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I DA D E
MÉDIA
C AT E D R A I S , C AVA L E I R O S
E CIDADES
DIREÇÃO
U M B E RTO E CO
Tradução
Is a be l Br a n co
Ca r los Abo im de Brit o
Ca r los Ma n ue l Oliveira
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XXXXXXX
ÍNDICE
13 HISTÓRIA
61 Os países
61 O Estado da Igreja, de Ivana Ait
64 O Sacro Império Romano-Germânico, de Giulio Sodano
68 Cidades e principados da Germânia, de Giulio Sodano
71 A França capetiana, de Fausto Cozzetto
76 O reino de Inglaterra, de Renata Pilati
85 Os países escandinavos, de Renata Pilati
91 Os normandos na Itália meridional e na Sicília, de Francesco Paolo Tocco
94 Reinos e principados russos, de Giulio Sodano
98 A Polónia, de Giulio Sodano
101 A Hungria, de Giulio Sodano
104 A Península Balcânica, de Fabrizio Mastromartino
107 As comunas, de Andrea Zorzi
111 Os reinos cristãos da Hispânia, de Massimo Pontesilli
115 Reinos de taifas: os Estados muçulmanos na Península Ibérica, de Claudio Lo Jacono
118 As repúblicas marítimas, de Catia Di Girolamo
122 O império bizantino: a dinastia dos Comneno, de Tommaso Braccini
128 O reino de Jerusalém e os feudos menores, de Franco Cardini
134 A economia
134 2FUHVFLPHQWRGHPRJUiÀFRHDXUEDQL]DomRde Giovanni Vitolo
138 A extensão de terras cultivadas e a economia rural, de Catia Di Girolamo
141 Mercados, feiras, comércio e vias de comunicação, de Diego Davide
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158 A sociedade
158 O feudalismo, de Giuseppe Albertoni
162 A cavalaria, de Francesco Storti
165 A burguesia (comerciantes, médicos, juristas, notários), de Ivana Ait
169 Os judeus, de Giancarlo Lacerenza
174 Os pobres, os peregrinos e a assistência, de Giuliana Boccadamo
178 Bandidos, piratas e corsários, de Carolina Belli
181 Os missionários e as conversões, de Genoveffa Palumbo
190 Ordens religiosas, de Anna Benvenuti
195 Aspirações de reforma da Igreja e heresias nos primeiros dois séculos depois do
ano 1000, de Giacomo Di Fiore
202 A instrução e os novos centros de cultura,
de Anna Benvenuti
205 O renascimento da ciência jurídica e
a génese do direito comum, de Dario Ippolito
209 A vida religiosa, de Errico Cuozzo
213 O cavalo e a pedra: a guerra na era feudal,
de Francesco Storti
217 O poder das mulheres, de Adriana Valerio
221 Festas, jogos e cerimónias na Idade Média,
de Alessandra Rizzi
224 A vida quotidiana, de Silvana Musella
231 FILOSOFIA
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486 Teatro
486 Ofício litúrgico e teatro religioso, de Luciano Bottoni
490 O teatro clássico: receção e comentário,
de Luciano Bottoni
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634 As questões
634 Bizâncio e o Ocidente (Teofânia, Desidério de Monte Cassino, Cluny, Veneza,
Sicília), de Manuela De Giorgi
641 As vias de peregrinação, de Luigi Carlo Schiavi
651 A arte e a reforma eclesiástica nos séculos XI e XII, de Alessia Trivellone
659 A autoconsciência do artista, de Manuela Gianandrea
665 MÚSICA
733 CRONOLOGIA
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HISTÓRIA
HISTÓRIA
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HISTÓRIA
INTRODUÇÃO
de Laura Barletta
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A Europa política
As chamadas segundas invasões, que nos dois séculos precedentes se prolon-
garam na Europa, vão-se dissipando e se, ainda no início do século XI, a costa
a norte do Mediterrâneo é alvo do domínio ou da investida dos muçulmanos, a
sua tónica ofensiva enfraquece: a Itália meridional e o Adriático já regressaram
ao controlo do Império Bizantino, que vive uma renovada época de esplendor
cultural, militar e administrativo; na Península Ibérica, os pequenos reinos das
Astúrias e de Navarra e os condados de Castela e de Barcelona consolidam as
suas posições contra o califado omíada de Córdova, cujo desmantelamento
Consolidações no início do século XI permite a ofensiva cristã. Os húngaros, já submeti-
territoriais
dos a Estêvão I (c. 969-1038, rei desde 1000/1001), vão-se radicando nas
terras ao longo do Danúbio, após as derrotas contra os imperadores da
dinastia saxónica e em particular após a batalha de Lechfeld, perto de Augs-
burgo (955). Os eslavos, já cristianizados no século IX, organizam-se territorial-
mente e formam reinos e principados que terão uma longa existência nos Balcãs
e na Sérvia, na Polónia, em Kiev. Os normandos, provenientes da península da
Dinamarca e da Escandinávia, já se estabeleceram ao longo da costa atlântica, na
região que virá a chamar-se Normandia, constituindo um ducado vassalo do rei
dos francos Carlos, o Simples (879-929), e, durante o século XI, alcançam prova-
velmente a costa canadiana, com investidas que continuam as dos séculos IX e X
às ilhas atlânticas e ao longo dos rios russos. Mas, sobretudo, naquela épo-
ca, instalam-se decididamente na Itália meridional e em Inglaterra: apro-
Novas conquistas veitando a luta entre os bizantinos e os lombardos, que solicitam apoios
PLOLWDUHVSDUDRVVHXVFRQÁLWRVORFDLV5REHUWRo Guiscardo (c.1010-1085),
consegue ocupar grande parte da Itália meridional e da Sicília, enquanto
o duque da Normandia, Guilherme, o Conquistador (c. 1027-1087, rei desde
1066), derrota em Hastings (1066) o exército anglo-saxão de Haroldo e se torna
rei de Inglaterra, criando deste modo, além de outros, os pressupostos para os
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e domínios locais, a partir do condado de Paris, onde, após a crise dinástica que
se seguiu à destituição de Carlos, o GordoUHLGHDVHDÀUPD
solidamente a dinastia capetiana, enquanto em Aix-la-Chapelle acaba de nascer
o Sacro Império Romano-Germânico, em redor do qual se desenrolará grande
parte da história do continente.
O feudalismo maduro
Assim se vão delineando as áreas europeias destinadas a serem protagonistas
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HDVUHODo}HVSROtWLFDVGXUDGRXUDV6HSRUXPODGRDJHRJUDÀDSROtWLFDGD(XURSD
com a cristianização e a estabilização de novas populações, tende a estender-se para
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HISTÓRIA
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GR,PSpULR5RPDQRGR2FLGHQWHFXMDVIURQWHLUDVFRQWLQHQWDLVHVWDYDPÀ-
xadas no Reno e no Danúbio. O sonho da renovatio imperii acalentado pelo Os sonhos imperiais
casamento entre Otão II (955-983, rei desde 973) da Saxónia e a princesa de Otão III
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HISTÓRIA
ODGRXPDVRFLHGDGHTXHFUHVFHHVHGLYHUVLÀFDH[LJHXPFRUSRHFOHVLiVWLFR
PDLVHVSHFLDOL]DGRHPDLVEHPGHÀQLGR2VQRYRVPRYLPHQWRVUHOLJLR-
sos, apesar das suas diferenças, mostram em substância um elemento co- O regresso às origens
mum na aspiração à simplicidade evangélica, muitas vezes à pobreza dos
primeiros tempos, e uma adesão ao plano natural que pode chegar até ao
respeito pela vida de todos os seres e também à abolição das hierarquias e
dos sacramentos e a reivindicações sociais e políticas. Patarinos, cátaros, valden-
ses, umiliatas, «maniqueístas» da Aquitânia, cânones de Orleães, hereges de Arras,
hereges de Monforte e muitos outros permanecem por um tempo mais ou me-
nos longo entre a ortodoxia e a heresia. De resto, muitas das suas preocupações
são comuns aos movimentos reformadores que agem no interior da Igreja: bas-
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itinerantes para os controlar, para uniformizar a sua doutrina e para lhes
UHWLUDUDLQÁXrQFLDPXQGDQDDFRPHoDUSHORGH&OXQ\TXHQDVFH Mosteiros e monges
inclusivamente com o objetivo de libertar a Igreja das ingerências aris-
tocráticas, passando pelo primeiro mosteiro valombrosano (1115), pelo
dos cistercienses em Citeaux (1098) ou ainda pelo de Prémontré, para citar
apenas alguns dos mais destacados. O resultado nem sempre será duradouro,
os próprios mosteiros cluniacenses, inspiradores da reforma, verdadeiras forjas
de personalidades políticas e religiosas, são por sua vez alvo de severas críticas e
novas ordens religiosas virão impor uma disciplina mais rigorosa.
Estas tentativas inserem-se na tendência para devolver dignidade ao clero
pela moralização dos seus costumes e prestígio ao papado com a eliminação das
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destinado a separar a rede de interesses entre laicos e eclesiásticos, a distinguir a
esfera religiosa da esfera secular, a reorganizar o clero e sobretudo a garantir
a primazia da Igreja sobre qualquer poder terreno em virtude da sua mis-
são de salvação. O movimento de reforma é favorecido pelo imperador
Império e reforma
Henrique III (1017-1056, imperador desde 1046), que solicita a Clemen-
te II (papa de 1046 a 1047) que condene a simonia no Concílio de Sutri
(1046) e desempenha um papel determinante na nomeação para papa de
Bruno, bispo de Toul (1049), que, com o nome de Leão IX (1002-1054, papa
desde 1049), chama a Roma os principais reformistas, entre eles Pedro Damião
(1007-1072) e Hildebrando de Sovana (c. 1030-1085, papa desde 1073 com o
nome de Gregório VII). Esta Igreja forte, que deseja o primatus Pietri e a libertas
ecclesiae romanae, rompe, em 1054, todas as relações com a Igreja grega do pa-
triarca Miguel Cerulário (c. 1000-1058) e, após a morte de Henrique III, durante
a regência de sua mulher Inês de Aquitânia (1025-1077), promulga, em 1059, o
decreto que retira a eleição do papa do controlo imperial, particularmente ur-
gente após a introdução, no século anterior, do privilegium othonis. A assunção do
poder imperial em 1066 por Henrique IV (1050-1106, imperador de 1084 a
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1105) assume uma substancial reviravolta nas relações de força entre o papa e
o imperador, obrigado a combater a usurpação de prerrogativas imperais por
duques e príncipes alemães apoiados por senhores feudais menores. É durante
esta luta que Gregório VII promove um concílio que, em 1075, além de reforçar
a condenação da simonia e do concubinato, introduz a interdição da investidura
de eclesiásticos pelos laicos, enquanto num texto contemporâneo de 27 máxi-
mas, conhecido como Dictatus Papae, se decreta o primado do bispo de Roma,
com legitimidade para destituir o imperador. Esta escolha abre o caminho à luta
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ano seguinte, concluída vitoriosamente na Alemanha a prova de força contra o
feudalismo alemão, Henrique IV, no sínodo de Worms de 1076, destitui o papa
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imperador da aristocracia alemã, cujas franjas rebeldes convocam uma assembleia
em Augsburgo (1077) para o avaliar. A Penitência de Canossa (1077), a vitória
na Alemanha em 1080 contra Rodolfo, duque da Suábia, e os senhores feudais
rebeldes, a expedição em 1081 a Itália contra as tropas da condessa Matilde
(c. 1046-1115) e o cerco e tomada de Roma em 1084 representam as etapas de
um confronto que termina com a morte de Gregório VII em 1085, em Salerno,
onde se refugiara junto dos normandos de Roberto, o Guiscardo. A luta pelo po-
der terminará com a concordata de Worms (1122) entre Calisto II (c. 1050-1124,
papa desde 1119) e Henrique V (1081-1125, imperador desde 1111).
O cristianismo em expansão
Apesar destes contrastes, a renovação ideológica e política da Igreja mostra
toda a sua força com Urbano II (c. 1035-1099, papa desde 1088) na organiza-
ção – obra do delegado pontifício Ademar, bispo de Puy – da primeira cruzada,
iniciada em 1096 e concluída vitoriosamente no verão de 1099 com a con-
A primeira cruzada e quista de Jerusalém, entendida como uma peregrinação aos lugares santos
a conquista e que mobiliza uma vasta massa de penitentes e de militares, na maioria
de Jerusalém FDYDOHLURVMRYHQVFRPDQGDGRVSRUFKHIHVORUHQRVIUDQFHVHVÁDPHQJRV
e normandos, como Godofredo de Bulhão – futuro rei de Jerusalém –,
o seu irmão Balduíno de Bolonha, Raimundo de Tolosa, Hugo de Verman-
dois, Roberto II da Normandia, Roberto II da Flandres, Tancredo e Boemun-
do de Altavila, na busca de novos horizontes espirituais, políticos e comerciais.
Além da explosão da religiosidade, também existe uma relação das cruza-
das com a aceleração nos processos de expansão das atividades das cidades cos-
teiras italianas, como Génova e Pisa, que praticam uma política agressiva
contra os muçulmanos, expulsos pelas armas da Córsega e da Sardenha.
Expansão
do cristianismo Veneza, por sua vez, com as diretrizes favoráveis do imperador Aleixo
I Comneno (1048/1057-1118), assume um papel determinante no co-
mércio do Adriático, do Jónico e do Egeu, sob controlo bizantino. Mas
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HISTÓRIA
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HISTÓRIA
OS ACONTECIMENTOS
de Marcella Raiola
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HISTÓRIA
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sar formalmente num sínodo que seria organizado na Trácia, longe de Bizâncio.
No entanto, Cerulário morre subitamente. Segundo as obras de Pselo, Isaac não
tinha feito mais do que levar a cabo um plano que a corte manobrava há anos
contra o poderoso prelado.
O cisma deve, portanto, considerar-se como a projeção, no plano religio-
so, do profundo fosso histórico e ideológico que se tinha vindo a criar entre as
duas sedes. As esperanças de curar esta ferida serão ainda mais diminutas em
1024, durante a quarta cruzada, quando os venezianos de Enrico Dandolo (c.
1107-1025) submetem Bizâncio a um tremendo saque e instauram o chamado
«Império Latino».
V. também: 5HLQRVGHWDLIDVRV(VWDGRVPXoXOPDQRVQD3HQtQVXOD,EpULFDS
2HVSDoRVDFURGDRUWRGR[LDS2VSURJUDPDVÀJXUDWLYRVGD,JUHMDRUWRGR[DS
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OLDS
A L U TA P E L A I N V E S T I D U R A
de Catia Di Girolamo
$,JUHMDHRLPSpULRSRVLFLRQDPVHFRPRSRGHUHVYLUWXDOPHQWHDODUJDGRVDWRGRR
mundo cristão medieval. Os seus papéis são aparentemente claros: primeiro, o guia
HVSLULWXDOGHSRLVDSROtWLFD2VHTXLOtEULRVUHDLVHQWUHRVSRGHUHVWRGDYLDUHÁHWHPVH
sobretudo nas exigências do local e do momento e nas personalidades que, com mão
PDLVRXPHQRVÀUPHVHFRORFDPjFDEHoDGD,JUHMDHGRLPSpULRERDSURYDGLVWR
será a questão da investidura episcopal, com a qual se cruza, nos séculos XI e XII, a
do primado romano sobre a cristandade.
Os contornos do problema
No limiar do século IX, o imperador assume uma posição de força em rela-
omRDRSDSDVmROKHFRQÀDGRVRJRYHUQRHDGHIHVDGDChristianitas, em que o
SRQWtÀFHWHPVREUHWXGRDIXQomRGHJDUDQWLUDSURWHomRGLYLQD
No entanto, muito antes da fundação imperial, já o alto clero exercia fun-
ções de governo local e, por isso, os próprios imperadores, a partir de Carlos
Magno (742-814, rei desde 768, imperador desde 800), valem-se dessa cola-
ERUDomRGHELVSRVHDEDGHVDÀUPDQGRRVVHXVFDUJRVGHFRPDQGRHIDYRUH-
cendo-lhes a autonomia perante a instituição da imunidade. Deste modo, os
soberanos pretendem ainda fazer oscilar a força dos poderosos laicos através
de uma aristocracia diferente, munida de melhores instrumentos culturais, do-
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