Você está na página 1de 31

UNIVERSISDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

DESENVOLVIMENTO E ESTUDO DE SENSORES À FIBRA


ÓPTICA

João Marcos Salvi Sakamoto


Sérgio Luiz Sousa Nazário

Trabalho Final da Disciplina


Sensores

Prof. Dr. Nobuo Oki

ILHA SOLTEIRA – SP, DEZEMBRO DE 2004


Trabalho Final de Sensores ii

ÍNDICE GERAL

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1

1.1 - OBJETIVOS 1
1.2 – APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO 1

CAPÍTULO 2 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS FIBRAS ÓPTICAS 2

2.1 – FIBRAS ÓPTICAS 2


2.2 - CLIVAGEM 7
2.3 – ACOPLAMENTO DE LUZ NA FIBRA ÓPTICA 8

CAPÍTULO 3 - SENSOR DE NÍVEL DE LÍQUIDO À FIBRA ÓPTICA 9

3.1 – PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO 9


3.2 – CONSTRUÇÃO DO SENSOR 10
3.3 – CIRCUITO DE CONDICIONAMENTO DE SINAL 12
3.4 - RESULTADOS 14

CAPÍTULO 4 – SENSOR DE DESLOCAMENTO À FIBRA ÓPTICA 18

4.1 – PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO 18


4.2 – CONSTRUÇÃO DO SENSOR 19

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÃO 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 28
Trabalho Final de Sensores iii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 - Estrutura básica de uma fibra óptica._________________________________________2


Figura 2.2 – Exemplo da passagem de um raio de luz de um meio para outro __________________3
Figura 2.3– Ângulo crítico. ____________________________________________________________4
Figura 2.4 – Ângulo crítico de entrada. __________________________________________________5
Figura 2.5 – Abertura numérica. _______________________________________________________6
Figura 3.1 – Cones de saída para meios com índices de refração diferentes.____________________9
Figura 3.2 – Sensor de nível de líquido. _________________________________________________11
Figura 3.3 – Fotodiodo e resistor.______________________________________________________11
Figura 3.4 – Modo fotovoltaico. _______________________________________________________12
Figura 3.5 – Circuito de condicionamento. ______________________________________________13
Figura 3.6 – Sistema completo.________________________________________________________14
Figura 3.7 – Circuito de condicionamento de sinal. _______________________________________15
Figura 3.8 – Recipiente com líquido acima do nível. ______________________________________16
Figura 3.9 – Indicação de nível de líquido com led. _______________________________________16
Figura 4.1 – Perda de luz devido a curvaturas. __________________________________________18
Figura 4.2 – Sensor de deslocamento. __________________________________________________19
Figura 4.3 – Montagem para o acoplamento da luz. ______________________________________20
Figura 4.4 – Fibra e fotodetector.______________________________________________________21
Figura 4.5 – Medidor de potência. _____________________________________________________21
Figura 4.6 – Sistema completo.________________________________________________________22
Figura 4.7 – Micrômetro e sensor. _____________________________________________________23
Figura 4.8 – Gráfico de Potência x deslocamento. ________________________________________24
Figura 4.9 – Gráfico de Tensão de saída x deslocamento. __________________________________24
Trabalho Final de Sensores 1

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

O funcionamento dos sensores à fibra óptica se baseia na modulação da luz


confinada na fibra por grandezas físicas externas. A modulação pode ser de intensidade,
fase, freqüência, etc. Os sensores à fibra óptica apresentam algumas vantagens em
relação a outros tipos de sensores convencionais como imunidade a interferência
eletromagnética, alta sensibilidade, leveza, suportam altas temperaturas, não sofrem
oxidação ou corrosão, etc. [1], [2]. Devido a essas vantagens, este tipo de sensor foi
escolhido para os presente trabalho.

1.1 - Objetivos

A proposta deste trabalho é o estudo e desenvolvimento de sensores baseados


em fibras ópticas de forma a complementar os conhecimentos obtidos na disciplina de
pós-graduação denominada Sensores.

1.2 – Apresentação do Relatório

Este relatório foi dividido em cinco capítulos, que serão apresentados a seguir.
No capítulo 2, foram apresentados os conceitos básicos sobre as fibras ópticas
bem como a teoria necessária para explicar os fenômenos relacionados com os sensores
propostos neste trabalho.
No capítulo 3, foram apresentadas as etapas do desenvolvimento e os resultados
relacionados com o sensor de nível de líquido.
No capítulo 4, foram apresentadas as etapas do desenvolvimento e os resultados
relacionados com o sensor de deslocamento.
No capítulo 5, encontra-se as conclusões do trabalho.
Trabalho Final de Sensores 2

CAPÍTULO 2 - CARACTERÍSTICAS GERAIS


DAS FIBRAS ÓPTICAS

Neste capítulo serão abordadas algumas das principais características das fibras
ópticas e as teorias que foram relevantes para o desenvolvimento de um sensor de nível
de líquido e um de deslocamento.

2.1 – Fibras Ópticas

A fibra óptica trata-se de um sofisticado aparato construído para que a luz seja
confinada e transmitida, ou seja, é um guia de luz no qual esta pode percorrer
quilômetros com atenuações de até 0,25 dB/km. Para que a condução de luz dentro do
feixe não sofra perdas de luz, por irradiação por exemplo, a fibra possui duas camadas
cilíndricas e concêntricas de índices de refração diferentes que são o núcleo e a casca,
como mostrado na Figura 2.1.

Figura 2.1 - Estrutura básica de uma fibra óptica.


Trabalho Final de Sensores 3

O núcleo deve ser composto por um material com índice de refração maior que a
o da casca. Existe ainda uma camada chamada revestimento que protege a fibra de
fenômenos mecânicos, porém esta não participa dos fenômenos ópticos.
O índice de refração pode ser definido como a relação entre a velocidade da luz
no vácuo e a velocidade da luz no material.

c
n= (2.1)
v

onde c é a velocidade da luz no vácuo e v é a velocidade da luz no meio.


O modo mais simples de se explicar o fenômeno de guiagem óptica é utilizando-
se a lei de refração de Snell. Ao passar de um meio com um índice de refração n1 para
um outro meio com índice de refração n2, a luz sofre uma alteração em sua direção. De
acordo com a referida lei, tem-se que

n1 ⋅ senθ1 = n2 ⋅ senθ 2 (2.2)

onde senθ1 é o ângulo entre o raio de luz proveniente do meio 1 e a normal, senθ2 é o
ângulo entre o raio de luz do meio 2 e a normal e n1 e n2 são os índices de refração do
meio 1 e 2, respectivamente. A Figura 2.2 mostra um exemplo de um raio de luz que
passa de um meio com índice refração n1 para um meio com índice n2, onde n1 > n2.

Figura 2.2 – Exemplo da passagem de um raio de luz de um meio para outro (o raio refletido não
foi mostrado).
Trabalho Final de Sensores 4

Há um determinado ângulo de entrada θ1 no qual o ângulo de saída θ2 é de 90º.


Este ângulo é chamado de ângulo crítico, pois ângulos maiores sofrerão reflexão interna
total. A Figura 2.3 ilustra essa situação.

Figura 2.3– Ângulo crítico.

Desse modo, aplicando-se a equação (2.2) obtém-se

n1 ⋅ senθ1 = n2 ⋅ sen ⋅ 90o

e, neste caso,

θ1 = θ CR

onde θCR é o ângulo crítico. Tem-se então

n2
senθ CR = (2.3).
n1

Elevando-se a equação (2.3) ao quadrado, tem-se


Trabalho Final de Sensores 5

2
n 
sen2θCR =  2  (2.4)
 n1 

Com estas equações pode-se analisar o ângulo crítico de entrada de luz na fibra
óptica, como mostrado na Figura 2.4.

Figura 2.4 – Ângulo crítico de entrada.

Assim, tem-se que

(
nm ⋅ senα CR = n1 ⋅ sen 90o − θ CR ) (2.5)

onde nm é o índice de refração do meio externo, n1 o índice do núcleo, n2 o índice da


casca e αCR é o ângulo acima do qual a luz ficará confinada no núcleo. Tem-se que

( )
sen 90o − θ CR = cosθ CR = 1 − sen 2θ CR (2.6).

Substituindo-se (2.6) em (2.5), obtém-se


Trabalho Final de Sensores 6

nm ⋅ senα CR = n1 ⋅ 1 − sen 2θ CR (2.7).

Substituindo-se agora a equação (2.4) na equação (2.7), obtém-se

2
n 
nm ⋅ senα CR = n1 ⋅ 1 −  2  .
 n1 

Finalmente, obtém-se

2 2
n1 − n2
senα CR = (2.8).
nm

Os feixes de luz com ângulos de entrada menores que αCR sofrerão reflexão
interna total e serão acoplados à fibra, enquanto que os feixes com ângulos maiores
serão irradiados para fora da fibra. Isso determina uma região chamada abertura
numérica que é uma região em forma de cone na qual a os feixes de luz incidentes serão
acoplados à fibra. A Figura 2.5ilustra essa região.

αCR

Figura 2.5 – Abertura numérica.

Existem basicamente três tipos de fibras ópticas que são a multimodo de índice
degrau, a multimodo de índice gradual e a monomodo. As fibras multimodo de índice
Trabalho Final de Sensores 7

degrau foram as primeiras a serem fabricadas e são conceitualmente as mais simples.


Ela pode ser formada por um núcleo que varia de 50 µm a 400 µm de diâmetro e este
possui um índice de refração constante. A fibra multimodo de índice gradual, possui um
núcleo no qual o índice de refração decresce gradualmente até a casca. Neste caso, a luz
não é mais conduzida por múltiplas reflexões totais, mas é refratada de volta para o
centro da fibra, parecendo uma trajetória ondulatória. A fibra monomodo possui um
núcleo de diâmetro da ordem de 2 µm a 10 µm. Por possuir um diâmetro reduzido, esta
fibra permite a propagação de apenas um modo. Estas fibras possuem uma capacidade
de transmissão bem maior que as multimodo e apresentam menor atenuação. No
entanto, o acoplamento da luz é mais complicado.

2.2 - Clivagem

Em sensores à fibra óptica deve haver uma preocupação com a quantidade de luz
que se acopla à fibra. Para se obter um bom acoplamento de luz é necessário que a seção
transversal da face da fibra esteja a 90º do seu eixo. Sendo assim, deve-se realizar a
clivagem da fibra óptica.
Para se realizar a clivagem deve-se inicialmente amolecer o revestimento da
fibra com acetona. Em seguida, deve-se remover todo o revestimento em um pedaço de
aproximadamente 15 cm com o auxílio de uma lâmina de barbear. Deve-se então, fixar
com fita adesiva, a fibra em uma plataforma flexível (como o acrílico) e, com o auxílio
de um clivador, criar uma região de enfraquecimento. Finalmente, deve-se aplicar uma
força de tração longitudinal flexionando-se a plataforma até causar a ruptura da fibra.
Com o auxílio de um microscópio pode-se analisar a qualidade da clivagem que, se não
for satisfatória, deve ser repetida. Se a clivagem for satisfatória deve-se evitar que a
ponta da fibra toque qualquer objeto, pois isto pode quebrá-la.
Como descrito, este procedimento é praticamente artesanal. Existem ferramentas
que realizam a clivagem, porém são de alto custo e não estão disponíveis no laboratório.
O processo de clivagem torna-se então um trabalho lento, cansativo e delicado.
Trabalho Final de Sensores 8

2.3 – Acoplamento de Luz na Fibra Óptica

O acoplamento de luz na fibra óptica é um procedimento delicado no qual se


deve posicionar a fibra de modo a se obter uma quantidade de luz satisfatória na saída.
Para tanto, são utilizados posicionadores tridimensionais e lentes objetivas de 8 x a 40 x,
dependendo do tipo de fibra utilizada.
Trabalho Final de Sensores 9

CAPÍTULO 3 - SENSOR DE NÍVEL DE


LÍQUIDO À FIBRA ÓPTICA

Neste capítulo, serão apresentados o desenvolvimento e os resultados referentes


a um sensor à fibra óptica extrínseco de nível de líquido.

3.1 – Princípio de Funcionamento

O princípio de funcionamento do sensor de nível de líquido à fibra óptica pode


ser explicado de acordo com a teoria exposta no capítulo 2. A luz, ao sair da fibra,
obedece à equação (2.8) na qual os índices de refração n1 e n2 são constantes. Pode-se
perceber então, que uma variação no índice de refração do meio nm acarretará em uma
mudança no ângulo de saída da fibra e essa variação é inversamente proporcional. A
Figura 3.1 mostra um exemplo de dois meios com índices de refração diferentes.

Figura 3.1 – Cones de saída para meios com índices de refração diferentes.
Trabalho Final de Sensores 10

Desse modo, será acoplada uma maior ou menor quantidade de luz na fibra
receptora.

3.2 – Construção do Sensor

De acordo com a teoria exposta no item anterior, iniciou-se a construção do


sensor. Utilizou-se para tanto, dois pedaços de fibra óptica multimodo de índice degrau,
uma caneta laser de Hélio-Neônio de baixo custo, uma lente de aumento de 20x e um
fotodiodo. Neste caso, foi possível utilizar este tipo de laser pois nesta aplicação é
importante apenas a intensidade da luz e não suas características eletromagnéticas.
O sensor foi montado clivando-se dois pedaços de fibra em que uma foi usada
como transmissora e a outra como receptora. Assim, o laser, a lente e uma extremidade
da fibra emissora foram fixados em suportes para haver o acoplamento da luz.
Realizaram-se alguns ajustes de posicionamento para que houvesse a máxima
intensidade de luz na saída da fibra. Após estes ajustes, a outra extremidade da fibra
emissora foi fixada em uma base de acrílico. A fibra receptora foi também fixada na
base de acrílico e alinhada com a fibra emissora. A outra extremidade da fibra receptora
foi direcionada para o fotodiodo. A Figura 3.2 mostra o sensor montado.
Trabalho Final de Sensores 11

Figura 3.2 – Sensor de nível de líquido.

Com o intuito de verificar o funcionamento deste sensor, montou-se o esquema


da Figura 3.3.

Figura 3.3 – Fotodiodo e resistor.


Trabalho Final de Sensores 12

Com isso, foi possível realizar algumas medidas com o intuito de observar o
funcionamento do sensor e estimar a corrente fornecida pelo fotodiodo na presença ou
não de líquido. O sensor foi colado na parede de um recipiente e, neste, foi despejado o
líquido (água). Obteve-se uma tensão de saída de aproximadamente 0,37 V sem água e
0,57 V com água. De acordo com a lei de Ohm e com o valor da resistência obteve-se
correntes de 0,037 mA e 0,057 mA.

3.3 – Circuito de Condicionamento de Sinal

O fotodiodo utilizado possui a característica de funcionar como uma fonte de


corrente ao receber uma determinada intensidade luminosa. Desse modo, utilizou-se um
conversor corrente-tensão, com um amplificador operacional OP27, que pode ser
montado no modo fotovoltaico ou modo fotocondutivo. O modo fotovoltaico apresenta
um menor nível de ruído, porém uma menor velocidade sendo mais indicado para
aplicações em instrumentação e medições [3]. Neste caso, a velocidade não é um fator
importante, pois deseja-se medir sinais de baixa frequência. A Figura 3.4 apresenta a
configuração citada.

Figura 3.4 – Modo fotovoltaico.

Da teoria de amplificadores operacionais, tem-se que


Trabalho Final de Sensores 13

vo = R ⋅ i S (3.8)

onde vo é a tensão de saída, R é a resistência e iS, a corrente fornecida pelo fotodiodo.


Deseja-se que a tensão de saída seja da ordem de volts. Com as medidas iniciais
dos valores de corrente pode-se calcular o ganho do amplificador. Assim, para uma
corrente de 0,037 mA deseja-se uma tensão de saída de 3,7 V. Obteve-se então uma
resistência de 1 MΩ.
Como este sensor possui dois estados (com água ou sem água) houve a
necessidade de se comparar os níveis de tensão correspondentes a estes. Para tanto,
utilizou-se um comparador LM311 com uma tensão de referência ajustável através de
um potenciômetro como mostra a Figura 3.5.

Figura 3.5 – Circuito de condicionamento.

Assim, com a ausência de líquido, a tensão de saída do conversor corrente-


tensão permanece em um nível menor que a tensão de referência e a saída do
comparador permanece em nível lógico 0. Quando o líquido ultrapassa o nível desejado,
a tensão de saída do conversor se torna maior que a tensão de referência e a saída do
comparador muda para o nível lógico 1. Nesta saída foi conectado um led para indicar
se o nível de líquido ultrapassou ou não o patamar desejado.
Trabalho Final de Sensores 14

3.4 - Resultados

O sistema completo foi montado em laboratório e é mostrado na Figura 3.6. O


circuito de condicionamento é mostrado em detalhes na Figura 3.7.

Figura 3.6 – Sistema completo.


Trabalho Final de Sensores 15

Figura 3.7 – Circuito de condicionamento de sinal.

Para se realizar os testes, colocou-se água no recipiente até ela passar do nível do
sensor e observou-se que o led (diodo emissor de luz) acendeu, indicando o
funcionamento correto do sistema. A Figura 3.8 mostra o recipiente com água acima do
nível e a Figura 3.9 mostra o led aceso.
Trabalho Final de Sensores 16

Figura 3.8 – Recipiente com líquido acima do nível.

Figura 3.9 – Indicação de nível de líquido com led.


Trabalho Final de Sensores 17

Quando o nível de água diminuiu abaixo do nível do sensor, o led se apagou,


indicando novamente o funcionamento adequado do sistema.
Deve-se observar que a incidência de uma luz externa pode acionar o led. Este
problema pode ser solucionado ajustando-se a tensão de referência ou protegendo o
fotodiodo da luminosidade externa.
Trabalho Final de Sensores 18

CAPÍTULO 4 – SENSOR DE
DESLOCAMENTO À FIBRA ÓPTICA

Neste capítulo, será descrito o desenvolvimento e teste de um sensor à fibra


óptica intrínseco de deslocamento.

4.1 – Princípio de Funcionamento

O princípio de funcionamento do sensor de deslocamento proposto, pode


também ser explicado de acordo com a teoria de raios. Para a luz se manter confinada
dentro da fibra, ela deve incidir em sua parede com um ângulo maior que o ângulo
crítico. Quando ocorrem curvaturas na fibra, o ângulo de incidência θ se torna um pouco
menor que o ângulo crítico e parte da luz se perde para o meio externo fazendo com que
a intensidade da luz na saída diminua. A Figura 4.1 mostra este fenômeno.

Figura 4.1 – Perda de luz devido a curvaturas.


Trabalho Final de Sensores 19

4.2 – Construção do Sensor

Para a construção do sensor, utilizou-se um pedaço de fibra óptica e realizou-se


o procedimento de clivagem. Após a constatação de uma clivagem satisfatória, enrolou-
se um pequeno trecho no meio da fibra, formando a região sensora (em formato de
círculo), como mostra Figura 4.2.

Figura 4.2 – Sensor de deslocamento.

Realizou-se então o procedimento de acoplamento de luz na fibra óptica através


de uma lente de aumento de 20x e um posicionador tridimensional. A fonte de luz
utilizada foi uma caneta laser e o esquema é mostrado na Figura 4.3.
Trabalho Final de Sensores 20

Figura 4.3 – Montagem para o acoplamento da luz.

A outra extremidade da fibra foi fixada em um suporte e direcionada para um


fotodetector de área grande como mostrado na Figura 4.4.
Trabalho Final de Sensores 21

Figura 4.4 – Fibra e fotodetector.

Conectou-se a saída do fotodetector a um medidor de potência óptica mostrado


na Figura 4.5.

Figura 4.5 – Medidor de potência.


Trabalho Final de Sensores 22

A saída do medidor mencionado foi conectada a um osciloscópio. O sistema


completo é mostrado na Figura 4.6.

Figura 4.6 – Sistema completo.

Com o sistema montado, utilizou-se um micrômetro para aplicar e medir


pequenos deslocamentos no sensor. A Figura 4.7 mostra a montagem utilizada para se
realizar as medidas de deslocamento.
Trabalho Final de Sensores 23

Figura 4.7 – Micrômetro e sensor.

Realizaram-se então medidas variando-se o micrômetro com um passo de 0,5


mm e de 13,0 mm a 6 mm. Os resultados obtidos encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1 – Resultados obtidos.

Micrômetro [mm] Potência [mW] Tensão de saída [V]


13,0 6,1 13,5
12,5 5,9 13,0
12,0 5,7 12,5
11,5 5,5 12,0
11,0 5,2 11,5
10,5 5 11,0
10,0 4,8 10,5
9,5 4,6 10,0
9,0 4,2 9,5
8,5 4 8,5
8,0 3,6 8,0
7,5 3,2 7,0
7,0 2,9 6,5
6,5 2,6 6,0
6,0 2,3 5,0
Trabalho Final de Sensores 24

A partir dos dados da Tabela 1, desenhou-se os gráficos da Figura 4.8 e Figura


4.9.

Gráfico 1

5
Potência [mW]

0
0 2 4 6 8 10 12 14
Deslocamento [mm]

Figura 4.8 – Gráfico de Potência x deslocamento.

Gráfico 2

16

14

12
Tensão de saída [V]

10

0
0 2 4 6 8 10 12 14
Deslocamento [mm]

Figura 4.9 – Gráfico de Tensão de saída x deslocamento.


Trabalho Final de Sensores 25

Analisando-se os gráficos é possível perceber que o sensor apresentou uma


característica bem linear e, com isso, a tensão de saída pode facilmente ser relacionada
com um determinado deslocamento através de um fator de calibração dado por

∆V
fator de calibração = (4.1)
∆D

onde ∆V é a diferença de tensão e ∆D é a respectiva diferença de deslocamento.


Escolhendo-se dois pontos da curva da Figura 4.9, tem-se que

9,5 − 6,5
fator de calibração = = 1,5
9,0 − 7,0

Assim, é possível determinar um deslocamento desconhecido dividindo-se a


tensão elétrica de saída obtida pelo fator de calibração.
Trabalho Final de Sensores 26

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÃO

Este trabalho foi interessante, pois pôde-se conhecer o funcionamento de alguns


tipos de sensores à fibra óptica e expandir os conhecimentos práticos nesta área. Os
sensores testados apresentaram resultados satisfatórios e funcionaram de acordo com o
esperado.
Os sensores estudados podem ser utilizados em aplicações em que se deseja que
não haja interferência eletromagnética, pois a fibra óptica é imune a este efeito.
Utilizando-se uma fonte de luz no comprimento de onda do infravermelho, pode-se
enviar a luz através da fibra por distâncias da ordem de alguns quilômetros sem perdas
que atrapalhem o funcionamento do sensor. Assim, pode-se manter o sensor em um
meio com campos eletromagnéticos ou em ambientes tóxicos ou corrosivos.
O sensor de nível de líquido pode ser utilizado para a medição de nível em
líquidos inflamáveis como em tanques de postos de combustível. Pode ser usado
também em aeronaves, pois neste tipo de veículo são necessários equipamentos leves e
imunes a interferências eletromagnéticas. Este sensor é de relativo baixo custo pois
pode-se utilizar uma fonte de luz de baixa potência e dispositivos de baixa precisão. Nos
testes realizados, o acendimento do led pode representar o acionamento de uma bomba
de sucção ou um alarme de sinalização, através de um rele. Pode-se melhorar o sistema
adicionando-se vários pedaços de fibra em série, o que acarretaria na adição de vários
níveis. A desvantagem deste tipo de sensor é que os níveis serão sempre discretos.
O sensor de deslocamento apresentou uma boa linearidade, o que é um resultado
muito interessante. Este sensor pode ser utilizado também para realizar medidas de
pressão, força ou torque, sendo necessário projetar um circuito de condicionamento de
sinal adequado para cara aplicação. Um dos problemas encontrados foi a dificuldade de
manuseio para a aplicação de deslocamento no sensor, pois este se soltava facilmente do
micrômetro. Para solucionar este problema, desenvolveu-se uma proteção com cola de
silicone, formando uma cápsula na região sensora. Infelizmente, não foi possível testar
este protótipo, pois durante os testes iniciais, a fibra sofreu uma fratura que inutilizou o
sensor e atrasou os trabalhos.
Trabalho Final de Sensores 27

As dificuldades enfrentadas no desenvolvimento destes sensores estão


relacionadas com a clivagem da fibra óptica pois, trata-se de um processo artesanal e
cansativo. Se a fibra não for bem clivada, ou seja, a face desta não estiver a 90º do eixo,
torna-se difícil o acoplamento da luz na entrada da fibra ou há um espalhamento da luz
na saída. O alinhamento entre as duas fibras é também um processo crítico, pois
também é feito de forma manual, sem o auxílio de equipamentos. Destaca-se aqui que
não é uma tarefa trivial trabalhar-se com fibras ópticas devido as dificuldades já
mencionadas e também por sua fragilidade. Um outro problema encontrado foi também
a falta de equipamentos ópticos nos laboratórios de ensino, sendo necessário utilizar os
recursos do laboratório de pesquisa de Optoeletrônica, no qual são desenvolvidas outras
pesquisas que algumas vezes utilizavam os mesmo equipamentos.
Os trabalhos relacionados com o sensor de nível de líquido trouxeram novas
idéias como a utilização de um esquema semelhante para medir temperaturas, pois o
índice de refração varia com a temperatura. Tentou-se realizar alguns testes, porém não
foram obtidos resultados devido à falta de equipamentos como um misturador e um
aquecedor. Deve-se ater ao fato que esta variação seria muito pequena e seria preciso a
utilização de um circuito com amplificação de ordem maior e componentes de alta
precisão. Uma outra proposta interessante seria a medida de densidade de líquidos com
um sensor semelhante.
Com relação ao sensor de deslocamento, propõe-se um aprimoramento do
encapsulamento de silicone e a realização de novos testes e calibração.
Trabalho Final de Sensores 28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] DOEBELIN, E. O. Measurement Systems: Application and Design. 4a ed. NY:


McGraw-Hill Companies, Inc., 1990. 960p.

[2] PALLÁS-ARENY, R.; WEBSTER, J. G. Sensors and Signal Conditioning. 1a ed.


NY: John Wiley & Sons, Inc., 1991. 398p.

[3] FRANCO, S. Design with Operational Amplifiers and Analog Integrated


Circuits. 2a ed. NY: McGraw-Hill Companies, Inc., 1998. 668p.

Você também pode gostar