Você está na página 1de 14

MACONHA E PSICOSE: EXISTE UMA RELAÇÃO?

Fátima Regina Gomes 1

Mara L T Brum 2

Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão de literatura no modelo
de monografia acerca dos fenômenos que ocorrem durante ou imediatamente após o uso
de substâncias psicoativas, tais como: as alucinações, delírios, ideias de referência,
transtornos psicomotores, afeto anormal. Além disso, estudo aprofundado sobre o uso e
abuso da maconha, bem como, sua relação com a psicose. Um fator importante de base
sustentadora na vida do indivíduo é a família, sendo esta, peça fundamental de
facilitação ou de proteção na questão da dependência e recuperação das pessoas, na
medida em que, a falta de suporte e desestrutura familiar, gera comportamento de risco.
Optou-se pela busca em publicações científicas impressas como forma de valorização
dos profissionais locais e suas capacitações. Verificou-se que maconha exacerba os
sintomas naquelas pessoas que já apresentam alguma doença mental, como a
esquizofrenia ou a depressão, além disso, observa-se que existem evidências suficientes
de que a maconha possa produzir em usuários pesados uma psicose. Porém, conclui-se
que não há dados suficientes que provem que o uso da maconha possa gerar uma
psicose crônica que perdure após o período de desintoxicação.
.

PALAVRAS CHAVES: Dependência Química, Maconha, Psicose

1. Introdução
As várias tendências de reflexão sobre a Doença Mental, notadamente sobre as
Psicoses, embora provenientes de diversos momentos históricos do pensamento
psicológico, estimulam a tônica das discussões acerca do tema. Entre os autores
encontramos defensores do modelo sociogênico 3, no qual a sociedade complexa e
exigente é a responsável exclusiva pelo enlouquecimento humano. Defensores do
modelo Organogênico 4, diametralmente oposto ao anterior e onde os elementos

1
Graduada em Psicologia pela UCPEL – Licenciada Arte Terapeuta e Coordenadora do Hospital Dia
Psiquiátrico da A.C. Santa Casa de R.G E- Cursando Pós-Graduação Abordagem Multidisciplinar em
Dependência Química. E-mail: psi.fgomes@bol.com.br
2
Mestranda em educação – UFPEL . email: mltb@bol.com.br
3
origem e conservação da sociedade
4
Processo de desenvolvimento do embrião.
orgânicos da função cerebral seriam os responsáveis absolutos pela Doença Mental. Do
modelo Psicogênico 5, onde a dinâmica psíquica é a responsável exclusiva pela doença e
as disposições constitucionais pessoais pouco importam. Finalmente há o modelo
Organodinâmico, o qual compatibiliza os três anteriores num enfoque bio-psico-social.
Tem sido quase que unanimemente aceito na psiquiatria clínica, a associação de
determinadas configurações de personalidade predispostas, e a eclosão de psicoses.
Estas personalidades são as chamadas Personalidades Pré-mórbidas, cujo conceito é
abordado no capítulo sobre os Transtornos da Personalidade, tanto pelo CID
(Classificação Internacional das Doenças) quanto pelo DSM (Manual de Diagnóstico e
Estatístico das Doenças Mentais).
A Constituição (Personalidade) Pré-mórbida é considerada pela psicopatologia
como uma variação do existir humano e traduz uma possibilidade mais acentuada para o
desenvolvimento de certa vulnerabilidade psíquica. Aqui o termo "possibilidade" deve
ser considerado em toda sua plenitude, ou seja, trata-se de um caráter não-obrigatório,
mas que deve ser levado muito a sério. Novos estudos e pesquisas pertinentes ao uso de
maconha tem tido ênfase progressiva há algum tempo.
A relevância deste estudo se justifica pelo aumento do uso abusivo de maconha
em todo o mundo, citando como exemplo, os Estados Unidos da América (EUA), onde
houve um aumento significativo de usuários dependentes, que fazem uso nocivo da
droga. Em pesquisas nacionais desenvolvidas por Crippa e colaboradores (2005);
Laranjeiras e colaboradores (1998) e, Lemos e Zaleski (2004) investigaram os efeitos e
as suas repercussões neuropsicológicas relacionadas ao consumo de maconha.
A ABEAD 6 relata que o interesse de pesquisas relacionadas ao uso de maconha
tem aumentado em função de um maior número de pessoas terem utilizado esta droga,
onde o uso inicial se dá mais cedo e da concentração de THC (Tetrahidrocannabind –
elemento psicoativo da maconha) ter aumentado. Aumentam também os estudos que
discutem os efeitos adversos agudos e crônicos da droga.
Um conjunto de fenômenos psicóticos que ocorrem durante ou imediatamente
após o uso de substâncias psicoativas, podem variar de medo intenso a êxtase, onde são
caracterizadas por alucinações vividas (tipicamente auditivas, porém, freqüentemente
em mais de uma modalidade sensorial) falsas reconhecimentos, delírios e/ou idéias de

5 Relativo á psicogenia. Doença ou transtorno provocado por causas psicológicas.


6
Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, 2005- em
http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v08/m31684.pdf - acessado em 07-02-2012
referência (freqüentemente de natureza paranóides ou persecutória), transtornos
psicomotores (excitação ou estupor) e afeto anormal.
Os transtornos psicóticos induzidos por substâncias psicoativas podem
apresentar-se com vários padrões de sintomas. Essas variações serão influenciadas pelo
tipo de substância envolvida e pela personalidade do usuário. Para drogas estimulantes
tais como, cocaína e anfetaminas, os transtornos psicóticos induzidos por estas, estão
em geral intimamente relacionados em altos níveis de dose, e/ou, do uso prolongado da
substância. Diante do exposto, faz-se necessário um aprofundamento sobre a maconha e
sua origem.

2. Maconha - Um breve Histórico


A maconha (palavra de origem angolana) é uma das drogas extraídas de plantas, onde
registros datam 2712 a.C. quando foi mencionada na Farmacopéia Chinesa. Também
encontrada em fibra vegetal há 4000 a.C. no norte da China Central, onde se difundiu
gradualmente para a Índia, Oriente Médio, chegando à Europa somente no fim do
século XVIII e início do século XIX, passando pelo Norte da África e atingindo as
Américas, onde até então, era utilizada principalmente por suas propriedades têxteis e
medicinais. Navegadores portugueses introduziram na África e na Ásia, o tabaco, onde
em troca, seus navios trouxeram para o Brasil escravos acostumados a fumar maconha.
No Brasil, a droga foi utilizada para produção de fibras, onde na mesma época
os Estados Unidos importava da Europa a semente para o plantio. Navios portugueses,
espanhóis, holandeses, franceses e ingleses usufruíam de velas e cordas de maconha,
que seus governos espalharam sementes da planta por todo o planeta. (Amarante,
p.185).
Até o século XX a maconha era a mais famosa das Américas, como fibra têxtil e
planta medicinal.
No século XIX, a maconha começa a ser usada por escritores e artistas, mas sua
utilização restringia-se a pequenos círculos boêmios de grandes cidades e de imigrantes
asiáticos e africanos. No século XX, Cientistas identificaram os efeitos colaterais da
maconha, e seu uso ficou excluído das farmacopéias, sendo proibido por lei em vários
países, onde seu consumo passou a ser disseminado no mundo nos anos 60.
Também conhecida como Cannabis sativa, suas flores e pequenas folhas
fornecem a maior parte da droga, que é moída, assemelhando-se à grama cortada. Da
extração da planta se obtém um produto mais potente chamado de “haxixe”, sendo que,
atualmente, seu material é geneticamente alterado e com nível de tetrahidrocanabidnol
dez vezes maior.
Atualmente, a maconha é conhecida como, Haxixe - no Oriente Médio e África
do Norte; Charas – no Extremo Oriente; Marijuana – Estados Unidos e México e
demais países da língua espanhola; Maconha, Bomba, Fumo, Coisa,
Erva,Bolo,Chá,Baura – no Brasil, onde essa sinonímia tem suas variáveis de acordo
com o grupo de usuários costumes e modismos da época.
As formas de consumo da maconha se dão através de fumo, ou por via oral,
misturada em alimentos infusões etc.
A maconha, quando administrada, passando pela corrente sanguínea, o THC
(tetraidrocanabinol), passa por todos os tecidos do organismo, onde afeta
principalmente o cérebro e o sistema cardiovascular, sendo que, o curto ou médio prazo
o THC atua em todos os sistemas vitais do organismo, originando sérias conseqüências.
Pesquisas realizadas com alunos do ensino médio e fundamental da rede
pública, pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID 7
(1997), mostram que, a maconha é a droga ilícita mais usada no Brasil,onde, em
levantamento de 1997, as capitais que apresentavam o maior índice de consumo, foram
Curitiba (11,9%) e Porto Alegre (14,4%). Constatou-se que 7,6% dos estudantes
relataram já ter experimentado maconha uma vez na vida. No estudo realizado por
“Saibro e Ramos” (2003) com 1586 estudantes, em 14 escolas públicas e privadas do
ensino médio e fundamental de Porto Alegre, verificou-se que o uso da maconha teve
seu pico de experimentação na faixa etária dos 14 aos 16 anos (72,5%), sendo, a
prevalência de uso na vida (uso experimental) de 21% nesta população.
Além de observarem que o consumo de maconha tem aumentado entre os
adolescentes, alguns estudos abordam os prejuízos acarretados ao longo do tempo.
.Há evidências de que o uso prolongado de maconha é capaz de causar prejuízos
Cognitivos relacionados à organização e integração de informações complexas,
envolvendo vários mecanismos de processo de atenção e memória (Ribeiro e Marques,
2002)

7
Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas.
As alterações neuropsicológicas relevantes identificadas em usuários crônicos
desta substância, tais como, os déficits em tarefas psicomotoras, e a atenção e memória
de curto prazo (Pope et al, 1995) 8.
Após períodos breves de tempo de uso desta substância, em alguns casos, são
detectados dificuldades de aprendizagem em função de prejuízos na memória de curto
prazo. Também prejuízos da atenção podem ser detectados a partir de fenômenos, tais
como, do aumento da vulnerabilidade à distração, o afrouxamento das associações,
indução de erros em testes de memória, inabilidade em rejeitar informações irrelevantes
e piora da atenção seletiva. (Oliveira, 2006)
A Associação Brasileira de Psiquiatria lembra que a adolescência é um momento
da vida de maior vulnerabilidade e que pode favorecer a experimentação e a
manutenção do uso de maconha e fatores, como por exemplo: o baixo rendimento
escolar, o uso de outras substâncias psicoativas por parte do próprio adolescente ou de
amigos seus. A delinqüência e desestrutura familiar contribuem para a manutenção do
comportamento do uso de maconha em adolescentes e adultos jovens.
A Organização Mundial de Saúde em Oliveira, 2006 reconhece dependência
química como doença. Uma doença é uma alteração da estrutura e funcionamento
normal da pessoa, que lhe seja prejudicial. Por definição, como o diabetes, ou a pressão
alta, a doença da dependência não é culpa do dependente; o paciente somente poderá ser
responsabilizado por não querer o tratamento, se for o caso.
A dependência química não tem uma causa única, é um conjunto de fatores que
atuam ao mesmo tempo, sendo que, às vezes, uns são mais predominantes naquele
indivíduo específico do que em outros. No entanto, sempre há mais de uma causa, sendo
que, a dependência química gera inúmeros problemas sociais, familiares, físicos etc.
Conforme a OMS (Organização Mundial de Saúde), as primeiras experiências
com drogas ocorrem, freqüentemente, na adolescência. Vários trabalhos têm
evidenciado a precocidade da faixa etária do início do uso de drogas, geralmente dentro
da adolescência, entre 10 e 19 anos. Na adolescência as regras costumam ser
questionadas e contestadas e, juntando-se ao faturista ser uma época de
experimentações, surge então, um risco maior para o uso de drogas ilícitas como, o
álcool e fumo.
8
Revista Brasileira de Psiquiatria Oficial journal of Brasilian Psichiatric Association, Volume 32-
Suplemento I – maio 2010.
Não está comprovado que a maconha gere danos cerebrais irreversíveis em
humanos, porém, seu uso crônico, gera diminuições mais sutis na atividade cerebral,
como, a diminuição nas habilidades mentais, especialmente na concentração, e na
capacidade de memória recente. A médio ou longo prazo, as reduções destas habilidades
persistem enquanto o usuário mantiver-se cronicamente intoxicado e poderá ou não
reverter-se após o uso descontinuado se a pessoa tornar-se abstinente por um tempo
prolongado. Por quanto mais tempo a maconha for usada, mais afetadas ficarão suas
habilidades mentais. Este tipo de efeito deverá ter atenção especial aos adolescentes que
ainda estão em fase de desenvolvimento.
Entre os efeitos psicológicos da maconha estão: ansiedade, euforia, pânico e
paranóia, especialmente em usuários menos experientes; diminuição das habilidades
mentais, especialmente a atenção e memória; diminuição das capacidades motoras e
possivelmente aumento do risco de dirigir, se intoxicado; aumento do risco de
experenciar sintomas psicóticos entre os sujeitos com predisposição para tal doença. Os
efeitos físicos são: relaxamento/euforia, pupilas dilatadas, conjuntivas avermelhadas
(branco dos olhos), boca seca, aumento do apetite, rinite/faringite, comprometimento da
capacidade mental, percepção alterada, coordenação motora alterada, voz pastosa,
aumento dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, despersonalização
ansiedade/confusão, alucinações, perda da capacidade de insight. Alguns efeitos
crônicos da maconha, como, fadiga crônica e letargia, náusea crônica, dor de cabeça,
irritabilidade, tosse seca, dor de garganta crônica, congestão nasal, piora da asma,
infecções freqüentes dos pulmões, bronquite crônica, diminuição da coordenação
motora, alteração na memória e concentração, alteração da capacidade visual
(profundidade e cor), infertilidade, problemas de menstruação, impotência, diminuição
da libido e satisfação sexual. Alteração no pensamento abstrato, depressão e ansiedade,
mudanças rápidas do humor/irritabilidade, ataques de pânico, mudanças de
personalidade, tentativas de suicídio, isolamento social, afastamento de laser e outras
atividades.
Existem alguns fatores fortemente associados ao uso abusivo de drogas e
dependência química, como por exemplo, os fatores genéticos, psicológicos, familiares
e sociais. Em geral parece que esses fatores não costumam agir isoladamente e sim em
conjunto.
Na pesquisa realizada encontraram-se referências aos fatores sócio-ambientais
quanto ao uso de drogas, ou seja, nas influências do destino vivencial da pessoa sobre
seu comportamento, pensamento e sentimento, onde a família é de fundamental
importância e bases sólidas.

2.1. Família

A família – aparece como um dos inúmeros fatores associados à dependência


química. A família, ou, mais precisamente, as atitudes da família, com propósitos
educativos, parece ser um fortíssimo fator de intervenção e influência, principalmente
em relação à prevenção da dependência. Dessa forma, o meio familiar pode ser um
importante elemento de proteção ou, ao contrário, de facilitação dos comportamentos de
risco, do abuso ou de uma possível dependência de drogas.
Os principais fatores familiares de proteção ao uso de drogas se encontram nos
laços afetivos estabelecidos entre seus membros, no monitoramento das atividades e
amizades do adolescente, na construção de escalas de valores éticos e no estímulo para
condutas sociais adequadas. Pons (1998).
Rebolledo, Ortega e Pillon (2004, citado por Broecker e Jou, 2007) 9 analisaram
2.829 estudantes de ambos os sexos, com idades entre 12 e 17 anos, mediante o Test.
Drug Use Screeninginventory.
Alguns autores tais como: Rebolledo, Ortega e Pillon atribuíram à ausência do
pai no domicílio do adolescente, como um risco 22 vezes maior de chance de o
adolescente ser dependente de drogas, quando comparado aos adolescentes que viviam
com ambos os pais.
Segundo estudos, o papel dos pais e do ambiente familiar é marcante no
desenvolvimento dos filhos. A falta de suporte e estrutura familiar, bem como o
comportamento de risco ou o uso de drogas pelos próprios pais são atitudes facilitadoras
ao uso, abuso e dependência dos filhos.
Para ARMSTRONG 10 o cuidado adequado aos filhos durante toda a infância,
como um lar, onde as intervenções paternas sejam menos restritivas e impositivas, está
relacionado a uma vida mais saudável na adolescência, capacitando esse indivíduo,
quando adulto, a desempenhar um bom papel paterno ou materno.

9
ZART.Carla e BROECKER, Psicologa -Terapeuta de Casal e Família, Especialista Dependência
Química los e mestre los PUCRS Psicologia pela. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
82712007000200015&script=sci_arttext#*b
10
Armstrong T, Bauman A, Davies J (2000). Physical activity patterns of Australian adults. Results of the
1999. National Physical Activity Survey. Canberra: Australian Institute of Health and Welfare.
SPROVIERI11 diz que a adolescência, por ser um período de grandes
transformações, leva a família a uma reorganização de papéis e ao estabelecimento de
novas regras. São necessárias adaptações na estrutura e organização familiar para
preparar a entrada do adolescente no mundo adulto.
Copiando Zart 12 refere que, a presença dos pais junto aos filhos é tão ou mais
importante na adolescência do que na infância, uma vez que seu papel agora é estar
atento, mobilizar sem dirigir, apoiar nos fracassos e incentivar nos êxitos. Em suma,
estar com os filhos, é respeitar cada vez mais sua individualização (SAMPAIO, 1994). 13
Também, observou-se que, o modelo cultural é outro fator que contribui para
levar os indivíduos a consumirem drogas, pois desde os tempos remotos beber não é
proibido , ao contrário, a mídia fortalece o consumo de bebidas e cigarros como sendo
algo que os ídolos usam e visto no ocidente como algo tolerável, se a pessoa for bem
sucedida financeiramente.
Outro fator importante é a própria pessoa, pois ela é responsável pelo seu
próprio destino. A família e a sociedade, sem dúvida, têm papel fundamental no
desenvolvimento da pessoa, entretanto, a parte mais importante deve vir de si, em saber
sobre seus limites e propensões, tanto para o uso das drogas, quanto para os efeitos
psicóticos causados por esta.
Já dizia Sartre: A pessoa não deve ser responsabilizada pelo que o destino fez
com ela, mas é totalmente responsável pelo que ela vai fazer com aquilo que o destino
fez com ela.
Após este breve relato sobre aos efeitos da maconha no organismo e seus
principais fatores desencadeantes, se fará uma descrição sobre a psicose e suas
manifestações .

3. Psicose

A psicose, de acordo com alguns autores, é uma doença mental caracterizada


pela distorção do senso de realidade, inadequação e falta de harmonia entre o
pensamento e a afetividade.
11
Sprovieri, M.H. _ Stress, alexitimia e dinâmica familiar em famílias de portadores de autismo. Tese de
Doutorado em Serviço Social apresentada à PUC-SP, 1998
12
Carla Zart psicóloga e Broecker, Terapeuta de Casal e Família, Especialista Dependência Química los e
mestre los PUCRS Psicologia pela. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
82712007000200015&script=sci_arttext#*b
13
SAMPAIO, Daniel – Ninguém morre sozinho: o adolescente e o suicídio. 5ª ed..
Lisboa: Editorial Caminho, SA, 1994
Estudos apontam, que nos últimos anos houve aumento considerável em torno
das pesquisas sobre a Psicose, buscando compreender o que acontece com a pessoa que
desenvolve o primeiro episódio psicótico desde sua fase inicial.Tentam também,
identificar sobre fatores associados a recidiva dos sintomas psicóticos.( CHAVES,
p.39)14
Observou-se que os sintomas depressivos podem ocorrer em todas as fases do
transtorno psicótico, e são os mais precoces e mais freqüentes sinais da psicose iminente
e em estágios mais avançados, sendo também os mais freqüentes sinais indicativos de
uma recaída.
Segundo Pitta, as manifestações psicopatológicas podem variar no seu início, de
forma insidiosa, às formas mais agudas. Alguns casos de esquizofrenia desenvolvem-se
insidiosamente em condições prejudicadas na infância, no desenvolvimento da
personalidade e da cognição, o que dificulta reconhecer o pro domo da psicose. (Pitta
ET AL Chaves. 33).
Conforme Hafner, observou-se que, quase todos os sintomas negativos
precedem os positivos por alguns anos. As formas de início insidioso são
particularmente precursoras de transtornos de esquizoafetivos, maníacos ou induzidos
por substâncias psicoativas com melhor prognóstico. (HAFNER ET AL Chaves. 34).
A psicose tem início repentino e duração curta (um mês) em que o paciente fica
incapacitado de realizar suas funções sociais e profissionais. Como se trata de um
quadro psicótico, na maioria das vezes o paciente nega estar doente, e pode até admitir
que algo não vai bem, que tem algum problema, mas de forma alguma admite que o
problema é mental. Muitos desses surtos são acompanhados de eventos estressantes ou
fortes, como perda de pessoa querida, do emprego, mudança de cidade ou ambiente
social; forte ferimento físico, acidente com seqüelas, e ainda, eventos positivos como o
nascimento de um filho ou o casamento. O período que se observa em média entre a
ocorrência do evento e o início da psicose é de duas semanas, a completa recuperação
pode levar de dois a três meses, sendo que a fase pior dura menos de um mês.
A pessoa passa a ter um comportamento desorganizado, não acaba o que começa
e o que faz, muitas vezes não tem sentido. Veste-se inadequadamente, não atende aos
apelos dos familiares, recusa-se em colaborar com o que é preciso. O sono, como em

14
CHAVES. Ana Cristina. LEITE, Ângela L Scantgno de Souza. - Fases Iniciais da Psicose: A
experiência do programa de atendimento de pesquisa no primeiro episodio psiquiátrico .São Paulo: Roca,
209
todos os transtornos psicóticos fica diminuído. O senso de perigo pode ser perdido,
deixando o fogo da cozinha aceso, a porta da rua aberta, permitindo que crianças
brinquem com facas afiadas, etc. Alguns pacientes tornam-se repetitivos nos gestos ou
nas palavras. Surgem personagens inexistentes das fantasias delirantes ou das
alucinações auditivas, com quem o paciente se relaciona. Às vezes rituais com cunho
religioso são entoados ou criados pelos pacientes. Diversas outras manifestações podem
surgir, os quadros psicóticos, costumam ser muito variados, e só alguns foram
comentados aqui. Far-se-á a seguir um relato sobre a relação da maconha com a psicose.

4. Relação entre Maconha e Psicose


O estudo aponta que o uso de maconha pode levar a sintomas de curta duração
como despersonalização, falta de motivação, desinteresse, sentimento de perda de
controle, medo de morrer, pânico irracional e idéias paranóides. Em pesquisa com
usuários de maconha, 15% dos indivíduos relataram sintomas psicóticos, como por
exemplo, ouvir vozes; sensação de perseguição ou risco de ser machucado por outra
pessoa.
A maconha pode precipitar à psicose da seguinte forma: Quanto ao uso agudo de
altas doses, poderá induzir a uma psicose com sintomas de confusão e alucinação; o uso
contínuo poderá levar a uma psicose crônica que persiste após a abstinência; e com o
uso prolongado poderá levar a uma psicose com redução parcial após a abstinência;
sendo que o uso de maconha pode ser um fator de risco para sérias doenças mentais
como a esquizofrenia.
Conforme artigo da Colband 15, o uso de maconha está associado a altos graus de
doenças psiquiátricas. Uma pesquisa realizada em 1990 com 20.000 cidadãos da
comunidade e de instituições mostraram que 50% dos indivíduos com dependência ou
abuso de maconha também obedeceram ao critério para outro distúrbio mental. Em
1998 um estudo feito com 133 recrutas italianos mostrou que a predominância de
doenças psiquiátricas estava relacionada a um padrão de uso de maconha, onde, entre
69% dos dependentes de maconha, 41% dos usuários eram abusivos e 24% dos usuários
eram ocasionais, e apresentavam pelo menos um diagnóstico psiquiátrico, sendo que os
mais comuns eram distúrbios do humor depressivo, depressão maior e distimia. A
severidade dos sintomas aumentou proporcionalmente ao aumento do uso. Outra

15
http://www.colband.com.br/edutech/webquest_template/docs2/maconha%20X%20psicose%20q7.htm
evidência é o alto grau e abuso da droga entre os portadores de doenças psiquiátricas.
Estudo mostrou que o risco de obedecer à critérios para abuso de drogas é 4,6 vezes
maior naqueles que sofrem de esquizofrenia do que na população em geral, sendo que a
maconha é a droga mais usada. Verificou-se, através de estudo, que altas doses de
maconha podem levar a uma psicose tóxica, porém algumas pesquisas evidenciam o uso
da maconha para "tratar" sintomas como depressão e ansiedade. Estudos vêm apontando
um aumento dos episódios de alucinação entre pacientes em tratamento de esquizofrenia
e continuação do uso de maconha. A maconha é considerada um fator de risco para
doentes mentais, porém, não existem evidências de que ela desencadeie a doença
mental.
Segundo Werner 16 fatores de risco não são elementos estáticos, e sua
identificação e avaliação só têm valor se estiverem conectadas a programas de
intervenção onde exista um acompanhamento periódico no sentido de proporcionar
educação para a saúde, reabilitação e tratamento

5. Considerações finais

Entre as alternativas encontradas para tentar contornar o uso de drogas lícitas ou


ilícitas, pelos jovens e pessoas com predisposição para desenvolverem quadros
psicóticos, está em primeiro lugar, à importância da família, que deverá estar
estruturada, com bases sólidas, que imponha limites sem cobranças exageradas ou com
agressividade. A presença dos pais, que acompanhem as atividades dos filhos, que
estabeleçam regras, de condutas claras, que se envolvam afetivamente com a vida dos
filhos, e que deixem claro sobre a hierarquia familiar. Sendo o meio social, agente e
reprodutor de hábitos e atitudes é importante que os pais fiquem atentos aos grupos
sociais que os adolescentes estão se ligando, procurar manter-se informado da rotina dos
filhos e dos seus amigos, conversar sobre as armadilhas que os vícios trazem e o mal
que causam a saúde.
Já, para os indivíduos que apresentem pré-disposição para quadros psicóticos, é
preciso acompanhamento multidisciplinar e grupos de apoio como medidos de
precaução nas patologias já existentes, que tendem a se desenvolver com o uso e abuso
de drogas.

16
Werner EE. Vulnerable but invincible: high risk children from birth to adulthood. Eur Child Adolesc
Psychiatry. 1996:5 Suppl 01h47min-5
Segundo Laranjeira, existem fortes evidências sugerindo que a maconha pode
sim, precipitar o aparecimento de um quadro psicótico, como, a esquizofrenia em
pessoas vulneráveis, isto é,que tenham a pré-disposição da doença. Há também dados
sugerindo que o uso de maconha exacerba os sintomas naquelas pessoas que já
apresentam alguma doença mental, como a esquizofrenia ou a depressão. (Laranjeira,
2011) 17.
O estudo mostrou que existem evidências suficientes de que a maconha possa
produzir em usuários pesados uma psicose aguda (desorganização mental grave), com
os seguintes sintomas: confusão mental, perda da memória, delírio, alucinações,
ansiedade, agitação. Porém, não há dados suficientes que provem que o uso da maconha
possa gerar uma psicose crônica que perdure após o período de desintoxicação. Diante
do estudo feito verificou-se que as pessoas com pré-disposição a quadros psicóticos, são
mais vulneráveis e suscetíveis a fazerem a dependência química.
A problemática gerada em torno das drogas é um fato bastante complexo que
gera grandes conflitos e severas conseqüências. Com este estudo, buscou-se fazer uma
compreensão esclarecendo sobre a relação que existe entre a maconha e a psicose,
contribuindo assim para um avanço e conhecimento dessa realidade.
O presente estudo contribui na identificação de aspectos conseqüentes do uso de
drogas e manifestação da doença. Por essa razão, a prevenção, acompanhamento e
intervenção tornam-se medidas importantes.

17
LARANJEIRA, Ronaldo - Doutor em Psiquiatria, Coordenador da UNIAD a Professor Adjunto do
Depto de Psiquiatria da UNIFESP.
6. Referencia Bibliográfica
ARMSTRONG, T Bauman A, Davies J (2000). Physical activity patterns of Australian
adults. Results of the 1999. National Physical Activity Survey. Canberra: Australian
Institute of Health and Welfare

AMARANTE, Silva Fernando. Uso de Drogas Psicoativas: Teorias e métodos para


multiplicador prevencionista. Rio Grande: SENPRE, 2005.

CAETANO, Dorival. Classificação dos Transtornos Mentais e Comportamentos da


CID-10: Descrição Clínicas e Diretrizes Diagnósticas- Coord. Organiz. Mundial da
Saúde, Porto Alegre, Artes Medicas, 1993.

CONACE – Consejo Nacional para El Control de Estupefacientes, Ministério Del


Interior. Tercer estúdio nacional de consumo drogas en Chile 2000. Sistema Nacional
de Información sobre Drogas, Chile, 125p, (2001).

CRIPPA, J.A; LACERDA, A.L.T.; Amaro, e Busatto Filho, G.; ZUARDI, A.W e
Bressan, R.A. Efeitos cerebrais da maconha – Resultados dos estudos de
neuroimagem. Ver. Bras. Psiq. 27(I) , 70-78.

CHAVES. Ana Cristina. LEITE, Ângela L Scantgno de Souza. - Fases Iniciais da


Psicose: A experiência do programa de atendimento de pesquisa no primeiro episódio
psiquiátrico. São Paulo: Roca, 2009.

LARANJERA, R.; JUNGERMAN, F.S e Dunn, J. Drogas: ,maconha, cocaína e crack.


São Paulo: Editora Contexto. 1998.

LEMOS,T & ZALESKI, M. As principais drogas; como elas agem e quais os seus
efeitos. Em Pinsky, I e Bessa, E., Adolescencia e Drogas. São Paulo. 2004.

PONS, J - El modelado familiar y el papel educativo de los padres en la etiología del


consumo de alcohol em los adolescentes. Revista Española de Salud Publica, 72(3),
251-266 (1998).

Revista Brasileira de Psiquiatria Oficial journal of Brasilian Psichiatric Association,


Volume 32- Suplemento I – maio 2010.

OLIVEIRA, Margarethe Silva- Consequências Neuropsicológicas do uso da maconha


em adolescentes e adultos Jovens. Em: http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v08/m31684.pdf

SAMPAIO, Daniel – Ninguém morre sozinho: o adolescente e o suicídio. 5ª ed..


Lisboa: Editorial Caminho, SA, 1994

SANTOS, Filho LG - CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas


Psicotrópicas. Disponível em http://www.gan.com.br/campanhas-e-projetos/seja-
diferente/80-cebrid-centro-brasileiro-de-informacoes-sobre-drogas-psicotropicas
SILVA, Fernando Amarante. Uso de drogas psicoativas. Rio Grande, 2005.
Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Departamento de
Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina e SENAD – Secretaria Nacional
Antidrogas, Presidência da República, Gabinete de Segurança Nacional (2001).

SPROVIERI, M.H. _ Stress, alexitimia e dinâmica familiar em famílias de portadores


de autismo. Tese de Doutorado em Serviço Social apresentada à PUC-SP, 1998
Revista Brasileira- Loucura do baseado: maconha e psicose, acessado em 17.11.2010 –
Disponível em: WWW.SCIELO.BR.
ZART.Carla e BROECKER, Psicologa -Terapeuta de Casal e Família, Especialista Dependência
Química los e mestre los PUCRS Psicologia pela. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
82712007000200015&script=sci_arttext#*b

Você também pode gostar