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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 21, pp.

119 - 134, 2007

SISTEMA FERROVIÁRIO PÓS-PRIVATIZAÇÃO E FLUIDEZ


CORPORATIVA:
O MOVIMENTO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS NO TERRITÓRIO
BRASILEIRO

Vitor Pires Vencovsky*


&
Ricardo Castillo**

RESUMO:
A organização do território brasileiro tem sido definida, em grande parte, por políticas públicas e
privadas voltadas à produção, movimento e exportação de commodities agrícolas produzidas em
áreas de Cerrado. A competitividade do agronegócio brasileiro torna-se dependente de uma logística,
na qual as ferrovias assumem um papel preponderante. Este artigo se propõe analisar as políticas
do sistema ferroviário atual e das fronteiras agrícolas consolidadas que acabam tendo como
conseqüência principal o uso corporativo do território brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE:
ferrovias, agricultura, Cerrado, território, privatização
ABSTRACT:
The organization of the Brazilian territory has been defined mainly by public and private policies
directed to the production, movement and exportation of agricultural commodities produced in
Cerrado region. The competitiveness of the Brazilian agribusiness becomes dependent of a logistic
in which the railroad assumes a preponderant role. This article intends to analyze the policies of
the current railroad system and agriculture production areas that have a strong consequence to
the corporative use of the Brazilian territory.
KEY WORDS:
railroads, agriculture, Cerrado, territory, privatization

Introdução
um todo.
As políticas públicas e privadas
relacionadas aos sistemas de transportes e Para compreender a organização do
à produção de commodities agrícolas têm território brasileiro, este artigo, dividido em
influenciado decisivamente a atual seis itens, propõe uma análise do sistema
organização do território brasileiro. Essas ferroviário brasileiro e da produção agrícola
políticas valorizam e desvalorizam regiões em fronteiras consolidadas do Cerrado.
e atividades econômicas em favor de
Partimos, como premissa de método,
e m p r e s a s p r i v a d a , s e m a t e n d e r, m u i t a s
de uma periodização do sistema ferroviário
vezes, as necessidades da sociedade como

*Mestre em Geografia pelo Instituto de Geociências da Unicamp. E-mail: vitor@gismaps.com.br


**Docente do Instituto de Geociências da Unicamp e pesquisador do CNPQ. E-mail: castillo@ige.unicamp.br
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brasileiro. Reconhecendo três momentos fundamental. Surgidas na Inglaterra no início


distintos, esta periodização busca do século XIX, as ferrovias contribuíram para
demonstrar como o uso e a regulação a emergência de formações sócio-espaciais
dessas redes, através das políticas dos (SANTOS, 1977) bastante complexas.
governos e das empresas, foram marcados
As normas surgidas a partir das
por continuidades e rupturas ao longo dos
empresas ferroviárias definiram grande parte
últimos 150 anos, influenciando através de
do funcionamento das sociedades e regiões,
sua marcante presença material e normas
que passaram a ter como parâmetro de
associadas, as sucessivas políticas de
organização e circulação os horários e os
transporte e decisões de investimentos em
traçados dos trens.
fluidez territorial.
As ferrovias ajudaram também na
O momento atual do sistema
“origem de um complexo sistema de divisão
ferroviário teve início em 1996 com o
i n t e r n a c i o n a l d o t r a b a l h o ”, d e v i d o a o
partilhamento da rede e concessão a
“i n c r e m e n t o de produtividade nos
empresas privadas. Esses novos agentes
transportes” (FURTADO, 1974, p.77).
acabam por radicalizar a característica mais
Contribuíram, assim, para modificar o “tempo
marcante do sistema ferroviário brasileiro:
e o movimento dos homens” (ELLUL, 1968,
sua topologia extravertida, funcional à
p. -335-337).
exportação de commodities minerais e
agrícolas, sobretudo. O período compreendido entre o início
do século XIX e início do século XX ficou
Grande parte dos investimentos no
c o n h e c i d o c o m o a “P r i m e i r a R e v o l u ç ã o
setor ferroviário tem como objetivo
Chandleriana” (BRESSAND & DISTLER, 1995),
promover uma fluidez corporativa,
em referência à obra de A. Chandler sobre
exemplificada pelo escoamento da soja
o papel da expansão das ferrovias na
produzida nos fronts agrícolas do Cerrado e
administração da grande empresa nos
destinada aos portos exportadores. Essas
Estados Unidos (CHANDLER, 1998). Nesse
regiões produtoras distinguem-se pelos
período, com o surgimento das ferrovias e
vetores de modernização, geralmente
d o t e l é g r a f o , v e r i f i c o u - s e u m a “n o v a
seletivos e excludentes, e por estarem
organização do mundo e das relações
distantes dos portos exportadores, exigindo
econômicas baseada numa crescente
do Estado novos sistemas de engenharia
diminuição da fricção do espaço” (BRESSAND
para tornar a soja competitiva nos mercados
& DISTLER, apud CASTILLO, 2001, p. 239).
internacionais. Estes verdadeiros corredores
de exportação, reeditados sob nova matriz As transformações sociais e
regulatória, mostram-se vantajosos para o territoriais ocasionadas pela Primeira
movimento de produtos de grande volume Revolução Chandleriana ocorreram, no
e baixo valor agregado, ao mesmo tempo entanto, de forma desigual, já que o
em que enrijecem o território e podem emprego e a difusão das técnicas e das
comprometer seus usos futuros. normas se deu de forma seletiva no espaço
e teve como base definidora a busca de
regiões já competitivas ou com potencial de
Breve periodização do sistema ferroviário serem competitivas, acelerando e
brasileiro acentuando, desse modo, a diferenciação
entre as regiões.
A organização dos territórios
nacionais que conhecemos atualmente teve No Brasil, porém, essas
no uso das ferrovias um elemento transformações não ocorreram da mesma
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forma como verificada nos países centrais, de incentivos às exportações, ora ao


pois a técnica efetivada em cada território mercado interno, com a redução das
“tem suas leis e suas razões” (ELLUL, 1968, barreiras entre os estados da federação. Os
p. 213) definidas, principalmente, pelas próprios produtos transportados e as formas
diferentes políticas públicas e privadas de investimentos foram bem diferentes para
realizadas ao longo do tempo. Para cada momento. Como conseqüência dessas
entender o sistema ferroviário e o uso do mudanças, os sistemas de transportes e o
território brasileiro é importante, como território brasileiro foram sendo
recurso de método, elaborar uma readequados, refuncionalizados,
periodização. reaparelhados.
Essa periodização pode ser proposta Podemos então definir uma
de acordo com a análise e organização dos periodização do sistema ferroviário
diferentes sistemas de eventos, que podem brasileiro em três momentos: a) criação e
variar de acordo com as suas escalas de expansão; b) estatização e readequação e
origem e de realização. Esses eventos, por c) desestatização e recuperação (para o
sua vez, são caracterizados pelas técnicas transporte de carga). No Quadro 1 são
utilizadas pela sociedade para construir a apresentados estes três momentos e suas
história do uso do território. O uso do características. Apesar da evolução e
território pode ser verificado, portanto, desenvolvimento do sistema ferroviário, o
através da implantação de infra-estruturas, que diferencia cada momento é o uso que
da dinâmica da economia e da sociedade, se faz dele e a política econômica dos
das políticas dos governos e das empresas, governos e das empresas definidas, muitas
das normas e leis utilizadas na regulação, vezes, por interesses internacionais.
das regras de financiamento dos diversos
No momento atual, as ferrovias
setores da economia etc. (SANTOS &
passam a seguir a expansão dos fronts
SILVEIRA, 2001, p.-21-27).
agrícolas através da construção e expansão
A análise dos sistemas de eventos de ferrovias como a Ferronorte, Ferrovia
mostra que as políticas de transportes no Norte-Sul e Transnordestina. Verifica-se,
Brasil, por exemplo, não foram as mesmas também, que são grandes os investimentos
ao longo dos últimos 150 anos. O Estado na aquisição de vagões granereiros. A frota
brasileiro se preocupava, num determinado de vagões Hopper , que é bastante utilizada
momento, com a ocupação do território para o transporte de grãos, foi a que mais
brasileiro; num segundo momento com a cresceu entre os anos de 2003 e 2004. A
modernização e, num terceiro, com a frota total cresceu 65% e a de propriedade
inserção internacional. As políticas dos clientes, como as Tradings , 227%. Além
econômicas estavam preocupadas ora com disso, muitos vagões do tipo fechado foram
a integração ao mercado externo, através convertidos para Hopper (Revista Ferroviária,
Ano 65, Junho 2004, p. 20).
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Desestatização do setor ferroviário A desestatização teve como


O momento atual da periodização do desdobramentos a “desregulação”, que
sistema ferroviário brasileiro, iniciado em 1996, significou a eliminação total ou parcial de regras
teve como evento principal a concessão a restritivas ao mercado e às atividades
empresas privadas das malhas ferroviárias, econômicas, e a “privatização”, termo genérico
antes pertencentes à Rede Ferroviária Federal empregado para designar a transferência de
(RFFSA) e à Ferrovia Paulista (FEPASA). empresas de propriedade do Estado e atividades
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por ele exercidas para o setor privado (AMARAL A privatização buscou, também, a redução dos
FILHO, 1996, p.41). É o início, então, de uma obstáculos, a modificação da “inércia dinâmica
nova regulação. das formas herdadas” (SANTOS, 2002a, p. 43),
tanto da própria infra-estrutura física como das
O processo de privatização no Brasil não
normas de uso e dos agentes controladores.
foi realizado de forma espontânea e
independente pelos governos. A obediência ao A situação do sistema ferroviário pré-
Consenso de Washington resume um conjunto privatização era de abandono, não recebendo
de práticas impostas pelas instituições investimentos e atenção do controlador, o
financeiras internacionais aos países periféricos. Estado. Os “objetos técnicos”, isto é, estações
Além disso, os programas de desestatização e malha ferroviária, bem como as relações entre
abriram novos mercados a empresas os agentes participantes do sistema, não
transnacionais de serviços e aos grandes estavam mais sendo acionados e/ou
bancos. readequados ao novo paradigma de
competitividade imposto por uma economia cada
Para o estudo do espaço geográfico, o
vez mais internacionalizada.
fato talvez mais significativo do processo de
privatização é que o ordenamento e uso do O processo de privatização do sistema
território, com relação às infra-estruturas de ferroviário foi influenciado, também, pelos
transporte, passam a ser definidos, em grande interesses de diversos agentes econômicos,
parte, pelo setor privado, com todas as suas nacionais e transnacionais, em busca de novos
implicações, como o uso seletivo dos sistemas campos de investimento e de maior fluidez
de engenharia, a busca pela competitividade a territorial. No Quadro 2 são apresentados os
qualquer custo e a produção e o agravamento diferentes agentes, como o Estado, agências
das desigualdades sociais e espaciais. reguladoras, concessionárias, clientes e
investidores, seus objetivos e interesses. O
O objetivo da privatização foi dar início a
resultado da somatória das ações destes
um processo de ruptura de estruturas
agentes passou a influenciar diretamente na
anteriores para que o sistema ferroviário fosse
eficiência e na forma de uso do sistema
“revalorizado” e passasse a atender às novas
ferroviário e, conseqüentemente, na
realidades do momento atual e das empresas.
organização do território brasileiro.
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O processo de privatização do ferroviária disponível no Brasil. Os maiores


sistema ferroviário no Brasil teve início com interessados na privatização acabaram
a inclusão da RFFSA, em 1992, no PND - incluindo o sistema ferroviário como parte
Programa Nacional de Desestatização. O do ativo de suas empresas, contribuindo
BNDES, gestor do programa, contratou, para seus circuitos espaciais produtivos 1 .
“m e d i a n t e l i c i t a ç ã o , u m a a s s o c i a ç ã o d e Mais do que atender aos objetivos do
consultores para estudos e formulação do PND, a privatização colocou à disposição dos
modelo de privatização a adotar para o setor agentes hegemônicos o controle dos
ferroviário. O edital de licitação teria como sistemas de transporte, aumentando suas
objetivo básico aumentar a eficiência do possibilidades de definir a dinâmica do
Sistema de Transporte Ferroviário, estimular mercado e a valorização/desvalorização de
a melhoria dos serviços prestados, a regiões, atividades econômicas e empresas.
conservação, racionalização e expansão das O processo de privatização das ferrovias no
linhas ferroviárias, equipamentos e demais Brasil transferiu à iniciativa privada, em
instalações, além de viabilizar o equilíbrio especial às grandes empresas produtoras de
econômico-financeiro do sistema resultante” commodities agrícolas e minerais, o controle
(MARQUES, 1996, p.48). Esses objetivos são de grande parte do sistema de transportes.
complementares aos do PND: desonerar o A fluidez territorial, a serviço da
Estado, fomentar investimentos e a competitividade (SANTOS, 1998, p. 16),
eficiência. O modelo adotado de concessão torna-se um setor de investimentos para
compreendia a reestruturação da RFFSA, sua grandes empresas, deixando em segundo
subdivisão em malhas regionais, plano as aspirações e necessidades da
arrendamento dos bens das malhas sociedade.
regionais e licitação da concessão.
Os leilões de privatização da RFFSA
foram realizados entre os anos de 1996 e
1998, resultando em seis novas empresas. As concessionárias – monopólio privado?
A FEPASA, controlada pelo governo estadual O pequeno número de controladores
de São Paulo, a Estrada de Ferro Paraná e utilizadores do setor ferroviário no Brasil
Oeste - Ferroeste, pelo governo do Paraná, é formado, em grande parte, por grandes
e a EFC e EFVM, pela CVRD, também foram empresas nacionais e internacionais, dos
privatizadas. Apesar do sucesso das ramos de siderurgia, mineração, engenharia
privatizações anunciado pelo governo e e agropecuária. A CSN e CVRD são as
investidores, as ferrovias foram vendidas principais empresas controladoras ou
para os antigos clientes preferenciais das acionistas do sistema ferroviário brasileiro,
operadoras estatais, não resultando numa utilizando 15.061 km de linhas (53% do
alternativa de modal de movimentação de total), produzindo 155 bilhões de TKU a.a.
cargas no país (BIELCHOWSKY, 2002, p.116) (85% do total) e participando com R$3,7
e muito menos de passageiros. bilhões (68% do total) dos investimentos do
Uma das condições fundamentais setor no período pós-privatização
para a participação dos grupos nos leilões (VENCOVSKY, 2006, p.69). Grande parte dos
de privatização das ferrovias era que clientes (55%), das locomotivas (64%), dos
nenhuma empresa do consórcio poderia ter vagões (66%) e do transporte de
mais de 20% de participação no grupo. contêineres (92%) também está
Entretanto, essa condição não impediu que concentrada nessas duas empresas (idem).
algumas empresas passassem a controlar Indiretamente, a CVRD também participa da
grande parte das concessões e da carga Brasil Ferrovias, já que é sócia da Ferroban.
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Controlando as principais linhas ferroviárias, interferir na lógica das regiões de abrangência


a CVRD e a CSN passam a participar mais das linhas, principalmente nos pontos de
diretamente da organização do território, ou origem e destino. Por privilegiar poucos
seja, a participar do processo de valorização produtos, as ferrovias não contribuem para a
e desvalorização de regiões e atividades valorização de outras atividades que poderiam
econômicas. ser beneficiadas. A monofuncionalidade passa,
também, a condicionar a fluidez territorial.
No caso da empresa CVRD, as ferrovias
são utilizadas como um sistema integrado a No entanto, a atuação das grandes
seus circuitos espaciais produtivos, que têm empresas, como a CVRD e CSN, não fica
o minério de ferro como principal produto. Com restrita ao setor ferroviário, mas inclui o
a privatização, o sistema passou a fazer parte controle da produção, do comércio, da
do ativo da empresa e, portanto, deve seguir tecnologia, das finanças, da política e da
determinados objetivos e ordens que não informação. “Suas decisões de investir e
necessariamente têm a ver com ferrovias, desinvestir afetam, em última análise, a
movimentação de cargas e logística. prosperidade ou decadência de cidades e
regiões [...]” (RATTNER, 1997, p.138). E,
Uma das características importantes do
t a m b é m , e s s a “a s s i m e t r i a d e c o n t r o l e e
sistema ferroviário é sua contribuição para a
movimentação de recursos humanos, materiais
integração do território brasileiro (Mapa 1).
e financeiros expõe cruamente a ilusão de
Dentre as 11 concessionárias, seis são de
viver-se em uma sociedade democrática”
integração internacional (VENCOVSKY, 2006,
(idem, 1997, p.138).
p.72). Estas, geralmente, ligam regiões
Para compreender a organização
produtoras aos mercados externos, sendo
dessas empresas concessionárias,
pouco utilizadas na integração regional do
principalmente quanto à distribuição de suas
território brasileiro. Essas linhas também
infra-estruturas e das regiões valorizadas, são
podem ser consideradas do tipo unidirecional,
apresentados, a seguir, os investimentos
já que o volume transportado no sentido dos
realizados após a privatização do sistema
portos é muito superior ao sentido inverso.
ferroviário.
Segundo a concessionária MRS, 80%
dos negócios estão relacionados à importação
e exportação. Quando computadas as cargas Os investimentos no setor ferroviário – a
de todas as concessionárias, o valor pode fluidez corporativa
chegar a 85% 2 . Essa característica demonstra Após quase uma década do início do
que o sistema ferroviário é um dos elementos
processo de privatização, as empresas
que contribui para a fluidez do território
concessionárias investiram, basicamente, na
nacional (ARROYO, 2001, p.143).
melhoria da eficiência do sistema ferroviário e
Outra característica marcante é a no aumento da fluidez efetiva 1 do território
maneira como o sistema ferroviário é utilizado brasileiro. Verificou-se também uma redução
pelos agentes controladores. Do total de carga substancial do quadro de pessoal e uma
transportada pela Ferronorte, 81% desativação regular de ramais de baixa
corresponde ao transporte de produtos do produtividade.
complexo soja (52% para a soja em grãos e
Os investimentos, que também são
29% para o farelo de soja). As concessionárias
uma norma, definem e condicionam a
EFC, EFVM, e MRS têm o minério de ferro como
valorização e desvalorização dos espaços.
produto principal, com 93%, 85% e 85%,
Estes investimentos se efetivam no
respectivamente, sobre o total transportado.
território, porém seus objetivos, suas
O uso monofuncional das ferrovias passa a
intenções, podem estar localizados em outro
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lugar, bem distante do território brasileiro. q u e “n ã o e s t ã o a d a p t a d a s à s n o v a s


Seu discurso apóia-se na modernização, mas exigências” e que se mantêm e atuam por
seus efeitos são, geralmente, a u m c e r t o t e m p o c o m o “r e m a n e s c ê n c i a s ”
“c o r p o r a t i z a ç ã o d o t e r r i t ó r i o ” ( S A N T O S , (ISNARD, 1982, p.118).
2002a, p. 252).
Os principais projetos estabelecidos
Os investimentos foram direcionados no Plano Plurianual (PPA) 2004-2007
para adequar um sistema do passado, que totalizam mais de 2,88 bilhões de reais para
tinha outros usos, num projeto adaptado à as ferrovias, sendo as regiões Nordeste e
nova realidade. Nesses 150 anos de Centro-Oeste as mais beneficiadas, com
ferrovias, os projetos foram sendo alterados 58% e 21% do total, respectivamente.
para atender sucessivas necessidades Grande parte dos projetos está voltada para
econômicas, resultando em espaços minimizar alguns gargalos de linhas
diversos que foram se sobrepondo, se existentes ou para obras de desvios de
misturando, convivendo entrelaçados. Os regiões metropolitanas, como o anel
investimentos são os acréscimos ferroviário de São Paulo e o contorno de
necessários para a modernização (SANTOS, Curitiba. A contribuição dessas obras
2002b, p. 87). representa um acréscimo de apenas 5% na
extensão atual do sistema ferroviário, que
Os acidentes freqüentes no sistema
está em torno de 29 mil quilômetros.
f e r r o v i á r i o a t u a l 2 revelam um conjunto
contraditório de ações e objetos. O objeto Os investimentos definidos nos PPA´s
técnico herdado pode não ser o mais estão voltados para a construção de uma
adequado aos propósitos atuais, aqueles infra-estrutura com objetivos pré-
ditados pelas empresas concessionárias. Os estabelecidos, tanto em relação às suas
investimentos servem justamente para isso, funções como às suas localizações. Do total
adequar os objetos existentes às novas dos investimentos do setor ferroviário no
utilizações, às novas normas impostas PPA 2004-2007, 60% estão voltados para
(eficiência, velocidade, capacidade de atender às necessidades de exportação
carga). (VENCOVSKY, 2006, p.81), demonstrando,
mais uma vez, que o objetivo principal do
Quanto aos projetos e investimentos
sistema é p r o m o v e r, ou continuar
a serem realizados, estes têm como
promovendo, a integração internacional de
objetivos reduzir as incertezas, os riscos
algumas regiões exportadoras em
financeiros e de acidentes, maximizar os
detrimento de outras políticas como a de
lucros dos agentes envolvidos no setor
integração nacional.
ferroviário. Tudo isso torna-se possível com
a readequação dos traçados e a redução das Da maneira como estão sendo
“interferências” (por exemplo, passagens de realizados, esses novos projetos de infra-
nível) para atender às novas necessidades estrutura viabilizam uma racionalidade
de mobilidade de alguns agentes. Esses privada (do território) obtida com recursos
novos projetos visam, portanto, reduzir ou públicos (SANTOS & SILVEIRA, 2001, p.306).
eliminar estruturas e dinâmicas do passado
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MAPA 1 – EMPRESAS FERROVIÁRIAS NO BRASIL – 2005


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No vos fronts agrícolas – globalização e rentabilidade aos investimentos. Essa rentabilidade


modernização é maior ou menor, em virtude das condições locais
de ordem técnica (equipamentos, infra-estrutura,
O desenvolvimento dos novos fronts
acessibilidade) e organizacional (leis locais, impostos,
agrícolas, em porções dos estados de Minas Gerais,
relações trabalhistas, tradição laboral)” (SANTOS,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia,
2002a, p. -247-248).
Maranhão, Piauí e Tocantins, foi realizada, em parte,
através do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira Entre as características mais importantes
para o desenvolvimento do Cerrado – PRODECER, dessa região, destacam-se: o elevado grau de
motivado, principalmente, pelo governo japonês que, modernização (insumos, máquinas, crédito) das
nas décadas de 60 e 70, estava preocupado com a propriedades, grande concentração fundiária,
sua alta dependência de importação de alimentos. elevada produtividade e custo de produção,
presença marcante de grandes firmas na articulação
Essas fronteiras agrícolas permaneceram por
e em várias etapas dos circuitos espaciais
muito tempo como um “estoque de terras”(MORAES,
produtivos, grande distância em relação aos centros
2002, p.-88-89), à espera de uma valorização. Com
consumidores e aos portos exportadores, fazendo
a introdução de novas técnicas agrícolas de cultivo
emergir o problema da circulação e da logística
da soja, esses espaços, até então não inseridos
(Quadro 3).
plenamente na economia nacional e mundial, foram
valorizados, marginalizando seu antigo uso voltado São regiões que, segundo CASTILLO (2004,
à agricultura de subsistência em fundos de vales. p.- 80-81), ao buscar por uma agricultura competitiva,
Esse processo de valorização “tardia” da terra é tem gerado: a) a sofisticação, às custas de grandes
seletivo, pois vem atender apenas às reivindicações investimentos do Estado, dos circuitos espaciais
de uma determinada parcela de produtores inseridos produtivos e dos círculos de cooperação entre as
nos circuitos espaciais da produção da soja, do grandes empresas das cadeias produtivas e de
algodão, da pecuária, entre outros. distribuição; b) enclaves de modernização
caracterizados como verdadeiros espaços alienados;
Os novos fronts possuem particularidades
c) dependência crescente de informação (técnica e
que os diferenciam das demais regiões agrícolas do
financeira) cada vez mais sofisticada; d) surgimento
país. Apesar das políticas agrícolas serem as
de empresas de consultoria especializada em
mesmas, na escala nacional, as regiões produtoras
produção, logística e transporte agrícola; e) grande
de soja dos fronts têm um comportamento específico
demanda por bens científicos; f) obediência a
frente às demais regiões do Brasil, como as regiões
normas internacionais de qualidade; g) novo perfil
produtoras do Sul. Essa diferenciação se dá,
de trabalho no campo; h) deslocamento ou
principalmente, quanto à “capacidade de oferecer
marginalização dos agentes recalcitrantes.
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o movimento de produtos agrícolas no território brasileiro, pp. 119 - 134 129

Nos novos fronts os produtos agrícolas conhecimento e capital, destruindo suas raízes
do complexo soja (grão, farelo e óleo) são pouco e o meio ambiente.
consumidos localmente, seus preços são
definidos internacionalmente, a tecnologia e o
financiamento empregados para promover a Os corredores de escoamento de produtos
atividade da soja são exógenos à região e a agrícolas – redes quase corporativas
própria cultura da soja só passou a ser viável
Para o escoamento da produção de soja
depois do desenvolvimento de novas
dos novos fronts agrícolas, governos e
variedades. É possível afirmar, então, que essa
empresas estão fortalecendo ainda mais os
atividade é “enxertada na região” e o comando
corredores de transporte e exportação. Estes
produtivo é externo – gerando vulnerabilidade
são considerados como o espaço dos fluxos que
econômica e geográfica.
não abrangem todo o espaço, ou seja, são
Grande parte da articulação e dos subsistemas formados por pontos, linhas e
relacionamentos existentes nas fronteiras manchas (SANTOS, 2002a, p. 296) e utilizados
consolidadas e em suas áreas de expansão é por poucos.
conduzida por agentes hegemônicos que são
Os corredores fazem parte dos
muito mais poderosos (do que os próprios
macrossistemas técnicos de uso
produtores) e preparados para mudar o estado
predominantemente corporativo, ou seja, são
das coisas, ou seja, de promover a valorização
as “redes privadas, cuja geografia e
da região. Nessa situação, têm mais chances
funcionalização correspondem ao seu próprio
de sobrevivência aqueles que se adaptam às
interesse mercantil.” (SANTOS, 2002a, p.276).
regras impostas pelos agentes externos. Esse
Os interesses não privados, como o social e o
processo não deixa de ser semelhante ao da
ambiental, não são verdadeiramente
colonização 1 , que envolve conquista,
considerados.
subordinação das populações locais e
apropriação dos lugares (PORTO GONÇALVES, Outras características desses
2006), sem muitas resistências. corredores, principalmente quando se trata do
sistema ferroviário, é que as normas que
Outra atividade importante nas novas
predominam ao longo de seus eixos são as de
fronteiras agrícolas é o comércio de terras, que
“blindagem”, que impedem que outras
passou a ser até mais lucrativo que a própria
atividades econômicas possam utilizar o
produção agrícola. Segundo FREDERICO (2004,
sistema, e de “barreira”, que impede a
p.43), dentre as terras no Brasil que tiveram as
transposição física da linha. Os corredores, ao
maiores valorizações entre 2001 e 2003, grande
mesmo tempo em que propiciam integração de
parte está relacionada ao cultivo da soja em
partes selecionadas do território nacional,
porções do Cerrado.
também podem causar fragmentação (ARAÚJO,
Para CASTILLO (2004, p. -93-94), as 2000; PACHECO, 1998).
políticas públicas e privadas nos novos fronts,
Os principais corredores de escoamento
exógenas e geralmente funcionando como
(FREDERICO, 2004) podem ser agrupados de
vetores da modernização, podem provocar uma
acordo com as regiões produtoras e os portos
desordem local.
de destino das cargas agrícolas (Mapa 2). O
O discurso predominante do Estado, do corredor Noroeste (1), que tem como área de
mercado e da mídia é que a atividade agrícola influência as regiões produtoras do Oeste do
da soja, por si só, seja indutora do Estado do Mato Grosso, Sul do estado de Rondônia
desenvolvimento da região. O andar dos e Norte de Mato Grosso, tem como portos de
acontecimentos mostra que a região das novas destinos Itacoatiara e Santarém. Os modais
fronteiras agrícolas está importando técnica, utilizados são o rodoviário e o hidroviário.
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MAPA 2– PRINCIPAIS CORREDORES DE ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO DE SOJA


Sistema ferroviário pós-privatização e fluidez corporativa:
o movimento de produtos agrícolas no território brasileiro, pp. 119 - 134 131

As cargas agrícolas no corredor Centro – commodities agrícolas e minerais que possuem


Norte (2), que tem como área de influência as baixo valor agregado, altos volumes e necessitam
regiões Sul do Maranhão, Sudoeste do Piauí, de grandes investimentos em infra-estrutura. Os
porções do Tocantins, Leste do Pará e Centro- recursos investidos pelo governo e pelas
Leste do Mato Grosso, são transportadas por concessionárias promovem uma circulação
rodovias, hidrovias e ferrovias até os principais desnecessária do território (SANTOS & SILVEIRA,
portos do Maranhão (Itaqui e São Luís) e Pará 2001, p.-297-298), seu enrijecimento, a
(Ponta da Madeira, Vila do Conde e Belém). degradação ambiental, a desestruturação de
culturas locais e, ainda, comprometem seus usos
O corredor Sudeste (3), que transporta futuros. Os investimentos estão voltados para a
cargas agrícolas de Mato Grosso, Mato Grosso do modernização do território de forma seletiva e
Sul, Goiás e Paraná, permite acesso aos portos excludente, sem considerar a sociedade e o
mais importantes do país (Santos, Vitória e território como uma totalidade.
Paranaguá). Os modais utilizados são o rodoviário,
ferroviário e o hidroviário. O sistema de transporte brasileiro está
sendo criado nos moldes tradicionais de logística,
Os produtos agrícolas da região Sul são ou seja, voltado para a redução do frete entre
escoados pelo corredor Sul (4) que, através de origem e destino. Outras questões, como
rodovias e ferrovias, têm acesso ao porto de Rio desenvolvimento regional e social e a inserção
Grande. A produção do Oeste do estado da Bahia de regiões menos favorecidas no mercado
é escoada por rodovias para o porto de Ilhéus. nacional, são pouco consideradas. A organização
Esta é a organização do território brasileiro do território brasileiro, fundada em redes
que governos e empresas privadas estão extravertidas, está muito mais “vulnerável às
definindo e construindo com recursos públicos oscilações do mercado internacional [...]
para o benefício de apenas alguns produtos, conduzindo a um uso cada vez mais corporativo
atividades econômicas e agentes. do território” (CASTILLO, 2004, p. 81).
As ferrovias estão sendo utilizadas para
integrar algumas regiões competitivas aos
Considerações finais mercados internacionais. O uso dos corredores
Este artigo procurou apresentar algumas de exportação, que funcionam como pontes ou
informações sobre o sistema ferroviário e as túneis no território brasileiro, já que interligam a
atividades agrícolas nos novos fronts que produção agrícola e mineral aos portos sem
permitissem entender como os projetos, as políticas promover significativamente as áreas ao longo de
públicas e privadas, os investimentos e a atuação seu percurso, podem contribuir para a
dos agentes passam a organizar o território brasileiro “exportação” e a “instabilidade” (SANTOS &
e determinar o futuro do Brasil. SILVEIRA, 2001, p. -298-291) do território
brasileiro.
Grande parte da avaliação do sistema
ferroviário, realizado pelo governo, entidades do Estados como Tocantins, Goiás e Mato
setor e Universidades, tem como abordagem Grosso são altamente dependentes da exportação
principal as questões econômicas e de eficiência das do produto soja. Essa exportação concentrada na
concessionárias. A preocupação maior é com o uso soja, sugerida muitas vezes pelos governos como
das ferrovias e, em geral, pouco destaque é dado uma política salvadora e indispensável, chega a tal
para o fato destas condicionarem a organização ponto de se perguntar se o “território também não
do território brasileiro, promovendo algumas está sendo exportado” (SANTOS, 2002b, p. 87).
cidades e regiões e, também, empresas em Verifica-se uma relação direta entre a
detrimento de outras. “especialização produtiva”, principalmente no caso
As ferrovias transportam principalmente dos novos fronts, e a “especialização do transporte
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ferroviário e dos investimentos”, concentrados em território brasileiro (integração inter-regional) e


poucos produtos e empresas. A valorização de sim a das regiões produtoras ou extrativas aos
transportes monofuncionais acaba privilegiando mercados no exterior (integração internacional).
alguns produtos e regiões e excluindo os demais. O sistema de movimento de cargas no Brasil está
Como destacou SANTOS (2002b, p. 88), “tal uso voltado para o exterior através dos corredores
preferencial do território por empresas globais de exportação, funcionando como verdadeiras
acaba desvalorizando não apenas as áreas que redes extravertidas (SANTOS & SILVEIRA, 2001),
ficam de fora do processo, mas também as demais constituindo o espaço de alguns, dos agentes
empresas, excluídas das mesmas preferências”. hegemônicos. Essa característica é típica da
“transnacionalização do território” e da “fluidez
Os resultados da privatização mostram
posta a serviço da competitividade” (SANTOS,
que o discurso do Estado mínimo, utilizado nos
1998, p. 16).
movimentos de desestatização no Brasil, acabou
servindo para converter monopólios estatais em Uma das perguntas que precisam ser
monopólios privados. Além disso, as ferrovias, em respondidas é “como podemos atender aos
grande parte, estão sendo usadas para requisitos legítimos de recomposição da infra-
transportar cargas dos sócios e, principalmente, estrutura e da crise social se nos ativermos
de suas controladas. São produtos cativos, apenas às exigências dos interesses privados e
preferenciais, que podem comprometer o uso da internacionais” (CANO, 1998, p.352). Essa
ferrovia para outros produtos. Este fato leva a “predominância da lógica das empresas
questionar se as ferrovias brasileiras podem ser transnacionais na ordenação das atividades
consideradas, efetivamente, como empresas de econômicas conduzirá quase necessariamente a
logística. tensões inter-regionais, à exacerbação de
rivalidades corporativas e à formação de bolsões
A concentração de recursos em atividades
de miséria, tudo apontando para a inviabilização
econômicas dependentes do mercado externo
do país como projeto nacional” (FURTADO, 2000,
tem definido grande parte da organização do
p. 12).
território brasileiro e leva a pensar se o “sentido
da colonização” (RICUPERO, 2000, p. 13) ainda As considerações apresentadas levam ao
se mantém no Brasil. questionamento das políticas públicas atuais
relativas aos sistemas de transporte e talvez
Outra questão importante a destacar é a
apontem para a necessidade de um projeto
formação da história econômica do Brasil, que vai
nacional mais justo socialmente.
se moldando de acordo com as necessidades e os
interesses do mercado externo. O território, nesse Para finalizar, é importante destacar que
caso, também se organiza para acompanhar essas a nova realidade da globalização exige do
necessidades. É possível afirmar, então, que o geógrafo a busca de explicações em outros
território brasileiro está sendo organizado em grande lugares, não somente no terreno onde os
parte para atender aos interesses de empresas e acontecimentos se realizam (ISNARD, 1982, p. -
agentes participantes do circuito espacial produtivo 54-55). É necessário buscar informações em
da soja. A reativação do sistema ferroviário e, outros países, como os mercados compradores
principalmente, os traçados das linhas mostram isso. de minérios e soja, que também estão
interessados na privatização e na organização do
O planejamento da infra-estrutura logística
sistema ferroviário. A busca pelo verdadeiro
brasileira, apresentado nos PPAs e orientado de
sentido do processo de privatização das ferrovias
acordo com o Plano dos Eixos Nacionais de
e da organização das empresas concessionárias
Integração e Desenvolvimento, demonstra a real
se torna mais complexa, já que os interesses e
contribuição do sistema ferroviário para a
as relações entre os agentes nem sempre são
integração do território brasileiro. As propostas
percebidos localmente ou, ainda, são de difícil
não contemplam a integração das regiões do
mensuração.
Sistema ferroviário pós-privatização e fluidez corporativa:
o movimento de produtos agrícolas no território brasileiro, pp. 119 - 134 133

Notas
1
Sobre circuito espacial produtivo, consultar SANTOS 2004); “Dois trens da Ferronorte chocam-se no
& SILVEIRA (2001, p. 143), FREDERICO & MS” (18/6/2004). Fonte: http://
CASTILLO (2004) e TOLEDO (2005). www.revistaferroviaria.com.br, acessado em 05/
2
Ferrovias: integração e crescimento econômico. 11/2004.
Jornal O Globo, Janeiro de 2005. 5
Com relação ao processo de colonização verificado
3
Sobre fluidez territorial, consultar SANTOS & no passado, “As estruturas produtivas
SILVEIRA (2001, p. 262) e ARROYO (2001, p.105). preexistentes devem ser assimiladas à nova
ordem, seja pela sua incorporação, seja pela sua
4
“Trem de soja descarrila na malha da FCA”(25/10/ destruição”(MORAES, 2002, p. 780).
2004); “Dois acidentes da ALL em 48 hs” (15/9/

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Trabalho enviado em maio de 2006

Trabalho aceito em setembro de 2006

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