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TRABALHO FINAL da DISCIPLINA

PROF. FLÁVIO HEINZ


ALUNO: PAULO ROGÉRIO PEREIRA VARGAS

China e Japão: revolução feita por baixo e revolução feita por cima.

A história trilhada por China e Japão demonstra como em história não existiu apenas
uma estrada principal que conduzisse à construção de uma sociedade industrial moderna. Menos
ainda que conduzisse a um tipo de “modelo” de capitalismo industrial e de democracia política.
Em se tratando de história econômica, no pós-guerra passou-se a dar atenção aos
problemas e caminhos do desenvolvimento procurando, por um lado, dar conta de questões práticas
que então se colocavam para os diferentes países que se propunham a alcançar o desenvolvimento
nos seus diferentes aspectos, econômico, social e político.
Contudo, e equivocadamente partiu-se para a construção de “modelos” os quais se
seguidos conduziriam ao desenvolvimento, não se levando em conta as necessárias mediações
históricas de cada processo de evolução e revolução histórica de cada sociedade uma vez que, o
caráter abstrato e puramente teórico de diversas das teorias formuladas acabava por deixar de lado
que deveria ser o próprio objeto da teoria, ou seja, explicar as diferenças específicas de cada
sociedade e por que determinadas características, ainda que semelhantes a diversas realidades
históricas acabassem conduzindo a resultados diferentes e inesperados (para aqueles que
formulavam tais teorias) no trilhar da história.
Neste sentido, concordamos com MOORE JR. (1983, p. 161) quando este afirma que:
“A experiência (...) fez explodir esta noção (de que existe apenas uma estrada principal que conduz ao
mundo da sociedade industrial moderna ou, além disso, ao capitalismo e à democracia política), embora
ainda permaneçam fortes trações de uma concepção unilinear, seja na teoria marxista, (seja) em autores
ocidentais que se ocupam do desenvolvimento econômico”.
Ainda que, concordando também com MOORE JR, palavras como democracia,
fascismo e comunismo, ditadura, totalitarismo, feudalismo, burocracia tenham surgido num
contexto mais amplo da história ocidental européia, parece-nos claro ser possível e necessário
transferir termos históricos de um contexto para outro, de um país para outro, pois, sem isso, “a
dissertação histórica transforma-se numa descrição sem sentido de episódios sem relação”.
A história de China e Japão demonstra isto claramente.
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Países agrários, feudais ou pré-feudais, com séculos uma tradição e cultura milenares,
com as costas voltadas para o ocidente, mas que, ao longo do tempo, chegaram a resultados díspares
em seu processo histórico de evolução ou revolução rumo a uma sociedade modernizada e
desenvolvida, seja no seu viés comunista (o caso da China), seja no seu viés capitalista (o caso do
Japão).
A China tratava-se de uma sociedade agrária estática, que durante longo tempo através
de seus dirigentes tratou os representantes das civilizações ocidentais com “delicada curiosidade e
desdém”, cuja hegemonia era dada aos funcionários- intelectuais componentes de uma burocracia
que não fora capaz de encorajar o comércio a alargar a base social chinesa à medida que o sistema
social ruía.
A partir de um terminado tempo de evolução dá-se um processo de regionalização a
partir da queda do regime imperial onde os “senhores da guerra” irão tomar as rédeas do processo
histórico substituindo a burocracia imperial de outrora mas que não foram capazes de tomar as
rédeas do processo histórico nas mãos no sentido de alcançar uma modernização industrial, ainda
que isso tivesse sido tentado pelo Kuomintang tivesse tentado, sem sucesso.
Assim, na China, a partir de um incipiente sistema feudal, fragmentado, avesso a
métodos modernos de obtenção de excedente, vivendo naquilo denominado de “letargia social”, em
vez de uma revolução burguesa, a burocracia agrária inibe o desenvolvimento de uma classe de
comerciantes e fabricantes independentes, houve uma revolução de camponeses em moldes
comunistas, definindo aquilo que alguns autores entendem como uma “modernização totalitária”.
Por seu turno, o Japão também teve sua burocracia agrária que de certa forma contém
uma revolução burguesa nos moldes clássicos mas que, contudo, consegue esvaziar o
descontentamento dos camponeses evitando, com isso, uma revolução rural já que, no caso do
japonês, o feudalismo existente vai determinar que um segmento das classes governantes afaste-se
da ordem prevalecente e em ruínas e leve a cabo uma revolução a partir de cima e que vai efetuar as
alterações necessárias, seja no aspecto econômico, seja no aspecto social (contudo mantendo a
tradição milenar da cultura japonesa), necessárias para alcançar a modernização e o
desenvolvimento industrial em moldes capitalistas.
Neste sentido, o Estado Meiji “não é mais do que um instrumento de dominação da
nova classe dirigente (...) Os interesses privados agiram, primeiramente por intermédio do Estado,
isto é, a fundos públicos, a fim de criar as bases onerosas de uma economia moderna”
(CHESNEAUSX, p. 44), executando certo tipo de “revolução superficial” a partir da qual a base
social do Estado não se transforma mas apenas alarga-se, onde as antigas classes dirigentes,

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oriundas dos antigos feudos concedem espaço à nova burguesia comercial e industrial que adentra
ao palco da história.
Assim, dado o caráter conservador das reformas da revolução Meiji, os interesses da
nobreza foram preservados, especialmente uma vez que o sistema tributário implantado não
penalizava as classes dominantes e era alimentado acima de tudo de impostos sobre a propriedade
territorial, levando a que os recursos obtidos para financiar a industrialização fossem obtidos via
penalização da agricultura, levando a que os pequenos agricultores e camponeses se tornassem cada
vez mais dependentes do capital comercial e do capital usurário.
Neste sentido, cabe referir que o sucesso das reformas Meiji deve explicar-se pelo fato
da economia japonesa já haver passado por séculos de desenvolvimento da produção mercantil,
articulando economia rural e mercado.
Portanto, por um lado, a tributação centralizava nas mãos do Estado os recursos
necessários aos investimentos industriais e em infra-estrutura, bem como as exportações garantiam
a capacidade de compra necessária à importação de máquinas e equipamentos.
Em relação à importância e nível de atuação do Estado japonês na consecução de sua
“modernização conservadora”, uma vez que o Japão industrializava-se num momento que o
capitalismo já alcançava sua etapa monopolista, isto acentuava a necessidade de um “grande salto”
para a implantação da grande indústria, obrigando-os a incorporar o padrão de desenvolvimento já
obtido nas nações dos países de industrialização central.
A respeito assevera OLIVEIRA (1985, p. 247):
“(No Japão) a burguesia era débil política e economicamente. Politicamente (...) mostrava-se incapaz de
assenhorar-se do Estado, e economicamente detinha parcos capitais, incompatíveis com as exigências
impostas pela industrialização. (Assim), a industrialização não poderia ser levada a cabo por exigência ou
conquista da burguesia, e assim o próprio Estado, para garantir a segurança nacional, assumiu tarefas
históricas da burguesia e promoveu a industrialização”.
Portanto, e concluindo, concordamos c TROTSKY1 (apud OLIVEIRA, 1985, p. 247),
quando este afirma que:
“A abertura do país imposta pena expansão americana e do ocidente no extremo oriental precipitou o
movimento político em direção à unidade nacional, sem esperar-se o amadurecimento autônomo das
condições internas econômicas e sociais necessárias à revolução burguesa (caracterizando com isso) uma
revolução industrial pelo alto ou fundada,por assim dizer, sobre a necessidade política”.
Por isso, por alçar-se ao capitalismo numa fase já monopolista e imperialista deste, o
Japão não poderia deixar de tornar-se um país para o qual a obtenção de mercados seria de

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TROTSKY, L. 1905 – Resultados e Perspectivas, trad. castelhana, Madrid, 1971.

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fundamental importância, determinando isto que a modernização japonesa derivasse num processo
de expansão colonial e imperialista, só obstado por sua derrota na II Guerra Mundial.
Por fim, viu-se que tanto a China, quanto o Japão, ainda que partindo de bases
semelhantes, mas em momentos distintos da evolução geral do modo de produção capitalista
originário, evoluem de forma diferente nos sentido do desenvolvimento e da modernização, mas
chegando também a resultados semelhantes no sentido de uma modernização de caráter mais
conservador, fora dos padrões clássicos da democracia liberal.

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BIBLIOGRAFIA:

OLIVEIRA, Carlos Alonso Barbosa de. O processo de Industrialização: do capitalismo


originário ao atrasado. Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da
UNICAMP, 1985, mimeo.
MOORE JR., Barrington. As Origens Sociais da Ditadura e da Democracia: senhores e
camponeses na construção do mundo moderno. São Paulo, Martins Fontes, 1983.
CHESNEAUX, J. A Ásia Oriental nos Séculos XIX e XX. São Paulo: Pioneira (Coleção Nova
Clio), 1976, cap. IV, mimeo. Do EAD do Curso de Pós-graduação em História
Contemporânea da PUCRS.
História do Mundo da China. Voltaire Schilling, no site
www.educaterra.com.br/voltaire/mundo/china.htm.

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