare.
Ogni volta mi piace usare il filo del racconto. Lo faccio con i più piccoli, perché a
quell’età ognuno ripete quello che ha sentito dire dall’altro con le stesse parole. Allora ecco
il filo. Un gomitolo di spago. Si passa il capo di mano in mano e ogni volta uno continua il
racconto che inizia da un’idea. I bambini riescono a raccontare liberando immagini e trame
sorprendenti, quando il filo passa nella mano di un adulto, il racconto si perde nella
definizione di un inciampo, resta incastrato nelle maglie del quotidiano, precipita.
ilil bambino
bambino di
di eraclito
eraclito || 67
67
I bambini sono i più vicini all’inizio della vita, i filosofi si chiedono del principio
del mondo. La domanda è sul venire-al-mondo e sull’essere-nel-mondo. Il cruccio della
filosofia è coniugare insieme l’essere e il divenire.
venire-al-mondo, essere-nel-mondo
L’essere-nel-mondo, in der-Welt-sein, è l’immagine di pensiero che ha dominato
lungo il secolo scorso come espressione dell’ontologia fondamentale di Heidegger. Se solo
si ripensa alla condizione dell’infanzia, posta prima del linguaggio, l’esserci, il Dasein, vale a
dire l’esistenza, cambia prospettiva. Essere qui di un bambino non è l’essere “gettato” nel
mondo, che Heidegger (1991) indica come condizione d’esistenza quotidiana. Un bambino
non è “gettato”, “viene” al mondo, è come “donato”. Viene. Un bambino è nel mondo
come venuto. È perciò ancora più sconcertante pensa- re all’infanzia negata, quando un
bambino è abbandonato, usato, scambiato, denutrito, rinchiuso in un campo di profughi o
d’immigranti. È la vita che è negata, cacciata via dal mondo. Il pensiero del rapporto tra
mondo e infanzia impone la domanda sul mondo e sulla vita, di come si legano, di come si
mantiene la vita nel mondo.
Se ogni legame dice di una separazione, bisogna intendere come si tiene. Se ogni
legame mantiene una separazione, bisogna intendere come “manutere” la relazione, come
tenere per mano un bambino, come tenersi nella sua mano. Un bambino non un “ente”,
sfugge alla terminologia filosofica della scolastica moderna. Un bambino è “prima
dell’essere”. Ai margini del mondo, pone la domanda sul governo del mondo, su come si
costruisce e come va l’essere nel mondo. Sarà forse da ripensare quell’immagine di
pensiero di Eraclito che riflette il bambino che governa giocando il tempo che ritorna?
Heidegger (1997) ci ha lasciato un’altra immagine di pensiero, l’Ereignis, l’evento.
Fu una “svolta”, Kehre, dall’ontologia fondamentale all’essere in cammino nel linguaggio,
in ascolto. L’Ereignis è come opposto alla condizione del Da-sein. Non è l’essere qui,
nemmeno è però “l’andare via di qui” richiamato nel Teeteto di Platone. Piuttosto è il
“viandare” come nell’immagine poetica di Hölderlin o di Nietzsche. Un cammino d’attesa.
Essere in ascolto è porsi nella dimensione di ciò che viene. L’essere nel mondo si scambia
con l’essere nel linguaggio. Una rete entro la quale si va e si viene, in un rimando di
enunciazioni, d’immagini di pensiero.
Ereignis è una parola che sorprende. Indica una singolarità che ritorna. Viene
immediata la suggestione del rimando al “rinvenire”. È come ritrovare propriamente quel
che si pensava perduto e che non c’è mai stato prima. Un desiderio. Si desidera un
bambino. Si dice così. E forse il bambino è il desiderio che il mondo ha della vita. Il
bambino è desiderato e desidera. È esigente. Pone l’esigenza di aver cura della vita nella
sua fragilità, nella sua innocenza. Nel bene. È l’esigenza della vita.
concatenazioni
È stato Deleuze a parlare del piccolo Hans liberandolo dal teatro dell’inconscio
familiare. Nelle registrazioni dell’Abecedario, Deleuze riprendeva cosi le pagine
dell’Antiedipo:
Finora
Finora si
si èè parlato
parlato di
di desiderio
desiderio in
in modo
modo astratto
astratto perché
perché èè stato
stato isolato
isolato un
un oggetto
oggetto
che
che si
si suppone
suppone essere
essere l’oggetto
l’oggetto del
del desiderio,
desiderio, ee allora
allora si
si può
può dire
dire “desidero
“desidero una
una
donna,
donna, desidero
desidero partire
partire in
in viaggio,
viaggio, desidero
desidero questo
questo oo quello...”.
quello...”. EE noi
noi dicevamo
dicevamo
una
una cosa
cosa davvero
davvero semplice:
semplice: voi
voi non
non desiderate
desiderate mai
mai davvero
davvero qualcuno
qualcuno oo qualcosa.
qualcosa.
Voi
Voi desiderate
desiderate sempre
sempre unun insieme.
insieme. Non
Non èè complicato.
complicato. Desiderare
Desiderare èè costruire
costruire un
un
concatenamento,
concatenamento, costruire
costruire un
un insieme
insieme (DELEUZE,
(DELEUZE, 1997, 1997, “D
“D comme
comme désir”).
désir”).
richiesta di un oggetto separato, astratto. Deleuze parla del desiderio e del delirio cercando
un rimando che si congiunge nella richiesta di un mondo, della costruzione di un mondo
come il mondo non è. L’esigenza del bambino è l’espressione del desiderio quanto del
“segreto del delirio, che concerne il mondo intero” (DELEUZE, ibid.)
Qualcosa allora “sovviene”, riviene da dentro noi stessi, com’è il ritorno del
desiderio. Non si può separare il desiderio dall’anamnesi, l’epithumia che indica il
“desiderio” letteralmente ciò che viene dall’animo. Platone quando nel suo Filebo parla del
desiderio, lascia pensare al corpo nell’insieme della vita della natura. L’anamnesi diventa
l’espressione di sapere di ciò che non si sapeva di sapere, e che quando si desidera viene
come al ricordo di quel che non si è vissuto, ma che è propriamente ciò che la vita sa di
noi, ciò che la vita saggia di noi stessi, ciò che ci rende, come diceva Nietzsche (1979), un
exsperimentum vitae. Ed è la vita che nel mondo si smarrisce e ogni volta, quasi, sovviene,
rinviene, viene di nuovo al mondo. Il desiderio è come l’altra faccia del ricordo. Il
desiderio è come il ricordo di quel che non è avvenuto in quel che è accaduto. È come
l’evento che non c’è stato. Ed è come l’amore che quando ritorna in un nuovo amore è
come non è stato mai prima ed era già quel che amiamo. Il tempo è proprio, quando passa e
rimane, giace al fondo, non va via, rimane nel ricordo mescolato al desiderio che lo inventa
e rivolta il mondo. Non sarà il tempo dei giorni al calendario, ma quello interiore, dove
avviene quel che non accade. Bisogna pensare al bambino che ciascuno di noi ha dentro
l’animo e rimescola il tempo giocando col mestolo del desiderio per far emergere di nuovo
la vita nel mondo.
L’infante, si dice, è il “non parlante”, chi non ha la parola, così come l’innocente è
chi non ha colpa, chi non fa male, anche se batte i piedi e strilla e stringe i pugni. Non fa
male. Non gli si può fare male. Eppure non è così semplice educare un bambino. Sono
tante le strisce di dolore, lo stridore che si avverte dentro. Un bambino alla sua nascita
porta un sentimento del tutto nuovo, ed è il languore. Qualcosa che non si può definire un
sentimento perché quasi è la sostanza di cui sono fatti i sentimenti. È il tempo, ma co-me
si può dire “tutt’insieme”. Si dice che sia il tempo di un’età, ma è interiore. L’infanzia è
un’età che rimane, com’è una dimensione del tempo, inteso, intenso, confuso, perduto,
perché non si riesce a trattenere se non nel suo racconto, che ogni volta è diverso. Gli
amanti sanno dell’infanzia. Sono infantili. L’infanzia è il desiderio come legame che tiene
insieme i separati. Sarà come diceva Deleuze, che il desiderio è una costruzione di
concatenazioni. Bisogna capire come si costruisce e come si tiene tutto insieme. En panta
dice la più antica espressione della filosofia, tutt’insieme. Può dispiegarsi tutto questo in
relazione? Può l’en panta essere una pratica del desiderio? L’infanzia e la filosofia
s’incontrano su questo tutt’insieme del desiderio della vita nel mondo. Sarà una
disposizione, non un insegnamento, qualcosa che si apprende ma che non si può insegnare
come una materia. È una disposizione. Allora, ecco, il nostro disporci in cerchio nelle ore
di filosofia, in aula. In tanti, senza selezione di gruppo, l’intera classe. Eccoci tutt’insieme,
in cerchio. La filosofia non è una materia, non è un insegnamento che comporti un
curriculum. È una disposizione. Un disporsi insieme. Un’educazione della voce che
risuona nell’imparare a parlare ascoltando. Mi sono chiesto tante volte quale fosse
l’obbligo della filosofia nella scuola dell’obbligo, dagli anni della primaria a seguire lungo
tutto il cammino della vita. L’obbligo è la disposizione, sono i legami, l’educazione ai
sentimenti. Imparare a parlare educando la voce all’ascolto. Non un curriculum, ma una
concatenazione di voci che si rincorrono, un partage de voix, diceva Nancy, una comunità
inconfessabile, che si racconta (2002).
Passarsi la parola allora, passare le voci, sentirle, e dare a ognuna la rilevanza della
concatenazione. Non sarà una più importante dell’altra, ma tutte insieme si rincorrono a
fare racconto del discorso che si sviluppa correndo di qua e di là, come Roland Barthes
ilil bambino
bambino di
di eraclito
eraclito || 69
69
diceva del “dis-correre” (BARTHES, 1979). Non solo una suggestione della parola, ma un
passare dalle parti di ognuno, un passarsi le parti, dando ascolto, e non semplicemente
ascoltare, ma dando ascolto, donarlo, perché ognuno possa ascoltare se stesso nell’ascolto
dell’altro. Scopriamo così ogni volta che l’altro è la propria risonanza, che si risuona
dell’ascolto dell’altro. Si deve apprendere, non si può insegnare. Si ritorna sempre
dall’altro quando si dice del ritorno in se stesso. L’altro è lo stesso che si è in sé. L’altro è
anche il nostro inconscio, quel che non sappiamo di sapere e che ci viene incontro quando
ci scopriamo nell’altro. Insieme. Non si può insegnare, si deve però imparare.
Quel giorno, in quella stanza, i bambini erano tanti, più di sessanta, con i loro
grembiuli delle elementari. Cercavamo una parola che dicesse “la verità”. Una parola,
un’immagine, qualcosa. Le voci cominciarono a rincorrersi, alternandosi al silenzio che
frenava le ripetizioni. Là in fondo, come se fosse detto che doveva essere là in fondo,
arrivò quella voce “acqua”. Ne risero tutti. Girammo lo sguardo nella sua direzione e
venne al suo sguardo, i suoi occhi, il suo colore di bambino della Somalia. Disse “acqua”
per dire la verità. Ed è la verità, quella di Talete, quel tutto in uno, en panta, che sta a
principio della vita e del bisogno che la vita ha del desiderio di restare. Con i bambini
arriva sempre lo stupore di sentire nelle loro voci il sapere che ci attraversa la storia della
memoria, quasi che ci sia una tradizione orale della vita che viene al mondo in ogni vita
che prende la parola e fa mondo. Lo perdiamo quel sapere nella sua infanzia, poi capiamo
che tutto quello che apprendiamo lo sapevamo già, ma non sapevamo di saperlo. Mi dicono
così i detenuti nelle carceri quando riscopriamo insieme nell’infanzia l’innocenza della
verità.
Quello stesso giorno, in quell’aula dove c’erano più di sessanta bambini, scopriamo
un sentimento che prima non avevamo. Cercavo il sentire dell’universo intero, in un solo
respiro, ci fu il bambino che disse in un solo respiro “spandimento”. Una parola che non
esisteva per un sentimento che era là che aspettava di essere raccolto in una voce e che non
ho più smesso di sentire.
Non sono i discorsi che devono imparare i bambini, siamo noi che dobbiamo
apprendere dalle loro voci a scomporci per una disciplina dei legami di libertà, dando
ascolto a ciò che sapevamo e che non sapevamo di sapere. Forse è questo l’esercizio del
sapere di non sapere. Forse è questo l’esercizio del “fare sapere”. Non informare, ma fare
sapere insieme, ritrovando quello che non si sa nel sapere che viene dall’altro. Far Far sapere
sapere
insieme, per un sapere saggiante, i legami più importanti.
Il mondo è come io lo trovai. Chi è però quell’io? Non uno o un altro, ma chiunque,
uno e un altro, che dice “io” ed è perciò nel trovarsi. L’io si trova al mondo diviso, l’io
divide il mondo e la vita. Divide il mondo dal mondo. L’io è un divisore. Si trova al
mondo. L’io è nella condizione del trovarsi nel mondo. È qui. “I am here”, “io sono qui”.
“Voi siete qui”, “You are here”, ripetono le mappe stradali, giusto a ricordare che il tu è il
suggerimento dell’io dall’altra parte, da un io che indica come da uno specchio riflesso
dell’io. Tu è quasi l’indice puntato sull’io.
Il bambino passa un tempo abbastanza lungo per arrivare a dir- si io. La mia
nipotina, a furia di sentirselo ripetere, diceva “tu” per indicare se stessa. Diceva “Tu vuole
bere”, e ripeteva “È tuo” per dire di ciò che era suo, in uno scambio di sé, che faceva
confondere chi si vedeva assegnato una proprietà che lei non era disposta a cedere ad
alcuno.
C’è un’intimità della vita che l’Io non conosce. L’intimità è insieme. Non è nella
solitudine. Il “solo” dell’intimità è come lo scrigno del segreto della vita. L’intimità è
comune, tocca il corpo proprio. L’intimità della vita è aperta, è all’aperto, natura. Nel
mondo diventa clandestina, nascosta. La natura non ama nascondersi, siamo noi che la
cancelliamo. Fa scandalo. È ingenua, anche violenta, cambia, ritorna. L’intimità di un
bambino che parla con le cose, con gli animali, stabilisce un passaggio tra intimità e
infanzia. L’invenzione congiunge l’una e l’altra. L’infanzia è l’intimità della vita che non
dice cose che si possono udire senza suscitare il sorriso. Nell’infanzia è forse l’intima
utopia di un mondo così come non è.
“Il mio mondo è il primo e unico”, si legge a principio della pagina riportata dai
Quaderni di Wittgenstein (1968 dal 2.9.1916). Il proprio mondo è quello ingenuo
dell’intimità come dell’utopia. Un mondo senza la storia. Un mondo fuori del mondo.
Ogni volta l’utopia racconta della fine della storia e del mondo così come non è. Bisogna
imparare stando ai confini per capire come venire al mondo e ritrovare la vita.
Bisogna imparare dai confini della città per capire l’intimità. La filosofia è da quelle
parti che prende la parola e ritorna. Sui luoghi d’eccezione, sui confini della città, dove la
voce non ha parola e resta attonita o si spegne in un grido. Là ci sono le scuole d’eccezione,
dove non è possibile svolgere la regolare attività scolastica né si può tenere il locomotore
della didattica sul binario del curriculum. C’è più filosofia nella scuola di Don Milani
(1967; 2014) che in tutte le aule dove “si fa filosofia”. Nei luoghi d’eccezione non si può
tenere il corso normale, non si danno scuole d’eccellenza, si possono però fare scuole
eccezionali, si può fare l’impossibile e scoprire nell’eccezione ciò che permette alla regola
di ritrovare la relazione che la rende virtuosa di cambiamenti, per una formazione
generativa di mondo.
Nelle scuole d’eccezione l’affettività reclama, esige. L’evasione scolastica si misura
dalla censura del desiderio e dell’affettività che la relazione insegnante reclama. La prima
“causa” dell’abbandono scolastico è la valutazione. Arriva come un giudizio. Segue
l’interrogatorio dell’esame o l’andamento del “poteva fare di più”. Arriva all’ultimo banco,
si stabilisce tra le file dei banchi. La filosofia reclama altre condizioni, scompone stanze e
ambienti, rompe le righe dei banchi, reclama legami, voci che s’inseguono e preservano.
Reclama disposizioni. Non un setting formalizzato. Stare in filosofia è esercitarsi al
dialogo, e non come chi parla all’altro che aspetta il proprio turno per prendere la parola,
ma per seguire insieme, cercare scoprendo di sapere già quel che non si sapeva di sapere,
scoprendo che quel sapere era già prima stato come saputo.
ritornare, incontrare
La domanda s’impone da sola: cosa insegniamo ai bambini? che cosa apprendono i
bambini? Cosa e come è scuola? Quale rapporto dobbiamo intendere tra passato presente e
ilil bambino
bambino di
di eraclito
eraclito || 71
71
viene dal- l’imperativo che la vita stessa reclama al mondo di essere un mondo pieno di
vita, così come non è.
Quel Wiederkunft des Gleiches di Nietzsche è più vicino di quanto possiamo
immaginare a quel che Eraclito dice del bambino che governa l’aion (DK 22 B 52), il tempo
che, compiuto, ritorna tutt’insieme. Ed è un comando interiore, che viene dalla vita al
mondo, che viene dal bambino all’uomo.
Sovrano, basileus, è il bambino di Eraclito, che nel gesto gioca intimando. Non un
gesto d’intimidazione, ma d’intimazione, proprio dell’intimità della vita che rivolta
sempre di nuovo il mondo.
La filosofia non è una materia che si può insegnare a scuola come le altre. È una
disposizione che rende possibile l’apprendere proprio di ogni altra materia. Saper per tale
amore di sapere, bisognerà però intendere l’amore come il sapere saggiante il legame più
importante. Bisogna saggiare la vita perché sia saputa al mondo e capire quanto il mondo
ne sia sapio. La filosofia non si fa, si sta in filosofia. La domanda riguardare lo stare al
mondo verte sul come, sul sapere come si sta al mondo. Ed è una domanda che riguarda
perciò la stessa filosofia che reclama una tale forma di sapere come modo e stile dello stare
insieme al mondo. La domanda allora è sulla finalità della stessa filosofia, sulla sua
condizione. Bisogna quindi rispondere su che ne è della filosofia quando la si parla ai
bambini, su come cambia e resta, su come ritorna uguale e cambiando nel tempo del
mondo che viviamo. Bisogna rispondere sul tempo della vita. Ogni volta la filosofia
attende di ritornare in figure di relazioni, in gesti di dialogo corale, in partecipazioni di
voci, in concatenazioni di desideri, in costruzione di mondo, in innovazione di vita.
“Ingegnarsi” si dice del trovare ingegno, dell’esprimere una soluzione nuova. Il significato
della parola rimanda anche al vestito nuovo, ingegnarsi è vestirsi di nuovo. La filosofia è
questo vestirsi di nuovo di legami che accolgono la vita al mondo. Questo lasciano
apprendere i bambini dal corso alla scuola primaria “Esperimento 20” a Napoli nel 2013:
Quel
Quel giorno
giorno chiesi
chiesi che
che cosa
cosa ii bambini
bambini devono
devono imparare
imparare dai
dai grandi.
grandi. In
In coro
coro mi
mi
risposero:
risposero: leggere
leggere ee scrivere,
scrivere, attraversare
attraversare la
la strada
strada ee andare
andare in
in biciletta.
biciletta. EE chiesi,
chiesi,
ancora,
ancora, che
che cosa
cosa ii grandi
grandi devono
devono imparare
imparare daidai bambini.
bambini. EE ancora,
ancora, in in quel
quel
rincorrersi
rincorrersi di
di voci,
voci, dissero,
dissero, che
che ii grandi
grandi dai
dai bambini
bambini devono
devono imparare
imparare aa correre
correre ee
giocare.
giocare.
la voce e la parola
Essere nel mondo, In der Welt sein, è essere gettato, diceva Heidegger (1997),
geworfen. Essere nel mondo è uscire dall’infanzia. Conviene capire allora l’essere dell’ “in
fanzia”, quel fan, quel pan, for- se. La derivazione latina porta a for da cui fatus. Indica la
parola senza il dire. Infanzia si dice dell’età in cui non si parla, l’infante è il non parlante,
dando a quell’in il valore avversativo dell’andare incontro ovvero negativo, nel senso di
restare ai margini, al limine del fan. Forfari indica in latino il manifestare senza parola, il
profferire. Il fato è il proferito. La voce del bambino è fuori del fari. Una voce che non
stabilita. Fuori dell’ordine del detto già. La parola profetica fa essere il detto. La voce del
bambino è prima di un tale rapporto tra essere e dire. Il bambino grida e sorride, batte i
piedi, si fa sentire, deve essere capito. Il bambino è fuori del fari, è senza il “fato”.
L’infanzia è senza destino o è al limite del destino, fuori e contro il destino.
Il fan dell'infanzia lascia intendere anche l’ “aperto”, diverso dal “fuori”. “Noli
foras ire”, si legge in Agostino (2010), “in interiore homine habitat veritas”, stabilendo un
diretto rapporto tra la verità e l’abitare. La verità abita dentro l’uomo, nella sua interiorità.
Un bambino non ha la verità del Sé, non si abita. È fuori, non però di quel foras del foro,
della piazza, del si dice. Il bambino è fuori del “si dice”. È questo che sorprende ad ascoltare
la sua voce all’arrivo sulle parole consuete, perché le cambia, le rinnova, stabilisce
concatenazioni di desideri non registrati nel “si dice”. Il bambino è fuori del mondo. Sulla
ilil bambino
bambino di
di eraclito
eraclito || 73
73
soglia del mondo. Viene al linguaggio, viene al dire, viene a dirci del linguaggio che
usiamo, dell’essere dell’abitare. Il bambino è senza Sé. È in quell’aperto del “fan”, del
tutto, dell'insieme. Il bambino è “attaccato” al tutto. Non è certo “fanatico”, ma il suo
essere nel “fan” dell'infanzia lo mantiene nell’adesione all'aperto, che solo il sacro può
accogliere e preservare. Sarà come un luogo senza luogo, un abitare senza abitazione,
essere fuori dell'ordinario. Come un corpo nell’anima. Non viceversa. L’interiorità
agostiniana è nel bambino l’intimità della vita. Abitare la vita, sostenere questa verità
dell’abitare, sarà ancora lo stesso di quel Sé di Agostino, quasi. Un Sé senza sé, più vicino
all’insieme.
“In adorabile azzurro” recita il verso di Hölderlin (1986), lasciando intendere un
aperto mondo dove ogni cosa, porta, finestra, campanile, casa si rapporta al tutto della vita.
“Così voglio essere anch’io?”, si legge in quei versi di Hölderlin. È una domanda. La
risposta è immediata: “Sì”. Ed è un abitare diverso, poeticamente abita l’uomo. Misura
senza misura, non c’è misura sulla terra che non sia incommensurabile. Tra il “fan” e lo
“ius” del diritto indicano forse questo rapporto di misura e dismisura, per stare ad una
soglia, non esitante, ma esigente della vita al mondo.
“A pieno merito, quanto poeticamente, abita l'uomo su questa terra”, si legge nei
versi di Hölderlin. Bisogna intenderlo un tale rapporto tra merito e poesia come tra mondo
e vita, sulla soglia dell’ordine e del disordine meritevole, com’è la poesia, com’è il bambino
di Eraclito.
Chi coglie il nesso tra infanzia e filosofia assume anche un tale impegno, quello di
sottrarsi al destino dell’opinione e del fato. Così voglio essere anch’io, dirà quel Sé che non
vuole essere Io. Il bambino non ha un Sé dentro l’Io, ci mette tempo ad arrivare a dirsi
“io”, e quando ci arriva, è nel mondo. Prima il bambino non ha un Sé che sia dentro l’io.
Bisogna allora capire questo Sé. Fin qui si parlato dell’infanzia come età che precede
l’adolescenza e ogni altra fase della crescita definita, destinata all’essere uomo così come è
l’adulto. Tutte le analisi sul bambino sono state condotte come su un oggetto, come un
fenomeno che aveva la sua destinazione. Si tratta ogni volta di capire come si viene al
mondo così com’è e come possa essere diverso e divenire perché non sia non così.
È un’altra la prospettiva d’infanzia e filosofia. Se vogliamo, con la filosofia,
insegnare ai bambini come si diventa adulti, se vogliamo che “imparino a pensare” così
come pensiamo che si debba pensare, al meglio delle potenzialità come sono virtualmente
programmate e fissate, non sapremo mai che cosa può un bambino, che cosa possiamo
apprendere dai bambini, dall’infanzia, dall’averne cura. Fin qui non sappiamo che cosa può
l’infanzia, a questo non sapere è rivolta la filosofia come un rivolgersi su se stessa. La
domanda è che ne è della filosofia quando i bambini sono in filosofia. Com’è allora il
mondo che non c’è. È questo che si perde quando si dice che l’infanzia si perde. Questa
innocenza è un mondo diverso da qui. Si dice che si perde l’infanzia, si ripete che
l’innocenza si perde e colpevoli si diventa. Si può pensare all’inverso, che la colpa si può
perdere e innocenti si può diventare, anzi si deve, ritrovando.
l’infanzia. Bisogna essere tanto più adulti per osare di ritornarci. La maturità si
raggiunge ritrovando l’infanzia. Quello che non si è appreso dall’infanzia non si può
sperare di apprenderlo fino alla fine della vita. Allora ecco, filosofia e infanzia, significa
non spiegare la filosofia ai bambini, ma dispiegare la filosofia nell’infanzia. Pensare alla
filosofia come all’infanzia del sapere.
il tempo e la vita
Arrivo al punto dove comincia la filosofia. Eraclito. Leggo quel frammento: “Aion
pais esti paizon, pisseuon: paidos e basileie” (DK 22B 52) Olof Gigon (1935), nelle sue celebri
Interpretazioni di Eraclito, scrisse che è un frammento “di fronte al quale dobbiamo
74|
74| giuseppe
giuseppe ferraro
ferraro
scacchiera celeste. Il ciclo di vita si regge nel movimento degli astri che passano e
ritornano, seguendo regole che diventano casuali a ogni nuova nascita, quasi che ogni vita
sia goccia della vita, che cade sulla terra che l’accoglie e se ne confonde.
Deve ancora sorprenderci che i Greci abbiano inteso la paideia in rapporto al pais, al
gioco. Ed è certo ancora sorprendente che il gioco degli scacchi sia attribuito alla cultura
mesopotamica come a quella degli Egizi così come a quella dei Maya e degli Aztechi. Da
un capo all’altro del mondo. Il gioco è insondabile, per quante siano le regole che ne
definiscono il campo, il risultato è sempre alterno, si vince, si perde, si partecipa, si resta
escluso e ci s’inserisce, si resta inclusi, ci si qualifica e squalifica, si ritorna a giocare.
Come può intendere allora l’aion un bambino che gioca? Come può dirsi che il
governo regio è del bambino. Ho chiesto a dei bambini per capire.
Lorenza
Lorenza (12
(12 anni):
anni): “Tutto
“Tutto èè creato
creato nella
nella casualità
casualità com’è
com’è casuale
casuale ilil risultato
risultato di
di un
un
dado
dado gettato,
gettato, ma
ma determiniamo
determiniamo la la nostra
nostra realtà
realtà attraverso
attraverso le le nostre
nostre scelte”.
scelte”.
Annagiulia
Annagiulia (8 (8 anni):
anni): “Il
“Il tempo
tempo del
del bambino
bambino èè ilil tempo
tempo di di tutti,
tutti, perché
perché ognuno
ognuno èè
stato
stato bambino”.
bambino”.
Lucianina
Lucianina (7(7 anni):
anni): “Il
“Il bambino
bambino ha ha tutta
tutta la
la fantasia
fantasia ee la
la creatività,
creatività, possiede”.
possiede”.
Antonio
Antonio (6(6 anni):
anni): “Non
“Non lo lo so”.
so”.
correre e giocare
Platone porta ancora più avanti il richiamo tale da farci intravvedere una
prospettiva importante della paideia, ben lontana dall’idea moderna di “educazione” e di
“pedagogia”.
“Svolgiamo in proposito qualche riflessione. Proviamo a raffigurarci ciascuno di
noi quanti siamo esseri viventi come una marionetta (paignion) costruita dagli déi o per
gioco o per cose serie: questo non lo sappiamo...” (PLATONE, Leggi, I, 644d8-9).
Siamo come tenuti da fili, marionette. Si può essere portati dalla parte della virtù
come dalla parte dei vizi. Appena prima, Platone lascia intendere che l’oscillazione è tra il
bene e il piacere. Di seguito chiede che cosa ne sarebbe se a quelle marionette si desse del
vino fino a farle ubriacare. Sarebbero barcollanti, più inclini all’intensificarsi delle passioni
piuttosto che ai ricordi e alla ponderazione. Aggiunge poi che quelle marionette ubriache
sarebbero come paides, ritornerebbero nella condizione infantile. Ciò che succede anche in
tarda età. Come allora intendere la paideia se non come un continuare a giocare secondo le
regole? Il logismos invocato a misura delle due inclinazioni d’oscillazione fa riflettere che
paideia sia dare regole al gioco.
Platone distingueva così paideia da trofe, e già a quel tempo veniva dato più risalto
d’efficacia di formazione alla seconda. Trofein è istruire, cresce, allevare. Si potrebbe
finanche intendere più vicina a quella che indichiamo con “educazione”. Paideia era
considerata una sorta di educazione culturale. Non è che avesse come fine l’acquisizione di
una competenza. La paideia si riferiva piuttosto al raggiungimento della virtù di essere
cittadino esemplare. In fondo è questo che è implicato nell’esercizio di portare la filosofia
nelle scuole fin dal primo grado. Ricavare, cioè, proprio dall’infanzia il valore della
cittadinanza. Non suoni come un paradosso, ma solo non perdendo l’infanzia si può essere
cittadini esemplari, perché si mantiene quel che l’infanzia ha di più prezioso: il desiderio
della vita ad essere nel mondo. Così, l’essere che perde la sua infanzia finisce con ritrovarsi
come un semplice ente, presente alla disponibilità del mercato. Il fine della paideia si
precisa allora non come istruzione, perché il fine è piuttosto suscitare il desiderio,
epitumeten, insieme all’innamoramento, erasten, di diventare cittadino, politen, completo,
teleon, a condurre, archein, e a condursi, archestai, acquisendo un sapere, epitamenon, con
giustizia, meta dikes. (PLATONE. Leggi, 643d).
76|
76| giuseppe
giuseppe ferraro
ferraro
nel viso di un bambino che viene al mondo e di chi s’incontra nella vita. Levinas ripeteva
che l’altro è più vicino di ogni io a dio (1971, p. 168 sg.). Il bambino è l’altro in un lampo di
vita, com’è un’apparizione chi si ama. Non un’apparenza, un’apparizione.
riferimenti
AGOSTINO.
AGOSTINO. Le Le confessioni.
confessioni. Roma:
Roma: Newton
Newton Compton,
Compton, 2010. 2010.
BARTHES,
BARTHES, Roland.
Roland. Frammenti
Frammenti di di un
un discorso
discorso amoroso.
amoroso. Torino:
Torino: Enaudi,
Enaudi, 1979.
1979.
COLLI,
COLLI, Giorgo.
Giorgo. LaLa sapienza
sapienza greca.
greca. III
III Eraclito.
Eraclito. Milano:
Milano: Adelphi,
Adelphi, 2010.
2010.
DELEUZE,
DELEUZE, Gilles.
Gilles. L´Abécédaire
L´Abécédaire de de Gilles
Gilles Deleuze.Paris:
Deleuze.Paris: Montparnasse,
Montparnasse, 1997.
1997. Vídeo.
Vídeo.
DELEUZE,
DELEUZE, Gilles;
Gilles; GUATTARI,
GUATTARI, Felix. Felix. Che
Che cos’è
cos’è la
la filosofia.
filosofia. Torino:
Torino: Einaudi,
Einaudi, 2002.
2002.
DON
DON MILANI,
MILANI, Lorenzo.
Lorenzo. Lettera
Lettera aa una
una professoressa,
professoressa, Firenze:
Firenze: Libreria
Libreria Fiorentina
Fiorentina Editrice,
Editrice, 1967.
1967.
________.
________. La
La scuola
scuola della
della disobbedienza,
disobbedienza, Roma:
Roma: Chiare
Chiare Lettere,
Lettere, 2014.
2014.
GIGON,
GIGON, Olof.
Olof. Untersuchungen
Untersuchungen zu zu Heraklit.
Heraklit. Leipzig:
Leipzig: Dieterich,
Dieterich, 1935.
1935.
HEIDEGGER,
HEIDEGGER, Martin.Martin. DerDer Satzt
Satzt vom
vom Grund.
Grund. Frankfurt
Frankfurt a. a. M.:
M.: Vittorio
Vittorio Klostermann,
Klostermann, 1997.
1997.
________.
________. Beiträge
Beiträge zur
zur Philosophie
Philosophie (vom
(vom Ereignis),
Ereignis), Frankfurt
Frankfurt a. a. M:
M: Vittorio
Vittorio Klostermann,
Klostermann, 1994.
1994.
HÖLDERLIN.
HÖLDERLIN. Friedrich.
Friedrich. Poesie.
Poesie. Milano:
Milano: Arnoldo
Arnoldo Mondadori,
Mondadori, 1986.1986.
HUSSERL,
HUSSERL, Edmund.
Edmund. Erste
Erste Philosophie
Philosophie (1923/1924),
(1923/1924), Haag:Haag: Martinus
Martinus Nijhoff,
Nijhoff, 1956.
1956.
________.
________. Filosofia
Filosofia prima.
prima. Teoria
Teoria della
della riduzione
riduzione fenomenologica.
fenomenologica. Saveria
Saveria Mannelli:
Mannelli: Rubbettino,
Rubbettino, 2007.
2007.
KANT,
KANT, Immanuel.
Immanuel. OpusOpus Postumum,
Postumum, trad.trad. it.,
it., aa cura
cura didi V.
V. Mathieu.
Mathieu. Zanichelli:
Zanichelli: Bologna,
Bologna, 1963.
1963.
LEVINAS,
LEVINAS, Emmanuel.
Emmanuel. Totalité
Totalité et
et infini.
infini. Essai
Essai sursur lʼextériorité.
lʼextériorité. Paris:
Paris: Kluwer
Kluwer academic,
academic, 1971.
1971.
NANCY,
NANCY, Jean-Luc.
Jean-Luc. Le Le partage
partage des
des voix.
voix. Paris:
Paris: Galilée,
Galilée, 2002.
2002.
22 Creature
Creature in in filosofia
filosofia Bambino
Bambino èè unauna parola
parola cheche nonnon significa
significa niente.
niente. ÈÈ solo solo un
un suono,
suono, senza
senza senso.
senso. NonNon un un
significazione,
significazione, ma ma una
una lallazione,
lallazione, èè ilil suono
suono deldel lallare,
lallare, del
del la
la la
la la,
la, la
la cantilena
cantilena che che sisi usava
usava per
per addormentare,
addormentare,
ma
ma anche
anche la la vocalizzazione
vocalizzazione del del primo
primo apprendimento
apprendimento del del linguaggio.
linguaggio. L’infanzia.
L’infanzia. Si Si dice
dice allora
allora bambino
bambino
anche
anche per
per chi
chi èè inin quell’età
quell’età dei
dei primi
primi passi
passi deldel linguaggio,
linguaggio, dopo dopo si si dirà
dirà “ragazzo”
“ragazzo” che che indica
indica nell’origine
nell’origine araba
araba
della
della parola
parola ilil corriere.
corriere. Ragazzo
Ragazzo èè ilil bambino
bambino che che corre.
corre. PoiPoi sisi arriva
arriva aa “giovane”
“giovane” che che èè la
la prima
prima categoria
categoria deldel
tempo
tempo socialmente
socialmente riconosciuto,
riconosciuto, giuridico.
giuridico. Bambino
Bambino èè puro puro suono
suono di di voce,
voce, come
come ilil fanciullo
fanciullo di di un
un tempo,
tempo, ilil
pais
pais greco,
greco, ilil puer
puer latino.
latino. Bambino
Bambino èè in in altre
altre lingue
lingue si si dice
dice anche
anche “la “la creatura”.
creatura”. In In portoghe-
portoghe- se, se, l’infanzia
l’infanzia èè
criança.
criança. Nella
Nella lingua
lingua dominante
dominante nell’Italia
nell’Italia del del meridione,
meridione, ii bambinibambini sono sono criature.
criature. La La voce
voce richiama
richiama la la
“creazione”,
“creazione”, le le creature
creature sono
sono lala creazione
creazione che che viene
viene al al mondo.
mondo. EssereEssere in in uno
uno stato
stato di di creaturalità
creaturalità èè più più vicino
vicino
aa quel
quel che
che sisi può
può intendere
intendere con con stare
stare in in filosofia.
filosofia. LaLa filosofia
filosofia non non si si fa,
fa, si
si sta
sta in
in filosofia,
filosofia, ed ed èè l’essere
l’essere in
in uno
uno
stato
stato creaturale.
creaturale. Criança
Criança richiama
richiama ancora
ancora la la traslitterazione
traslitterazione “crianza”
“crianza” che che lascia
lascia intendere
intendere l’educazione
l’educazione nel nel
senso
senso del
del rispetto,
rispetto, “tenere
“tenere crianza”
crianza” èè avere avere rispetto
rispetto della
della vita,
vita, verso
verso le le persone
persone che che s’incontrano
s’incontrano ee cha cha lala
rappresentano
rappresentano nell’ospitalità
nell’ospitalità che
che la la vita
vita reclama
reclama al al mondo.
mondo. Al Al mondo,
mondo, alla alla gente.
gente. “Crianza”
“Crianza” èè un’educazione
un’educazione
che
che non
non si si dà
dà per
per istruzione
istruzione oo formazione,
formazione, ma ma viene
viene dalla
dalla vita
vita stessa
stessa come
come esigenza
esigenza che che s’impone
s’impone senzasenza
permesso.
permesso. Si Si dà.
dà. Criança,
Criança, credenza,
credenza, richiama
richiama ancora
ancora la la memoria,
memoria, la la tradizione,
tradizione, quelquel cheche si
si conserva
conserva del del tempo
tempo
passato
passato nei
nei suoi
suoi racconti,
racconti, nei
nei suoi
suoi miti,
miti, in in quel
quel che
che si
si riferisce
riferisce aa un un luogo
luogo dove
dove si si narra
narra di di particolari
particolari even-
even- ti.
ti.
La
La credenza
credenza èè anche
anche ilil mobile
mobile cheche contiene
contiene le le cose
cose dada conservare
conservare per per quelli
quelli che
che verranno.
verranno. ÈÈ lo lo “stipo”
“stipo” inin cui
cui
“stipare”,
“stipare”, conservare.
conservare. AncoraAncora nella
nella lingua
lingua dominante
dominante l’Italia
l’Italia del
del meridione
meridione si si diceva
diceva “morso
“morso della
della crianza”,
crianza”,
ed
ed era
era quel
quel cheche sisi lascia
lascia del
del cibo
cibo sulla
sulla tavola
tavola per per chi
chi poteva
poteva venire
venire in in seguito.
seguito. “Crianza”
“Crianza” come come infanzia
infanzia ee
“creature”
“creature” come come bambini
bambini intendono
intendono tutto tutto questo
questo insieme.
insieme. Creature
Creature in in filosofia
filosofia non non sarà sarà allora
allora
semplicemente
semplicemente la la lallazione
lallazione deldel “bambino”,
“bambino”, che che varrà
varrà certamente
certamente conservare
conservare nel nel canto,
canto, nella
nella cantilena,
cantilena, nelnel
ritmo
ritmo che
che la
la filosofia
filosofia reclama
reclama alla
alla ricerca
ricerca di di un
un tempo
tempo proprio,
proprio, interiore,
interiore, che che non
non puòpuò essere
essere che
che di di melodia
melodia ee
perciò
perciò rivolto
rivolto all’epimeletica
all’epimeletica comecome ciò ciò che
che concerne
concerne la la cura
cura didi sé,
sé, che
che èè cura
cura del
del proprio
proprio ritmo
ritmo di di respiro
respiro del
del
tempo
tempo cheche si si vive.
vive. “Creature
“Creature in in filosofia”
filosofia” sarà sarà da da intendere
intendere che che la la filosofia
filosofia è, è, nel
nel suo
suo stato,
stato, lala disciplina
disciplina ee
l’esercizio
l’esercizio dell’opera
dell’opera della
della vita,
vita, perché
perché la la vita
vita abbia
abbia uno
uno stile
stile che
che siasia creaturale.
creaturale.
78|
78| giuseppe
giuseppe ferraro
ferraro
NIETZSCHE,
NIETZSCHE, Friedrich.
Friedrich. Così
Così parlò
parlò Zarathustra.
Zarathustra. Milano:
Milano: Adelphi,
Adelphi, 1976.
1976.
________.
________. La
La gaia
gaia scienza.
scienza. Milano:
Milano: Adelphi,
Adelphi, 1979.
1979.
________.
________. Verità
Verità ee menzogna
menzogna fuori
fuori del
del senso
senso morale.
morale. Napoli:
Napoli: Filema,
Filema, 1998.
1998.
PLATONE.
PLATONE. Parmenide,
Parmenide, aa cura
cura di
di F.
F. Ferrari.
Ferrari. Milano:
Milano: Rizzoli,
Rizzoli, 2004.
2004.
SPINOZA,
SPINOZA, Baruch
Baruch de.de. Ética.
Ética. Milano:
Milano: Bompiani,
Bompiani, 2007.
2007.
WITTGENSTEIN,
WITTGENSTEIN, Ludwig. Ludwig. Tractatus
Tractatus logico-philosophicus
logico-philosophicus ee Quaderni
Quaderni 1914-1916.
1914-1916. Torino:
Torino: Einaudi,
Einaudi,
1968.
1968.
79
79
carlos skliar11
11 CONICET/FLACSO,
CONICET/FLACSO, Argentina.
Argentina. Email:
Email: skliar@flacso.org.ar
skliar@flacso.org.ar
80|
80| carlos
carlos skliar
skliar
22“Los
“Los atrancados.
atrancados. Los
Los encerrados
encerrados vivos.
vivos. /Oscurecidos,
/Oscurecidos, aherrojados
aherrojados en en elel último
último cuerpo
cuerpo dede la
la casa,
casa, se
se
consumen
consumen yy hablan
hablan // Corre
Corre la
la muerte
muerte afuera
afuera // Hablan
Hablan concon el
el televisor
televisor yy concon sus
sus muertos
muertos // Olvidan
Olvidan los
los
plazos
plazos del
del futuro
futuro igual
igual que
que olvidan
olvidan hoy
hoy // qué
qué cosas
cosas les
les dolieron
dolieron ayer
ayer tarde
tarde // No
No abren
abren las
las ventanas
ventanas porque
porque nono
entren
entren el
el sol
sol ni
ni los
los ladrones
ladrones // yy el
el cielo
cielo está
está techado
techado dede uralita,
uralita, yy no
no quieren
quieren saber
saber aa cuántos
cuántos años
años // se
se
murieron
murieron su su madre
madre nini su
su padre
padre // Por
Por olvidar,
olvidar, olvidan
olvidan enfadarse,
enfadarse, sese tragan
tragan laslas horas,
horas, el
el caldo,
caldo, las
las pastillas,
pastillas, yy
arrastran
arrastran // su
su nombre
nombre yy sus
sus dos
dos pies
pies como
como un un misterio
misterio // Y
Y leen
leen yy releen,
releen, una
una vez
vez yy otra
otra vez,
vez, tercos
tercos como
como
funambulistas
funambulistas // la la cuenta
cuenta dede la
la luz,
luz, el
el testamento
testamento // lala invitación
invitación de de boda
boda de de una
una sobrina
sobrina nieta”
nieta” (Juana
(Juana
Castro,
Castro, Los
Los cuerpos
cuerpos oscuros.
oscuros. Poesía
Poesía Hiperión,
Hiperión, 2005:
2005: 47).
47).
el
el lenguaje
lenguaje de
de la
la norma
norma yy los
los individuos
individuos frágiles|
frágiles| 81
81
palabras, explicadores de ocasión que justifican vidas propias y ajenas, que todo lo saben y
ocultan con refinada técnica y su lenguaje infecto sus proverbiales ignorancias.
Pero el mundo, a poco que lo escuchemos con atención, no es así.
De hecho acerca del lenguaje de las demencias se ha escrito mucho, pero a partir de
un lenguaje especializado con pretensiones de claridad, el lenguaje arrogante que lo explica
todo, ese lenguaje compuesto a propósito de la distinción entre lo que debería ser lenguaje
y lo que dejaría de serlo. ¿No sería acaso posible que el lenguaje de las demencias pudiese
hablar por sí mismo, en sí mismo, desde sí mismo?
También sobre las experiencias de encierro se ha dicho demasiado. Sin embargo, la
distinción vuelve a ser necesaria: hay cuerpos encerrados de los que se habla desde una
posición de libertad y hay cuerpos encerrados de los que se supone nada podrán pensar al
respecto. ¿Acaso no se toma la palabra al interior del propio encierro? ¿La única posibilidad
de narrar el encierro es esperando la luz de lo exterior? ¿Siempre la civilización procede de
la oscuridad de la caverna y se dirige hacia la claridad del llano?
Esbozo de una idea: se trata, quizá, de un lenguaje y de un cuerpo que no se dirigen
a nosotros sino a un vínculo esencial existente en el espacio tenue y lúcido que permanece
móvil y frágil entre la memoria y el olvido. Un fragmento del poema Los encerrados dice:
“Hablan con el televisor y con sus muertos”.
Hablan, tal vez, a partir del movimiento subrepticio de una luz que se escapa, con el
fragmento de un recuerdo a medias perdido o partido, con el desplazamiento azaroso de las
cosas, con el enigma del misterio, con personas presentes a las que se les otorga otra edad,
otros rostros y otros nombres, en territorios de la infancia donde ya nada ni nadie
permanece, con detalles bordados en el ángulo más pequeño de la mirada.
Hablan, quién lo sabe, con una voz cuya moral se ha abandonado o fatigado o ya
harta de sí misma, con palabras cuya resonancia no está en el lenguaje sino en el oído, a
través de un dolor antiguo que quedó pendiente, con los pies arrastrándose por pasillos sin
desembocadura.
Y cuando por acaso hablan con alguien, se dirigen a alguien en particular, solo
encuentran a cambio desconcierto, indiferencia, quizá la voluntad efímera de la traducción
imposible, el rápido resguardo en la lengua sana, el retiro hacia la normalidad más banal de
la que se dispone.
Una de las voces más limpias y testimoniales en este sentido es la de Alda Merini,
poeta italiana nacida en 1931, quien atravesó varios períodos de internación, silencio y
aislamiento. Uno de sus libros, Clínica del abandono (2008) está compuesto, entre otros
poemas, por aquellos que dictó telefónicamente a sus amigos durante los tiempos de
encierro en una suerte de manicomio carcelario. De ese libro, este poema, La otra verdad:
En
En los
los tiempos
tiempos de
de la
la prisión
prisión inútil
inútil // yo
yo amé
amé aa un
un compañero
compañero míomío // unun pobrecito
pobrecito
sin
sin santidad.
santidad. // Y Y así
así de
de este
este amor
amor infeliz
infeliz // has
has nacido
nacido tú,tú, // flor
flor de
de mi
mi
pensamiento.
pensamiento. // Nadie
Nadie en en el
el manicomio
manicomio ha ha dado
dado jamás
jamás un
un beso
beso // si
si no
no es
es al
al muro
muro
que
que lolo oprimía
oprimía // yy esto
esto quiere
quiere decir
decir que
que la
la santidad
santidad // es
es de
de todos,
todos, // como
como dede todos
todos
es
es el
el amor
amor (MERINI,
(MERINI, 2008,2008, p.
p. 143).
143).
en
en mí,
mí, no
no lo
lo niego,
niego, pero
pero osos ruego
ruego que
que creáis
creáis que
que la
la única
única manera
manera de
de estar
estar
verdaderamente
verdaderamente solo
solo es
es esto
esto que
que os
os digo.
digo.
El cuerpo de la poetisa Alda Merini - según una fotografía de la época- está mitad
desnudo, mitad abierto; faldas sucias, zapatos raídos y calcinados por andar a través de
pasillos de descascaradas pinturas, el torso libre, blanco, como si sus pechos enunciaran las
cosas más graves y elementales de la vida: la leche, la nieve, el papel aún sin encender del
tabaco, las páginas donde se inscribirán poemas, los ojos sin furia, el vestido de novia
guardado en un almacén perdido de una remota aldea.
Todo es blanco en Alda, salvo los hombres que se esconden de su mirada y que
temen ser despedazados. Sí, en su italiano: “Appena mi guardi e temi di essere sepezzato”
(“Apenas me miras y temes ser despezado”). .
Alda no siente el frío, es decir, no puede ser sino ardorosa la tertulia de sus palabras
y la vigilia de la partida. Sin embargo, su cuerpo está caduco de antemano, como si la
locura no tuviera contemplación con las mujeres, y azotara con particular ensañamiento la
desnudez de las poetisas.
Hacia donde Alda mira no hay otra cosa que el interior de un edificio arrogante
que, en su soberbia y sus canceles, pretende separar la verdad de la vanidad, la sensatez de
la abundancia, cada hoja sedienta de escritura de todas las convenciones miserables.
La apartaron una y otra vez.
Apartar: ¿de quién es la parte, de quién es la partida? ¿Quién puede excusarse de
tanta veleidad absurda, de tanta normalidad que aprieta los dientes hasta morder la lengua
y decir lo incomprensible?
Alda se queja que nadie en el manicomio quiera besarla y aspira con avidez la
ausencia de vidas ajenas, como si se tragase la hoja del tabaco, lejos de Dios, fuera de toda
fácil cordura. El dolor la embiste y la retiene entre su furia. Agotada, siente que se
derrumba toda y que llora porque es de arcilla, porque es débil. Alda habla con la
desfiguración del tiempo y con el soplo de una vela apagada.
A través de una hendija prepara una fogata alta cada noche de luna para recibir al
mundo y transformarlo en lucidez, desnudez y poesía. La fogata, pues, está encendida,
aunque nadie viene a su encuentro, aunque nadie llega, aunque nadie sabe de la encarnada
y desencarnada sensatez de su espera, en una carretera alejada, muda.
Nadie viene porque ninguno desea la cegadora claridad de una fogata. Quizá porque
el fuego en ascenso, durante las noches de luna clara, es el recuerdo más sombrío de todas
las cenizas reencendidas: ese recuerdo de locura que, en cada uno, en cada una, no quisiera
ser recordado por nadie.
Todo el mundo allí está extenuado e histérico, agotado y en tensa vigilia por la
fiereza de la calamidad. El encierro se hace cada día más agobiante y sólo algunos, los más
pequeños, salen a las calles para asistir a la colonia de verano. Todos están a flor de piel y
con la sospecha en la punta de la lengua, como si se tratara de un arma de fuego dispuesta
al gatillo en el centro de la palabra.
En poco tiempo la pregunta vuelve a mutar. Ya no se trata de saber ni qué causa la
polio, ni cómo se propaga, sino quién tiene la culpa de la epidemia.
¿Cómo no acusar, entonces, a Horace, alguien que no conoce el sentido de las
palabras, que expone su cuerpo sin conciencia al calor demencial del mediodía y que ni
siquiera tiene los instintos de un perro? ¿Qué réprobo mejor que un débil para atribuirle la
culpa de haber transmitido la polio por el pueblo? ¿Quién sino Horace, incapaz de defensa,
incapaz de lenguaje, incapaz de todo, puede ser el más perfecto de los culpables? Dice un
joven estudiante:
Él
Él la
la está
está extendiendo
extendiendo (…)
(…) Estoy
Estoy seguro.
seguro. NoNo debería
debería haber
haber perdido
perdido los
los estribos,
estribos, sé
sé que
que ese
ese
hombre
hombre es es un
un retrasado,
retrasado, pero
pero no
no está
está limpio
limpio yy propaga
propaga lala enfermedad.
enfermedad. Va Va de
de un
un lado
lado aa
otro,
otro, la
la baba
baba le
le cae
cae aquí
aquí yy allá,
allá, estrecha
estrecha lala mano
mano de
de todo
todo el
el mundo,
mundo, yy así
así es
es como
como dispersa
dispersa
los
los gérmenes
gérmenes por
por todas
todas partes
partes (ibidem,
(ibidem, p. p. 95).
95).
el
el lenguaje
lenguaje de
de la
la norma
norma yy los
los individuos
individuos frágiles|
frágiles| 85
85
Lo que emerge hoy es, por lo menos, ambiguo. La travesía que consiste en desandar
las propias huellas, el arraigo de lo normal como lo natural, la confusión entre exclusión e
inclusión y la presión nefasta que ejercen los cuerpos publicitarios, no nos dejan en paz.
No los dejan en paz. Parece ser que la civilización se tranquiliza al reconocer, a suficiente
distancia, la existencia de la diferencia. Pero lo hace de un modo agazapado, reticente, de
forma jurídica aunque no éticamente. El lenguaje de los derechos ha alcanzado su máxima
aspiración y expresión. Sin embargo, sabemos que un cierto tipo de subversión y
radicalidad se vuelven necesarios. Ya no se trata de un nuevo modelo de discapacidad, ni
de una nueva organización escolar, ni de novedosas arquitecturas, ni de las conocidas
políticas de identidad: la cuestión a indagar es el sí mismo, el problema es el nosotros
mismos, cada vez que lo igual, lo común, lo normal son pronunciados como origen y
centro del universo.
La razón que nos asiste para definir al otro sujeto se ha desvanecido casi por
completo, pulverizada en sus argumentos y hecha jirones en su naturalización. Ya no hay
sujeto-uno o, para mejor decir, nunca hubo un sujeto auto-centrado, omnisciente, capaz de
rellenarse y hacerse absoluto, completo. Es esta la razón a desmitificar. Ser capaces de una
teoría de la debilidad, de lo fragmentario, de la vulnerabilidad, de lo incompleto y no ya
como condición precaria, de agonía, sino como aquello que nos hace humanos. No caer en
la trampa que nos tienden las angostas éticas hechas a medida del uno y que sólo nos
proponen resguardarnos de los demás apenas aceptándolos, respetándolos, tolerándolos.
En esos espacios, en esos territorios y relaciones está el cuerpo, la centralidad del
cuerpo, el ser un cuerpo y no sólo tenerlo. La historia de la discapacidad es, también, una
historia de mutilaciones, cercenamientos, distancias extremas y desapariciones de cuerpos:
cuerpos cojos, cuerpos sordos, cuerpos ciegos, cuerpos frágiles, cuerpos monstruosos,
cuerpos femeninos, cuerpos pobres, cuerpos niños, cuerpos dementes, etcétera.
En diferentes tiempos y espacios ciertos cuerpos - y no otros - fueron sospechados
de anomalía y juzgados y condenados sin más. Nadie los esperaba y al tenerlos de frente
no hubo más que la acostumbrada tensión de lo normal:
Tensión
Tensión entre
entre dos
dos aguas,
aguas, entre
entre lo
lo que
que está
está vivo
vivo yy no
no debería
debería haber
haber nacido,
nacido, entre
entre lo
lo
que
que ha
ha nacido
nacido yy debería
debería haber
haber muerto.
muerto. EnEn estas
estas circunstancias
circunstancias es
es fácil,
fácil, pues,
pues,
entender
entender que
que no
no hay
hay un
un lugar
lugar social
social esperándolos.
esperándolos. Terminan
Terminan ocupando
ocupando un un no-
no-
lugar,
lugar, exiliados
exiliados enen dicho
dicho umbral.
umbral. AA menudo
menudo la la muerte
muerte yy la
la eliminación
eliminación se se
personifican
personifican en
en la
la misma
misma gestación.
gestación. Son
Son objetos,
objetos, que
que no
no sujetos,
sujetos, marcados
marcados porpor la
la
muerte
muerte (BALAGUER,
(BALAGUER, 2004). 2004).
referencias
BALAGUER,
BALAGUER, Asun.
Asun. Herencias
Herencias yy actualidad
actualidad de de la
la discapacidad.
discapacidad. Una
Una apertura
apertura pedagógica
pedagógica aa lo
lo sensible.
sensible.
Barcelona:
Barcelona: Editorial
Editorial UOC,
UOC, 2014.
2014.
CASTRO,
CASTRO, Juana.
Juana. Los
Los cuerpos
cuerpos oscuros.
oscuros. Madrid:
Madrid: Hiperión,
Hiperión, 2005.
2005.
COETZEE,
COETZEE, Johan.
Johan. M.
M. Esperando
Esperando aa los
los bárbaros.
bárbaros. México:
México: Random
Random House
House Mondadori,
Mondadori, 2007.
2007.
GONZÁLEZ,
GONZÁLEZ, Angél.
Angél. Nada
Nada grave.
grave. Madrid:
Madrid: Visor,
Visor, 2008.
2008.
LICHTENBERG,
LICHTENBERG, George.
George. Aforismos.
Aforismos. México:
México: Fondo
Fondo dede Cultura
Cultura Económica,
Económica, 1989.
1989.
MERINI,
MERINI, Alda.
Alda. Clínica
Clínica del
del abandono.
abandono. Buenos
Buenos Aires:
Aires: Bajo
Bajo la
la Luna,
Luna, 2008.
2008.
NANCY,
NANCY, Jean-Luc.
Jean-Luc. 58
58 indicios
indicios sobre
sobre el
el cuerpo.
cuerpo. Buenos
Buenos Aires:
Aires: Ediciones
Ediciones La
La Cebra,
Cebra, 2007.
2007.
NIETZSCHE,
NIETZSCHE, Friedrich.
Friedrich. Más
Más allá
allá del
del bien
bien yy del
del mal.
mal. Madrid:
Madrid: Alianza,
Alianza, 1976.
1976.
PIRANDELLO,
PIRANDELLO, Luigi.
Luigi. Uno,
Uno, ninguno
ninguno yy cien
cien mil.
mil. Barcelona:
Barcelona: Acantilado,
Acantilado, 2010.
2010.
ROTH,
ROTH, Philip.
Philip. Némesis.
Némesis. Barcelona:
Barcelona: Literatura
Literatura Mondadori,
Mondadori, 2010.
2010.
SHELLEY,
SHELLEY, Mary.
Mary. Frankestein
Frankestein oo elel moderno
moderno Prometeo.
Prometeo. Barcelona:
Barcelona: Mondadori, 2006.
Mondadori, 2006
89
89
patricia r. redondo11
Pero
Pero enseñar
enseñar es
es eso:
eso: volver
volver aa empezar
empezar hasta
hasta nuestra
nuestra
necesaria
necesaria desaparición
desaparición como
como profesor.
profesor.
(Daniel
(Daniel Pennac,
Pennac, Mal
Mal de
de escuela)
escuela)
11 Facultad
Facultad de
de Humanidades
Humanidades yy Ciencias
Ciencias de de la
la Educación,
Educación, Universidad
Universidad Nacional
Nacional de
de La
La Plata
Plata -- Fahce/UNLP.
Fahce/UNLP.
Email: redpatricia@gmail.com
Email: redpatricia@gmail.com
22 Este
Este trabajo
trabajo se
se enmarca
enmarca enen lala tesis
tesis doctoral
doctoral “La “La escuela
escuela con
con los
los pies
pies en
en el
el aire:
aire: Hacer
Hacer escuela
escuela entre
entre la
la
desigualdad
desigualdad yy la la emancipación”
emancipación” de de lala Facultad
Facultad de de Humanidades
Humanidades yy Ciencias
Ciencias dede la
la Educación
Educación de de la
la
Universidad
Universidad de de la
la Plata,
Plata, 2016.
2016. LaLa investigación
investigación se se orienta
orienta aa comprender
comprender de de qué
qué modos
modos unauna escuela
escuela de
de
educación
educación especial
especial en
en un
un territorio
territorio signado
signado por por la
la desigualdad
desigualdad produce
produce operaciones
operaciones dede verificación
verificación dede la
la
igualdad.
igualdad.
33 Las
Las siglas
siglas utitlizadas
utitlizadas en
en el
el texto
texto son
son las
las siguientes:
siguientes: EPTEE,
EPTEE, entrevista
entrevista profesor
profesor de
de taller
taller de
de la
la escuela
escuela
especial,
especial, EPREE,
EPREE, entrevista
entrevista preceptora
preceptora de de lala escuela
escuela especial,
especial, EMEE,
EMEE, entrevista
entrevista maestra
maestra de de educación
educación
especial,
especial, EDEE,
EDEE, entrevista
entrevista director
director de de la
la escuela
escuela especial,
especial, EVDEE,
EVDEE, entrevista
entrevista vicedirectora
vicedirectora escuela
escuela especial,
especial,
EPTCEE,
EPTCEE, entrevista
entrevista profesora
profesora dede taller
taller de
de cocina,
cocina, EOEEE,
EOEEE, entrevista
entrevista orientadora
orientadora escolar.
escolar.
44 Los
Los perfiles
perfiles profesionales
profesionales que
que integran
integran loslos equipos
equipos técnicos
técnicos enen la
la educación
educación especial
especial de
de la
la Provincia
Provincia dede
Buenos
Buenos Aires
Aires son
son psicólogos,
psicólogos, licenciados
licenciados en en Ciencias
Ciencias de de la
la Educación,
Educación, fonoaudiólogos
fonoaudiólogos yy trabajadores
trabajadores sociales.
sociales.
90|
90| patricia
patricia r.
r. redondo
redondo
me
me habló
habló de
de educación,
educación, dede ser
ser maestra,
maestra, desde
desde chica.
chica. MiMi hermana
hermana me me dice:
dice:
“Vamos
“Vamos aa estudiar
estudiar juntas,
juntas, vamos
vamos aa educación
educación especial”.
especial”. Dijo:
Dijo: “Yo
“Yo voyvoy aa hacer
hacer elel
profesorado
profesorado yy vos
vos venís
venís conmigo”.
conmigo”. UnUn día
día me
me hace
hace llevarle
llevarle unos
unos papeles
papeles aa la 50155,,
la 501
todo
todo para
para que
que vaya
vaya aa conocer
conocer la
la escuela.
escuela. Me
Me hizo
hizo pasar
pasar aa ver
ver la
la escuela.
escuela. Empezó:
Empezó:
“Vení,
“Vení, vení
vení aa conocer
conocer mis
mis alumnos”.
alumnos”. Y Y yoyo creo
creo que
que ahí
ahí es
es como
como que que empezaste
empezaste aa
ver…
ver… Al
Al año
año siguiente
siguiente me
me anoté.
anoté. (EPREE,
(EPREE, septiembre
septiembre del 2016)66..
del 2016)
Los recuerdos infantiles son matizados e incluyen marcas traumáticas. Una docente
así lo expresa:
En
En realidad,
realidad, educación
educación especial
especial me me gusta
gusta dede chica,
chica, no
no sé…
sé… Yo Yo meme acuerdo
acuerdo queque
viajaba
viajaba enen colectivo
colectivo yy había
había un un nene
nene que que subía
subía como
como podía,
podía, ¿no?
¿no? Tenía
Tenía unauna
dificultad
dificultad motriz
motriz yy el
el pibe
pibe con
con todas
todas sus
sus fuerzas
fuerzas subía
subía alal colectivo,
colectivo, decía
decía “Buen
“Buen
día”
día” yy sacaba
sacaba el
el boleto.
boleto. NoNo sé,sé, desde
desde chica…
chica… me me acuerdo.
acuerdo. Y, Y, también,
también, tuve
tuve unun
poco
poco dede historia,
historia, mis
mis viejos
viejos meme mandaron
mandaron aa una una escuela
escuela privada
privada con
con todos
todos sus
sus
esfuerzos
esfuerzos pensando
pensando queque lolo privado
privado era
era lolo mejor,
mejor, yy no
no era
era lo
lo mejor.
mejor. EnEn primer
primer
grado,
grado, la
la maestra
maestra lele dice
dice que
que me
me tienen
tienen queque mandar
mandar aa unauna escuela
escuela especial
especial ¿por
¿por
qué?
qué? MiMi viejo
viejo hace
hace toda
toda una
una movida,
movida, le le dicen
dicen que
que yo
yo tenía
tenía un
un tema
tema de
de madurez,
madurez,
digamos…
digamos… Yo Yo me
me sentí
sentí como
como muymuy discriminada
discriminada en en mi
mi escuela,
escuela, meme acuerdo
acuerdo queque la
la
maestra
maestra de de primer
primer grado
grado te te ataba
ataba aa la
la silla.
silla. Yo
Yo era
era gordita
gordita yy nos
nos puso,
puso, ponéle,
ponéle, aa
una
una compañera
compañera yy aa mí,
mí, aa bailar
bailar de
de chanchos.
chanchos. Y Y vos
vos decías…
decías… Claro,
Claro, que
que eso
eso me
me lolo
acuerdo
acuerdo patente.
patente. Yo
Yo decía
decía pero
pero aa ver…
ver… Y Y éramos
éramos como
como el el grupo
grupo de de las
las burras.
burras.
Dentro
Dentro de de esa
esa escuela,
escuela, viste
viste que
que la
la escuela
escuela privada
privada tiene
tiene esto
esto dede ¿no?
¿no? El
El burro
burro
siempre
siempre fue
fue marcado.
marcado. O O sea,
sea, como
como que
que pasé
pasé por
por un
un lugar
lugar desde
desde lala escuela,
escuela, desde
desde lala
infancia,
infancia, pasé
pasé por
por ese
ese lugar
lugar dede rótulo,
rótulo, dede marca,
marca, de
de quedar
quedar de de lado…
lado… Nosotras
Nosotras
éramos
éramos cinco…
cinco… EsEs que
que sisi te
te ponés
ponés aa analizar,
analizar, claro,
claro, yoyo usaba
usaba lentes,
lentes, zapatos
zapatos
ortopédicos,
ortopédicos, como
como que
que era
era una
una cuestión
cuestión queque vos
vos decías…
decías… Y, Y, bueno,
bueno, asíasí hice
hice mimi
primaria.
primaria. Y,Y, por
por eso
eso elegí
elegí creo
creo yo,
yo, en
en algún
algún punto
punto elegí…
elegí… (EPREE,
(EPREE, octubre
octubre deldel
2015)
2015)
55 Escuela
Escuela de
de educación
educación especial
especial que
que atiende
atiende niños
niños yy niñas
niñas ciegos
ciegos en
en el
el distrito
distrito de
de La
La Matanza,
Matanza, provincia
provincia de
de
Buenos
Buenos Aires,
Aires, Argentina.
Argentina.
66 La
La docente
docente entrevistada
entrevistada cumple
cumple una
una doble
doble función:
función: preceptora
preceptora en
en el
el turno
turno de
de la
la mañana
mañana yy maestra
maestra aa cargo
cargo
de
de grupo
grupo en
en el
el turno
turno de
de la
la tarde
tarde ee integra
integra el
el equipo
equipo docente
docente de
de la
la escuela
escuela desde
desde los
los primeros
primeros años
años dede su
su
creación.
creación.
maestrxs
maestrxs yy profesorxs
profesorxs de
de una
una “escuela
“escuela especial”:
especial”: narrativas
narrativas yy pensamientos
pensamientos || 91
91
Los
Los lazos
lazos del
del acompañamiento
acompañamiento requieren
requieren un un encuadre
encuadre protector,
protector, el
el que
que instala,
instala, aa
la
la vez,
vez, la
la extranjeridad
extranjeridad yy ley;
ley; se
se mantienen
mantienen en en una
una ambigüedad,
ambigüedad, la la que
que nunca
nunca
termina
termina dede esclarecerse
esclarecerse totalmente
totalmente si si se
se sostienen
sostienen en
en la
la lógica
lógica contractual
contractual oo en
en la
la
lógica
lógica del
del don.
don. Los
Los lazos
lazos del
del acompañamiento
acompañamiento remiten
remiten aa figuras
figuras del
del amor,
amor, pero
pero
que
que admiten
admiten que que el
el amor
amor nono resulta
resulta de
de lala voluntad
voluntad ni
ni de
de una
una imposición,
imposición, que
que no
no
es
es posible
posible ingresarlo
ingresarlo en
en la
la cláusula
cláusula contractual
contractual dede ningún
ningún oficio
oficio (FRIGERIO,
(FRIGERIO,
2006,
2006, p.38).
p.38).
Cabe preguntarse sobre las huellas subjetivas de las experiencias escolares en las
elecciones de los propios docentes y en los modos de habitar la propia vulnerabilidad.
Otra variante que se presenta al momento de volcar la elección a la educación
especial es asociada a experiencias infantiles más próximas al servicio hacia los demás
como lo manifiesta el director de la escuela:
Recuerdo
Recuerdo unauna motivación
motivación de de tipo…
tipo… nono sé,
sé, de
de servicio
servicio ¿no?
¿no? Una Una cosa
cosa así
así me
me
parece
parece que
que había,
había, porque
porque yoyo iba
iba aa iglesia,
iglesia, aa grupos
grupos juveniles
juveniles de
de iglesia…
iglesia… bien
bien de
de
congregación,
congregación, deldel Sagrado
Sagrado Corazón.
Corazón. Y Y estaban
estaban los
los grupos
grupos juveniles
juveniles ahí
ahí yy uno
uno era
era
dirigente
dirigente de…
de… NoNo eraera la
la Acción
Acción Católica
Católica ¿no?,
¿no?, era
era algo
algo muy
muy chiquito,
chiquito, de de barrio,
barrio,
más
más parecido
parecido aa los
los scouts
scouts que
que aa otra
otra cosa.
cosa. No
No con
con gran
gran organización,
organización, eraera el
el grupo
grupo
juvenil
juvenil de
de la
la parroquia,
parroquia, esoeso digamos.
digamos. Y Y ahí
ahí siempre
siempre estaba
estaba como
como orientado
orientado para
para
ese
ese lado,
lado, qué
qué sésé yo…
yo… para
para ir
ir aa misionar,
misionar, para
para ir
ir aa la
la escuelita,
escuelita, esta
esta mirada.
mirada. Y Y
calculo
calculo que
que fue
fue la
la intención
intención de de seguir
seguir algo
algo dede tipo
tipo así,
así, social,
social, de
de servicio,
servicio, que
que
después…
después… queque por
por ahí
ahí no
no tiene,
tiene, me
me parecía
parecía que
que no
no tenía,
tenía, mucho
mucho queque ver
ver con
con unun
trabajo
trabajo sino
sino con
con eso
eso dede seguir
seguir haciendo
haciendo algoalgo por
por otros,
otros, una
una cosa
cosa así.
así. (EDEE,
(EDEE,
septiembre
septiembre del
del 2015)
2015)
Por otra parte, la elección se liga a la propia experiencia escolar y a las ofertas
formativas que el sistema educativo ofrece, como lo relata la docente más joven de la
escuela:
Yo
Yo en
en realidad
realidad había
había pensado
pensado en
en lala docencia.
docencia. Cuando
Cuando estaba
estaba enen la
la secundaria,
secundaria,
tenía
tenía un
un profe
profe de
de psicología
psicología copado
copado yy yo
yo quería
quería estudiar
estudiar psicología
psicología porque
porque elel profe
profe
era
era muy
muy copado.
copado. LaLa escuela
escuela me
me gustaba.
gustaba. Pensando
Pensando en en los
los profesorados,
profesorados, decidí
decidí
anotarme
anotarme enen primaria,
primaria, mi
mi prima
prima yaya estaba
estaba recibida
recibida dede maestra,
maestra, entonces
entonces fuifui al
al
Etchegaray
Etchegaray aa anotarme
anotarme yy estaban
estaban promocionando
promocionando la la carrera
carrera de
de educación
educación especial,
especial,
yy había
había muchos
muchos profes
profes de
de especial
especial que
que contaban
contaban cómo
cómo era.
era. Entonces,
Entonces, dije
dije bueno,
bueno,
para
para probar
probar me anoto. (EMEE,
me anoto. (EMEE, octubre
octubre del
del 2015)
2015)
significa imposibilidad, por el contrario, requiere “conciencia77 del trabajo, a la vez sobre el
mundo interno y trabajo público y político” (FRIGERIO, 2006, p.38).
Sin embargo, para amalgamar una posición común, encontrar respuestas a lo
inesperado, pensar aquello del orden de lo impensable, estos maestros se han transformado
en maestros viajeros, maestros pensamiento, maestros ensayistas. El punto de partida, la
escuela. Punto de llegada, la infancia, la educación y la igualdad como nuevo punto de
partida. O podría pensarse también al contrario: la infancia y la igualdad como puntos de
partida y la escuela como punto de llegada y otra vez de partida. La cuestión parece no
estar ni en una punta ni en la otra, sino más bien en vivir la educación como un viaje: la
formación y la vida como ensayo (KOHAN, 2016).
1. escuela puerto: maestros que llegan y parten
Los itinerarios confluyen. Contingencias, historias infantiles, decisiones adoptadas
por influencia familiar, elecciones profesionales más especializadas confluyen al momento
de concluir la formación y enfrentar la necesidad de obtener un puesto de trabajo, ello
implica atravesar la opacidad de la burocracia del sistema educativo bonaerense que
implica: la obtención del primer cargo, pasar de escuela en escuela realizando suplencias,
alcanzar un puesto de trabajo como titular y la elecc