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Aplicação do método de captura-recaptura para estimar o

rendimento do professor em sala de aula.

Erinaldo Leite Siqueira Júnior¹


Bruno Sousa Lyra²
Cintia Maria Lopes Ferreira³

Resumo:

O método de captura-recaptura tem sido utilizado em várias áreas como na


Ecologia e Epidemiologia. Inicialmente tinha-se o intuito de estimar o tamanho total de
uma população. Posteriormente, observou-se que seria possível dentro de uma
população desconhecida ou de difícil conhecimento, estimar uma quantidade de uma
população em particular, com características próprias. Neste contexto, faremos uma
breve evolução histórica do método e aplicaremos o método para estimar o rendimento
dos professores em sala de aula para uma matéria em específica.

Palavras-chave: Método de captura-recaptura, estimadores.

Introdução

O estudo sobre o método de captura-recaptura vem sendo utilizado desde 1783,


por Laplace, para a estimação populacional na França [1]. Em 1896, o pesquisador
dinamarquês Carl G. J. Petersen foi o primeiro a empregar este método no estudo de
fluxo migratório de peixes no mar Báltico. Em 1930 Frederick Lincoln utilizou para
estimar o tamanho da população de patos selvagens da América do Norte [2]. Nas
décadas de 30 e 40 observou-se um consistente desenvolvimento teórico e aplicado do
método. Estudos vêem sendo feitos para estimar e monitorizar o tamanho das
populações de várias espécies, em populações fechadas e abertas. Este processo faz a
estimativa correta de incidência e prevalência, ainda que os dados sejam fornecidos de
forma incompleta [1].
Há vários métodos para a obtenção dos melhores estimadores de acordo com
algumas situações específicas. Dispomos de abordagens para a estimação do tamanho
populacional: a clássica, Bayesiana, outra relacionada com a aplicação de modelos log-
lineares para tabelas de contingência incompletas [2]. São várias as aplicações para este
método. Dentre as quais encontramos no estudo das populações incomuns ou esquivas,
como usuários de drogas endovenosas. Tem sido usado para estudar populações
diversas como prostitutas que trabalham na rua ou volume de células vermelhas no
homem. Permite ainda estimar a incidência e a prevalência de doenças de forma mais
precisa do que os métodos tradicionais e com uma melhor relação custo-benefício [1].
Há autores que propõem um modelo teórico para a implantação de um sistema de
vigilância do diabetes mellitus na população idosa, baseado na utilização de fontes de
morbidade e mortalidade usualmente disponíveis em nosso meio. Para estimar os casos
e óbitos, é possível aplicar a metodologia, utilizando a fórmula de Chapman [3].
Encontramos também uma aplicação na estimação no número de defeitos distintos em

¹ Doutorando de Biometria e Estatística aplicada UFRPE, juniorbr32@msn.com ; ² Doutorando de Matemática


computacional UFPE, brunosousalyra@hotmail.com; ³ Mestranda de Biometria e Estatística Aplicada UFRPE,
cintiamlf@hotmail.com.
inspeções de produtos, usando estimadores Bayesianos [4]. Outra aplicação é na
estimativa dos casos de leishmaniose visceral e óbitos, aplicando-se a metodologia de
captura-recaptura, utilizando a fórmula de Chapman [5]. Neste estudo aplicaremos o
método para estimar o rendimento do professor em sala de aula de uma determinada
matéria.

Metodologia

Para o método de captura-recaptura, devemos considerar duas situações


distintas: populações abertas e populações fechadas. Defini-se como população fechada,
aquela em que não há mortes, nascimentos, migrações e emigração durante o estudo.
Diferentemente do conceito de população fechada em ecologia, onde a diferença é a
consideração os efeitos de nascimento e de morte. É necessário também que todos os
elementos tenham a mesma probabilidade de captura. Uma população é definida como
aberta, quando se considera nascimento, mortes, migração e emigrações. Entre os
estudiosos mais citados para populações abertas, estão Jolly e Seber (1965), Pollock
(1991) e Schwarz e Arnason (1996) [2].

Métodos para populações fechadas:

Utilizando uma abordagem clássica, temos o estimador de Lincon-Petersen, que


foi usado por Laplace, sugerido por C. Petersen em 1986 e popularizado por F. Lincoln
a partir de 1930. É dado por:

m2 n1 n1 n 2
N
n2 N m2
Onde:
N = Tamanho da população.
n1 = Total de elementos capturados na primeira amostra.
n 2 = Total de elementos capturados na segunda amostra.
m2 = Número de elementos capturados na primeira e na segunda amostra.

O método se procede da seguinte forma:


Em uma população com tamanho desconhecido igual a N , temos
1) O pesquisador no momento i 1 , captura, marca e solta uma amostra com
n1 elementos.
2) No momento i 2 , captura uma segunda amostra de tamanho n 2 e verifica
que m2 elementos estavam marcados.

É necessária a garantia de que a probabilidade de captura e recaptura sejam


iguais e que a marcação não modifique a probabilidade de um elemento ser capturado
[6].
No entanto este estimador é viesado para amostras pequenas, levando a uma
superestimativa do real tamanho populacional. Para isso, temos um estimador de
Chapman que é conhecido como um estimador quase viesado, dado por:
^ n1 1 n2 1
N 1
m2 1

^
Caso as amostras não sejam independentes, N será viesado. Se for observada
uma dependência positiva, ou seja, a probabilidade de captura na segunda amostra será
^
maior do que na primeira, N irá subestimar N . Caso seja observada uma dependência
negativa, ou seja, a probabilidade de captura na segunda amostra será menor do que na
^
primeira. N Irá superestimar N [3].

Aplicamos este método que é simples e econômico, para estimar o rendimento


de professores A e B do IFPE Campus Barreiros, sem antes ter que consultar histórico
escolar. Inicialmente é de suma importância garantir que a turma em estudo seja uma
população fechada, ou seja, não há migração de alunos para outras turmas ou
desistência do curso. Vale salientar que não se deve divulgar o resultado da primeira
avaliação para os selecionados, pois poderá haver um esforço e melhora no desempenho
dos alunos, causando assim uma dependência positiva na segunda amostra. Também
não divulgamos o resultado da primeira avaliação para os professores afim de que por
ventura não mudem de metodologia.

Respeitando as exigências acima, o processo aconteceu da seguinte forma:

1) No dia 20 de fevereiro de 2010, os professores da disciplina aplicaram uma


avaliação com toda a turma, selecionamos um grupo com 10% dos alunos de
rendimento ruim e marcamos estes.

2) No dia 30 de março de 2010, aplicaram uma nova avaliação. Em seguida,


selecionamos um novo grupo com 25% dos alunos, de forma aleatória
registramos as notas dos alunos e verificamos os que participaram da
primeira avaliação e a sua nota.

3) Observamos a quantidade de alunos com os conceitos definidos a seguir:


Nota inferior a 6,0 será considerada ruim: (R);
Nota superior a 6,0 será considerada bom: (B).

n1 n2
Aplicando o estimador de Lincon-Petersen: N
m2
Onde para o nosso caso:
N = Tamanho da população de alunos na sala de aula.
n1 = Total de alunos com nota (R) na primeira amostra.
n 2 = Total de alunos com nota (R) na segunda amostra.
m2 = Número de alunos capturados na primeira e na segunda amostra com nota (R).

Claramente vemos que quanto maior for o valor de m2 , isto é, das notas (R)
serem "recapturados", menor será o valor de N . Analogamente se m2 quando for
pequeno tem-se a indicação da existência de um grande número de alunos com notas
(R) que estão na sala, mas que deixaram de aparecer nas duas amostras observadas.
Estas são chamadas de ocorrências "raras". Quando m2 = 0, N é infinito. Como um
valor m2 = 0 tem probabilidade de ocorrência diferente de zero, o estimador de Lincoln-
Petersen tem esperança e variância infinitas. Chapman (1951) e Bailey (1951)
propuseram uma modificação no estimador de Lincoln-Petersen, com a finalidade de
criarem estimadores com média e variância finitas. No entanto, podemos utilizar o
estimador de Lincoln-Petersen, pois envolve apenas duas ocasiões de avaliação. Para k
> 2, onde k significa a quantidade de avaliações, a estimativa de N é obtida através de
métodos numéricos que estão implementados, por exemplo, no software Capture [4].
Mediante esta análise, se for verificada uma quantidade superior a 60% para N ,
concluímos que o professor tem baixo rendimento em sala de aula.

RESULTADOS

Cada professor leciona a 6 turmas o que aproximadamente significa um


quantitativo de 240 alunos, foi selecionado 24 alunos de cada professor e foram
marcados com nota (R) pois estavam abaixo da média. Para a recaptura foi selecionado
60 alunos e foi aferido que 12 e 21 alunos apresentaram nota ruim para os professores A
e B respectivamente. Com esse resultado concluimos que a parcela de alunos que
ficaram com rendimento ruim foi de 120 alunos para o professor A o equivalente a 50%
do seu quantitativo de alunos e de 69 alunos equivalente a 28% dos alunos em estudo
com o professor B. Esse resultado pode ser constatado com os diários de classe que
apresentou 136 alunos marcados como R pelo professor A contra um total de 65 alunos
para o professor B, mostrando de forma prática o quanto é significativo o uso de
Captura e Recaptura para acompanhar o rendimento dos alunos sem a necessidade de
grandes custos de acompanhamento e também de dedicação de vários profissionais para
avaliar cada diário de classe.

CONCLUSÃO

Sendo assim, vemos que obtivemos bons resultados na avaliação e no


diagnóstico de professores. Podemos estender este processo para estimar o rendimento
dos professores de toda uma escola ou faculdade, economizando assim serviços e
tempo, nas avaliações a respeito do rendimento e desempenho de professores. Vale
também salientar a aplicabilidade do método para quantificar diferentes metodologias
de ensino de forma a maximizar o aprendizado em uma prática que se aproximaria da
metodologia seis sigma apresentada pelos administradores para controle de qualidade.

REFERÊNCIAS

[1] DUNN, John; BRAXTER, Sérgio Andreoli. Método de captura e recaptura: nova
metodologia para pesquisas epidemiológicas. Rev. Saúde Pública vol.28 no. 6 São
Paulo Dec. 1994.

[2] PAULA, Marcelo de; ALMEIDA, Gutemberg Oliveira de; GUEDES, Ana Carolina
de Santana. O uso das distribuições Poisson e Gama na estimação do tamanho
populacional animal via modelo Bayesiano. Revista Científica da UFPA, V. 7, Nº 01,
2009.

[3] COELI, Cláudia Medina; VERAS, Renato Peixoto; COUTINHO, Evandro da Silva
Freire. Metodologia de captura-recaptura: uma opção para a vigilância das doenças não
transmissíveis na população idosa. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, out-dez, 2000.

[4] MINGOTI, Sueli A. Captura-Recaptura: usando Estimadores Bayesianos para


estimar o número total de defeitos distintos em inspeções de produtos. Produto &
Produção, vol. 5, n.3, p. 61-69, out. 2001.

[5] ELKHOURY, Ana Nilce Silveira Maia. et al. Análise dos registros de leishmaniose
visceral pelo método de captura-recaptura. Rev. Saúde Pública vol.41 no. 6 São
Paulo Dec. 2007

[6] PERES-NETO, P.R.; VALENTIN, J.L. & FERNANDEZ. F.A.S. Métodos para
estimativas de parâmetros populacionais por captura, marcação e recaptura.
OECOLOGIA BRASILIENSIS Volume II: Tópicos em tratamento de Dados
Biológicos. 01-26. 1995.

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