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ESTUDO DO ASSOREAMENTO DE UM RESERVATÓRIO PARA


ABASTECIMENTO DE ÁGUA DE CURITIBA

Matheus Galdino da Silva1; William Bonino Rauen2

RESUMO
O reservatório do rio Passaúna é um dos principais mananciais da cidade de
Curitiba. Como em outro reservatórios, as baixas velocidades do escoamento
favorecem a deposição de sedimentos oriundos de aportes da bacia hidrográfica.
Isto pode causar o assoreamento, com prejuízos à capacidade de armazenamento e
qualidade da água captada. Este estudo teve por objetivo avançar na quantificação e
no mapeamento do padrão de deposição de sedimentos no reservatório Passaúna,
com enfoque nas contribuições do rio Passaúna – seu principal afluente. Para isto,
foram realizadas campanhas de campo para monitoramento de variáveis
hidrossedimentológicas, extensão da análise de dados existentes e modelagem
computacional. As campanhas de campo contribuíram para o aumento da série
histórica de dados do rio Passaúna. Uma análise de consistência das séries
históricas e cálculos baseados na teoria de transporte de sedimentos permitiram a
geração de uma nova curva chave de sedimentos para o rio de principal aporte ao
reservatório. Com base nisto, foi estimado que a contribuição de sólidos do rio
Passaúna desde o início da operação do reservatório foi da ordem de 105 toneladas.
A modelagem computacional identificou a vazão líquida e a granulometria do
sedimento suspenso transportado como fatores determinantes para o mapeamento
do padrão de sedimentação. Notou-se que sólidos oriundos do rio Passaúna podem
atingir a região do barramento, em condições de cheia. A importância relativa de um
evento de cheia fluvial ocorrido em 2015 sobre o aporte sólido ao reservatório foi
uma ordem de grandeza superior ao da condição média de longo período, para um
intervalo de tempo similar. Isto revelou a importância de se considerar os eventos de
cheia em estimativas de longo prazo do assoreamento no reservatório Passaúna,
devido à não linearidade dos processos de transporte e deposição de sedimentos.

Palavras-chave: Assoreamento, reservatório Passaúna, modelagem computacional.

1
Aluno do 9º período do curso de Engenharia Civil e bolsista de Iniciação Científica da Universidade
Positivo. E-mail: galdinosmatheus@gmail.com. Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação Científica (PIBIC) do CNPq.
2
Professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental e do curso de Engenharia Civil da
Universidade Positivo. Doutor em Engenharia Ambiental. E-mail: wbr@up.edu.br.
2

1. INTRODUÇÃO

O assoreamento é um processo natural que ocorre principalmente em lagos,


reservatórios e regiões costeiras. Devido às características de topografia, condições
climáticas e tipos de solo de uma bacia hidrográfica potencializados pelo seu uso e
ocupação, ocorrem os processos de erosão e aporte de sedimentos aos cursos de
água. Após alcançar os cursos de água, os sedimentos estão sujeitos a fenômenos
de transporte e sedimentação. Em situações favoráveis, quando da diminuição da
velocidade do escoamento (em reservatórios de água, por exemplo), o sedimento é
depositado e compactado, causando o assoreamento (CARVALHO, 2008).

Sem uma gestão eficiente dos sedimentos, a construção de barramentos tem


potencial para alterar o estado de equilíbrio entre os processos sedimentológicos e a
morfologia dos reservatórios de água, que podem perder consideravelmente a sua
capacidade de armazenamento (SCHLEISS et al., 2016). Isto pode afetar a vazão
de regularização projetada e a vida útil do reservatório (CARVALHO, 2008).

Além disto, Carvalho (2008) ressalta que o fato de sedimentos atuarem como
portadores de vírus, bactérias e outros poluentes faz com que aqueles influenciem
na qualidade da água reservada, de modo a causar problemas como a eutrofização
e a elevar custos com o tratamento, no caso de reservatórios que alimentam
sistemas de distribuição de água.

O reservatório para abastecimento de água do Passaúna está localizado na


bacia hidrográfica do rio Passaúna, que é uma sub-bacia da bacia do Alto Iguaçu. A
bacia de drenagem do reservatório abrange 153 km² (SUDERHSA, 2002 apud
MERGER, 2007) e está em parte dos municípios de Curitiba, Araucária, Campo
Largo, Campo Magro e Almirante Tamandaré.

O reservatório do rio Passaúna possui uma área de 11 km² (PITRAT, 2010) e


produz uma vazão de 2,0 m³/s, que o enquadra como um dos principais mananciais
de abastecimento de água para a cidade de Curitiba (ANDREOLI et al., 1999).

Anteriormente, Siqueira (2014) e Sauniti et al. (2004) estudaram os processos


de assoreamento no reservatório do Passaúna com base em modelagem
3

computacional e dados obtidos em campo, respectivamente. As principais limitações


de tais estudos podem ser apontados como sendo: a defasagem, quanto à situação
atual do assoreamento – por exemplo, em reservatórios brasileiros voltados à
geração hidrelétrica, os levantamentos batimétricos devem ser atualizados a cada
dez anos (ANA/ANEEL, 2000); e a dimensionalidade e abrangência do modelo
utilizado, que não permitiu mapear a distribuição espacial do assoreamento no
reservatório e nem a contribuição de outros rios da bacia, além do rio Passaúna.
Com o uso de um modelo unidimensional, pelo menos, é possível estimar a
distribuição longitudinal do assoreamento no reservatório, o que pode ser mais
facilmente acompanhado com resultados de medições do que estimativas
espacialmente uniformes.

No contexto apresentado, o objetivo deste estudo é avançar na quantificação


e no mapeamento do assoreamento no reservatório Passaúna.

Este trabalho é parte integrante do projeto SeWaMa – Sediment Water


Management, uma parceria entre pesquisadores da Universidade Positivo,
Universidade Federal do Paraná e Karlsruhe Institute of Technology (Alemanha), do
qual o orientador deste projeto faz parte.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. APORTE DE SOLOS A PARTIR DA BACIA HIDROGRÁFICA

O estudo do transporte de sedimentos, no âmbito da hidráulica fluvial, envolve


a descrição e quantificação de processos que afetam a erosão, o transporte e a
deposição de partículas sólidas em meio aquoso (CARVALHO, 2008). Tais
processos podem ser afetados devido a atividades antrópicas e alterações naturais
do meio, que influenciam as características de uma bacia hidrográfica.

A erosão em uma bacia hidrográfica, sendo o primeiro processo na cronologia


da sedimentação, é definida por Carvalho (2008) como “o fenômeno do desgaste
das rochas e solos, com desagregação, deslocamento ou arrastamento das
partículas por ação de agentes como a água e o vento”.
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Matematicamente, a previsão de erosão de uma bacia hidrográfica pode ser


realizada com base em várias formulações propostas. Entre as mais utilizadas,
deve-se citar a Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS), proposta por
Wischmeir e Smith (1978 apud SIQUEIRA, 2014). Dentre os dados de entrada da
EUPS, destacam-se os fatores de uso e manejo do solo e cultura, práticas
conservacionistas do solo e erosividade da chuva, que podem sofrer significativas
variações ao longo do tempo.

O transporte de sedimentos em cursos de água ocorre mais intensamente em


eventos de precipitação elevada. Segundo Carvalho (2008), de 70 a 90% do volume
de sedimento que é transportado em um rio ocorre em períodos chuvosos.

2.2. ASPECTOS DE HIDROSSEDIMENTOLOGIA

2.2.1. Vazão líquida em canais abertos

A vazão de escoamento (Q) em dada seção transversal de escoamento com


área (A) e velocidade média de escoamento (V) conhecidas pode ser determinada
por meio da equação da continuidade (ÇENGEL et al., 2007):

 ∙ (01)

Em canais hidráulicos abertos e rios, que apresentam superfície livre aberta à


atmosfera local, o escoamento é tipicamente turbulento e apresenta um perfil vertical
de velocidades não linear, conforme ilustrado na Figura 1.

Figura 1 - Perfil de velocidades típico em um canal aberto.


Fonte: NZEWI (2001).
5

Para Nzewi (2001), existem duas formas amplamente aceitas para a


determinação da velocidade média de um perfil vertical de velocidades. A primeira é
medir a velocidade nas alturas de 20% e 80% da profundidade do canal em relação
ao leito e calcular a média dos valores. A segunda forma é medir apenas a
velocidade na altura de 40% da profundidade do canal em relação ao leito e
considerar este valor como a velocidade média de todo o perfil vertical. Esta
segunda abordagem é utilizada normalmente para rios rasos.

A velocidade também pode variar horizontalmente na seção transversal de


um canal. Para determinar a vazão, faz-se necessário, portanto, realizar medições
de velocidade em vários pontos previamente estabelecidos, de modo a caracterizar
de maneira mais eficiente a seção de análise com vistas à obtenção de V. Logo,
utiliza-se uma variação da Equação 1:

  ∑  ∙  (2)

Na Figura 2 é apresentado um exemplo de segmentação de áreas e


velocidades para determinação da vazão líquida em uma seção de geometria
irregular.

Figura 2 - Modelo de segmentação de áreas e velocidades para determnação da vazão líquida.


Fonte: WARD (2009).

2.2.2. Estado do escoamento em canais abertos

De acordo com Çengel et al. (2007) o escoamento em um canal aberto pode


ser classificado como subcrítico, crítico e supercrítico, a depender da relação entre
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a velocidade média de escoamento e a profundidade do escoamento. Esta relação é


apresentada pelo autor por meio do número adimensional de Froude, sendo:



 (3)
√ ∙

Onde,

V = velocidade média do escoamento, em m/s;


g = aceleração da gravidade, em m/s²;
y = profundidade do escoamento, em m;

Além disto, Çengel et al. (2007) classifica o estado de escoamento da


seguinte maneira:

Fr < 1 Subcrítico ou tranquilo


Fr = 1 Crítico
Fr > 1 Supercrítico ou rápido

2.2.3. Transporte de sedimentos

Partículas sólidas, a partir do momento em que alcançam um canal natural de


água, passam a ser transportadas e modificadas por uma série de processos
distintos (CHAPRA, 1997). Enquanto são carregadas pelo fluxo de água, as
partículas sólidas podem ser depostas no leito dependendo de sua forma e
densidade, além das características do canal (área de seção transversal, declividade
e tipo de escoamento).

Do sedimento depositado, uma porção pode ser remobilizada e transportada


com a ocorrência de fenômenos que causam turbulência próxima ao leito. Para
Chapra (1997), entre esses fenômenos estão o aumento na velocidade de correntes
de água em regiões rasas devido à ação do vento e os efeitos da ação humana, por
exemplo.

Segundo Carvalho (2008), é possível analisar as formas de transporte de


sedimentos de três maneiras diferentes: carga sólida de arrasto, carga sólida
saltante e carga sólida em suspensão, conforme esquema apresentado na Figura 3.
7

A soma das cargas de arrasto e saltante normalmente é considerada a carga de


fundo transportada.

Figura 3 - Configurações de transporte de carga sólida em um curso de água.


Fonte: SANTO (2012).

A carga sólida de arrasto abrange os sedimentos que estão constantemente


em contato com o leito de um corpo de água. Geralmente são as partículas de maior
tamanho e densidade, o que dificulta a sua suspensão.

A carga sólida saltante representa os sedimentos que alternam entre o estado


de deposição no leito e o estado de movimento em breve suspensão. Esta classe de
sedimentos, quando depositados, sofrem o estímulo de forças externas
(movimentação de sedimentos por arrasto provocando atrito, fluxo de água sobre o
sedimento e outros) que geram pressões negativas suficientes para a suspensão
momentânea das partículas sólidas.

A carga sólida em suspensão é a denominação dada às partículas sólidas


que são leves o suficiente para serem suspensas em um curso de água pelas forças
verticais oriundas do fluxo turbulento do escoamento, e que, consequentemente, são
transportadas pela velocidade horizontal do fluxo. Geralmente são as partículas de
menor tamanho e/ou densidade, relativamente às forças de sustentação, empuxo e
de transferência vertical de quantidade de movimento devido à turbulência. Esta
carga inclui tanto partículas erodidas do leito no próprio trecho fluvial, como oriundas
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do transporte suspenso de montante, que compõem a carga de lavagem (washload)


(CARVALHO, 2008).

Segundo Carvalho (2008), o transporte de sedimentos é analisado de modos


diferentes (arrasto, saltante ou suspensão), pois ainda não há um estado de arte
completo que caracterize o fenômeno de maneira inter-relacionada. Contudo,
segundo o mesmo autor, na prática é difícil distinguir o limite entre as cargas sólidas
de arrasto, saltante e em suspensão.

2.2.4. Medição das descargas sólidas

Existem duas maneiras de se mensurar o transporte de sedimentos em uma


seção de rio. Com medições no local (medição direta) e com determinação de
grandezas e análise de laboratório posterior (medição indireta). Segundo Carvalho
(2008), a medição direta resulta em determinações matemáticas simples, ao passo
que a medição indireta demanda de um processo mais elaborado e nem sempre
apresenta resultados confiáveis.

Para medições da descarga sólida em suspensão os dados de maior


interesse a serem coletados são a vazão líquida (velocidade do escoamento e área
da seção transversal do leito) e a concentração de partículas sólidas em suspensão
(CARVALHO, 2008). A descarga sólida em suspensão demanda mais empenho em
sua determinação, pois geralmente é onde se concentra a maior parte dos
sedimentos que são transportados em um rio. Contudo, métodos diretos para a
determinação da descarga sólida em suspensão são limitados, devido ao alto grau
de variação da velocidade no orifício dos equipamentos e ao tempo reduzido de
amostragem (VANONI, 1977 apud CARVALHO, 2008).

A medição da descarga sólida de arraste depende de uma série de


grandezas, além de ter características mais específicas do que o transporte de
materiais em suspensão. No que diz respeito às características naturais do
processo, influenciam neste tipo de descarga, entre outros fatores, o atrito do
sedimento com o leito e as menores velocidades de escoamento dos grãos com
maior tamanho. A respeito das medições de campo necessárias para medir este
fenômeno, as dificuldades estão em se manter as características do leito do rio fiéis
9

ao seu comportamento original com o posicionamento de equipamentos de medição


(CARVALHO, 2008). A determinação deste processo possui grau de dificuldade
elevado.

Além das medições individuais das descargas em suspensão e de arrasto, há


ainda a possibilidade de se medir a descarga sólida total. Entretanto, atualmente não
se conhece nenhum método suficientemente apto a responder a esta demanda
(CARVALHO, 2008).

Existem diversas formulações diferentes para a determinação da descarga


sólida na literatura (CARVALHO, 2008, VANONI, 2006 e SOULSBY, 1997).

Para Vanoni (2006), a escolha do melhor método de estimativa de descarga


sólida é o passo pratico mais importante de pesquisas de sedimentação. Os
diferentes métodos podem apresentar resultados muito diferentes e há sempre
dúvidas sobre o método mais eficiente para resolver um problema particular.

2.2.4.1. Método simplificado de Colby para a descarga sólida total

O método simplificado de Colby, para estimativa da descarga sólida total, é


um resultado semi-empírico baseado em outros métodos pré-existentes (como o
método modificado de Einstein) e também em diversas medições realizadas em
campo (CARVALHO, 2008).

Segundo Carvalho (2008), este método é vantajoso dado a sua simplicidade e


a quantidade dos dados requeridos. Para um posto hidrossedimentológico
conhecido, apenas a descarga líquida e a concentração de sedimentos são
necessárias.

Este método é composto por três formulações e três ábacos, que em conjunto
com as características geométricas (profundidade média e largura da seção) e
hidrossedimentológicas (descarga líquida, velocidade média de escoamento e
concentração medida em suspensão) de uma seção transversal de interesse,
estimam a descarga sólida total, conforme apresentado abaixo:

   +  (04)


10

  0,0864 ×  × ′ (05)

  ′ ×  ×  (06)

Onde,

Qst = descarga sólida total, em t/d;


Qsm = descarga sólida medida em suspensão, em t/d;
Qnm = descarga sólida não medida, em t/d;
Q= descarga líquida, em m³/s;
C’s = concentração medida, em ppm;
L= largura do rio, em m;
K= fator de correção;

Sendo os Ábacos 1, 2 e 3 apresentados a seguir.


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Ábaco 1 - Obtenção da descarga sólida não medida a partir da velocidade.


Fonte: CARVALHO (2008).
12

Ábaco 2 - Obtenção da concentração relativa a partir da velocidade e da profundidade.


Fonte: CARVALHO (2008).
13

Ábaco 3 - Obtenção do fator de correção a partir da razão de eficiência.


Fonte: CARVALHO (2008).
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2.2.4.2. Método de Van Rijn para a carga de fundo

Van Rijn (1984) propôs um método para determinar a descarga sólida de


arrasto para amostras com o diâmetro médio de 0,2 a 2,0 mm em função do
diâmetro adimensional da uma partícula média e o seu respectivo estágio de
transporte.

Este método analisa a possibilidade de movimento do leito de um canal de


água determinando a velocidade de cisalhamento no leito e comparando com o valor
crítico para esta velocidade. Sendo há velocidade de cisalhamento maior do que o
valor crítico (situação onde há movimento do leito) o estágio de transporte é superior
a zero e então a formulação proposta por Van Rijn (1984) pode ser utilizada para a
determinação da descarga sólida de arrasto. A seguir são apresentadas as fórmulas
que avaliam a ocorrência da descarga sólida de arrasto.

O diâmetro adimensional de uma partícula é dado por:

"#$%&× %/+
 ∗   ! ) (07)

Onde,

d* = diâmetro adimensional;
d = diâmetro médio, em m;
s = densidade específica do sedimento;
v = viscosidade cinemática, em m²/s;
g = gravidade, em m/s²;

O estágio de transporte de uma partícula é dado por:

-∗.
,  -∗/0. − 1 (08)

Onde,

U* = velocidade de cisalhamento no leito, em m/s;


U*cr = velocidade de cisalhamento no crítica no leito (denota iminência de
movimento), em m/s;
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A velocidade de cisalhamento no leito é função da tensão de cisalhamento no


leito e também da densidade do meio, sendo:

5
3 ∗  46 (09)

7  8 × 9 × : × ; (10)

Onde,

7 = tensão de cisalhamento no leito, em kPa;


ρ = densidade do meio, em kg/m³;
R = raio hidráulico, em m;
S = declividade, em m/m;

A função de arrasto no leito é função da velocidade de cisalhamento crítica,


sendo:

-/0∗.
<=
 "#$%&× ×> (11)

Onde a função de arrasto é determinada de acordo com o diâmetro


adimensional da partícula, apresentado nas fórmulas 12 a 16 na tabela abaixo:

Tabela 1 - Fórmulas do diagrama de Shields para determinação da função de arrasto crítico


de uma partícula.

d* ≤ 4 <=
 0,24 ×  ∗$%
4 < d* ≤ 10 <=
 0,14 ×  ∗$@,AB
10 < d* ≤ 20 <=
 0,04 ×  ∗$@,%@
20 < d* ≤ 150 <=
 0,013 ×  ∗@,DE
d* > 150 <=
 0,055

Fonte: Van Rijn (1984).

Além das formulações propostas acima, o parâmetro de função de arrasto


também pode ser estimado por meio de diagrama de Shields, conforme a Figura 4.
16

Figura 4 - Diagrama de Shields


Fonte: Vanoni (2006)

Tendo definidos o diâmetro adimensional da partícula e o estágio de


transporte, a descarga sólida de arrasto, pelo método de Van Rijn, é expressa por:

H .,I
G  0,053 × >∗J,K × L" − 1& × 9M@,N × %,N (17)

Onde,

qb = descarga sólida de arrasto, em m³/s.m

No caso do uso do método de van Rijn para determinação da carga de fundo,


a descarga sólida total pode ser calculada somando-se este valor ao da carga
suspensa determinado com base na Equação (4).

1.1.1.1. Método de Laursen para a descarga sólida total

O método de Laursen para a determinação da descarga sólida total foi


determinado em relações empíricas (VANONI, 2006). Este método calcula a
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concentração média de sedimento sendo transportado nas diferentes classes


granulométricas consideradas (CARVALHO, 2008). As equações do método de
Laursen (1958) são:

U#Q X/A 5YZ -∗


  O ∑PQR%  S T V
W T 5/ W . S T\#QW (18)

. UN@ %/+
7 Y ]  8 . T W (19)
N^ V

7=  7 ∗ = "O − O&. _ (20)

3 ∗ `9. a. ; (21)

b  .  (22)

Onde,

C = concentração média da descarga de material do leito, em peso por unidade de


volume;
n = número de frações granulométricas no material do leito;
if = fração, por peso, da granulometria do sedimento;
Dsi = diâmetro médio do grão na classe granulométrica considerada, em ft;
p = profundidade média, em ft;
τ’o = tensão de cisalhamento do leito, segundo Laursen, devido à resistência do
grão;
τc = tensão de cisalhamento crítica para a partícula de granulometria Dsi;
f = indica uma função;
U* = velocidade de cisalhamento, em ft/s;
g = aceleração da gravidade, em ft/s²;
Wsi = velocidade de queda de partículas de sedimento de diâmetro Dsi, ft/s;
f(U*/Wsi) = função segundo a Figura 5;
τ*c = tensão de cisalhamento crítica adimensional definida por Shields;
γ = peso específico da água, em lb/ft³;
p = densidade da água, em slugs/m³;
V = velocidade média, ft/s;
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D50 = granulometria da partícula na qual 50% do material do leito, por peso, são
mais finos, em ft;
γs = peso específico da sedimento, em lb/ft³;
qsl = descarga sólida de material do leito por unidade de largura do canal, em lb/s;
q = descarga líquida por unidade de largura do canal, em ft³/s.

Figura 5 – Gráfico ilustrando as relações usadas no cálculo da descarga sólida segundo o método de
Laursen.
Fonte: Carvalho (2008, apud VANONI 1977)

2.2.5. Curva chave de sedimentos

Uma curva chave de sedimentos relaciona dados medidos de descarga sólida


com outras variáveis (como descarga líquida, velocidade de escoamento ou
profundidade). Esses pares de dados são plotados em um gráfico de dispersão e a
curva chave pode ser obtida pela ligação dos pontos ou por curva média interpolada
(CARVALHO, 2008).

Destaca-se ainda a necessidade de gerar uma curva chave de sedimentos


quando se possui medições esporádicas de sedimentos e dados diários de outra
variável quando o interesse de estudo necessita de uma estimativa diária do aporte
de sedimentos. Carvalho (2008) ressalta que a correlação mais usual para uma
curva chave de sedimentos relaciona descarga sólida e descarga líquida. Além disto,
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é usual plotar o gráfico de dispersão em escala bilogarítimica devido a grande


dispersão dos dados e também pela variação dos valores extremos dos dados.

É importante destacar que o uso indiscriminado de curvas chave de


sedimentos deve ser evitado. Carvalho (2008) explica que o transporte de
sedimentos em rio é um fenômeno bastante aleatório e de difícil determinação exata,
sendo que a curva chave de sedimentos é uma ferramenta para determinação
aproximada do processo. Além disto, o autor estabelece que eventos extremos
podem alterar o resultado final de uma curva chave de sedimentos.

2.2.6. Monitoramento hidrossedimentológico

A amostragem de sedimentos em corpos de água tem o intuito de caracterizar


uma seção transversal de interesse, com medições que respeitem técnicas e
amostradores padronizados (RINGEN 1978, apud CARVALHO, 2008).

Existem diferentes equipamentos para amostragem dos sedimentos em


suspensão e do leito. Além disto, as amostragens podem ser realizadas visando a
obtenção de dados de quantidade ou do tipo do sedimento transportado. Portanto,
Carvalho (2008) ressalta que devem ser escolhidos os amostradores apropriados
para cada medição.

Segundo Carvalho (2008), o sedimento em suspensão é mais frequentemente


amostrado em relação ao sedimento do leito. Ademais, há grande dispersão na
relação entre valores de descarga sólida e descarga líquida, o que gera uma
necessidade de uma maior série de medições para que o transporte de sedimento
possa satisfatoriamente caracterizado. Sugere-se ainda que maior parte das
medições seja realizada nos períodos úmidos, pois as chuvas provocam forte erosão
na bacia hidrográfica e consequente aumento no transporte de sedimentos
(CARVALHO, 2008).

Após as amostragens realizadas em campo, as amostras devem ser


encaminhadas a um laboratório para a obtenção dos resultados de interesse. As
principais características analisadas em laboratório para estudos
hidrossedimentológicos são a concentração e a granulometria dos sedimentos em
20

suspensão e do leito (CARVALHO, 2008). Em casos específicos, outras análises


também podem ser mensuradas, como concentração de sólidos dissolvidos, peso do
sedimento, matéria orgânica, peso específico, real e aparente, forma das partículas
e análise mineralógica.

De acordo com Carvalho (2008), medições diretas de descarga de fundo são


realizadas com amostradores portáteis e objetivo desta amostragem é determinar o
peso seco de sedimento em um intervalo de tempo conhecido.

Quando o laboratório não apresenta condições para determinação da


densidade do sedimento, Carvalho (2008) sugere que seja considerada a densidade
do quartzo, ou seja, 2,65 g/cm³.

Carvalho (2008) lembra ainda que um laboratório de análises


hidrossedimentológicas deve apresentar características de um laboratório de solos e
também características de um laboratório de qualidade de água, uma vez que a
análise de sedimentos está relacionada com fenômenos similares.

2.3. MODELOS COMPUTACIONAIS

2.3.1. Transporte de Sólidos em Rios

O software Transporte Sólido em Rios é uma ferramenta computacional para


a determinação da descarga sólida total. Este software utiliza as formulações e os
ábacos pertencentes ao método simplificado de Colby (1957) apresentados no item
2.2.4. Este software é um anexo do livro de Carvalho (2008) e possui interface de
utilização bastante simples, conforme a Figura 6 apresentada abaixo.
21

Figura 6 - Software Transporte Sólido em Rios para determinação da descarga sólida total pelo
método simplificado de Colby (1957).

2.3.2. HEC-RAS4.1.0 – Sistema de análise em rios

O software HEC-RAS 4.1.0 é uma ferramenta computacional que permite a


realização de modelagens unidimensionais de descarga líquida (constante ou não),
transporte de sedimentos e qualidade de água (BRUNNER, 2010). O software foi
desenvolvido pelo Centro de Engenharia Hidrológica (HEC) do Instituto de Recursos
Hídricos (IWR) dos Estados Unidos.

Segundo Cortez (2013) a modelagem unidimensional considera


características constantes nas seções transversais de um canal de água. Para
Strasser (2012, apud CORTEZ, 2013) esta consideração é comum quando o
objetivo é avaliar os efeitos de um fenômeno apenas ao longo do canal e não a
variação do fenômeno em cada seção transversal de análise.

O sistema HEC-RAS é composto por quatro componentes de análise: perfil


de descarga líquida constante, simulação de vazão variável, variação nas condições
de transporte de sedimento e qualidade de água. Destaca-se que estes quatro
22

componentes utilizam os mesmos dados geométricos e as mesmas rotinas


hidráulicas (BRUNNER, 2010).

De acordo com o manual do usuário (BRUNNER, 2010), o componente de


transporte de sedimentos desta ferramenta computacional deve ser utilizado para
prever as condições de transporte, sedimentação e erosão de sedimentos em
intervalos moderados de tempo, como períodos de duração de um evento completo
de chuva a um ano.

O potencial transporte de sedimentos calculado pelo HEC-RAS leva em


consideração a granulometria do sedimento e o tipo da camada erodível do leito.
Além disso, o software possui sete diferentes funções de transporte de sedimento do
leito (Ackers & White, Engelund & Hansen, Laursen, Meyer-Peter & Muller, Toffaleti,
Yang, Wilcock) e quatro diferentes funções de velocidade de queda (Ruby, Toffaleti,
Van Rijn, Report 12). As respectivas formulações estão descritas em Brunner (2010).

Abaixo é apresentada a interface inicial do programa. A partir dela são


realizadas as inserções de dados de geometria, descarga sólida e líquida e também
são realizados os processamentos de interesse.

Figura 7 - Software HEC-RAS 4.1.0 para estimativas unidimensionais do transporte de sedimentos


em rios e reservatórios.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A bacia hidrográfica do rio Passaúna é uma sub-bacia do Alto Iguaçu, sendo


um de seus principais afluentes à margem direita do rio Iguaçu. Segundo Pitrat
23

(2010), a bacia hidrográfica do rio Passaúna possui área de drenagem estimada em


214 km² e está localizada entre os meridianos 49°19’30” e 49°01’30” de Longitude
Oeste e os paralelos 25°18’30” e 25°35’00” de latitude Sul, na região oeste de região
metropolitana de Curitiba. Dos 214 km² de área de drenagem até a foz, o
barramento do reservatório do Passaúna abrange 153 km² (SUDERHSA, 2002 apud
MERGER, 2007). A bacia do Passaúna está localizada em parte dos municípios de
Curitiba, Araucária, Campo Largo, Campo Magro e Almirante Tamandaré, conforme
mostra a Figura 8.

A nascente do rio Passaúna está localizada entre as serras de São Luiz do


Purunã e Bocaina, em Almirante Tamandaré (PITRAT, 2010). São aproximadamente
57 km de percurso até a confluência com o rio Iguaçu. Na sua porção média-baixa
está localizado o reservatório do rio Passaúna, com uma área de espelho de água
de 11 km², e as demais características conforme apresenta a Tabela 2.

Figura 8 - Limite da bacia do rio Passaúna, limites municipais e divisão das sub-bacias.
Fonte: SUDERHSA (2002) apud MERGER (2007).
24

Tabela 2 - Dados do reservatório do rio Passaúna.

Fonte: SANEPAR (2014) apud SIQUEIRA (2014).

O reservatório do rio Passaúna foi construído em duas etapas, a primeira foi


concluída em 1986 e a segunda em 1992. Após a conclusão das obras, a vazão de
captação e abastecimento passou a ser de 2,0 m³/s (SANEPAR, 2017).

Conforme a análise desenvolvida por Siqueira (2014) entre os postos


sedimentométricos existentes próximos ao reservatório Passaúna, o ponto próximo à
ponte da BR-277, no município de Curitiba, é o mais relevante nos estudos
hidrossedimentológicos deste reservatório por estar localizado no seu principal
afluente (rio Passaúna) e por ter a maior série histórica disponível da região. O
Quadro 1 apresenta um resumo das características de tal estação.

Quadro 1 - Informações gerais sobre o posto hidrossedimentológico localizado no rio Passaúna, BR-
277 – Campo Largo.

Código Área de
Estação Município Responsável Operador
ANEEL Drenagem
BR-277 Campo Águas
65021800 Curitiba 92,03 km² Águas Paraná
Largo Paraná

Fonte: Banco de dados da Agência Nacional de Água – Hidroweb (2017).


25

Todos os dados hidrossedimentológicos, coletados por órgãos


governamentais responsáveis, para a estação mencionada acima, estão disponíveis
nos bancos de dados da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Instituto das Águas
do Paraná (AGUASPARANA) e podem ser acessados no endereço eletrônico das
duas instituições. Para os procedimentos descritos neste estudo foram utilizados,
preferencialmente, os dados disponíveis no banco de dados do Instituto das Águas
do Paraná, em decorrência da análise de consistência realizada por Rauen et al.
(2017). Para situações onde os dados não estavam disponíveis neste banco de
dados, foram considerados também os dados da Agência Nacional das Águas
(HidroWeb).

A Lei Federal n° 9.985, de 18 de julho de 2000, que se refere ao Sistema


Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, estabelece que:

Art. 15° - A Área de Proteção Ambiental é uma área


em geral extensa, com certo grau de ocupação
humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,
estéticos ou culturais especialmente importantes
para a qualidade de vida e o bem-estar das
populações huamnas, e tem como objetivos básicos
proteger a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais
(GOVERNO FEDERAL, 2000).

A Área de Proteção Ambiental do Passaúna foi estabelecida pelo Decreto


Estadual nº 485, de 05 de junho de 1991, com área total de 16.020,04 ha. O objetivo
principal deste decreto é proteger e conservar, em especial, a quantidade e a
qualidade de água disponíveis para abastecimento público na área de bacia
hidrográfica do rio Passaúna.

Segundo ITCG (2014 apud ROSA, 2014), o solo da bacia do Passaúna pode
ser classificado em cinco categorias diferentes, sendo: Argissolos Vermelho-
Amarelos Distróficos, Cambissolos Háplicos Distróficos, Cambissolos Húmicos
Alumínicos, Latossolos Vermelhos Distróficos e Gleissolos Melânicos.
26

Além da classificação por tipos de solo, a bacia do Passaúna, a montante do


reservatório, apresenta quatro formações geológicas principais (PITRAT, 2010). São
elas: formação Capiru do Grupo Açungui, formação Atuba, formação Guabirotuba e
os Terraços aluvionares e aluviões atuais.

Inicialmente, Siqueira (2014) determinou uma curva chave de sedimentos


para o rio Passaúna na estação de medições sob a ponte da BR-277, para o período
entre 1987 e 2013, por meio do método simplificado de Colby. Esta curva-chave de
sedimentos é ilustrada na Figura 9, com o ajuste dos dados disponíveis feito por
Siqueira (2014), com dois segmentos de reta.

Figura 9 - Curva chave de sedimentos obtida para o rio Passaúna, no ponto sob a BR-277.
Fonte: SIQUEIRA (2014).

O estudo de Siqueira (2014), para definição da curva-chave de sedimentos,


considerou dados hidrológicos disponíveis em um período de 26 anos (de 1987 a
2013), na estação da BR 277.

3.2. ETAPAS METODOLÓGICAS

De modo alcançar o objetivo deste estudo, foi estabelecida a sequência


metodológica apresentada no Quadro 2. Na sequência, são descritas as etapas e
subetapas metodológicas.
27

Quadro 2 – Etapas e subetapas metodológicas deste projeto.

Etapas Subetapas metodológicas

Reunir dados disponíveis e relevantes.


Levantamento de dados
Realizar campanhas de campo para coleta
necessários para modelagem
1 de dados complementares.
computacional do assoreamento
no reservatório do rio Passaúna. Realizar análises laboratoriais das
amostras coletadas nas campanhas de
campo.
Incorporar os novos os dados de interesse
obtidos na Etapa 1 na série histórica de
dados utilizados na estimativa da curva
chave de sedimentos de Siqueira (2014).

Revisar a curva chave de Realizar uma análise de sensibilidade da


2 sedimentos proposta por Siqueira estimativa da descarga sólida total com os
(2014). métodos de Colby (1957) e Van Rijn (1984)
com base nos dados disponíveis.
Gerar três cenários do potencial de
descarga sólida de acordo com três novas
curvas chave de sedimentos, mediante
análise de sensibilidade dos dados.
Familiarização com o software utilizado.
Modelagem computacional para
3 mapeamento do assoreamento no Implementação dos dados necessários.
reservatório. Testes preliminares.
Simulação dos cenários de interesse.

3.3. MONITORAMENTO HIDROSSEDIMENTOLÓGICO

Ao todo, foram realizadas três campanhas de campo (11/02/17, 14/02/17 e


07/05/17) para medição de dados de interesse ao projeto. Foram escolhidos pontos
de medição (Figura 10) de notória relevância e contribuição para o reservatório do
rio Passaúna, como o caso do ponto sob a BR-277, e também pontos de potencial
importância para este estudo e/ou para outros estudos do projeto SeWaMa.
28

Figura 10 - Localização dos pontos de interesse amostrados nas campanhas de campo.

Na Tabela 3 estão apresentadas as coordenadas geográficas e a descrição


de cada ponto de interesse.

Tabela 3 - Coordenadas dos pontos amostrados.

Ponto Coordenadas Descrição


01 -25.427376, -49.388632 Rio Passaúna, BR-277
02 -25.429621, -49.391688 Rio Cachoeira, BR-277
03 -25.441289, -49.386921 Rio Passaúna, Ponte de Madeira
04 -25.442731, -49.390283 Afluente Margem Direita 01
05 -25.456902, -49.388231 Afluente Margem Direita 02
06 -25.451995, -49.380524 Afluente Margem Esquerda 02
07 -25.444717, -49.381020 Afluente Margem Esquerda 01
FE -25.456665, -49.382517 Ponte da Ferraria

Para este estudo serão descritas apenas as atividades que se referem ao


ponto 01 apresentado acima. Neste ponto está localizado o posto
hidrossedimentológico com maior série histórica para o reservatório (conforme
descrito no item 3.1), sendo o rio Passaúna o seu principal afluente. A seguir são
apresentadas as atividades realizadas em cada campanha de campo.

A primeira campanha, realizada no dia 11/02/2017, teve como principal


interesse o reconhecimento dos pontos estabelecidos para planejar e otimizar as
ações das campanhas posteriores. Foram ainda realizadas medições de vazão e
coleta de uma amostra do material do fundo com um equipamento do tipo draga de
Petersen, para determinação de granulometria do material do leito.
29

Na segunda campanha, realizada no dia 14/02/2017, foram realizadas as


seguintes atividades: medições de vazão, coleta de amostras de água por
integração vertical com equipamento DH-48 para análise da descarga sólida em
suspensão, coleta de amostra de material do leito por diferença de pressão com
equipamento do tipo Helley-Smith para análise da descarga sólida de arrasto, coleta
de duas amostras do material do fundo com um equipamento do tipo draga de
Petersen para determinação de granulometria do material do leito.

Após a amostragem e coleta de dados em campo, as amostras de material


foram encaminhas aos laboratórios de solos da Universidade Positivo e da
Universidade Federal do Paraná, para caracterização dos parâmetros de interesse.

Na campanha de campo do dia 07/05/2017 foi realizada uma coleta de água


para determinação da granulometria do material em suspensão na região da BR-
277, apresentado na Figura 11. Este ensaio foi realizado por evaporação e análise
de difração a laser do sedimento, conforme descrito em 3.3.3.

Figura 11 - Análise granulométrica do em suspensão na região do posto hidrossedimentológico da


BR-277.
30

Esta amostra foi classificada como siltosa, com a seguinte composição


granulométrica:

Tabela 4 - Resumo percentual da composição granulométrica do sedimento em suspensão na região


do posto hidrossedimentológico da BR-277.

Classificação Amostra
Argila 6.54
Silte 86.82
Areia 6.64

Além da determinação das características granulométricas do sedimento do


leito e em suspensão no rio Passaúna na altura da BR-277, na campanha de campo
do dia 07/05/17 foram realizadas também coletas de material do leito ao longo do
reservatório. Foram coletadas amostras próximas à barragem do reservatório, à
captação de água, ao parque, à ponte da ferraria, na entrada do reservatório e no rio
Passaúna, no posto hidrossedimentológico BR-277. A localização dos pontos de
amostragem dentro do reservatório é apresentada na Figura 12 e na Tabela 5. A
localização da coleta realizada no rio Passaúna está apresentada na Tabela 3.
31

Figura 12 - Localização dos pontos notáveis ao longo do reservatório Passaúna.

Tabela 5 - Coordenadas dos pontos notáveis ao longo do reservatório.

Ponto Coordenadas Descrição


01 -25.529853, -49.391516 Barragem
02 -25.511928, -49.371568 Captação
03 -25.477954, -49.383328 Parque
04 -25.456316, -49.382528 Ponte Ferraria
05 -25.453139, -49.383944 Entrada do Reservatório

Estas amostras foram coletadas e ensaiadas por outros integrantes do projeto


SeWaMa e os dados foram incorporados a este estudo. Na Figura 13 e na Tabela 6
são apresentados os resultados da caracterização granulométrica do leito ao longo
do reservatório.
32

Figura 13 - Análise granulométrica do sedimento do leito ao longo do reservatório Passaúna.

Tabela 6 - Resumo da análise granulométrica do leito ao longo do reservatório Passaúna, em µm.

Barragem Captação Parque Ferraria Entrada Rio Passaúna


D84 84,14 80,70 85,52 300,16 26,51 586,73
D50 16,17 12,89 8,32 30,08 9,23 343,26
D16 4,00 3,38 1,70 3,52 2,61 8,61
D84/D16 21,01 23,86 50,25 85,19 10,16 68,17

Estes dados hidrossedimentológicos foram utilizados na obtenção dos


resultados apresentados a seguir. Além disto, estes dados ampliaram a série
histórica disponível para estudos futuros.

3.3.1. Determinação de velocidade e vazão líquida

Como visto no item 2.2.1, a determinação da vazão líquida é determinada


matematicamente pela relação entre velocidade de escoamento e a área da seção
transversal. Nas medições realizadas, foram utilizados três equipamentos diferentes
33

para a determinação da vazão líquida nos pontos de interesse: molinete, ADV


(Velocímetro Acústico Doppler) e ADP (Perfil Acústico Doppler).

3.3.1.1. Molinete

Molinete é basicamente um sistema de hélices que é posto a rotacionar-se


pelo movimento de um meio fluido. O equipamento é capaz de registrar o número de
rotações realizadas em um determinado tempo e, por meio de uma fórmula de
calibração pré-estabelecida, registrar a velocidade média durante a amostragem
(Lencastre, 1957).

As fórmulas de calibração para o molinete utilizado são:

Para N < 7,06 RPS:

  0,0562 ∙ c + 0,034 (23)

Para N > 7,06 RPS:

  0,0545 ∙ c + 0,046 (24)

Onde N é o número de rotações por segundo medido e V é a velocidade medida em


m/s.

São realizadas medições em quantos perfis verticais forem necessários para


uma caracterização satisfatória do comportamento da velocidade ao longo da seção
transversal analisada.

Além disto, se medem e registram manualmente todas as informações a


respeito da caracterização física da seção, como o comprimento total da seção, a
locação dos pontos de medição e as profundidades de cada ponto.

Após a levantamento dos dados necessários se procede à execução dos


cálculos manuais para a determinação da vazão líquida, com base nas fórmulas
apresentadas no item 2.2.1.
34

Para as medições de vazão com molinete foi utilizado o equipamento


disponibilizado pela Universidade Positivo e o tempo de medição utilizado foi de 60
segundos.

3.3.1.2. ADV – Velocímetro Acústico por efeito Doppler

O velocímetro acústico do tipo Doppler é um equipamento portátil de


procedimentos parecidos com as medições realizadas com molinete. São também
realizadas medições em quantos perfis verticais forem necessários para uma
caracterização satisfatória do comportamento da velocidade ao longo da seção
transversal analisada.

Este equipamento, ao contrário do molinete, possui núcleo computacional


com teclado e interface gráfica que servem para armazenamento de dados,
configuração de metodologia de cálculos e retorno dos resultados.

A locação dos pontos de medição e as profundidades de cada ponto são


realizadas manualmente com o auxílio do equipamento e registrados em sua
interface. A medição de velocidade média em cada vertical é realizada por meio de
uma sonda que fica submersa e o resultado é registrado automaticamente no núcleo
computacional do aparelho. O processo de cálculo é realizado internamente e o
resultado da vazão medida é instantâneo (WARD, 2009).

Para as medições de vazão com o ADV foi utilizado o equipamento


disponibilizado pela Universidade Federa do Paraná, do tipo FlowTracker Hanheld
ADV SmartQC da empresa SonTek. As medições realizadas com este equipamento
foram feitas por outros integrantes do projeto SeWaMa e os resultados foram
incorporados ao presente estudo.

3.3.1.3. ADP – Perfilador Acústico por efeito Doppler

O conjunto de funcionalidades do equipamento, como integração com GPS e


computador, ajustes manuais, múltiplas frequências de medição e cálculos internos
35

(ERDEM, 2016), o torna bastante diferente dos outros equipamentos apresentados,


tanto no modo de operação quanto na precisão dos dados levantados.

O processo de medição de descarga líquida se resume em mover uma


pequena embarcação com o equipamento de um lado ao outro da seção analisada.
Todas as medições e cálculos são realizados internamente pelo software do
equipamento (ERDEM, 2016).

Para as medições de vazão com o ADP foi utilizado o equipamento


disponibilizado pela Universidade Federa do Paraná, do tipo RiverSurveyor M9
System da empresa SonTek. As medições realizadas com este equipamento foram
feitas por outros integrantes do projeto SeWaMa e os resultados foram incorporados
ao presente estudo.

3.3.2. Medição de descarga sólida

Devido à diferença na característica do transporte de sedimentos em


suspensão e de arrasto, é necessário que os amostradores sejam específicos para
cada tipo de análise (CARVALHO, 2008). Para tanto, neste trabalho foram utilizados
os amostradores USDH-48 e USDH-49 para medições do transporte de sedimentos
em suspensão e o amostrador tipo Helley-Smith foi utilizado para as medições do
transporte de sedimento de arrasto.

3.3.2.1. Descarga sólida em suspensão

Para Carvalho (2008), é possível separar em três categorias os equipamentos


para medição indireta da descarga sólida em suspensão. Essas categorias são:
amostradores instantâneos, amostradores por integração e amostradores por
bombeamento.

Neste projeto estavam disponíveis para serem utilizados os amostradores por


integração vertical USDH-48 e USDH-49 (Tabela 7 e Figura 14). Este tipo de
amostrador permite a deposição, por meio de um bico de tamanho reduzido, de uma
36

mistura de água e sedimentos sólidos enquanto é deslocado uniforme e


verticalmente no curso de água (CARVALHO, 2008).

Tabela 7 - Característica dos amostradores de medição indireta de sedimentos em suspensão


disponíveis para este projeto.
Tipo de Denominação Denominação Diâmetro dos Peso do Comp. do Distância do Profundidade de
Origem Modo de uso
amostrador original nacional bicos calibrados amostrador amostrador bico ao leito amostragem
3,0 kg
USDH-48 AMS-1 EUA 1/4" 32 cm Haste, a vau 0,09 cm 1,50 m
Integração com haste
vertical Cabo manual
USDH-59 AMS-3 EUA 1/8", 3/16" e 1/4" 9,4 kg 42 cm 0,10 m 4,50 m
ou guincho
Fonte: CARVALHO (2008, Adaptado).

Figura 14 - Amostradores por integração vertical DH-48 (a) e DH 59 (b), respectivamente.

Os dois amostradores, USDH-48 e USDH-49, são classificados como leves.


Ambos podem ser operados a vau, a partir de pequenas pontes ou canoas.
Enquanto o USDH-48 é indicado para alturas de até 1,5 m, o USDH-59 está apto
para medições de até 4,5 m. O diâmetro dos bicos calibradores de cada amostrador
é selecionado em função da profundidade da medição e da velocidade das correntes
(SUBCOMMITTEE ON SEDIMENTATION, 1963, VANONI, 1977 apud CARVALHO,
2008).

A amostragem por integração na vertical é realizada deslocando-se o


equipamento da superfície até o leito e retornando a superfície em um intervalo de
tempo a partir de 10 segundos (CARVALHO, 2008). Carvalho (2008) explica que
devem ser realizadas tantas amostragens quanto forem necessárias em uma mesma
seção de rio para que a análise possa ser a mais precisa possível. Devem ser
levados em consideração fatores como a área da seção transversal, métodos de
análise laboratorial, granulometria dos sedimentos, descarga sólida e descarga
líquida.
37

Para que a amostragem de sedimentos em suspensão não alcancem os


sedimentos do leito, os equipamentos desta natureza normalmente alcançam uma
profundidade máxima de 10 a 15 cm do fundo do rio. Além disto, o amostrador é
posicionado cuidadosamente no interior do rio para evitar possíveis impactos do
amostrador com o leito, o que propiciaria a movimentação do sedimento de arrasto
(CARVALHO, 2008).

Após realizar a medições de campo, as amostras de descarga sólida em


suspensão são encaminhadas ao laboratório para determinação da concentração de
sólidos na vertical (ver item 3.3.3).

Para determinar a descarga sólida em suspensão, Carvalho (2008) propõe a


seguinte formulação:

  ∑  0,0864 × ∑ × d × b (25)

Onde,

Qss = descarga sólida total em suspensão na seção transversal, em kg.min-1;


qss = descarga sólida total em suspensão na seção transversal no segmento
amostrado, em kg.min-1;
Cmv = concentração média na vertical, em kg.m-1.min-1;
l = largura de influência, em m.

Para as medições de descarga sólida em suspensão foi utilizado o


equipamento disponibilizado pela Universidade Federa do Paraná, do tipo US-DH-
48. As análises de laboratório para determinação da concentração de sedimentos
suspensos foram realizadas por outros integrantes do projeto SeWaMa e
incorporados ao presente estudo.

3.3.2.2. Descarga sólida de arrasto

Para Carvalho (2008), é possível separar em quatro categorias os


equipamentos para medição direta da descarga sólida de arrasto. Essas categorias
são: amostrador de cesta ou caixa, amostrador de bandeja ou tanque, amostrador
de diferença de pressão e amostrador de fenda ou de poço.
38

Neste projeto o equipamento disponível para ser utilizado foi o amostrador de


diferença de pressão do tipo Helley-Smith, apresentado na Figura 15. Este tipo de
amostrador possui eficiência de amostragem de sedimentos de 100% em relação à
quantidade de sólidos transportados no leito do rio. Para isto, trabalha com a
velocidade de entrada similar a velocidade da corrente perto do leito (CARVALHO,
2008). É recomendado que este aparelho seja utilizado para rios com velocidades
inferiores a 3 m/s (YUKIAN, 1983 apud CARVALHO, 2008).

Figura 15 - Amostrador de diferença de pressão do tipo Helley-Smith.

Após realizar a medições de campo, as amostras de descarga sólida de


arrasto são levadas ao laboratório para verificação do peso seco.

Para determinar a descarga sólida de arrasto, Carvalho (2008) propõe a


seguinte formulação:

% V V×k
e   × e   × fgh × P×i×j  fgh×P×i×j (26)

Onde,

Qsa = descarga sólida total do leito na seção transversal, em kg.min-1;


qsa = descarga sólida unitária do leito, em kg.m-1.min-1;
L = largura da seção transversal, em m;
Eam = eficiência de amostragem do equipamento;
p = peso seco da amostra total, em kg;
n = número de pontos amostrados;
39

t = tempo de amostragem, em min;


l = largura da boca do amostrador, em m.

Para as amostragens integradas na vertical foi utilizado o equipamento


disponibilizado pela Universidade Federa do Paraná, do tipo Helley-Smith. O
equipamento utilizado foi fabricado à semelhança do modelo comercial US-BL-84.
Contudo, para o equipamento utilizado se considera a eficiência de amostragem em
uma faixa entre 70 e 80%. As análises de laboratório foram realizadas por outros
integrantes do projeto SeWaMa e os resultados foram incorporados ao presente
estudo.

3.3.3. Análises laboratoriais

As análises de laboratório no contexto deste trabalho dizem respeito à


determinação da granulometria do material do leito e do material em suspensão, da
concentração de material em suspensão e da concentração de material de arrasto.

Os ensaios de granulometria do material do leito foram realizados no


laboratório de solos da Universidade Positivo. Os ensaios de granulometria do
material em suspensão foram realizados no laboratório de análises minerais e
rochas da Universidade Federal do Paraná. As concentrações do material em
suspensão e de arrasto foram determinadas com ensaios realizados no laboratório
de química ambiental da Universidade Federal do Paraná. Os dados são
compartilhados entre os integrantes do projeto SeWaMa, conforme mencionado
anteriormente.

Nos ensaios de granulometria do material do leito, foram utilizados os


procedimentos de ensaio e cálculo descritos na NBR 7181/16 que é denominada
“Solo – Análise Granulométrica”. Basicamente os procedimentos podem ser
descritos como: secagem em estufa à temperatura controlada (a), peneiramento
com anotação das massas retidas (b), sedimentação (quando pertinente),
determinação da umidade higroscópica e massa específica (c) e cálculo das
porcentagens retidas e passantes em cada peneira (d), conforme ilustrado na Figura
16.
40

Figura 16 - Exemplo de peneiramento (a), lavagem (b) e registro de peso (c) das amostras ensaiadas.

Para a classificação granulométrica das amostras ensaiadas são


considerados neste estudo os parâmetros estabelecidos pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas, conforme indicado na Tabela 8.

Tabela 8 - Classificação granulométrica segundo a ABNT.

Diâmetros (mm) Denominações


60,0 - 20,0 Pedregulho grosso
20,0 - 6,0 Pedregulho médio
6,0 - 2,0 Pedregulho fino
2,0 - 0,60 Areia grossa
0,60 - 0,20 Areia média
0,20 - 0,06 Areia fina
0,06 - 0,002 Silte
< 0,002 Argila
Fonte: CARVALHO (2008), ADAPTADO.

Para a análise do material em suspensão existem vários métodos possíveis


de serem aplicados. A utilização do método depende dos dados que se deseja obter
41

(CARVALHO, 2008). Para concentração e granulometria podem ser empregados os


métodos de pipetagem ou tubo de remoção pela base. Se apenas a concentração
de sólidos interessar, podem ser empregados ainda os métodos de evaporação ou
filtragem.

Para a determinação da granulometria do material em suspensão foi utilizado


o método de evaporação e posterior análise de difração a laser do sedimento. Para
a determinação da concentração de sólidos suspensos das amostras coletadas foi
utilizado o método de filtração com o Cadinho de Gooch. Os valores de
concentração determinados nos ensaios de laboratório são utilizados para realizar o
cálculo de descarga sólida em suspensão, conforme descrito em 3.3.2.

3.4. ATUALIZAÇÃO DA CURVA CHAVE DE SEDIMENTOS

3.4.1. Dados de descarga sólida

No posto sedimentométrico analisado os dados de descarga sólida são


medidos com menor frequência do que os dados de vazão, uma vez que a coleta e
análise laboratorial destes dados são mais complexas. Além disto, este dado
normalmente é associado a outras informações, como vazão, área da seção
transversal, largura, profundidade e velocidade média no ponto de coleta, que
auxiliam a estimativa do aporte de sedimentos.

A série histórica de descarga sólida reunida neste estudo para o ponto de


interesse possui 187 dados de concentração de sedimento em suspensão (Figura
17). Destes, apenas 86 são classificados neste estudo como dados completos
(dados de concentração associados com as demais informações de interesse). Os
outros 101 dados são classificados neste estudo como dados incompletos (dados de
concentração associados apenas à dados de vazão).
42

Figura 17 - Série histórica de sedimentos em suspensão no posto hidrossedimentológico da BR-277.

Dos dados completos, 77 são provenientes da base de dados do Instituo das


Águas do Paraná, 7 são provenientes da base de dados da Agência Nacional das
Águas e 2 são provenientes de estudos acadêmicos relacionados ao reservatório de
água do rio Passaúna e ao projeto SeWaMa (sendo um destes dados obtido em
campanha de campo realizada com enfoque para este projeto).

3.4.2. Estimativa da potencial descarga sólida total e da respectiva curva


chave de sedimentos via método simplificado de Colby

Para estimar o aporte de sedimento no período de operação do reservatório


Passaúna, inicialmente foram utilizados os dados completos disponíveis (Item 3.4.1)
e o método simplificado de Colby que estima a descarga sólida total com base na
descarga sólida medida, conforme Item 2.2.4. O software Transporte de Sólido em
Rios (Item 2.3) foi utilizado para auxiliar na análise precisa dos ábacos integrantes
no método. O método foi aplicado para os 86 dados disponíveis.

Uma análise entre a descarga sólida em suspensão e a descarga sólida total,


gerada via método simplificado de Colby, possibilitou verificar que um número
43

considerável de dados apresentou descarga sólida em suspensão abaixo de 50% da


descarga sólida total, conforme apresentado na Figura 18.

Figura 18 - Percentual de descarga sólida em suspensão em relação à descarga sólida total via
método simplificado de Colby.

Autores da literatura hidrossedimentológica, como Carvalho (2008) e Soulsby


(1997), afirmam que a quantidade de sedimento em suspensão em um canal de
água geralmente é maior do que a quantidade de sedimento transportado pelo leito,
com valores referenciais de 80 a 90% da descarga sólida total. No posto
hidrossedimentológico analisado, a partir de 1999 muitos dados apresentam
descarga sólida em suspensão com valores bem diferentes do referencial esperado,
conforme apresentado acima.

Ao analisar a considerável diferença entre os valores encontrados e os


valores sugeridos, observou-se uma mudança de padrão nos dados
complementares entre os anos de 1998 e 1999, conforme apresentado a seguir.

Tabela 9 - Padrão médio de comportamento das seções transversais de medição da descarga sólida
em suspensão.

Vazão Área Largura Veloc.


Período Prof. (m)
(m³/s) (m²) (m) (m/s)
1987-1998 1.604 4.949 6.951 0.704 0.292
1999-2017 1.561 2.867 7.272 0.375 0.654
Variação 97% 58% 105% 53% 224%
44

Nota-se que a vazão e a largura da seção transversal entre os períodos


pouco mudaram. Entretanto, a profundidade média e a área da seção transversal
diminuíram em torno de 56%. Com a vazão praticamente constante e a variação
noticiada nas características geométricas, a velocidade de escoamento apresentou
valores elevados no segundo período em relação ao primeiro.

Além da variação nas características geométricas da seção, um fator


importante sobre o estado de escoamento apresentou relevante alteração entre os
períodos: o número de Froude. Entre 1987 e 1998 o número de Froude apresentou
valor médio de 0,113, enquanto que no período de 1999 até 2017 o número de
Froude apresentou valor médio de 0,391.

O salto registrado no valor do número de Froude indica que o escoamento, no


segundo período de dados se tornou mais crítico, aumentando a capacidade de
transporte de sedimentos. Porém, acredita-se que os dados com elevado número de
Froude tenham sido coletados em uma região de desequilíbrio
hidrossedimentológico, como na região onde estão implantadas as estruturas de
fundação da ponte da BR-277 que passa sobre o rio Passaúna, por exemplo.

Neste caso, apenas há mais capacidade de transporte da seção. Se não há


sedimento efetivamente sendo transportado de montante esta capacidade elevada
de transporte não implica em aumento efetivo de sedimentos sendo transportados
na seção de coleta dos dados.

Esse padrão de variação nos dados disponíveis indica que a estimativa da


descarga sólida total pelo método simplificado de Colby, ou mesmo por outros
métodos de estimativas de descarga sólida, apresenta valores acima do esperado
por considerar este aumento na capacidade de transporte de uma seção transversal
específica do rio, que não representa com satisfação o transporte de sedimentos.

Por consequência, esses dados geram dúvidas com relação a confiabilidade


das estimativas de descargas sólidas totais. Por este motivo, foi desenvolvida uma
análise de sensibilidade com todos os dados utilizados na estimativa de descarga
sólida total pelo método simplificado de Colby. Esta análise de sensibilidade
possibilitou limitar a utilização dos dados de descarga sólida total aos dados
45

disponíveis até o ano de 1998 (51 dados), além de um dado do ano de 2017 obtido
em campanha de campo realizada com enfoque para este projeto.

Com estes dados foi possível gerar a curva chave de sedimentos para o posto
hidrossedimentológico do rio Passaúna na BR-277, considerando o método
simplificado de Colby para estimar a descarga sólida total.

3.4.3. Estimativa da potencial descarga sólida total e da respectiva curva


chave de sedimentos via método de Van Rijn

Um segundo cenário da descarga sólida total foi desenvolvido com base no


método de Van Rijn que estima a descarga sólida do leito, que somada aos dados
de descarga sólida em suspensão medidos pode representar a descarga sólida total.

Foram utilizados os mesmos dados descritos nas estimativas com o método


simplificado de Colby, uma vez que os dados da seção transversal do rio também
alteram os resultados deste método.

Para calibração do método foram utilizadas as equações descritas em 2.2.4 e


também os dados coletados nas campanhas de campo e análise de laboratório,
descritos em 4.1. Os dados adotados para calibração e uso do método foram:

Diâmetro médio do grão: 0,98 mm (média entre os ensaios realizados);


Descarga sólida do leito: 0,02577 kg/s (medição de campo na campanha de
14/02/2017 com o equipamento Helley-Smith):
Massa específica do sedimento: 2,65 g/cm³ (valor referencial);
Massa específica da água: 1,00 g/cm³ (valor referencial);
Viscosidade cinemática: 1x10-6 m²/s(valor referencial);
Aceleração da gravidade: 9,81 m/s² (valor referencial).

A calibração do método foi realizada pela estimativa da declividade do leito, a


qual foi estimada em 0,913/10.000 m/m.

Com estes dados foi possível gerar a curva chave de sedimentos para o posto
hidrossedimentológico do rio Passaúna na BR-277, considerando o método de Van
Rijn para estimar a descarga sólida total.
46

3.4.4. Estimativa da potencial descarga sólida em suspensão e da


respectiva curva chave de sedimentos

O último cenário de interesse para este estudo foi desenvolvido com


estimativas da potencial descarga sólida apenas com a descarga em suspensão,
considerando os dados de medições diretas. Para este cenário foi possível utilizar
todos os 187 dados apresentados no item 3.4.1, uma vez que as dúvidas a respeito
dos dados completos descrita no item 3.4.2 não influenciam nos dados de descargas
sólidas e líquidas disponíveis.

Com estes dados foi possível gerar a curva chave de sedimentos para o posto
hidrossedimentológico do rio Passaúna na BR-277, considerando a série histórica de
sedimentos para estimar a descarga sólida em suspensão.

3.4.5. Aporte sólido total ao reservatório

Definidas as curvas chave de sedimentos que representam a descarga sólida


em função da vazão é possível estimar o aporte total de sedimentos ao reservatório
Passaúna com bases na série histórica de vazão.

A série histórica de foi obtida por meio de acesso eletrônico ao banco de


dados do Instituto das Águas do Paraná (2017) e os dados são apresentados na
Figura 19, para o e período entre 1985 e 2015.
47

Figura 19 - Série histórica de vazão, no posto hidrossedimentológico da BR-277.

Nota-se na série histórica de vazões a presença de períodos onde há raras


medições ou ainda onde não há nenhuma medição de vazão nos bancos de dados
disponíveis (Tabela 10), o que compromete a estimativa do aporte total de
sedimentos ao reservatório.

Tabela 10 - Períodos com falha na séria histórica de vazão para o posto BR-277 – Campo Largo.

Período Ínicio Final


1 01/10/2000 13/12/2000
2 01/04/2003 31/01/2004
3 01/08/2004 19/10/2006
4 01/05/2007 30/04/2009
5 18/06/2015 31/12/2015

Entre os períodos apresentados, há um total de 2.044 dias sem dados


conhecidos de vazão. Para estimar o aporte de sedimentos nos períodos com
lacunas falhas será adotado, para cada ano sem alguma medição de vazão, o valor
médio dos dias com medição de vazão no mesmo ano. Para os anos que não
possuem nenhuma medição de vazão, será adotado o valor médio entre os dados
48

disponíveis em um ano antes e um ano depois do ano falho, a fim de se estimar a


descarga sólida diária.

Com a estimativa diária do aporte de sedimentos é possível então inferir a


respeito do aporte de sólidos por ano e também para todo o período de operação do
reservatório. Estas estimativas serão realizadas para os três diferentes cenários de
curva chave de sedimentos propostos.

3.5. MAPEAMENTO DO ASSOREAMENTO NO RESERVATÓRIO

Para realizar o mapeamento do assoreamento no reservatório do Passaúna


será utilizado o auxílio do software HEC-RAS, descrito no item 2.3.2. Segundo
Carvalho (2008), este software é uma das ferramentas computacionais de maior
notoriedade para a análise analítica de processos hidrossedimentológicos.

A seguir são apresentados os cenários de interesse desenvolvidos e a


obtenção dos dados necessários para o mapeamento do assoreamento.

3.5.1. Cenários de interesse

Os cenários de interesse para o mapeamento e análise do assoreamento


foram definidos conforme a tabela abaixo.

Tabela 11 - Cenários de interesse para simulação com o software HEC-RAS.

Núm. Cenário Período Dados de vazão


1-A Diários
Evento de cheia 05/06/2014 à 17/06/2014
1-B Médios de longo período
2-A Análise de Médios de longo período
Período de um mês
2-B influência Vazão Q01
3 Período completo Janeiro de 1990 à Dezembro de 2015 Médios de longo período

O cenário 1 foi projetado para avaliar a influência de um evento de cheia


(vazão elevada) no transporte e deposição de sedimentos comparado aos dados
49

médios de longo período registrados no posto hidrossedimentológico da BR-277 no


mesmo período. Foi selecionado um evento de cheia do mês de junho de 2014
conforme o hidrograma apresentado na Figura 20.

Figura 20 - Hidrograma de vazões para o mês correspondente à vazão de cheia utilizada no cenário
1-A.

O cenário 2 foi projetado para avaliar a influência de cada um dos fatores que
influenciam o transporte de sedimentos: vazão, descarga sólida e granulometria do
sedimento. O cenário 2-A é formado pela vazão média de longo período e pela
descarga sólida e granulometria correspondentes. O cenário 2-B é formado pela
vazão de 1% de recorrência (RAUEN et al., 2017), descarga sólida correspondente e
granulometria do sedimento do leito.

Com as duas configurações iniciais do cenário 2 foram (2-A e 2-B) realizadas


8 diferentes combinações (Tabela 12) sempre variando um dos três fatores
estabelecidos nestes cenários, de modo a avaliar a importância de cada um destes
para os fenômenos de transporte e assoreamento de sedimentos no reservatório
Passaúna.
50

Tabela 12 - Diferentes condições determinadas para o cenário 2, de modo a avaliar a influência da


vazão, da descarga sólida e da granulometria no mapeamento do assoreamento no reservatório
Passaúna.

Condição Vazão Descarga sólida Granulometria


1 Q01 ref. Q01 ref. Q01
2 Q01 ref. Q01 Leito
3 Q38 ref. Q38 ref. Q01
4 Q38 ref. Q38 Leito
5 Q01 ref. Q38 ref. Q01
6 Q38 ref. Q01 Leito
7 Q01 ref. Q38 Leito
8 Q38 ref. Q01 ref. Q01

O cenário 3 foi projetado para avaliar o comportamento do reservatório


durante todo o seu período de operação. Foram considerados o valor médio de
longo período dos dados de vazão e as respectivas descarga sólida e granulometria.

3.5.2. Caracterização do reservatório

Para caracterizar computacionalmente a geometria do reservatório foi


utilizada como base a batimetria realizada em fevereiro de 2016 e disponível por
meio do projeto SeWaMa.

A base de dados da batimetria foi inserida no software AutoCAD Civil e nele


foram geradas seções transversais ao eixo do corpo de água. Foram geradas 53
seções ao longo do reservatório (distantes entre si em aproximadamente 200
metros) e outras duas seções ao longo do rio Passaúna até o posto
hidrossedimentológico BR-277, totalizando 55 seções, conforme mostrado na Figura
21.

Os dados de cada seção foram inseridos no software HEC-RAS juntamente


com a indicação das distâncias entre seções das margens e do centro do
reservatório.
51

Figura 21 - Indicação das seções geradas ao longo do reservatório para as simulações


computacionais.
52

3.5.3. Seleção de dados hidrossedimentológicos

Para caracterizar as condições de transporte e assoreamento de sedimentos,


uma série de informações devem ser implementadas ao software HEC-RAS. A
seguir são apresentados os dados de entrada do reservatório e modo como foram
obtidos.

A série histórica de vazão que deu origem aos dados de vazão de interesse foi
obtida por meio de acesso eletrônico ao banco de dados do Instituto das Águas do
Paraná (2017), conforme apresentado na Figura 19. Para o cenário 2-B
exclusivamente, foi utilizado o dado de vazão proposto por Rauen et al. (2017) como
sendo a vazão com 1% de recorrência (Q01 = 6,50 m³/s), com base na mesma série
histórica de dados. Para os alguns cenários foi utilizada a vazão média de longo
período, proposta por Rauen et al. (2017) como sendo a vazão com 38% de
recorrência (Q38 = 1,70 m³/s).

Os dados de descarga sólida foram estimados com base na curva chave de


sedimentos daquele cenário 2, apresentada e discutida no item 4.2.

A granulometria do sedimento sendo transportado na região do posto


hidrossedimentológico da BR-277 foi estimada com base na granulometria do
material do leito e na granulometria do material em suspensão (exceto no cenário 2-
B), apresentados no item 4.1.3. Foi considerada uma relação entre descarga sólida
total (cenário 2 da curva chave de sedimentos) e em suspensão (cenário 3 da curva
chave de sedimentos) para determinar a quantidade de material transportado em
suspensão e no leito. Para o cenário 2-B foi considerada apenas a granulometria do
material do leito, de acordo com as análises de interesse deste cenário.

No cenário 2-B a granulometria do sedimento sendo transportado na região


do posto hidrossedimentológico da BR-277 foi considerado como sendo a
granulometria do sedimento do leito apenas, definida de acordo com a Figura 22.
Está consideração foi feita justamente para avaliar qual a influência da granulometria
nos processos hidrossedimentológicos, conforme descrito no item 3.5.1.

A granulometria do material do leito ao longo do reservatório foi determinada


conforme item 4.1.3, Figura 13, em vários pontos do reservatório. Entre os pontos de
53

granulometria conhecida foi estabelecida uma interpolação entre os dados


disponíveis para estimar a granulometria em cada seção modelada.

O nível normal de água foi considerado conforme dados da Tabela 2. Além


disto, foi considerada uma temperatura constante de 20ºC em todas as simulações
como condição de contorno, uma vez que este dado não tem influência sobre os
estudos deste projeto.

Além dos dados de entrada dispostos acima, alguns ajustes e configurações


foram adaptados no HEC-RAS, como base teste preliminares com o programa.
Estes ajustes são resumidos a seguir.

Em todos os cenários foi considerada um condição de equilíbrio nas duas


seções implementadas na região do rio Passaúna. Tal condição foi necessária para
determinar que os processos de erosão ou sedimentação fossem computados
apenas na região do reservatório.

Inicialmente, foi considerado um passo de tempo computacional de 0,10


horas em todos os cenários. Como o cenário 3 foi da ordem de anos, tal passo de
tempo tomou muito tempo para realizar as simulações e não houve espeço
suficiente no modelo para ilustrar o resultado de todo o período simulado. Para este
cenário foi então assumido um passo de tempo de 1,00 hora, onde os testes
preliminares apresentaram uma perca de sensibilidade de apenas 0,54% em relação
ao passo de tempo inicial.

O software HEC-RAS possui quatro diferentes formulações para


determinação da velocidade de queda do sedimento. Destas, três (equações de
Ruby, Toffaleti e Van Rijn), não apresentaram variação nos resultados dos testes
preliminares. Desta forma, foram adotadas as equações Report 12 e Van Rijn para
avaliação do cenário 1. Conforme Tabela 13, o teste de sensibilidade das equações
de velocidade de queda apresentaram pouca influência nos resultados de eficiência
de retenção e consequente deposição de sedimentos ao longo do reservatório. Por
este motivo, nos cenários 2 e 3, foi utilizada apenas a equação Report 12 de
velocidade de queda.
54

Tabela 13 - Análise de sensibilidade da variação da eficiência de retenção por meio de diferentes


equações de velocidade de queda nos cenários 1-A e 1-B.

Ponto 1-A 1-B


Entrada Buffer 5,5% 7,1%
Ponte Ferraria 1,5% 2,3%
Parque 0,7% 1,4%
Captação 0,1% 1,1%
Barragem 0,0% 0,9%

O software HEC-RAS possui sete diferentes formulações para determinação


da função de transporte do sedimento. Destes, apenas a formulação de Laursen foi
considera nestes estudos, uma vez que esta é a única formulação adequada a
sedimentos coesivos (BRUNNER, 2010).

Em acordo com os cenários propostos e com os dados disponíveis, é


apresentado abaixo (Tabela 14 e Tabela 15) um resumo dos dados inseridos nas
simulações computacionais.

Tabela 14 - Resumo de dados para simulação.

Cenário 1-A 1-B 2-A 2-B 3


Descarga líquida
Ver Tabela 15 e

1,70 1,70 6,50 1,70


(m³/s)
Figura 20

Descarga sólida 8,57 8,57 12,34


suspensão
92,05% 92,05% 90,77%
(ton/dia) 8,57
Descarga sólida 0,74 0,74 1,25
leito (ton/dia) 7,95% 7,95% 9,23%
Função de
Laursen Laursen Laursen Laursen Laursen
transporte
Report Report
Eq. Velocidade de 12 (1) 12 (1) Report Report Report
queda Van Rijn Van Rijn 12 12 12
(2) (2)
Passo de tempo
0,10 0,10 0,10 0,10 1,00
(h)
55

Tabela 15 - Dados adicionais para o cenário 1-A.

Descarga Descarga sólida Descarga sólida


Período
líquida (m³/s) suspensão (ton/dia) leito (ton/dia)
05/06/2014 0,89 2,45 96,58% 0,09 3,42%
06/06/2014 6,65 119,85 83,19% 24,22 18,81%
07/06/2014 14,33 528,95 78,58% 144,19 21,42%
08/06/2014 7,23 140,87 82,67% 29,53 17,33%
09/06/2014 4,71 61,51 85,35% 10,56 14,65%
10/06/2014 3,14 28,08 87,95% 3,85 12,05%
11/06/2014 2,62 19,78 89,14% 2,41 10,86%
12/06/2014 2,34 15,9 89,89% 1,79 10,11%
13/06/2014 2,18 13,87 90,37% 1,48 9,63%
14/06/2014 2,01 11,85 90,91% 1,18 9,09%
15/06/2014 2,07 12,54 90,71% 1,28 9,29%
16/06/2014 1,90 10,63 91,29% 1,01 8,71%
17/06/2014 1,82 9,78 91,58% 0,90 8,42%

4. RESULTADOS

4.1. DADOS DE CAMPO E LABORATÓRIO

A seguir serão apresentados os resultados das campanhas de campo e dos


ensaios de laboratório realizados para complementar a série histórica de dados
hidrossedimentológicos e auxiliar na calibração e utilização dos métodos de
estimativa da descarga sólida total, descritos no item 3.3.

Conforme descrito anteriormente, serão apresentados os resultados


referentes ao posto hidrossedimentológico da BR-277 e que tenham relevância
direta para os objetivos deste estudo.

4.1.1. Vazão

Os dados de vazão foram obtidos conforme item 3.3.1 e são apresentados a


seguir (Tabela 16), sendo realizada uma medição de vazão por campanha no ponto
de interesse.
56

Tabela 16 - Vazões medidas nas campanhas de campo no posto hidrossedimentológico da BR-277,


no rio Passaúna.

Vazão Área Largura Prof. Vel. Média


Data Método
(m³/s) (m²) (m) Média (m) (m/s)
11/02/2017 1,664 3,639 7,400 0,492 0,433 Molinete
14/02/2017 4,228 12,403 10,874 1,141 0,341 ADP
07/05/2017 0,962 5,114 7,982 0,641 0,188 ADP

4.1.2. Descarga sólida

A descarga sólida em suspensão foi medida apenas na campanha de campo


do dia 14/02/17. Este parâmetro foi medido com um amostrador por integração
vertical do tipo DH-48, conforme descrito em 3.3.2.1. A concentração do sedimento
em suspensão foi determinada pelo laboratório de química ambiental da
Universidade Federal do Paraná. Foram realizadas três medições, sendo
considerado o valor mediano para complemento da série histórica, como descrito em
3.4.1, sendo os resultados são apresentados abaixo.

Tabela 17 - Descarga sólida em suspensão medida na campanha de campo do dia 14/02/17 no posto
hidrossedimentológico da BR-277, no rio Passaúna.

Am. 1 Am. 2 Am. 3 Média


Data
(mg/l) (mg/l) (mg/l) (mg/l)
14/02/2017 69,7 72,9 77,5 73,37

A descarga sólida de arrasto foi medida apenas na campanha de campo do


dia 14/02/17, pois nos outros dias não foi verificada a ocorrência de descarga sólida
no leito dadas as baixas condições de vazão. A descarga sólida de arrasto foi
medida com o medidor do tipo Helley-Smith, conforme descrito em 3.3.2.2. O peso
da carga em arrasto foi medido pelo laboratório de química ambiental da
Universidade Federal do Paraná. Com este dado (peso da carga de arrasto) foi
utilizada a equação 26 para determinar a descarga sólida de arrasto para o dia
14/02/17, com o resumo de cálculo apresentado a seguir.
57

Tabela 18 - Descarga sólida de arrasto medida na campanha de campo do dia 14/02/17 no posto
hidrossedimentológico da BR-277, no rio Passaúna.

Peso Qsa Qsa


Data L (m) Eam n l (m) t (min)
(kg) (kg/dia) (kg/s)
14/02/2017 0,1219 10,874 0,75 3 0,0762 5 2226,43 0,02577

A medição de descarga sólida do leito apresentada acima serviu de


parâmetro para a calibração das formulações da estimativa da descara sólida do
leito via método de Van Rijn (1984), conforme descrito em 3.4.3.

4.1.3. Granulometria

Foram coletadas três amostras do leito para caracterização desta


granulometria (uma amostra no dia 11/02/17 e duas amostras no dia 14/02/17). A
primeira amostra foi coletada sob a ponte da BR-277 enquanto que as demais
amostras foram coletadas a jusante (próximo à régua linimétrica deste posto
hidrossedimentológico). As amostras dois e três foram coletadas na mesma seção
transversal, sendo que a amostra 2 foi coletada em um ponto da seção de maior
velocidade do escoamento do que a amostra 3. Na Figura 22 são apresentados os
resultados da análise granulométrica do material de fundo na região do posto
hidrossedimentológico da BR-277.
58

Figura 22 - Análise granulométrica do sedimento do leito na região do posto hidrossedimentológico da


BR-277.

Segundo a classificação granulométrica apresentada em 3.3.3, estas


amostras são classificadas como areia média a areia grossa, com a seguinte
composição granulométrica:

Tabela 19 - Resumo percentual da composição granulométrica do sedimento de fundo na região do


posto hidrossedimentológico da BR-277.

Composição Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3


Argila e Silte 3,12 2,28 3,15
Areia 57,94 73,38 94,57
Pedregulho 38,94 24,34 2,28

4.2. CURVA CHAVE DE SEDIMENTOS

A atualização da curva chave de sedimentos para o rio Passaúna, conforme


descrito em 3.4, levou em consideração a criação de três cenários distintos do
potencial de aporte de descarga sólida ao reservatório. A seguir são apresentados
os resultados de cada cenário de forma equacional (Equações 27, 28 e 29) e de
59

forma gráfica (Figuras 23, 24 e 25). Além disto, é apresentada também uma
comparação gráfica (Figura 26) dos diferentes cenários adotados.

Cenário 1:  ób.  4,9922 ×  bí.D,@DD+ (27)

Cenário 2:  ób.  3,2081 ×  bí.D,@@^% (28)

Cenário 3:  ób.  3,0710 ×  bí.%,E++E (29)

Onde,

q sól. = descarga sólida, em ton/dia;


q líq. = descarga líquida, em m³/s.

Figura 23 – Cenário 1 - curva chave de sedimentos para descarga sólida total via método simplificado
de Colby (1957) para o rio Passaúna no posto hidrossedimentológico da BR-277.
60

Figura 24 – Cenário 2 - curva chave de sedimentos para descarga sólida total via método de Van Rijn
(1984) para o rio Passaúna no posto hidrossedimentológico da BR-277.

Figura 25 – Cenário 3 - curva chave de sedimentos para descarga sólida em suspensão para o rio
Passaúna no posto hidrossedimentológico da BR-277.
61

Figura 26 - Comparação entre os três cenários de curva chave de sedimento propostos.

Para avaliar a variação entre as curvas chave de sedimentos foram definidas


algumas descargas líquidas de interesse e analisadas as estimativas
correspondentes das descargas sólidas, conforme tabela abaixo.

Tabela 20 - Análise da estimativa de descarga sólida com os diferentes cenários propostos.

Vazão (m³/s) 1,70 1,88 2,20 3,20 6,65 14,30


Cen. 3 - Suspensão (ton/dia) 8,57 10,41 14,11 29,12 119,82 526,73
Cen. 2 - Total Van Rijn (ton/dia) 9,31 11,40 15,63 33,16 144,06 670,31
Percentual suspenso 92% 91% 90% 88% 83% 79%
Cen. 1 - Total Colby (ton/dia) 14,60 17,89 24,59 52,46 230,29 1.083,25
Percentual suspenso 59% 58% 57% 56% 52% 49%

Os resultados apresentados na Tabela 20 permitem notar que o cenário 2 de


descarga sólida total é mais coerente em relação ao percentual de descarga sólida
em suspensão do que o cenário 1, conforme apresentado no item 3.4.2.
62

Neste sentido, o cenário 1 (descarga sólida em suspensão) é compreendido


como o cenário para estimativas mínimas da descarga sólida no rio Passaúna. Já o
cenário 2 (descarga sólida total, via método de Van Rijn) é compreendido como o
cenário mais representativo da estimativa da descarga sólida total. Por fim o cenário
3 (descarga sólida total via método de Colby) é compreendido como o cenário de
estimativas superiores a descarga sólida total.

Por meio de tais curvas chave de sedimentos é possível quantificar o aporte


sólido ao reservatório ao longo de qualquer período de tempo para o qual se
disponha de dados de vazão. Ao fazer isto para os dados diários da série histórica
de vazões do rio Passaúna, chegou-se ao resultado da contribuição sedimentar
deste afluente ao reservatório desde a sua formação (1990) até o ano de 2015,
conforme Tabela 21

Tabela 21 Contribuição sedimentar do rio Passaúna ao reservatório durante o período de operação


para as diferentes curvas chave de sedimentos propostas.

Aporte de sedimentos (toneladas)


Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
238.868 150.919 132.440

Para o cenário mais representativo (cenário 2), o respectivo aporte específico


foi de 1.639,89 ton/km2. Por regionalização, em que se considerou uniformidade de
condições hidrológicas e de erosão laminar na área de drenagem de todo o
reservatório, estimou-se que o aporte total de sedimentos da bacia hidrográfica ao
reservatório do Passaúna desde a sua criação foi da ordem de 255.134 toneladas.
Considerando a alta eficiência de retenção de sedimentos do reservatório
(SIQUEIRA, 2014; SILVA, 2017), estima-se que tal aporte esteja depositado no leito
do reservatório, contribuindo para o seu assoreamento gradual.

4.3. MAPEAMENTO DO ASSOREAMENTO NO RESERVATÓRIO

Foi adotada a curva chave de sedimentos do cenário 2, item 4.2, para as


estimativas da descarga sólida necessárias para a modelagem computacional
que visou mapear o assoreamento no reservatório Passaúna.
63

Para os resultados apresentados nos subitens abaixo a posição 0 metros é


compreendida como a localização de início do reservatório, que avança até
aproximadamente 11.000 metros (comprimento total do reservatório). Posições
negativas dizem respeito a regiões compreendidas no rio Passaúna, a montante
do reservatório.

4.3.1. Cenário 1

A análise da influência de um evento de cheia em relação a vazão média de


longo período para o assoreamento no reservatório Passaúna, conforme descrito em
3.4.5, apresentou os seguintes resultados de eficiência de retenção (Figura 27) e
aporte de sedimentos (Figura 28).

Figura 27 - Eficiência de retenção ao longo do reservatório para o cenário 1.


64

Figura 28 - Aporte de sedimentos ao longo do reservatório para o cenário 1.

Para os pontos notáveis ao longo do reservatório (Figura 12), os dados de


eficiência de retenção (ER) e aporte de sedimentos (AS) também são apresentados
na Tabela 22.

Tabela 22 - Resumo do aporte de assoreamento e da eficiência de retenção nos pontos notáveis ao


longo do reservatório.

Posição 1-A-1 1-A-2 1-B-1 1-B-2


Ponto
(m) AS (ton) ER (%) AS (ton) ER (%) AS (ton) ER (%) AS (ton) ER (%)
Início Reservatório 0 1.453,3 21,3% 1.453,3 19,8% 147,1 47,9% 147,1 45,2%
Ponte Ferraria 900 358,8 75,65% 384,8 73,88% 17,5 88,33% 19,4 87,04%
Parque 3.800 165,9 89,10% 176,0 87,89% 2,6 98,53% 3,8 97,81%
Captação 7.700 80,6 94,63% 95,6 93,61% 0,1 99,96% 0,2 99,89%
Barragem 10.900 45,9 96,90% 58,1 96,06% 0,0 100,00% 0,0 99,99%

Os resultados das simulações para o cenário 1 permitem concluir que o


aporte sólido ao reservatório durante um evento de cheia é uma ordem de
magnitude superior ao aporte associado à vazão média de longo período, no
intervalo de duração do evento de cheia. Deste modo, em condições de vazão
média seriam necessários mais de quatro meses para ocorrer um aporte sólido
similar ao estimado para a quinzena do evento de cheia simulado.
65

O evento de cheia também apresentou maior capacidade de transporte de


sedimentos ao longo do reservatório. Logo na entrada do Buffer, é possível verificar
uma eficiência de retenção média de 56% menor no evento de cheia em
comparação com dados de vazão média de longo período. O evento de cheia
também se mostrou capaz de transportar cerca 3,5% do aporte total de sedimentos
até o barramento do reservatório, sendo que em condições médias já na região de
captação o aporte de sedimentos proveniente do rio Passaúna é praticamente nulo.

4.3.2. Cenário 2

Conforme mencionado no item 3.5.1, o cenário 2 foi estruturado para avaliar a


influência de cada um dos três fatores que regem os processos de transporte e
deposição de sedimentos, a saber: vazão, descarga sólida e granulometria.

4.3.2.1. Influência da granulometria

Independente da vazão, o sedimento grosso é depositado assim que chega


ao reservatório, com mais de 99% do sedimento sendo depositado na entrada do
reservatório (Figura 29, Figura 30 e Tabela 23).

Já para o material fino a vazão é preponderante para determinar onde o


sedimento será depositado. Para vazões próximas a média de longo período,
entorno de 48% do sedimento fino é depositado na entrada do reservatório, sendo
registrada a influência da descarga sólida proveniente do rio Passaúna até a região
do parque, cerca de 4 km após a início do reservatório (Figura 29 e Tabela 23).

Para vazões elevadas, similares a vazão de 1% de recorrência, apenas 26%


do aporte de sedimentos é retido na região do Buffer, sendo registrada a influência
da descarga sólida proveniente do rio Passaúna até a região da barragem, cerca de
11 km após o início do reservatório (Figura 30 e Tabela 23).
66

Figura 29 - Avaliação da eficiência de retenção no cenário 2-A em função da granulometria.

Figura 30 - Avaliação da eficiência de retenção no cenário 2-B em função da granulometria.

Para os pontos notáveis ao longo do reservatório (Figura 12), os dados de


eficiência de retenção também são apresentados na Tabela 23.

Tabela 23 - Avaliação da eficiência de retenção, nos pontos notáveis do reservatório, no cenário 2 em


função da granulometria.
67

Cenário 2-A 2-B


Ponto Cond. 1 Cond. 2 Cond. 3 Cond. 4
Início Reservatório 47,9% 98,3% 26,0% 97,2%
Ponte Ferraria 88,3% 99,9% 78,0% 99,4%
Parque 98,5% 100,0% 91,0% 99,9%
Captação 100,0% 100,0% 96,8% 100,0%
Barragem 100,0% 100,0% 98,7% 100,0%

4.3.2.2. Influência da descarga sólida

A variação da descarga sólida não apresentou influência significativa sobre a


eficiência de retenção em nenhuma região do reservatório, nem mesmo na região de
entrada, conforme Figura 31, Figura 32 e Tabela 24. Significa dizer que a descarga
sólida tem influência apenas na quantidade de sedimento que no reservatório e não
em seu comportamento de deposição.

Figura 31 - Avaliação da eficiência de retenção no cenário 2-A em função da descarga sólida.


68

Figura 32 - Avaliação da eficiência de retenção no cenário 2-B em função da descarga sólida.

Para os pontos notáveis ao longo do reservatório (Figura 12), os dados de


eficiência de retenção também são apresentados na Tabela 24.

Tabela 24 - Avaliação da eficiência de retenção, nos pontos notáveis do reservatório, no cenário 2 em


função da descarga sólida.

Cenário 2-A 2-B


Ponto Cond. 1 Cond. 5 Cond. 6 Cond. 4
Início Reservatório 47,9% 47,9% 91,9% 97,2%
Ponte Ferraria 88,3% 88,3% 99,4% 99,4%
Parque 98,5% 98,5% 99,9% 99,9%
Captação 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Barragem 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

4.3.2.3. Influência da vazão

Em concordância aos resultados apresentados no item 4.3.2.1, o sedimento


grosso é depositado assim que chega ao reservatório, com mais de 99% do
sedimento sendo depositado na entrada do reservatório, independente da
velocidade do escoamento (Figura 33, Figura 34 e Tabela 25).

Já para o material fino a vazão é preponderante para determinar onde o


sedimento será depositado. Para vazões próximas a média de longo período,
69

entorno de 48% do sedimento fino é depositado na entrada do reservatório, sendo


registrada a influência da descarga sólida proveniente do rio Passaúna até a região
do parque, cerca de 4 km após a início do reservatório (Figura 33 e Tabela 25).

Para vazões elevadas, similares a vazão de 1% de recorrência, apenas 21%


do aporte de sedimentos é retido na entrada do reservatório, sendo registrada a
influência da descarga sólida proveniente do rio Passaúna até a região da barragem,
cerca de 11 km após o início do reservatório (Figura 33 e Tabela 25).

Figura 33 - Avaliação da eficiência de retenção no cenário 2-A em função da vazão.

Figura 34 - Avaliação da eficiência de retenção no cenário 2-B em função da vazão.


70

Para os pontos notáveis ao longo do reservatório (Figura 12), os dados de


eficiência de retenção também são apresentados na Tabela 25.

Tabela 25 - Avaliação da eficiência de retenção, nos pontos notáveis do reservatório, no cenário 2 em


função da vazão.

Cenário 2-A 2-B


Ponto Cond. 1 Cond. 8 Cond. 7 Cond. 4
Início Reservatório 47,9% 20,8% 98,3% 97,2%
Ponte Ferraria 88,3% 78,0% 99,9% 99,4%
Parque 98,5% 91,0% 100,0% 99,9%
Captação 100,0% 96,8% 100,0% 100,0%
Barragem 100,0% 98,7% 100,0% 100,0%

4.3.3. Cenário 3

A análise do comportamento do assoreamento ao longo do reservatório para


toda ao longo da sua vida operacional com base na vazão média de longo período e
as respectivas descarga sólida e granulometria, conforme descrito em 3.4.5,
apresentou os seguintes resultados de eficiência de retenção (Figura 35) e aporte de
sedimentos (Figura 36).

Figura 35 - Eficiência de retenção ao longo do reservatório para o cenário 3.


71

Figura 36 - Aporte de sedimentos ao longo do reservatório para o cenário 3.

Para os pontos notáveis ao longo do reservatório (Figura 12), os dados de


eficiência de retenção e aporte de sedimentos também são apresentados na Tabela
26.

Tabela 26 - Resumo do aporte de assoreamento e da eficiência de retenção nos pontos notáveis ao


longo do reservatório.

Posição Cenário 3
Ponto
(m) AS (ton) ER (%)
Início Reservatório 0 103.185,5 47,9%
Ponte Ferraria 900 12.288,4 88,33%
Parque 3.800 1.813,4 98,53%
Captação 7.700 49,3 99,96%
Barragem 10.900 1,2 100,00%

O resultado da simulação realizada no cenário 3 permite gerar a primeira


estimativa do aporte total de sedimentos ao reservatório pelo seu principal afluente
(rio Passaúna) com dados refinados da descarga sólida e da granulometria do
sedimento transportado, para a condição de vazão média de longo período. Além
disto, ressalta-se a ordem de grandeza da eficiência de retenção da região do
Buffer, que representa quase 90% da eficiência de retenção de todo no reservatório
no seu primeiro quilometro de extensão.
72

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O monitoramento hidrossedimentológico realizado com coletas em campo e


posterior analise laboratorial permitiu a este estudo colaborar com o incremento da
série de dados para o posto de medições da BR-277, que é historicamente precária.
Além disto, destacam-se também os primeiros resultados apresentados na literatura
de descarga sólida do leito e de granulometria da descarga sólida em suspensão
para o rio Passaúna (BR-277), com dados coletados em campo.

Ressalta-se ainda a importância de utilizar os dados medidos em campo para


desenvolver modelagens mais representativas do estado que se deseja avaliar. De
mais a mais, conhecer dados medidos em campo permite uma análise criteriosa de
resultados provenientes de estimativas, sejam elas empíricas ou analíticas. De todo
modo estas medições em campo dos dados de interesse devem ser realizadas
sempre que possível para a geração de séries históricas representativas.

A análise de consistência dos dados de descarga sólida permitiu notar uma


característica no padrão de coleta dos dados secundários de descarga sólida
suspensa que caracterizam alguns dados da série histórica como inapropriados para
estimativas da descarga sólida total. Esta variação no padrão de coleta altera a
capacidade de transporte de sedimentos de uma seção transversal de um canal de
água e não efetivamente a quantidade de sedimentos transportados.

Com os dados de descarga sólida consistidos foi possível propor três cenários
diferentes para a estimativa da descarga sólida com base na curva chave de
sedimentos. Para a estimativa da curva chave de sedimentos da descarga sólida em
suspensão foi possível utilizar todos os dados disponíveis na série histórica,
revelando um cenário mínimo do transporte de sedimentos.

Para a estimativa da curva chave de sedimentos da descarga sólida total,


utilizando as formulações propostas por Van Rijn para cálculo da descarga do leito e
apenas os dados consistidos, o cenário apresentado é consistente com a proporção
de descarga sólida em suspensão e do leito propostas pela literatura, sendo adotado
neste estudo como o cenário mais representativo entre os estudados.
73

A estimativa da curva chave de sedimentos para a descarga sólida total


utilizando as formulações propostas por Colby apresentou valores de descarga
sólida do leito superiores aos sugeridos pela literatura. Por este motivo este cenário
fica considerado como um cenário limite do transporte de sedimentos para o rio
Passaúna, de modo que descargas sólidas superiores as propostas por este cenário
devem ser incomuns.

Com base no cenário de curva chave mais representativo, o aporte total de


sedimentos durante 26 anos de operação (1990 a 2015), para toda a bacia
hidrográfica do reservatório, foi estimado em 255.134 toneladas com base nos
dados diários de vazão. Ressalta-se a ordem de grandeza resultado, de modo que
este aporte foi regionalizado para toda a bacia com base nos dados do rio Passaúna
apenas. É necessária, em estudos futuros, a análise da influência dos outros
afluentes do reservatório e também da contribuição direta de margem no
reservatório para o refinamento de tal estimativa. Além disto, há ainda a
necessidade de completar a série histórica de vazões, que possui grandes períodos
falhos.

A comparação entre os efeitos da vazão de um evento de cheia e a vazão


média de longo período, por meio de modelagem computacional, realizada neste
estudo revelaram uma influência 10 vezes maior do aporte de sedimentos no
reservatório para o evento de cheia além da completa alteração na distribuição dos
sedimentos ao longo do reservatório nesta condição. Assim fica revelada a
importância de serem considerados os eventos de cheia na caracterização dos
processos hidrossedimentológicos no reservatório Passaúna.

As simulações de avaliação da influência de um evento de cheia e também a


simulação de todo o período de operação do reservatório desenvolvidas neste
estudo apresentam a região do Buffer do reservatório como sendo o principal local
de deposição de sedimentos da descarga sólida que é transportada pelo rio
Passaúna. Foram registradas eficiências de retenção variando de 75 até 90% nesta
região, posicionada no primeiro quilometro de extensão do reservatório.

Além disto, a análise de influência da vazão, descarga sólida e granulometria


apresentaram apenas a vazão e a granulometria do sedimento como fatores
determinantes e inversamente proporcionais no mapeamento do assoreamento no
74

reservatório Passaúna. Quanto maior a velocidade do escoamento, mais distante do


início do reservatório se espera registrar a deposição de sedimentos. Por outro lado,
quão mais grosso é o sedimento transportado, mais próximo à entrada do
reservatório este sedimento é depositado. A descarga sólida não apresentou
influência expressiva na maneira como o sedimento é depositado no reservatório.

O aumento da vazão e a diminuição da granulometria dos sedimentos


suspensos oriundos do rio Passaúna favorecem a deposição em regiões mais a
jusante, no reservatório, podendo chegar até próximo da barragem em condições de
cheia fluvial. Com menor vazão e maior granulometria, por outro lado, o sedimento
tende a ser depositado na porção inicial do reservatório, mesmo as frações
coesivas. As frações não coesivas transportadas pelo rio Passaúna (areias,
principalmente) são depositadas sempre na porção inicial do reservatório, a
montante da ponte da Ferraria, independentemente das condições de vazão e
descarga sólida, nas respectivas faixas consideradas nas simulações
computacionais deste estudo.

Sugere-se que futuros estudos busquem considerar a influência de outros


afluentes ao reservatório (ainda que o rio Passaúna seja o mais relevante), bem
como de ramificações do reservatório sobre os processos hidrossedimentológicos
aqui considerados.
75

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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