Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apresentado por:
Adailton Miranda
BRMACC686660
Orientador:
[Inserir nome e sobrenomes do Orientador do PF]
Belém, Brasil
20/08/2018
DEDICATÓRIA
Agradeço a todos que de alguma maneira participaram desta etapa da minha vida, peço
desculpas às pessoas não mencionadas, mas deixo a certeza de que fazem parte de meu
pensamento e gratidão.
Início os agradecimentos pela minha orientadora, professora Drª Anna Rodrigues, por
sua amizade, dedicação e empenho, motivando-me a desenvolver um projeto melhor e mais
completo e um programa com uma interface que favorece o usuário. Aos membros e amigos
da equipe de pesquisa Engº José Caputo, Engª Arlene Rosa, Engº Thiago Noeb, ao Tec. Yuri
Mendes e Engº. Flavio Jonathan Jr. por suas colaborações e participação, auxiliando a aparar
algumas arestas da pesquisa. E aos demais colegas professores e funcionários da FUNIBER
que sempre estimularam a continuação de meus estudos e aos colegas de curso pelo auxílio
ao longo das disciplinas.
A gratidão não podia deixar de ser prestada à minha família pelo apoio, compreendendo
as dificuldades enfrentadas ao longo do caminho e não me deixando abater ou desistir,
sempre com palavras de encorajamento e motivação, por compreenderem a importância das
horas dedicadas à pesquisa, das noites passadas em claro, momentos nos quais mesmo
quando próximo, estive longe em pensamento e deixei de dar-lhes a devida atenção. Em
especial à minha esposa Magda e ao meu filho Melquisedeque e a minha filha Ester, aos
meus pais.
TERMO DE COMPROMISSO
Assinatura: ___________________________
[Autorização voluntária]
Belém, Pa., 20 de agosto 2018
Venho por este meio autorizar a publicação eletrônica da versão aprovada de meu
Projeto Final com título Processo de recuperação da degradação proveniente da
ocupação do solo urbano em Área de Preservação Permanente (Igarapé São Raimundo
margem esquerda), na cidade de Manaus, Amazonas, Brasil , no Campus Virtual e em
outras mídias de divulgação eletrônica desta Instituição.
Atenciosamente,
Assinatura: ___________________________
ÍNDICE GERAL
Keywords
[Tradução das Palavras-chave apresentadas no tópico anterior].
INTRODUÇÃO
Rios, córregos e igarapé envolvem muito mais que água são espaços vitais para
muitas espécies de flora e fauna. Nos últimos séculos muitos, rios, córregos e igarapés foram
modificados com objetivo de acelerar o transporte das águas de cheias, drenar baixadas
úmidas para incremento das culturas agrícolas e ampliar áreas para assentamento das
populações.
Na maior parte das intervenções só foram considerados os aspectos setoriais
negligenciando os aspectos socioeconômicas, de saneamento básico, meio ambiente,
infraestrutura, culturais, ecológicos, urbanísticos e paisagístico. Enfocando de maneira
objetiva o cenário atual das condições Micro bacia do Igarapé São Raimundo, em Manaus.
Este descritivo sobre a degradação do ambiente urbano, justifica a necessidade de execução
das soluções estratégicas voltadas para os componentes estruturadores da dinâmica da área
envolvidos, notadamente para os bairros Nossa Senhora Aparecida e Presidente Vargas.
Em 2003 o Governo do Estado de Manaus, concebeu o Programa Social e Ambiental dos
Igarapés de Manaus, com intuito de solucionar a problemática urbana da Capital a partir da
inclusão social de aproximadamente 40.000 pessoas ocupantes das áreas de risco em duas
grandes bacias hidrográficas: dos Educandos-Quarenta, porém ao longo de 12 anos,
observou-se que as áreas de igarapé onde houveram intervenções que o potencial de
regeneração da qualidade ambiental, e o ecossistema não atingiu o esperado ou não ocorreu.
Diante destes fatos verificou-se que as técnicas empregadas na recuperação ambiental não
apresentaram o resultado desejado. Qual o processo ou técnica deve-se empregar para a
recuperação da área degrada proveniente da ocupação da faixa de app, na Micro bacia do
Igarapé São Raimundo, em Manaus?
As atividades humanas têm alto potencial de modificar a paisagem por outro é acelerado
desenvolvimento das ciências que se que se dedicam a melhor compreender os processos
afetados pelo desenvolvimento humano e que buscam medidas para mitigar este impacto
gerado.
O reconhecimento dos desafios envolvidos na gestão de bacias hidrográficas cresce com
o aumento das cargas poluidoras geradas no meio urbano que são lançadas nos corpos
d’água e dos impactos gerados pela canalização deste. Pesquisas demostram que rios,
córregos e igarapés em áreas urbanas podem ter suas dimensões aumentadas além da
especificada em legislação vigente no código florestal Lei 12.727/2012, este aumento se dá
em resposta do escoamento superficial devido à impermeabilização do solo também ao
excesso de sedimentos trazidos pelo sistema de drenagem para o corpo d’água. É necessário
reconhecer os padrões espaciais temporais existentes em bacias localizadas em áreas
urbanas para que seja possível categorizar e caracteriza estes padrões para uma gestão mais
adequada (Chin et al, 2005).
As intervenções realizadas nos diversos rios, córregos e igarapés em áreas ocupadas
pelo homem levaram ao avanço das pesquisas voltada para melhor entendimento do
processo, e os resultados desta são hoje usados como subsidio para gestão adequada dos
corpos d’água. Com o avanço destas ciências surgem ao menos oito pontos que podem ser
destacados: 1. Maior consciência das variações existentes ao longo do corpo d’água; 2. Maior
consciência das heterogeneidades existentes na bacia; 3. Demanda por métodos para
identificação e analise de tais padrões espaciais; 4. Analise das alternativas existentes para
tratamento e gestão do corpo d’água; 5. Utilização, sempre que possível, de métodos menos
extremos, padronizando o uso de soluções que promovam o retorno do corpo d’água para
seu estágio mais natural; 6. Necessidade de compreender o que é considerado “natural”
quando buscamos recuperar um corpo d’água e a importância do envolvimento da
comunidade no processo; 7. Gestão e revitalização do canal planejadas dentro de um
contexto holístico; 8. Gestão do canal compatível e integrada com a gestão de bacias
hidrográficas (Chin et al, 2005).
Por muito tempo o uso humano foi primordialmente sobre os demais usos possíveis para
o corpo d’água, portanto um dos desafios envolvidos no manejo da água em ambiente urbano
é o de integrar a maior quantidade de uso possíveis para o corpo d’água, ou seja, deve se
estabelecer usos que levem em conta os aspectos sociais, ecológicos, que por tanto tempo
foram renegados (Cengiz, 2013).
No Brasil, na década de 80 a degradação era vista como poluição. No entendimento de
Duarte e Bueno (2006), os ecossistemas podem ser levados a um estado de perturbação
devido ás ações antrópicas, ou seja, uma área pode sofrer certo distúrbio e, ainda, manter a
possibilidade de se regenerar em condições naturais ou se estabilizar em outras condições
estáveis. O impacto sofrido, no entretanto, pode impedir ou restringir a capacidade do
ambiente de se restabelecer, retomar ao estado original, ou seja, tem sua resiliência reduzida.
Neste caso forma-se uma área degradada. Desta forma, área degradas são “aquelas que não
possuem mais a capacidade de repor as perdas de matéria orgânica do solo, nutrientes,
biomassa e estoque de propágulos” (Brown; Lugo, 1994). Ou seja, a degradação é verificada
quando elementos naturais como fauna, flora, solo e corpos d’água sofrem alterações,
justamente com as características biológicas, físicas e químicas do local explorado.
No campo urbanístico, contexto no qual se desenvolve uma ampla diversidade de
interações humanas e atividades, de degradação está associada à perda da função urbana
das formas de uso do solo nas áreas em questão, em relação ás às condições existentes ou
às previstas ou estabelecidas no planejamento (Bitar, 1997). Nas áreas urbanizadas, a
impermeabilização do solo, por exemplo, resulta em cheias e inundações que atingem os
extratos mais pobres da população (Ambiente Brasil, 2007).
Um ecossistema terrestre é degradado quando tem a cobertura vegetal e a fauna
destruídas, perda da camada fértil do solo, mudança na vazão e qualidade do sistema hídrico,
por ações como, processo de erosão, deposito de lixo, ocupação das faixas marginas dos
cursos d’água, entre outras (Duarte; Bueno, 2006), podem ser recuperados utilizando
processos adequados.
MARCO TEÓRICO
A história das relações do homem – e suas cidades – com os rios segue uma trajetória
complexa, marcada por variadas formas de interação ao longo do tempo e do espaço,
fundada na dinâmica e sazonalidade naturais dos corpos de água, mas, sobretudo, nas
significativamente variáveis necessidades e expectativas humanas, no decorrer de distintos
períodos, épocas e lugares. Após os momentos iniciais da história, quando os rios
viabilizaram as cidades – e, portanto, a civilização –, estes e suas margens passaram a sofrer,
inexoravelmente, e frequentemente, os impactos hidrológicos e ambientais do crescimento
urbano, ao mesmo tempo que perderam, gradativamente, seu papel como elementos da
paisagem (BAPTISTA, CARDOSO, 2013).
Os rios marcam a história e as dinâmicas espaciais das cidades na Amazônia, ou seja,
define uma relação cidade-rio enfatizando que é por intermédio deles que há a penetração
de pessoas, mercadorias e serviços. Pelo rio chegam produtos das florestas, ou dele mesmo,
como o pescado. Por ele a cidade faz-se rural e faz-se urbana, um espaço relacional que
contém e está contido em relações. O rio enquanto via possui múltiplos pontos e por isso não
podemos defini-lo isoladamente como elemento de caracterização da relação rural-urbano
nas cidades ribeirinhas da Amazônia (LOMBA et al, 2013). O rio na verdade é o meio que
permite a materialização da relação entre os distintos lugares e tempos e permitiu a
construção da rede urbana ocupada pelo povo ribeirinho nas margens dos cursos d´água.
Os principais fatores que contribuíram para a ocupação das margens de cursos
d’água no Estado do Amazonas e que promoveram um crescimento desordenado com
prejuízos aos mananciais hídricos foram os dois períodos de desenvolvimento econômico: a
era extrativista da borracha e a implantação do modelo da Zona Franca, principalmente este
último, aliados a falta de políticas públicas voltadas para o uso e ocupação do solo. Como
resultado da falta desse planejamento, ocorreu um adensamento populacional nas margens
dos igarapés ocasionando sérios problemas sociais e ambientais que, a despeito do
crescimento econômico, perduram até os dias de hoje.
Desta forma é imprescindível entender que qualquer iniciativa que vise à remoção dos
agentes de degradação no meio ambiente amazônico, promovido pelas ocupações
irregulares de margens de rios e igarapés e ainda das suas áreas alagáveis, devem ser vistos
como fatores positivos que ajudam na melhoria da qualidade ambiental do ecossistema
urbano.
Conceitualmente as APP’s são área protegidas, cobertas ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas (Lei 12.651/2012). São espaços territoriais
especialmente protegidos de acordo com o disposto no inciso III, § 1º, do art. 225 da
Constituição Federal.
Segundo SCHÄFFER, et. al. 2011, as funções ambientais das APP’s são as seguintes:
Preservação dos recursos hídricos;
Preservação da paisagem;
Preservação da estabilidade geológica;
Preservação da biodiversidade;
Preservação do fluxo gênico de fauna e flora;
Proteção do solo;
Segurança do bem-estar das populações humanas.
As ocupações de APP’s na região amazônica acontecem de forma espontânea devido
a facilidade de descarte de efluentes e de resíduos domésticos pela população. Ainda,
nesses espaços existe a facilidade da instalação de moradias devido à falta de fiscalização
do poder público potencializando os processos de invasões e de ocupação irregular.
A ocupação humana das áreas de preservação permanente dos cursos d’água de
Manaus é bastante pretérita. A partir do ano de 1850, Dom Pedro II sanciona a Lei Nº. 582
que cria a Província do Amazonas e a partir deste momento verifica-se a transformação
radical do ruralismo para o urbanismo. Nesta época a cidade contava com cerca de 3.000
habitantes (BATES apud MONTEIRO, op. cit.), registrando uma taxa de crescimento médio
anual de 3,65% no período 1786-1850. Em 1856, pela Lei Nº 68 da Assembleia Provincial do
Amazonas, a Cidade da Barra do Rio Negro recebe a denominação de “Cidade de Manaus”,
a qual se desenvolve recortada por seis igarapés, sendo que destes três são logo aterrados:
Igarapé do Espírito Santo (Foto 01 e 02), onde atualmente localizam-se as Avenidas Getúlio
Vargas e Floriano Peixoto; Igarapé dos Remédios ou do Aterro, hoje ocupado pela Avenida
Eduardo Ribeiro (Foto 03 e 04) e Igarapé da Ribeira das Naus (Foto 05), onde hoje se
localizam as praças do Comércio, Oswaldo Cruz e Quinze de Novembro.
Foto 1. Igarapé do Espírito Santo cujo leito aterrado hoje é ocupado pelas Av. Getúlio Vargas e
Floriano Peixoto. Fonte: George Huebner, 1890. Brasiliana. Fotográfica.
Foto 2. Casas à margem do igarapé do Espírito Santo, assim como a galeria de esgoto sendo
construída em seu leito. Este igarapé foi aterrado e hoje é ocupado pelas Avenidas Getúlio Vargas e
Floriano Peixoto. Fonte: George Huebner, 1890. Brasiliana. Fotográfica
Foto 3. Av. Eduardo Ribeiro sendo drenada e aterrada. Notar o cano de concreto no meio do que seria
mais tarde a avenida. Fonte: Manoel Lobato, 1912
Foto 4. Registro da antiga Ponte da Imperatriz, construída para ligar os antigos bairros de Espírito
Santo e República, início da Avenida Eduardo Ribeiro. Foto: Manoel Lobato, 1912.
Foto 5. Igarapé Ribeira das Naus, hoje área ocupada pelas praças do Comércio, Osvaldo Cruz e
Quinze de novembro. Fonte: Monteiro, 1994.
Figura 1. Modelo 3-D SRTM da NASA. As superfícies mais altas, em torno de 100 metros, estão situadas a norte da área de
estudo, na região de cabeceira das drenagens da bacia do São Raimundo. Na área da foz desse rio domina o nível topográfico
de 50 metros. A margem dessa superfície com o rio Negro é abrupta marcada por um relevo do tipo “falésia fluvial”.
Como nas demais bacias hidrográficas de Manaus, a qualidade das águas está
bastante comprometida. O despejo de resíduos sólidos e de dejetos industriais e domésticos/
sanitários no curso dos igarapés é uma constante. Entretanto, diferente das demais bacias
urbanas de Manaus, nesta as atividades com potencial de impacto ao ambiente não
obedecem a uma especialização locacional, como ocorre no Polo Industrial de Manaus (bacia
dos Educandos-Quarenta) e na bacia do Tarumã, onde se concentram empreendimentos da
indústria/ serviços náuticos e de lazer relacionados a este segmento. Os variados
empreendimentos ocorrem ao longo de todo seu traçado, sem que ocorra uma setorização,
dificultando e onerando o tratamento dos resíduos e efluentes antes de sua destinação final.
As indústrias existentes estão dispersas, mais concentradas ao norte, representadas em
maior número por empreendimentos de pequeno a médio porte como panificadoras,
serralherias, serrarias/ movelarias, fábricas de vestuário e alguns estaleiros nas proximidades
da foz do igarapé São Raimundo.
Na área de intervenção merecem destaque empreendimentos como a AmBev,
localizado na zona Centro-Sul, margens do igarapé dos Franceses (Av. Constantino Nery) e
a Cervejaria Miranda Correa, no bairro de Aparecida, de grande relevância por seu conjunto
arquitetônico datado do início do século XX.
O setor de serviços (mecânicos; de saneamento básico; saúde; educação; desportos/
lazer; transportes; geração e distribuição de energia; etc.) e comércio (varejista e atacadista)
é o que caracteriza economicamente a bacia do São Raimundo. Dentre as atividades de
prestação de serviços, as oficinas mecânicas automotivas e postos de combustíveis,
presentes em larga escala em todos os bairros que integram a bacia do São Raimundo,
especialmente nos mais populosos, como Planalto, Alvorada, Dom Pedro e Compensa
ganham destaque pela periculosidade ao meio ambiente. Não obstante o rigor da legislação
ambiental e cobrança pelos órgãos fiscalizadores quanto à destinação de borras, óleos,
recipientes usados de derivados petroquímicos e de águas residuárias, é possível detectar a
presença de rejeitos sólidos provenientes desta atividade em encostas e leitos dos igarapés,
bem como de óleos e graxas (sobrenadantes) nas águas. Polarizadas pela localização do
Porto Fluvial de Manaus e pelo porto flutuante (atracadouro) do São Raimundo (travessia
Manaus-Iranduba), inúmeras oficinas navais e pequenos estaleiros se localizam nas
proximidades e na foz do São Raimundo, dividindo espaço com indústrias madeireiras
(serrarias), de bebidas e de geração de energia (termoelétrica de Aparecida).
Foto 6. Pluma de alcance dos despejos de efluentes (lodos residuais da Estação de Captação e Tratamento de
Água Ponta do Ismael e de esgotamento sanitário ao longo dos tributários da sub-bacia do São Raimundo).
Manaus é uma cidade caracterizada por extensa rede hidrográfica com padrão
predominantemente dendrítico, agrupadas em 04 (quatro) microbacias: Tarumã, com
nascentes ao norte e oeste; São Raimundo, a de maior porte, que se estende pelas zonas
nordeste, centro e centro-sul da Cidade; Educandos-Quarenta, ocupando as zonas leste e
sul - estas três drenando para o rio Negro; e Puraquequara, no limite leste, situada
imediatamente à jusante do encontro das águas dos rios Negro e Solimões.
Cada uma das sub-bacias apresenta características fisiografias particulares e foi alvo
de uma forma de ocupação diferenciada, resultando em problemas ambientais distintos,
embora todos associados a desmatamentos e poluição hídrica.
As primeiras a ser objeto de degradação por ocupação humana foram as microbacias
do igarapé São Raimundo e do igarapé dos Educandos - Quarenta, situadas no centro da
Manaus da Belle Époque, nas quais foram erguidos os mais importantes edifícios públicos à
época e os primeiros bairros de Manaus. A transformação destas duas áreas sempre esteve
associada à dinâmica socioeconômica que caracteriza os centros urbanos desenvolvidos.
Indicadores históricos (Tabela 01) demonstram crescimento demográfico em Manaus
superior a 100% (acima da média da maioria das cidades brasileiras) nos períodos de 1900
- 1940 e 1970 – 1980, coincidentes com os booms da Economia local.
Entretanto, não obstante os números do êxodo rural no Amazonas e de outras áreas
do País para Manaus (principalmente do Nordeste), os investimentos governamentais nas
áreas de promoção social, saneamento básico e urbanismo foram insuficientes para dotar a
capital do Estado dos instrumentos e equipamentos necessários ao controle da qualidade
ambiental urbana que os episódios exigiam.
A despeito dos atrativos da Paris dos Trópicos, no início do século XX, quase ao final
do I Ciclo da Borracha na Amazônia, alguns migrantes dão preferência à ocupação de uma
região localizada nas proximidades da confluência entre o rio Negro e Solimões (Encontro
das Águas), onde passam a residir sobrevivendo do extrativismo (pesca e produção de
carvão) e dando origem à Vila do Puraquequara. Em função das características ambientais
do lugar (várzea), a pecuária se desenvolveu em fazendas que existiam no local. Com o
colapso do comércio da borracha, muitos trabalhadores (soldados da borracha) transferiram
residência para aquele lugarejo, que atualmente integra Manaus na condição de bairro da
zona leste. Desde meados do século XX o Puraquequara vem enfrentando crises sócio-
políticas de variadas naturezas, como a insuficiência da infraestrutura aportada ao bairro para
atendimento às demandas de seus 5.856 moradores (IBGE, Censo 2010), que ainda baseiam
sua economia no extrativismo, pecuária e em segmento turístico pouco desenvolvido e o
conflito resultante da relação de convivência dos moradores com as margens dos cursos
d’água e a necessidade de preservá-los. Extinto o Ciclo da Borracha, a pressão pela
ocupação de Manaus experimentou declínio, alterado ao final dos anos 1960 com o advento
da Zona Franca e posteriormente com a implantação do Distrito Industrial a leste (hoje Pólo
Industrial de Manaus), nas margens de um dos mais emblemáticos igarapés da Cidade – o
do Quarenta. Naturalmente intensifica-se a ocupação humana nesta direção por migrantes
do Interior do Estado e de várias regiões brasileiras, que vinham em busca de emprego e/ou
para participar da implantação/gestão dos grupos industriais.
O desenvolvimento econômico forçou a demanda por investimentos na construção
civil e a pressão para obtenção de minerais in natura necessários ao atendimento das
indústrias e do setor da habitação, resultou em exploração indiscriminada de jazimentos na
área da microbacia do Tarumã. Extensos lajedos de rocha foram dinamitados para abastecer
o comércio local, descaracterizando o ecossistema e deixando inúmeros grotões como
passivo ambiental de uma exploração perniciosa e na maioria clandestina. Por sua vez, a
beleza cênica e o apelo turístico e recreativo que caracterizavam o local, com destaque para
as Cachoeiras do igarapé Tarumã (Cachoeira Alta) e do Tarumãzinho, despertaram o
interesse do setor imobiliário, que inovou ao apresentar à população a possibilidade de
desfrutar do convívio com a natureza em ambientes privativos, que consistiam em
condomínios de campo, implantados preferencialmente na área de influência direta destes
cursos d’água. A urbanização que acompanhou o processo de ocupação facilitou o acesso
aos recursos da biota local, que foi severamente depredada. O mesmo ocorreu com as
margens de mananciais hídricos superficiais, resultado da multiplicação de marinas e
estabelecimentos de lazer (bares, restaurantes, casas de espetáculos) às suas margens,
acompanhados da instalação de estaleiros especializados na construção de embarcações de
alto padrão e oficinas mecânicas náuticas.
Como relatado, a ocupação das drenagens naturais se multiplicou em Manaus sem
a devida preocupação/ intervenção pelos sucessivos governos, mesmo quando assumiu
proporções insustentáveis. Multiplicaram-se lixões a céu aberto às margens e leitos dos
córregos, potencializando a proliferação de vetores de doenças infectocontagiosas,
obstruindo os canais de escoamento das águas superficiais e aumentando a ocorrência de
alagamentos por ocasião de chuvas intensas. As matas ciliares, importantes elementos na
regulação do microclima, do ciclo hidrológico, da manutenção da qualidade dos solos e da
biota local, foram assustadoramente devastados, restando escassos fragmentos florestais
nas áreas urbanizadas de Manaus. Águas superficiais foram contaminadas por metais
pesados (particularidade verificada na bacia dos Educandos-Quarenta) e organismos
patogênicos, com consequente incremento nas taxas de DQO e DBO. Os solos tiveram sua
qualidade comprometida, tanto sob aspecto edáfico (redução do teor de umidade; lixiviação
de nutrientes; poluição por óleos, graxas e outros resíduos) quanto geotécnico
(características geomecânicas e estruturais), interferindo diretamente nos graus de
estabilidade e erodibilidade (suscetibilidade à erosão). Somada a este cenário, a dificuldade
de acesso às moradias, resultante da inobservância de parâmetros construtivos e de
ocupação causa sérios prejuízos aos cofres públicos, vez que institui um círculo vicioso de
atendimento às variadas consequências da situação (baixa qualidade da saúde, insegurança,
risco iminente de perdas materiais e humanas, insuficiência e inadequação de redes de
abastecimento público, etc.) e não à solução das suas causas, desequilibrando os
investimentos em serviços básicos essenciais à boa qualidade de vida da população.
Vale destacar que a despeito do legado socioambiental conferido ao município de
Manaus, esta nova fase econômica (industrial) é a responsável pela colocação do Amazonas
na posição de 5º. PIB do País, restando aos Poderes Públicos o enfrentamento dos graves
problemas decorrentes do modelo econômico que mantém equilibrada a balança comercial
do Estado.
Fonte: Recenseamento do Brasil 1872-1920. Rio de Janeiro; Diretoria Geral de Estatística, 1872-1930; e IBGE,
Censo Demográfico 1940/2010. Até 1991, tabela extraída de: IBGE, Estatísticas do Século XX, Rio de Janeiro: IBGE,
Nota: (1) Os dados relativos referem-se ao % da pop. dos municípios das capitais em
relação à pop. total da respectiva unidade da federação. Para 1872 até a970: população
presente. Para 1980 até 2010: população residente. Para 2010: Os dados são da Sinopse –
dados definitivos
5.1 Conceitos
Foi realizado a partir de visitas técnicas realizadas nos dias 02, pelo período da
manhã, e 04 e 08 de julho de 2016, pela parte da tarde. No local, foram visitadas as seguintes
áreas: as instalações das quadras bairro (São Raimundo), o Parque Linear (cacimbas), o
igarapé cacimbas o complexo viário e o Parque Rio Negro localizado na orla do rio com o
mesmo nome.
Durante a visita técnica in loco foram realizados registros fotográficos da área de
interesse com e sem a intervenção do Prosamim III, foram identificados os seguintes
ecossistemas:
Ecossistema Rio Negro;
Ecossistema Igarapé São Raimundo.
De acordo com o levantamento primário foram identificados três cursos de água, para
os quais foram atribuídas as denominações de ecossistemas.
Cada ecossistema foi descrito de acordo com as feições mais relevantes do ponto de
vista de intervenção humana e foram delimitados em função da área de intervenção do
Prosamim III, em cada uma delas (Figuras 0 a 0).
Figura 4. Delimitação do Ecossistema Igarapé São Raimundo para efeito deste trabalho.
Figura 5. Delimitação da porção do Ecossistema Rio Negro intervinda pelo Prosamim III.
Tabela 13. Conceito, tipo, nível e característica do atributo emissão de gases de efeito estufa (GEE).
Atributo Conceito Tipo do atributo Nível Característica/Critério
Impacto sem geração de gases de
Sem geração de GEE 1
efeito estufa
Impacto de baixa geração de
Baixa 2 gases de efeito estufa, não
precisa de controle de mitigação
Impactos decorrentes de Impacto de geração de gases de
atividades com potencial Média 3 efeito estufa de intensidade média,
Emissão de GEE
de emissão de gases de precisa de controle de mitigação
efeito estufa Impacto de alta geração de gases de
Alta 4 efeito estufa, precisa de controle de
mitigação
Impacto de geração de gases de
Muito alta 5 efeito estufa muito alta, precisa de
controle de mitigação
Impacto de magnitude
Medida utilizada para
considerável/Contaminação/Reclamação
atribuir a gravidade do Média 2
o única/Uma violação de critério
impacto com relação a
Severidade legal/Reversível com ações mitigadoras
alguma falha nas suas
atividades ou fatores Descarga limitada de toxicidade
geradores conhecidas/Repetidas violações de
Localizada 3
padrões legais/Efeitos observados além
dos limites da ADA
Impacto de grande magnitude/Grande
extensão/Necessidade de grandes
Alta 4 ações mitigadoras para reverter a
contaminação ambiental/Violação
continuada de padrões legais
Atributo Conceito Tipo do atributo Nível Característica/Critério
Impacto de grande magnitude/Grande
extensão com consequências
irreversíveis, mesmo com ações
Muito alta 5
mitigadoras/Grande perda econômica
para a empresa/Violação alta e
constante de padrões legais
O sistema rio Negro apresenta diversas estruturas as quais são descritas a seguir:
A bacia hidrográfica do Rio Negro abrange uma superfície de 696.810 Km2, dos quais
82% pertencem ao Brasil, 10% à Colômbia, 6% à Venezuela e 2% à Guiana. Dentre os tipos
de água existentes na Amazônia, o rio Negro pertence ao grupo que apresenta coloração
escura, apresentando transparência aproximada de 1,30 a 2,30 m, valores de pH entre 3,8 e
4,9 e condutividade até 8 µS/cm (FURCH; JUNK, 1997). Apresenta estabilidade em suas
margens, com baixa erosão; uma pobre fauna e flora aquáticas; baixa concentração de sais
dissolvidos e ausência de matéria em suspensão e uma cor intensa, que varia entre castanho
escuro a preto, devido a altas concentrações de substâncias húmicas (KÜCHLER et al.,
2000).
A elevada acidez se deve a grande presença de substâncias orgânicas dissolvidas,
oriundas da drenagem de solos, em sua maioria, arenosos cobertos por vegetação conhecida
como campina, campinarana ou caatingas amazônicas.
A flutuação anual do Rio Negro, ou seja, a variação entre o nível de água mais baixo
e o mais alto durante o período de um ano, é de 9 a 12 metros. Perto da confluência com o
Solimões Amazonas, na foz do Rio Negro, a média de flutuação anual nos últimos 90 anos
tem sido de 9,8 metros; os níveis superiores são observados em geral nos meses de junho e
julho. O rio Negro, diferentemente do Amazonas, é relativamente canalizado e tem poucos
meandros no percurso. A velocidade da corrente de água na altura de Manaus é de
aproximadamente 1 metro por segundo, o que corresponde a 3,6 quilômetros por hora.
Na bacia do rio Negro, 86% da cobertura vegetal são do tipo de floresta tropical ombrófila
densa. Devido à sua regularidade, a vegetação que se estabeleceu nessas áreas adaptou-
se a este processo e ocupa as áreas conforme a duração de alagamento. As áreas mais
baixas, que passam mais tempo alagadas, são geralmente ocupadas por gramíneas e
vegetações de pequeno porte, e as áreas mais altas, que passam menos dias por ano
alagadas, são ocupadas por vegetação arbórea.
Número de Número de
Nome do Rio Extensão (m) Nome do Rio Extensão (m)
Ordem Ordem
Rio Içana 2 718.735,67 Rio Demini 7 1.470.130,28
Rio Marié 6 1.198.635,42 Rio Padauari 5 652.916,51
Rio Uneiuxi 7 822.889,38 Rio Aracá 6 643.156,54
Rio Curicuriari 5 430.290,16 Rio Cauaburi 2 192.795,35
Rio Cuiuni 9 1.185.795,47 Rio Marauiá 3 153.689,15
Rio Unini 10 1.835.604,99 Rio Preto 4 375.929,98
Rio Carabinani 12 300.749,41 Rio Jauaperi 9 866.474,71
Rio Jaú 11 446.095,64 Rio Jufari 8 113.509,43
Rio Puduari 13 214.000,10 Rio Camanaú 10 446.258,38
Rio Urubaxi 8 503.461,10 Rio Apuaú 11 474.306,92
Rio Piraiauara 3 195.338,53 Rio Cuieiras 12 285.980,99
Rio Uauapés 4 477.733,13
Figura 5. Principais afluentes do rio Negro.
5.4.4. Hidrologia
O ciclo hidrológico dos rios amazônicos é influenciado diretamente pela quantidade
de chuva que atinge a a sua bacia. Em relação à precipitação pluviométrica a Amazônia é o
domínio climático mais chuvoso do continente americano, e possui a média das chuvas
ultrapassando os 2.750mm, sendo estas torrenciais e dispersas ao longo do ano,
consequentemente chove mais num determinado lugar que em outro.
Nos últimos trinta anos a maior enchente no Rio Negro atingiu a cota de 29,97m de
altitude (NM) no ano de 2012. A maior vazante registrada foi de 13,63 em 2010. A amplitude
de variação entre a enchente e vazante foi de 10,77±215m. A série histórica das enchentes
e vazantes e nos últimos trinta (30) anos é apresentada nas Tabelas 21 e 22.
Tabela 21. Série histórica das enchentes e vazantes do Rio Negro nos últimos trinta anos.
Fonte: Hidroweb. Estação Fluviométrica de Manaus, AM. Código: 19440000
Tabela 22. Variação média entre a enchente e vazante do Rio Negro nos últimos trinta (30) anos.
Fonte: Hidroweb. Estação Fluviométrica de Manaus, AM. Código: 19440000
Vazão - O Rio Negro apresenta variação de vazão entre 28.000m3/s a 63.610 m3/s nas
proximidades da cidade de Manaus. Estes valores podem apresentar variações de
acordo com o período do ano e da precipitação (CAVERO et al., 2013).
Velocidade - A velocidade da água do Rio Negro é variável podendo apresentar áreas
com remansos com pouca movimentação de água e outras onde as mesmas
apresentam correntezas maiores. As velocidades medidas ao longo deste estudo
oscilaram entre de 0,0 a 3,9 km/h seguindo padrão de incremento de velocidade para
grandes rios em relação proporcional à distância das margens e a profundidade
(CAVERO et al., 2013).
Igarapé do Mindú: principal tributário do igarapé São Raimundo, tem uma de suas nascentes
localizada no bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste, próximo ao Jardim Botânico da Reserva
Ducke. Cruza a cidade no sentido nordeste-sudoeste, percorrendo e delimitando inúmeros
bairros, como Jorge Teixeira, Tancredo Neves, Cidade Nova, Aleixo, Parque 10 de
Novembro, N. S. das Graças e S. Geraldo;
Igarapé dos Franceses: localizado na Zona Centro-oeste. Atravessa os seguintes bairros:
Alvorada I e II, Dom Pedro I e II;
Igarapé do Bindá: Possui sua nascente na Zona Norte e atravessa os bairros Cidade Nova,
Parque 10 e da União;
Igarapé do Franco: Localiza-se na região Centro-oeste da cidade de Manaus. Atravessa os
bairros Compensa e Santo Agostinho e São Jorge.
Os igarapés da cidade de Manaus, na sua maioria, são utilizados para fins domésticos.
Figura 6. Principais microbacias nas imediações da área de interesse com drenagem em direção ao Rio Negro
Solo: Formado pela base que dá sustentação aos recursos hídricos. Nesta feição podemos
identificar as áreas marginais ao rio as quais, devido ao pulso de inundação (subida e descida
das águas), sofrem com a formação de processos erosivos diversos, que resultam, na maioria
das vezes, em movimentos de massa.
A orla do rio Negro é caracterizada por arenitos da Formação Alter do Chão, com
geomorfologia caracterizada por rebordos erosivos e depósitos aluvionares recentes o que
favorece a formação desses processos. Aliado a isto existem no meio fatores diversificados
com processos geológicos (como zonas de falhas e rochas friáveis) que devem ser
considerados para a ocupação dessas áreas. Ainda, a maioria dos empreendimentos é
realizada com a retirada da vegetação e por cortes de taludes, o que acarreta à exposição
do material argiloso friável e intemperizado da formação geológica.
A aceleração dos processos erosivos nessas áreas é acelerada devido à ação das
águas superficiais decorrentes das chuvas aliada a dinâmica fluvial que muda o nível do rio
Negro em aproximadamente 14 m ao ano.
Foto 7. Falésia do rio Negro. No detalhe erosão provocada pelo rio na base do talude (escarpa).
Presença de risco geotécnico natural. Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero (15/09/2012).
Foto 8. Ocupação do topo da falésia no bairro de São Raimundo, na orla do rio Negro. Presença de risco
geotécnico natural e antrópico. Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero (15/09/2012).
Foto 9. Ocupação do topo da falésia na vila militar da Marinha, Colônia Oliveira Machado, na orla do
rio Negro. Presença de risco geotécnico natural e antrópico. Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero
(15/09/2012).
Foto 10. Ocupação da orla do rio Negro no bairro do São Raimundo, Manaus, AM. No detalhe a ocupação
irregular das áreas alagáveis e do pé do talude (escarpa) da falésia. Risco natural de alagamento. Foto:
Acervo Bruno A. S. Cavero (15/09/2012).
Recursos hídricos: Formado pelas águas do rio Negro onde acontecem as diversas
interações ecológicas. Esta feição é influenciada diretamente pela precipitação pluviométrica
a qual resulta na alteração do ciclo hidrológico do rio Negro, onde é possível destacar duas
estações definidas: enchente (Fotos 11 e 12) e vazante (Fotos 13 e 14). Essa variação
promove uma série de mudanças de comportamento e de adaptações dos moradores e dos
seres vivos inseridos nessa feição.
Foto 11. Área alagável na orla do rio Negro (Igapó) em condições naturais, nas imediações
do lago do Marapatá, Distrito Industrial, Manaus, AM. Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero
(13/09/2013).
Foto 11. Ocupação irregular de área alagável na orla do rio Negro nas imediações do bairro
do São Raimundo, Manaus, AM. Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero (30/06/2012).
Foto 12. Área alagável na orla do rio Negro (Igapó) em condições naturais, na época de vazante,
Manaus, AM.
Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero (07/12/2012).
Foto 13. Ocupação irregular de área alagável na orla do rio Negro nas imediações do bairro do São
Raimundo, Manaus, AM. Foto: Acervo Aroldo F. Aragão (19/01/2010).
Figura 13. Ilustração demonstrando uma situação hipotética da orla do rio Negro após a ocupação
humana.
Foto 14. Orla do rio Negro evidenciando a presença de uma falésia em processo de ocupação, com
atividades de supressão vegetal e intervenção na encosta.
Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero (07/12/2012).
Foto 15. Orla do igarapé do Rio Negro (atual Parque Rio Negro). Evidencia de ocupação irregular.
Foto: Acervo Aroldo F. Aragão (21/01/2010).
5.5.5. Feições ambientais afetadas pela ocupação humana no ecossistema rio
Negro
Flora: Supressão vegetal de áreas diversas. Esta ação deixa o solo exposto propiciando a
instalação de processos erosivos, agravados na época de chuva, e consequente
assoreamento dos recursos hídricos. Ainda, quando associado à ocupação irregular de
falésias (na margem do rio Negro) potencializa movimentos de massa (desabamentos). A
erosão fluvial da base da escarpa da falésia por ondas e fluxo da água provoca
desmoronamento das paredes da escarpa que tende a se apresentar verticalizada (Foto 16).
Foto 16. Ocupação da orla esquerda do rio Negro. No detalhe é possível observar a supressão da vegetação ripária
para a instalação de empreendimentos diversos. Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero (15/09/2012).
Solo: ocupação irregular de falésias e de áreas alagáveis. Esta ação cria situações de risco
à população devido às condições de erodibilidade do solo na base do talude (erosão realizada
pelo Rio Negro) e do solo exposto (erosão decorrente da ação pluvial). Ainda, sobre o solo
foram identificados de deposição de resíduos sólidos na superfície e em camadas
subsuperficiais (Fotos 17 a 20).
Foto 17. Ocupação irregular na orla do rio Negro, onde atualmente existe o Parque Rio Negro.
Ocupação de falésia.
Foto: Acervo Aroldo F. Aragão (19/01/2010).
Recursos hídricos: Rio Negro nas imediações de Manaus. Poluição das águas decorrentes
de ações antrópicas.
Foto 18. Lançamento direto de resíduos. Foto: Acervo Aroldo F. Aragão (19/01/2010).
Foto 19. Lançamento direto de resíduos. Foto:http://www.correiodeuberlandia.com.br/brasil-
e-mundo/sem-opcao-moradores-de-palafitas-de-manaus-vivem-expostos-adoencas/
Foto 22. Ocupação irregular de falésias na orla do rio Negro (imediações do atual Parque Rio
Negro). Impacto sobre a flora e solo. Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero (15/09/2012).
Foto 23. Lançamento direto de resíduos sólidos na orla do rio Negro (atual Parque Rio negro).
Poluição do solo. Impacto sobre o solo. Foto: Acervo Aroldo F. Aragão (19/01/2010).
Foto 24. Ocupação irregular da base da escarpa de falésia na orla do rio Negro, bairro do São
Raimundo (atual Parque Rio Negro). Foto: Acervo Aroldo F. Aragão (23/01/2010).
Tabela 23. Significância do impacto ambiental decorrente da ocupação irregular de áreas marginais a
cursos d'água.
Significância do Range Classificação
Impacto
I ± 01 a 11 Não significativo
II ± 12 a 22 Baixa
III ± 23 a 33 Média
IV ± 34 a 44 Alta
V ± 45 - 55 Muito Alta
Significância do Impacto -20,16666667
A Bacia do São Raimundo está toda inserida na área urbana do município e o curso
d’agua atravessa as Zonas Leste, Norte, Centro-sul, Centro-oeste, Oeste e Sul. Possui uma
área de 117,95km2 e concentra aproximadamente 1.193.943 hab, segundo o IBGE-2000. Os
principais tributários que compõem a bacia do São Raimundo são:
Igarapé do Mindu: principal tributário da bacia, com 20 km de extensão, tem uma de suas
nascentes localizado no bairro Jorge Teixeira, na zona Leste, próximo ao Jardim Botânico da
Reserva Ducke. Percorre vários bairros como Tancredo Neves, Cidade Nova, Aleixo, Parque
10 de Novembro, Nossa Senhora das Graças e São Geraldo;
Igarapé dos Franceses: localizado na zona centro-oeste é um dos principais contribuintes
da bacia. Drena os bairros Alvorada e Dom Pedro;
Igarapé do Binda: tem sua nascente localizada na zona norte e percorre os Bairros Cidade
Nova, Parque Dez e União;
Igarapé do Franco: Localiza-se na região Centro-oeste da cidade de Manaus. Atravessa os
bairros Compensa e Santo Agostinho e São Jorge.
5.6.1.2 Alguns aspectos da ocupação do Igarapé São Raimundo
Além desses aspectos, outros merecem atenção, como extensas áreas com águas
poluídas pelo lançamento de esgotos industriais e domésticos. Em um dos tributários da bacia
do São Raimundo, o igarapé do Mindú, a ocupação desordenada de áreas antes florestadas,
ocasionou grandes volumes de sedimentos, efluentes industriais e principalmente esgotos
domésticos que são transportados para os cursos d’água.
Figura 09. Ilustração da margem direita do Igarapé São Raimundo após a ocupação humana. No detalhe a instalação de
moradias irregulares em áreas alagáveis.
5.7. Influência do Rio Negro sobre os Igarapés de Manaus
5.7.1 Enchente
O alagamento de Manaus, promovido pela elevação das águas do rio Negro, no período da
enchente influencia diretamente nas condições sanitárias da cidade devido ao represamento
dos igarapés impedindo a continuidade do fluxo. Esse fator favorece o acúmulo de resíduos
e de efluentes de origem antrópica. Esta situação ocorre devido a que a maioria dos igarapés
da cidade de Manaus são usados para fins de descarte de efluentes domésticos e de resíduos
sólidos, principais agentes de degradação dos recursos hídricos nesses ambientes.
Foto 16. Detalhe do represamento e alagamento de um igarapé de Manaus e as consequências sobre a retenção
de resíduos.
Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero (15/09/2012).
5.7.2 Vazante
Foto 17. Vista do Igarapé do São Raimundo no período de vazante. Foto: Acervo Bruno A. S. Cavero (15/09/2012).
No caso do Igarapé São Raimundo este efeito é refletido de forma imediata uma vez
que o mesmo se encontra diretamente relacionado com o Rio Negro, sendo o primeiro curso
hídrico a ser represado promovendo o aumento do nível em cota de elevação similar a do rio
Negro.
Foto 18. Palafitas instaladas na margem do Igarapé do São Raimundo. No detalhe marca da água da enchente nas
casas. Foto: Acervo Aroldo F. Aragão (19/01/2010).
Solo: Formado pela base que dá sustentação aos recursos hídricos. Nesta feição podemos
identificar as áreas marginais ao Igarapé São Raimundo as quais, devido ao pulso de
inundação (subida e descida das águas), sofrem com a formação de processos erosivos
diversos (Foto 35), que resultam periodicamente em alagamentos das margens (áreas
naturalmente alagáveis).
Foto 19. Aspecto de material intemperizado da Formação Alter do Chão, encontrado na base
das falésias do Igarapé do São Raimundo. Foto: Acervo Aroldo F. Aragão (19/01/2010).
Recursos hídricos: Formado pelas águas do Igarapé São Raimundo onde acontecem as
diversas interações ecológicas. Esta feição é influenciada diretamente pela precipitação
pluviométrica e pelo ciclo hidrológico do rio Negro, onde é possível destacar duas estações
definidas: vazante e enchente (Foto 36). Essa variação promove uma série de mudanças de
comportamento e de adaptações dos seres vivos inseridos nessa feição.
Foto Aspecto do nível das águas do Igarapé São Raimundo nos períodos de cheia. Foto Acervo
Aroldo F. 23/01/2010
O Início da ocupação da área onde hoje está localizado o bairro do São Raimundo
teve início em 1849, quando o governo do estado doou ao Seminário São José o terreno que
foi incorporado ao patrimônio da instituição religiosa. Na época, o bispo Dom Lourenço da
Costa Aguiar resolve lotear uma parte das terras para pessoas de baixa renda, que
construíram as primeiras casas nos terrenos, pagos com quantia mensal denominada de
"foros da igreja". No início as áreas próximas a margem do rio Negro, pelo fato que as famílias
para manter seu sustento praticavam a caça e a pesca como atividade de subsistência e
também para a venda nos mercados e feiras de Manaus. O nome do bairro teve forte
influência da imagem de São Raimundo Nonato, trazida pelo recém-nomeado padre
(Raimundo Amâncio de Miranda) que a deixava sempre no centro do altar em todas as
celebrações religiosas e festas da comunidade (Portal Amazônia, 2016).
Foto 20. Bairro de São Raimundo visto da marinha. Foto: Álbum do Amazonas (1901 – 1902).
Em 1912 as mudanças no bairro começam a acontecer mais rapidamente, sendo
construído o matadouro municipal (Foto 21). A área, como ainda não era habitada, serviu
para habitação dos operários das indústrias de curtumes, que passaram a morar próximo ao
trabalho. A chegada do matadouro, também conhecido por Curre, serviu para atrair mais
pessoas para o bairro, agora capaz de oferecer emprego aos seus moradores. O local sofreu
uma expansão demográfica tão acelerada que imediatamente surgiu um novo bairro, o do
Matadouro, depois Glória (Portal Amazônia, 2016)
.
Foto 21. Imagem do antigo Matadouro Municipal da cidade, hoje bairro da Glória, lugar onde
se encontra atualmente a FUNASA. Foto: Corrêa Lima, 1983.
Até meados de 1975 a cidade de Manaus dividia-se em vinte e nove bairros, todos sem
grandes povoamentos e ordenamento. Com a criação e permanência do fortalecimento da
Zona Franca de Manaus, a cidade começou a receber investimentos e constantes migrações
de pessoas de várias regiões do País e do interior do Estado. Nas décadas de 80 e 90 o
bairro passou por profundas transformações urbanas. Em decorrência disso a cidade que no
início da década de 1970 possuía uma população de 311.622 habitantes passa a apresentar
uma população de 1.405.835 em 2000 (Tabela 31). O crescimento industrial e comercial de
Manaus a transformou em poucas décadas em um centro polarizador, atraindo população de
todas as regiões brasileiras, em função disso na atualidade conta com uma população
estimada de 2.057.711 (Estimativa para 2015 segundo o censo demográfico do IBGE, 2010).
O bairro de São Raimundo, zona Oeste da Capital ocupa uma área de 112,45 hectares, onde
residem 15.395 habitantes (CENSO 2010, IBGE). Apesar de haver perdido área com a
redivisão da cidade em zonas e bairros (2,87ha) (Lei Municipal 1.401, de 14/01/2010) e
apresentar redução no total de habitantes medidos no Censo 2000 (15.655 hab.) e na
Contagem de 2007 (16.304 hab.), apresenta incremento aproximado de 50% na Taxa de
Crescimento Geométrico da População, que passou de 0,32 (período 1996 a 2000) para 0,61
entre 2000 a 2007.
Formado pelas populações humanas assentadas dentro da bacia do Rio Negro, moradias,
estruturas de serviços públicos, etc., principalmente as localizadas no entorno da área de
interesse.
Tabela 23. População de Manaus entre os anos de 1872 a 2009 (Fonte IBGE, 2009).
ANO POPULAÇÃO
1872 29.344
1890 38.720
1900 50.300
1920 75.704
1940 106.399
1950 139.620
1960 173.703
1970 311.622
1980 633.392
2000 1.405.835
2009 1.738.641
De acordo com Tucci (1995), a canalização dos pontos críticos é um tipo de solução
que tem uma visão particular de um trecho da bacia e apenas transfere a inundação de um
lugar para outro.
Ainda, quando a área urbana de uma bacia hidrográfica for superior a 10% do valor
de sua área total, os problemas relacionados aos canais começam a tomar volume
(CHRISTOFOLETTI, 1980).
Muitas vezes, edificações são construídas sobre pequenos canais urbanos, que são
aterrados, desviados ou canalizados. No entanto, tinham importante papel no retardamento
dos efeitos das enchentes, fazendo parte de toda a complexidade hidrológica da bacia,
conforme afirmam Dunne e Leopold (1978).
A renaturalização de rios não significa o retorno a uma paisagem original, mas sim um
desenvolvimento sustentável dos rios e da paisagem. De acordo com Binder (1998), a
recuperação e renaturalização de rios são sempre realizáveis, mesmo quando apresentam
limitações, em trechos onde não há áreas marginais a disposição – fundamentalmente em
áreas urbanas. As possibilidades para que haja a evolução natural são inúmeras.
A metodologia deste trabalho tem como objetivo ser aplicado na margem esquerda do
igarapé São Raimundo na cidade de Manaus, região de abrangência do programa
PROSAMIM, onde visa a recuperação da faixa de domínio do igarapé.
Como referido anteriormente, a decisão sobre qual é a maneira mais adequada para
a recomposição do ambiente vai depender da análise da situação local e do conhecimento
do ecossistema.
Tabela 26
As técnicas sugeridas acima envolvem cinco aspectos básicos relacionados à
restauração:
a) Regeneração natural: deve ser adotada quando se busca a simples
eliminação do agente perturbador ou de um elemento que esteja agindo como barreira para
a regeneração (fogo, presença de espécie invasora ou de animais domésticos); Destacar que
alguns animais, sob manejo adequado, podem ser usados como aliados no controle da planta
invasora pelo pastejo;
b) Nucleação: grupo de técnicas que propõe uma mínima interferência local
(Reis etal., 2003); ações como o transplante de serapilheira e a implantação de poleiros
artificiais para animais dispersores seriam adotadas em pontos estratégicos (núcleos) do sítio
degradado, e a partir daí a restauração se irradiaria para ocupar as áreas sem vegetação. As
principais dúvidas sobre a eficácia dessas técnicas residem na dificuldade em aplicação em
larga escala e na probabilidade significativa de o agente de gradativo inibir esses pequenos
núcleos.
c) Enriquecimento: visa ao aumento da diversidade vegetal em áreas onde já
existem indícios de regeneração natural, como as capoeiras; pode ser feito com o plantio
(parcial) ou semeadura de espécies que atraiam animais, ou que tenham potencial
econômico. Dar preferência a espécies nativas locais, identificando especialmente seus
produtos madeireiros e não-madeireiros (frutos, sementes, mel).
d) Plantio total: técnica que implica o maior e mais custoso grau de intervenção.
O plantio total só deve ser adotado quando a vegetação nativa estiver bem degradada e existir
a necessidade da introdução de mudas de espécies arbóreas. Essa é a ação que passa a
receber maior atenção neste Manual.
Por meio de análise do projeto inicial a ser executado na margem direita do igarapé
São Raimundo, em Manaus. Percebemos que existiam lacunas existentes para a
recuperação ambiental da área do empreendimento. Onde um dos objetivos do programa
PROSAMIN é sustentabilidade ambiental.
O projeto inicial retira o agente degrador principal “os moradores das habitações
irregulares” e o substitui por um corredor viário, com isso sem qualquer melhoria ambiental.
Diante do apresentado, pontuamos como objetivo principal para assegurar a sustentabilidade
da área legalidade do empreendimento.
A preocupação com a preservação, restauração e recuperação de Áreas de
Preservação Permanente – APPs, não é nova. Ainda hoje e mais do que nunca está na ordem
do dia. Trata-se de um daqueles temas que tem por característica polarizar debates e
posições, que no mais das vezes são antagônicas e geram polêmicas insuperáveis. Sua
proteção enquanto consideradas espaços especialmente protegidos possui foro
constitucional, (Além da proteção constitucional existe um arcabouço de proteção legal
estabelecido por meio da edição de diversas normas, sejam elas federais, estaduais e até
mesmo municipais. Se destacam as Leis federais 4771/65, 6938/81, 7754/89, 9605/98, dentre
outras), nos termos do art. 225, § 1⁰, incisos III e VII da Constituição Federal, que assim
dispõem:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preserva- ló para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade. (todos grifos nossos)
O acirramento acerca do tratamento e das possibilidades de uso das APPs, espécie
de espaços especialmente protegidos (Para o texto utiliza-se a expressão espaços
especialmente protegidos como gênero do qual também fazem parte, além das APPs, as
reservas legais, unidades de conservação, zonas de amortecimento, florestas protetoras de
nascentes, etc.), decorre da diferença entre os interesses daqueles que delas fazem uso –
ou querem fazer – e dos que pretendem sua preservação, restauração e recuperação. Os
primeiros veem a proteção das APPs como intervenção direta nos direitos de propriedade e
impedimento de seu uso, enquanto os demais, enxergam na proteção referida, a necessidade
de atendimento de preceitos constitucionais relativos à sustentabilidade e em prol do bem
comum e do interesse público ambiental, considerando as necessidades das gerações atuais
e das futuras. (O conflito mencionado pode e deve ser resolvido, sempre que necessário, com
base no ordenamento jurídico pátrio, havendo vasta quantidade de valores, princípios e
regras que afetam diretamente o exercício dos direitos de propriedade. A própria Carta
Constitucional traz nos artigos 5⁰, incisos XXII e XXIII, 170, incisos I e VI, 186 e 225, normas
que devem ser consultadas e até mesmo sopesadas a fim de haja objetiva a ideal
compreensão. De igual forma, outras normas de caráter infraconstitucional tratam do tema e
devem ser observadas à luz da Constituição. Mais adiante serão tecidas considerações sobre
a correta interpretação e aplicação do ordenamento jurídico pátrio). Como dito, por trás destes
interesses – díspares – estão aspectos importantes da organização da sociedade e do Estado
brasileiro. Este último, por sua vez, está estruturado por valores e normas (princípios e
regras), (Neste trabalho, as regras abrangem as leis em sentido lato, ou seja, a Constituição
(que é uma lei) e aquelas inscritas no art. 59 da Carta Maior, bem como outras, sobremaneira
aquelas de caráter infralegal, tais como decretos, resoluções, portarias, instruções
normativas, deliberações, etc.. Importante consignar desde logo existência de uma hierarquia
própria do sistema ou ordenamento jurídico, com o que, matérias relegadas ao Poder
Legislativo, ainda que por meio de delegação a órgão do Poder Executivo, não autorizam que
este edite a norma como se lei fosse criando direitos e obrigações. Muito ao contrário: a
delegação pressupõe limites ao exercício das prerrogativas conferidas nos exatos contornos
propostos pela Lei.
As Áreas de Preservação Permanente (APPs) são espaços territoriais
especialmente protegidos de acordo com o disposto no inciso III, § 1º, do art. 225 da
Constituição Federal. O Código Florestal (Lei Federal no 4.771, de 1965 – e alterações
posteriores) traz um detalhamento preciso das Áreas de Preservação Permanente (aplicável
a áreas rurais e urbanas), da Reserva Legal (aplicável às áreas rurais) além de definir outros
espaços de uso limitado. As Áreas de Preservação Permanente - APPs são aquelas áreas
protegidas nos termos dos arts. 2º e 3º do Código Florestal. O conceito legal de APP relaciona
tais áreas, independente da cobertura vegetal, com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Como se
vê, as APPs não têm apenas a função de preservar a vegetação ou a biodiversidade, mas
uma função ambiental muito mais abrangente, voltada, em última instância, a proteger
espaços de relevante importância para a conservação da qualidade ambiental como a
estabilidade geológica, a proteção do solo e assim assegurar o bem estar das populações
humanas. O Código Florestal prevê faixas e parâmetros diferenciados para as distintas
tipologias de APPs, de acordo com a característica de cada área a ser protegida. No caso
das faixas mínimas a serem mantidas e preservadas nas margens dos cursos d’água (rio,
nascente, vereda, lago ou lagoa), a norma considera não apenas a conservação da
vegetação, mas também a característica e a largura do curso d’água, independente da região
de localização, em área rural ou urbana. Para as nascentes (perenes ou intermitentes) a lei
estabelece um raio mínimo de 50 metros no seu entorno independentemente da localização,
seja no Estado do Amazonas ou em Santa Catarina, seja na pequena ou na grande
propriedade, em área rural ou urbana. Tal faixa é o mínimo necessário para garantir a
proteção e integridade do local onde nasce a água e para manter a sua quantidade e
qualidade. As nascentes, ainda que intermitentes, são absolutamente essenciais para a
garantia do sistema hídrico, e a manutenção de sua integridade mostra estreita relação com
a proteção conferida pela cobertura vegetal nativa adjacente. Da mesma forma há faixas
diferenciadas para os rios de acordo com a sua largura, iniciando com uma faixa mínima de
30 metros em cada margem para rios com até 10 metros de largura, ampliando essa faixa à
medida que aumenta a largura do rio. O Código Florestal (art. 2º) também estabelece
proteção permanente para as bordas de tabuleiros ou chapadas, os topos de morro, montes,
montanhas e serras e para as encostas com alta declividade, entre outras áreas de grande
relevância ambiental. Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta
Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de
qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima
será: (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989); 1 - de 30 (trinta) metros para os cursos
d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de
18.7.1989); 2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinquenta) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989); 3 - de 100
(cem) metros para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros
de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989); 4 - de 200 (duzentos) metros para
os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
(Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989); 5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos
d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; (Incluído pela Lei nº 7.803 de
18.7.1989); b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais; c)
nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água”, qualquer que seja a
sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura; (Redação
dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989); d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e)
nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha
de maior declive; f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa
nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; (Redação dada pela Lei nº 7.803
de 18.7.1989) h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a
vegetação. (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989) Parágrafo único. No caso de áreas
urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei
municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território
abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo,
respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo. (Incluído pela Lei nº 7.803 de
18.7.1989).
Com base na Resolução CONAMA nº429/2011, a recuperação de Áreas de
Preservação Permanente degradadas deve ser realizada pelos métodos de: condução da
regeneração natural de espécies nativas; plantio de espécies nativas; ou plantio de espécies
nativas conjugado com a condução de regeneração natural de espécies nativas (BRASIL,
2011). Tendo em vista a significativa pressão antrópica na área, o método de condução da
regeneração natural, aplicado de forma isolada, não se mostra viável, uma vez que se
observa um elevado grau de perturbação. Por esse motivo, a metodologia recomendada é a
da limpeza do lixo, substituição de parte do solo contaminado conjugado com a condução da
regeneração natural. De modo geral, a proposta é recuperar a área da margem direita da
APP do Igarapé São Raimundo, em 1100m de extensão, através da retirada do lixo
acumulado ao longo dos anos pelos moradores e a substituição do solo, que possibilitem
também a condução da regeneração natural. Com a finalidade de controlar alguns fatores de
perturbação, é importante iniciar a recuperação com a do projeto revisado no trecho da APP.
Para que seja realizada retirada dos moradores, fazer a remoção de todo lixo acumulado e
entulhos das demolições das habitações e substituição do solo, isso facilitará condução dos
processos seguintes. A destinação adequada final de todo os resíduos sólidos do local e a
substituição do solo contaminado por solo orgânico de outra área (de preferência com
características semelhantes à da APP). No presente PRAD, propõe-se a utilização da
metodologia de regeneração natural, e a obediência da faixa marginal de proteção, e
preservando as espécies nativas da região, que devido as condições climáticas, geotécnicas
e a retirada permanente dos agentes degradadores, apresentará uma rápida recuperação,
melhorando inicialmente as condições edáficas e microclimáticas para o desenvolvimento das
demais. Já as espécies de diversidade visam enriquecer e incrementar a biodiversidade, e
possuem características distintas.
Para recuperação de áreas de solo degradado nas faixas marginais de proteção,
tem-se adotado a revegetação, para introdução de matéria orgânica, formação da mata
secundaria e recuperação da comunidade microbiana do solo. Esta, por meio das relações
complexas que estabelece com o solo e as raízes das plantas contribuirão melhorando as
condições edáficas, comprometidas pela degradação. As comunidades microbianas são
influenciadas por variações na temperatura, umidade e atmosfera do solo, bem como pelas
reduções da cobertura vegetal, disponibilidade de nutrientes, estabilidade estrutural do solo,
entre outros fatores, que podem ser modificados pelo uso e degradação do mesmo. Este
trabalho objetivou avaliar a recuperação da faixa marginal de proteção do igarapé São, por
meio do recobrimento da superfície, do levantamento da vegetação espontânea, das
condições de fertilidade do solo e da atividade microbiológica.
7.2.2 Mudança do traçado do projeto executivo.
Diante da analise observou-se que no projeto inicial, iria suprimir 95% da área verde
e não cumpriria o código florestal que trata da faixa marginal de proteção, que nesta situação
e de 100m de afastamento do córrego , e reduziríamos alguns metros da calha natural do
Igarapé São Raimundo. Como mostra a figura 26. A quantidade de área verde seria de
apenas 4,25 hectares.
Com a nova proposta retiramos do projeto as habitações populares, que dariam lugar as
antigas de casas madeiras, e mudamos a localização dos espaços as quadradas e
estacionamentos, para manter a vegetação existente, e deixar a faixa marginal de proteção.
Conforme figura 27, com estas modificações o projeto passou a ter 64,34hectares de área
verde.
Figura 27 – projeto alterado preservando a Faixa de domínio da APP.
As fotos XX e XX, mostram como ficou a margem do igarapé, logo após a limpeza e retirada
do lixo doméstico.
As Fotos XX e XX, mostram uma paisagem irreconhecível de como ficou a área estuda
logo após a retirada dos moradores, do lixo doméstico, e com aplicação de solo com matéria
orgânica, que foi retirado dos arredores do igarapé, para que o recobrimento vegetal seja
semelhante ao existente antes da degradação, causada pela população com construção de
moradia em área sem nenhum planejamento urbanístico.
Foto XX – introdução de matéria orgânica Foto XX – introdução de matéria orgânica
Como o novo código estabeleceu o critério de medida da largura do rio a partir da borda
da calha de seu leito regular e não mais a partir da máxima cheia as várzeas ou pelo menos
parte delas não são mais consideradas Áreas de Preservação Permanente.
Figura XX
7.2.7 Monitoramento.
Gráfico 1
No Art. 3º A recuperação de APP poderá ser feita pelos seguintes métodos, conforme a
situação diagnosticada:
A escolha de um ou mais métodos de recuperação depende do conhecimento
anterior da área a ser trabalhada. É o diagnóstico que define a estratégia.
ÁLBUM DO AMAZONAS, 1901-1902: No Governo de Sua Exª. Snr. Dr. Silvério Nery. Rio
de Janeiro. 1902. Disponível em: <http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/18099>.
Acesso em: 10 de julho de 2016.
FURCH, K. AND JUNK, W.J., Physicochemical Conditions in the Floodplains (Chapter 4),
1997. The Central Amazon Floodplain: Ecology of a Pulsing System, ed. W.J. Junk, Springer-
Verlag: Berlin Heidelberg, pp. 69-108.
IRION et al. The large Central Amazonian river floodplains near Manauz: Geological,
climatological, hydrological and geomorfological aspects. 1997. In: The Central Amazon
Floodplain: Ecology of a Pulsing System. Ecological Studies. Max - Planck. Institut Für
limnologie.
SANTOS, L.A. et al. Interface entre Saúde, Saneamento e Recursos Hídricos em Manaus
– AM, 2000. Anais do I Simpósio de Recursos Hídricos da Amazônia. Manaus-AM, 27 a 29
de agosto de 2003. CD-ROM.
SUNDFELD, C.R. O Estatuto da Cidade e suas Diretrizes Gerais. In: DALLARI, A.A.;
FERRAZ, S. (Coord.). Comentários à Lei Federal 10.257. 2. Ed. São Paulo: Malheiros, 2006.