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Carta aberta ao leitor

UM OLHAR AO DESENVOLVIMENTO HUMANO EM MOÇAMBIQUE À


LUZ DO MODELO BIOECOLÓGICO

O modelo bioecológico de Bronfenbrenner (1996) defende que os factores existentes


nos diferentes ambientes não actuam de forma independente, por isso, o
desenvolvimento saudável dos indivíduos é resultado da relação entre esses factores.

A abordagem Bronfenbrenner, se contextualizada ao actual cenário de Moçambique


caracterizado pelo desenvolvimento do país no seu todo e das pessoas de modo
particular, pode suscitar uma reflexão crítica devidamente enquadrada, quer na esfera
social, bem como na esfera mental do desenvolvimento.

Isto é, este modelo, ao vincar a ideia de que o desenvolvimento é influenciado por


relações recíprocas progressivamente complexas, nas quais o sujeito é activo, pretende,
de alguma forma, chamar atenção para a necessidade de entendermos que não é possível
termos uma evolução bioecológica, ou seja, saudável e equilibrada, se optarmos pelo
desenvolvimento de uma parte da sociedade e de algumas pessoas em prejuízo de
outros. E, parece que o tecido social moçambicano está a reclamar da ausência do
desenvolvimento equilibrado à luz do modelo bronfenbrenneano.

Esta singela opinião pode parecer leviana e provocatória para um certo círculo de
moçambicanos, mas a ideia não é essa. Na verdade, o fundamental é convidar o leitor a
reflectir sobre os malefícios de um possível desequilíbrio bioecológico no seio da
sociedade moçambicana.

Bronfenbrenner (1996) afirma que, ao visualizar os factores de risco e de protecção em


todos os sistemas, amplia-se o objectivo das acções de prevenção do possível
surgimento de problemas de saúde mental ou do desenvolvimento humano. Isto é, ao
intervir na promoção de competências pessoais (factores de protecção) para a prevenção
de desfechos negativos (factores de risco e de transtornos mentais) em saúde mental,
pode obter-se resultados potencializados e agregados a acções de desenvolvimento de
serviços da comunidade e das políticas públicas.

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Na sociedade moçambicana, parece que o desenvolvimento humano está a seguir uma
lógica em que os factores de desenvolvimento não estão sincronizados, se olharmos
para o que está a acontecer nos vários distritos da província de Cabo Delgado, a inédita
morte de um famoso activista no Xai-Xai, os baleamentos em Maputo, os deslocados
em Nampula, as horas extras dos professores no período da COVID-19, os subsídios de
reintegração da nobreza nacional e a reclamação dos estudantes a uma nova forma de
estar face a pandemia.

O exposto no parágrafo anterior pode alicerçar a tese do modelo bioecológico, segundo


a qual não existe desenvolvimento humano equilibrado e saudável quando os factores
desse tal desenvolvimento não estão sincronizados.

Se o desejo dos moçambicanos for o desenvolvimento humano tal como tem sido
propalado, é chegada a altura de repensarmos nesse mesmo modelo, sob pena de
continuarmos a assistir aos actuais cenários sociopolíticos caracterizados pela existência
de factores de risco e não de protecção ao desenvolvimento humano equilibrado e
saudável.

Maputo, 21 de Julho de 2020

Mazuze

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