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Diego Cunha Rocha

PIERO SRAFFA – AS LEIS DOS RENDIMENTOS SOB CONDIÇÕES


DE CONCORRENCIA

A princípio em seu artigo de 1926, Sraffa irá analisar as inconsistências internas à teoria
neoclássica (a incompatibilidade das leis dos rendimentos não proporcionais com o resultado da
concorrência perfeita em equilíbrio parcial). O artigo pode ser dividido em uma parte de critica
(construtiva) e outra parte positiva.
Na parte da crítica, ele vai contestar em relação do formato principalmente da curva de oferta
no curto prazo, que a curva não se mantém pelas próprias medidas do modelo. A parte positiva, ele vai
tentar mostrar como pode tentar trabalhar a partir de premissas de alguns neoclássicos e clássicos uma
realidade, saindo da teoria para a realidade.
A parte critica pode ser dividida em 3 partes.
A primeira não é exatamente uma crítica, Sraffa, acusa a escola neoclássica de manipular as
leis de rendimentos não proporcionais (tanto as leis de rendimentos crescentes, como a lei doa
rendimentos decrescentes), de forma a obter o cruzamento das curvas de oferta e demanda simétrica, ou
seja, explicar a determinação simultânea do par preço-quantidade no mercado. De acordo com o Sraffa
os economistas neoclássicos, para explicar o formato da curva de oferta manipulam as leis dos
rendimentos não proporcionais originais da teoria clássica, pois eles tinham o objetivo de obter uma
curva de oferta com o formato que já havia sido definido a priori.
A lei dos rendimentos decrescente original é decorrente da teoria Ricardiana da renda da terra,
ou seja, essa lei é decorrente das características técnicas do solo, explica somente a distribuição renda da
terra e lucro. A partir disso os neoclássicos vão modificar essa lei de rendimentos decrescente como se
fosse uma lei geral, ocorrendo assim em todos os âmbitos de produção (fatores da economia).
A lei dos rendimentos crescentes na teoria clássica advém da divisão interna do trabalho, não
sendo uma característica derivada do aumento na escala de produção, sendo derivada do aumento
interno da divisão do trabalho, interno a firma. Isso faz com que haja uma curva de custo negativamente
inclinada, o que conduz a uma curva de oferta negativamente inclinada. De acordo com isso, a lei dos
rendimentos crescente, teve que sofrer uma grande transformação, pois essa divisão do trabalho não é
aceita pelos neoclássicos, sendo que eles precisam explicar o formato da curva de oferta que tem quer
ser positivamente inclinada, para ela ser positiva é necessário que haja uma curva de custo
positivamente inclinada. Sendo assim, os neoclássicos vão explicar as vantagens do crescimento da
firma, abandonando essa divisão interna do trabalho, se o crescimento não pode ser interno a firma, eles
vão aceitar que as economias devem ser externas a firma, para assim explicar as vantagens do
crescimento da firma, com isso consegue-se deslocar toda a curva de custo marginal e custo médio.
Portanto a escola neoclássica adotou a inaceitável generalização dos rendimentos decrescentes
como um princípio geral minimizando a relevância das economias internas à empresa e valorizando a
importância das economias externas.
A segunda parte da critica construtiva que Sraffa faz, a toda essa se refere às críticas análise
com relação as leis dos rendimentos não proporcionais sob a ótica do equilíbrio parcial em concorrência
perfeita e foi a crítica mais decisiva. Para ter equilíbrio parcial, é necessária a independência da curva de
oferta da firma em relação às outras curvas de oferta de outras indústrias assim como a independência da
curva de oferta em relação a curva de demanda. A partir dos pressupostos da teoria e constata
inconsistências internas da própria teoria, que é exatamente a inconsistência dos rendimentos marginais
não proporcionais sob condições do equilíbrio parcial em concorrência perfeita.
Essa inconsistência vai ocorrer, pois como as firmas compartilham os mesmos fatores de
produção, ela vai aumentar através da utilização mais intensa desse fator em comum. Mas se houver
custos variáveis (tanto crescente como decrescente), não será possível obter a independência das curvas,
ou seja, se a lei dos rendimentos marginais crescentes ou decrescentes, pela ótica do equilíbrio parcial é
incompatível com a premissa do modelo neoclássico, pois como as firmas compartilham os mesmos
fatores de produção, se uma delas decidir aumentar a produção, e esse aumento só será possível através
da utilização interna desse fator, como possui rendimentos marginais decrescente, vai impactar no preço
desse fator e nos custos das outras firmas que utilizam esse mesmo fator de produção, de modo que não
se consegue obter a independência das curvas de oferta dessa firma que aumentou a produção em
relação as outras, com isso não se consegue obter o equilíbrio parcial, pois a curva de oferta das firmas
possuem uma interdependência. Dessa maneira é incompatível com os rendimentos decrescentes e as
economias externas com origem na economia geral.
Terceira parte da critica se refere às leis dos rendimentos marginais crescentes, se dá as
economias externas marshallianas. Sabendo que se ocorrer aumento de produção de uma firma, isso irá
gerar um impacto nos custos das outras firmas que compartilham os mesmo fatores de produção, ou
seja, não haverá equilíbrio parcial, pois haverá interdependência das curvas das firmas. Marshall mostra
que as economias externas têm que ser externas as firmas, mas internas ao mercado, ou seja, a curva de
oferta neoclássica não poder ser uma curva geral no mercado.
Parte positiva
Nessa parte Sraffa vai contestar ate que ponto a teoria da concorrência perfeita se difere da
realidade. Pela teoria da concorrência perfeita, a firma tem uma curva de demanda infinitamente elástica
dada o nível de preço de mercado, ou seja, as firmas não têm poder sobre a variável preço. O produtor
individual não é capaz de afetar deliberadamente o preço (único) de mercado, elas aceitam o nível de
preço podendo produzir qualquer quantidade de produto.
Segundo Sraffa, a concorrência perfeita exige que o mercado seja atomístico (grande número
de pequenas empresas) e também expressando a ausência de preferência, as empresas operam sob custo
marginal e custo médio crescente, de modo a garantir as condições de equilíbrio do modelo (igualdade
entre o custo marginal e receita marginal).
Com estas hipóteses, o limite ao crescimento da produção decorreria das condições internas de
produção da empresa, e não das condições externas de mercado. Sraffa vai dizer que isso não condiz
com a realidade, porque temos um mercado onde há diferenciação de produtos e não ausência de
preferência.
No que se refere a demanda, Sraffa vai dizer que a demanda não esta compatível com a
realidade, o que temos é curvas de demanda individual negativamente inclinada, isso significa que o
aumento da quantidade produzida e vendida só é realizado através de reduções do preço ou aumento de
custos de comercialização e marketing, fazendo com que a demanda seja decrescente conforme a
necessidade do aumento da produção.
A substituibilidade não é perfeita, porem existe nesse sentido o que se observa é que as firmas
tendem a operar sob custos decrescentes pelo menos até a capacidade produtiva ser plenamente
empregada. As causas da existência de preferência podem ser objetivas (qualidade, proximidade,
possibilidade de credito) ou subjetiva ( confiança, costume nome da marca). Em qualquer um dos casos
os produtos não são homogêneos e, portanto a curva de demanda de cada produtor não pode ser
considera infinitamente elástica. Cada produtor possui uma clientela o que lhe confere certa posição
privilegiada, vantagens de “monopólio”. Quanto menor elasticidade dessa demanda em relação ao
preço, maiores serão os poderes de cada um dos produtores com relação a essa clientela individuais.
Ademais, Sraffa acentua as novas características da concorrência entre as firmas geradas pela
concentração da produção e pelo advento do Marketing, ao mostrar que as firmas precisam reduzir os
preços ou assumir custos comerciais para aumentar as vendas, e por isso enfrentam curvas de demanda
negativamente inclinadas, em vez da curva de demanda horizontal conforme a concorrência perfeita.
Logo, Sraffa explica que é necessário abandonar as leis dos rendimentos não proporcionais e voltar a
assumir rendimentos constantes da teoria clássica para manter a análise da concorrência, ou se aceita a
lei e foca a atenção no oligopólio, abandona-se a análise da concorrência perfeita.
Sraffa não desenvolveu, e nem pretendeu, um modelo alternativo mas adiantou conceitos e
ideias importantes sobre as reais condições de concorrência dos mercados: diferenciação de produto,
importância das preferências dos consumidores, papel dos gastos de venda, noção de que a empresa leva
em conta as possíveis reações de seus competidores e resiste a reduzir preço e possibilidades de lucros
extraordinários como resultado da existência de barreiras à entrada

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