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arandanet.com.br

Diagnóstico de sistemas de
aterramento em grandes plantas
industriais
15-20 minutos

Este trabalho apresenta um método para inspeções e


diagnósticos de sistemas de aterramento de grandes
dimensões, que possibilita avaliar sua integridade e suas
condições físicas, utilizando medições em campo da
resistividade do solo, da resistência de aterramento e da
continuidade, verificando ainda aspectos de segurança e da
integração de novas construções.

Marcelo de Almeida Barbosa, da Barbosa & Andrade

Data: 19/04/2017

Edição: EM Março 2017 - Ano 45 - No 516

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Os sistemas de aterramento em edificações, indústrias,


subestações, etc. devem ser inspecionados periodicamente para
assegurar a manutenção das condições de segurança pessoal e
patrimonial das instalações, e, consequentemente, atender às
recomendações das normas NR-10 e NBR-5419-3-2015 [1-2].

A NR-10, subitem 10.2.4, estabelece que a documentação dessas


inspeções e medições do SPDA e aterramentos elétricos deve ser
parte integrante dos Prontuários de Instalações Elétricas. Por sua
vez, a NBR 54193, no item 7, apresenta recomendações quanto ao
conteúdo, periodicidade e documentação da inspeção.

Em relação ao conteúdo, a norma sugere:

Verificação das condições do sistema de aterramento, incluindo,


neste caso, conexões corroídas, cabos de aterramento soltos,
danificados ou inexistentes, etc.

Avaliação da resistência ôhmica do sistema de aterramento. Na


revisão da norma, o valor sugerido de 10 ohms foi suprimido.
Contudo, o importante é sempre obter o menor valor possível
compatível com o arranjo, dimensões e resistividade do solo. E
isso é particularmente sensível em malhas de grandes dimensões,
nas quais a medição da resistência de aterramento é um desafio.
Na revisão da norma, dispensou-se também a medição física da
malha, podendo ser calculada através da estratificação do solo e
com o uso de um software adequado. Mesmo assim, recomenda-
se a medição física para comparação com a medição simulada.
Um valor da resistência de aterramento medido fisicamente bem
superior ao valor esperado indica problemas do sistema de
aterramento.

Verificação da i nterligação dos vários subsistemas de aterramento,


através de uma ligação equipotencial de baixa impedância. No
caso das grandes plantas industriais, isto também é muito
importante, não só para verificar sua continuidade e
equipotencialização, mas também para certificar que as novas
construções e ampliações foram integradas ao sistema existente.
Quanto à periodicidade, a norma determina a inspeção anual para
estruturas com munição e explosivos, em ambientes industriais
com atmosfera agressiva ou em regiões litorâneas e, ainda, para
serviços emergenciais (energia, água, telecomunicações, etc.).
Para as demais estruturas, recomenda-se inspeção a cada três
anos.

Em relação à documentação gerada, inclusive para atendimento à

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NR-10, devem ser observados:

dados sobre a natureza, a resistividade e estratificações do solo;

valores medidos históricos da resistência de aterramento e ensaios


de continuidade; e

planta baixa e detalhes do sistema de aterramento instalado.

Este trabalho apresenta um método para inspeções e diagnósticos


de sistemas de aterramento de grandes dimensões, de forma a
possibilitar:

Avaliação da integridade e das condições físicas do sistema de


aterramento, para que exerça suas funções de equalização de
potenciais, retorno da corrente de curto-circuito e escoamento das
descargas atmosféricas.

Medição da resistência de aterramento em um sistema complexo


de grandes dimensões, que, muitas vezes, é feita de forma
inadequada.

Apresentação de problemas potenciais que podem passar


despercebidos e se tornarem críticos, provocando acidentes e
sinistros.

Medição da resistividade do solo em locais geralmente


urbanizados (asfalto, concreto, etc.), a qual é de suma importância
para a análise comparativa das resistências esperadas e medidas,
verificando se a resistência medida está compatível com o arranjo
e as dimensões do sistema de aterramento.

Verificação da integração de novas construções ao sistema de


aterramento.

Desenvolvimento

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Diagnósticos foram realizados em uma grande planta de


pelotização de minério de ferro, cuja malha de aterramento
industrial é constituída por um sistema único de aterramento de
grande porte, ocupando área de aproximadamente 180 mil m2.

Fig. 1 – Localização das medições de resistividade e resistência de


aterramento

Medições e cálculo da resistividade do solo

Em primeiro lugar, deve-se avaliar a característica do solo onde


está implantada a malha. A resistividade aparente do solo (ρa), que
é subsídio para estimativa da resistência de aterramento, é
determinada através de medições da resistividade do solo pelo
método de Wenner [3] e de software computacional específico para
obtenção da estratificação do solo. A tabela I apresenta os
resultados das medições de resistividade e estratificação do solo.

Por se tratar de uma malha de um grande sistema de aterramento,


as medições de resistividade têm de ser feitas na periferia da
planta industrial, para que as massas metálicas não interfiram nas
medições, provocando erros nos valores obtidos. Recomenda-se
afastamento mínimo de 10 m.

Para que os valores de resistividade sejam representativos do solo,


sugerese, no mínimo, quatro locais de medição nos quatro lados
da planta.

A partir das medições de resistividade, do conceito do raio do


círculo equivalente que abrange a área do sistema de aterramento
(ρ) e de ábacos (0, d, ρ2/ρ1), determina-se a resistividade aparente
do solo (ρa), sendo no caso estudado:

r = 77,1; ρ2/ρ1 = 3,68; N = 3

Obtém-se então:

ρa = N . ρ1

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ρa = 235 Ω m

Fig. 2 – Gráfico p x R

Medições e cálculo da resistência de aterramento

Para uma área isolada de pequenas dimensões, utiliza-se o


método da Queda de Potencial, no qual o eletrodo de corrente é
cravado a uma distância não inferior à maior dimensão da malha
de aterramento. Algumas concessionárias recomendam distâncias
superiores a três vezes a maior dimensão, para garantir o patamar
da curva resistência x distância.

No entanto, para grandes sistemas de aterramento, como a do


exemplo em questão, o uso do método da Queda de Potencial é
impraticável. Neste caso, recomenda-se o método de Interseção
de Curvas, que resolve dois problemas práticos: a determinação do
centro elétrico e a dificuldade de emprego de distâncias
consideráveis para afastamento dos eletrodos auxiliares.

No exemplo em questão, foram feitas quatro séries de medidas,


em locais diferentes, conforme mostra a figura 1.

A figura 2 apresenta os resultados de uma das séries de medições


para distâncias do eletrodo de corrente de 200 e 100 metros (c) em
função das distâncias de eletrodo de potencial (p).

Fig. 3 – Gráfico λ x R – R = 3,1 Ω; centro elétrico = 33 m

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Aplicando-se o método da Interseção de Curvas, traça-se uma


segunda curva ou curvas a partir do traçado para o método da
Queda de Potencial. Sendo λ a distância do ponto de origem ao
centro elétrico do sistema, a solução gráfica assume um grupo de
valores para λ e, então, são calculados os correspondentes valores
de r = 0,618 (c+λ) – λ, e a resistência obtida direto da curva p x R
para uma determinada distância c [4].

As resistências obtidas são plotadas contra os correspondentes


valores de λ em um segundo gráfico (curva R x λ) para os
diferentes valores de c. A interseção dessas curvas será o valor
verdadeiro da resistência de terra, mostrado na figura 3.

Considerou-se no trabalho o valor verdadeiro da resistência de


terra da malha da planta industrial como a média das quatro séries
de medidas, resultando em uma resistência R = 1,37 Ω.

Comparação entre valores medidos e calculados

Um cálculo teórico da resistência ôhmica de uma malha de terra


pode ser obtida através da equação abaixo:

onde:
ρa = resistividade aparente do solo (Ωm);

A = área ocupada pela malha (m2); e


L = comprimento total dos cabos e eletrodos que formam a malha
(m);

Alguns softwares já fornecem uma medição calculada através da


equação. No exemplo dado, a resistência esperada da malha é de
aproximadamente 0,32 Ω, considerando comprimento de cabos e
hastes de 3000 m (estimado a partir do desenho do sistema geral
de aterramento).

A tabela II mostra uma comparação entre os valores obtidos em


2015 com as medições realizadas há três anos. Apesar dos
valores medidos serem bem inferiores a 10 ohms, a malha

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apresenta resistência de aterramento bem superior à esperada


(0,32 Ω) em um solo de resistividade relativamente baixa.

Observando os resultados da tabela, pode-se concluir:

com a ampliação da planta industrial após 2012, a resistência caiu


de 2,4 Ω para 1,37 Ω, como esperado;

devido aos problemas detectados desde 2012, o valor esperado de


0,65 Ω, e de 0,32 Ω, em 2015, piorou a relação valor real/valor
esperado. Esses problemas são relatados a seguir e foram
evidenciados pelos ensaios de continuidade e inspeções visuais.

Medições de continuidade do sistema de aterramento

O objetivo destas medições é verificar a integridade entre os


principais pontos do sistema de aterramento geral da planta
industrial. A metodologia utilizada baseia-se na injeção de corrente
contínua entre cada dois pontos (A e B). Para isto, utilizou-se um
microhmímetro digital, que pode fornecer corrente de até 10 A,
conforme figura 4. Este ensaio não deve ser feito com multímetro
ou equipamento de baixa potência, pois pode levar a falsas
conclusões.

Fig. 4 – Ensaio de continuidade

Como critério geral, considerouse a existência de continuidade das


interligações metálicas entre subestações, estruturas ou anéis de
aterramento com resistência ôhmica inferior a 1,0 ohm. Acima
deste valor, o retorno da corrente de curto faseterra é
comprometido, assim como a equalização para descargas
atmosféricas (fator importante para equipamentos sensíveis). Esta
metodologia está fundamentada no Anexo F da NBR 5419-3.

A tabela III apresenta um modelo de relatório para ensaios de


continuidade.

A inspeção/medição da integridade da malha de aterramento


revelou várias não-conformidades:

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27% das 290 medições executadas não garantiram a continuidade,


confirmando o elevado número de descontinuidades encontradas
em 2012. Estas descontinuidades junto com as más condições do
aterramento provocaram deterioração e valor de resistência de
aterramento cerca de quatro vezes superior ao esperado.

Os ensaios de continuidade também confirmaram a integração da


área ampliada com o siste-ma de aterramento geral.

Conclusões e recomendações

A NBR 5419 estabelece novos conceitos para inspeções, como o


uso demicro-ohmímetros com corrente fortepara ensaios de
continuidade e a avaliação da resistência de aterramentoatravés
de cálculo. Para maior consistência, pode-se utilizar o método
daInterseção de Curvas, a fim de se obtervalores medidos para
efeito comparativo.

A periodicidade também foi maisclaramente definida: frequência


anualpara indústrias situadas em ambientesagressivos, incluindo
as localizadasem região litorânea ou as que lidamcom explosivos.

A nova norma suprimiu ainda o valor da resistência de aterramento


de 10 ohms, orientando que este seja compatível com o arranjo,
dimensões do sistema e resistividade do solo, avaliando os
gradientes de potencial no solo.

No exemplo apresentado, foi mostrado um método para inspeções


e diagnósticos que destaca a importância da determinação da
estratificação da resistividade do solo; da comparação dos valores
medidos e calculados da resistência de aterramento; dos
resultados dos ensaios de continuidade; e principalmente da
interpretação desses resultados junto com as inspeções visuais
das condições físicas do sistema de aterramento.

A malha avaliada apresentou uma série de problemas, incluindo


número elevado de descontinuidades e diversas estruturas sem

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aterramento (vigas I dos galpões), o que justifica a resistência de


terra acima do valor esperado para uma malha de grandes
dimensões e solo de baixa resistividade. Outro problema
encontrado foi o comprometimento do retorno da corrente de curto-
circuito e a equalização de potenciais entre as áreas — fator
particularmente importante para equipamentos sensíveis.

Fig. 5 – Curto-circuito fase-terra em um cabo isolado de média


tensão

Na instalação industrial considerada, houve um sinistro com


grandes perdas, devido a um curto-circuito fase-terra em um dos
cabos isolados de média tensão de um dos alimentadores da
planta, conforme mostrado na figura 5.

Uma descontinuidade do sistema de aterramento, no retorno da


corrente de curto fase-terra, em um sistema aterrado via resistor,
reduziu a IcØT. Desta forma, os relés de proteção não atuaram,
causando sobretensões nas fases sãs do cubículo de manobra (da
ordem de tensão entre fases para as tensões fase terra) e gerando
arco elétrico. Portanto, é de suma importância que nos ensaios de
continuidade sejam conferidas todas as interligações do sistema de
aterramento com o aterramento do neutro dos transformadores.

Outro ponto importante a ser destacado nas inspeções de


aterramento de grandes plantas industriais diz respeito à
interligação da malha de terra da subestação principal com a
malha de aterramento do processo industrial. Geralmente, deve ser
feito um estudo prévio durante o projeto das malhas, a fim de
determinar ou não sua interligação, baseando-se na análise das
condições de segurança. Por um lado, se a interconexão reduz o
GPR do sistema devido ao paralelismo, com consequente redução
da resistência de terra, de outro, a interconexão pode ser muito
perigosa, pois pode haver transferência de potenciais perigosos
para a malha industrial, onde geralmente há locais sem controle de
gradientes.

No caso das inspeções, é importante verificar o atendimento às

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condições impostas pelos estudos. A recomendação ou não de


interconexão deve ser verificada nos ensaios de continuidade.

Uma situação extremamente perigosa detectada nas inspeções de


grandes malhas é a interligação não-proposital, cujo isolamento foi
recomendado em estudos. Citam-se como exemplos mais
frequentes uma nova tubulação metálica de água de incêndio com
hidrantes da subestação interligada com o processo industrial ou
eletrodutos e leitos de cabos também saindo da subestação para o
processo industrial.

Referências

1. NBR 5419-3-2015 Proteção contra descargas atmosféricas Parte 3: Danos


físicos a estruturas e perigos à vida.

2. NR-10 Norma regulamentadora do MTE Instalações e Ser viços com


eletricidade.

3. NBR 7117 Medição da resistividade do solo pelo método de Quatro Pontos


Wenner.

4. Castro, J.: Medição das malhas de aterramento pelo Método da Interseção de


Cur vas . Revista Mundo Elétrico, maio/1983.

Trabalho apresentado no XVI Enie - Encontro Nacional de Instalações Elétricas


(23 a 25 de agosto, em São Paulo, SP).

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