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Faculdade de Tecnologia e Ciências Exatas

Curso: Engenharias Civil/Computação/Produção/Elétrica/Mecânica


LEGET – Legislação e Ética

Roteiro 02 – Noções introdutórias de Direito Civil: pessoa natural e pessoa jurídica

Direito Civil: ramo do direito privado que regula as relações de natureza familiar, patrimonial e
obrigacional entre pessoas. Direito comum, no sentido de trazer regras aplicáveis no dia a dia de
qualquer pessoa, a reger relações entre particulares, desde o seu nascimento até a morte.

Seus princípios basilares são: personalidade, autonomia da vontade, propriedade individual,


intangibilidade familiar, legitimidade da herança, direito de testar e solidariedade social.

Código Civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. Concentra as normas de Direito Civil e está dividido
em duas partes: a geral (das pessoas, dos bens e dos fatos jurídicos) e a especial (direito das
obrigações, direito de empresa, direito das coisas, direito de família e direito das sucessões).

Inovações do CC/02: - conformação com os princípios constitucionais


- novo padrão ético (justiça material)
- coletivo acima do indivíduo (função social)
- opção por cláusulas gerais e conceitos jurídicos abertos

Personalidade e capacidade:

O termo personalidade refere-se ao reconhecimento jurídico da aptidão genérica das pessoas


para adquirir direitos e contrair obrigações. A condição ao reconhecimento da personalidade será,
portanto, a existência da pessoa. Atribuir personalidade é reconhecer a capacidade de titularizar
direitos e obrigações por uma pessoa. Podemos chama-la de capacidade de direito. Porém,
enquanto não atingir a maioridade, não poderá exercer esses direitos e obrigações por si só
(capacidade de fato). Quando a pessoa atinge 18 anos, ela terá capacidade plena (capacidade de
direito + capacidade de fato).

Direitos da personalidade: direitos inatos ao homem, inerentes à condição humana, sem os quais
esta não poderia se desenvolver plenamente. Eles se espraiam por três planos distintos: físico,
intelectual-emocional e moral. São direitos absolutos, intransmissíveis, indisponíveis,
irrenunciáveis, imprescritíveis, impenhoráveis e inapropriáveis.

A expressão capacidade de fato refere-se à extensão de exercício dessa aptidão genérica na


prática, a aptidão concreta da pessoa para realizar atos. É condição de validade de todo negócio
jurídico. Há restrições legais de caráter etário ou impossibilidade de manifestação da vontade,
estabelecidos em lei; daí falar-se em incapacidade absoluta e relativa (Obs.: pessoas com
deficiência foram excluídas do rol dos incapazes ou dos relativamente capazes).

Diferem da incapacidade as situações de impedimento legal para a prática de ato ou para o


exercício de atividade, por incompatibilidade ou conflito de interesses, como, por exemplo: a
pessoa declarada falida não pode exercer a atividade empresarial enquanto não forem declaradas
extintas as suas obrigações por sentença judicial.

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Com relação à capacidade, o Código Civil distingue as pessoas incapazes, as relativamente
capazes e as plenamente capazes ou, simplesmente, capazes.

Incapacidade absoluta: vedação legal absoluta à prática pessoal de atos da vida civil. Pena é a
nulidade do ato ou negócio jurídico. Representantes legais (pai, mãe ou tutor). A figura do curador.
A idade avançada por si só não é fator de restrição.

Capacidade relativa: a restrição se refere a certos atos ou à maneira de os exercer (podem


praticar atos com a assistência de seus representantes). Exemplos: o menor relativamente capaz
pode testemunhar, exercer emprego público, celebrar contrato de trabalho, ser empresário
mediante autorização, aceitar mandato, fazer testamento; limites da capacidade do pródigo (art.
1782, CC/021). O relativamente capaz não pode invocar a sua idade para eximir-se de obrigação
se dolosamente ocultou a sua idade ou se declarou maior no ato (art. 180 do CC/02).

Capazes ou plenamente capazes: as restrições à capacidade cessam aos 18 anos completos.


Entre 16 e 18 anos, o Código Civil prevê algumas hipóteses de antecipação da capacidade plena:
emancipação voluntária ou judicial; emancipação tácita ou legal (casamento e exercício de
emprego público efetivo, colação de grau em curso de nível superior, estabelecimento com
economia própria). Tais hipóteses presumem a maturidade para a prática de todos os atos da vida
civil e assunção de suas consequências (por ex.: os pais podem reconhecer a maturidade do filho,
emancipando-o, ou o fato do menor se estabelecer com economia própria revela tal maturidade).

Cessação da capacidade: termina a personalidade jurídica da pessoa natural com a sua morte.
Morte presumida com declaração judicial de ausência (dúvida acerca da morte) e sem decretação
de ausência (circunstâncias que indiretamente conferem certeza à morte). Comoriência: quando
duas pessoas falecem num mesmo evento sem que seja possível determinar o momento da morte
de cada uma delas, a lei presume que morreram no mesmo instante.

Perda superveniente da capacidade: as pessoas podem perder a capacidade posteriormente à


sua aquisição, nas hipóteses de redução de discernimento e/ou de impossibilidade de
manifestação da vontade, não importando sua causa, e, também, na hipótese de prodigalidade
(pródigo é aquele que dilapida o patrimônio até a sua ruína).

Tutela, Curatela e Tomada de Decisão Apoiada: institutos previstos no Código Civil para
representação ou assistência de menores que se tornam órfãos pela morte dos pais ou quando
estes percam o poder familiar (tutela); ou de pessoas que não possam exprimir sua vontade por
causa transitória ou duradoura, os que sejam ébrios habituais e os pródigos (curatela) e as
pessoas com deficiência mental. Tutor e curador representarão ou assistirão seus tutelados ou
curatelados ao exercício dos atos da vida civil, em sua plenitude ou para alguns tipos de negócios.
O Código Civil prevê, ainda, a tomada de decisão apoiada, processo pelo qual a pessoa com
deficiência é auxiliada por duas pessoas idôneas de sua confiança que prestarão apoio na tomada
de decisão sobre atos de sua vida civil (art. 1.783-A do CC/02).

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Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar,
hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera
administração.

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Individualização da pessoa física: o Código Civil também trata dos direitos da personalidade,
como direitos intransmissíveis e irrenunciáveis e que não podem sofrer limitação voluntária.
Dentre esses direitos da personalidade, o Código Civil menciona o nome civil (prenome e
sobrenome ou patronímico) como elemento de individualização da pessoa, bem como a sua
proteção contra a exposição ao ridículo ou em situações vexatórias ou em contexto comercial. O
Código Civil também protege o pseudônimo, o direito à imagem e o direito à vida privada.

Ainda com relação aos direitos da personalidade, o Código Civil proíbe o ato de disposição do
próprio corpo quando importar em diminuição permanente da integridade física ou contrariar os
bons costumes, exceção feita à hipótese de disposição por exigência médica. Após a morte, o
Código Civil somente admite a disposição gratuita do próprio corpo para objetivo científico ou
altruístico (doação de órgãos, por exemplo).

A pessoa ou seus sucessores e herdeiros, no caso de pessoa falecida, podem exigir que cesse a
ameaça ou a lesão a direito da personalidade e reclamar perdas e danos.

Pessoa Jurídica

Conceito: pessoa jurídica é uma ficção legal, uma verdade legal, decorrente da atribuição, pelo
Direito, de personalidade a um agrupamento de pessoas ou a um patrimônio, como uma unidade
jurídica, um centro de imputação de interesses, direitos, obrigações e responsabilidades. A
pessoa jurídica é sujeito de direitos e obrigações.

De modo que, ao invés de o Direito enxergar um grupo de pessoas atuando com um objetivo
comum, ou um patrimônio que é administrado em função de um fim ideal, o Direito enxerga esse
grupo ou patrimônio como uma unidade, um sujeito único, uma pessoa distinta.

Isso vem a facilitar as relações desenvolvidas por esse agrupamento, pois não são os integrantes
que formam a pessoa jurídica que negociam, contratam, são proprietários, mas, sim, a pessoa
jurídica que o Direito reconhece como sujeito capaz de direitos, obrigações e responsabilidades.

A pessoa jurídica, equiparando-se à pessoa natural, se identificará por um nome (firma ou razão
social ou denominação), terá nacionalidade, sede (domicílio) e patrimônio destacado. Com efeito,
a atribuição de personalidade é uma técnica de separar o patrimônio da pessoa jurídica do
patrimônio particular de cada um de seus integrantes.

Como uma criação do Direito, a pessoa jurídica deve atuar em consonância com a ordem jurídica
e a sua utilização pelas pessoas que a compõem também deve estar em conformidade com a lei.
A pessoa jurídica não pode ser usada para praticar fraudes.

Na hipótese de a pessoa jurídica ser utilizada de forma abusiva, isto é, com desvio de sua
finalidade ou propiciando confusão patrimonial, poderá o juiz desconsiderar a pessoa jurídica para
alcançar seus administradores ou integrantes (sócios) e respectivos patrimônios pessoais (é o que
denominamos “desconsideração da personalidade jurídica”).

Classificação das Pessoas Jurídicas

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O Código Civil distingue as pessoas jurídicas de Direito Público das pessoas jurídicas de Direito
Privado; as primeiras se submetem ao regime jurídico de Direito Público; as segundas se
submetem ao regime jurídico de Direito Privado.

Pessoas Jurídicas de Direito Público

As pessoas jurídicas de Direito Público, por sua vez, se subdividem em pessoas jurídicas de
Direito Público Externo (Estados estrangeiros e os organismos internacionais regidos pelo Direito
Internacional Público) e pessoas jurídicas de Direito Público Interno (União Federal, Estados,
Distrito Federal, Municípios, Territórios, autarquias, fundações e associações públicas).

As autarquias são entidades da administração pública descentralizada, com autonomia financeira


e patrimonial, para executar atividades típicas da administração pública (serviços públicos).

Pessoas Jurídicas de Direito Privado

O Código Civil enumera as seguintes pessoas jurídicas de Direito Privado: associações,


sociedades, fundações, organizações religiosas, partidos políticos e as empresas individuais de
responsabilidade limitada (EIRELI).

Associações são entidades que congregam pessoas que se organizam para fins não econômicos,
isto é, sem o objetivo de produzir utilidades e partilhar resultados econômicos. Portanto, qualquer
receita ou renda obtida pela associação deverá reverter para a própria associação e não poderá
ser distribuída entre os associados. Por exemplo, um clube é uma associação. Os associados,
que compraram o título para ingressar na associação, pagam uma mensalidade, e têm à
disposição a estrutura oferecida pelo clube: sede social, restaurante, lanchonete, salão, sala de
jogos, parque aquático, quadras de esportes etc. Se a associação promover uma festa junina ou
de reveillon, poderá obter renda com a venda de ingressos, mesas, refeições, bebidas, e tudo o
que for arrecadado será investido na própria associação.

Já as sociedades são entidades que congregam pessoas que se unem para o exercício de
atividade econômica e a partilha de resultados. A atividade econômica poderá ser empresarial ou
não empresarial (atividade que explore o exercício de profissão intelectual).

As associações e sociedades tem em comum, portanto, a sua base, que é pessoal.

Diferentemente, as fundações são patrimônios personalizados, isto é, um patrimônio autônomo


destinado a realizar fins religiosos, morais, culturais e de assistência. Esse patrimônio destacado
pelo fundador, quando vivo, ou por testamento, após sua morte, será administrado para gerar
renda que financiará a realização dos seus fins ideais. Sua base é patrimonial e não pessoal.

No que concerne às organizações religiosas, o Código Civil lhes atribui total liberdade de criação,
organização, estruturação e funcionamento. Pela Constituição Federal, os templos de qualquer
culto são imunes quanto a impostos sobre patrimônio, renda ou serviços (não estão sujeitos ao
pagamento desses impostos) quando relacionados com as finalidades essenciais dos templos.

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Os partidos políticos, como pessoas jurídicas, seguem as normas da Lei nº 9.096/1995, que lhes
confere total liberdade de organização, observadas as normas dessa legislação especial.

EIRELI é a empresa individual de responsabilidade limitada constituída por uma única pessoa,
titular da totalidade do capital social, que terá piso mínimo correspondente a 100 salários mínimos.
Como se deduz de sua denominação e como pessoa jurídica, a o titular da EIRELI tem sua
responsabilidade limitada em relação às dividas da empresa individual.

Destacamos, ainda, as empresas públicas e as sociedades de economia mista. Elas integram a


Administração Pública indireta, mas seguem o regime jurídico de Direito Privado, e se destinam ao
exercício de atividade econômica pelo Estado.

As empresas públicas têm a totalidade de seu capital social em mãos do Poder Público. As
sociedades de economia mista, subespécie de sociedade anônima, são controladas pelo Poder
Público2, com participação também de capital privado. Quanto à estrutura de tais entes, a
empresa pública poderá adotar a forma de sociedade limitada ou sociedade por ações; já a
sociedade de economia mista só poderá adotar a estrutura de sociedade por ações e será regida
pela Lei das S/A (Lei 6.404/1976).

Ressalte-se que a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só é admissível quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, nos termos
do art. 173 da Constituição Federal (ou seja, o exercício de atividade econômica pelo Estado é
uma exceção e não uma regra).

Por fim, mencionamos as cooperativas, que também têm personalidade jurídica de Direito
Privado. Elas são sociedades simples, não empresárias, cuja finalidade é a reunião de pessoas
para a exploração de uma empresa pelo princípio da mutualidade, buscando a melhoria sócio-
econômica de cada um dos cooperados. O objetivo dos cooperados, portanto, não é a partilha de
resultados, pelo menos num primeiro momento, mas usufruir das vantagens e benefícios
proporcionados aos cooperados como sócios e usuários dos serviços prestados pela cooperativa.

Início da existência legal das pessoas jurídicas de Direito Privado: nos termos do art. 45, do
Código Civil, a existência legal das pessoas jurídicas de Direito Privado começa com a inscrição
dos seus atos constitutivos no registro próprio (sociedades empresárias e as cooperativas perante
a Junta Comercial do Estado de suas sedes; as demais no Registro Civil de Pessoas Jurídicas de
suas sedes).

Sociedades

O Código Civil distinguiu as sociedades em dois grupos: sociedades não personificadas e


sociedades personificadas; as primeiras não tem personalidade jurídica (não são pessoas
jurídicas) e as últimas têm personalidade jurídica.

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Ter o controle significa que o Poder Público detém mais da metade das ações com direito a voto
da sociedade de economia mista e exerce efetivamente o poder que essas ações lhe conferem.
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São sociedades não personificadas: (i) a sociedade em comum, quando sequer há contrato social
assinado pelos sócios ou quando o contrato não foi levado ao registro competente para
formalização da sociedade e reconhecimento de personalidade jurídica; e (ii) a sociedade em
conta de participação.

Sociedades não personificadas

A sociedade em comum é uma situação indesejada pelo Direito e padece das seguintes
desvantagens: os sócios não tem sua responsabilidade limitada em relação às dívidas da
sociedade; a existência da sociedade pode ser provada por terceiros (credores e consumidores)
por qualquer meio para vincular a todos, bem como a seus patrimônios particulares, com relação
aos negócios realizados enquanto sociedade (os sócios, pelo contrário, só podem alegar a
existência da sociedade entre si com base em contrato escrito e assinado); e a sociedade, se
empresária, não poderá se beneficiar de recuperação judicial ou extrajudicial.

Já a sociedade em conta de participação é um tipo societário que tem as seguintes


características: I – não tem personalidade jurídica, não obstante tenha contrato escrito e ainda que
este seja levado a registro, por exemplo, no cartório de títulos e documentos; II – tem duas
categorias de sócios: o ostensivo, aquele que exercerá a atividade prevista como objeto da
sociedade, assumindo todos os direitos e obrigações em face de terceiros, e o sócio oculto, que
não poderá participar da administração e que receberá os resultados positivos ajustados. O sócio
ostensivo não terá sua responsabilidade limitada em relação às dívidas assumidas enquanto
gestor da sociedade, enquanto que o sócio oculto não responderá pelas dívidas da sociedade, já
que não aparecerá e nem contratará pela sociedade.

Sociedades personificadas

São personificadas: a sociedade simples, a sociedade em nome coletivo, a sociedade em


comandita, a sociedade limitada, a sociedade por ações (sociedade anônima e sociedade em
comandita por ações) e a sociedade cooperativa.

A sociedade simples foi idealizada para estruturar o exercício coletivo de atividade profissional de
natureza intelectual, ligada às ciências, literatura e artes (atividade considerada não empresarial,
nos termos do art. 966, parágrafo único, do CC/02).

O Código Civil, porém, permite que o exercício coletivo de atividade profissional de caráter
intelectual possa ser realizado através dos outros tipos societários direcionados ao exercício da
atividade empresarial, mas isso não tornará a sociedade uma sociedade empresarial, pois o que
prevalece é a natureza da atividade exercida pela sociedade e como ela é exercida. De fato, o
trabalho intelectual estabelece relações pessoais, de confiança, tornando o prestador do trabalho
intelectual uma pessoa insubstituível pela capacitação ou habilitação especial que detém.

A sociedade em nome coletivo se caracteriza por ser composta apenas por pessoas físicas que
assumirão a gestão (um, alguns ou todos os sócios) e todos os sócios responderão ilimitada, mas
subsidiariamente, pelas dívidas da sociedade. Em outras palavras, se o patrimônio da sociedade

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não for suficiente para pagar os credores, estes poderão se voltar contra os sócios, uma vez
esgotados os bens da sociedade.

A sociedade em comandita, por sua vez, é uma sociedade em que há duas categorias de sócios:
os comanditados, pessoas físicas, encarregadas da gestão da sociedade e com responsabilidade
ilimitada pelas dívidas sociais; e os sócios comanditários, que não podem participar da gestão da
sociedade e são obrigados apenas pelo valor de sua participação no capital social.

Na sociedade limitada, antiga sociedade por quotas de responsabilidade limitada, a


responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem
solidariamente pela integralização do capital social. Ou seja, os sócios limitarão sua
responsabilidade em relação às dívidas sociais desde que todos eles tenham efetivado a sua
contribuição ao capital social. A sociedade limitada é uma sociedade em que todos os sócios,
após integralizado totalmente o capital social, não responderão pelas dívidas da sociedade.
Atualmente, admite-se que a sociedade limitada seja constituída com apenas um sócio ou se
reduza o seu quadro de sócios a uma única pessoa (sociedade limitada unipessoal).

A sociedade anônima e a sociedade em comandita por ações, subespécies da sociedade por


ações, são tipos societários disciplinados em lei específica (Lei 6.404/1976) e tem seu capital
dividido em ações. Os titulares de ações, chamados de acionistas, também terão sua
responsabilidade limitada ao preço de emissão das ações que subscreveram.

Porém, na comandita por ações, os sócios comanditados, que são seus administradores, têm
responsabilidade ilimitada pelas dívidas sociais.

Analisando-se os tipos societários, podemos inferir que há sociedades em que os sócios não
respondem pelas dívidas sociais (responsabilidade limitada); há sociedades em que os sócios
respondem pelas dívidas sociais (responsabilidade ilimitada), e há sociedades em que alguns
sócios tem responsabilidade limitada e outros ilimitada.

Ainda em conclusão, podemos distinguir as sociedades em empresárias e não empresárias,


dependendo da atividade que perseguirem como objeto social.

O art. 966 do Código Civil dispõe que: “Considera-se empresário quem exercer profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”,
direcionando-os ao mercado.

E o seu parágrafo único dispõe: “Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual,
de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores,
salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”.

E, de acordo com o art. 983 do CC/02, se uma sociedade tiver por objeto social a exploração de
atividade considerada “empresarial”, deverá adotar a estrutura ou a forma de um dos seguintes
tipos societários: em nome coletivo, em comandita, limitada, por ações ou em comandita por
ações.

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Mas se a sociedade tiver por objeto social a exploração de profissão intelectual, não há nenhuma
restrição quanto à estrutura ou forma societária, podendo adotar a forma de uma sociedade
simples ou de uma sociedade limitada, por exemplo. Mas ela será sempre uma sociedade não
empresarial. Só não poderá constituir-se como S/A ou em comandita por ações, que são
empresárias por definição, não importando o seu objeto.

A diversidade de tipos societários permite que as pessoas possam optar por um tipo ou outro
tendo em vista variáveis, tais como: objetivos a perseguir, limitação de responsabilidade, tipo de
empreendimento e sua duração etc.

MICROEMPRESÁRIO INDIVIDUAL, MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE

Tudo que foi falado acima diz respeito à classificação do empresário, como sujeito que exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção e circulação de bens e
serviços para o mercado, em conformidade com o vigente Código Civil.

Há outra classificação, porém, criada pela Lei Complementar nº 123/2006, que instituiu o Estatuto
Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, e que leva em consideração o valor
da receita bruta anual auferida pelo empresário. Enquadrando-se em uma das categorias
(microempresário individual, microempresa ou empresa de pequeno porte), o empresário terá um
regime jurídico diferenciado e benéfico, especialmente no campo tributário, de modo a incentivar
não apenas a regularização de sua atividade, bem como desonerando-a com a redução de
tributos e obrigações.

Assim, o Estatuto define:

“Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de


pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de
responsabilidade limitada e o empresário individual a que se refere o art. 966 da Lei 10.406, de 10
de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou
no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que:
I – no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$
360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e
II – no caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior
a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro
milhões e oitocentos mil reais)” (verbis).

“Art. 18-A...
§ 1º Para os efeitos desta Lei Complementar, considera-se MEI o empresário individual a que se
refere o art. 966 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), que tenha auferido receita
bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), optante pelo
Simples Nacional e que não esteja impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo”
(verbis), admitindo o art. 18-C do Estatuto que o MEI possa contratar um único empregado que
receba um salário mínimo ou o piso salarial de sua categoria profissional.

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