Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A XXIV Bienal tem sido objeto de pesquisa de Lagnado desde 2008, tendo publicado
um número da revista marcelina, da qual foi editora, sobre o assunto: http://pt.scribd.
com/doc/76994626/Revista-Marcelina-1 marcelina antropofágica. Juntamente com Mirtes
Marins de Oliveira, coordena o Curso de Curadoria da Escola São Paulo, sendo o Seminário
uma de suas atividades paralelas mais importantes.
Palavras de abertura
Lisette Lagnado
Biografias
3
Palavras de abertura
Lisette Lagnado
Palavras de abertura
É uma grande alegria receber vocês 2 - Depois do almoço (!!), o segundo momento
nesta casa onde, junto com Mirtes Marins de será dedicado às implicações da Psicanálise
Oliveira, estou desde março coordenando na Bienal que estamos estudando. Teremos
um Curso sobre o pensamento e a prática comnosco a Profª Tania Rivera, que oferece
curatorial, para o qual mobilizamos um como percurso a problematização do desejo,
grupo seleto de profissionais que atuam na sob a perspectiva de três mulheres: Louise
área da crítica e da pesquisa. Bourgeois, Maria Martins e Lygia Pape.
4
Introdução à conferência de Renato Sztutman
Fabio Cypriano
É com grande satisfação que dou Monteiro, de 1921, que antecipa a temática
início aos trabalhos do Seminário de da Antropofagia. Ele foi realizado sete anos
Curadoria – Antropofagia e Histórias de antes do “Abaporu” (1928), de Tarsila do
Canibalismos, organizado e idealizado Amaral, e do “O Manifesto Antropófago”, de
pela curadora Lisette Lagnado, com a Oswald de Andrade.
colaboração da Central Saint Martins da
Universidade de Londres e com a editora No desenho, Vicente do Rego
inglesa Afterall, ambas representadas aqui Monteiro apresenta um índio, recostado
por Pablo Lafuente. Agradeço a presença na placidez do ócio, saboreando um fêmur.
de todos, e, especialmente, a Escola São O artista pernambucano, de acordo com
Paulo, que sedia o seminário. Walter Zanini1 , foi o primeiro modernista
brasileiro a se ocupar de forma sistemática
Cabe a mim a tarefa de mediar a com os aspectos congênitos do país, através
conferência do professor Renato Sztutman, da temática indigenista, e algumas de suas
nesta mesa denominada Antropofagia, obras chegaram a estar na 24a Bienal, como
Antropologia – idas e vindas. “Cacique sentado em tartaruga com cabeça
humana”, de 1923.
Como introdução a essa temática, e
antes de apresentar formalmente o professor “Antropófago”, contudo, veio a
Sztutman, eu gostaria de abordar dois público, pela primeira vez, apenas
pontos para reflexão dentro deste seminário, na exposição “Brasil, da Antropofagia a
que afinal é uma plataforma reflexiva para Brasília”, organizada em 2002, pelo professor
a preparação do volume temático sobre a Jorge Schwartz para o Instituto Valenciano
24ª Bienal (1998) dentro da série intitulada de Arte Moderna, e exibida, no mesmo ano,
“Exhibition Histories”, da After All. Ambas no Museu de Arte Brasileira da Faap. Digno
as questões estão associadas a temática da de nota é que, muito possivelmente,
mesa. Ambas referem-se a ausências na
24ª Bienal.
A primeira delas diz respeito ao
1. Cf Zanini, W. (1997) Vicente do Rego Monteiro. Artista e poeta.
desenho “Antropófago”, de Vicente do Rego São Paulo: Empresa das Artes/Marigo Editora. (p. 69).
5
Oswald era conhecedor desse desenho já olhares sobre a relação entre antropologia
que acompanhava a obra de Rego Monteiro, ou arte o canibalismo”.
que estava presente na Semana de 22.
Rego Monteiro foi ainda autor de um livro Assim, lembrando que mostras se
ilustrado “Legendes, croyances et talismans configuram também como ausências e
des indiens de l’Amazone”, publicado em frustações, e seminários como esse podem
Paris, em 1923, antecipando também mitos preencher algumas espaços deixados em
explorados no romance antropofágico de branco, eu passo a palavra ao Renato
Mario de Andrade, “Macunaíma”, de 1928. Sztutman, Professor do Departamento de
Em 1930, Rego Monteiro chegou a ser Antropologia da Universidade de São Paulo
convidado por Oswald para pertencer à tribo (USP).
antropófaga, mas recusa o pedido pois ele
se considera anterior ao grupo, e, portanto, Sztutman possui mestrado e doutorado
seu precursor2. em Antropologia Social pela USP, na área de
etnologia indígena., além de ter estudado
Assim, me parece que a 24a. Bienal Jornalismo na PUC-SP. É pesquisador do
deixou de abordar um aspecto de forma mais Centro de Estudos Ameríndios (CEstA)
ampla, que é a relação de Rego Monteiro e do Laboratório de Imagem e Som em
com a Antropofagia. Antropologia (LISA). Foi um dos fundadores
e coeditou, entre 1997 e 2007, a revista
A segunda ausência não é involuntária, Sexta-Feira. Sztutman publicou “Imagens-
como parece ter sido a primeira.Trata-se Transe: Perigo, Possessão e a Gênese do
do cancelamento de uma sala dedicada Cinema de Jean Rouch”, em Imagem-
à Antropologia programada para a 24a. Conhecimento: Antropologia, Cinema e
Bienal, mas que não obteve patrocínio para Outros Diálogos (Papirus, 2009).
sua realização. A sala seria organizada pela
professora Manuela Carneiro da Cunha e
seu cancelamento foi comunicado por carta
de Paulo Herkenhoff, de 28 de agosto de
1998, poucos meses antes da abertura da
exposição.
27. In: Sztutman, Renato (org.) Entrevistas com Eduardo Viveiros 28. Art and agency: an anthropological theory. Oxford: Oxford
de Castro. Rio de Janeiro: Azougue, 2008, p. 114. University Press, 1997.
15
objeto de arte tudo aquilo que tem a esculpo uma flecha para produzir a sua
capacidade de provocar uma ação, tudo eficácia, desenho em um corpo para
aquilo que “faz fazer”, isto é, que possui protegê-lo de um ataque sobrenatural, canto
agência. Assim como Lévi-Strauss alargou a para tornar-me como um deus ou espírito.
Razão, democratizando-a, Gell alarga a Arte, Ornamentos não são meramente enfeites,
reintegrando-a à vida, atitude aliás bastante mas modos de potencializar um corpo, de
presente nas vanguardas modernas e na produzir nele determinadas afecções. É
arte contemporânea, em sua crítica aos possível, assim, fazer um corpo-pássaro,
espaços expositivos e à própria aura das um corpo-onça, um corpo-espírito etc. A
obras. Ao apostar na ideia de agência, Gell arte inscreve-se aqui também no campo do
reaproxima toda arte da definição de magia, devir e do corpo, e não no da representação
tecnologia baseada no princípio de eficácia, ou da alma, no campo da eficácia, e não
e não na pressuposição de uma realidade no da contemplação. Ela estaria implicada
transcendente, como é o caso da religião29. na vida, justamente porque não haveria
Objetos ou performances artísticos não separação entre arte e vida. Nesse sentido,
podem ser reduzidos nem à sua forma, nem toda arte seria uma anti-arte, arte ritual ou,
à possibilidade dada de simbolizar algo, o por que não, “arte ambiental” – em que o
que eles fariam é produzir uma realidade, acontecimento é mais importante do que a
conduzindo novamente à problematização materialidade –, para voltar à expressão de
da dicotomia real e simbólico, literal e Hélio Oiticica, esse expoente de uma outra
metafórico. arte antropófaga.
21
Introdução à conferência de Tania
Lisette Lagnado
1. Em janeiro de 2013, a convite de Pablo Lafuente, apresentei um Em sentido inverso, quais os ganhos
seminário interno aos alunos do Curso “Historías das Exposições”,
que organiza com Lucy Steeds na Central Saint-Martins College of de interpretação que estas três artistas
Arts and Design da University of the Arts London (material inédito trouxeram para o entendimento do processo
que será objeto de uma aula no curso aqui na Escola São Paulo, no
dia 7 de junho próximo). criativo? Renato Sztutman mencionou de
22
manhã Claudia Andujar e Adriana Varejão. É respeito) se compararmos com o movimento
bom lembrar que se a imagem do cartaz da de André Breton e seus companheiros,
23 BSP, logo anterior, foi extraída da própria inimigos e rivais, na Europa. Na 24 BSP,
Louise, o cartaz da 24 BSP se baseou num a sala do pintor chileno Roberto Matta
desenho de Leonilson. ajudou a atenuar esta lacuna. Por um lado,
é compreensível que países da América
“Arte é uma garantia de sanidade” do Sul procurassem distância do Realismo
é uma inscrição de uma litografia bem fantástico que impõe um imaginário exôtico,
conhecida da Louise. Devemos ler esta primitivo, irracional. É um fator a ser levado
frase como um atestado poético contra em consideração, ainda que um cineasta da
a racionalidade burocrática do cotidiano. grandeza de Glauber Rocha não negasse
No entanto, não posso deixar de lembrar esta bagagem. Por outro lado, há cada vez
que, historicamente, uma das construções mais evidências de que falta escrever esta
simbólicas mais degradantes à integridade história a partir de uma outra perspectiva.
da mulher talvez tenha sido a relação entre
histeria (do grego hystéra, matriz) e útero2. Enfim, muito assunto. Sem mais,
Então, o terreno está minado. deixo a palavra à Tania.
Antropofagia e identidade
A antropofagia de Oswald de Andrade homens submetidos a um pai que detinha
é uma afirmação radical de abertura à todos os poderes, inclusive a posse de todas
alteridade. Ela não se reduz, porém, à ideia as mulheres. Um dia, encorajados talvez
de uma identidade capaz de encontrar e pela invenção de uma nova arma, os irmãos
assimilar outra identidade, como é muitas unem-se e assassinam o pai. Em seguida,
vezes entendida a partir do modelo do devoram-no em um grande banquete.
canibalismo praticado por alguns dentre os Arrependem-se e identificam-se com o pai
ditos “povos primitivos”. -- ou melhor, dele incorporam algo, algum
traço. Transformam-no em um totem em
A antropofagia oswaldiana parece- torno do qual organizam-se tabus. E assim
me consistir, mais fundamentalmente, nasce a sociedade dos irmãos, a fratria.
em uma crítica da própria noção de
identidade – ou seja, da concepção do Essa narrativa ficcional tem um
ser como idêntico a si mesmo e indivisível importante alcance teórico, pois permite
(in-divíduo) e, secundariamente, capaz a articulação de elementos fundamentais,
de uma relação com um outro igualmente sem que se perca de vista que toda
delimitado identitariamente. Mais do narrativa sobre as origens é mítica, tenha
que uma apropriação da tese freudiana ela pretensão religiosa ou científica. A
proposta em Totem e Tabu, acrescida de incorporação canibalística do pai da horda
uma genial mescla à “comunhão” com o primitiva marca um primeiro momento de
“inimigo valoroso” visada pelo canibalismo identificação, apontando para o fato de que
de certos indígenas brasileiros, a o sujeito se constitui de saída no campo
antropofagia oswaldiana mostra-se, assim, do Outro. Ela não constitui, porém, uma
profundamente influenciada pelo legado de identificação global e totalizante, dotando o
Freud como afirmação do sujeito dividido – filho de uma identidade conforme o modelo
outro para si mesmo. do pai morto, mas sim de algo fragmentário
que lhe fornece o traço necessário para que
O eu não se duplica, apenas, por um outros elementos venham se agregar. Após
inconsciente “primitivo”, “menos evoluído o crime fundamental do assassinato do pai
ou adaptado”, oculto e misterioso. Não terrível, perverso, algo dele ( uma parte
basta formular, com Arthur Rimbaud, que de seu corpo, no mito) será absorvido,
“Eu é um outro”. É necessário afirmar a compartilhadamente, e assim o sujeito
inquietante ideia de que eu é outros. tomará lugar em relação à lei que funda a
sociedade.
O mito freudiano de Totem e Tabu
trata da origem simultânea de tal sujeito Tal mito permite também que se
descentrado e da sociedade. No começo, afirme um ato, uma transgressão primordial
segundo a hipótese darwiniana adotada como origem primeira da lei. A constituição
pelo psicanalista, havia uma horda de do totem regula o pertencimento de
24
cada membro da fratria àquilo no qual podemos qualificar de irônica ou satírica.
se transformou o pai morto: um ideal
compartilhado. A forte ligação a esse ideal Isso se opõe, podemos dizer, à lógica
assegura a cada irmão uma posição subjetiva da colonização, se a concebermos como
e social, de um modo que podemos dizer relação de poder que constrange a uma
totalizante. O fato de o totem demandar identificação maciça com o colonizador, sob
determinados ritos e prescrições que a forma de um ideal adotado sem restrições
conformam a noção de tabu e devem ser pelo colonizado. Tomemos tal “lógica” como
reafirmados regularmente parece denunciar, ponto extremo de um leque mais nuanceado
contudo, a relativa fragilidade de tal posição de possibilidades, do qual a outra ponta
identitária. seria uma recusa ferrenha à aceitação de
tal ideal: entre esses dois pólos, teríamos
Em acréscimo, a partir deste momento não apenas diferentes graus de adoção do
mítico em que se funda a sociedade como ideal do colonizador, mas também possíveis
grupo de irmãos semelhantes, herdeiros transformações deste ideal, pela adoção
do mesmo pai e submetidos à mesma de estratégias de miscigenação que talvez
interdição de ocupar o lugar do pai, possamos qualificar, pelo menos em certos
outras identificações virão sucessivamente casos, como subversivas.
constituir o eu como uma espécie de
mosaico mais ou menos bem ajambrado. Na dialética da antropofagia, o
Várias figuras em posição equivalente modernismo brasileiro se revela portanto,
àquela do pai se apresentarão ao longo da ao mesmo tempo, como busca de uma
vida, deixando suas marcas identificatórias. identidade nacional e afirmação da
Além disso, o sujeito tenderá a se assimilar impossibilidade ou da gratuidade de tal
à compacta massa de irmãos, reforçando, caracterização identitária. Tal dialética
por identificação, sua ligação a esses outros se formula, parodicamente, no lema
semelhantes ao eu. Ele poderá, também, “tupy or not tupy, that’s the question”. O
optar por mimetizar-se especialmente a um “genuinamente” nacional só pode se formular
ou outro dentre seus semelhantes. em uma língua estrangeira, e seguindo
a tradição de Shakespeare. A identidade
O canibalismo do mítico banquete “autóctone” é assim questionada, recusando
totêmico permite que Freud enuncie a lógica do auto, para adotar aquela do
uma afirmação fundamental: o momento hetero: apenas pelo outro, através dele,
primordial de constituição do eu se dá por pode-se afirmar alguma identidade, em
introjeção, em uma identificação de base que uma estratégia retórica que performa sua
lhe serve de esteio e sobre a qual virão se constituição alteritária. Nisso desempenha
acrescentar outras identificações, ao longo um papel a multiplicidade étnica e a ampla
da vida. A antropofagia oswaldiana sublinha miscigenação que marca a história do Brasil,
e assume tal condição de modo radical. tornando difícil a clara delimitação dos
Ela recusa, portanto, a ilusão de um eu atores culturais em jogo (em contraste com
autônomo, constituído como uma mônada a situação de regiões da América Latina em
independente, que apenas em um segundo que as civilizações pré-hispânicas mativeram
momento seria capaz de se relacionar uma delimitação mais nítida e duradoura
com os outros. Assumir a apropriação em relação aos colonizadores europeus).
de traços do Outro como fundamento Nesse contexto, a proposta oswaldiana não
do eu implica uma problematizacão do é mera negação da questão da identidade,
próprio eu – e, consequentemente, da mas sim afirmação de sua problematização
dinâmica de suas ligações com os outros. O como uma marca identificatória, um traço
antropófago é aquele que toma em mãos tal fundamental, expresso magistralmente em
problematização e com isso estabelece em outro trecho do Manifesto Antropófago: “só
relação ao Outro uma certa distância, que me interessa o que não é meu”.
25
“Só me interessa o que não é meu”: tal determina no presente, ela está sempre
é a “lei do homem”, a “lei do antropófago”. E aberta a uma invenção de futuro.
também, poderíamos dizer, a lei do desejo.
No mito freudiano, a interdição excessiva “No começo era o ato”, afirma Freud2.
que o pai da horda exercia sobre seus Esse ato criminoso e antropófago deve
filhos, proibindo-lhes o acesso às mulheres, ser retomado na pré-história de cada um,
não desaparece uma vez cumprido seu marcando a necessidade de uma apropriação
assassinato, mas torna-se lei introjetada ativa do contexto em que o sujeito pode
em cada membro da sociedade de irmãos. surgir – a Lei, o pai ou a ordem simbólica,
Da privação imposta pelo pai perverso os para falar como Lacan. Como escreve
filhos passam, graças ao ato assassino, ao ainda Freud, citando o Fausto de Goethe,
desejo: articulação entre a pulsão e a lei que “o que herdastes de seus pais, adquira-o
instaura uma satisfação parcial, limitada, e para possui-lo”3 . Em uma conformação
portanto sempre capaz de relançar o desejo narrativa, que se constitui de modo sempre
em busca de outro objeto. Em busca do radicalmente singular, e recebe de Freud a
“que não é meu”. denominação geral de Complexo de Édipo,
se conjugam assim as origens “da religião,
Por isso “só a antropofagia nos da moralidade, da sociedade” e, last but
une”, como estabelece a primeira frase not least, “da arte”4 . Como explicita a
do Manifesto. Em contraste com a lógica tragédia grega, a arte seria uma maneira
da massa coesa vigiando seus tabus em de retomar tal ato primordial e lidar com
torno de um ideal inquestionado, Oswald a culpa dele decorrente. Freud limita-se
de Andrade propõe um modo de relação a indicar esse caminho, sem se debruçar
que, assumindo a antropofagia como mais longamente a respeito da questão da
uma espécie de identidade alteritária (se arte. Oswald de Andrade é o único a levá-
me permitem o oxímoro) seria aquele do lo adiante, colocando em primeiro plano a
desejo, aquele da arte. Uma vez explicitado questão da apropriação como mecanismo
o jogo identificatório que faz de mim de constituição do eu, e radicalizando a
mesmo um outro, nesse hiato entre mim articulação entre arte e antropofagia de modo
e mim mesmo pode surgir um espaço de a fazer desta uma proposta de compreensão
intersecção com o hiato que constitui o e intervenção artística e literária em geral, e
outro. Em lugar da massa coesa, afirmada especialmente no Brasil.
na semelhança ilusória entre os eus e
submetida a um líder, delineia-se assim uma Destruição do pai e problematização do
possibilidade de constuição de laços sociais eu em Louise Bourgeois
pelo descentramento, nas diferenças.
Como potência crítica da identidade e
O eu, como o Rei da fábula, de convite à alteridade, além de reflexão sobre
repente está nu e, uma vez cônscio da a própria arte, a antropofagia se espraia,
montagem precária que se oferecia a ele portanto, bem além dos limites de um tema
próprio como firme e genuíno arrimo, pode para a arte e para as ciências humanas. Nos
brincar com suas identificações de modo a debruçaremos aqui, para tentar desdobrá-
refazer os laços ao outro – e assim levar la, sobre as suas relações com o desejo e
adiante o fazer incessante da Cultura. Pois, a feminilidade, convocando especialmente
como dizia Hélio Oiticica – grande herdeiro três artistas privilegiadas pela curadoria da
de Oswald – a Cultura é “raiz-aberta”1 , ou XXIV Bienal de São Paulo: Maria Martins,
seja, a raiz estabelecida no passado só se Lygia Clark e Louise Bourgeois.
Referências bibliográficas
Fabio Cypriano
Tania Rivera
Psicanalista e ensaísta. Professora do Departamento de Arte e da Pós-
Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes na Universidade Federal
Fluminense (UFF-RJ). É Doutora em Psicologia pela Université Catholique de Louvain,
Bélgica, com Pós-doutorado em Artes Visuais pela EBA-UFRJ (2006). Pesquisadora
bolsista do CNPq. Autora dos livros “O Avesso do Imaginário. Arte Contemporânea
e Psicanálise” (Cosac Naify, no prelo) e “Hélio Oiticica e a Arquitetura do Sujeito”
(EdUFF, no prelo), além de “Cinema, Imagem e Psicanálise, Arte e Psicanálise
e Guimarães Rosa e a Psicanálise” (por Jorge Zahar Editor). Co-organizadora,
com Vladimir Safatle, de “Sobre Arte e Psicanálise” (Escuta). Dirigiu os vídeo-
ensaios “Who Drivesou o Olhar Outro” (2008), “Ensaio sobre o Sujeito na Arte
Contemporânea Brasileira” (2009) e “Imagem se faz com Imagens” (2010).
46
Lisette Lagnado
Pablo Lafuente
47
EQUIPE DA ESCOLA SÃO PAULO
Conselho
48