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Carta aos Gálatas com Emmanuel

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Texto para análise

21Dizei-me, vós que quereis estar debaixo da Lei, não ouvis vós a Lei? 22Pois está escrito que
Abraão teve dois filhos, um da serva e outro da livre. 23Mas o da serva nasceu segundo a
carne; o da livre, em virtude da promessa. 24Isto foi dito em alegoria. Elas, com efeito, são as
duas alianças; uma, a do monte Sinai, gerando para a escravidão: é Agar 25(porque o Sinai
está na Arábia), e ela corresponde à Jerusalém de agora, que de fato é escrava com seus
filhos. 26Mas a Jerusalém do alto é livre e esta é a nossa mãe, 27segundo está escrito: Alegra-
te, estéril, que não davas à luz, Põe-te a gritar de alegria, tu que não conheceste as dores do
parto, porque mais numerosos são os filhos da abandonada do que os daquela que tem arido.
28Ora, vós, irmãos, como Isaac, sois filhos da promessa. 29Mas como então o nascido
segundo a carne perseguia o nascido segundo o espírito, assim também agora. 30Mas que diz
a escritura? Expulsa a serva e o filho dela, pois o filho da serva não herdará com o filho da
livre. 31Portanto, irmãos, não somos filhos de uma serva, mas da livre.
Gálatas 4:21-31

Neste trecho Paulo usa a história de Abraão e seus filhos para lhes explicar sobre a liberdade
e a escravidão, não apenas física, mas sobretudo a espiritual. Ressalta que a história narrada é
uma alegoria, ou seja, uma história que representa um pensamento e pode ter mais de uma
sentido que não apenas o literal. Assim, ele explica o que Abraão e seus filhos representam
não apenas como pessoas, mas como símbolos, nos chamando a refletir sobre e liberdade e a
escravidão.

Um texto com mais de um significado era algo inerente à cultura judaica e Wiliam Barclay
nos auxilia a compreender isto:

“Para os rabinos judeus toda passagem da Escritura possuía quatro significados.


(1) Peshat: o significado simples e literal.
(2) Remaz: o significado sugerido.
(3) Derush: o significado implícito, que se deduzia por meio da
investigação.
(4) Sod: o sentido alegórico.
As primeiras letras destas quatro palavras — P R D S — são as consoantes da palavra
paraíso (paradisus), e quando alguém conseguia penetrar estes quatro significados diferentes
alcançava a glória do paraíso. Agora, deve-se notar que a meta suprema e cúspide de todos os
significados era o alegórico. Por isso acontecia com freqüência que os rabinos tomavam uma
simples parte do relato histórico do Antigo Testamento e viam no mesmo sentidos ocultos,
que freqüentemente nos parecem fantásticos, mas que eram muito convincentes para o povo
de seus dias. Paulo era um experiente rabino, e aqui procede da mesma maneira. Toma o
relato que se refere a Abraão, Sara, Agar, Ismael e Isaque (Gen. 16, 17, 21) que no Antigo
Testamento se apresenta como uma narração continuada, e faz dele uma alegoria para ilustrar
seu argumento.”
Continua Barclay oferecendo-nos uma síntese da história usada por Paulo:

“As linhas gerais do relato são as seguintes — Abraão e Sara eram de idade provecta e não
tinham tido filhos. Sara recorreu ao que qualquer esposa teria feito naquela época patriarcal:
fez com que Abraão tivesse relações sexuais com sua jovem escrava, Agar, para ver se podia
ter um filho dela. Agar teve um filho chamado Ismael. Enquanto isso Deus se fez presente e
prometeu a Sara um filho. Isto era tão difícil de crer que lhes pareceu simplesmente
impossível, tanto a Abraão como a Sara. Mas no devido tempo nasceu Isaque. Isto significa
que enquanto Ismael tinha nascido por impulso natural e humano da carne, Isaque nasceu
pela promessa de Deus. Sara era uma mulher livre enquanto Agar era escrava. A princípio
Agar se sentiu inclinada a gabar-se sobre a Sara, porque a esterilidade constituía uma afronta
dolorosa para a mulher. A atmosfera estava recarregada de tensões. Mais tarde Sara chegou a
surpreender a Ismael "zombando" de Isaque — isto para Paulo significa perseguição — e
insistiu em que Agar fosse despedida, porque o filho da escrava não podia participar da
herança com o filho da livre. Posteriormente a Arábia era considerada como o país dos
escravos, onde continuavam habitando os descendentes de Agar.”

O significado alegórico deste trecho, uma de suas possibilidades interpretativas, é comparar


Agar à escravidão da Lei e Sara à liberdade da promessa, trata-se da forma como nos
relacionamos com Deus, se pela escravidão da Lei ou pela liberdade da fé.

Sara, em um momento de desespero pela ausência de filhos, recorre a um costume da época


que era oferecer ao marido uma escrava jovem para ele ter filho.

Este é um primeiro ponto que necessitamos analisar. A origem de Ismael não vem apenas do
fato de Agar ser escrava, mas de um ato de desespero, de ausência de fé, um momento em
que deixa-se de esperar pela resposta de Deus porque achamos ou que ela não virá ou que
está demorando muito e passamos agir por impulso, resolvendo o problema a nossa maneira.

Compreender a alegoria, então, nos permite refletir sobre a nossa fé e nossas ações diante das
dificuldades da vida. Nem sempre temos a força necessária para esperar, para não revidar,
para fazer o que é certo mesmo que isso signifique uma dor ou um prejuízo.
Assim, quando Sara tem um filho, mesmo já em idade avançada, isto simboliza a resposta de
Deus em nossas vidas, que não acontece no tempo em que queremos, mas no tempo em que é
necessário.

Poderíamos dizer que Sara ficou ansiosa diante da situação e esta palavra “ansiedade” nos
alcança e parece ser o grande mal de nossos tempos. Diante dos problemas, das dificuldades,
das lutas diárias, deixamos a paciência de lado e nos inquietamos, permitindo que a ansiedade
nos governe.

Emmanuel fala sobre a questão no livro Encontro Marcado:

Encontro marcado — Emmanuel

Aflição vazia

TEMA — O problema da ansiedade.

Ante as dificuldades do cotidiano, exerçamos a paciência, não apenas em auxílio aos outros,
mas igualmente a favor de nós mesmos.

Desejamos referir-nos, sobretudo, ao sofrimento inútil da tensão mental que nos inclina à
enfermidade e nos aniquila valiosas oportunidades de serviço.

No passado e no presente, instrutores do espírito e médicos do corpo combatem a ansiedade


como sendo um dos piores corrosivos da alma. De nossa parte, é justo colaboremos com
eles, a benefício próprio, imunizando-nos contra essa nuvem da imaginação que nos
atormenta sem proveito, ameaçando-nos a organização emotiva.

Aceitemos a hora difícil com a paz do aluno honesto, que deu o melhor de si, no estudo da
lição, de modo a comparecer diante da prova, evidenciando consciência tranquila.

Se o nosso caminho tem as marcas do dever cumprido, a inquietação nos visita a casa íntima
na condição do malfeitor decidido a subvertê-la ou dilapidá-la; e assim como é forçoso
defender a atmosfera do lar contra a invasão de agentes destrutivos, é indispensável policiar
o âmbito de nossos pensamentos, assegurando-lhes a serenidade necessária.

Tensão à face de possíveis acontecimentos lamentáveis é facilitar-lhes a eclosão, de vez que


a ideia voltada para o mal é contribuição para que o mal aconteça; e tensão à frente de
sucessos menos felizes é dificultar a ação regenerativa do bem, necessário ao reajuste das
energias que desastres ou erros hajam desperdiçado.

Analisemos desapaixonadamente os prejuízos que as nossas preocupações injustificáveis


causam aos outros e a nós mesmos, e evitemos semelhante desgaste empregando em trabalho
nobilitante os minutos ou as horas que, muita vez, inadvertidamente, reservamos à aflição
vazia.

Lembremo-nos de que as Leis Divinas, através dos processos de ação visível e invisível da
Natureza, a todos nos tratam em bases de equilíbrio, entregando-nos a elas, entre as
necessidades do aperfeiçoamento e os desafios do progresso, com a lógica de quem sabe que
tensão não substitui esforço construtivo, ante os problemas naturais do caminho. E façamos
isso, não apenas por amor aos que nos cercam, mas também a fim de proteger-nos contra a
hora da ansiedade que nasce e cresce de nossa invigilância para asfixiar-nos a alma ou
arrasar-nos o tempo sem qualquer razão de ser.

Entendemos, então, que o trecho que Paulo diz : “29Mas como então o nascido segundo a
carne perseguia o nascido segundo o espírito, assim também agora. 30Mas que diz a
escritura? Expulsa a serva e o filho dela, pois o filho da serva não herdará com o filho da
livre. 31Portanto, irmãos, não somos filhos de uma serva, mas da livre.”, trata desta questão,
da perseguição como as dores e lutas da vida, porém, a certeza de que tudo colabora para
nosso aprendizado, que se algo nos acontece, por pior que seja, Deus o permitiu e nos
concederá caminhos de superação.

Há quem confunda a fé com inércia, com passividade. Esperar que tudo se resolva sem nada
fazer a respeito.

Não se trata disso, a fé é a capacidade de passar pelas dores e lutas da vida em sintonia,
confiando em Deus e na espiritualidade que nos inspira a ações proativas, ações que
resultarão no deslinde do problema.

Buscando, através da prece, do estudo, da palavra amiga, caminhos para que tudo se resolva.

Sara tinha a promessa, o filho prometido que viria a tempo certo. Mas não soube se manter
conectada com a vontade de Deus, que lhe parecia tardia, e agiu por si mesma. No entanto,
quando seu filho nasce, ele revela que o tempo de Deus chegou e que a promessa foi
cumprida.

Segundo Beacon, no livro Comentário do Antigo Testamento no Novo Testamento: “Paulo


retrata a alegria e canção de Isaías concernentes ao dia do cumprimento: “Porque está
escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz, esforça-te e clama, tu que não estás de parto;
porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido. Neste versículo (54-1) o
profeta prevê o dia em que a mulher estéril e solitária terá muito mais filhos do que a mulher
que tem marido.”

Ora, quando compreendemos o significado por trás história estamos aptos, então, a perceber
que a paciência, a resignação, a confiança em Deus gerará muitos mais frutos que a
ansiedade, a ausência de fé, a ansiedade. Não apenas na vida de quem enfrenta o problema,
mas na vida dos que estão em seu entorno.

A escravidão consiste no afastamento de Deus, o homem pelo homem e não o homem com
seu Criador.

Jesus veio nos ensinar uma nova forma de relacionamento com Deus, não mais sob o jugo de
leis e regras exteriores, mas um relacionamento alicerçado no amor, na confiança, na fé.
Na sequência do texto aos Gálatas, Paulo, então, irá abordar sobre a liberdade que o Cristo
nos oferece, nos ensina.

Abordaremos o trecho no próximo estudo, no entanto, deixamos a lição inicial por ser o
desfecho desta história usada por Paulo de forma alegórica.
Palavras de vida eterna — Emmanuel

Liberdade em Cristo

“Estais pois firmes na liberdade com que o Cristo nos libertou e não vos submetais de novo
ao jugo da escravidão.” — PAULO (Gálatas, 5.1)

Meditemos na liberdade com que o Cristo nos libertou das algemas da ignorância e da
crueldade.

Não lhe enxergamos qualquer traço de rebeldia em momento algum.

Através de todas as circunstâncias, sem perder o dinamismo da própria fé, submete-se,


valoroso, ao arbítrio de nosso Pai.

Começa a Missão Divina, descendo da Glória Celestial para o estreito recinto da


manjedoura desconhecida.

Não exibe uma infância destacada no burgo em que se acolhe a sua equipe familiar; respira
o ambiente da vida simples, não obstante a Luz Sublime com que supera o nível intelectual
dos doutores de sua época.

Inicia o apostolado da Boa Nova, sem constranger as grandes inteligências a lhe aceitarem a
doutrina santificante, contentando-se com a adesão dos pescadores de existência singela.

Fascinando as multidões com a sua lógica irresistível, não lhes açula qualquer impulso de
reivindicação social, ensinando-as a despertar no próprio coração os valores do espírito.

Impondo-se pela grandeza única que lhe assinala a presença, acenam-lhe com uma coroa de
rei, que Ele não aceita.

Observando o povo jugulado por dominadores estrangeiros, não lhe aconselha qualquer
indisciplina, recomendando-lhe, ao invés disso, “dar a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus.”

Sabe que Judas, o companheiro desditoso, surge repentinamente possuído por desvairada
ambição política, firmando conchavos com perseguidores da sua Causa Sublime, contudo,
não lhe promove a expulsão do círculo mais íntimo.

Não ignora que Simão Pedro traz no âmago da alma a fraqueza com que o negará diante do
mundo, mas não se exaspera, por isso, e ajuda-o cada vez mais.

Ele, que limpara leprosos e sarara loucos, que restituíra a visão aos cegos e o movimento
aos paralíticos, não se exime à prisão e ao escárnio público, à flagelação e à cruz da morte.

Reflitamos, pois, que a liberdade, segundo o Cristo, não é o abuso da faculdade de


raciocinar, empreender e fazer, mas sim a felicidade de obedecer a Deus, construindo o
bem de todos, ainda mesmo sobre o nosso próprio sacrifício, porque somente nessa base
estamos enfim livres para atender aos desígnios do Eterno Pai, sem necessidade de sofrer o
escuro domínio das arrasadoras paixões que nos encadeiam o espírito por tempo
indeterminado às trevas expiatórias.

Fomos criados para o bem, esta é a nossa essência e em fazer o bem consiste a nossa
liberdade. No mundo atual isto ainda tem um preço, requer sacrifícios, paciência,
perseverança. Mas resistir é apenas o presságio do nascimento de algo muito bom, que
frutificará e se espalhará pelo mundo.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande-MS, setembro de 2019.


Candice Günther

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