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1. Ver em Apêndice
QUINTA PARTE Documental B3 doc. n.º
23.
Ora, esta sequência é muito significativa, como iremos ver. Os 6. Ibid. docºs. n.º 22 e nº
‘patrióticos’ recusavam dar qualquer crédito à notícia do 23.
desaparecimento de Delgado; pelo contrário, à semelhança da 7. Ibid. docºs. n.º 21 e nº
campanha dos salazaristas dentro de Portugal desenvolveram uma 22.
intensa campanha junto dos núcleos da emigração política
8. Ibid. docº. n.º 18
portuguesa e na imprensa internacional tendente não só a
desacreditar Delgado, mas também todo aquele que apelasse à 9. Os signatários eram:
salvação da vida do general. Enquanto o faziam, aproveitaram-se da Alzira Carvalho Seabra,
António Brotas, Fernando
situação para tentar apoderar-se do bureau e do arquivo. Com essa Echevarria, José Augusto
finalidade, já estavam a agir, como se o general tivesse realmente Seabra, Helder Veiga
desaparecido 2. Pires, Maria Luisa Hipolito
dos Santos, António
Gomes Paula Figueiredo,
Para qualquer solidariedade com o anti-salazarista que, oito meses José Moura Marques,
antes, era o ‘chefe incontestável da oposição’, não só se recusaram a Adolfo Ayala.
levantar um dedo mas, ao invés, tudo fizeram para sabotar a 10 Anexo ao doc. Nº 18.
campanha que os amigos de Delgado se esforçavam por
desencadear. 11 Apêndice Documental
B3, Docº Nº 20.
16 Ibid.
Quando eu e os meus amigos soubemos, no dia seguinte, que os
dirigentes da Frente Patriótica tentaram apoderar-se do arquivo do 17 Ibid.
general, a conclusão foi unânime: só teriam essa desfaçatez se
18 Henrique Cerqueira,
tivessem a certeza absoluta que Delgado já não voltaria mais. Sendo op.cit.
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Conclusão subjectiva? Talvez assim fosse na altura. Embora a nossa 20 Ver em Apêndice
subjectividade se baseasse em qualquer coisa de muito objectiva—ou Documental B3, docº. nº
24.
seja, a experiência vivida ao longo de dois anos sobre a falta de
escrúpulos por parte dos inimigos de Delgado. 21 Outubro de 1978.
22 Tanto os 'patrióticos'
Contudo, meses depois, veio uma inesperada confirmação dessa como Emídio Guerreiro
conclusão ‘subjectiva’. O jornal Semana Portuguesa de São Paulo, na vieram a reivindicar a
sua edição nº 102 de 31 de Julho de 1965, publicou uma carta do 'honra' de terem sido eles
a conseguir a libertação
eng. Tito de Morais, comentando notícias sobre os acontecimentos de dos portugueses presos.
Argel6. Além de conter muitas falsidades e confusões de vária Estavam à vontade para
ordem, a carta dizia: inventar tal mito. O
distanciamento da Josie
Quando se tornou evidente que o General Delgado não regressaria a Fanon tanto do regime de
Argel por ter sido preso ou assassinado pelos agentes do fascismo Ben Bella como do de
que lhe armaram a cilada de Badajoz, solicitámos a devolução dos Boumedienne e a sua
escrupulosa postura de
documentos da Junta… neutralidade política nos
assuntos internos
Este parágrafo é muito elucidativo. Só depois da descoberta dos argelinos, eram garantia
suficiente que nem ela,
cadáveres, anunciada no dia 27 de Abril, é que a Frente Patriótica nem eu, iamos alguma vez
abandonou a tese de uma ‘operação publicitária’ por parte do vir a público nesses
general; só então, quando o mundo inteiro já sabia da morte do tempos falar da sua
intervenção junto de Ben
general, é que eles começaram a emitir protestos e apelos, Bella. No entanto cada
recorrendo aos argelinos para se apoderarem do bureau e dos um dos portugueses que
documentos. O parágrafo acima citado, da carta de Tito de Morais, foram presos lhe
agradeceram
não diz quando é que para ele se tornou evidente que o general teria pessoalmente a sua
‘sido preso ou assassinado’. Mas foi-o forçosamente antes do actuação.
aparecimento dos cadáveres, senão a referência à possibilidade do
23 Documentos exibidos
general ter sido preso não faria sentido7. na RTP.
Então, quanto tempo antes é que se tornou evidente para Tito de 24 Evidentemente que me
Morais e comparsas que o general não regressaria mais? Logo em queixei à polícia. Pouco
depois recebi, em casa de
Fevereiro? E quais as fontes de informação dos ‘patrióticos’? Como Josie Fanon, a visita de
era hábito deles recorrer às autoridades argelinas, será que dois agentes espanhois,
aproveitaram a conveniente presença da polícia espanhola em Argel devidamente
identificados, que queriam
para confirmarem o desaparecimento de Delgado? mais informações sobre o
assunto. Com a maior
Mesmo se admitirmos que não foi tão cedo que ‘se tornou evidente’ e naturalidade explicaram
que a intervenção da polícia argelina no dia 25 de Fevereiro fora que estavam em comissão
de serviço junto da polícia
‘fortuita’, sabemos pela declaração do próprio Tito de Morais que a argelina, que
Frente Patriótica estava convencida, antes do aparecimento dos conheciam bem Portugal
cadáveres, que o general ‘não regressaria à Argélia’. e que gostavam muito dos
portugueses.
Está assim confirmado que essa Frente prosseguia a sua miserável 25. Este artigo, 'A
campanha de dessolidariedade, apesar de convencidos que alguma oposição portuguesa
depois da morte de
coisa de grave acontecera ao general. Delgado', que figura no
n.º 21, Junho/Julho-
Agosto de 1965, pp. 23-
33, daquela revista, vem
14. Os ‘Patrióticos’ Desmascarados reproduzido na integra no
Apêndice Documental A.
É evidente que a campanha de difamação conduzida pelos dirigentes 26 Le Monde, 'Le Silence
da FPLN suscitou vivos protestos da parte de núcleos de exilados du Portugal', 7.12.1965 e
seguintes.
portugueses espalhados pelo mundo. Em Argel, nove portugueses
divulgaram, no dia 12 de Março, uma declaração alertando para o 27 Le Monde,
desaparecimento do general e condenando a atitude da FPLN pelo 'Correspondance',
13.1.1966.
seu silêncio e falta de solidariedade8. Os signatários repudiavam
também o aproveitamento feito pela FPLN na ausência de Delgado 28 Curiosamente, Carlos
para tentarem apoderar-se dos seus bens. Os nove subscritores Lança foi recusada um
visto de trânsito pela
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eram membros da JAPPA9. A declaração era acompanhada por uma Embaixada francesa, e
uma carta metida por ele
cópia de um telegrama de solidariedade assinado por José Morgado e no aeroporto em Paris
Ruy Luís Gomes10. onde mudou de avião
Um comunicado infame nunca chegou ao seu
destino.
No dia 23 de Março a Frente Patriótica viu-se obrigada a quebrar o 29 Ver os documentos
silêncio que mantivera até aí, salvo nas emissões escabrosas da Voz reproduzidos no Apêndice
da Liberdade, pelas vozes de Alegre e Ervedosa. Ao referir-se ao Documental C. Contudo,
além do que foi publicado
general Humberto Delgado, o comunicado da FPLN declara, inter alia, a meu respeito, também
que … a sua actividade é prejudicial à unidade anti-fascista e a sua houve intrigas. Enquanto
pessoa não interessa ao futuro democrático do país …11. eu trabalhava no Gabinete
de Estudos e Planeamento
Levanta dúvidas quanto ao alegado desaparecimento do general por do Ministério da
ter origem em … um tal sr. Henrique Cerqueira12, residente em Educação, em 1974-75, o
Rabat, pessoa destituída de idoneidade política, que se apresentou Director do GEP, o Eng.
António Brotas foi
primeiramente como ‘porta-voz’ do general Delgade, posteriormente, chamado ao Ministro, o
segundo um ‘testamento político’ que o próprio general lhe teria MFA, Emílio Silva. Este
confiado, como seu ‘herdeiro político’. queixou-se de que Brotas
tivesse nomeado para
funcionária do Ministério
O comunicado enumera então uma série de motivos considerados uma senhora que seria um
suficientes pela FPLN para reputar como inverosímeis as notícias do agente duma potência
estrangeira. Brotas, que
desaparecimento de Delgado13. bem conhece as
manigâncias do bando de
Argel, recusou as
acusações, remetendo-as
Democratas denunciam o comunicado da FPLN para o emissor—Piteira
Santos.
No dia 31 de Março, António Brotas, José Augusto Seabra e Fernando
Echevarria14 divulgaram um comentário a este comunicado dos
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‘patrióticos’15. Os assinantes escalpelizaram ponto por ponto as
pretensões dos dirigentes da Frente Patriótica, desmascarando as
contradições e a sua má fé, caminho em que persistiram, depois do .
25 de Abril até hoje, para esconder o seu vergonhoso papel no ‘caso
Delgado’.
Nesse mesmo dia, Emídio Guerreiro escreveu uma carta a Manuel
Sertório, cujas cópias foram divulgadas pela Frente Portuguesa em
Argel15. Em palavras apaixonadas, Guerreiro protestava
veementemente contra o comportamento e o comunicado de Sertório
e seus comparsas:
… A vossa atitude é escandalosa. É politicamente horrível! Ela é
desumana e perigosa, porque permite à PIDE fazer o que quiser do
general, se…já não o fez16.
15. As Prisões
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Aparece a polícia
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Perante isto, vimos que não havia nada a fazer senão obedecer.
Descemos os oito andares às escuras, pois havia muito tempo que os
elevadores e as luzes nas entradas tinham deixado de funcionar na
maioria dos prédios argelinos. Lá em baixo, entrámos nos Peugeots
da polícia, que arrancaram logo para fora da cidade.
Nunca antes fora presa, por isso a minha preocupação principal foi
manter-me calma, não provocar a polícia e procurar aproveitar uma
característica dos árabes, a sua susceptibilidade a um tratamento
delicado por parte de europeus. Os rapazes foram correctos e até
gentis comigo. Resolvi tentar saber do que se tratava. Mostrei-lhes
tudo o que havia no meu apartamento, que eles revistaram muito
sumariamente. Sob pretexto de inanição, pedi licença para fazer um
café. Que também lhes ofereci. Então perguntaram-me como
explicava eu falar francês com um sotaque inglês. Expliquei e
mostrei-lhes exemplares dos meus escritos sobre Portugal. E eles,
cada vez mais encavacados, finalmente admitiram que se tratava de
um inquérito sobre o caso Delgado.
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• Adolfo Ayala
• Amílcar Castanhinha e esposa
• António Gomes Paula Figueiredo
• António Tavares
• Carlos Lança e esposa
• Fernando Bettencourt Rosa e esposa (francesa)
• José Ferreira da Silva
• José Moura Marques
• Manuel Fernandes Vaz
• Marcelo Fernandes e esposa
• Raymond David e esposa (franceses)
Com excepção da Fernanda Castanhinha, Joaquina Fernandes e eu
própria, os outros continuaram presos.
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E assim procedi.
Josie Fanon, que além do seu prestígio como viúva do grande Fanon,
era uma jornalista conhecidíssima em Argel, resolveu que a
estratégia mais correcta seria intervir, como nossa amiga íntima, a
favor de Carlos Lança e não pretender tomar partido na querela
entre os delgadistas e a FPLN. Dar a conhecer a situação de Carlos e
as circunstâncias das prisões, seria automaticamente dar publicidade
a todos, no plano argelino.
Ao longo de três dias, acompanhei Josie Fanon aos gabinetes das
mais poderosas entidades argelinas. Parecia que ninguém sabia nada
do assunto, até chegarmos a falar com o comandante da
gendarmerie de Argel, o coronel Ben Sharif. Este informou-se logo.
Era um homem temível, conhecido pela alcunha de ‘o tigre’. As
prisões tinham sido efectuadas, disse-nos, por um sector da polícia
dependente da presidência e sobre o qual ele não exercia poder. ‘O
tigre’ lamentou muito, mas as circunstâncias eram difíceis. Se tivesse
acontecido alguns dias atrás… Só mais tarde percebemos que as
circunstâncias foram realmente difíceis: um golpe de Estado estava
em preparação e os argelinos não estariam muito dispostos a
preocupar-se com problemas de menos importância.
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Foi então que Josie Fanon decidiu fazer uma coisa que até lá, por
princípio, nunca fizera, apesar do prestígio que, na Argélia
independente, cobria o seu nome: pedir um favor pessoal a Ben
Bella.
Que lhes valeu tal atitude? Nenhum deles foi chamado a elucidar,
imparcialmente, o caso Delgado. Pelo contrário, Fernando Piteira
Santos, o mais feroz inimigo do general, seria a pessoa chamada a
depor em Espanha pelo juiz Crespo Marquez como testemunha do
processo do assassínio de Delgado. Deslocou-se de Argel, no dia 18
de Abril de 1966, com um salvo-conduto das autoridades franquistas.
No mesmo dia partiu para Roma outro dos inimigos principais de
Delgado, o fraudulento Ramos de Almeida. Naquela cidade deu uma
conferência de imprensa, apresentando aos jornalistas as conclusões
principais da análise dos documentos apresentados ao tribunal
espanhol por Piteira Santos!
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O golpe de Estado
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