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O Paraguai entre o eixo regional e o assimétrico: Apontamentos sobre seu


papel na América do Sul

Porque estudar o Paraguai é tão importante? Apesar de o País ser pouco mencionado
nas discussões acadêmicas contemporâneas sobre Defesa e Segurança da América do Sul
– o que por si já constitui importante justificativa para o estudo aqui pretendido – podemos
considera-lo como um ator passível de gerar desequilíbrios na região. Assim, apresenta-se a
necessidade em se estudar países menos desenvolvidos, tal como os desenvolvidos, tendo
em vista que tais Estados de aparente menor expressão, também exibem a intenção de
projetar poder e interesses, influindo nas dinâmicas regionais.
O Paraguai, que foi marcado recentemente por problemáticas de cunho político-
institucional, apresenta-se como peça-chave para os desdobramentos dos processos
integrativos da região, seja pela sua importância político-regional, atuando historicamente
entre dois gigantes sul-americanos, Brasil e Argentina, seja pela sua importância energética,
a exemplo das hidrelétricas binacionais de Itaipu e Yacyretá, seja pelo comportamento
imprevisível e, sobretudo difuso, no que toca aos parceiros escolhidos. Como exemplo do
último caso, mencionam-se as relações com os Estados Unidos, com a Colômbia e com a
Aliança do Pacífico.
Muito do comportamento do Paraguai é explicado por suas limitações geopolíticas, as
quais o deixaram severamente dependentes: “trata-se de um país mediterrâneo, portanto sem
saídas para o mar, o que constitui um grande problema para sua história como independente”
(ROLON, 2010, p.21), principalmente para escoar sua produção. Se por um lado é
dependente, por outro, é mesopotâmico, cercado de grandes rios, o que o transforma em ente
de cobiça estratégica.
Consequentemente, seus recursos o fazem eminente na dinâmica de balanceamento
de poder no Cone Sul, dinâmica que se nota principalmente nos séculos XIX e XX, em
contextos em que Brasil e Argentina disputavam a liderança naquela região e, portanto, viam
no Paraguai, uma aliança que poderia reverter a balança de poder. Concomitantemente, o
Paraguai estabeleceu uma relação de dependência com aqueles dois, devido as suas
condições geopolíticas expostas acima.
No que toca as suas opções de política externa, consciente de sua forte dependência
para com seus parceiros regionais, o Paraguai empenhou-se historicamente em buscar
alguma margem de manobra, ou em melhorar sua capacidade de barganha, operando em
dinâmica que vacilou entre os eixos regional e extrarregional, denominados, respectivamente,
ora como eixo simétrico e assimétrico (RICÚPERO, 1996 apud WINAND, 2010), ora como
eixo horizontal e eixo vertical (PECEQUILO, 2008).
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Para Ricúpero (1996 apud WINAND, 2010), a principal diferença entre os eixos
simétrico e assimétrico está no nível de poder entre os países que se relacionam. Enquanto
o eixo simétrico é estabelecido pela rota de relações entre países relativamente “próximos”
ou “semelhantes” em níveis de poder, o eixo assimétrico seria caracterizado por critérios
diametralmente opostos.
Pecequilo (2008) nos oferece uma abordagem mais específica dessas relações,
considerando como eixo horizontal aquele constituído por e entre países do Sul, e como eixo
vertical, a linha relacional tecida entre países do Norte e países do Sul do globo.
Inferimos, de início, que embora horizontais, as relações do Paraguai com seus
vizinhos Brasil e Argentina, são assimétricas, conquanto sejam também assimétricas as
relações com o eixo vertical. Isto posto, já antecipamos que os objetivos do Paraguai para
com a sua região são condicionados por uma assimetria naturalmente fragmentadora.
Ao usarmos os conceitos de verticalidade e horizontalidade, podemos considerar que
as relações do Paraguai com o Brasil e com a Argentina acontecem horizontalmente, tanto no
plano bilateral como no seio do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e da União das Nações
Sul-Americanas (UNASUL), o que as diferenciam das suas relações com os Estado Unidos,
que seriam verticalizadas.
Todavia, o que parece estabelecer maior peso na opção do Paraguai entre o eixo
regional e o extrarregional é a assimetria que está presente em ambos os eixos e que,
portanto, faz com que o Estado opte pelo parceiro que lhe traz maior benefício, o que pode
variar a depender da conjuntura política e econômica, e da opção de política externa mais
próxima ao perfil político dos seus governantes.
O Paraguai seria, então, um Estado desestabilizador, por sua própria fragilidade
institucional e também pelas suas relações com os Estados Unidos. Entendemos, portanto,
que a vulnerabilidade paraguaia abra uma fenda na América do Sul que, caso não preenchida
por seus parceiros regionais, por meio da cooperação, será completa pelos Estados Unidos,
exacerbando sua influência no subcontinente.
Sendo assim, o objetivo desse trabalho consiste em reunir um aparato tanto histórico
como conjuntural, que nos leve a demonstrar, através de um estudo da política externa
paraguaia, no campo da Defesa e da Segurança, seu impacto sobre o Conselho de Defesa
Sul-americano (CDS).
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