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Mara L T Brum 2
Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão de literatura no modelo
de monografia acerca dos fenômenos que ocorrem durante ou imediatamente após o uso
de substâncias psicoativas, tais como: as alucinações, delírios, ideias de referência,
transtornos psicomotores, afeto anormal. Além disso, estudo aprofundado sobre o uso e
abuso da maconha, bem como, sua relação com a psicose. Um fator importante de base
sustentadora na vida do indivíduo é a família, sendo esta, peça fundamental de
facilitação ou de proteção na questão da dependência e recuperação das pessoas, na
medida em que, a falta de suporte e desestrutura familiar, gera comportamento de risco.
Optou-se pela busca em publicações científicas impressas como forma de valorização
dos profissionais locais e suas capacitações. Verificou-se que maconha exacerba os
sintomas naquelas pessoas que já apresentam alguma doença mental, como a
esquizofrenia ou a depressão, além disso, observa-se que existem evidências suficientes
de que a maconha possa produzir em usuários pesados uma psicose. Porém, conclui-se
que não há dados suficientes que provem que o uso da maconha possa gerar uma
psicose crônica que perdure após o período de desintoxicação.
.
1. Introdução
As várias tendências de reflexão sobre a Doença Mental, notadamente sobre as
Psicoses, embora provenientes de diversos momentos históricos do pensamento
psicológico, estimulam a tônica das discussões acerca do tema. Entre os autores
encontramos defensores do modelo sociogênico 3, no qual a sociedade complexa e
exigente é a responsável exclusiva pelo enlouquecimento humano. Defensores do
modelo Organogênico 4, diametralmente oposto ao anterior e onde os elementos
1
Graduada em Psicologia pela UCPEL – Licenciada Arte Terapeuta e Coordenadora do Hospital Dia
Psiquiátrico da A.C. Santa Casa de R.G E- Cursando Pós-Graduação Abordagem Multidisciplinar em
Dependência Química. E-mail: psi.fgomes@bol.com.br
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Mestranda em educação – UFPEL . email: mltb@bol.com.br
3
origem e conservação da sociedade
4
Processo de desenvolvimento do embrião.
orgânicos da função cerebral seriam os responsáveis absolutos pela Doença Mental. Do
modelo Psicogênico 5, onde a dinâmica psíquica é a responsável exclusiva pela doença e
as disposições constitucionais pessoais pouco importam. Finalmente há o modelo
Organodinâmico, o qual compatibiliza os três anteriores num enfoque bio-psico-social.
Tem sido quase que unanimemente aceito na psiquiatria clínica, a associação de
determinadas configurações de personalidade predispostas, e a eclosão de psicoses.
Estas personalidades são as chamadas Personalidades Pré-mórbidas, cujo conceito é
abordado no capítulo sobre os Transtornos da Personalidade, tanto pelo CID
(Classificação Internacional das Doenças) quanto pelo DSM (Manual de Diagnóstico e
Estatístico das Doenças Mentais).
A Constituição (Personalidade) Pré-mórbida é considerada pela psicopatologia
como uma variação do existir humano e traduz uma possibilidade mais acentuada para o
desenvolvimento de certa vulnerabilidade psíquica. Aqui o termo "possibilidade" deve
ser considerado em toda sua plenitude, ou seja, trata-se de um caráter não-obrigatório,
mas que deve ser levado muito a sério. Novos estudos e pesquisas pertinentes ao uso de
maconha tem tido ênfase progressiva há algum tempo.
A relevância deste estudo se justifica pelo aumento do uso abusivo de maconha
em todo o mundo, citando como exemplo, os Estados Unidos da América (EUA), onde
houve um aumento significativo de usuários dependentes, que fazem uso nocivo da
droga. Em pesquisas nacionais desenvolvidas por Crippa e colaboradores (2005);
Laranjeiras e colaboradores (1998) e, Lemos e Zaleski (2004) investigaram os efeitos e
as suas repercussões neuropsicológicas relacionadas ao consumo de maconha.
A ABEAD 6 relata que o interesse de pesquisas relacionadas ao uso de maconha
tem aumentado em função de um maior número de pessoas terem utilizado esta droga,
onde o uso inicial se dá mais cedo e da concentração de THC (Tetrahidrocannabind –
elemento psicoativo da maconha) ter aumentado. Aumentam também os estudos que
discutem os efeitos adversos agudos e crônicos da droga.
Um conjunto de fenômenos psicóticos que ocorrem durante ou imediatamente
após o uso de substâncias psicoativas, podem variar de medo intenso a êxtase, onde são
caracterizadas por alucinações vividas (tipicamente auditivas, porém, freqüentemente
em mais de uma modalidade sensorial) falsas reconhecimentos, delírios e/ou idéias de
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Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas.
As alterações neuropsicológicas relevantes identificadas em usuários crônicos
desta substância, tais como, os déficits em tarefas psicomotoras, e a atenção e memória
de curto prazo (Pope et al, 1995) 8.
Após períodos breves de tempo de uso desta substância, em alguns casos, são
detectados dificuldades de aprendizagem em função de prejuízos na memória de curto
prazo. Também prejuízos da atenção podem ser detectados a partir de fenômenos, tais
como, do aumento da vulnerabilidade à distração, o afrouxamento das associações,
indução de erros em testes de memória, inabilidade em rejeitar informações irrelevantes
e piora da atenção seletiva. (Oliveira, 2006)
A Associação Brasileira de Psiquiatria lembra que a adolescência é um momento
da vida de maior vulnerabilidade e que pode favorecer a experimentação e a
manutenção do uso de maconha e fatores, como por exemplo: o baixo rendimento
escolar, o uso de outras substâncias psicoativas por parte do próprio adolescente ou de
amigos seus. A delinqüência e desestrutura familiar contribuem para a manutenção do
comportamento do uso de maconha em adolescentes e adultos jovens.
A Organização Mundial de Saúde em Oliveira, 2006 reconhece dependência
química como doença. Uma doença é uma alteração da estrutura e funcionamento
normal da pessoa, que lhe seja prejudicial. Por definição, como o diabetes, ou a pressão
alta, a doença da dependência não é culpa do dependente; o paciente somente poderá ser
responsabilizado por não querer o tratamento, se for o caso.
A dependência química não tem uma causa única, é um conjunto de fatores que
atuam ao mesmo tempo, sendo que, às vezes, uns são mais predominantes naquele
indivíduo específico do que em outros. No entanto, sempre há mais de uma causa, sendo
que, a dependência química gera inúmeros problemas sociais, familiares, físicos etc.
Conforme a OMS (Organização Mundial de Saúde), as primeiras experiências
com drogas ocorrem, freqüentemente, na adolescência. Vários trabalhos têm
evidenciado a precocidade da faixa etária do início do uso de drogas, geralmente dentro
da adolescência, entre 10 e 19 anos. Na adolescência as regras costumam ser
questionadas e contestadas e, juntando-se ao faturista ser uma época de
experimentações, surge então, um risco maior para o uso de drogas ilícitas como, o
álcool e fumo.
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Revista Brasileira de Psiquiatria Oficial journal of Brasilian Psichiatric Association, Volume 32-
Suplemento I – maio 2010.
Não está comprovado que a maconha gere danos cerebrais irreversíveis em
humanos, porém, seu uso crônico, gera diminuições mais sutis na atividade cerebral,
como, a diminuição nas habilidades mentais, especialmente na concentração, e na
capacidade de memória recente. A médio ou longo prazo, as reduções destas habilidades
persistem enquanto o usuário mantiver-se cronicamente intoxicado e poderá ou não
reverter-se após o uso descontinuado se a pessoa tornar-se abstinente por um tempo
prolongado. Por quanto mais tempo a maconha for usada, mais afetadas ficarão suas
habilidades mentais. Este tipo de efeito deverá ter atenção especial aos adolescentes que
ainda estão em fase de desenvolvimento.
Entre os efeitos psicológicos da maconha estão: ansiedade, euforia, pânico e
paranóia, especialmente em usuários menos experientes; diminuição das habilidades
mentais, especialmente a atenção e memória; diminuição das capacidades motoras e
possivelmente aumento do risco de dirigir, se intoxicado; aumento do risco de
experenciar sintomas psicóticos entre os sujeitos com predisposição para tal doença. Os
efeitos físicos são: relaxamento/euforia, pupilas dilatadas, conjuntivas avermelhadas
(branco dos olhos), boca seca, aumento do apetite, rinite/faringite, comprometimento da
capacidade mental, percepção alterada, coordenação motora alterada, voz pastosa,
aumento dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, despersonalização
ansiedade/confusão, alucinações, perda da capacidade de insight. Alguns efeitos
crônicos da maconha, como, fadiga crônica e letargia, náusea crônica, dor de cabeça,
irritabilidade, tosse seca, dor de garganta crônica, congestão nasal, piora da asma,
infecções freqüentes dos pulmões, bronquite crônica, diminuição da coordenação
motora, alteração na memória e concentração, alteração da capacidade visual
(profundidade e cor), infertilidade, problemas de menstruação, impotência, diminuição
da libido e satisfação sexual. Alteração no pensamento abstrato, depressão e ansiedade,
mudanças rápidas do humor/irritabilidade, ataques de pânico, mudanças de
personalidade, tentativas de suicídio, isolamento social, afastamento de laser e outras
atividades.
Existem alguns fatores fortemente associados ao uso abusivo de drogas e
dependência química, como por exemplo, os fatores genéticos, psicológicos, familiares
e sociais. Em geral parece que esses fatores não costumam agir isoladamente e sim em
conjunto.
Na pesquisa realizada encontraram-se referências aos fatores sócio-ambientais
quanto ao uso de drogas, ou seja, nas influências do destino vivencial da pessoa sobre
seu comportamento, pensamento e sentimento, onde a família é de fundamental
importância e bases sólidas.
2.1. Família
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ZART.Carla e BROECKER, Psicologa -Terapeuta de Casal e Família, Especialista Dependência
Química los e mestre los PUCRS Psicologia pela. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
82712007000200015&script=sci_arttext#*b
10
Armstrong T, Bauman A, Davies J (2000). Physical activity patterns of Australian adults. Results of the
1999. National Physical Activity Survey. Canberra: Australian Institute of Health and Welfare.
SPROVIERI11 diz que a adolescência, por ser um período de grandes
transformações, leva a família a uma reorganização de papéis e ao estabelecimento de
novas regras. São necessárias adaptações na estrutura e organização familiar para
preparar a entrada do adolescente no mundo adulto.
Copiando Zart 12 refere que, a presença dos pais junto aos filhos é tão ou mais
importante na adolescência do que na infância, uma vez que seu papel agora é estar
atento, mobilizar sem dirigir, apoiar nos fracassos e incentivar nos êxitos. Em suma,
estar com os filhos, é respeitar cada vez mais sua individualização (SAMPAIO, 1994). 13
Também, observou-se que, o modelo cultural é outro fator que contribui para
levar os indivíduos a consumirem drogas, pois desde os tempos remotos beber não é
proibido , ao contrário, a mídia fortalece o consumo de bebidas e cigarros como sendo
algo que os ídolos usam e visto no ocidente como algo tolerável, se a pessoa for bem
sucedida financeiramente.
Outro fator importante é a própria pessoa, pois ela é responsável pelo seu
próprio destino. A família e a sociedade, sem dúvida, têm papel fundamental no
desenvolvimento da pessoa, entretanto, a parte mais importante deve vir de si, em saber
sobre seus limites e propensões, tanto para o uso das drogas, quanto para os efeitos
psicóticos causados por esta.
Já dizia Sartre: A pessoa não deve ser responsabilizada pelo que o destino fez
com ela, mas é totalmente responsável pelo que ela vai fazer com aquilo que o destino
fez com ela.
Após este breve relato sobre aos efeitos da maconha no organismo e seus
principais fatores desencadeantes, se fará uma descrição sobre a psicose e suas
manifestações .
3. Psicose
14
CHAVES. Ana Cristina. LEITE, Ângela L Scantgno de Souza. - Fases Iniciais da Psicose: A
experiência do programa de atendimento de pesquisa no primeiro episodio psiquiátrico .São Paulo: Roca,
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todos os transtornos psicóticos fica diminuído. O senso de perigo pode ser perdido,
deixando o fogo da cozinha aceso, a porta da rua aberta, permitindo que crianças
brinquem com facas afiadas, etc. Alguns pacientes tornam-se repetitivos nos gestos ou
nas palavras. Surgem personagens inexistentes das fantasias delirantes ou das
alucinações auditivas, com quem o paciente se relaciona. Às vezes rituais com cunho
religioso são entoados ou criados pelos pacientes. Diversas outras manifestações podem
surgir, os quadros psicóticos, costumam ser muito variados, e só alguns foram
comentados aqui. Far-se-á a seguir um relato sobre a relação da maconha com a psicose.
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http://www.colband.com.br/edutech/webquest_template/docs2/maconha%20X%20psicose%20q7.htm
evidência é o alto grau e abuso da droga entre os portadores de doenças psiquiátricas.
Estudo mostrou que o risco de obedecer à critérios para abuso de drogas é 4,6 vezes
maior naqueles que sofrem de esquizofrenia do que na população em geral, sendo que a
maconha é a droga mais usada. Verificou-se, através de estudo, que altas doses de
maconha podem levar a uma psicose tóxica, porém algumas pesquisas evidenciam o uso
da maconha para "tratar" sintomas como depressão e ansiedade. Estudos vêm apontando
um aumento dos episódios de alucinação entre pacientes em tratamento de esquizofrenia
e continuação do uso de maconha. A maconha é considerada um fator de risco para
doentes mentais, porém, não existem evidências de que ela desencadeie a doença
mental.
Segundo Werner 16 fatores de risco não são elementos estáticos, e sua
identificação e avaliação só têm valor se estiverem conectadas a programas de
intervenção onde exista um acompanhamento periódico no sentido de proporcionar
educação para a saúde, reabilitação e tratamento
5. Considerações finais
16
Werner EE. Vulnerable but invincible: high risk children from birth to adulthood. Eur Child Adolesc
Psychiatry. 1996:5 Suppl 01h47min-5
Segundo Laranjeira, existem fortes evidências sugerindo que a maconha pode
sim, precipitar o aparecimento de um quadro psicótico, como, a esquizofrenia em
pessoas vulneráveis, isto é,que tenham a pré-disposição da doença. Há também dados
sugerindo que o uso de maconha exacerba os sintomas naquelas pessoas que já
apresentam alguma doença mental, como a esquizofrenia ou a depressão. (Laranjeira,
2011) 17.
O estudo mostrou que existem evidências suficientes de que a maconha possa
produzir em usuários pesados uma psicose aguda (desorganização mental grave), com
os seguintes sintomas: confusão mental, perda da memória, delírio, alucinações,
ansiedade, agitação. Porém, não há dados suficientes que provem que o uso da maconha
possa gerar uma psicose crônica que perdure após o período de desintoxicação. Diante
do estudo feito verificou-se que as pessoas com pré-disposição a quadros psicóticos, são
mais vulneráveis e suscetíveis a fazerem a dependência química.
A problemática gerada em torno das drogas é um fato bastante complexo que
gera grandes conflitos e severas conseqüências. Com este estudo, buscou-se fazer uma
compreensão esclarecendo sobre a relação que existe entre a maconha e a psicose,
contribuindo assim para um avanço e conhecimento dessa realidade.
O presente estudo contribui na identificação de aspectos conseqüentes do uso de
drogas e manifestação da doença. Por essa razão, a prevenção, acompanhamento e
intervenção tornam-se medidas importantes.
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LARANJEIRA, Ronaldo - Doutor em Psiquiatria, Coordenador da UNIAD a Professor Adjunto do
Depto de Psiquiatria da UNIFESP.
6. Referencia Bibliográfica
ARMSTRONG, T Bauman A, Davies J (2000). Physical activity patterns of Australian
adults. Results of the 1999. National Physical Activity Survey. Canberra: Australian
Institute of Health and Welfare
CRIPPA, J.A; LACERDA, A.L.T.; Amaro, e Busatto Filho, G.; ZUARDI, A.W e
Bressan, R.A. Efeitos cerebrais da maconha – Resultados dos estudos de
neuroimagem. Ver. Bras. Psiq. 27(I) , 70-78.
LEMOS,T & ZALESKI, M. As principais drogas; como elas agem e quais os seus
efeitos. Em Pinsky, I e Bessa, E., Adolescencia e Drogas. São Paulo. 2004.