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ca - Por dentro …
Rio – Após uma das mais cruéis experiências de colonização, há exatamente 56 anos, a
República Democrática do Congo se tornava independente da Bélgica. Em 2016, a
celebração marca um avanço político, mas também a necessidade de não apagar da
memória as atrocidades cometidas contra a população local, que ainda precisa se libertar de
seus algozes.
– Expulsar o colonizador das nossas terras foi um bom início. Mas não nos tornamos
“independentes de fato”. De maneira geral, independência é simultaneamente política,
econômica e cultural. Ainda não se conquistou “de fato” nenhuma dessas. Tudo foi uma
simulação. Por isso, é importante repensar nas estratégias endógenas de nos tornar
“independentes de fato” – conta em entrevista exclusiva ao Por dentro da África o
angolano Patrício Batsîkama, historiador, filósofo e especialista no Reino do Kongo.
Em 1908, o Estado Livre do Congo deixou de ser propriedade da Coroa, por conta de
a brutalidade do regime comandado por Leopoldo II ter sido exposta na
imprensa ocidental, e tornou-se colônia da Bélgica, chamada Congo Belga. Vale ressaltar
que o Estado Independente do Congo não era independente, mas uma propriedade de
Leopoldo!
Resgate da história
A exploração mais sistemática do rio só foi feita mais tarde, por volta de 1874, pelo
aventureiro e jornalista inglês Henry Morton Stanley. Enquanto isso, o rei belga Leopoldo
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Regime de Leopoldo II
Em seu artigo, Kabengele recorda que o regime de Leopodo II dividiu as terras em três
categorias: indígenas, vacantes e concedidas a terceiros, pessoas físicas ou jurídicas. Ao
decretar como propriedade do Estado as terras ditas vacantes, o rei impedia
os colonos de se instalarem nessas terras sem pagar uma taxa, além de obrigar os
nativos a fornecer determinadas quantias da colheita da borracha e da exploração do
marfim.
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Após uma temporada na Amazônia peruana, Casement abdicou de seu posto diplomático
para se dedicar integralmente à causa da independência irlandesa. Ele foi preso e, em 1916,
condenado por traição após ter recorrido aos alemães, inimigos da Grã-Bretanha na
Primeira Guerra Mundial, para que auxiliassem a Irlanda.
“O Sonho do Celta”
Independência
Kabengele recorda em seu artigo que a data da independência foi fixada em 30 de junho de
1960, surpreendendo a opinião internacional. Como dizia o professor Jean-Marie Bustin, “a
independência do antigo Congo Belga, foi um truque, pois antes da reunião da mesa-
redonda de Bruxelas, os mais influentes políticos, comerciantes e empresários belgas já
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Com um território rico em minérios e estrategicamente bem localizado, o país presidido por
Joseph Kanbila (desde 2001) é palco da atuação de muitas milícias congolesas (como a Mai-
Mai, Popular Front for justice in Congo e M23 – que, no início deste ano, disse que
renunciaria a luta armada) e de países vizinhos (como o FDLR, grupo que atua dentro do
Congo com o objetivo de derrubar o governo de Ruanda), que provocam uma bárbara
guerra civil pelo controle dessa riqueza, atuando como um poder paralelo em regiões onde
o Estado não consegue chegar.
PDA – O país se tornou propriedade do rei Leopoldo II, que, finalmente, teve as suas
atrocidades expostas na imprensa mundial. Como essas denúncias foram importantes para
expor os absurdos praticados pelas potências não apenas na República Democrática do
Congo, mas em outros países africanos?
PDA – Você acredita que o fato de fazer fronteira com 10 países e de ter um dos solos de
riqueza ainda imensurável leva empresas para a RDC com a exclusiva intenção de
exploração, o que relembra o início do século XX?
PDA – Muitos críticos atribuem a situação de tensão no país ao legado da colonização, mas
a realidade é que há regiões do país onde o Estado não consegue chegar e as milícias
comandam ditando suas “leis” e cometendo novas atrocidades como recrutamento de
crianças-soldado, estupros em massa… Poderíamos dizer que a RDC ainda não se libertou
de seus algozes?
república precipitou o país no conflito tribal e não construiu um prédio sequer! A segunda
república – com um golpe dos Estados Unidos da América e seus parceiros europeus contra
o comunismo – pilhou as riquezas deste país. A terceira república que era esperança cedeu
a uma nova exasperação. A R.D. Congo está numa grande floresta. Ela precisa das
instituições de qualidade para resolver as comunicações das populações.
PDA – Angola é uma nação culturalmente muito próxima da RDC, até porque, antes da
Conferência de Berlim, muitas regiões que foram divididas eram parte de um mesmo
território que compartilhava costumes, língua, história… Angolanos e congoleses celebram a
independência com o mesmo empenho?
PDA – Em 2006, o país vivenciou a primeira eleição geral em 40 anos. Apesar da tensão
em algumas regiões do país, existe uma defesa de consolidação da democracia. Como
historiador, seria possível dizer que as relações entre política e democracia avançaram na
última década quando comparadas aos anos 60?
Foi uma relação de cooperação em busca de equilíbrio das diferenças. Hoje o cenário é
outro: Congoleses de Esquerda x Congoleses de Direita. Estamos assistindo a uma relação
de conflito. Comparando-as, eu acho que estas relações retrocederam. R.D. Congo é um
mostro adormecido, e não é desta forma que irá acordar. Os Africanos precisam que este
R.D. Congo acorde, e desempenhe suas funções geo-estratégicas que a geografia lhe deu!
Com as instituições fortes em Angola, Congo Brazzaville, Tanzânia, Zâmbia, Chade,
República Centro-Africana, Burundi, Uganda e R.D. Congo reencontradas, a África dará
alegria aos seus filhos!
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