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E DIREITOS HUMANOS
1
Só para se ter uma ideia: Em 2013, o Brasil gastou R$ 61, 1 bilhões com segurança pública e
policiamento, cerca de 8,6% a mais que em 2012. (Dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança
Pùblica).
2
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil_Preliminar.pdf
Tal crescimento também tem sido observado em outros tipos de crimes ou
práticas de violência e, de forma geral, está presente em todas as regiões do país e
estados da federação, apesar de não ser fenômeno homogeneamente distribuído. Em
algumas localidades, por exemplo, as taxas de homicídios podem ultrapassar a taxa de
100 a cada 100 mil habitantes. Esse quadro pode ser mais bem apreendido através de
pesquisas como o Mapa da Violência, já citado, ou por meio de estudos assemelhados,
realizados com outras metodologias.3
Em Minas Gerais, segundo dados da Secretaria de Defesa Social referentes ao
ano de 2013, houve um aumento do índice de crimes violentos, crimes violentos contra
o patrimônio e de homicídios. Neste cenário, a insegurança e o medo passaram a se
constituir em grandes obstáculos ao exercício dos direitos de cidadania.
3
Ao final desse texto há sugestão de outras fontes de pesquisa que podem ser consultadas.
E para dar conta dessa nova perspectiva em diversos países da América latina,
inclusive no Brasil, vem sendo utilizado nos últimos anos o conceito de “segurança
cidadã”.
A expressão “segurança cidadã” ganhou força, portanto, para marcar a diferença entre
as políticas de segurança pública desenvolvidas durante os regimes autoritários e as políticas de
segurança pública depois da transição para a democracia nos países da região. O que diferencia
os dois tipos de política não é apenas o fato de que os governantes responsáveis por políticas
democráticas são escolhidos através de processos eleitorais, mas também que as políticas
democráticas são caracterizadas pela transparência, participação social, subordinação à lei e
respeito aos direitos humanos.4
Para saber mais sobre o tema Segurança Pública e Direitos Humanos, recomendamos:
Vídeo com fragmento do filósofo Slavoj Zizek, no qual apresenta uma abordagem
diferenciada sobre o fenômeno da violência, inspirada em seu livro intitulado
“Violência” (Editora Boitempo)
https://www.youtube.com/watch?v=YRLkt5uadWA
SUBTEMAS
5
Para informações sobre o Programa Fica Vivo, acessar o link:
https://www.seds.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=283&Itemid=117
Para conhecer o Mediação de Conflitos, acessar:
https://www.seds.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=285&Itemid=119
Ambos os endereços são da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS)
qualidade, atenção às famílias e jovens vulneráveis, acesso às políticas públicas, entre
outros) têm se mostrado eficientes em várias partes do mundo6.
Por fim, é importante destacar um aspecto já mencionado anteriormente. A
melhoria do sistema de segurança pública deve ocorrer com a participação democrática
da sociedade civil organizada. Ela deve participar ativamente na elaboração,
acompanhamento e avaliação das estratégias de enfrentamento dos crimes. Para isso
devem ser pensados instrumentos que possam garantir a sua participação efetiva e com
qualidade, ou seja, de forma equilibrada perante os demais atores, contínua, autônoma e
livre.
6
Para saber mais sobre esse assunto, veja o artigo: Prevenção e controle de homicídios,
analisando experiências brasileiras, clicando no link:
http://revista.forumseguranca.org.br/index.php/rbsp/article/view/107)
de homicídios, por exemplo, no estado de Minas Gerais, são muito maiores para
homens, jovens, pobre, negros ou pardos, do que para qualquer outra grupo social.
Em julho de 2007, o Ministério da Justiça lançou o Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI) com o objetivo de reestruturar a
segurança pública no Brasil a partir de uma perspectiva interdisciplinar, democrática e
cidadã. O plano, ao buscar articular políticas de controle da criminalidade com políticas
de prevenção, estabelecia como foco os jovens entre 15 e 24 anos, em especial, aqueles
em situação de risco, em situação de descontrole familiar e adolescentes em conflito
com a lei. Esta escolha se baseia na lógica de que as políticas públicas devem ser
destinadas especialmente aos grupos mais vulneráveis, como jovens, idosos, mulheres,
entre outros. Apesar de ter perdido a sua importância nos últimos anos, algumas
concepções, ideias e propostas do PRONASCI podem ser muito úteis para fomentar o
debate e as proposições sobre medidas de proteção à população mais vulnerável, além
de obviamente também servir como subsídios para se pensar o tema geral e os outros
dois subtemas do PJ de Minas.
Em relação aos jovens, a situação de vulnerabilidade fica clara quando se
analisam os dados da violência envolvendo este grupo. Eles mostram que a violência
contra as crianças, os adolescentes e os jovens brasileiros aumentou muito nas últimas
três décadas. De acordo com o “Mapa da Violência 2013: Homicídio e Juventude no
Brasil”7, publicado pelo Centro de Estudos Latino-Americanos, com dados do
Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, entre 1980
e 2011, as mortes não naturais e violentas de jovens – como acidentes, homicídio ou
suicídio – cresceram 207,9%. Se forem considerados somente os homicídios, o aumento
foi de 326,1%.
Dos 467,7 mil homicídios contabilizados entre 2002 e 2010, mais de 231 mil
homicídios foram de jovens, dos quais 122,5 mil eram negros (53,1%). O decréscimo
dos casos de pessoas brancas foi de 39,8% no período, enquanto, entre negros, houve
acréscimo de 18,4% As informações do estudo confirmam dados do Instituto Nacional
de Geografia e Estatística (IBGE), de que a população branca tem, em média,
rendimentos entre 60% e 70% superiores ao da população negra e sugerem que essa
realidade tem relação direta com o atual perfil da violência no Brasil.
7
http://www.mapadaviolencia.org.br/mapa2013_jovens.php
Relatório8 do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), divulgado em
setembro de 2014, aponta o Brasil em segundo lugar no ranking mundial de homicídios
de pessoas de zero até 19 anos de idade, de acordo com os dados de 2012. Segundo esse
estudo, em números absolutos, ocorreram mais de onze mil homicídios de crianças e
adolescentes, no Brasil, em 2012. ”
Para Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa da Violência, a criminalidade na
sociedade brasileira, especialmente entre adolescentes e jovens, é o resultado de um
modelo político, econômico e social excludente e autoritário. “Essas pessoas [jovens
entre 15 e 24 anos] são os algozes, mas também as vítimas da violência estrutural da
nossa sociedade”.
Este modelo autoritário também estaria presente no modelo policial brasileiro. A
partir do processo de redemocratização e de fortalecimento da cidadania no Brasil na
década de 90, passou-se a ter um descompasso entre o avanço da sociedade e as práticas
policiais, que ainda operam em uma lógica autoritária, hierárquica e militarizada, agindo
com discriminação e violência em relação aos grupos mais vulneráveis.
Neste contexto, o PRONASCI colocou entre seus objetivos a promoção dos
direitos humanos, considerando as questões de gênero, étnicas e raciais, de orientação
sexual e de diversidade cultural. Em 2009, a polícia militar de Minas Gerais lançou uma
cartilha “Atuação Policial Frente a Grupos Vulneráveis” 9. Neste documento, são
considerados como vulneráveis grupos vítimas de desigualdade e mais suscetíveis à
violação de direitos, classificados em seis categorias: mulheres, crianças e adolescentes,
idosos, pessoas com deficiência física ou sofrimento mental, comunidade LGBTT
(lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) e população de rua. A
mesma lógica de proteção se aplicaria às minorias étnicas, linguísticas e religiosas.
Assim, segundo a cartilha, os profissionais da segurança pública devem ser promotores
de direitos, e, para tanto, precisam aprender a lidar com as diferenças sem
discriminação, conhecendo a realidade e as dificuldades de cada grupo e se habituando
aos “procedimentos que fogem aos padrões, que contemplam questões sobre minorias e
grupos vulneráveis, de forma a nortear sua atuação no trato adequado com essas
pessoas”. Apesar da publicação desse documento ainda houve poucos avanços nas ações
8
http://www.unicef.pt/artigo.php?mid=18101114&m=5&sid=1810111414&cid=5444
9
http://ead.senasp.gov.br/modulos/educacional/conteudo/00992/paginas/AtuacaoPolicialFrenteGruposVuln
eraveis_completo.pdf
de proteção desses grupos que efetivamente surtiram efeito com a redução significativa
e consistente das taxas de violência.
No caso mulheres, outro segmento vulnerável, de acordo com o Mapa da
Violência – Homicídio de Mulheres no Brasil 10, nos 30 anos decorridos a partir de 1980
a 2010 foram assassinadas no país perto de 92 mil, 43,7 mil só na última década. O
número de mortes nesses 30 anos passou de 1.353 para 4.465, o que representa um
aumento de 217,6% – mais que triplicando – nos quantitativos de mulheres vítimas de
assassinato. Embora muitos avanços tenham sido alcançados com a Lei Maria da Penha
(Lei nº 11.340/2006), a violência contra a mulher, sobretudo no ambiente doméstico,
seja violência letal (assassinato), a violência física não letal, ou violência moral ainda
são grandes desafios no país.
Outro grupo vulnerável é o das pessoas idosas. Segundo o Manual de
Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa, da Secretaria de Direitos Humanos
da Presidência da República11, 24.669 idosos e idosas morreram em 2011 por violências
e acidentes (o que corresponde a 68 pessoas por dia) e 169.673 deram entrada em
hospital por quedas, traumas de trânsito, envenenamentos, agressões, sufocações,
tentativas de suicídio em 2012. Contudo, a violência contra a pessoa idosa é muito mais
intensa, disseminada e presente na sociedade brasileira do que as estatísticas conseguem
registrar. Um das razões é que, segundo delegados, promotores de justiça, defensores
públicos e assistentes sociais que atendem às pessoas idosas, as vítimas tendem a
minimizar a gravidade dos maus-tratos e a se mostrarem leais a seu agressor, preferindo
conviver com maus-tratos a correr o risco de perder um relacionamento pessoal e
afetivo de toda a vida.
Também cabe ressaltar a violência relacionados à orientação sexual. O
preconceito disseminado socialmente contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis,
transexuais e transgêneros (LGBTTT), tem dado vazão as violações dos direitos
humanos, a despeito dos últimos avanços no campo jurídico e das políticas públicas.
Segundo o Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, tais violações envolvem:
“diferentes espécies de abusos e discriminações e costumam ser agravadas
por outras formas de violências, ódio e exclusão, baseadas em aspectos como
10
Disponível em:
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/MapaViolencia2012_atual_mulheres.pdf
11
Disponível em:
http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/publicacoes/violencia-contra-a-pessoa-idosa
idade, religião, raça/cor, deficiência e situação socioeconômica, o que
exacerba a vulnerabilidade de grupos sociais, cuja discriminação é
intensificada quando ao racismo, sexismo, pobreza ou credo, agrega-se
orientação sexual e/ou identidade de gênero estigmatizadas”.
12
http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/pdf/relatorio-violencia-homofobica-ano-2012
los, como já exposto no texto do tema geral) devem funcionar com o máximo de
respeito aos direitos humanos e às leis, ao uso proporcional e adequado da força,
transparência, urbanidade e submeter-se a algum tipo de controle social.
Em um contexto de alta criminalidade, baixa eficiência da ação policial,
descrédito nas instituições do sistema de justiça criminal, percepção de impunidade
seletiva (além de altas taxas de impunidade objetivas), torna-se ineficiente o aumento no
efetivo das forças policiais, em armamento e viaturas, se o foco da atividade policial não
estiver também direcionado para a prevenção da violência e dos crimes e mediar
conflitos.
Só para se ter uma ideia, a despeito de significativos e crescentes gastos com
aparatos de segurança pública, os índices de violência não tem caído no estado de Minas
Gerais. Aqui, os gastos com policiamento aumentaram, de 2012 para 2013, 61,78%,
passando de R$239 milhões para R$386 milhões. Em 2013, 9,4% das despesas
realizadas pelo Estado foram com segurança pública. O efetivo das forças policiais em
Minas Gerais em 2012 era de: policiais militares: 43.649; policiais civis: 9.920; guardas
municipais: 5.147; bombeiros: 5.355; um contingente significativo. (Dados extraídos do
Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública)13.
As duas principais instituições policiais brasileiras (as polícias militar e civil, de
âmbito estadual) foram criadas e se institucionalizaram em momentos históricos e
políticos nos quais prevaleciam os interesses de elites sociais, políticas e econômicas
preocupadas mais com a manutenção de uma ordem patrimonial burguesa, em
detrimento dos interesses públicos dos cidadãos.14 Por isso, nossas polícias ainda se
mantêm como instituições fechadas, avessas ao controle social, preocupadas com a sua
preservação institucional e nem sempre atentas ao cumprimento da sua missão
constitucional: a garantia dos direitos de cidadania.
Nos últimos anos parte da sociedade civil organizada tem demandado uma
reforma no sistema policial, com a criação de uma nova polícia, uma “polícia cidadã”,
que seria boa não apenas para a sociedade, mas também para os próprios policiais - que
vêm suas instituições perderem legitimidade, haja vista a baixa eficiência policial na
prevenção e repressão qualificada aos crimes. Com isso seria possível superar algumas
13
http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//8anuariofbsp.pdf
14
Para aprofundar essa questão, sugerimos a leitura do texto “Polícia, controle social e
democracia, neste link: http://www.necvu.ifcs.ufrj.br/arquivos/texto%205%20policia%20controle
%20social%20e%20democracia_arthur%20t%20m%20costa.pdf)
das profundas dicotomias existentes na atual gestão policial brasileira; diminuiríamos a
discricionariedade da ação policial; eliminaríamos ou reduziríamos a prática da
violência policial e caminharíamos na criação de uma polícia cidadã.
Alguns especialistas e estudiosos têm apontado que o nosso modelo de
organização policial demanda reformas, tais como: a gradativa adoção de instituições
policiais de ciclo completo nos estados (ou seja, que integrem as ações de investigação e
policiamento ostensivo, hoje divididos entre as polícias civis e militares nos estados); a
desmilitarização da natureza e da organização policial; a garantia de autonomia
funcional e operacional para os órgãos periciais; e a consolidação legal das atribuições
das guardas municipais como parte do sistema, atuando na manutenção da segurança
urbana, na mediação de conflitos e no suporte ao policiamento de proximidade e
comunitário. Veja, por exemplo, a Carta de Cuiabá, produzida pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (já indicado para consultas no texto do tema geral), que congrega
diversos especialistas qualificados dessa área, de todo o Brasil. Na Carta, o Fórum
recomenda, entre outras alterações:
15
A Carta pode ser acessada aqui: http://www.dzai.com.br/robsonsavio/blog/conversandodireito?
tv_pos_id=134397
- PONCIANI, PAULA. Tendências e desafios na formação profissional do policial no
Brasil.
http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//revista_01.pdf
- PEREIRA, BENÔNI.; POLICARPO JR, JOSÉ. A formação policial para além da
técnica profissional: reflexões sobre uma formação humana.
http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//revista_10.pdf
- ROCHA, ALEXANDRE. Polícia, violência e cidadania: o desafio de se construir uma
polícia cidadã.
http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//revista_12.pdf