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1.

INTRODUÇÃO

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Classificações da Constituição

 Quanto ao conteúdo: Formal ou material.


 Quanto à forma: Escrita ou não escrita.
 Quanto à origem: Promulgada, outorgada, cesarista ou pactuada.
 Quanto a estabilidade: Alterabilidade ou mutabilidade.
 Quanto à extensão: Analítica ou sintética.
 Quanto à finalidade: Garantia, dirigente ou balanço.
 Quanto ao modo de elaboração: Dogmática ou histórica.
 Quanto a ideologia: Ortodoxa ou eclética.
 Quanto ao modo de ser (Ontológica): Normativa, nominativa ou semântica.
 Quanto à sistematização: Codificada ou legal.
 Quanto à religião: Teocrática ou laica.

Constituição material: é aquela formada exclusivamente para normas materialmente


constituicionais. Compreendem as normas que dizem respeito à estrutura mínima e essencial do
estado.

Constituição formal: é aquela formada por normas materialmente constituicionais bem


como por normas formalmente constituicionais.

Constituição escrita: é aquela sistematizada em um único documento constituicional escrito.

Constituição não escrita: é composta por normas que não constam em um documento
constituicional único e solene. É formada por costumes, jurisprudência, bem como textos
constituicionais escritos, porém esparsos, inclusivos no tempo.

Constituição promulgada: também chamada de democrática, popular ou votada, é aquela


elaborada com a participação popular. Origina-se de um órgão constituinte composto de
representantes do povo, eleitos com a finalidade de elaborar o texto comstituicional.

Constituição Outorgada (imposta): é aquela decorrente de acto unilateral de força, fruto de


um sistema autoritário, sendo elaborada sem a participação popular.

Constituição cesarista (plebiscitária): é formada por uma imposição do governo em um


primeiro momento, formada a um referendo popular como condição de eficácia do texto
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constituicional. Há, portanto, um acto de outorga na origem somada a uma manifestação popular
posterior com a finalidade de ratificar a vontade do detentor do poder político.

Constituição pactuada: é aquela que nasce de um acordo de vontades envolvendo dois ou


mais agentes revolucionários que em dado momento histórico possuem o mesmo grau de poder.

Este tipo de constituição geralmente ocorre em estados mergulhados em guerra civil.

Constituição imutável: Não admite alteração do seu conteúdo.

Constituição rígida: é aquela em que o processo de alteração de suas normas depende de


um procedimento solene, mais rigoroso do que o exigido para a modificação da legislação
infraconstituicional.

Constituição flexível: permite sua alterabilidade pelo mesmo procedimento da legislação


ordinária.

Constituição semirígida: é aquela em que o processo de modificação só é rígido na parte


materialmente constituicional sendo flexível na parte formalmente constituicional.

Constituição analítica: (extenso, amplo) examina e regulamenta todos os assuntos que


entende relevante.

Constituição sintética: (concisa, breve, sucinta) traz somente princípios e normas gerais de
regência do estado, ou seja, trata apenas de matérias com conteúdo de constituição (normas
materialmente constituintes) deixando os demais assuntos para a legislação infraconstituicional.

2.2. As funções actuais da Constituição

A Constituição dá-nos a ideia de lei fundamental como instrumento formal e processual de


garantia e que as constituições devem conter programas ou linhas de orientação para o futuro. Assim
podemos dizer que a lei Constitucional tem as seguintes funções:

· Constituir normativo da organização Estadual - determinando de forma vinculativas as


competências dos órgãos de soberania e as formas e processos de exercício do poder. Podemos ver o
exemplo disso na nossa actual constituição os artigos 159 a 163 sobre as competências do Presidente
da República; os artigos 179 183 referentes a competências da Assembleia da República; os artigos

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203 a 205 sobre as competências do Governo e nos artigos 212 a 233 sobre as funções e
competências dos Tribunais;

· Racionalização e limites dos poderes públicos – função que esta associada ao princípio da
divisão de poderes (separação e interdependência) com principio enformador a estrutura orgânica
da constituição. Com a separação dos poderes e distribuição das funções consegue-se
simultaneamente uma racionalização do exercício das funções de soberania e o estabelecimento de
limites recíprocos, conforme se depreende do artigo 134 da CRM;

· Fundamentação da ordem jurídica da comunidade – a legitimidade material da constituição


não se basta com dar forma e constituir órgãos pois lhe é exigida uma fundamentação substantiva
para actos do poder público, fundamentação essa fornecida pelos direitos fundamentais (direitos,
liberdades e garantias e direitos económicos, sociais e culturais);

· Programa de acção - imposição de tarefas e programas que os poderes públicos devam


concretizar.

Outra doutrina enumera as funções da Constituição como:

1) Função de autovinculação – as sociedades e os indivíduos auto vinculam-se através de


uma constituição a fim de resolver os problemas resultantes da racionalidade imperfeita e dos
desvios de suas vontades. Autovinculações negativas (omissões e proibições) e autovinculações
positivas (alicerça o compromisso na exigência de actos positivos)

2) Função de autocorrecção (paradoxo da democracia e paradoxo integeracional – cada


geração quer ser livre para vincular as gerações seguintes mas não quer ser vinculada pelos seus
predecessores).

3) Função de inclusividade multicultural – A função integradora da constituição carece hoje


de uma profunda revisão originada pelos fenómenos do pluralismo jurídico e do multiculturalismo
social.

Nova função da lei fundamental: estruturar e garantir um sistema constitucional pluralístico.


Esta estruturação e garantia passa, desde logo, pela proibição de organizações aniquiladoras ou
defensoras da aniquilação do pluralismo ideológico e do multiculturalismo racial. No fundo, a
Constituição é o espaço de jogo do paradoxo da tolerância: a tolerância aponta para um pluralismo
limitado sob a pena de a tolerância total típica de um pluralismo compreensivo albergar a
igualitarização radical de todas as concepções, mesmo as de intolerância máxima (neo-nazis,
terrorismo religioso e político, ódio racial).

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2.3. O Conceito da Constituição

A noção geral e comum que se tem da Constituição é a de que se trata de lei suprema dos
Estados que dispõe sobre a organização do mesmo, sobre as garantias e direitos individuais do
cidadão, os objectivos do Estado dentre outros temas considerados de maior relevância pelo
contexto da sociedade em que é elaborada.

Nos tempos actuais, os Estados democráticos possuem constituições democráticas, assim


consideradas as promulgadas pelo poder constituinte, que se origina e emana tão-somente do povo,
que é a única fonte legítima da soberania.

Para ARISTÓTELES, a constituição significa o próprio modo de ser da polis e “tem por objecto
a organização das magistraturas, a distribuição dos poderes, as atribuições de soberania, numa
palavra, a determinação do fim especial de cada associação política”.

No conceito de Aristóteles juntam-se dois aspectos modernos: a constituição como


ordenamento fundamental de uma associação política e a constituição como conjunta de regras
organizatórias destinadas a disciplinar as relações entre os vários órgãos de soberania.

O poder constituinte

Segundo Marcelo Ribeiro de Souza, poder constituinte é o poder de elaborar as normas


constitucionais, a faculdade de um povo definir as grandes linhas do seu futuro colectivo através da
feitura da constituição.

Poder constituinte para Jorge Miranda é o poder ou a faculdade de elaborar uma


constituição.

Para José Joaquim Gomes Canotilho, poder constituinte é o poder, autoridade política que
está em condições de uma determinada situação concreta criar, garantir, ou eliminar uma
constituição entendida como lei fundamental da comunidade política e este poder ou autoridade
tem como titular o povo ou nação.

Maria Magalhães e Drª Resende conceptuam o poder constituinte em dois sentidos: Em


sentido amplo é a produção de todas as normas constitucionais, incluindo as de origem
consuetudinárias. E o poder no sentido restrito é a elaboração de normas constiucionais escritas que
são a trave mestra do ordenamento jurídico.

Mas outros autores discordam dessa definição, pois é pouco académica, porque um
doutrinador de um sistema constitucional consuetudinário tomaria uma posição. Eles definem o

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poder constituinte em sentido amplo, o poder de produção de normas constitucionais incluindo as
escritas. E em sentido restrito, como o poder de produção de uma norma constitucional não escrita.

Assim, é relativo o sentido amplo e o restrito do poder constituinte.

A forma do exercício do poder constituinte pode ser democrática ou por convenção (quando
se dá pelo povo) ou autocrática (quando se dá por acção de usurpadores do poder).

Em ambas as partes ou formas, a titularidade do poder constituinte é do povo. O que muda é


como ele é exercido.

A forma democrática pode ser directamente quando o povo participa de maneira directa do
processo de elaboração da constituição, por meio de plebiscito, referendo ou proposta de criação de
alguns dispostos constitucionais.

E a forma democrática indirecta, a mais frequente onde a participação do povo é por meio da
assembleia, composta por representantes eleitos pelo povo.

A assembleia constituinte quando tem o poder de elaborar e promulgar constituição, sem


consulta ou ratificação popular, é considerado soberano; Isto se dá por representar o povo.

A assembleia constituinte é exclusiva quando é composta por pessoas que não pertencem a
qualquer partido político. Seus representantes seriam professores, cientistas, estudiosos de direito.

Poder originário e derivado

Poder constituinte originário é o poder de elaborar uma constituição para um estado que
nunca a teve ou já não a tem em virtude de uma desagregação social.

Poder constituinte derivado é o poder de rever a constituição existente, corrigir imperfeições


e colmatar lacunas adoptando-a a evolução da sociedade.

Segundo Emmanuel Sieyès, o primeiro doutrinador no poder constituinte francês não


entende o poder de revisão constitucional como um poder constituinte. Já o professor Gomes
Canotilho, afirma que só em sentido impróprio o poder de revisão constitucional se chamará poder
constituinte.

O poder de revisão constitucional tomará a forma de poder constituinte se for exercido pelo
povo, único titular do poder constituinte e incidir sob os limites materiais. E não será quando for
exercido pelo representante do povo. A revisão dos limites só será aceite se for feita pelo povo e se
os limites previstos costituem elementos impeditvos para a evolução da comunidade política.

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O poder de revisão constitucional é um poder constituído porque é conformado e regulado
pela constituição criada pelo poder constituinte.

O poder de revisão constitucional previsto na lei angolana (Lei 23/92 nos artigos 158º a
160º), não é poder constituinte, mas sim poder constituído.

Características do poder constituinte originário

O poder originário é o poder de facto, pois ele cria um ordenamento de um Estado; Tendo
este poder como características as seguintes:

 Nasce por meio de uma ruptura institucional;


 Ele inicia ou inaugura uma nova ordem;
 É autónomo, tendo a liberdade para definir o conteúdo da nova constituição;
 É incondicionado, não existindo uma forma pré-definida;
 Ele não se exaura com a conclusão da constituição;
 É inalienável e ilimitado.

Características do poder constituinte derivado

O poder derivado é o poder subordinário; ao que apresenta as suas características da


seguinte forma:

 Derivado: é fruto do poder originário;


 Tem carácter jurídico: é regulado pela constituição prevista no ordenamento;
 Limitado: deve obedecer a constituição sob pena de inconstitucionalidade;
 Condicionado: a forma de exercício é determinada pela constituição.

O poder derivado se ramifica em duas espécies:

 Poder constituinte derivado reformador: onde abrange as prorrogativas de modificar,


revisar, implementar ou retirar dispositivos da constituição.
 Poder constituinte derivado decorrente: é o poder que dá aos Estados membros a
elabaração da sua própria constituição, sendo possível a estes estabelecer a sua
auto-organização.

História do poder constituinte

O poder constituinte começou a se manifestar no século XIII no Reino Unido com a criação da
Magna Carta e surgiu como o processo histórico de revelação da constituição da Inglaterra.

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O poder constituinte evolui com os americanos que entendiam o poder constiituinte como o
poder de dizer num texto escrito a lei fundamental da nação (Paramount Law).

Os franceses desde muito cedo começaram a estudar o poder constituinte, onde afirmavam
que era o poder de criar uma ordem jurídica através da destruição do antigo texto, ou constituição.

A maioria dos doutrinadores aponta Emmanuel Sieyès como o primeiro teorizador do poder
constituinte, mas o professor Gomes Canotilho destaca John Locke com suas teses sobre o direito a
revolução que para ele, pressupunha um esforço analítico, sugerindo a distinção de forma tácita do
poder constituinte do povo e o poder ordinário do governo e do legislativo encarregador de prover a
feitura e aplicação das leis. Porém reconhecesse quase universalmente que foi Sieyès o primeiro a
falar do poder constituinte moderno, na sua luta contra a monarquia absoluta, declarando:

O poder constituinte da nação visto como originário e soberano; tendo plena liberdade para
criar uma constituição.

A TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE

De 1961 a 1974 - 1975 Angola vivia num clima de guerra contra colonialismo e de guerra fria
entre os movimentos de libertação. Assim, a 11 de Novembro de 1975 altura prevista em Alvor para
a proclamação da independência os movimentos estavam tão divididos que cada um proclamou
independência numa das regiões estratégicas do país: MPLA em Luanda (Região Centro Norte),
UNITA no Huambo (Região Centro Sul) e a FNLA no Zaire (Região Norte). Por estes diferendos e por
falta de vontade política para se dialogar e assim criar-se condições para um procedimento
constituinte justo para todos evitando assim os rios de sangue que o povo angolano com seus irmãos
criou, mas preferiram ser conduzidos pelo instinto animal e por isso não foi possível a participação do
povo no processo constituinte.

A titularidade do poder constituinte do poder constituinte pertencia a cada um dos


movimentos que participaram na luta contra o colonialismo por terem conseguido acabar com o
colonialismo (legitimidade revolucionário), porém com os problemas que viviam e pela iluminação
psíquica que vigorava era impossível se unirem e criarem juntos uma constituição.

O artigo 2ºconsagrava - o MPLA como força dirigente na construção de um Estado


democrático popular, tendo como núcleo do poder uma larga frente em que se integravam todas as
forças patrióticas empenhadas na luta contra o imperialismo: este preceito legal, combinado com o
do artigo 13º da mesma lei que consagrava o princípio do combate energético contra o

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obscurantismo e o analfabetismo, e o desenvolvimento da educação do povo e de uma verdadeira
cultura nacional, levam-nos a caracterizar a titularidade do poder constituinte com base nas teorias
monocráticas em que se vêm as massas populares incultas, e ignorantes, vivendo no obscurantismo –
13º -, sendo por isso dirigidos por um grupo minoritário (Elite Política) detentora da moderna cultura
e capaz de implantar reformas exigidas pelo progresso da ciência - 2º da Lei Constitucional de 1975.

Na actual Lei Constitucional Lei nº23/92, de 16 de Setembro temos características da teoria


democrática da soberania nacional a coabitarem com características do poder popular.

Assim temos as seguintes características da teoria da soberania popular:

TRANSIÇÃO DA MONOCRACIA A DEMOCRACIA

A. A Legitimidade e Validade do Poder Constituinte Em Angola

Já falamos da legitimidade do poder constituinte de 1975, mas vale fazermos uma nova
digressão ao tema.

A revolução é um comportamento humano que tem como fim o derrube de uma


determinada ordem política e a criação de uma nova. É a mudança do texto constitucional ou dos
actores políticos. A revolução pode ser pacífica ou violenta (mais frequente).

Em 1961, cansados da opressão colonial os angolanos reuniram-se em grupos e começaram a luta


para a independência que implicava o derrube do colonialismo e a criação de uma ordem jurídico-
política novo. Em 1974 havia três movimentos de libertação que lutavam de forma desorganizada
pela independência, tentaram organizar-se e em Janeiro de 1975 assinaram os acordos de alvor, que
serviria para criar condições para a criação de um novo Estado, isto é, funcionaria como constituição
provisória: decisão de criação de uma constituição, eleição de uma assembleia constituinte e outras.

Mas não tardaram os problemas e cedo voltaram a desorganização. Em Novembro de 1975,


Angola se tornou Independente e caiu o regime colonial, e os Acordos de Alvor já tinham sido
revogados. Angola ficaria sem constituição se não se proclamasse e assim não seria possível a
independência.Com a derrocada do colonialismo os revolucionários ganharam legitimidade para a
criação de uma nova ordem político-jurídica. O MPLA que estava na capital (Luanda) proclamou a
independência de Angola e pôs em vigor a constituição de 1975 que resultou do exercício do poder
constituinte originário uma vez que a sua aprovação não tinha fundamento numa outra constituição
(inicial). E o seu exercício não foi determinado por uma ordem externa a este. A UNITA, não se sentiu
satisfeita com a aprovação da constituição de 1975 pelo MPLA que realizou a sua pretensão de criar
uma nova ordem, por isso, começou uma nova luta com o intuito de derrubar a ordem constitucional

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imposta pelo MPLA. Esta luta continuou e em 1991começou a frutificar, com a Lei de Revisão
Constitucional nº12|91, seguida pelos Acordos de Paz de Bicesse e consolidada pela Lei nº 23|92 de
16 de Setembro, que marcaram uma transição constitucional material uma vez que há uma
descontinuidade entre o texto constitucional de 1975 e o de 1991 uma vez que introduziram uma
alteração radical ao texto constitucional mudando radicalmente os sistemas políticos e económico.

Esta revisão constitucional marca o começo de um processo de criação de uma nova


constituição para Angola uma vez que a primeira foi energicamente contestada: entendemos a
aprovação da constituição de 1991 parte das decisões pré-constituintes tendente a regular a vida
política durante o interregno constitucional que ainda não terminou, e para traçar os limites formais,
materiais, circunstanciais e temporais para a criação da constituição (158º a 160º doa Lei 23|92 de
16 Setembro, De Revisão Constitucional).

Em suma temos duas revoluções na história de Angola:

Uma que deu legitimidade aos movimentos de libertação para a criação do Estado Angolano
e que foi unilateralmente exercido pelo MPLA – que criou uma ordem política egoísta, facto que
desencantou os seus companheiros de luta (FNLA e UNITA) e gerou uma nova guerra cujo objectivo
era mudar os sistemas político e económico de Angola;

E a outra que tinha como fim o derrube do socialismo e centralismo político-económico que
norteava o sistema político consagrado na Lei Constitucional de 1975. É também a manifestação do
poder constituinte originário, uma vez que a sua legitimidade resulta do pacto entre as partes,
inserido nas decisões pré – constituintes tendentes a criação de uma constituição nova, uma vez que
o texto constitucional anterior foi deixou de existir pela sua desconformidade com a vontade do
povo.

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3. Conclusão

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