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RECURSO NO PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 2008.3.010483-8
RECORRENTE: MÁRIO HENRIQUE TUJI FONTENELLE
RECORRIDO: ACÓRDÃO Nº 81.177 DO CONSELHO DA MAGISTRATURA
RELATORA: DESEMBARGADORA MARIA DE NAZARÉ SAAVEDRA GUIMARÃES
EMENTA
RECURSO ADMINISTRATIVO –
OFICIAL DE JUSTIÇA – MANDADO
COM PRAZO EXPIRADO SEM
CUMPRIMENTO – AUSENCIA DE
JUSTIFICATIVA – PRELIMINARE DE
CERCEAMENTO DE DEFESA
REJEITADA - PENA DE DEMISSÃO
APLICADA PELA PRESIDÊNCIA DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DO PARÁ – CONDUTA CONFIGURADA
COMO DESIDIA EM CONSIDERAÇÃO
AOS ANTECEDENTES –
IMPERTINÊNCIA – INCIDENTES
PRESCRITOS – AUSÊNCIA DE
APLICAÇÃO DE QUALQUER
PENALIDADE ANTERIOR –
DESCARACTERIZADA A DESÍDIA –
CONFIGURADO O DESCUMPRIMENTO
INJUSTIFICADO DE PRAZO –
DESPROPORCIONALIDADE DA PENA
DE DEMISSÃO – PENALIDADE PUNIDA
COM PENA DE SUSPENSÃO –
DECURSO DE PRAZO SUPERIOR A
DOIS ANOS – PRESCRIÇÃO DA
PUNIBILIDADE – RETORNO AO
STATUS QUO ANTE – RETORNO AO
CARGO – DECISÃO REFORMADA -
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO
PELOS FUNDAMENTOS CONSTANTES
DO VOTO RELATOR – MAIORIA.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos autos de RECURSO ADMINISTRATIVO da
Comarca da Capital.
Acordam os Excelentíssimos Senhores Desembargadores que integram o
órgão Pleno deste Tribunal de Justiça do Estado do Pará, por maioria de votos,
CONHECER DO RECURSO, DANDO-LHE PROVIMENTO nos termos do voto
relator da Desembargadora MARIA DE NAZARÉ SAAVEDRA GUIMARÃES.
Julgamento presidido pelo Desembargador RAIMUNDA GOMES
NORONHA.
Belém, 27 de abril de 2011.
Desa. MARIA DE NAZARÉ SAAVEDRA GUIMARÃES
Relatora
RELATÓRIO
Trata-se de RECURSO ADMINISTRATIVO interposto por MÁRIO
HENRIQUE TUJI FONTENELLE em face da decisão consubstanciada no V.
Acórdão nº 81.177, do Conselho de Magistratura que, confirmando a decisão
disciplinar da D. Corregedoria de Justiça do Interior, manteve a aplicação da pena
de DEMISSÃO ao oficial de justiça recorrente, por falta disciplinar prevista no
art.178, XVI, da Lei nº 5.810/94.
Constam dos autos que foi instaurado processo administrativo disciplinar
contra o recorrente, após o pedido de providencias do juízo da 5ª Vara Cível da
Comarca de Castanhal, fundado na constatação de que o oficial permaneceu com
mandado de intimação oriundo da Justiça Federal, por período superior a seis
meses (de 03.11.2004 até 17.05.2005), sem dar cumprimento a diligência e sem
apresentar justificativa plausível para tanto.
Determinada a instauração do PROCEDIMENTO DISCIPLINAR para
apuração e constituída a comissão processante, o indiciado foi citado a oferecer
defesa escrita, permanecendo inerte, fato que motivou declaração de revelia e
nomeação de defensor dativo que apresentou defesa conforme fls. 66-67.
A comissão processante em relatório de fls.68-73, concluiu que o ora
recorrente deixou de observar os prazos previstos no Provimento nº 003/1993-
TJEPA, que regula a atividade dos Oficiais de Justiça no Tribunal do Estado do
Pará, incorrendo na conduta vedada pelo art. 178, XVI da Lei nº 5.810/1994,
sugerindo à Corregedoria a aplicação da pena de SUSPENSÃO do servidor.
Em certidão de fls.27, a Senhora Secretaria da Corregedoria de Justiça
das Comarcas do interior, informa que o recorrente possui outros três procedimentos
instaurados, sem registro da aplicação de nenhuma penalidade.
Ás fls.77 consta relatório de Correição realizada na 4ª Vara Criminal de
Castanhal entre 10.04.2006 e 18.04.2006, onde registra que o Oficial de Justiça, ora
recorrente, mantinha 11 (onze) mandados em seu poder, com prazo de cumprimento
expirado.
O então Corregedor, Desembargador Constantino Augusto Guerreiro,
com fulcro no art.190, XIX, da Lei nº 5.810/94, entendeu que, de acordo com as
provas dos autos, o recorrente incidiu em comportamento desidioso, a ensejar a
pena de DEMISSÃO, em decisão cuja parte fundamental se transcreve abaixo:
“a gravidade da infração está consubstanciada na imagem negativa
demonstrada por essas atitudes descompromissadas com a finalidade do
serviço público, perante a Justiça Federal, (...) bem ainda, os antecedentes
funcionais do processado que indicam um servidor desajustado, (...)
contumaz na pratica infracional”.
Os autos foram encaminhados à Presidência do Tribunal (fls.78-84).
A então desembargadora Presidente, ALBANIRA BEMERGUY, em
decisão de fls. 86-89, acolheu a manifestação do Desembargador Corregedor e
ressaltando que o acontecimento suscitou a cobrança por parte da Justiça Federal,
do cumprimento da carta precatória, aplicou a pena de DEMISSÃO ao recorrente,
consubstanciando o ato com a Portaria nº 1627/2008 – GP (fls.90), publicada no
Diário da Justiça de 1º de setembro de 2008.
Da decisão da Presidência, o oficial de justiça interpôs recurso ao
Conselho da Magistratura, sendo o feito distribuído ao Desembargador Raimundo
Holanda Reis que remeteu os autos à Procuradoria de Justiça.
A Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo improvimento do recurso e
a conseqüente manutenção da DEMISSÃO, considerando que os antecedentes do
recorrente indicam contumácia na pratica de retenção de mandados e que o fato
ensejou desgaste da imagem da Justiça Estadual perante a Justiça Federal.
Após o retorno dos autos da Procuradoria de Justiça, o então relator,
Desembargador Raimundo Holanda, em razão do termino de seu mandato no
Conselho da Magistratura, bem como o inicio do gozo de seu período de férias,
encaminhou os autos à redistribuição (fls.126).
Redistribuídos ao desembargador Constantino Guerreiro, este se
declarou impedido em razão de ter se manifestado pela demissão, na com condição
de corregedor (fls.128).
Assim os autos foram redistribuídos à desembargadora Luzia Nadja
Guimarães que, por sua vez, declinou da relatoria em razão do término de seu
mandato no Conselho (fls.131).
Por fim, o recurso administrativo, foi redistribuído, no âmbito do Conselho
da Magistratura, à desembargadora Maria Rita Lima Xavier que relatou o feito e
votou pelo seu conhecimento e improvimento, na esteira do parecer ministerial, no
que foi acompanhada pelos demais membros do Conselho reunidos em 13.05.2009
(fls.135-141).
O Acórdão lavrado sob o nº 81177 foi publicado no Diário da Justiça de
19.10.2009 (fls.142).
Inconformado com o Acórdão do conselho da magistratura, o recorrente
interpôs o presente recurso (23.10.2009, fls. 143-150) alegando a prescrição da
pena, a ausência de defesa técnica e a falta de razoabilidade da penalidade
aplicada, dado que exacerbada.
Distribuído o recurso administrativo, no âmbito do Pleno, à
desembargadora Maria do Carmo Araújo e Silva a então relatora declarou-se
suspeita por razão de foro intimo (fls.206).
Após, vieram os autos a esta relatora por redistribuição (fls.208).
Encaminhados os autos à Procuradoria de Justiça, manifestou-se o
Procurador Geral (fls.211-212) pelo conhecimento e improvimento do recurso,
ratificando o posicionamento do parecer exarado a quando do recurso administrativo
no âmbito do conselho, qual seja a manutenção da penalidade de demissão,
considerando caracterizada a desídia em razão do abalo da relação entre as
Justiças Federal e Estadual, bem como a contumácia do processado na prática
infracional.
É o relatório.
VOTO
Cinge-se a questão em verificar a existência de prescrição, de
cerceamento de defesa e da razoabilidade da penalidade de demissão aplicada em
razão de excesso de prazo para cumprimento de mandado de citação, por oficial de
justiça.
Relatora