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Evangelismo e Discipulado

Uma Evangelização fundamentada na soberania de Deus


Por Morgana Mendonça dos Santos.

Podemos começar definindo os conceitos. É importante saber a definição bíblica sobre o que é
evangelismo e discipulado. Temos visto muitos usarem termos como evangelismo e discipulado de
forma pragmática. Inclusive a forma como isso tem sido feito nada mais é que estranho a Escritura.
O evangelismo pós moderno é enfraquecido, mecânico com rótulos atraentes. Atraem, porém
deforma. Ao invés de transformar ou reformar a criatura. O sentido genuíno das cinco perspectivas
da grande comissão está se perdendo por tantos métodos e estratégias evangelizadoras. Em poucas
palavras poderíamos dizer que: Evangelismo é tornar conforme o Evangelho. Então, o que é o
evangelho? Esta palavra grega aqui referida, euaggélion, está registrada 124 vezes no Novo
Testamento. Portanto, a Bíblia é um livro evangelístico. Nosso Deus é um Deus evangelístico. De
forma pontual e breve, evangelho significa boas novas de salvação. Paulo declara ser o poder de
Deus para salvação de todo aquele que crê (Romanos 1.16). O evangelho é Cristo, pode ser
explicado através de toda a Escritura - Criação, Queda e Redenção.
Vejamos como diz o livro A Tocha dos Puritanos do Joel Beeke [1], "A tocha da evangelização
foi acesa originalmente, no Velho Testamento. Acesa pelo próprio Deus na primeira promessa
messiânica que Ele deu a Adão e Eva, lá no Éden (Gn 3.15)". A evangelização bíblica está
fundamenta na soberania divina, dessa forma Deus demonstra que tem os meios para levar avante
este projeto evangelístico. De acordo com a Escritura, os meios seriam o discipulado, "fazei
discípulos de todas as nações (Mt 28.19). Escolhendo João Batista para transpor a tocha da
evangelização à era do Novo Testamento, quando Jesus ressurge dos mortos, comissionando seus
discípulos para um grande desafio que assegura seu sucesso (Mt 28.18).
Diante das boas novas - evangelho, da grande notícia de salvação, a pergunta é: o que é
evangelizar? "É tornar essas boas novas conhecida, isto é, fazer Deus conhecido para que os
homens possam adorá-Lo" Tom Wells. O ato de evangelizar procede de alvos atingidos pela
evangelização. Só quem pode evangelizar é quem já foi evangelizado. Evangelizar significa pregar
a Cristo e esse crucificado, proclamar as boas novas através do ensino de tudo que Jesus ordenou.
Existe um alvo na evangelização, esse alvo é a glória de Deus. Como então devo evangelizar? A
resposta está na Bíblia. A exemplo do próprio Cristo e dos apóstolos, devemos evangelizar através
da proclamação e ensino. Em João temos a perspectiva da grande comissão, de uma forma bem
peculiar: “Novamente Jesus disse: “Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os
envio”.” João 20.21. Verdadeiros discípulos, pequenos cristos cumprindo o envio para que o
cordeiro que foi morto receba a recompensa do seu sacrifício. Na Escritura encontramos a forma
perfeita, a motivação necessária e a certeza que essa missão está segura e consumada (Mt 28.18).
Digo consumada, pelo fato soberano de quem dirige a evangelização é o próprio Deus. Ele é o autor
da grande comissão.
John Piper há muito tempo vem afirmando essa máxima: "Missões não é o alvo final da Igreja. a
adoração é. Missões existem porque a adoração não existe. A adoração é o grande alvo, não
missões, porque Deus é o propósito final, não o homem". Precisamos entender que evangelização
deve produzir a glória de Deus, o fim último não pode nem deve ser o homem em si mesmo. Tudo
deve apontar para Deus, pois tudo é para Ele (Romanos 11.36). De fato, é necessário entender a
perspectiva bíblica sobre evangelismo, devido ao grande engodo que é feito desses termos.
Precisamos entender e definir a evangelização fundamentada na soberania de Deus.

O que é evangelismo? Uma frase muito conhecida do grande pregador Charles H. Spurgeon sobre
evangelismo: "Um mendigo contando a outro mendigo onde encontrar pão". Deslocando a ênfase
do mensageiro para o pão, a parte mais importante. Evangelismo é através do relacionamento. Se
não há relacionamentos como podemos evangelizar? O que falamos deve ser comprovado na nossa
própria vida, o testemunho confirma a mensagem do pregador. A grande questão é que devemos
ensinar tudo o que Jesus ordenou, como fazer isso se não for através do discipulado? Podemos
refletir que se você nunca discipulou, você nunca evangelizou.
Nas palavras do Joel Beeke [2]:
"Evangelização vem de uma palavra grega que
significa "boas novas". Proclamação das boas
novas, a proclamação do evangelho. Nele buscamos,
pela graça de Deus, a conversão de pecadores. Num
sentido mais amplo podemos dizer que inclui a
edificação dos filhos de Deus. Inicialmente, a
evangelização procura a conversão de pecadores e
no sentido mais amplo, procura o discipulado
daqueles que já nasceram de novo. Evangelização
não é definida pelos resultados, nem pelo os termos
usados por aquele que vão receber a mensagem e
nem muito menos pelos métodos utilizados".
Nas palavras do Packer [3]:
"De acordo com o Novo Testamento, evangelizar
significa simplesmente pregar o evangelho, as boas
novas. Trata-se de um ministério de comunicação,
no qual os cristãos tornam-se porta-vozes da
mensagem de misericórdia de Deus aos pecadores.
Qualquer um que transmita fielmente esta
mensagem, não importa sob que circunstâncias, em
uma grande reunião, em uma pequena conferência,
de um púlpito, ou em uma conversa particular,
estará evangelizando. Visto que a mensagem divina
encontra seu ponto alto no momento do apelo, da
parte do Criador para o mundo rebelde, a que se
converta e deposite a sua fé em Cristo, sua
transmissão significa a convocação dos ouvintes à
conversão".

O que é discipulado?
O meio pelo qual cumprimos a grande comissão. "Evangelizar com uma missão e ter a missão de
evangelizar", José Bernardo [4]. Podemos afirmar que discipulado é o ensino fiel das Escrituras,
com o propósitos de fortalecer pequenos cristos, isto é, cristãos.

Quem, onde, como e a quem?


É uma ordem, um mandamento. Todo o cristão deve pregar todo o evangelho, em todo lugar a toda
criatura. Não há exceções, todos os que são chamados por Deus. A grande comissão foi uma ordem
para discípulos e só discípulos cumprirão essa comissão. Como disse nosso grande teólogo
missionário: "Todo cristão ou é um missionário ou um impostor" Charles H. Spurgeon. Podemos
usar os quatro "todos" para entender melhor. "TODOS os cristãos, pregando TODO o evangelho, a
TODA criatura e em TODO lugar", segundo o missionário e pastor José Bernardo. Não é um
convite aos cristãos e sim uma ordem. Devemos realizar o cumprimento dessa ordem em todo os
lugares onde existe um pecador. Cumprindo com excelência e temor, ensinando tudo o que Jesus
ordenou (Mt 28.20). A todos que o Senhor trouxer (Jo 6.44), sem fazer assim acepção de pessoas
(Tg 2.9).

A perspectiva da grande Comissão no evangelho de Mateus 28.18-20


Na perspectiva de Mateus a grande comissão tem sido seriamente discutida, é importante trazer essa
perícope para uma breve análise. A questão gira em torno do ide ou enquanto vão, veremos que uma
interpretação adequada nos trará uma luz sobre a grande comissão.
E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Mt 28.18-20.
No verso 18 Jesus se aproxima e declara que toda a autoridade, ou seja έξουσια - poder, foi dado a
Ele no céu e na terra. Cristo, após sua humilhação e sofrimento declara a missão possível e segura.
A autoridade que Cristo recebe deve ser nossa motivação a obra da evangelização. A garantia que
fortalece nossa convicção como discípulos, que o Senhor tem nos céus e na terra autoridade e poder
sobre tudo e todos. No verso 19, a palavra "portanto" faz a ligação, como querendo dizer: portanto,
por conta disso... Ide! É necessário entender que isso é uma necessidade a ser cumprida para que a
ordem principal seja satisfeita. A palavra "ide" - πορευθεντες, é um particípio aoristo passivo e algo
que podemos compreender é: que quem vai sofre a ação de quem tem todo o poder no céu e na
terra.
Certamente nesse ponto é necessário cautela e boa teologia bíblica. A discursão tem sido a causa de
uma errônea ideia sobre o ide ou enquanto vão. Nas palavras do Yago Martins [5]:
"Eu ouvi várias mensagens que me diziam que o
imperativo, a ordem, da Grande Comissão era
simplesmente “discipular”, fazer discípulos. O
“ide”, na verdade, seria “indo”, ou “quando
fordes”. Assim, nós não seriamos ordenados a ir a
locais específicos para pregar o evangelho e fazer
discípulos, mas sim que devemos fazer isso “quando
formos” ou “enquanto vamos”. Diante de tudo isto,
podemos dizer que ainda que a ênfase maior esteja
em fazer discípulos, em um contexto em que
precisamos alcançar “todas as nações”, é difícil
acreditar que não temos a ordem de ir. Assim sendo,
só podemos concordar que neste texto Cristo não só
nos ordena fazer discípulos e pregar o evangelho,
mas também nos comissiona a “ir” como um meio
para que essa missão seja concretizada."
Só poderemos fazer discípulos se alcançado por esse poder obedecermos a ordem do ide. Na
verdade, acredito que alcançado por esse poder (Atos 1.8) que nos faz testemunhas - µάρτυρες,
estamos aptos para ir, com isso não resistiremos a ordem da grande comissão. No mesmo verso,
Cristo nos ordena a fazer discípulos de todas as nações - µαθήτευσατε. O verbo no imperativo
enfatiza o meio para a evangelização. Do mesmo jeito que abrange geograficamente a totalidade da
grande comissão. A continuação do verso 19 e o início do verso 20 nos indica a forma como a
evangelização deve acontecer: batismo e ensino - βαπτιζοντες, διδάσκοντες. Em nome do Deus
triuno essa evangelização é fundamentada no ensino do Filho. Ele diz que devemos ensinar tudo o
que Ele tem ordenado. A palavra aqui para observar é - τηρειν, Cristo ordena que devemos ensinar a
guardar todas os mandamentos. No verso 20, Cristo finaliza na perspectiva de Mateus a grande
comissão dizendo que essa ordem está fundamenta na sua doce imanência, através do seu eterno
poder. A nossa vida terá a presença daquEle que morreu e ressurgiu.

Discipulado: o meio pelo qual o evangelismo é realizado.


Em Mateus 28.19-20, nos é dito por Cristo que devemos ir e fazer discípulos de todas as nações. Ele
nos orienta os passos, que deve ser através do ensino e do batismo. Uma questão que deve ser
refletida é: ninguém pode ser testemunha de quem ou daquilo que não se conhece. Uma testemunha
de algo ou alguém precede conhecimento. Para ensinar é necessário conhecimento, aquele que não
se esmera no conhecimento de Deus através da Sua santa palavra, como poderá ensinar, ou seja,
discipular? Portanto, não há como a teologia, isto é, o estudo sobre Deus está separado da
evangelização. A importância dessa união manterá longe dos atraentes métodos de evangelismo dos
nossos dias. Teologia e evangelização devem andar juntas.

O que não é evangelismo?


Diante da definição e análise sobre o que é evangelização e sua forma de execução ser o
discipulado. É necessário pontuar o que não é evangelização. Ir contra a cultura pragmática e
reducionista da evangelização pós moderna tem de ser um desafio primordial.
Primeiro, evangelização não é falar: "Jesus te ama", inclusive essa frase tem varias implicações. E
deve preceder de um conhecimento de quem é Jesus, o que é e o que significa essa amor, ou seja, o
propósito desse amor incondicional e quem é esse pecador, o agente passivo dessa ação redentora.
Quem é esse homem, depravado totalmente e destituído da glória de Deus. Segundo, evangelização
não é fazer parte de um grupo de dança ou teatro, enquanto muitos grupos prestam mais um
desserviço à teologia bíblica do que trazer um genuíno ensino da Escritura. Terceiro, evangelização
não é ter camisas com versos bíblicos, nem muito menos pôr uma faixa no semáforo entregando
uma literatura. Isso não passa de um método ou uma estratégia que implica numa oportunidade para
realmente explicar o que é o evangelho através do discipulado. Quarto, evangelização não é ação
social. Ninguém pode dizer que está evangelizando quando entrega um prato de sopa. Isso não deve
ser evitado, pelo contrário, responsabilidade da igreja de alimentar o faminto; vestir o nu; visitar o
órgão e a viúva e ajudá-los nas suas tribulações; prestar socorro ao preso, dar de beber a quem tem
sede. Isso significa o cumprimento do mandamento que manifesta o amor ao próximo. Mas, a
evangelização acontece através de relacionamento acompanhado de ensino das Escrituras. Sobre a
evangelização dos nossos dias, diz Paul D. Washer: "Não é por esse tipo de evangelização que Deus
manifesta a Sua graça e sim apesar dessa evangelização".

A verdadeira motivação para a grande comissão


A evangelização tem um alvo excelente, a glória de Deus. Creio que temos uma missão de
evangelizar para evangelizarmos com a missão de ensinar tudo o que Jesus ordenou para que seja
obedecido (Mt 28.20). Quais são as nossas motivações para evangelização? Mark Dever [6] diz de
forma acertada:
"Há motivos errados também na evangelização?
Ora, essa talvez seja uma pergunta insensata. Afinal
de contas, que mal existe em compartilhar o
evangelho? Qualquer motivo não justifica a
evangelização? Por que temos de procurar um
motivo para fazer algo que é, em si mesmo,
evidentemente bom? Isso não é o mesmo que
procurar um motivo para amar o cônjuge e cuidar
dos filhos? [...] Entretanto, há problemas quando o
motivo é errado. Por exemplo, você poderia ter um
motivo egoísta para evangelizar. Embora pareça
bastante estranho, você poderia evangelizar pelo
desejo de estar certo, ou de querer vencer um
argumento de um amigo, ou de ter um reforço
psicológico para suas crenças, ou de querer mostrar
algum tipo de aparência espiritual diante de seus
amigos –ou até diante de Deus –, ou de ter uma
reputação como um evangelista bem-sucedido."
De fato a motivação para o evangelismo necessita de nossa total atenção. Resgataremos
urgentemente a verdade bíblica sobre as nossas motivações para responder prontamente a ordem da
grande comissão, pois somente com motivações cristãs teremos missões cristãs.

Conclusão:
A evangelização é uma ordem, a todo cristão. Negar isso, seria como negar a Escritura.
Desobedecer a grande comissão é o mesmo que desobedecer a Deus. A motivação da evangelização
não deve ser primariamente o amor e a compaixão pelos perdidos. Nossa maior motivação consiste
na glória de Deus. O conteúdo da evangelização dever ser a Palavra de Deus. O exemplo é claro na
igreja primitiva, o evangelho era pregado (Mc 1.15) e Deus dava o crescimento (Atos 2.47), pois
somente Ele é o responsável pelo resultado. Pregamos somente o evangelho e oramos para que a
graça do nosso Cristo alcance corações eleitos. A obra da evangelização é triuna e segura pois o
Filho recebeu todo o poder no céu e na terra (Mt 28.18), o Espírito Santo convence o homem (João
16.8) e o Pai garante o resultado (Fp 2.13).

“Que o mensageiro seja completamente esquecido e a mensagem eternamente lembrada”


Leonardo Sahium.

Notas:
[1] BEEKE, Joel R. A Tocha dos Puritanos. São Paulo: PES, 1995. p 12-13.
[2] BEEKE, Joel R. A Tocha dos Puritanos. São Paulo: PES, 1995. p 12.
[3] PACKER, J. I. A Evangelização e a Soberania de Deus, p 37.
[4] Pastor, escritor e Fundador da AMMEEVANGELIZAR.
[5] MARTINS, Yago. Você não precisa de um chamado missionário (Versão Kindle - Cap. 9).
[6] Dever, Mark. O evangelho e a evangelização. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, p.
127-128.

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