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TEMA DO PARLAMENTO JOVEM DE MINAS 2015: SEGURANÇA PÚBLICA

E DIREITOS HUMANOS

O tema da 12ª edição do Parlamento Jovem de Minas, “Segurança pública e


Direitos Humanos”, está na ordem do dia e se apresenta como um dos grandes desafios
a ser enfrentado pela sociedade e pelo Estado brasileiro. Embora tenham crescido nos
últimos anos os investimentos em segurança pública no país, os índices de violência e
criminalidade ainda são muito elevados, quando comparados com indicadores de outras
nações.1
Se tomarmos como exemplo os crimes violentos, tal como os homicídios, os
dados são alarmantes. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), taxas acima de 10
homicídios para cada grupo de 100 mil pessoas ao ano já são consideradas epidêmicas.
No Brasil, segundo dados de uma pesquisa da ONU intitulada: “Relatório Mundial da
Prevenção à Violência”, baseada em dados coletados no ano de 2012, mais de sessenta e
quatro mil pessoas foram assassinadas no país, o que significa uma taxa um pouco
acima de 32 homicídios a cada 100 mil habitantes. Na última década, de acordo com
outro estudo, intitulado “Mapa da Violência 2014”, o aumento no número de
homicídios foi de 52,3% no país. Isso faz do Brasil o 11º país mais violento do mundo,
em uma lista de 133 nações. 2

1
Só para se ter uma ideia: Em 2013, o Brasil gastou R$ 61, 1 bilhões com segurança pública e
policiamento, cerca de 8,6% a mais que em 2012. (Dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança
Pùblica).
2
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil_Preliminar.pdf
Tal crescimento também tem sido observado em outros tipos de crimes ou
práticas de violência e, de forma geral, está presente em todas as regiões do país e
estados da federação, apesar de não ser fenômeno homogeneamente distribuído. Em
algumas localidades, por exemplo, as taxas de homicídios podem ultrapassar a taxa de
100 a cada 100 mil habitantes. Esse quadro pode ser mais bem apreendido através de
pesquisas como o Mapa da Violência, já citado, ou por meio de estudos assemelhados,
realizados com outras metodologias.3
Em Minas Gerais, segundo dados da Secretaria de Defesa Social referentes ao
ano de 2013, houve um aumento do índice de crimes violentos, crimes violentos contra
o patrimônio e de homicídios. Neste cenário, a insegurança e o medo passaram a se
constituir em grandes obstáculos ao exercício dos direitos de cidadania.

Fonte: SEDS- Governo de Minas

Pensar em uma política pública de segurança articulada aos direitos humanos


significa (re)pensar concepções e ações sociais e estatais que sejam, de fato, eficientes
para a promoção da segurança social, e que consigam atender à maioria da população,
com especial atenção aos grupos mais vulneráveis, através de medidas que não sejam
exclusivamente vinculadas ao controle social (aumento do policiamento, por exemplo),
ou à redução de direitos de determinados grupos. Também significa reconsiderar o
papel da sociedade civil organizada, propondo formas de participação mais efetivas no
processo de elaboração e avaliação dessas políticas.

3
Ao final desse texto há sugestão de outras fontes de pesquisa que podem ser consultadas.
E para dar conta dessa nova perspectiva em diversos países da América latina,
inclusive no Brasil, vem sendo utilizado nos últimos anos o conceito de “segurança
cidadã”.

A expressão “segurança cidadã” ganhou força, portanto, para marcar a diferença entre
as políticas de segurança pública desenvolvidas durante os regimes autoritários e as políticas de
segurança pública depois da transição para a democracia nos países da região. O que diferencia
os dois tipos de política não é apenas o fato de que os governantes responsáveis por políticas
democráticas são escolhidos através de processos eleitorais, mas também que as políticas
democráticas são caracterizadas pela transparência, participação social, subordinação à lei e
respeito aos direitos humanos.4

É evidente que ao se pensar sobre o tema “Segurança Pública e Direitos


Humanos” também é necessário ampliar a compreensão e a discussão sobre o próprio
fenômeno e conceito de violência, de forma a ultrapassar a associação de que violência
é sinônimo de crime/delito. Um exemplo é a homofobia, um tipo de violência cotidiana,
ainda não tipificada como crime, e que nem por isso deve ser deixada de lado em
discussões sobre o tema “Segurança Pública e Direitos Humanos”. Ampliar a
compreensão sobre o fenômeno e o conceito da violência nos permite repensar o papel e
o alcance das políticas de Segurança Pública para a construção de uma efetiva cultura de
paz.
Também se deve considerar a importância de se conhecer, em algum momento
ou medida, sobre o sistema policial brasileiro, o sistema de justiça criminal e os
elevados índices de impunidade, que são mais comuns para alguns tipos de crimes e
grupos sociais, e o crescimento dos aparatos e sistemas de segurança privados, que
servem, normalmente, a estratos sociais superiores e que também não passam por
controle social.
Como se pode observar o campo de possibilidades para esse debate é fértil, já
que além das questões apontadas, ainda poderiam trabalhar outras, tais como: o crime
organizado, o tráfico de drogas, as prisões, as medidas socioeducativas para
adolescentes, a corrupção e a prevenção à criminalidade por meio de políticas sociais.
Sendo coerente com a história e a metodologia do Parlamento Jovem de Minas,
e como uma perspectiva mais contemporânea de estudos e debates sobre o tema
“Segurança Pública e Direitos Humanos”, convidamos todos os envolvidos no projeto:
parceiros, coordenadores, monitores e estudantes, a conhecerem melhor essa temática,
para juntos, aprendermos e dialogarmos sobre esse tema. Para os estudantes do ensino
4
http://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/05612.pdf (p. 6)
médio o desafio será ainda maior, pois também implicará, com a orientação das
coordenações e dos monitores, a elaboração, o debate e a votação, nas etapas
municipais, regionais e estadual, das proposições que serão encaminhadas à Comissão
de Participação Popular (CPP), da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
(ALMG).
Devido à complexidade e abrangência do tema, a Coordenação Estadual do
Projeto (Escola do Legislativo da ALMG e PUC Minas), com apoio de outros setores da
ALMG, delimitou, três subtemas como forma de focar e orientar as atividades do PJ de
Minas:
1. Prevenção social ao crime
2. Proteção de segmentos vulneráveis da população
3. Novas Perspectivas para atuação policial

Nesta primeira etapa da formação, cada um desses subtemas será apresentado, de


forma clara e objetiva, por meio de pequenos textos, seguido da indicação de alguns
materiais para estudo e aprofundamento. Entretanto, o mais importante é você se tornar
protagonista desse processo de estudo e investigação, não se restringindo apenas aos
textos e materiais indicados, buscando outros meios e fontes de informação, e
socializando-os como todos os demais envolvidos.

Um bom trabalho para todos nós!

Para saber mais sobre o tema Segurança Pública e Direitos Humanos, recomendamos:

 Documento produzido pelo PNUD (ONU), intitulado: “RUMO A UMA POLÍTICA


INTEGRAL DE CONVIVÊNCIA E SEGURANÇA CIDADÃ NA AMÉRICA
LATINA: Marco conceitual de interpretação–ação, PNUD”
http://www.pnud.org.br/publicacoes/marcoconceitualpnud_segurancacidada.pdf

 Monografia de Lúcia Lemos Dias: A política de segurança pública entre o


monopólio legítimo da força e os direitos humanos. A experiência da Paraíba no pós
1988. Os primeiros três primeiros capítulos apresentam uma caracterização do tema
Segurança Pública e Direitos Humanos, articulando-o à dimensão histórica, legal e
política.
http://www.altrodiritto.unifi.it/ricerche/latina/lemos/index.htm
 Cartilha do Instituto Sou da Paz: Coleção Pensando a Segurança Pública – Direitos
Humanos.
http://www.soudapaz.org/upload/pdf/pensando_a_seguran_a_vol2.pdf

 Mapa da violência 2014, com dados nacionais, e estaduais, sobre a evolução e


tipificação da violência no país.
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil_Preliminar.pdf

 Site do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Nele há um conjunto rico de dados e


informações sobre o tema, que cobrem um amplo espectro sobre o tema.
http://www.forumseguranca.org.br

 Relatório Mundial da Prevenção à Violência está disponível para download


(documento em inglês)
http://www.who.int/violence_injury_prevention/violence/status_report/2014/en/

 Artigo científico “A participação social no campo da segurança pública”


http://desigualdadediversidade.soc.puc-rio.br/media/3artigo11.pdf

 Portal da Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais


https://www.seds.mg.gov.br/

 Vídeo com fragmento do filósofo Slavoj Zizek, no qual apresenta uma abordagem
diferenciada sobre o fenômeno da violência, inspirada em seu livro intitulado
“Violência” (Editora Boitempo)
https://www.youtube.com/watch?v=YRLkt5uadWA
SUBTEMAS

1-Prevenção social ao crime

Para responder ao recrudescimento da criminalidade, o poder público tem


implementado uma série de medidas reativas, tanto em âmbito nacional, quanto
estadual. Muitas vezes, essas medidas se concretizam por meio do aumento da violência
e na truculência da ação policial, enfocando apenas uma das dimensões do problema da
violência: o controle da sua manifestação mais imediata e visível, ou seja, o
crime/delito, deixando de lado as ações que visam a ação preventiva.
As proposições meramente reativas preocupam, pois além de serem de eficiência
questionável, quando analisadas por certo período de tempo, são seletivas (operando
mais para alguns tipos de crime/delito, por exemplo, contra o patrimônio), e restritivas
de direitos para determinados grupos ou tipos sociais identificados como potencialmente
perigosos.
Os poucos programas de prevenção executados nos últimos anos no Estado são
limitados, ora pela escassez de recursos, ora pela resistência de autoridades e gestores
públicos que não os consideram políticas públicas de segurança. Como exemplo,
podemos citar a fragilidade que programas como o “Fica Vivo” e o “Mediação de
Conflitos” vem enfrentando nos quatro últimos anos.5
A implementação de políticas preventivas na área da segurança pública requer a
construção de uma nova visão por parte do Estado e da sociedade. Implica superar o
modelo meramente reativo, baseado na ação policial intensiva e repressiva depois da
ocorrência do crime/delito, focando em ações de prevenção baseadas no incremento no
setor de inteligência e na capacidade investigativa das polícias; de mecanismos de
controle da atividade policial; nas ações de gestão para a resolução de conflitos em
locais com altos índices de criminalidade, com a participação comunitária na gestão da
segurança pública.
Programas que combinam a prevenção à criminalidade, o combate ostensivo às
várias modalidades de crime e políticas de promoção da cidadania (escolas de

5
Para informações sobre o Programa Fica Vivo, acessar o link:
https://www.seds.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=283&Itemid=117
Para conhecer o Mediação de Conflitos, acessar:
https://www.seds.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=285&Itemid=119
Ambos os endereços são da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS)
qualidade, atenção às famílias e jovens vulneráveis, acesso às políticas públicas, entre
outros) têm se mostrado eficientes em várias partes do mundo6.
Por fim, é importante destacar um aspecto já mencionado anteriormente. A
melhoria do sistema de segurança pública deve ocorrer com a participação democrática
da sociedade civil organizada. Ela deve participar ativamente na elaboração,
acompanhamento e avaliação das estratégias de enfrentamento dos crimes. Para isso
devem ser pensados instrumentos que possam garantir a sua participação efetiva e com
qualidade, ou seja, de forma equilibrada perante os demais atores, contínua, autônoma e
livre.

Para saber mais sobre esse subtema, sugerimos:

 Artigo científico “A mediação de conflitos como política pública na prevenção a


criminalidade: Análise-crítica de uma experiência em Minas Gerais”
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9148

 Também recomendamos O portal da Segurança Pública. Apesar de ser um portal


que se reporta a algumas experiências paulistas, contêm boas referências sobre esse
subtema, assim como o tema geral e os outros dois subtemas.
http://observatoriodeseguranca.org/seguranca/policiais

2. Proteção de segmentos vulneráveis da população

A violência e a criminalidade crescentes no país atingem todos os segmentos


sociais, mas evidentemente, não é um fenômeno homogeneamente distribuído. Quando
se observa um determinado tipo de crime/delito, as taxas variam muito dependendo,
entre outras variáveis, do tipo do crime do lugar (região, estado, cidade, bairro, etc), da
classe social (alta, média, baixa), da faixa de idade (criança, jovem, adulto, idoso), do
gênero (homem ou mulher) e da cor (branco, negro, pardo, etc) dos indivíduos. As taxas

6
Para saber mais sobre esse assunto, veja o artigo: Prevenção e controle de homicídios,
analisando experiências brasileiras, clicando no link:
http://revista.forumseguranca.org.br/index.php/rbsp/article/view/107)
de homicídios, por exemplo, no estado de Minas Gerais, são muito maiores para
homens, jovens, pobre, negros ou pardos, do que para qualquer outra grupo social.
Em julho de 2007, o Ministério da Justiça lançou o Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI) com o objetivo de reestruturar a
segurança pública no Brasil a partir de uma perspectiva interdisciplinar, democrática e
cidadã. O plano, ao buscar articular políticas de controle da criminalidade com políticas
de prevenção, estabelecia como foco os jovens entre 15 e 24 anos, em especial, aqueles
em situação de risco, em situação de descontrole familiar e adolescentes em conflito
com a lei. Esta escolha se baseia na lógica de que as políticas públicas devem ser
destinadas especialmente aos grupos mais vulneráveis, como jovens, idosos, mulheres,
entre outros. Apesar de ter perdido a sua importância nos últimos anos, algumas
concepções, ideias e propostas do PRONASCI podem ser muito úteis para fomentar o
debate e as proposições sobre medidas de proteção à população mais vulnerável, além
de obviamente também servir como subsídios para se pensar o tema geral e os outros
dois subtemas do PJ de Minas.
Em relação aos jovens, a situação de vulnerabilidade fica clara quando se
analisam os dados da violência envolvendo este grupo. Eles mostram que a violência
contra as crianças, os adolescentes e os jovens brasileiros aumentou muito nas últimas
três décadas. De acordo com o “Mapa da Violência 2013: Homicídio e Juventude no
Brasil”7, publicado pelo Centro de Estudos Latino-Americanos, com dados do
Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, entre 1980
e 2011, as mortes não naturais e violentas de jovens – como acidentes, homicídio ou
suicídio – cresceram 207,9%. Se forem considerados somente os homicídios, o aumento
foi de 326,1%.
Dos 467,7 mil homicídios contabilizados entre 2002 e 2010, mais de 231 mil
homicídios foram de jovens, dos quais 122,5 mil eram negros (53,1%). O decréscimo
dos casos de pessoas brancas foi de 39,8% no período, enquanto, entre negros, houve
acréscimo de 18,4% As informações do estudo confirmam dados do Instituto Nacional
de Geografia e Estatística (IBGE), de que a população branca tem, em média,
rendimentos entre 60% e 70% superiores ao da população negra e sugerem que essa
realidade tem relação direta com o atual perfil da violência no Brasil.

7
http://www.mapadaviolencia.org.br/mapa2013_jovens.php
Relatório8 do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), divulgado em
setembro de 2014, aponta o Brasil em segundo lugar no ranking mundial de homicídios
de pessoas de zero até 19 anos de idade, de acordo com os dados de 2012. Segundo esse
estudo, em números absolutos, ocorreram mais de onze mil homicídios de crianças e
adolescentes, no Brasil, em 2012. ”
Para Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa da Violência, a criminalidade na
sociedade brasileira, especialmente entre adolescentes e jovens, é o resultado de um
modelo político, econômico e social excludente e autoritário. “Essas pessoas [jovens
entre 15 e 24 anos] são os algozes, mas também as vítimas da violência estrutural da
nossa sociedade”.
Este modelo autoritário também estaria presente no modelo policial brasileiro. A
partir do processo de redemocratização e de fortalecimento da cidadania no Brasil na
década de 90, passou-se a ter um descompasso entre o avanço da sociedade e as práticas
policiais, que ainda operam em uma lógica autoritária, hierárquica e militarizada, agindo
com discriminação e violência em relação aos grupos mais vulneráveis.
Neste contexto, o PRONASCI colocou entre seus objetivos a promoção dos
direitos humanos, considerando as questões de gênero, étnicas e raciais, de orientação
sexual e de diversidade cultural. Em 2009, a polícia militar de Minas Gerais lançou uma
cartilha “Atuação Policial Frente a Grupos Vulneráveis” 9. Neste documento, são
considerados como vulneráveis grupos vítimas de desigualdade e mais suscetíveis à
violação de direitos, classificados em seis categorias: mulheres, crianças e adolescentes,
idosos, pessoas com deficiência física ou sofrimento mental, comunidade LGBTT
(lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) e população de rua. A
mesma lógica de proteção se aplicaria às minorias étnicas, linguísticas e religiosas.
Assim, segundo a cartilha, os profissionais da segurança pública devem ser promotores
de direitos, e, para tanto, precisam aprender a lidar com as diferenças sem
discriminação, conhecendo a realidade e as dificuldades de cada grupo e se habituando
aos “procedimentos que fogem aos padrões, que contemplam questões sobre minorias e
grupos vulneráveis, de forma a nortear sua atuação no trato adequado com essas
pessoas”. Apesar da publicação desse documento ainda houve poucos avanços nas ações

8
http://www.unicef.pt/artigo.php?mid=18101114&m=5&sid=1810111414&cid=5444
9

http://ead.senasp.gov.br/modulos/educacional/conteudo/00992/paginas/AtuacaoPolicialFrenteGruposVuln
eraveis_completo.pdf
de proteção desses grupos que efetivamente surtiram efeito com a redução significativa
e consistente das taxas de violência.
No caso mulheres, outro segmento vulnerável, de acordo com o Mapa da
Violência – Homicídio de Mulheres no Brasil 10, nos 30 anos decorridos a partir de 1980
a 2010 foram assassinadas no país perto de 92 mil, 43,7 mil só na última década. O
número de mortes nesses 30 anos passou de 1.353 para 4.465, o que representa um
aumento de 217,6% – mais que triplicando – nos quantitativos de mulheres vítimas de
assassinato. Embora muitos avanços tenham sido alcançados com a Lei Maria da Penha
(Lei nº 11.340/2006), a violência contra a mulher, sobretudo no ambiente doméstico,
seja violência letal (assassinato), a violência física não letal, ou violência moral ainda
são grandes desafios no país.
Outro grupo vulnerável é o das pessoas idosas. Segundo o Manual de
Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa, da Secretaria de Direitos Humanos
da Presidência da República11, 24.669 idosos e idosas morreram em 2011 por violências
e acidentes (o que corresponde a 68 pessoas por dia) e 169.673 deram entrada em
hospital por quedas, traumas de trânsito, envenenamentos, agressões, sufocações,
tentativas de suicídio em 2012. Contudo, a violência contra a pessoa idosa é muito mais
intensa, disseminada e presente na sociedade brasileira do que as estatísticas conseguem
registrar. Um das razões é que, segundo delegados, promotores de justiça, defensores
públicos e assistentes sociais que atendem às pessoas idosas, as vítimas tendem a
minimizar a gravidade dos maus-tratos e a se mostrarem leais a seu agressor, preferindo
conviver com maus-tratos a correr o risco de perder um relacionamento pessoal e
afetivo de toda a vida.
Também cabe ressaltar a violência relacionados à orientação sexual. O
preconceito disseminado socialmente contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis,
transexuais e transgêneros (LGBTTT), tem dado vazão as violações dos direitos
humanos, a despeito dos últimos avanços no campo jurídico e das políticas públicas.
Segundo o Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, tais violações envolvem:
“diferentes espécies de abusos e discriminações e costumam ser agravadas
por outras formas de violências, ódio e exclusão, baseadas em aspectos como
10
Disponível em:
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/MapaViolencia2012_atual_mulheres.pdf
11
Disponível em:
http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/publicacoes/violencia-contra-a-pessoa-idosa
idade, religião, raça/cor, deficiência e situação socioeconômica, o que
exacerba a vulnerabilidade de grupos sociais, cuja discriminação é
intensificada quando ao racismo, sexismo, pobreza ou credo, agrega-se
orientação sexual e/ou identidade de gênero estigmatizadas”.

Em 2012, foram registradas 3.084 denúncias de 9.982 violações relacionadas à


população LGBTTT, envolvendo 4.851 vítimas e 4.784 suspeitos. Em relação a 2011
houve um aumento de 166,09% de denúncias e 46,6% de violações, quando foram
notificadas 1.159 denúncias de 6.809 violações de direitos humanos contra LGBTTT,
envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos. Cabe ressaltar que as violações reportadas
não correspondem à totalidade das violências ocorridas cotidianamente contra esses
indivíduos, que nem sempre denunciadas. Mesmo assim, no ano de 2012, foram
reportadas 27,34 violações de direitos humanos de caráter homofóbico por dia, sendo
que destas, 13, 29 se referiam a atos de violência propriamente dita.12
Assim, na perspectiva da segurança cidadã, é necessário também um novo
profissional da segurança pública, capaz de auxiliar, proteger e promover os direitos dos
grupos vulneráveis e das minorias, cujas ações sejam passíveis de serem discutidas e
acompanhadas pela sociedade civil organizada. Essa perspectiva articula esse subtema
ao seguinte: “Novas Formas de Atuação Policial”.

Além dos textos já indicados ao longo do subtema, também, indicamos:

 O texto “Comunidade, segurança e sentimento de insegurança” presente no portal do


observatório de segurança pública. Apesar de tocar apenas superficialmente na
questão da proteção aos grupos vulneráveis, apresenta um conjunto de boas
referências bibliográficas e articula esse tema com outras questões importantes para
o debate.
http://observatoriodeseguranca.org/seguranca/comunidades

3. Novas Perspectivas para atuação policial

O uso legítimo da força e da violência pelo Estado, através de polícias


legalmente constituídas, é um dos mecanismos que garantem a convivência em
sociedades democráticas. Para garantir uma sociedade pacífica, as instituições que têm
por obrigação executar a atividade policial (não para limitar direitos, mas para garanti-

12
http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/pdf/relatorio-violencia-homofobica-ano-2012
los, como já exposto no texto do tema geral) devem funcionar com o máximo de
respeito aos direitos humanos e às leis, ao uso proporcional e adequado da força,
transparência, urbanidade e submeter-se a algum tipo de controle social.
Em um contexto de alta criminalidade, baixa eficiência da ação policial,
descrédito nas instituições do sistema de justiça criminal, percepção de impunidade
seletiva (além de altas taxas de impunidade objetivas), torna-se ineficiente o aumento no
efetivo das forças policiais, em armamento e viaturas, se o foco da atividade policial não
estiver também direcionado para a prevenção da violência e dos crimes e mediar
conflitos.
Só para se ter uma ideia, a despeito de significativos e crescentes gastos com
aparatos de segurança pública, os índices de violência não tem caído no estado de Minas
Gerais. Aqui, os gastos com policiamento aumentaram, de 2012 para 2013, 61,78%,
passando de R$239 milhões para R$386 milhões. Em 2013, 9,4% das despesas
realizadas pelo Estado foram com segurança pública. O efetivo das forças policiais em
Minas Gerais em 2012 era de: policiais militares: 43.649; policiais civis: 9.920; guardas
municipais: 5.147; bombeiros: 5.355; um contingente significativo. (Dados extraídos do
Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública)13.
As duas principais instituições policiais brasileiras (as polícias militar e civil, de
âmbito estadual) foram criadas e se institucionalizaram em momentos históricos e
políticos nos quais prevaleciam os interesses de elites sociais, políticas e econômicas
preocupadas mais com a manutenção de uma ordem patrimonial burguesa, em
detrimento dos interesses públicos dos cidadãos.14 Por isso, nossas polícias ainda se
mantêm como instituições fechadas, avessas ao controle social, preocupadas com a sua
preservação institucional e nem sempre atentas ao cumprimento da sua missão
constitucional: a garantia dos direitos de cidadania.
Nos últimos anos parte da sociedade civil organizada tem demandado uma
reforma no sistema policial, com a criação de uma nova polícia, uma “polícia cidadã”,
que seria boa não apenas para a sociedade, mas também para os próprios policiais - que
vêm suas instituições perderem legitimidade, haja vista a baixa eficiência policial na
prevenção e repressão qualificada aos crimes. Com isso seria possível superar algumas

13
http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//8anuariofbsp.pdf
14
Para aprofundar essa questão, sugerimos a leitura do texto “Polícia, controle social e
democracia, neste link: http://www.necvu.ifcs.ufrj.br/arquivos/texto%205%20policia%20controle
%20social%20e%20democracia_arthur%20t%20m%20costa.pdf)
das profundas dicotomias existentes na atual gestão policial brasileira; diminuiríamos a
discricionariedade da ação policial; eliminaríamos ou reduziríamos a prática da
violência policial e caminharíamos na criação de uma polícia cidadã.
Alguns especialistas e estudiosos têm apontado que o nosso modelo de
organização policial demanda reformas, tais como: a gradativa adoção de instituições
policiais de ciclo completo nos estados (ou seja, que integrem as ações de investigação e
policiamento ostensivo, hoje divididos entre as polícias civis e militares nos estados); a
desmilitarização da natureza e da organização policial; a garantia de autonomia
funcional e operacional para os órgãos periciais; e a consolidação legal das atribuições
das guardas municipais como parte do sistema, atuando na manutenção da segurança
urbana, na mediação de conflitos e no suporte ao policiamento de proximidade e
comunitário. Veja, por exemplo, a Carta de Cuiabá, produzida pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (já indicado para consultas no texto do tema geral), que congrega
diversos especialistas qualificados dessa área, de todo o Brasil. Na Carta, o Fórum
recomenda, entre outras alterações:

“uma reforma do modelo atual de organização policial, com a gradativa


adoção de instituições policiais de ciclo completo nos estados, a
desmilitarização da natureza e da organização policial no país, a garantia de
autonomia funcional e operacional para os órgãos periciais e a consolidação
legal das atribuições das guardas municipais como parte do sistema, atuando
na manutenção da segurança urbana, na mediação de conflitos e no suporte
ao policiamento de proximidade e comunitário”.15

Para conhecer mais sobre esse subtema, sugere-se:

 Anuário de 2014 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública


http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//8anuariofbsp.pdf

 Artigo científico: Políticas Públicas de Segurança e a questão policial


http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88391999000400003

 Sobre formação policial e novas tendências, recomenda-se:

15
A Carta pode ser acessada aqui: http://www.dzai.com.br/robsonsavio/blog/conversandodireito?
tv_pos_id=134397
- PONCIANI, PAULA. Tendências e desafios na formação profissional do policial no
Brasil.
http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//revista_01.pdf
- PEREIRA, BENÔNI.; POLICARPO JR, JOSÉ. A formação policial para além da
técnica profissional: reflexões sobre uma formação humana.
http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//revista_10.pdf
- ROCHA, ALEXANDRE. Polícia, violência e cidadania: o desafio de se construir uma
polícia cidadã.
http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//revista_12.pdf

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