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DIFERENTES MODOS DE
VER MATRIX”
RESUMO
***
PALAVRAS CHAVES
Arte técnica, Estética, Matrix, Rede, Virtualidade, Interatividade,
Mitologia.
***
1
Professor do Programda de Pós Graduação da Universidade Tiradentes. Mestre em Educação pela UFS
e doutor em Ciencias da Comunicação pela ECA/USP. Coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ
“Educação, Comunicação e Sociedade e do Nucleo Estadual de Educação Profisisonal a Distancia.
2
e Hugo Weaving, nos papeis principais17. Sua história sugere que nosso mundo
não passe de uma imensa realidade virtual; criada por um computador ( a
“matrix” do título ( para aprisionar a população do planeta enquanto se alimenta
de sua energia. O filme mistura conceitos de religião, mitologia , filosofia,
cultura pop e uma boa dose de artes marciais. Essa mistura cria um universo
único, híbrido, cheio de possibilidades, que caracteriza a sociedade pós
clássica, principalmente no que se refere a percepção estética de mundo, das
manifestações artísticas, com as quais o homem traduz essa percepção e das
dúvidas ante o futuro.
Para explicar a dualidade catástrofe ou esperança traduzida pelo filme,
tomamos emprestado outras matrizes de interpretação, a opinião de dois
pensadores contemporâneos, Jan Baudrillard e Pierre Levy, cujas reflexões
contribuem para a compreensão da sociedade tecnológica em que vivemos e
de sua apropriação estética do mundo enquanto produção e recepção. O
antagonismo quase absoluto do pensamento de ambos serve como parâmetro
para compreender a complexidade e a pluralidade de possibilidades de
interpretação da produção cultural do homem.
O início dessa caminhada tem origem na Grécia. É profético e tão
humano quanto os mitos gregos. Fala-se entre outras coisas da relatividade, do
vir a ser constante, do movimento, da velocidade, do limite entre
real/imaginário, do desejo primitivo do homem pela perfeição, pela divindade,
ou diacronicamente, pelo mal, da esperança, e do sonho. Numa referência a
mitologia grega, é Morpheu18 o responsável por conduzir os sonhos das
profundezas de Hades até os mortais. Conta o mito que o sonho devia passar
por dois portais, um de chifre, que dava passagem aos sonhos verdadeiros e
outro de marfim, que se destinava aos sonhos falsos. Controla a resistência e
impulsiona a vida, propõe a esperança de um mundo novo, da terra prometida
e que tal qual o mito, transita entre o real e o imaginário, entre o imaginário que
queremos real e o real que queremos imaginário. É isso que move a Matrix e
que cria o filme.
Matrix nos induz a uma espécie de imersão no virtual. Essa virtualidade
que segundo Baudrillard, “Por tudo, mistura-se o que era separado; por tudo, a
distância é abolida: entre os sexos, entre os pólos opostos, entre o palco e a
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Mas, como para cada ponto há um contraponto, Virilio observa: “... não
acredito que possamos recusar a tecnologia, por assim dizer, voltar ao Ano
Um. Não podemos parar tudo para nos darmos tempo para pensar. Acredito
que é no interior da própria investigação da tecnologia que encontramos, não
uma solução, mas a possibilidade de uma solução. (...) A frase de Hölderlin -
“Mas onde o perigo cresce, cresce também aquilo que salva”- é muito
importante para mim.”25
São duas matrizes, a matriz homem, o escolhido, o novo ( Neo), e a
matriz máquina, a técnica. Há, portanto, mais de uma resposta para uma
mesma pergunta. Ou pelo menos uma outra forma de ver. O Que é Matrix? É
interatividade, um hipertexto, cheio de referências, de intertextualidades. É
cigarra, é arte.
O hipertexto opera a virtualização do texto, Levy o tem tecnicamente
como, “... um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser
palavras, páginas, imagens, gráficas ou partes de gráficos, seqüências
sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos.”26
Em Matrix é outra a forma de (inter)agir, é significação e resignificação.
De uma forma absolutamente virtual somos convidados a zappear, nos
transformamos... “num navegante da noosfera...” com um controle virtual,
resgatado de nosso próprio cérebro, “...atravessamos espaços e tempos
distintos e níveis diferentes de realidade, alinhavando as faixas de onda,
embaralhando gêneros e formatos, redefinindo, enfim, as categorias do
conhecimento.”27 Ampliando essa perspectiva para o mundo da informação
podemos dizer que o filme nos faz “navegar”, construir aos poucos um texto
novo, cheio de links, referências literárias, cinematográficas e principalmente
tecnológicas, numa parceria virtual com o roteiro.
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NOTAS
1
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez - Convite a Estética. RJ, Civilização Brasileira, 1999, p.47.
2
MACIEL, Kátia – A Última Imagem in Parente, André – Imagem Máquina, São Paulo, Ed. 34, 1996, p.
253.
13
3
idem; 46.
4
VAZQUEZ, op. cit. pag; 16.
5
COSTA, Cristina. Arte: resistências e rupturas: ensaios de arte pós clássica. São Paulo, Ed. Moderna
1998; 28.
6
idem. Pag;89.
7
VAZQUEZ, op. Cit. Pag;11.
8
VÁZQUEZ.idem. ibdem. pag. 42.
9
“Paul Virilio observa que a “Era Paradoxal”, substitui a Era Lógica e se inicia com a videografia, a
holografia e a infografia. Atinge a alta definição, Não apenas como resolução técnica, mas, sobretudo
como substituição do real. A imagem define o real, portanto o absorve e elimina. Maciel, Kátia.op. cit.
pag. 253.
10
COSTA. Op.Cit. pag. 66.
11
idem. Ibdem.
12
FURTADO, Fernando F. Fiorense Trem e Cinema. São Paulo, Ed. Cone Sul; 1998.
13
idem. Pag; 32.
14
KUMAR, Krishan, Da Sociedade Pós-Industrial á Pós-Moderna: Novas Teorias sobre o Mundo
Contemporâneo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1997; 157.
15
FURTADO. Op. Cit. Pag;41.
16
SET, São Paulo: Ed.143. Maio-ano13-N 5.
17
O elenco traz também as presenças de Gloria Foster, Joe Pantoliano, Marcos Chong, Paul Goddard,
Robert Taylor, Julia Arahanga, Matt Doran, Belinda McClory e Ray Anthony Parker.
18
Morpheu (o sonho) é filho de Hypnos (o sono), que é filho de Hades, Deus dos Infernos.
19
BAUDRILLARD, Jean. Tela Total: mito-ironias da era do virtual e da imagem. Porto Alegre, Ed.
Sulina,1997. pag. 145.
20
idem. Pag; 147.
21
LUCINDA, Elisa - Eutiamo e suas estréias. Rio de Janeiro, Ed. Record;1999; 171.
22
BAUDRILLARD. Op. Cit. Pag; 148.
23
idem. Ibdem.
24
In KUMAR, Krishan – op. Cit. p. 136.
25
Ver Virílio in Furtado. Op. Cit. pag; 43.
26
LEVY, Pierre Tecnologias da Inteligência, São Paulo, Ed. 34;1993.pag; 33.
27
idem. Ibdem.
28
Shermam, Ton & MACHINES. R. U. S. in DOMINGOS, Diana – A arte no sec. XXI, São Paulo,
UNESP, 1997, pag; 71.
29
Ver Machado in FURTADO. op. cit. pag; 145.
30
LEVY, Pierre - Cibercultura, São Paulo, Ed. 34, 1999, pag. 74.
31
LEVY, Pierre. O Que é Virtual, São Paulo, Ed. 34. 1996; 78.
32
CASTRO. Op. Cit. pag; 95.
33
LEVY, Pierre – Ideografia Dinâmica: rumo a uma imaginação artificial, São Paulo, Ed. Loiola, 1998, p.
63.
Sobre o autor:
Ronaldo Nunes Linhares
Professor da Universidade Tiradentes, Mestre em Educação pela UFS e Doutor em
Ciência da Comunicação pela USP.