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DIEGO DA SILVA
WELINGTON JUNIOR JORGE
Organizadores
Maringá – Paraná
2019
2019 Uniedusul Editora
Conselho Editorial
Alexandra Fante Nishiyama – Faculdade Maringá
Aline Rodrigues Alves Rocha – Pesquisadora
Ana Lúcia da Silva – UEM
André Dias Martins – Faculdade Cidade Verde
Brenda Zarelli Gatti – Pesquisadora
Carlos Antonio dos Santos – Pesquisador
Cleverson Gonçalves dos Santos – UTFPR
Constanza Pujals – Uningá
Delton Aparecido Felipe – UEM
Fabio Branches Xavier – Uningá
Fábio Oliveira Vaz – Unifatecie
Gilmara Belmiro da Silva – UNESPAR
João Paulo Baliscei – UEM
Kelly Jackelini Jorge – UNIOESTE
Larissa Ciupa – Uningá
Marcio Antonio Jorge da Silva – UEL
Márcio de Oliveira – UFAM
Pâmela Vicentini Faeti – UNIR/RM
Ricardo Bortolo Vieira – UFPR
Rodrigo Gaspar de Almeida – Pesquisador
Sâmilo Takara – UNIR/RM
doi.org/10.29327/53722
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1......................................................................................................................................6
A ESCRITA DE VERBETES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO E SUAS
CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO DOCENTE
GABRIELLA ELDERETI MACHADO
PATRÍCIO CERETTA
JULIANA CORRÊA DE LIMA
IVANIO FOLMER
LAISA DE CASTRO ALMEIDA
TAINAN SILVA DO AMARAL
MARIA DOS REMÉDIOS LIMA SILVA
LIZIANY MÜLLER MEDEIROS
NATALIA DE OLIVEIRA
DOI 10.29327/53722-1
CAPÍTULO 2....................................................................................................................................14
A POLÍTICA PÚBLICA DA HORA-ATIVIDADE NO ESTADO DO PARANÁ: CAMINHOS E
COLHEITAS
NILCEIA BUENO DE OLIVEIRA
DOI 10.29327/53722-2
CAPÍTULO 3....................................................................................................................................26
AS COTAS RACIAIS PARA O INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR: DESAFIOS PARA A
PERMANÊNCIA DE ALUNOS COTISTAS NA UEMG
JOSIMAR MENDES AMARAL
ADELINO FRANCKLIN
DOI 10.29327/53722-3
CAPÍTULO 4....................................................................................................................................43
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE GESTÃO AMBIENTAL
EMPRESARIAL
JÚLIO CÉSAR DOS SANTOS LIMA
PAULO AUGUSTO ZAITUNE PAMPLIN
DOI 10.29327/53722-4
CAPÍTULO 5....................................................................................................................................52
POLÍTICAS PÚBLICAS DE LEITURA NO BRASIL E O DESAFIO NA FORMAÇÃO DE LEITORES1
NELZIR MARTINS COSTA
MÁRCIO ARAUJO DE MELO
DOI 10.29327/53722-5
CAPÍTULO 6....................................................................................................................................66
POLÍTICAS PÚBLICAS EM SANEAMENTO BÁSICO NO ESTADO DO PARANÁ E OS
REBATIMENTOS NOS INDICADORES DE MORTALIDADE INFANTIL E DA INFÂNCIA
GRACIELI APARECIDA WOLFART
RICARDO RIPPEL
LUIZ ALBERTO CYPRIANO
DOI 10.29327/53722-6
CAPÍTULO 7....................................................................................................................................80
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO IDOSA NO BRASIL: UM “ESTADO”
DEGENERATIVO
BIANCA NUNES PIMENTEL
ELENIR FEDOSSE
DOI 10.29327/53722-7
CAPÍTULO 1
A ESCRITA DE VERBETES SOBRE POLÍTICAS
PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO E SUAS CONTRIBUIÇÕES
À FORMAÇÃO DOCENTE
Está escrita foi construída a partir dos estudos realizados na disciplina intitulada: “Políticas
Públicas, Saberes e Formação Docente” do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM.
Na referida disciplina buscou-se refletir e discutir sobre as políticas nacionais e internacionais que
orientam a Educação Brasileira, de modo a estabelecer aproximações e identificar os desafios entre
os contextos educacionais e as políticas que definem as ações nas instituições. Após um processo
coletivo e colaborativo foi sugerido a construção de verbete que definissem muitas das palavras,
que aparecem nas normativas, mas que por vezes não são definidas em sua essência. O que provoca
muitos equívocos na sua interpretação.
Sendo assim, a partir de verbetes visou-se atribuir uma discussão significativa contextualizando
a relação de alguns conceitos apresentados em documentos da UNESCO1, no Plano Nacional de
Educação (PNE), e as 20 Metas do Plano Nacional de Educação, com o contexto atual da educação
no País. Este trabalho com verbetes efetiva-se também como um registro atual da educação, pois
algumas palavras escolhidas estão contidas, por exemplo, na Medida Provisória do Ensino Médio,
no qual se institui uma reforma no sistema educacional, fato este que se contrapõe a alguns pontos
contidos nos documentos mundiais e nacionais citados acima.
A essas instâncias cabe analisar e propor políticas públicas para assegurar a implementação
das estratégias e o cumprimento das metas, assim como a revisão do percentual de investimento
público em educação (BRASIL, 2014). Já as 20 Metas do Plano Nacional de Educação são um meio
prático de assegurar o cumprimento do que traz o PNE, com sua estrutura organizada para assegurar
o direito à educação básica de qualidade, e a ampliação do acesso à educação (MEC/SASE, 2014).
A escolha dos verbetes ocorreu da seguinte forma: inicialmente procedemos com a leitura
e discussão das Políticas Públicas para formação de professores; documentos da UNESCO; Plano
Nacional da Educação; Planos Municipais de Educação e alguns artigos relacionados aos temas.
Posteriormente os grupos escolheram alguns verbetes que se destacaram nessas leituras, e a partir
disto procede-se com suas contextualizações.
Levamos em conta neste trabalho com verbetes, a pesquisa em alguns documentos que estão
em evidência no cenário da educação atualmente, como por exemplo, a Medida Provisória do Ensino
Médio; a Lei da Mordaça e a Escola Sem Partido; e a PEC 55 que limita e congela os investimentos
em educação, saúde e assistência social por vinte anos.
Custo-aluno-qualidade
Alguns instrumentos constitucionais aliam-se para a efetivação dessas propostas, como por
exemplo, a Constituição Federal de 1988, onde no art. 212, afirma o investimento nos estados, e
municípios, através da receita resultante de impostos. Já no art. 214 da Constituição Federal, dispõe
a tarefa de que o PNE deve estabelecer metas de aplicação de recursos públicos em educação.
Garantindo dessa forma, por meio de metas, e instrumentos constitucionais que seja efetivado o
custo-aluno-qualidade por meio da garantia da educação e de seu financiamento público (BRASIL,
2014).
Diversidade cultural
Notório saber
O termo Notório Saber ganhou grande destaque a partir da Medida Provisória Nº 746, de 22
de Setembro de 2016, a qual busca instituir a política de fomento à Implementação de Escolas de
Ensino Médio em Tempo Integral. Alterando assim, a Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e a Lei nº 11.494 de 20 de junho 2007, que
regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação, voltando-se a busca de outras providências.
O Notório Saber é tratado no Inciso IV, que reconhece os profissionais com notório saber
aqueles que são reconhecidos pelos respectivos sistemas de ensino para ministrar conteúdos de áreas
afins à sua formação, com o propósito para atender o disposto no Inciso V do caput do art. 36.
O qual traz que o Ensino Médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por
itinerários formativos específicos, os quais serão definidos pelos sistemas de ensino, com ênfase nas
seguintes áreas de conhecimento ou de atuação profissional, em linguagens, matemática, ciências da
natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.
Nesse caso, um engenheiro formado, poderia lecionar em uma Escola, na área de matemática,
por exemplo. Pois, de acordo com a Medida Provisória, ele tem o conhecimento necessário para atuar
na Educação no que se refere a esta área, no entanto necessitária somente de uma autorização da
instituição.
Esclarecendo então, que esse profissional não tem e não teria disciplinas da área da educação,
como por exemplo, didática, psicologia da educação, metodologia e entre outras inúmeras disciplinas
fundamentais ao ensino.
Bem Comum
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em
edição nomeada de “Repensar a educação: rumo a um bem comum mundial?” (UNESCO, 2016),
propõem que educação e o conhecimento sejam considerados Bens Comuns. Isso significa que
o processo de conhecimento, sua aquisição, sua validação e sua utilização são comuns a todas as
pessoas, devendo ser então vistos como parte de um esforço coletivo da sociedade.
Gestão Democrática
Após longos anos de repressão a democracia começa a ser vivenciada no Brasil em meados
da década de 80, com mais intensidade em 1990. A possibilidade da sociedade inferir sobre assuntos
políticos, sociais, educativos e sobre o próprio processo de repressão vivido por anos, se constitui e
vem se constituindo hodiernamente. A primeira conquista nacional foi a constituição federal de 1988,
Constituição Cidadã, que prevê direitos e necessidades básicas para a população, também pensando
nos aspectos econômicos e ecológicos do país. A constituição de 1988 determina a liberdade como
direito inviolável de todo ser humano e marcou o período de redemocratização, após décadas de um
regime militar autoritário.
A lei 9394/96 instituiu vários avanços para a educação brasileira, que foram se delimitando
no decorrer dos anos, mas que também sofrem retrocessos e desacordos em relação as necessidades
e os contextos educacionais. Entre os princípios que fundamenta a educação brasileira destaca-se
a gestão democrática nas instituições de ensino. A respeito da educação democrática é necessário
compreender, que o processo de democracia no país ainda não é pleno, o que dificulta o cumprimento
do princípio estabelecido legalmente.
Desta forma, torna-se claro o papel da gestão escolar como promotora de espaços dialógicos
onde se possa problematizar as dificuldades, necessidades e potencialidades da instituição e dos
sujeitos. Nesse sentido, a gestão democrática, trata-se de um processo de gerir as instituições
educativas, em consonância com as orientações das políticas públicas educacionais e com o princípio
da democracia, da participação, da tomada de decisões conjuntamente e da transparência pública de
processos e resultados.
O atual plano nacional de educação, que define vinte metas para a década (2014 – 2024) prevê
a ampliação do investimento do financiamento da educação básica no Brasil, através do valor de
sete por cento do Produto Interno Bruto do pais até o quinto ano de vigência do plano e, no mínimo,
dez por cento no final de período de vigência do plano. Porém o que vemos no cenário nacional é a
tentativa, de um governo ilegítimo, de reduzir por vinte anos os investimentos em educação. Trata-
se de um roubo às escolas, institutos de educação e universidades. O corte que prevê vinte anos de
estagnação e retrocessos não considera princípios básicos de apoio a população e por isso não merece
apoio e respeito. Trata-se para além de uma injustiça, trata-se de um golpe contra todos os brasileiros,
pois fere os direitos conquistados através de anos de luta.
Itinerários formativos
Ainda sobre trajetos formativos é necessário expressar que trata-se de um processo auto(trans)
formativo permanente que perpassa as escolhas pessoais e profissionais nos diferentes tempos e
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Plano Nacional de Educação – PNE, Lei Federal n.º 13.005, de 25 de junho de 2014. Brasília:
Centro de Documentação e Informação; Coordenação Edições Câmara, 2014. (Documento Referência). Dis-
ponível em: < http://www.observatoriodopne.org.br/uploads/reference/file/439/documento-referencia.pdf>.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. Proposta Preliminar; Segunda Versão;
Abril, 2016. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio> Acessado em: 28. Nov.
2016
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,: Senado, 1988.
_____. Lei nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece diretrizes e bases da educação brasileira, Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 20 de dez. 1996.
BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional n.53 , de 19 de dezembro de 2006.
BRASIL. Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007. Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização dos profissionais da educação. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20
de jun. de 2007.
BRASIL. Medida provisória n.º 746, de 22 de setembro de 2016. Diário Oficial União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 22 de set. 2016.
JOSSO, M. C. Experiências de vida e formação. São Paulo: Cortez, 2002.
LÜCK,H. Gestão Educacional: uma questão paradigmática/Heloisa Lück. 9.ed.- Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
MEC/SASE. Planejando a Próxima Década. Conhecendo as 20 Metas do Plano Nacional de Educação.
Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino, 2014. Disponível em
<http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf>.
PORTAL BRASIL. Acesso à educação. 2009. Disponível em <www.brasil.gov.br>. Acesso em: 13/11/2016.
UNESCO. Repensar a educação: rumo a um bem comum mundial?. Brasília: UNESCO Brasil, 2016.
DOI 10.29327/53722-1
1. INTRODUÇÃO
Já são quase duas décadas de implantação, mesmo que gradativa, da hora-atividade, pela
Secretaria de Estado da Educação do Paraná. A hora atividade é uma política pública faz parte de uma
luta histórica do magistério paranaense desde os anos 80, sendo esta pauta de lutas e mobilizações.
Mas só em 2001, após um longo período de greve dos professores do Paraná, o governo implantou a
hora-atividade como parte das atividades docentes, por meio do Decreto 3479, onde ficou estabelecido
o percentual de 10% da carga-horária do professor para dedicação à hora-atividade. Em 2002, pela
aprovação da Lei 13.087/2002 o percentual da hora atividade foi aumentado para 20%, ocorrendo sua
implantação em 2003. Em 2008 foi aprovada em instância federal a Lei do Piso Salarial Profissional
nº 11.738/2008 – art. 2°, onde o professor deve perfazer um total de no máximo 2/3 de sua jornada
com interação com o aluno em sala de aula.
A meu ver, já não bastam os ganhos quantitativos dessa política pública; é necessário pensar em
questões relacionadas à qualidade dessa importante prática em prol do ensino-aprendizagem. Portanto,
a política pública da hora-atividade nos exige certo esforço no sentido de compreender os determinantes
e as condições nas quais este espaço/tempo do professor e da escola vem sendo implementado, tendo em
vista um movimento histórico e político muito mais amplo relativo ao sistema educacional no Brasil. Para
ocupar esse nicho, a pesquisa contribui revelando o estado da arte da pesquisa sobre a hora-atividade
da escola pública do Paraná por meio de um levantamento bibliográfico das produções sobre o tema
até o presente momento.
Sem dúvida alguma, a implantação da hora atividade pode resultar em ganhos significativos
de qualidade na educação. No entanto, é preciso ir além do exercício de preparação de aulas, produção
e correção de provas. Nesse sentido, advogo que a hora-atividade seja um espaço ação, de eventos e
práticas de letramentos, a qual pode levar o grupo de participantes não só a uma reflexão maior sobre o
ensino-aprendizagem bem como pode fortalecer o espírito de grupo, de comunidade colaborativa entre
os parceiros e ser, desta forma, um espaço-tempo norteador das ações dos professores, possibilitando
um avanço pedagógico num sentido transformador. Essa transformação não significa desfazer a
trama do tecido que já se está tecendo. Pelo contrário, significa aprofundar a consciência das opções
diante dos rumos possíveis. E uma delas de dá através da reflexão sobre sua prática de ontem e de hoje
para que possa melhorá-la futuramente (OLIVEIRA, 2016).
A hora-atividade, nesse sentido, torna-se espaço propício para esse processo, pois as práticas
sociais dos professores permitem-lhes reflexão e intervenção no contexto social da escola pública,
tornando possível para eles uma atuação como agentes de mudança em seus contextos profissionais.
As interações sociais “mediadas pela linguagem, estabelecem a ponte entre o indivíduo e o outro,
apresentando-se como aspecto constitutivo tanto das práticas colaborativas humanas, como da
identidade destes indivíduos” (MATEUS & PICONI (2011, p. 275).
Já em nível de mestrado, a dissertação pioneira sobre a hora-atividade da escola publica
paranaense foi produzida em 2008, com créditos para a pesquisadora Rejane Aparecida Czekalski.
Na pesquisa, ela debruçou sobre a hora-atividade do estado e o resultado da investigação intitulou-se
“Apropriação da hora-atividade como espaço para a formação de professores em serviço: um estudo
sobre a organização do trabalho docente em Telêmaco Borba – PR”. A pesquisa foi defendida em
2008 no Curso de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Londrina. Nesse trabalho, a
autora pesquisou a hora-atividade como espaço de formação continuada em serviço dos professores
da Educação Básica. Para coleta de dados, a pesquisadora realizou entrevista com professores e
membros da equipe pedagógica de uma escola pública a fim de verificar como a hora-atividade se
materializa no contexto investigado e que avaliação os entrevistado s fazem da mesma. A autora
concluiu que os professores participantes da pesquisa estabelecem relação entre a hora-atividade e a
formação continuada, todavia entendem como imprescindível a ampliação da hora-atividade para que
se possa nela realizar todo o trabalho docente necessário à concretização de um trabalho pedagógico
de melhor qualidade. È importante salientar que durante a realização dessa pesquisa, os professores
do Paraná tinham 20% da carga-horária destinada à hora-atividade.
No ano de 2011, Cristhyane Ramos Haddad, defendeu sua dissertação no Curso de Mestrado
em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná com o título: “A hora-atividade: espaço de alienação
ou humanização do trabalho pedagógico?” O objetivo geral da pesquisa foi o de investigar se a hora
atividade tem se efetivado como momento de leituras e estudos nas escolas. Para obter tais dados
foram selecionadas dez escolas da rede estadual de ensino no município de Curitiba. O método de
pesquisa escolhido para análise foi o Materialismo Histórico e o instrumento utilizado foi a entrevista
A pesquisa de Nádia Artigas teve como título “A política da hora-atividade na rede estadual
de educação do Estado do Paraná: diferentes ângulos de uma mesma foto” e foi defendida no Curso
de Mestrado em Educação da Universidade Federal do Paraná em 2013. No trabalho investigativo,
a autora buscou analisar a hora-atividade com o intuito de compreender os determinantes e as
condições nas quais esse espaço/tempo do professor e da escola vem sendo implementado no
Estado do Paraná.Coletando dados por meio de análise de documentos e da legislação referente à
hora-atividade, somados aos dados obtidos, entre informações coletadas junto às escolas públicas
estaduais, a pesquisadora, partir do referencial teórico do ciclo de políticas, buscou analisar como
ocorreu o processo de implantação da política para a hora-atividade no Estado do Paraná, no sentido
de investigar e compreender como esta política foi e ainda está sendo conduzida pelo Estado, diante
das suas relações com a sociedade. A autora, além de analisar aspectos conceituais, históricos,
políticos e legais sobre a hora-atividade no Paraná, buscou fundamentar a elaboração de subsídios
que contribuam para analisar a implantação da hora-atividade como espaço destinado ao trabalho
pedagógico e formativo para além da sala de aula.
Somando-se às pesquisas acima relatadas, está em processo de defesa a primeira tese sobre a
hora-atividade das escolas públicas do Estado do Paraná, investigação produzida Curso de Doutorado
em Estudos da Linguagem na Universidade Estadual de Londrina. Uma realização não só profissional,
mas também pessoal, que é a proposição novos caminhos para uma política pública já instituída, com
vistas à transformação social.
A partir de 2013, a hora-atividade teve uma estruturação mais forte, pois os professores
passaram a contar com um dia por semana (dois turnos) e é aí que, como integrante do grupo, passei
a também observar o potencial da hora-atividade como elemento enriquecedor não só da sala de aula,
mas também da identidade docente. Nesse mesmo ano, iniciei meus estudos no curso de doutorado
em Estudos da Linguagem na Universidade Estadual de Londrina, como aluna especial na disciplina
de Práticas Colaborativas de Formação de Professores de Línguas, ministrada pela professora Elaine
Mateus e, ao produzir a avaliação final, meu artigo teve com tema a hora-atividade concentrada
de professores de línguas. Imersa nesse ambiente de valorização da hora-atividade por meio da
concentração por área, senti que esse seria o tema de minha futura pesquisa de doutorado, cujo projeto
sobre o tema foi aprovado e colocado em prática a partir do ano de 2015, com a minha aprovação
como aluna regular do curso.
A hora-atividade tornava-se não só uma prática de meu ambiente de trabalho, mas também
meu contexto de pesquisa. Quatro anos depois, estou com minha tese em fase de defesa. Com o
título “A hora-atividade de professores/as de línguas em uma escola pública e a implantação do
laboratório de mudança para (possível) transformação social”, busquei elucidar não só as políticas,
as representações e ações que subjazem essa prática, como também propus mudanças nesse espaço-
tempo, com vistas a uma transformação social. O estudo, do tipo intervencionista (ENGËSTROM,
2007), com coleta de dados de base etnográfica, descreve e analisa criticamente as ações rotineiras
nesse espaço-tempo, a fim de explorar, no campo da ação-pesquisa, possibilidades de transformação
das contradições que potencializam-constrangem o trabalho docente. Os dados foram coletados em três
momentos, por meio de instrumentos diferentes: questionário respondido por professoras de línguas
do universo investigado (2015), fotografias etnográfico-descritivas registradas durante um bimestre
de 2016 e, terceira etapa do estudo (2017) onde foram coletadas, por meio da gravação em áudio, o
discurso desse grupo de professoras, em reuniões durante a hora-atividade concentrada da área de
ensino de línguas (materna e adicional). A base teórica da investigação foi o Laboratório de Mudança
(VIRKKUNEN; NEWNHAM, 2015), com base no referencial teórico e metodológico da Teoria da
Atividade (ENGESTRON, 1999a, 2007) e a Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 2001;
OLIVEIRA, 2014). Os resultados apontam, no campo teórico-metodológico, para as potencialidades
das oficinas de intervenção como práticas de transformação coletiva de problemas sociais situados, ou
seja, pode proporcionar transformações no contexto investigado, não só na produção de novas formas
de comportamento, como também na mudança do próprio conceito de hora-atividade pela professoras
participantes. A hora-atividade no viés teórico da pesquisa deve ser concebida como um espaço de
interação, de trocas de experiências, alicerçada no conceito de colaboração, o qual pressupõe que
Penso que essa postura cíclica de constante transformação é de suma importância para o
processo de construção da identidade do educador dentro do espaço-tempo da hora-atividade para
que promova uma análise reflexiva do próprio processo educativo.
Colaborar, segundo a autora, “significa agir no sentido que os participantes tornem seus
processos mentais claros, expliquem, demonstrem, com o objetivo de criar, para os outros participantes,
possibilidades de questionar, expandir, recolocar o que foi posto em negociação” (idem, ibidem, p.
56). Desta forma, o espaço-tempo da hora atividade implica também em “conflitos e questionamentos
que propiciem oportunidades de estranhamento e de compreensão crítica” (Ob. Cit.) aos participantes.
Estas práticas estão imbricadas com a identidade profissional do docente, cujas práticas colaborativas
implica na necessidade de comprometimento do professor com o local de sua hora-atividade e com
seus companheiros, no sentido de transformar este espaço-tempo em direção à construção de um
espaço escolar que possibilite formação de sujeitos autônomos e criativos, autoconscientes quanto
ao resultado transformador ou opressor de sua prática e a necessidade de transformá-la ou não para
atingirem seus objetivos.
1. INTRODUÇÃO
Tem por justificativa discutir e analisar aspectos de uma das ações afirmativas mais polêmicas
implantadas no Brasil, que são as referidas cotas raciais. Assume um posicionamento favorável à
manutenção da política de cotas raciais para ingresso nas universidades e espera através dessa política
a diminuição das disparidades entre brancos e negros no ensino superior brasileiro. Analisa as razões
que levam a evasão dos alunos cotistas nas universidades, buscando soluções para este desafio. A
pesquisa sobre as cotas assume relevância social por analisar os desafios para a permanência de
estudantes cotistas em uma universidade pública estadual.
O problema discutido nesta pesquisa se refere aos desafios enfrentados pelos estudantes que
ingressaram por meio de cotas raciais na UEMG – unidade Passos.
Tem por objetivo geral, analisar os desafios que alunos cotistas da UEMG, Unidade de Passos,
vivenciam em sua jornada acadêmica. Em relação aos objetivos específicos investigam, na ótica de
estudantes cotistas da UEMG, unidade Passos as contribuições das políticas de cotas raciais para o
ingresso do estudante negro nessa instituição identificando, através das percepções de alunos cotistas
da UEMG, desafios para a formação acadêmica dos estudantes que ingressaram na universidade
por meio delas e, por fim, os motivos que podem levar a evasão de estudantes que ingressaram na
universidade por meio dessas.
A metodologia para realização do trabalho foi pautada na abordagem qualitativa, que pode
ser definida por Triviños (1987, p.120) como atividades de investigação que podem ser denominadas
específicas, caracterizadas por traços comuns, ajudando a ter uma visão mais clara do que pode chegar
a realizar um pesquisador que tem por objetivo atingir uma interpretação da realidade do ângulo
qualitativo.
Também foi feita uma pesquisa bibliográfica, que pode ser definida por Gil (2008, p.50) como
uma pesquisa “desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e
artigos científicos”. Portanto, a pesquisa está fundamentada em textos, revistas, sites, livros, trabalhos
de conclusão de curso, artigos eletrônicos, etc.
A sobrevivência do povo negro que desembarcou no Brasil nos tempos passados, na vexatória
situação de escravo, com toda certeza é uma das maiores afrontas à dignidade da pessoa humana da
história da humanidade. Até os dias atuais a situação de escravo reflete de maneira marcante, pois
aqueles que vieram dos escravos, que retratam, basicamente, a metade da população brasileira, ainda
não alcançaram garantias que os igualem aos outros povos brasileiros, no caso o branco.
A liberdade do negro com a abolição da escravidão no Brasil no ano de 1888 não teve um
resultado positivo na sua inclusão como um todo na sociedade, o negro livre estava presente na
sociedade, porém, sem oportunidades de trabalho, sendo essa situação piorada pela imigração de
europeus de média e baixa classe social, que chegava para preencher a carência de mão-de-obra que
surgiu após a abolição e que ajudaria a modernizar o país (CIPRIANO; MACHADO, MARANHÃO,
2016).
No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, um dispositivo legal
de apenas dois parágrafos que, formalmente, acabou com a escravidão no Brasil. A abolição da
escravidão foi o desfecho de um processo longo, que por razões políticas, econômicas e sociais, levou
ao desmantelamento da escravidão no Brasil.
A assinatura da lei Áurea ocorrida no dia 13 de maio de 1888, que tinha por objetivo a abolição
de todos os escravos que residiam no país, teve uma efetivação incompleta e para que realmente fosse
cumprida, passaram-se anos para que alguns desses escravos pudessem ser libertos dessa relação de
trabalho de escravidão. Ao longo do tempo de escravidão no Brasil, os escravos negros utilizaram
de várias maneiras de resistência, como fugas das fazendas e formação de quilombos (COSTA;
AZEVEDO, 2016).
Após anos de escravidão, em 1888, homens e mulheres negras, com a abolição da escravidão
pela princesa Isabel por intermédio da Lei Áurea, ganham a liberdade, apenas, não havendo nenhuma
previsão ou acordo para a inserção desses homens na sociedade, o trabalhador nacional descendente
de africanos fica marginalizado e estigmatizado, existiu a libertação, mas, não previu a inclusão do
negro na sociedade (REIS, 2017).
Discute-se se a Lei Áurea, que garantia a liberdade da população negra do país concedeu
A lei Áurea foi instituída com o propósito de libertar os negros da escravidão e dar a eles uma
vida digna, porém a referida lei apenas libertou esses escravos no papel, pois em relação à situação
em que viviam, eles permaneceram da mesma maneira, sem nenhum incentivo para terem uma vida
melhor.
Embora os escravos tenham sido colocados em liberdade, a maneira como viviam e moravam
não tiveram mudanças, chegando-se a conclusão, por mais uma vez, que a liberdade conseguida pela
abolição no país, não havia acabado. Como tem sido relatado, existe sempre a relação das pessoas
de cor negra com os cortiços instituídos desde aquela época, sendo que as pessoas caracterizadas
por essa cor acabaram sendo colocadas de fora do âmbito da história do Brasil por estarem, por um
longo tempo, na condição de escravos, sendo este considerado um modelo de trabalho inferior, deste
modo tendo a falsa convicção, pela maioria dos brasileiros, sobre a não capacidade desse povo para
trabalhar, além disso, depois da abolição, os negros ainda não tinham acesso à qualificação requerida
pela moderna industrialização, o que prejudicou o seu trabalho (COSTA; AZEVEDO, 2016).
Então, mesmo depois da abolição da escravatura, a vida dos negros brasileiros permaneceu
bastante difícil, o Estado brasileiro não teve a preocupação de oferecer as mínimas condições para que
os ex–escravos tivessem a oportunidade de serem incorporados no mercado de trabalho convencional
e de serem assalariados. Várias pessoas e grupos de pessoas continuavam tendo preconceito, pois estes
tinham a preferência pela mão-de-obra europeia, que aumentou no Brasil, logo depois da abolição.
Sendo assim, a maior parte dos negros teve muitas dificuldades para conseguir emprego e ter uma
vida com o mínimo de condições necessárias de moradia e, principalmente, de educação.
A história do negro na sociedade brasileira e sua escravidão no Brasil tiveram início logo
após o descobrimento, pois houve a necessidade de colonização da terra que havia sido descoberta.
Essa escravidão teve suas características, sendo considerada uma ação cruel e desumana desde que
foi estabelecida. É o martírio de um povo com suas crenças, língua, cultura que é trazido para o país
como mercadoria, sendo considerado um bem que poderia ser usado pelo seu senhor da maneira
desejada (REIS, 2017).
No século XX e XXI foi apontada nas pesquisas e nas diversas reflexões a presença
diferenciada de dois Brasis que se divergem, sendo que de um lado, havia o Brasil antigo, com
pouco desenvolvimento, com possibilidades mínimas de progresso, e de outro lado, o Brasil novo,
desenvolvido, rico ou mais rico, representado por planejamentos de progresso. O primeiro citado
Na segunda metade do século XIX até aproximadamente no século XX, a sociedade brasileira
foi fortemente influenciada por teorias racistas que na sua grande maioria vieram da Europa. As
teorias que existiam se orientavam pelas análises a respeito do início da espécie humana, sendo
elas pautadas nas diferenças de etnia que seriam resultado da superioridade ou da inferioridade de
vários grupos humanos sobre outros. Assim, os estudiosos desenvolveram meios que justificariam a
inferioridade da população que não fosse de origem branca (PINTO; FERREIRA, 2014).
Em relação à discriminação e como ela se forma, como ocorre esta na sociedade, Bourdieu
enfatiza que,
A sociedade como um todo trata o negro com diferença desde os primórdios dos tempos,
buscando a igualdade de todos, surge no ordenamento jurídico brasileiro algumas normas que
defendem que negros dever ser tratados igualmente. Em busca dessa igualdade, foi instituída leis
para a legalização das cotas raciais.
A luta contra o racismo teve seu início juntamente com a luta do negro trabalhador não
favorecido com a exploração capitalista, recentes contornos nascem na relação entre raça e classe
social. A população negra começa a acusar que a exploração socioeconômica alcança de modo diverso
a raça negra da branca e que superar o racismo e a discriminação racial não será alcançado somente
com a modificação das classes, é imprescindível reunir esforços na luta contra a desigualdade social
e, principalmente, racial (MUNANGA; GOMES, 2016).
Predomina no Brasil, uma nova maneira de se expressar o racismo, sendo este descrito como
racismo cordial, que tem por conceito a discriminação em relação às pessoas não brancas, sendo
caracterizada por uma gentileza superficial que acoberta posturas que discriminam, sendo expressas
por meio de piadas, provérbios populares, várias brincadeiras, e diversas outras formas, sempre com
intenção de cunho racial (PINTO; FERREIRA, 2014).
É imprescindível evidenciar que o racismo realmente está presente e precisa ser encarado
e, consequentemente, extinto, sendo também de essencial importância traçar meios desenvolvidos,
ações e conhecimentos a respeito do impacto do racismo na construção da identidade das pessoas
negras no Brasil. Tal luta é primordial para a construção de uma sociedade igualitária e que venha
constituída de princípios norteadores, como o respeito à dignidade humana e o exercício pleno da
cidadania (PINTO; FERREIRA, 2014).
As ações afirmativas são definidas como políticas públicas realizadas pelo governo ou pelo
setor privado com o propósito de reparar as desigualdades raciais que se fazem presentes na sociedade
e que vem sendo permitidas ao longo de muitos anos.
Conceituadas como medidas que promovem equidade, as ações afirmativas têm por objetivo
dispor bens para grupos exclusivos, ou seja, separados e prejudicados pela segregação socioeconômica
e cultural em tempos passados ou mesmo no tempo presente. Reunidos nessa denominação estão
presentes métodos diferentes que tendem a diminuir desigualdades e que, não obstante, acatam a
reclamações coletivas, tais como a distribuição de terras, de casas para morar, normas de proteção a
costumes da vida que estejam ameaçados e, por fim, políticas de identidade (DAFLON; FERES JR;
CAMPOS, 2013).
A palavra ação afirmativa relata sobre um conjunto de políticas públicas para auxiliar grupos
menores que, em certas sociedades, foram discriminados no passado ou até os dias atuais. Tal ação
pretende retirar as barreiras que inviabilizem a entrada de alguns grupos aos diversos setores de
trabalho, as várias universidades e as posições de líder. Praticamente as ações afirmativas estimulam
as empresas e organizações a atuar positivamente com o intuito de proporcionar às pessoas de diversos
segmentos sociais que foram e são discriminados, a conquistar oportunidade e, consequentemente,
ascenderem à cargos de comando e inclusão de lugares que no passado não tinham acesso (OLIVEN,
2007).
“As políticas de ação afirmativa não se restringem apenas ao combate à discriminação racial,
mas também ao combate de outras formas de discriminação, como a discriminação contra mulheres,
contra pessoas portadoras de necessidades especiais, contra índios” (BRANDÃO, 2005, p. 26).
Sobre as ações afirmativas, Daflon, Feres Jr e Campos (2013, p. 307) discorrem que “no
Brasil tais políticas foram adotadas somente a partir do processo de redemocratização do país,
quando diferentes grupos e organizações sociais, antes silenciados pelo regime autoritário, passaram
a demandar direitos”.
Elas podem ser entendidas como um conjunto de políticas, ações e orientações públicas ou
privadas, de caráter compulsório (obrigatório), facultativo (não obrigatório) ou voluntário
que têm como objetivo corrigir as desigualdades historicamente impostas a determinados
grupos sociais e/ou étnico/raciais com um histórico comprovado de discriminação e exclusão.
Elas possuem um caráter emergencial e transitório. Sua continuidade dependerá sempre de
avaliação constante e da comprovada mudança do quadro de discriminação que as originou
(2016, p. 186).
A legalização da política de cotas raciais no Brasil precisa ser enfatizada e também necessita
de empenho para que seja cumprida, sendo importante que sua efetivação seja eficiente para sua real
atuação.
No Brasil atual existem algumas leis de combate à discriminação racial, sendo importante que
a população brasileira saiba que existe uma série de leis para punir a discriminação por motivos de
raça, sexo, religião, origem nacional, deficiência e outros em nosso país. Essa legislação vem sendo
aperfeiçoada ao longo das duas últimas décadas (REIS, 2017).
Ensina Tomaz (2017, p. 34) que a Lei 12.711/2012 sobre a legalização da política de cotas raciais
no Brasil “determina que metade das vagas de ingresso nos cursos de graduação das universidades
federais deveria ser destinada aos estudantes das escolas públicas, obedecendo subcritérios de renda
e racial”.
Para Cipriano, Machado e Maranhão (2016, p. 15) “o sistema de cotas passa a se tornar
constitucional, com a aprovação da Lei n. 12.711, em 29 de agosto de 2012. Para o setor da educação,
a medida com maior ênfase ocorre com a aprovação da lei 12.711 popularmente conhecida como Lei
de Cotas”.
A referida lei é uma norma institucional que busca relacionar e adequar de certa maneira
forças sociais contrárias que permaneciam em discussão. Existiram diversas pessoas que atuaram
nesse processo de criação, enfatizando quais áreas ou quais grupos tiveram participação (SILVA,
2017).
Por conseguinte, a referida lei, ao estabelecer cotas para essas pessoas, recupera uma
dívida histórica do Estado brasileiro para com elas e sua efetiva ação com certeza contribui para o
estabelecimento da educação para todos.
Claro, e é muito triste também as pessoas acreditarem que isso é uma coisa só da nossa
cabeça, aí eles falam assim “ah isso é mimimi, que o racismo não existe, mas existe sim”, se
você abrir os olhos e olhar ao seu redor, está aí, as pessoas que não querem ver. (A1).
Eu acredito, o Brasil tem um problema que envolve racismo que é histórico, é uma injustiça
promovida tanto como Estado, que em vez de garantir uma inserção a esses ex escravizados,
por exemplo, na pós abolição, utilizou estratégias, como por exemplo, o direito penal e outras
formas para reprimir as populações, como também a sociedade civil que viraram as costas
para essa população, que saiu compulsoriamente da África, que não tinha casa, não tinha
meios de se desenvolver e eles ficaram totalmente a parte das relações sociais e econômicas
dentro do país, isso de uma maneira histórica, então gerou conseqüências, então, eu digo sim,
que raça é determinante de injustiça no Brasil. (A2).
Sim. (A3).
Sim, acredito sim, acredito que é uma injustiça muito grande porque o negro sofre muita
discriminação no Brasil. (A4).
Sim, devido à história de vida das pessoas e a carga que elas carregam até hoje. (A5).
Acho que um ano antes de entrar pra faculdade, eu comecei a pesquisar sobre isso, porque
tinha uma colega minha que entrou na faculdade, mas foi pelo Prouni, que é um negócio que
você tem que pagar, aí eu falei assim “não, eu não tenho condição”, aí eu fui pesquisar formas
que eu pudesse ingressar na faculdade, mas não ter nenhum ônus. (A1).
Graças a Deus eu posso dizer que eu venho de uma família muito politizada, então, o debate
sobre raça, classe, gênero, sempre foi um debate presente na minha família, então, desde cedo
eu acompanhei o noticiário, então, eu acompanhei toda essa questão das cotas, toda a questão
da polêmica que gira em torno dela, questão do racismo inverso, tudo mais. (A2).
Então, eu entrei na faculdade com 25 anos, então há muito tempo assim que começou a
existir a lei das cotas, já tinha informação a respeito disso. (A4).
Sobre a pergunta de como foi o incentivo familiar desse estudante para o seu ingresso no ensino
superior, 3 (três) estudantes responderam que foram bastante incentivados e 2 (dois) responderam que
não tiveram nenhum incentivo, pois a família não sabe nem opinar sobre esse assunto.
Bastante, tanto meu pai, tanto minha mãe, todo mundo me incentivou, desde muito antes,
meu pai falou assim “oh, não importa, o que eu tiver que fazer para você poder entrar no
ensino superior, vou fazer”, e é assim até hoje, ele sempre me incentivou, sempre apoiou o
que a gente quis fazer. (A1).
Ele foi forte, no caso eu sou da primeira geração da minha família que consegue ingressar
numa escola pública, mas os meus pais, por exemplo, grande parte de meus tios por parte de
pai, por parte da minha mãe não, eles são do nordeste, aí também já entra um recorte regional,
mas a parte do meu pai, que é do sudeste, eles já tiveram acesso ao ensino superior particular,
mas ao ensino superior público a minha geração é a primeira, dessa geração mais recente de
primos, eu sou o terceiro. (A2).
Nenhum, o incentivo veio por parte de amigos mesmo, minha família não concordou muito
com essa questão do estudo. (A4).
Na verdade nenhum, porque na minha família não tem essa experiência com o ensino superior
e ninguém da família e eles não sabem me ajudar nesta questão. (A5).
No que concerne à quantidade de pessoas da família com formação superior, 3 (três) estudantes
responderam que nenhuma pessoa possui formação superior e 2 (dois) estudantes responderam que
apenas o pai e/ou a mãe possuíam essa formação.
Foi possível perceber que na maior parte das famílias dos entrevistados não há familiares que
tenham formação superior, dispondo assim a realidade do não acesso de algumas minorias a esse
cenário estudantil.
Segundo Bourdieu,
Quanto maior for o reconhecimento das competências avaliadas pelo sistema escolar, e
quanto mais “escolares” forem as técnicas utilizadas para avaliá-las, tanto mais forte será a
relação entre o desempenho e o diploma que, ao servir de indicador mais ou menos adequado
ao número de anos de inculcação escolar, garante o capital cultural, quase completamente,
conforme ele é herdado da família ou adquirido na escola; por conseguinte, trata-se de um
indicador desigualmente adequado deste capital. A correlação mais forte entre o desempenho
e o capital escolar como capital cultural reconhecido e garantido pela instituição escolar
(responsável, de um modo desigual, por sua aquisição) observa-se quando, ao formular a
pergunta sobre o nome dos compositores de uma série de obras musicais, a questão assume
a forma de um exercício bastante escolar sobre os saberes muito semelhantes aos que são
ensinados pela instituição escolar e reconhecidos, fortemente, no mercado escolar (1930, p.
19).
No que tange ao fato de terem, no ensino fundamental e médio, frequentado escolas da rede
pública ou particular, somente 1 (um) aluno estudou em escola particular, os outros 4 (quatro) foi em
escola pública.
Sim, já, particularmente na infância. A UEMG tem o maior número de cotistas, não há
racismo aberto. (A2).
Sim, quando eu estava no ensino básico, na formação básica, mas na UEMG não, nunca. E
foi só uma vez também. (A5).
Há a necessidade de destaque para a resposta do aluno A2, que relatou que o racismo era
praticado na infância abertamente, mas na UEMG esse mesmo racismo não é aberto, sendo possível
afirmar que o racismo ainda pode existir no meio acadêmico.
No que se refere ao fato de acreditarem ou não que as cotas raciais podem colaborar para
promover a equiparação de brancos e negros no ingresso ao ensino superior, todas as respostas foram
afirmativas, enfatizando que as cotas são importantes para que essa equiparação aconteça.
Sim, eu acho que a gente vem lutando e buscando isso já faz alguns anos que a gente luta para
conseguir essa igualdade. (A1).
Sim, as cotas elas são fundamentais, primeiro porque acho que a gente tem que deixar
claro que as cotas elas existem dentro do ambiente público, então partindo do pressuposto
histórico, a gente tem um Estado que promoveu uma opressão, a gente tem um Estado que
tem que consertar essa questão, então nesse sentido, por si só, as cotas já se justificam. (A2).
Sim. (A3).
Sim, eu creio que sim porque o negro passou um período muito grande de escravidão no
Brasil, e faz menos de 200 anos que acabou a escravidão, então não teve tempo da sociedade
negra se reerguer, quando eles foram libertos não teve apoio nenhum do governo, não teve
emprego, não teve condição, então a população negra sempre ficou na marginalidade, nunca
recebeu nenhum tipo de apoio, sempre viveu na marginalidade, então eu acho que a cota
veio para dar oportunidade para a população negra ter um destaque, ter uma chance, ter uma
oportunidade, porque ele acaba sendo discriminado. (A4).
Sim, embora mesmo com as cotas até hoje a população negra na faculdade seja muito baixa.
(A5).
Este capital é o produto garantido dos efeitos acumulados da transmissão cultural assegurada
pela família e da transmissão cultural assegurada pela escola (cuja eficácia depende da
importância do capital cultural diretamente herdado da família). Pelas ações de inculcação
Portanto, para que exista de verdade uma igualdade entre as pessoas de todas as raças, é
importante o combate ao preconceito e adoção de ações que resultem no acesso de todos às mesmas
oportunidades, sem que esses sofram com a discriminação racial ou de qualquer outra.
Acho que é a condição financeira. Os alunos não têm nenhum tipo de apoio. (A1).
Como o aluno irá se sustentar dentro da faculdade deveria haver auxílios, tipo moradia,
alimentação, transporte gratuito, etc. (A2).
Eu acho que é a questão da política de permanência que não existe, então a gente não tem
incentivo nenhum para permanecer e se manter na universidade. (A3).
Olha, o meu curso, sou do curso de serviço social, não há muitas dificuldades. No caso da
UEMG ela está em fase que não tem como cobrar. (A4).
A maior parte desses jovens cotistas é proveniente de famílias com baixo nível sócio
econômico e educacional. Eles fazem parte da primeira geração familiar que chegou ao ensino
superior, então a entrada na universidade cria espaços para o desenvolvimento social desses alunos. A
atmosfera acadêmica propicia a esses estudantes um crescimento das suas expectativas de vida tanto
profissionais quanto culturais e de desenvolvimento pessoal. Dessa maneira, as cotas raciais ajudam
como uma ferramenta de acesso a bens simbólicos e materiais importantes no percurso social de
sucesso (LEMOS, 2017).
Na pergunta sobre quais são as razões que podem levar o estudante cotista da UEMG – Passos
a abandonar o ensino superior, um estudante respondeu que não ter apoio do Estado para ele poder
continuar os estudos, outro respondeu sobre o fato do estudante não conseguir suportar os problemas
psíquicos e culturais, outro por não se adequar ao meio, pela falta de incentivo e pela falta de política
de permanência, outro por causa da discriminação sofrida, e o último por ter que conciliar trabalho e
estudo.
Ele não ter um apoio do Estado para ele poder continuar os estudos, porque muita gente tem
que trabalhar para poder vir para a faculdade, porque não tem condição de ter um alimento,
O fato do estudante não conseguir suportar os problemas psíquicos e culturais. São importantes
a questão da permanência e a questão da saúde mental. (A2).
Eu acho que muitas vezes ser cotista, ele pode vir de universidade pública aí se adequar ao
meio, esse baque da universidade, também pela falta de incentivo, pela falta de política de
permanência, tem muitos fatores que acabam juntando e faz ele desistir. (A3).
Discriminação, quando a pessoa sofre discriminação é muito difícil, se ela não tem recursos,
ela tem o apoio moral das pessoas e consegue ficar por mais tempo, agora se for por
discriminação mexe com o psicológico, aí ele não consegue. (A4).
Acho que é o fato de conciliação entre trabalho e estudo, porque as outras coisas a gente sabe
que vai ter que vencer mesmo. Adequar trabalho e estudo ao mesmo tempo não é fácil. (A5).
Sobre a pergunta que tratou de qual mudança o estudante acredita ser necessária na UEMG –
Passos, para haver uma adequação a realidade vivenciada por seus discentes, foi respondido por 1 (um)
estudante que é importante a especialização dos professores e mais aulas práticas, por outro estudante
a questão da permanência e uma estrutura que atenda os alunos, por outro o auxílio, principalmente
de moradia e alimentação, pelo quarto e quinto estudante, mais apoio do Estado para a UEMG.
Primeira coisa, acho que deveria ser a especialização dos professores, porque muitos
professores, assim, eles tem um currículo bom, mas eles não sabem expor aquilo que eles
sabem, eles tem o conhecimento, mas eles sabem só pra eles, não sabem transmitir esse
conhecimento para a alunos. E também acho que na administração seria muito importante
também a gente vivenciar aulas práticas, porque muitas vezes a gente aprende só teoria, e
aí quando você vai pra prática, você não tem nenhuma experiência, você não sabe como vai
reagir. (A1).
Primeiramente, mais apoio do governo, porque o governo não está fazendo o repasse correto
para a faculdade, eu acho que a faculdade recebendo o repasse correto, dá para gente pensar
em planos, em questões, mas por enquanto, na situação que a faculdade está tão complicada,
Aqui o Estado que tem que ajudar, não é só aqui, a UEMG, o Estado está deixando muito a
desejar. (A5).
Assim, para que se tenha um resultado significativo sobre as perspectivas para que se
diminuam as disparidades raciais e também o preconceito racial é importante que as desigualdades
sociais e raciais sejam realmente combatidas e que os alunos tenham a consciência desse direito
que é inerente a ele por seu sofrimento histórico não ter ajudado sua classe no que se refere
principalmente à educação, há a possibilidade de uma efetiva integração social dos negros na
sociedade brasileira, que pode ser conseguida com a luta dessa classe por um espaço que também
é deles e que deve ser respeitado por todos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para isso, há as políticas afirmativas que se estabelecem, nesse sentido, como mecanismos
eficientes para ajudar no combate à desigualdade desfavorecendo a marginalização cultural, social,
econômica e política destes grupos que são discriminados.
No sentido de buscar o melhor acesso do negro nas universidades, foi instituída a lei
12.711/2012, também chamada de Lei de Cotas, que garante uma parcela relativamente substancial
de vagas para essas pessoas, que ao longo dos tempos sempre foram discriminadas.
Para a pesquisa em questão, foram realizadas 5 (cinco) entrevistas com estudantes negros
Portanto, as cotas raciais, à medida que auxiliam na entrada desses estudantes negros nas
universidades é de suma importância, pois, além de promover essa oportunidade de estudo, também
garante que esse indivíduo permaneça estudando e que tenha maiores oportunidades de vida.
6. REFERÊNCIAS
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A preocupação ambiental não é um tema recente, contudo foram somente nas últimas três
décadas do século passado que esta questão passou a ser discutida mais profundamente (BARBIERI,
2004; SEIFFERT, 2005). Esse tema tornou-se uma discussão desafiadora, envolvendo o governo,
as empresas, a sociedade civil como um todo e o setor acadêmico (FISCHER; SCHOT, 1993) que
incorporou a dimensão de ecologia em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, incrementando
uma educação ambiental multidisciplinar (ADBUL-WAHAB et al., 2003) tendo como consequência
a adesão de algumas empresas que passaram a ponderar a dimensão ambiental em suas atividades
(SEIFFERT, 2005; ROSEN, 2001). Contudo, a introdução da variável ambiental-ecológica no
âmbito dos negócios não ocorre de forma uniforme, mas sim variando entre as unidades produtivas
(DONAIRE, 1994), seja devido a consideração dessa variável estar agregada à natureza do negócio da
empresa ou a dependência do grau de conscientização da alta administração sobre matéria ambiental
(CORAZZA, 2003).
Desta forma, a conscientização ambiental por parte das empresas pode ser avaliada à
perspectiva de diversos estágios evolutivos, que se constituem a partir da proposição de importantes
autores e que formam uma grande maioria de níveis de maturidade para a análise da gestão ambiental
em uma organização. Portanto, compreender a gestão ambiental em uma empresa é uma maneira
estruturada para que empresários e pesquisadores repercutam a situação organizacional atual e
planejem atividades futuras em relação ao planejamento e gestão ambiental empresarial.
No período agrícola surgiu a agricultura e assim a vida sedentária, pois os seres humanos
notaram que os grãos poderiam ser semeados, prevalecendo à divisão de trabalho, por idade e sexo,
acentuando-se a organização social do tipo patriarcal, no qual a caça, a pesca e a colheita passaram
a ter uma importância secundaria na economia agrícola de subsistência (MAZOYER; ROUDART,
1998).
Com o crescimento demográfico os homens foram obrigados a coordenar melhor seus esforços
no grupo social e, em consequência, a melhorar a aplicação da administração, sendo o controle do
trabalho coletivo e o pagamento de tributos, as bases em que se apoiavam estas civilizações e o que
exigia uma maior complexibilidade na gestão administrativa (MARTÍNEZ, 2009).
A preocupação com o meio ambiente foi abordada primeiramente pelo “Clube de Roma”,
um órgão colegiado liderado por empresários que, por meio da publicação intitulada “Limites do
Crescimento” de 1972, abrangeu em termos catastróficos o futuro do planeta, caso a sociedade
mantivesse os padrões de produção e consumo vigentes à época.
A concepção da preocupação com o meio ambiente faz com que o ser humano sinta-se
ameaçado, sujeitando-o a perceber que ele é parte da natureza, estando fortemente ligado a ela, e
que, portanto, destruir o meio ambiente é destruir a si próprio e a seus descendentes. Esse paradigma
exige que a proteção ao meio ambiente seja garantida pela ação conjunta entre agentes políticos,
econômicos e sociais, cabendo também às empresas grande parcela de responsabilidade para que se
atinja o desenvolvimento sustentável (MOTTA; ROSSI, 2003).
Slack et al. (2006) relataram que a relevância do impacto ambiental está diretamente
relacionada à quantidade da população consumidora e ao seu processo produtivo, sendo o controle
demográfico um assunto relevante e muitas vezes intratável, cabendo às empresas garantirem que
seus produtos e processos de fabricação sejam menos poluentes (JIMENEZ; LORENTE, 2001).
Contudo, a inserção da variável ambiental, no âmbito dos negócios depende da natureza do negócio
da empresa e/ou do grau de conscientização dos administradores (DONAIRE, 1994; CORAZZA,
2003). Por isso, a maior parte dos pesquisadores em gestão ambiental averiguam a conscientização
ambiental empresarial através de diversos estágios evolutivos, que transparecem o discernimento de
determinada organização para com o tratamento das questões ambientais.
A expansão das pesquisas na área de gestão ambiental fez com que as abordagens que
investigam a gestão ambiental nas empresas tendessem a se ampliar, gerando uma profusão de estágios
evolutivos que são muitas vezes equivalentes e que podem receber uma denominação comum, capaz
de estruturar as principais contribuições de cada uma dessas afirmações. Para que seja tratada a
execução da presente proposta de denominação comum dos diversos estágios existentes, o próximo
tópico abrange rapidamente proposições da gestão ambiental nas empresas, discutidas em alguns
trabalhos existentes.
As pesquisas nessa área demonstram usualmente taxonomias próprias, que esboçam estruturar
as diversas formas da relação empresa/meio ambiente. Estas propostas assumem uma evolução das
formas de integração ambiental na organização, onde são admitidos modelos de classificação com
três, quatro ou cinco classes, para caracterizar a preocupação da empresa com aspectos ambientais
(ROHRICH; CUNHA, 2004).
A expansão das taxonomias da gestão ambiental foi embasada nos trabalhos de Caroll (1979) e
de Wartick e Cochrane (1985), os quais apresentaram análises da responsabilidade social da empresa na
concepção de escalas evolutivas. Como decurso, essa visão embasada em estágios foi demasiada para
análise da gestão ambiental empresarial, apurando-se que há uma tendência de expansão do número
de nomenclaturas para a gestão ambiental, que são complementadas pela expansão quantitativa dos
trabalhos científicos nessa área (FISCHER; SCHOT, 1993; ROSEN, 2001).
Ultimamente tem crescido o número de estudiosos que relatam que, para alcançar vantagens
competitivas, torna-se necessário que as empresas maximizem seu retorno do mesmo modo que
desenvolvem progressos relacionados à implementação de práticas ambientais nos negócios (LEE,
2009). Essa conexão se baseia em pesquisas que evidenciaram que uma estratégia ambiental
proativa lidera o desenvolvimento de importantes capacidades organizacionais que podem elevar a
competitividade das indústrias (ARAGON-CORREA; SHARMA, 2003).
A gestão ambiental, segundo D’Avignon (1996), é o componente da função gerencial que trata,
determina e implementa a política de meio ambiente estabelecida para uma determinada empresa. Pela
norma NBR Série IS0 14001, a política ambiental é a declaração da organização, com a exposição de
suas intenções e princípios relacionados ao seu desempenho ambiental global, dispondo uma estrutura
A escala da empresa permite que sua gestão exteriorize a gestão ambiental, requerendo
investimentos em tecnologia, recursos humanos ou certificações, que são similares para todas
as empresas, independentemente do seu tamanho, sendo que os esforços ambientais das grandes
empresas têm impacto positivo sobre grande número de clientes (Abreu et al., 2008). De contra
partida, Lee (2009) certificou que pequenas e médias empresas detêm algumas vantagens em relação
às grandes, pois essas empresas possuem linhas de comunicação mais informais, estruturas mais
flexíveis, pessoas versáteis e acesso aos gestores de topo mais facilitado.
Diferentes classificações são descritas por autores que diferenciam em termos de número
de níveis para caracterização da preocupação das empresas com a questão ambiental (ROHRICH;
CUNHA, 2004; JABBOUR; SANTOS, 2006), sendo destacados três níveis: (1) controle da poluição,
(2) prevenção da poluição, (3) ações corretivas, preventivas e antecipatórias diante da possibilidade
de problemas ambientais (BARBIERI, 2004). Hunt e Auster (1990) demonstram uma classificação
Esta revisão mostra que há muitos pesquisadores para os quais as estratégias voltadas à
gestão ambiental podem trazer vantagens competitivas para as empresas. Callenbach et al., (1993),
por exemplo, aderiram o conceito de sustentabilidade e a questão do retorno financeiro à discussão
dizendo que através da sustentabilidade ambiental, as organizações podem garantir sua rentabilidade
de longo prazo e utilizá-la como critério para posicionamento estratégico.
A decorrência desses estudos e suas conclusões provocam mudanças nos sistema de produção
e operação das empresas e segundo Gupta (1994), essas práticas são classificadas em dois grupos:
práticas relacionadas aos produtos (esforços de design que buscam a eliminação de poluentes e
materiais perigosos) e práticas relacionadas aos processos (desenvolvimento e na implementação de
uma maior consciência na produção, nos métodos e nos processos operacionais).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O importante crescimento das atividades responsáveis pela variável meio ambiente dentro
de uma organização se dá a partir do momento em que a empresa tem a responsabilidade de que
uma certa atividade pode se tornar um ideal local de oportunidades de abrandamento de custos.
Este fato pode ser concedido através do aproveitamento e da venda dos resíduos, assim como do
aumento das possibilidades de reciclagem e/ou através da exploração de novos componentes e novas
matérias-primas que resultem em produtos finais mais confiáveis e tecnologicamente mais limpos.
Essa consequência torna-se fácil de ser adotada se percebermos que qualquer melhoria adquirida, na
questão de efluentes de uma empresa, sempre representará um indiscutível ganho de energia ou de
matéria compreendida no processo de produção.
Nessa perspectiva para que haja a real consolidação da área de meio ambiente dentro de uma
organização, a empresa deve potencializar ao máximo suas atividades, esforçando-se para a integração
profissional consciente, com interesse em que os objetivos organizacionais sejam alcançados.
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NELZIR MARTINS COSTA the practice of reading and training readers. This
1
UFT, Campus de Araguaína e FAPAC ITPAC article presents a social-historical approach to the
Porto Nacional programs and reading plans already developed in
Brazil, with the purpose of providing an unders-
MÁRCIO ARAUJO DE MELO tanding of the paths traveled by the country to
UFT, Campus de Araguaína the present day and their results in the process of
democratization of access to books and reading.
The course outlined shows that, despite the high
investments, the many actions and programs,
RESUMO: A leitura proficiente é uma habili- much still needs to be done, including deciding
dade imprescindível para o exercício da cidada- which type of reader is truly intended to be for-
nia, exigidas nas formas de letramentos sociais. med in the country.
Assim, um país que objetive crescer e tornar sua
população desenvolvida, necessita investir em KEYWORDS: Public Policies. Reading. Profi-
políticas públicas de incentivo à prática leitora ciency. Democratization of the book.
e formação de leitores. O presente artigo apre-
senta uma abordagem histórico-social sobre os
programas e planos de leitura já desenvolvidos
no Brasil, com o propósito de propiciar a com- 1 INTRODUÇÃO
preensão dos percursos trilhados pelo país até os
dias atuais e os resultados destes no processo de Compreendida como uma prática
democratização de acesso ao livro e incentivo à
intrínseca à formação humana e necessária ao
leitura. O percurso traçado evidencia que, apesar
dos altos investimentos, das inúmeras ações e desenvolvimento social, o ato de ler se constitui
programas, muito ainda precisa ser feito, inclusi- como uma necessidade básica. A leitura,
ve decidir qual tipo de leitor, verdadeiramente, se imprescindível no mundo globalizado, atua não
pretende formar no país.
apenas como um instrumento de inclusão social,
mas também de formação e realização pessoal,
PALAVRAS – CHAVE: Políticas Públicas. Lei-
visto que entre as várias funcionalidades, também
tura. Proficiência. Democratização do livro.
diverte, descontrai e provoca fruição.
O Brasil possui um estigma de país não leitor, sendo comum ouvir a afirmação de que os
brasileiros não gostam de ler, entretanto pesquisas recentes como “Retratos da Leitura no Brasil”2,
em sua quarta edição, realizada nos meses finais de 2015 demonstram o contrário, apresentando
um crescimento em relação ao interesse e gosto dos pesquisados pela leitura, superando os dados
apresentados em sua edição anterior (2011). A pesquisa contou com uma amostra de 5.012 entrevistas
com pessoas acima de 5 anos, não possuindo parâmetro para a idade máxima, de ambos os sexos,
alfabetizados ou não (PRÓ-LIVRO, 2016, p. 21).
É importante ressaltar que em Retratos da Leitura no Brasil para ser considerado leitor, o
entrevistado deverá ter lido pelo menos 1 (um) livro, inteiro ou em partes, nos últimos três meses.
Desse modo, outros suportes de leitura não são considerados, bem como situações que possam ter
ocorrido na vida de leitores e que, por alguma circunstância, possam tê-los impedido de ler nos
últimos meses. A visão de leitor com estes critérios fica bem mais limitada, todavia, mesmo assim, os
resultados demonstram o interesse das pessoas pela leitura.
Esses dados classificam a leitura por fruição à frente da leitura com fins de atualização cultural
ou ampliação de conhecimentos em geral. Entre os lugares em que costumam realizar a leitura dos
livros, em três edições da pesquisa, a casa foi citada em primeiro lugar, a sala de aula em segundo e
as bibliotecas em geral em terceira posição (PRÓ-LIVRO, 2008, p. 32).
Os resultados indicam que o percentual de estudantes que acertaram cada um dos itens de
leitura no Brasil foi de 41,4%. A média obtida pelo país foi de 41,3%, inferior à média dos demais
países da OCDE (Finlândia, Canadá, Coreia do Sul, Portugal, Espanha e Chile). Apenas 0,14% dos
estudantes brasileiros alcançaram o nível 6 (seis), considerado o mais alto na proficiência de leitura;
1,31% alcançaram o nível 5 (cinco) e 6,36%, o nível 4 (quatro). A maioria, 26,52% ficou no nível
subdividido entre 1a e 1b.4
3 O PISA tornou-se uma importante referência de avaliação educacional em larga escala no contexto mundial.
Desde a sua primeira edição, em 2000, o número de países e economias participantes têm aumentado a cada ciclo. Em
2015, 70 (setenta) países participaram do PISA, sendo 35 deles membros da OCDE e 35 países/ economias parceiras
(PISA, 2016, p. 19).
4 A avaliação PISA possui uma escala de letramento em leitura que objetiva captar a progressão de complexidade
e dificuldade dos participantes. Em 2015, houve uma modificação baseando-se na escala utilizada em 2009, dividindo-a
em sete níveis de proficiência. O nível mais alto é o 6 (antes de 2009, era o 5); o mais baixo, 1b (neste classifica-se aqueles
que nas edições anteriores se enquadravam como “estudantes abaixo do nível”).
O professor enfatiza em sua pesquisa que entre os fatores que contribuem para esse resultado
estão as dificuldades em leitura: “os alunos não sabem o que é pedido, ou têm dificuldade de entender
os enunciados” (Folha Uol, 2018).
Conforme os dados constatados pelo INAF, a proporção de pessoas com alfabetismo pleno no
Brasil, oscila em torno de 25% desde a sua primeira edição em 2001. O nível básico de alfabetismo
do brasileiro corresponde a 47%, enquanto 27% foram classificados como analfabetos funcionais
(INAF, 2016, p. 07), considerando os 4% de analfabetos mais os 23% na escala rudimentar. Logo,
enquadrando aqui pessoas que não possuem habilidades de leitura e escrita e aquelas que as possuem
minimamente, o suficiente para realizar atividades elementares e operações simples do cotidiano.
5 Alunos brasileiros não chegam ao fim de prova em avaliação mundial. Disponível em: http://www1.folha.uol.
com.br. 19/07/2018. Acesso em 20/07/2018.
6 No INAF 2015 foram entrevistadas 2002 pessoas entre 15 e 64 anos de idade residentes em zonas urbanas e
rurais de todas as regiões do país (INAF, 2016).
Desse modo, políticas públicas devem ser estrategicamente elaboradas para sanar as
necessidades básicas e promover desenvolvimento nos aspectos que mais merecem atenção. Mendes
et. al. (2010), conceituam que tais políticas são produtos de pressões políticas de grupos da sociedade
civil, cuja organização e influência política conseguem sensibilizar o governo em prol de suas causas.
Partilhando da mesma compreensão, Machado (2015) conceitua políticas públicas como uma
estratégia pensada, com planejamento, formulação, implementação e avaliação tanto por parte do
Estado como pela sociedade. Seu foco principal é a concretização dos direitos sociais e dos direitos
de cidadania já conquistados pela sociedade, portanto, as políticas públicas emergem na busca pela
concretização dos direitos sociais a fim de assegurá-los.
Pereira (2007) aborda sobre essa questão ao defender que, em um país como o Brasil, marcado
por fortes desigualdades, o desenvolvimento de competências de leitura e produção dos mais variados
gêneros textuais funciona como um dos mais seguros mecanismos para ascensão social. E que seu
inverso, poucas habilidades de leitura e escrita, se caracteriza como um dos mais eficientes sistemas de
exclusão do mundo, principalmente agora, na atualidade, onde as demandas de leitura se ampliaram,
ultrapassando o âmbito do texto impresso, se expandindo em muitos outros suportes.
Estudos indicam que somente após a década de 1930, o país demonstrou interesse em investir
em ações de incentivo à leitura. Lembrando que, segundo o IBGE, em 1920, 65% da população
brasileira com 15 anos ou mais era considerada analfabeta, cerca de 11.409.000 pessoas; em 1940,
o índice era de 56,1%. O país chegou à década de 1990 com 18.682.000 analfabetos (19,7% da sua
população), conforme o Censo de 1991 (BRASIL, s.d.). A última publicação Informativo PNAD –
Contínua: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua, em Educação 2016, divulgou
que ainda há 11,8 milhões de analfabetos no país, o equivalente a 7,2%. Para o IBGE é considerada
alfabetizada aquela pessoa capaz de ler e escrever um bilhete simples, o que passa pela compreensão
mínima da funcionalidade da língua nas interações sociais.
Diante dos quadros apresentados, o país, a partir de 1930, planejou e executou algumas
políticas de relevância tanto para a democratização do ensino, quanto da leitura, ainda que algumas
não tenham obtido resultados exitosos.
Uma das primeiras ações para formação de bibliotecas no Brasil, surgiu na década de 1930,
quando o país experienciava um momento de transformação política, social, cultural e econômica.
Havia um contexto de defesa da “Escola Nova”, movimento baseado nas ideias de John Dewey,
estudioso norte-americano, que propunha uma ruptura com o sistema educacional no qual o aluno,
visto como passivo, passasse a ser considerado como o sujeito ativo da sua aprendizagem.
Nesse período de mudanças e reivindicações, foi criado o INL - Instituto Nacional do Livro,
em 21 de dezembro de 1937, por iniciativa do Ministro da Educação e Saúde7, Gustavo Capanema,
governo de Getúlio Vargas. O Decreto Lei N. 93/1937, transformava, em seu Artigo 1º, o Instituto Cairú8
no Instituto Nacional do Livro, cujas atribuições competia em organizar e publicar a Enciclopédia
Brasileira e o Dicionário da Língua Nacional, providenciando as edições sucessivas necessárias;
incentivar e promover a edição de obras raras ou preciosas para a cultura nacional; promover medidas
necessárias para aumentar, melhorar e baratear a edição de livros no país e incentivar a organização e
auxiliar na manutenção de bibliotecas públicas em todo o território nacional (BRASIL, 1937).
A expansão do Instituto Cairu em INL foi uma medida para atender as demandas do Plano
Nacional de Educação que estava sendo implantado, traçando políticas públicas do período Vargas
– Capanema. Entre as prioridades do Instituto Cairu constavam publicações originais de livros,
revistas ou jornais, a criação de bibliotecas permanentes e itinerantes, cursos de biblioteconomia e de
remessas de publicações culturais de forma regular e gratuita às bibliotecas instaladas (TAVARES,
2016). Dessa forma, o INL encampou as ações do instituto e planejou expandi-las através de metas e
objetivos mais abrangentes.
Por se tratar de um período de regime ditatorial, governo Vargas, onde a censura estava
presente, o INL se encarregou, inclusive, de assegurar a homogeneização da cultura nacional, através
da afirmação de uma identidade própria, por meio da imposição de ideias e da não aceitação de
posicionamentos contrários aos do governo. Assim, surgiu o “Depósito Legal”, normativa que
obrigava as editoras a encaminhar uma cópia de toda e qualquer obra publicada ao instituto, que a
avaliaria aprovando ou não a sua circulação (CALDAS; TÁLAMO, 2016).
Caldas (2005), afirma que nesse período vários escritores tiveram suas obras confiscadas pelo
DEOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) e pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda).
Dentre eles, autores consagrados contemporaneamente: José Lins do Rêgo e Jorge Amado, cujas
obras foram não apenas confiscadas, mas incineradas publicamente por serem consideradas impuras.
Entre as obras confiscadas estavam Capitães de Areia; Mar Morto; Cacau; Jubiabá (Jorge
Amado) e Menino de Engenho (José Lins do Rêgo). Várias editoras e papelarias também sofreram
7 O Ministério da Educação e Saúde foi renomeado em 1953 como Ministério da Educação e Cultura (MEC).
8 Instituto criado em 1935 com o objetivo de proteger o patrimônio bibliográfico e organizar e publicar a Enciclo-
pédia Brasileira. Cabia ao Instituto Cairu z publicação do primeiro volume e dar continuidade às sucessivas publicações.
A Biblioteca Nacional foi instalada em 1937 sob a gerência do Instituto Cairu.
Assim, o INL não obteve resultados relevantes na formação de práticas leitoras, visto que as
bibliotecas eram consideradas mais como depósitos de livros do que como espaços de leitura. Também
não conseguiu produzir a enciclopédia Brasileira e o Dicionário da Língua Nacional (OLIVEIRA,
1994; OTICICA, 1997), entretanto não se pode desconsiderar a sua importância para o país. Há um
consenso entre os estudiosos da área de que essa instituição conseguiu desempenhar uma função
importante nas políticas para o livro, principalmente para as bibliotecas, todavia deixou a desejar em
relação a uma política de conscientização da importância do livro e da leitura na formação humana,
educacional e cultural da população (ROSA; ODDONE, 2006; PAIVA, 2008; OLIVEIRA; PRADOS,
2015.
Em 1987, o INL deixou de ser uma instituição independente, sendo unificada à Biblioteca
Nacional, passando a constituir a Fundação Nacional Pró-Leitura, por meio da Lei N. 7.624 (PAIVA,
2008).
A Lei N. 7.624/ 1987 criou juntamente com a Fundação Pró-Leitura, mais duas instituições:
a Fundação Nacional de Artes Cênicas (FUNDACEN) e a Fundação do Cinema Brasileiro (FCB), o
que demonstra uma abertura para a expansão da leitura e da arte na sociedade brasileira.
A Fundação Nacional Pró-Leitura durou apenas três anos, sendo extinta em 1990, durante o
governo Collor. As suas atribuições, acervo, receitas e dotações orçamentárias foram transferidas para
a Biblioteca Nacional (CALDAS; TÁLAMO, 2016; MEDEIROS; ALMEIDA; VAS, 2014).
Criado pelo Decreto N. 519 de 13 de maio de 1992, vinculado à Fundação Biblioteca Nacional,
no Ministério da Cultura, o programa possuía como objetivo contribuir com a ampliação do direito à
leitura promovendo o interesse nacional pelo hábito da leitura; estruturar uma rede de projetos capaz
de consolidar, em caráter permanente, práticas leitoras, e ainda, criar condições de acesso ao livro
(BRASIL, 1992). Não consta, entretanto, em suas estratégias de atuação, a distribuição de livros, ou
complementação de acervos para bibliotecas.
Um programa macro, espalhado pelo país, a atuação do PROLER se efetiva por meio de uma
rede de comitês sediados em prefeituras, secretarias de estados e municípios, fundações culturais ou
educacionais, universidades e outras entidades públicas e privadas. Há uma estruturação de comitês
regionais nas cinco regiões do país. Todos são vinculados ao programa mediante um termo de parceria.
As universidades têm atuado de forma decisiva na execução desse programa, contribuindo para o seu
fortalecimento e credibilidade junto aos professores e escolas participantes. Considerando como um
programa de longa duração, o PROLER completou 26 (vinte e seis) anos em 2016.
O PNBE possuía o objetivo de, por meio da aquisição e distribuição de livros, incentivar
o hábito da leitura e a formação de alunos e professores leitores, além de apoiar a atualização e o
desenvolvimento profissional docente.
Desta forma, o programa visava não apenas dotar de acervo as bibliotecas das escolas públicas,
mas atender em outras vertentes, inclusive, em um período, atuou doando livros para o acervo familiar
dos alunos (Literatura em Minha Casa). Inicialmente, as escolas eram contempladas conforme a faixa
de matrícula. A partir de 2000, todas as escolas públicas cadastradas no Censo Escolar passaram a ser
atendidas.
Segundo Oliveira (2009), o FNDE se tornou o maior comprador de livros no mundo, nenhum
outro país se iguala aos números gastos pelo FNDE na aquisição de livros para a educação básica.
Rosa e Oddone (2006), ressaltam que essas aquisições, devido ao vultoso montante de recursos
Inclusive, tornou comum a agremiação entre elas, formando grandes consórcios corporativos
a fim de concorrem e vencerem os editais lançados pelos programas nacionais de aquisição de livros.
Observando a trajetória do PNBE, verifica-se que, apesar das dificuldades encontradas em seu
percurso, a sua contribuição foi relevante para a democratização da leitura e acesso a obras literárias
no país. Entretanto, em 2015, o programa foi suspenso temporariamente.
A última remessa de obras pelo PNBE aconteceu em 2014, a sua interrupção está ligada ao
contexto sócio-político que o país atravessa, no qual ocorreu redução e cortes de várias políticas
públicas. O programa foi extinto pelo governo federal em julho de 2017. Segundo notícias veiculadas
nos meios de comunicação na época, o governo sinalizou que somente terá possibilidade de retornar
o envio de novos livros às escolas públicas somente a partir de 2019 (G1. Educação, 2017).
Como versão do governo, sob o título “Outro Lado”, a jornalista comenta sobre a nota emitida
pelo MEC, na qual informa que o PNBE deixou de ser executado em 2014, ainda no governo Dilma e
que em 2016 foram adquiridos pela gestão (governo Temer) obras literárias para as salas de aulas por
meio do Programa Nacional na Idade Certa (PNAIC). Conforme a nota, ocorreu uma distribuição com
um total aproximado de 19,9 milhões de obras. A nota explicava ainda que o PNBE foi incorporado
ao PNLD e que o lançamento do edital para aquisição de acervo e distribuição às escolas estava
previsto para o ano de 2018.
Os autores da nota justificam a solicitação com argumentos de que o edital em questão “além
de estabelecer conteúdos, cerceia a forma e as práticas de leitura, pois especifica temas por faixa
etária, determina tamanhos e formatos dos livros e inclui manuais didáticos de uso das obras na
escola” (Petição Pública, 2018, p.1).
Em 2005, vinte e um países, entre eles Espanha, Portugal e países da América Latina,
comemoraram o “Ano Ìbero-Americano da Leitura”. Participaram da organização e comemoração,
governos, instituições do setor privado e sociedade civil com o propósito de articularem ações de
No Brasil, a programação e as ações do Ano Ìbero-Americano da Leitura recebeu a
denominação de “Vivaleitura”, vigente até os dias atuais. O Vivaleitura possui em sua coordenação
membros da Unesco – Organização das nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, do Centro
Regional de Fomento ao Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc), das Organizações dos, Estados
Íbero-americanos (OEI), além de representantes dos Ministérios da Cultura e da Educação.
Das ações que marcaram o evento destacam-se a Lei da Desoneração do Livro, a qual
retirou a tributação do PIS/Cofins/Pasep para editores, livreiros e distribuidores sobre a produção,
comercialização e importação de livros. A taxa desses impostos varia de 3,65% a 9,25%, a sua
retirada faz parte da intenção de democratizar o acesso ao livro e à leitura no país (UNDIME, 2005).
Como contrapartida, os editores, distribuidores deveriam oferecer 1% sobre a venda dos livros para
a constituição de um fundo denominado “Pró-Leitura”, cuja finalidade seria desenvolver ações de
incentivo e fortalecimento da Leitura.
Outra ação de relevância foi a elaboração do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL),
instituído pela Portaria Interministerial N. 1442, de 10 de agosto de 2006, fruto de uma ação conjunta
do Ministério da Educação, com o Ministro Fernando Haddad e do Ministério da Cultura, com o
Ministro Gilberto Gil. A portaria convertia o Vivaleitura em uma política pública permanente,
atribuindo ao plano uma duração trienal.
Embora algumas pesquisas revelem que o número de leitores ampliou no Brasil, a qualidade
das habilidades leitoras do cidadão brasileiro ainda é muito questionada, ficando muito aquém do
esperado. Desse modo, o fomento a políticas públicas para formação de leitores é de cunho essencial
no país, necessidade mais latente diante do quadro em que se apresenta atualmente e em que a
deficiência de leitura poderá submergir a nação em um caos sem precedentes.
É evidente que a formação de leitores plenos exige uma série de circunstâncias, estratégias
e a construção de oportunidades para que os leitores possam construir e atribuir sentidos ao que lê.
Exige uma visão da leitura como construção social, não restrita apenas ao ambiente escolar, assim
como professores leitores, que vejam na escolarização da literatura uma oportunidade para despertar
o gosto e o prazer pela leitura.
Nesse sentido se faz urgente que as políticas públicas planejadas não centrem apenas na
distribuição de exemplares, que muitas vezes, são pensadas para beneficiar uma elite que representa
as editoras no país; mas que repensem todo o processo de formação de leitores, a escolarização da
literatura e, principalmente, qual o tipo de cidadão leitor se pretende formar.
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Como problema social que atinge um grande número de pessoas no planeta, a universalização
do acesso à água de qualidade e à coleta de esgoto está na pauta das mobilizações mundiais devido a
suas implicações relativas ao meio ambiente, ao desenvolvimento e a promoção do bem-estar humano.
Visto que, através do saneamento básico se torna possível à população obter água de qualidade,
essencial à vida humana e aos processos produtivos, bem como para a prevenção e controle das
doenças.
Segundo Duarte (2007) o déficit de saneamento pode ser percebido principalmente nos
índices de morbidade e de mortalidade infantil, em especial no período pós-neonatal, mais suscetível
a ações preventivas de saneamento básico. Muito embora a redução da mortalidade possua causas
combinadas, é muito certa a relação entre as melhorias sanitárias e a redução da incidência de doenças
(GRISOTTO, 2011).
Segundo Sen (2000) a mortalidade infantil e na infância além de possibilitar a análise do status
da saúde da população, reflete a eficácia de políticas públicas voltadas para a área de saneamento,
geração e distribuição de renda e, portanto, são importantes indicadores de desenvolvimento
socioeconômico da população.
Apesar de o Brasil ser signatário dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio elencado pela
Organização das Nações Unidas (ONU, 2000), os quais preconizam metas para 2015 de universalização
do saneamento básico e de redução da mortalidade infantil em valores abaixo de 17,9 óbitos por mil
nascidos vivos, em muitos locais do país estes patamares ainda estão longe de ser efetivados.
De modo geral, a oferta dos serviços de saneamento básico no país ainda é precária,
principalmente quando relacionada aos serviços de esgotamento sanitário, que, quando ineficaz ou
inexistente além de contaminar o meio ambiente, expõe a população a diversos riscos. O saneamento
básico como o nome sugere é - ou neste caso deveria ser - básico. Mas até as maiores cidades
brasileiras, e o país de modo geral não usufruem de forma efetiva estes serviços. Alguns municípios
tem sua população vivendo no século XXI como se estivesse vivendo numa cidade europeia do século
XIX.
Tendo em vista que a taxa de mortalidade infantil é um indicador clássico, pelo qual se atribui
melhores condições de saúde às populações que apresentam as menores taxas e, se sabendo que a
oferta de saneamento básico é de crucial importância para a saúde e a qualidade de vida da população,
objetivou-se neste trabalho analisar mais especificadamente o impacto do abastecimento de água
e do esgotamento sanitário na mortalidade infantil e na infância no Estado do Paraná, no período
2000/2010.
Enquanto que os serviços públicos de esgotamento sanitário são aqueles que realizam um
ou mais de um dos seguintes serviços: coleta, inclusive ligação predial, transporte, tratamento e
disposição final de esgotos sanitários com a inclusão dos lodos oriundos da operação de unidades de
tratamento e de fossas sépticas.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste trabalho será utilizada a técnica de regressão de dados em painel, para dados de 399
municípios, através do qual será analisada a influência do saneamento e das variáveis de controle
nas taxas de mortalidade infantil e de crianças menores de cinco anos do Estado do Paraná. Tendo
em vista que os conjuntos de dados em painel permitem uma análise da política governamental de
forma muito mais aprimorada, sendo, portanto, muito úteis para a avaliação de políticas públicas de
municípios, estados e países (WOOLDRIDGE, 2008).
De acordo com Gujarati e Porter (2011) existem diferentes possibilidades de estimação para
dados em painel, neste artigo são analisadas às técnicas mais utilizadas, como o modelo MQO para
dados empilhados (pooled data), o modelo de efeitos fixos (fixed effects) e o modelo de efeitos
aleatórios (random effects). A escolha entre estes três modelos dependerá principalmente das
premissas referentes ao intercepto, os coeficientes angulares e o termo erro, que face aos dados e o
tipo de problema em causa adota-se o modelo que melhor se adeque.
Os dados utilizados para a análise econométrica deste trabalho foram selecionados com base
nas pesquisas da literatura especializada, de modo a empregar as variáveis mais representativas para
a análise da influência do saneamento básico na saúde da população, e que possuem informações em
todos os municípios paranaenses para os anos de 2000 e 2010.
É necessário destacar que o saneamento básico, objeto deste trabalho, apesar de ser composto
por diferentes indicadores, não será utilizado na integra nesta pesquisa, serão analisadas apenas as
variáveis vinculadas às formas de abastecimento de água e esgotamento sanitário devido às restrições
na quantidade de informações disponível e, de forma a obter maior delimitação da pesquisa.
A partir da seleção dos dados, foram delimitadas nove variáveis para compor a análise
econométrica, como se pode visualizar na Tabela 1. Os dados foram extraídos de sites oficiais que, em
sua maioria, reproduzem de forma desagregada os resultados do censo demográfico de 2000 e 2010
realizado pelo IBGE, como é o caso do Atlas de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações
Unidas (PNUD, 2013) e do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES,
2014). As demais informações foram extraídas do site do Ministério da Saúde no Departamento de
Atenção Básica MS/DAB (BRASIL, 2014), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEADATA,
2014), e do próprio IBGE (BRASIL, 2013b).
* O método de coleta dos dados foi através de entrevista presencial realizada pelo recenseador, sendo a resposta registrada
em um computador de mão, ou pelo preenchimento do questionário via Internet (IBGE, 2013b).
**Em 2010 a variável de esgotamento sanitário é especificada com a informação sobre a existência de banheiro ou sani-
tário em cada domicílio, mas em 2000 esta informação não está disponível com estes detalhes (IBGE, 2013b).
• Índice de Gini (IG): proporciona uma medida da desigualdade de renda entre os indivíduos,
quanto maior a desigualdade em cada local, um número maior de pessoas possuem menos
recursos para suprir suas necessidades.
• Grau de urbanização (GU): através deste é possível verificar onde as taxas de mortalidade
em crianças são mais recorrentes, seja nos locais menos urbanizados do estado ou nos
municípios com acentuado grau de urbanização.
• Programa Saúde da Família (PSF): como proxy de saúde se tem a cobertura populacional
estimada pelas equipes de saúde da família (ESF), cujo propósito é de melhorar as
condições de saúde das famílias através de ações de prevenção e auxílio, fornecendo
inclusive orientações ao pré-natal, aleitamento materno e a vacinação e ações voltadas
para a prevenção de doenças diarreicas (BRASIL, 2014).
• PIB per capita (PIBP): foi utilizado por representar um indicador socioeconômico
referente à riqueza gerada pelo município e seus habitantes, uma vez que localidades mais
pobres possuem menos recursos para investir em saúde, educação e saneamento.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Através dos dados em painel será possível explorar de forma simultânea, as alterações das
variáveis selecionadas ao longo do tempo e entre os diferentes municípios. Sendo que, conforme
apresentado, é uma técnica de conexão de dados temporais e seccionais que permitirá uma estimação
mais completa e mais eficiente do modelo econométrico. O uso de dados em painel neste estudo
baseou-se nas referências encontradas sobre o tema e na disponibilidade de dados de corte para os 399
municípios paranaenses e para os dois anos do censo (2000; 2010) o que indica ser um painel curto e
balanceado, que num total compõe 798 informações.
1 O IBGE considera como adequados os domicílios que possuem “rede geral de abastecimento de água, rede geral
de esgoto ou pluvial ou fossa séptica e coleta de lixo direta ou indireta” (Brasil, 2013c, p.1).
Em que:
𝐸𝑆𝑖𝑡 esgotamento sanitário realizado através da rede geral ou fossa séptica do município i, no
tempo t;
Na equação 8, são testadas as influências das variáveis independentes 𝐴𝑅𝑖𝑡 , 𝐸𝑆𝑖𝑡 , 𝑇𝐴𝑀𝑖𝑡 , 𝑃𝐼𝐵𝑃𝑖𝑡,
𝐼𝐺𝑖𝑡 e 𝑃𝑆𝐹𝑖𝑡 em relação a mortalidade infantil ( 𝑀1𝑖𝑡 ) de cada município nos anos 2000 e 2010. Na equação 9,
são testadas as relações das variáveis explicativas 𝐴𝑅𝑖𝑡 , 𝐸𝑆𝑖𝑡 , 𝑇𝐴𝑀𝑖𝑡 , 𝑃𝐼𝐵𝑃𝑖𝑡, 𝐼𝐺𝑖𝑡 e 𝑃𝑆𝐹𝑖𝑡 com a mortalidade
em crianças menores de cinco anos ( 𝑀5𝑖𝑡 ) em cada município nos anos 2000 e 2010.
Já a equação 10 apresenta os testes da influência das variáveis independentes 𝐺𝑈𝑖𝑡 , 𝐸𝑆𝑖𝑡 , 𝑇𝐴𝑀𝑖𝑡 , 𝑃𝐼𝐵𝑃𝑖𝑡,
𝐼𝐺𝑖𝑡 e 𝑃𝑆𝐹𝑖𝑡 em relação a mortalidade infantil (𝑀1𝑖𝑡 ) em cada município nos anos 2000 e 2010. E, por último,
na equação 11 são testadas as relações das variáveis explicativas 𝐺𝑈𝑖𝑡 , 𝐸𝑆𝑖𝑡 , 𝑇𝐴𝑀𝑖𝑡 , 𝑃𝐼𝐵𝑃𝑖𝑡, 𝐼𝐺𝑖𝑡 e 𝑃𝑆𝐹𝑖𝑡 com a
mortalidade em crianças menores de cinco anos ( 𝑀5𝑖𝑡 ) de cada município nos anos 2000 e 2010.
Desta maneira, definidas as variáveis e de posse dos dados foram realizadas as regressões,
utilizou-se para isso o software STATA, versão 12. Para dar seguimento foram realizados os testes F
de Chow (hipótese H0, modelo restrito (de dados agrupados) e hipótese H1: modelo de efeitos fixos),
Hausman (hipótese H0, escolha do modelo de efeitos aleatórios e hipótese H1: modelo de efeitos
fixos) e o teste de Breusch-Pagan (hipótese H0, modelo restrito (dados agrupados) e hipótese H1:
modelo de Efeitos Aleatórios), conforme segue na Tabela 3.
2 De acordo com Gujarati e Porter, quando o coeficiente de correlação é alto, ou seja, maior que 0.8, a multicoli-
nearidade será um problema sério (GUJARATI; PORTER, 2011, p. 345).
Desta forma, os testes indicaram que o modelo de Efeitos Fixos é melhor em relação aos
modelos Pooled e de Efeitos Aleatórios, os testes econométricos corroboraram com o exposto na
literatura empírica, a qual salienta que o método de efeitos fixos leva em consideração a heterogeneidade
e a consistência existente em cada município, de acordo com Wooldridge “quando não podemos
considerar as observações como extrações aleatórias de uma grande população – por exemplo, se
temos dados de Estados ou Municípios –, frequentemente é racional pensar em como parâmetros a
estimar, caso em que usamos os métodos dos efeitos fixos” (2008, p. 445).
Após definir o modelo específico de análise foram realizados os testes para detectar se existe
heterocedasticidade e autocorrelação. Foram realizados os testes de Breusch-Pagan (hipótese H0, a
variância dos erros não são homoscedásticas e hipótese H1: a variância dos erros são homoscedásticas)
e de Wald modificado para efeitos fixos (hipótese H0, a variância dos erros não são homoscedásticas
e hipótese H1: a variância dos erros são homoscedásticas) os quais indicam a presença ou não de
heterocedasticidade. Ambos os testes rejeitaram a hipótese nula de variância constante. Desta forma,
as regressões foram realizadas com erros padrão robustos a heterocedasticidade.
Para avaliar a presença de multicolinearidade nas equações foi utilizado o Fator Inflação de
Variância (VIF - Variance Inflation Fator). O valor médio do VIF foi de 1.44 na equação 8 e 9 e, de
1.43 na equação 10 e 11, a variável com o maior valor VIF foi a TAM de 1.54 em todos os modelos o
que demonstrou não ser um problema sério3.
3 De acordo com Gujarati e Porter (2011) variáveis com valor VIF maior que 10 podem apresentar maiores
problemas e podem ser consideradas como altamente colineares.
Os resultados mostram que, de acordo com o modelo de Efeitos Fixos, representado na Tabela
4, as variáveis independentes explicam, de forma geral (R-sq overall) 44% das taxas de M1 na equação
8 e 43% na equação 10, bem como, 43% e 41% das taxas de M5 na equação 09 e 11. Entre as unidades
(R-sq between), o ajuste dos modelos ficaram em torno de 25% e 27%. E dentro das unidades (R-sq
within) os ajustes das equações estão entre 70% e 71%.
Adicionalmente pode-se inferir que o modelo de Efeitos Fixos com as devidas correções (tal
como aconteceu na regressão dos modelos pooled e de efeitos aleatórios) é significativo do ponto de
vista estatístico em todas as regressões, pois, tanto as estatísticas do Teste de Wald de σ² e do teste F
apresentaram o nível de significância de 1% (Tabela 4).
A variável PIBP, apesar de apresentar sinal negativo de acordo com o esperado, não obteve
relevância estatística para a redução da mortalidade em crianças. A baixa importância estatística deste
coeficiente para a redução da mortalidade de crianças se deve possivelmente a alta concentração
de renda em muitos locais do Estado, onde a população mais carente e, portanto mais sensível às
condições adversas do seu meio não tem acesso a esta riqueza. Tal fato corrobora com o exposto na
literatura sobre o aumento da riqueza que, embora seja necessária para o processo de desenvolvimento,
ela não é por si só suficiente para que isto aconteça, principalmente quando essa riqueza não está bem
distribuída (SACHS, 1986).
Já o aumento do conhecimento por parte da mãe (TAM) foi de grande importância, do ponto
de vista estatístico (teste t) para explicar as alterações na mortalidade das crianças nas últimas duas
décadas e apresentou sinal positivo de acordo com o esperado. Segundo a Tabela 4, mantendo-se os
demais fatores constantes, a redução em uma unidade na TAM provoca uma redução de 0,4 unidades
da M1 e M5.
Outros fatores específicos para a melhora das condições de saúde infantil incluem a ampliação
da cobertura da atenção básica, o aumento da cobertura vacinal em taxas acima de 95%, a inclusão
de novas vacinas ao esquema básico de vacinação, a extensão do período de aleitamento materno, a
utilização da Terapia de Reidratação Oral (TRO) e o monitoramento do crescimento e desenvolvimento
das crianças que estão diretamente associadas à estratégia do PSF (PIOLA; VIANNA, 2009, p.6).
Essa política de atenção básica com foco na família obteve resultados significados na redução da
mortalidade de crianças no Paraná. Considerando os demais fatores constantes, a cada aumento da
taxa de cobertura do PSF leva uma redução em 0,02 unidades da M1 e M5. Isto se deve principalmente
à redução dos problemas de saúde que geravam grande parte dos óbitos nos primeiros anos de vida
e, que muitas vezes requereriam apenas medidas simples de prevenção relacionadas à educação
sanitária, controle de vacinação, balanceamento nutricional e orientação, entre outras.
O coeficiente GU apresentou sinal negativo e foi outro fator de relevância para a melhora
das condições de saúde das crianças. Nas áreas mais urbanizadas existe maior acesso aos centros de
saúde, às escolas e à infraestrutura de saneamento. Cada aumento no GU provoca em média a redução
de 0.09 unidades da M1 e 0.1 unidades da M5, considerando os demais fatores como constantes.
Juntamente com o GU houve o crescimento do número de moradores que possuem AR, uma
vez que, segundo a Tabela 2, existe alta correlação entre essas duas variáveis. Isto acontece porque
Quanto ao acesso aos sistemas de ES, não houve o mesmo progresso nas últimas décadas, tal
como aconteceu com as instalações de abastecimento de água, as principais obras na rede geral de
esgoto foram realizadas somente nos últimos anos, e, como as ações em saneamento não apresentam
resultado imediato sobre as incidências de doenças (devido à necessidade de uma mudança de hábitos
e de aprendizado por parte da população quanto ao seu adequado aproveitamento), esta variável não
foi significativa do ponto de vista estatístico para a redução da M1 e M5 no Paraná.
4 CONCLUSÕES
Verificou-se que, no Paraná, de forma geral, as políticas públicas do setor conseguiram reduzir
os índices de mortalidade infantil e de crianças menores de cinco anos nas duas últimas décadas. Há
de se destacar que as disparidades regionais com relação aos estes indicadores de mortalidade de
crianças também foram reduzidas permanecendo, porém diferenças importantes entre os resultados
alcançados pelos distintos municípios do Estado.
Quanto ao saneamento básico, foi possível verificar que as formas canalizadas de abastecimento
de água no Paraná receberam maior atenção dos investimentos públicos nas últimas duas décadas do
que as redes de esgotamento sanitário.
Percebeu-se ainda que existe uma correlação positiva entre a maior desigualdade de renda e
os menores PIB per capita estadual, bem como as maiores taxas de analfabetismo de mulheres com
mais de 15 anos. Esta problemática segundo a literatura coletada configura-se entre os principais
agravantes para o aumento da mortalidade infantil em qualquer região ou território de análise, fato
este que se repete no Paraná.
Então se conclui posto todo cenário descrito na pesquisa que o acesso aos sistemas de
saneamento, principalmente ao tratamento da água é plenamente justificável e diga-se claramente
fundamental e essencial para a redução das doenças que, juntamente com outras variáveis apresenta-
se como solução preventiva mais eficaz para a redução das enfermidades do que à inocorrência dos
gastos defensivos em saúde.
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KEYWORDS: Heath of the elderly; Population dynamics; Social epidemiology; Social Secutiry.
1. INTRODUÇÃO
A mudança demográfica gera modificações epidemiológicas, uma vez que cada faixa etária
possui características específicas no processo saúde-doença. Em países como o Brasil, esse fenômeno
coexiste com a presença de doenças infecciosas (Sífilis e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
– AIDS), relações precárias de trabalho (geradoras de acidentes e adoecimento do trabalhador), a
violência, bem como o aumento do número de doenças cardiovasculares. Tais condições de saúde se
apresentam como crônicas e os seus agravos podem ser sequelas incapacitantes e, consequentemente,
produtoras de situações de dependência e de maior necessidade de cuidados em saúde (DUARTE,
2006).
Sabe-se, também, que o processo natural de envelhecimento, mesmo sem estar acompanhado
de doenças, traz consigo limitações funcionais, apesar de se reconhecer que as populações idosas
apresentam grande variabilidade. A propósito, atualmente, dispõe-se da Classificação Internacional
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF –, revisada e publicada em 2004, que explica a
incapacidade como um termo que inclui deficiências, limitações da atividade ou restrições na
participação. Funcionalidade, por sua vez, engloba todas as funções do corpo, atividades e participação.
Assim, pode-se sustentar que a união dos dois termos - Incapacidade e Funcionalidade -, significa dizer
que uma pessoa pode possuir limitação para executar alguma função, por exemplo, por deficiência
física ou por restrição na participação causada por fatores ambientais.
Em uma amostra de 165 pessoas idosas, Andriolo e colaboradores (2016) identificaram que
cerca de 30% foram classificadas como tendo alguma dependência, pela escala de Katz (1963). Essa
dependência foi observável em 32% dos sujeitos entre 60 a 69 anos (primeira década da faixa etária
considerada idosa), com frequência maior naqueles que apresentavam condições crônicas de saúde,
tais como hipertensão arterial (35,5%) e diabetes mellitus (48,6%).
Oferecer apoio social aos idosos pode ser uma forma de diminuir as chances de desenvolver
dependência, independentemente de suas condições sociodemográficas e de saúde (BRITO et al.,
2018). No entanto, essa é uma alternativa cada vez menos possível de ser realizadas pelas famílias,
devido à diminuição das taxas de fecundidade e natalidade (famílias cada vez menores) e às mudanças
nos papéis sociais, caracterizadas pela entrada da mulher no mercado de trabalho (ZANG, 2004).
Portanto, convém refletir sobre como enfrentar essa realidade e, indubitavelmente, tal reflexão implica
discutir o papel do Estado e dos governos do Brasil.
A Política Nacional do Idoso (PNI), Lei nº 8.842, posteriormente regulamentada pelo Decreto
nº 1.948/96, assegurou direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para promover sua autonomia,
integração e participação efetiva na sociedade. E, seguindo a tendência mundial de atenção à saúde
do idoso, em 1999, tem-se a Política Nacional de Saúde do Idoso (PNSI), por meio da Portaria
nº 1.395, a qual determinou que o Ministério da Saúde promovesse a elaboração/ readequação de
planos, projetos e atividades, pressupondo que “o principal problema que pode afetar o idoso é a
perda de sua capacidade funcional”. Essa portaria foi extinta/substituída pela portaria nº 2.528, de
19 de outubro/2006, que aprovou a Política Nacional de saúde da Pessoa Idosa (PNSPI). Assim, o
Ministério da Saúde inclui a saúde do idoso como item prioritário de sua agenda, adotando conceitos
Há que se ressaltar que na primeira década do Século XXI, o Brasil segue avançando no que
se refere à população idosa. Em 2002, por meio das Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso,
portaria nº 702/SAS/MS, são criadas as normas para cadastramento de Centros de Referência em
Atenção à Saúde do Idoso, que se propõe a ser um dispositivo para assegurar aos mesmos, todos os
direitos de cidadania, defesa de sua dignidade, seu bem-estar e direito à vida. Em 2003, é criado o
Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, que amplia a resposta do Estado e da sociedade às necessidades da
população idosa.
O Sistema de Seguridade Social, referidos nos artigos 194 e 195 da Constituição Federal,
assegura benefícios previdenciários, sociais e o amparo à saúde (o chamado “tripé da proteção
social”). Esses artigos também definem as receitas arrecadadas e vinculadas a esses gastos, tais como
Contribuições Previdenciárias ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e Contribuição para
Tal como descrito anteriormente, retrocessos também poderão ocorrer com relação à
compreensão da organização social brasileira. O IBGE anunciou, recentemente, cortes no questionário
- retirada de questões que se referem a diversos aspectos, tais como emigração internacional,
migração interna, rendimento familiar, presença de bens, moradia (aluguel), entre outros - do Censo
Demográfico 2020, em comparação ao censo realizado em 2010. Porém, evidencia-se movimento
contrário, encabeçado por especialistas como ex-diretores do IBGE, membros da Escola Nacional de
Saúde Pública Sérgio Arouca (INESP) e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO),
somando forças para manutenção das perguntas retiradas, visando evitar o impacto negativo na
“Os dados do censo são, também, utilizados para o pagamento de vários procedimentos
realizados pelo Sistema Único de Saúde, além de permitir conhecer as condições de vida
da população e a identificação de grupos mais vulneráveis que necessitam de políticas mais
específicas de equidade para garantia de seus direitos” (ANTUNES, 2019).
“O censo do IBGE é a matriz para calcular as amostras de qualquer inquérito de saúde, seja
no âmbito da segurança alimentar, da Política Nacional de Saúde, etc. Para isso é preciso
ter muita clareza de qual é a população dos municípios. Se você elimina uma informação
fundamental para a estimativa populacional nossa hipótese é que vai ter muito mais erros no
cálculo” (ANTUNES, 2019).
“Se você fraciona as informações por inquéritos diferentes, não vai poder traçar o perfil da
população em um território, porque são diferentes fontes de informação que muitas vezes
não conversam. Estamos caminhando para ter um país desinformado, e a desinformação não
colabora com a saúde pública brasileira” (ANTUNES, 2019)
Apesar de a expectativa de vida ter aumentado no Brasil, a forma como a população brasileira
está envelhecendo, com inegável desigualdade, não pode ser comparável às populações de países
desenvolvidos. O histórico de variáveis como, por exemplo, a baixa escolaridade e a precarização do
trabalho e da renda, ainda não superados e com tendência a piorar pela condução do atual governo,
configuram-se como fatores socioeconômicos, cientificamente comprovados, que influenciam
negativamente no processo de envelhecimento da população.
Sabe-se, pois, que o aumento da expectativa de vida é regido por fatores sociais e, considerá-lo
de maneira descontextualizada, na reforma da previdência, é uma medida anacrônica que desconsidera
o histórico descaso com a população idosa, sobretudo, quando se tem prevista a diminuição das
informações censitárias a serem colhidas em 2020. Os atuais cortes impactam na incipiente democracia
brasileira, nos direitos ainda não adquiridos e, pior, visam ocultar, no futuro, as suas consequências.
Tais atitudes dos que governam não podem deixar de ser denunciadas por aqueles que se dedicam à
produção de vida com dignidade.
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