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RELATÓRIO TECNICO

“Estudo hidrogeológico e avaliação das potencialidades de


captação de agua de abastecimento humano na população de
Muvanda (Namibe)”

MIGUEL A. GONZÁLEZ ALONSO

LUBANGO, MAIO 2018


CP-Geo

ÍNDICE

ÍNDICE......................................................................................................................................................2
1. – INTRODUÇÃO............................................................................................................................3
2. – METODOLOGIA.........................................................................................................................3
3. – DIAGNOSTICO DAS FONTES DE AGUA EXISTENTES: MUVANDA, MUNICÍPIO
DE BIBALA, NAMIBE............................................................................................................................4
4. – DADOS E INFORMAÇÃO HIDROGEOLÓGICA.....................................................................7
5. – Avaliação e recomendações..........................................................................................................12

1. – Introdução.

Estudo de hidrogeologico de Muvanda, prov Namibe. 2


CP-Geo

O presente estudo tem por objetivo realizar a avaliação preliminar dos


recursos hídricos disponíveis na localidade de Muvanda, Município de Bibala,
Província de Namibe.

Visando definir os pontos com maior potencialidade de agua, desde o ponto


de vista hidrogeológico.

O dia 14 de maio de 2018 se tomaram os dados dos pontos de agua no


terreno. Após forem contrastadas com a informação bibliográfica compilada e
as imagens de satélite disponíveis.

A análise e valoração da informação compilada são fundamento deste parecer


técnico sobre os recursos hídricos disponíveis e nos permite emitir as
recomendações incluídas no presente relatório.

2. – Metodologia.

Para a realização do estudo se considerou a metodologia a seguir:

1. Inventario das captações e fontes de água existentes. Diagnostico da


situação actual das captações, infraestructuras, equipamentos...

2. Estudos hidrogeológicos e técnicos:


 Recopilação de informação básica: cartografia, geologia, geormofologia
hidrologia, relevo e climatologia.
 Foto interpretação das imagens de satélite dos terrenos onde se localiza
a captação para o abastecimento de água.
 Estudo geológico de detalhe, em base à geologia existente.

3. Analises e avalição da informação. A integração da informação obtida


sobre o terreno é decisiva na hora de nos aproximar para definir o sistema
aquífero, suas relações, recarga, hidrodinâmica... que permite definir as
alternativas mais viáveis para a captação de água.

4. Conclusões e recomendações. Depois de avaliadas as principais


variáveis hidrogeológicas da zona alvo, se extraíram as conclusões e
recomendações a considerar na elaboração do projecto.

3. – Diagnostico das fontes de agua existentes:


Muvanda, município de Bibala, Namibe.

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Durante o dia 14 de Maio de 2018 foi realizado o levantamento no terreno dos


pontos de agua mais relevantes da localidade.

As coordenadas geográficas dos pontos de água localizados são:

Lugar Latitude Longitude Altitude


FURO1 14° 16.060'S 13° 11.870'E 706 msnm
FURO2 14° 15.683'S 13° 12.040'E 702 msnm
CACIMBA1 14° 15.850'S 13° 11.838'E 701 msnm
CACIMBA2 14° 15.680'S 13° 12.105'E 705 msnm
CACIMBA3 14° 16.435'S 13° 12.254'E 703 msnm
CACIMBA4 14° 15.850'S 13° 11.838'E 701 msnm

A imagem 1 extraída de Google Earth mostra o percurso realizado durante o


levantamento, indicando as captações de agua existentes e os pontos mais
favoráveis marcados para a perfuração sob a base da informação analisada e
interpretada.

Imagem 1: situação dos principais pontos de água existentes nos arredores de Muvanda.

A população de Muvanda não tem uma fonte de agua de qualidade. A


população acostuma a utilizar como fonte habitual de subministro de água as
diferentes cacimbas permanentes que alumbram água a escassa
profundidade. A falta de proteção das fontes de agua, não permite garantir
um agua bacteriologicamente potável. Os riscos contra a saúde se acentuam
durante os ciclos de seca acumulada, nos quais a redução dos níveis de água
provoca uma drástica redução da disponibilidade do recurso hídrico.

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Existe um furo de agua no núcleo populacional, nomeado como “FURO1” na


imagem 1, dotado com bomba alimentada por paneis solares, no momento
esta fora de serviço. Conforme as informações da população o furo tem uma
profundidade de 50 m, tem escassa produção e a água é salobra.

Ao norte da população, em direção E-W, percorre um riacho com depósitos


aluviais com potencial de armazenamento de agua. A uma distancia
aproximada de 750 m das infraestructuras publicas de Muvanda sobre os
sedimentos aluviais do riacho, existe um furo da época colonial (“FURO2” na
imagem 1), conforme as informações da população não tinha produção
suficiente de agua, ainda que não se tem dados de profundidade, caudal,
qualidade de água...

As fontes principais de subministro de agua, tanto das pessoas como do gado


que sustenta a sua sobrevivência, consistem em varias cacimbas próximas.
Todas as cacimbas sem nenhum tipo de proteção nem construção melhorada,
as mais antigas forem escavadas manualmente pela população e as mais
recentes com maquinaria pesada, durante o melhoramento da estrada.

A CACIMBA1 (ver foto 1), foi escavada recentemente durante as obras na


estrada, encontrasse situada no limite dos depósitos aluviais do riacho que
percorre ao norte da escola de Muvanda. Informações dos habitantes indicam
que desde o seu alumbramento, três ou quatro anos atrás, nunca se seco.

A CACIMBA2 (ver foto 2) é a fonte de agua permanente mais próxima á


população, sendo o ponto principal de abastecimento nas épocas secas, foi
escavada pelo “soba”, nos terrenos aluviais associados ao riacho, 120 m a
montante do FURO2 construído na época colonial.

Os parâmetros tomados na agua da CACIMBA2 são:

Lugar pH Tª Conductividade TDS


CACIMBA2 7.8 29 ºC 460 µS/cm 0.22 ppt

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Foto1: CACIMBA1, no contacto sul do aluvial. Foto 2: CACIMBA2, centro do aluvial.

A CACIMBA3 (ver foto 3) distante aproximadamente um quilometro da escola


de Muvanda, esta situada sobre os depósitos aluviais da ribeira do riacho que
corre ao sul da aldeia. Foi a fonte de água que, tradicionalmente, deu origem
á comunidade, actualmente o uso está limitado ás famílias mais próximas,
ainda que seja uma fonte permanente de água, associada á descarga das
aguas subterrâneas que fluem desde os relevos montanhosos ao sul.

Fotografia 3 “CACIMBA3”; Foto 4: “CACIMBA4”.

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Os parâmetros físicos medidos na agua da CACIMBA3 são:

Lugar pH Tª Conductividade TDS


CACIMBA3 8.0 29 ºC 270 µS/cm 0.13 ppt

A CACIMBA4 se encontra, a menos de um quilometro a jusante da CACIMBA3,


no cruzamento do mesmo riacho com a estrada. O buraco escavado, durante
os trabalhos de melhora da via, é fonte permanente de agua e tem sido
protegida pelos habitantes.

Os parâmetros físicos medidos na agua da CACIMBA3 são:

Lugar pH Tª Conductividade TDS


CACIMBA3 7.3 28 ºC 820 µS/cm 0.40 ppt

4. – Dados e informação hidrogeológica.

4.1. HIDROLOGIA

Os rios do litoral Sul de Angola entre o rio Coporolo e o rio Cunene, são rios
temporários que só escoam água durante os esporádicos episódios de chuvas,
que acostumam a ser torrenciais. Ver imagens 2 e 3.

Os depósitos sedimentares dos leitos dos rios podem conter reservas


importantes de água, que se estão alimentados pelo fluxo das aguas mais
profundas do substrato, podem garantir a disponibilidade de agua durante as
secas acumuladas.

Os terrenos graníticos e gnáissicos, que compõem o substrato, se


caracterizam por uma permeabilidade baixa, donde o fluxo de agua
subterrânea se concentra: no perfil de alteração da rocha, nas falhas ou
fracturas e nos contatos litológicos entre diferentes formações. Falhas e
contactos geológicos são facilmente identificados na imagem de satélite e
interpretados como zonas com maior potencial hídrico.

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Imagem 2: geologia e hidrologia do Sudoeste de Angola.

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Imagem 3: bacia hidrográfica do rio Inamagando ou Chingo.

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4.2. CLIMATOLOGIA

A população de Muvanda se encontra 40 km ao Norte de Bibala e a 60 km de


Lubango. Por em quanto o porto de Namibe fica 150 km ao Sudoeste. As
gráficas de precipitação e evaporação de Lubango e Namibe a seguir:

Imagem 4: Precipitação Media e Máxima Mensal e Precipitação Anual e Media Anual para
Lubango, valores em mm (fonte INAMET).

Imagem 5: Evaporação Potencial Media, Mínima e Máxima Mensal e Evaporação Anual e


Media Anual para Lubango, valores em mm (fonte INAMET).

Imagem 6: Precipitação Media e Máxima Mensal e Precipitação Anual e Media Anual para
Namibe, valores em mm (fonte INAMET).

Imagem 7: Evaporação Potencial Media, Mínima e Máxima Mensal e Evaporação Anual e


Media Anual para Namibe, valores em mm (fonte INAMET).

A situação geográfica da população de Muvanda sobre o sopé de monte do


planalto angolano, a uma altitude de 705 metros sobre o nível do mar, entre

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as cidades de Namibe e Lubango, permite inferir umas baixas precipitações


anuais, que resultam em um importante déficit hídrico da região, que significa
uma escassa recarga dos aquíferos.

4.3. GEOLOGIA

Os terrenos que compõem este área, compostos por rochas metamórficas e


ígneas, têm baixa permeabilidade e capacidade de armazenamento. As águas
subterrâneas vão a circular preferentemente pelas: descontinuidades, perfil de
alteração, falhas e contatos entre distintas formações da rocha. Estas
estruturas geológicas muitas vezes se refletem nas morfologias lineares do
relevo.

Conforme á imagem 8 extraída da Carta Geológica de Angola 1:1.000.000


(ING-1988), Muvanda esta situado sobre Gnaisses do Grupo superior do
Arcaico Inferior (AR21), que na zona de estudo afloram migmatizados, sendo
de composição tonalitica e plagiogranitica. Ao Sul, em contacto discordante,
aflora a formação do Arcaico Superior (γAR 2) composta por granitos biotíticos,
que são atravessados por granitos leucocraticos de Kibala (ᶅγPR 1) emprazados
durante o Proterozoico.

Muvanda

Imagem 8: Geologia regional de Muvanda (quadro amarelo).

O percurso dos rios, na zona, esta condicionado pelas direções de falha e o


contacto de formações geológicas.

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As zonas de fractura e contactos litológicos são zonas favoráveis de infiltração


da água sub-superficial que flui pelo leito dos rios, pelo que teoricamente
podem produzir maior quantidade de agua, mas podem ser atravessados
níveis de agua altamente mineralizada de baixa qualidade.

A compilação de dados, litológicos e hidrogeológicos, durante as perfurações é


importante para completar a compreensão da hidrodinâmica subterrânea e
estimar as reservas hídricas disponíveis dos aquíferos.

5. – Avaliação e recomendações.

O potencial hídrico dos arredores da população de Muvanda é escasso,


podendo-se identificar os contextos hidrogeológicos seguir:

1. As aguas que fluem pelos gnaisses e granitos tem baixa permeabilidade


e escasso potencial hídrico, se concentram: no perfil de alteração da
rocha, nas falhas e nos contactos entre diferentes formações
geológicas. Isso junto, com a baixa recarga aquífera associada ao clima
semiárido da zona, supõe que, neste tipo de terrenos, a produção dos
furos positivos raramente supera 1.000 l/h.

2. Os depósitos aluviais dos rios, conformados por terrenos recentes não


consolidados, tem a máxima permeabilidade e potencial de produção,
com caudais > 10.000 l/h, mas é preciso valorar a superfície de recarga
e a capacidade de armazenamento para avaliar a disponibilidade nas
épocas de seca. No caso de Muvanda a superfície dos depósitos aluviais
é reduzida e a recarga pobre, pelo que a quantidade de água pode ser
deficitária em épocas de seca.

3. As zonas de contacto litológico facilitam a circulação das águas


subterrâneas. Os aquíferos alimentados pelos relevos conformados por
granitos que se elevam ao sul de Muvanda permitem supor um maior
potencial de regulação multianual. Com tudo os caudais nos casos
favoráveis estão entre 2.000-3.000 l/h, durante os períodos secos.

Na base dos dados compilados se têm marcado os pontos potenciais de


perfuração a seguir:

Lugar Latitude Longitude Altitude


Muvanda_prop1 14° 15.724'S 13° 11.934'E 699 msnm
Muvanda_prop2 14° 16.420'S 13° 12.060'E 703 msnm
Muvanda_prop3 14° 15.940'S 13° 10.950'E 691 msnm

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A imagem 9, extraída de Google Earth, mostra os pontos mais favoráveis para


a perfuração, definidos sob a base da informação analisada e interpretada.

Imagem 9: Foto de satélite dos pontos marcados para a captação de agua em Muvanda.

A. O ponto marcado como “Muvanda_prop1”, a jusante do furo


colonial perto da estrada, foi marcado na procura da atravessar
o lençol aquífero associado á falha que define o percurso do rio
em superfície. Durante a perfuração se deve constatar a
espessura dos terrenos sedimentares atravessados, o desenho
final do furo deverá permitir a captação da agua do lençol
aquífero superior.

Propõe-se perfurar com broca de diâmetro 12” e encamisar em


200 mm, até o muro dos terrenos sedimentares. Após o
diâmetro pode se diminuir e continuar com martelo de 6”, até
os 50 m de profundidade, tendo precaução de parar a
perfuração, se se detectar níveis de águas altamente
mineralizadas.

Durante o começo da perfuração se tomara atenção de medir a


espessura dos sedimentos aluviais, as formações do substrato,
lençóis aquíferos e o nível freático, que serviram de base para o
desenho final do encamisado.

B. “Muvanda prop02” esta sobre o contacto litológico, entre as


formações ígneas e metamórficas, que condiciona a circulação
da linha agua, que parece, associada a os afloramentos de agua

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da CACIMBA1 e CACIMBA2. Recomenda-se perfurar conforme


exposto no ponto anterior.

C. “Muvanda prop03” se encontra sobre terrenos sedimentares na


confluência das duas linhas de água que rodeiam a população,
estando ambas as linhas condicionadas pelas falhas que se
apreciam na imagem de satélite. A metodologia de perfuração
deve ser conforme já exposto.

Lubango, 19 de Maio de 2018.


Miguel Alonso
Hidrogeólogo

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