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Lamas (2014)

O PAPEL DO JUIZ NA APLICAÇÃO DA LEI INJUSTA: UMA RELEITURA NECESSÁRIA


DOS JUÍZES JÚPITER, HÉRCULES E HERMES DE FRANÇOIS OST

Lívia Paula de Almeida Lamas¹

¹ Doutoranda em Direito Penal, Mestre em direito Constitucional e Teoria do Estado.


Especialista em Direito Público. Advogada. Licenciada em Letras. Coordenadora e
Professora do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu
(FACIG).

Resumo:

Este trabalho tem por objetivo realizar uma releitura dos juízes Júpiter, Hércules e Hermes,
de François Ost, de modo a descobrir qual deles assume o melhor papel quando a lei se
apresenta injusta diante de um caso concreto.

Palavras chave: Modelos de juiz, Fraçois Ost, lei injusta.

Abstract:

This paper aims to carry out a retelling of judges Jupiter, Hercules and Hermes, from
François Ost, so find out which one takes the best role when the law appears unfair for a
concrete case.

Key words: Judge models, Fraçois Ost, unjust law.

1. INTRODUÇÃO jurídica é um fator de estabilidade do


ordenamento jurídico e confere segurança
Em regra, para que a sociedade aos cidadãos.
possa existir, ela precisa ter normas de
orientação. O direito possui, dessa forma, O papel do direito, contudo, deve
o papel de garantir a ordem e a paz harmonizar com o valor da justiça para de
pública, bem como proporcionar fato cumprir o seu papel na sociedade.
segurança àqueles que se orientam por Segundo Hart, “a justiça constitui um
suas normas, funcionando como o segmento da moral que se ocupa
instrumento que viabiliza a organização da primariamente, não com a conduta
coletividade. O Direito consiste, portanto, individual, mas com os modos por que são
em um sistema de normas que regulam o tratadas classes de indivíduos (...). Trata-
comportamento humano e conferem se da mais jurídica das virtudes e da mais
organização à sociedade (KELSEN, 2009, pública delas.” (1994, p.182). A justiça,
p.5), de forma a garantir segurança e prossegue Hart, “é tradicionalmente
estabilidade às relações jurídicas. concebida como mantendo ou
restaurando um equilíbrio ou uma
O Direito tem um papel proporção e seu preceito condutor é
fundamental na manutenção da estrutura frequentemente formulado como ‘tratar da
social, uma vez que a segurança jurídica mesma maneira os casos semelhantes’;
que ele proporciona, permite que as ainda que devamos acrescentar a este
pessoas saibam antecipadamente as último ‘e tratar diferentemente os casos
consequências diretas de seus atos, bem diferentes’” (p.173).
como tenham certeza de que os negócios
realizados sob a sua égide perdurem Ocorre, todavia, que nem sempre
(SILVA, 2005, p.26-27). Segundo Hans as normas jurídicas existentes são justas
Kelsen (2009, p. 387), a segurança ou adequadas aos interesses sociais, fato

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que acarreta um dilema para o aplicador a vida dos deuses e dos homens. Neste
da lei: O que ocasiona maior dano, aplicar sentido, tendo em vista a visão positivista
uma lei injusta, a pretexto de se manter a do direito, que apregoa a supremacia da
segurança jurídica ou julgar contra legem, lei escrita, o juiz Júpiter de Ost tem o
a fim de adequar sua decisão de forma a papel de manter o foco na lei e no seu fiel
torná-la justa? cumprimento, pouco importando a
realidade social de cada indivíduo.
Nesse sentido, os modelos de juiz -
Júpiter, Hércules, Hermes - desenvolvidos Tomemos el modelo de la pirámide
no texto de François Ost (2007, pp. 101- o del código. Lo lamaremos el
130), geram uma discussão que atravessa Derecho jupiterino. Siempre
os anos na procura da melhor proferido desde arriba, de algún
solução para garantir os direitos Sinaí, este Derecho adopta la forma
fundamentais por meio de uma justiça de ley. Se expresa en el imperativo y
constitucional. da preferencia a la naturaleza de lo
prohibido. Intenta inscribirse en un
Segundo Ost, o juiz Júpiter seria a depósito sagrado, tablas de la ley o
“a boca da lei”, encontrando-se vinculado códigos y constituciones modernas.
à hierarquia das normas, ao modo do De ese foco supremo de juridicidad
direito proposto por Hans Kelsen, não se emana el resto del Derecho en
preocupando com a realidade social de forma de decisiones particulares.
cada indivíduo. Já o modelo Hércules, que (Ost, 2007, p. 102)
Dworkin denominou seu juiz ideal, está
sustentado na figura do juiz “que faz a lei”, Sob essa perspectiva, mesmo
sobrepondo-se à generalidade da lei para diante de situações obscuras
dar aos fatos a possibilidade de solução proporcionadas pela falta ou omissão
dos problemas sociais. O juiz Hermes, por legislativa, o juiz Júpiter não deve
sua vez, assume o papel de um grande reconhecer outra possibilidade de
mediador e comunicador, capaz de realização do direito que não seja aquela
articular o Direito com os diversos determinada pelo Estado através de leis.
discursos jurídicos e políticos. “O direito é aquilo que o legislador,
democraticamente legitimado ou não,
Assim, questiona-se: Qual modelo estabelece como direito, segundo um
de juiz apresentado por Ost proporciona a processo institucionalizado juridicamente”
melhor solução quando um caso concreto (Habermas, 2003, p. 193).
se depara com uma solução legal
nitidamente injusta? Partindo dessa De acordo com o pensamento de
pergunta, este artigo buscará analisar a François Ost (2007), o modelo de juiz
atividade jurisdicional em correlação com jupiteriano se pauta em quatro corolários:
os modelos propostos por Ost, bem como o primeiro é o do monismo jurídico, que
a legitimidade de decisões judiciais frente aceita a lei, e sua sistematização em
à gama de possibilidades que lhe são códigos, como a única fonte do direito. O
abertas. segundo é o do monismo político,
segundo o qual as leis são fruto da
2. Júpiter, Hércules, Hermes: três vontade estatal. Ou seja, somente o
modelos de juízes Estado é soberano e se encontra na
condição de criar e aplicar o direito. O
2.1 O juiz Júpiter terceiro, por sua vez, refere-se a uma
François Ost busca na mitologia racionalidade dedutiva que tem como foco
romana a inspiração para o seu juiz a supremacia da Constituição, de onde
Júpiter. deverão emanar as demais fontes do
Direito. Impõe-se a ideia de reunir todo o
Júpiter é o deus supremo do material jurídico em um Códex unitário, de
Olimpo, cabendo-lhe a função de conduzir onde as demais leis são deduzidas, ou

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seja, as soluções para cada caso Nesse sentido, o juiz Hércules de


particular deverá decorrer das regras Ost se identifica com o Hércules
gerais, que por sua vez, são deduzidas da mitológico na função extraordinária que
Constituição. Por fim, o último corolário, ele assume. Para o autor, esse juiz tem o
afirma que a codificação pressupõe uma papel de promover a justiça diante das
concepção do tempo orientado em direção condições de desigualdade social
a um futuro controlado. oferecido pelo sistema legalista, ou seja,
quando a solução apresentada pelo
Verifica-se, portanto, que esse sistema é injusta, deformadora dos
modelo não prioriza a garantia dos direitos fundamentais do indivíduo, ao juiz
Direitos Fundamentais do Indivíduo, mas Hércules cumpre a tarefa de verdadeiro
sim a soberania estatal: “engenheiro social”, que sobrepõe os fatos
à generalidade da lei.
Aquí es la legalidad la que es
condición necesaria y suficiente para Para Ost:
la validez de la regla. Es suficiente,
para una norma, haber sido dictada Hércules está presente en todos
por la autoridad competente y según los frentes, decide e incluso aplica
los procedimientos; las cuestiones normas hacía su predecesor, que
anteriores de legitimidad y ulteriores se amparaba en la sombra del
de efectividad no son pertinentes a código; pero también lleva a cabo
este respecto (Ost, 2007, p. 112) otros trabajos. En le
precontencioso, aconseja, orienta,
O pensamento de Kelsen (2009), previene; en el postcontencioso
segundo o qual o Direito é explicado como sigue la evolución del dossier,
um sistema fechado, em que todas as adapta sus decisiones al grado de
normas decorrem de uma norma circunstancias y necesidades,
fundamental, e a norma inferior deve se controla la aplicación de las penas.
adequar aos comandos da norma El juez jupiterino era un hombre de
hierarquicamente superior, é levado ao ley; respecto a él, Hércules se
extremo nessa versão, em que se desbobla en ingeniero social.
assevera que uma norma, a ser jurídica, (2007, p. 110)
não precisa ser justa, basta ter sido
emanada do Estado. Ao contrário do juiz Júpiter, que
O juiz Júpiter segue, portanto, o entende o direito como uma pirâmide que
direito positivado e formalmente válido. estabelece do topo a hierarquia do
Logo, quando ele se vê confrontado entre sistema normativo e vincula o
o direito e a justiça, a lei irá prevalecer, comportamento daquele que aplica a lei, o
pois uma norma mesmo que injusta, será juiz Hércules reflete o direito como sendo
obrigatória. uma pirâmide invertida, segundo a qual o
caso concreto é peça fundamental para a
atuação judicial. Dessa forma, a validade
2.2 O juiz Hércules e a legitimidade do direito não se
encontram no cume da pirâmide, mas nos
François Ost encontra na mitologia fatos.
grega a inspiração para o seu juiz
Hércules: segundo a lenda, Hércules filho Com base nesse modelo, a lei
de Zeus com uma mortal, em um ataque quando insuficiente para garantir uma
de loucura, mata a sua primeira esposa e justiça social deve se adequar ao caso
os filhos. Como forma de penitência pelo concreto, assumindo o juiz um papel
crime cometido, o oráculo de Delfos impõe fundamental no processo, pois é ele o
a ele 12 tarefas, que ficaram conhecidas responsável por adaptar o texto da lei às
como “Os doze trabalhos de Hércules”. necessidades do momento. Trata-se de
“uma tentativa de evitar as falhas das
propostas de solução realistas, positivistas

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e hermenêuticas, bem como de no espaço. Fato que faz com o conceito


esclarecer, através da adoção de direitos de Direito seja relativo. Dessa forma,
concebidos deontologicamente, como a cumpre ao aplicador de cada local aplicar
prática de decisão judicial pode satisfazer o Direito de acordo com os ideais de
simultaneamente às exigências da justiça que ele vivencia em sua cultura e
segurança do direito e da aceitabilidade com as funções atribuídas a ele.
racional” ( HABERMAS, 2003, p. 252).

O juiz Hércules, simboliza as 2.3 O juiz Hermes


qualidades excepcionais, quase divinas,
Na mitologia, Hermes era o
que o juiz deve conter para aplicar o
mensageiro e intérprete da vontade dos
direito vigente. O juiz realiza uma
deuses do Olimpo. O juiz Hermes de Ost
reconstrução racional e coerente do direito
se apodera desses valores, incorporando-
vigente, baseada não apenas na lei
os a figura do juiz que conecta uma
positivada, mas em uma leitura moral dos
multiplicidade de fatores jurídicos e
direitos individuais (DWORKIN, 1999, p.6).
políticos. Ou seja, “el Derecho
postmoderno, o Derecho de Hermes, es
O direito como integridade deplora uma estructura en red, que se traduce en
o mecanismo do antigo ponto de infinitas informaciones, disponibles
vista de que ‘lei é lei’, bem como o instantáneamente y, al mismo tiempo,
cinismo do novo ‘realismo’. dificilmente matizables, tal como puede
Considera esses dois pontos de serlo un banco de dados (Ost, 2007, p.
vistas como enraizados na mesma 104).
falsa dicotomia entre encontrar e
inventar a lei. Quando um juiz Nesse modelo, o juiz atua como
declara que um determinado um grande mediador e comunicador, apto
princípio está imbuído no direito, a conectar diversos discursos e construir a
sua opinião não reflete uma melhor solução quando diante dos casos
afirmação ingênua sobre os concretos. Trata-se de um juiz prudente
motivos dos estadistas do que leva em conta o fato de que o direito
passado, uma afirmação que um não tem como oferecer soluções para
bom cínico poderia refutar todos os fatos da vida, até mesmo porque
facilmente, mas sim uma proposta a sociedade está em constante mutação.
interpretativa: o princípio se ajusta
a alguma parte complexa da Si la montaña o la pirâmide
prática jurídica e a justifica; oferece convenían a la majestad de
uma maneira atraente de ver, na Júpiter, y el embudo al
estrutura dessa prática, a pragmatismo de Hércules, em
coerência de princípio que a cambio, la traytoria que dibuja
integridade requer (DWORKIN, Hermes adopta la forma de una
1999, p.274). red. No tanto uno pólo ni dos, ni
una multitud de puntos em
O juiz Hércules, substitui o modelo interrelación. Un campo jurídico
clássico, impregnado de moralismo e que que se analiza como una
privilegia o dever de obediência irrestrita à combinacíon infinita de poderes,
lei, “por el punto de vista del bad man, que tan pronto separados como
se preocupa exclusivamente de las confundidos, a menudo
eventuales consecuencias desagradables intercambiables; uma
de sus actos. La cuestión no es ya: “¿Cuál multiplicación de los atores, una
es mi deber? diversificación de los roles, una
inversión de las réplicas (Ost,
Esse modelo se baseia no fato de 2007, p. 104).
que a ideia justiça é variável no tempo e

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Ost argumenta que o direito de atitude, questionou-se, assim, como deve


Hermes “se articula entre las cosas: entre se posicionar o juiz ao aplicar a lei.
la regla (que no es nunca enteramente
normativa) y el hecho (que no es nunca Neste sentido, François Ost
enteramente fáctico), [...] entre la fuerza e apresenta dois modelos de juizes (Júpiter
la justicia” (Ost, 2007, p. 122). Justamente e Hércules) que nitidamente se encontram
nesta característica reside a importância em crise diante de um direito alinhado às
do juiz como interprete, pois ao articular a demandas da pós-modernidade. O juiz
lei positivada com o caso concreto, ele Júpiter é um homem da lei e, justamente
contribui para a aplicação de uma decisão neste fato reside a sua maior deficiência,
mais justa. pois obedecer, incondicionalmente, ao
direito, independentemente de seu grau
O juiz Hermes respeita o caráter de imoralidade, não é a postura mais
hermenêutico ou reflexivo do raciocínio adequada, uma vez que “para aplicação
jurídico. Neste contexto, o papel do juiz do direito, a norma deve ser aplicável, (...)
diante de uma lei injusta é realizar uma mas para que a norma seja ‘aplicada’,
leitura não apenas das leis, mas também requer-se que ela seja ‘avaliada’”
dos preceitos morais, de forma a dar a (SGARBI, 2007, p. 738), o que significa
solução mais coerente para cada caso que também é tarefa do operador jurídico
concreto. sopesar a norma.
Ao se deparar com um caso em
que a norma positivada é injusta, o Juiz O juiz Hércules também se
Hermes, depois de identificar a norma, apresenta insuficiente diante da situação
não deve ignorar os critérios de justiça, descrita, pois apesar de não se ater
devendo avaliá-los para efeito de estritamente às normas, como o fazia seu
determinar quais critérios morais utilizará, predecessor, leva a cabo outros trabalhos,
ou não, em seu trabalho. O Direito não se desdobrando em um engenheiro social,
pode estar dissociado da distribuição da ou seja, adapta as suas decisões ao grau
justiça e da promoção do bem estar da das circunstâncias e necessidades que
sociedade, sob o risco de se transformar ele supõe serem corretos, controlando a
em instrumento de arbítrio e degradação aplicação do direito. Tal posicionamento é
do ser humano. um risco, afinal, a justiça não é um valor
absoluto e imutável e o juiz, por mais
Assim, “a decisão é objetiva (justa escrupuloso e atento que seja, ainda
em sentido objetivo) quando cabe dentro assim, é um ser humano, logo, estará
de princípios de interpretação ou condicionado pelos seus sentimentos,
valorações que são correntes na prática. suas inclinações, suas emoções e seus
É subjetiva (injusta em sentido objetivo) valores ético-políticos. Assim, tem-se que
quando se afasta disso” (ROSS, 2003, p. a figura mítica do juiz Hércules, apto a
331). Ou seja, partindo-se desse modelo, fazer justiça é pura ingenuidade, diante
será adequada a atuação do juiz “que “do fato de que a verdade ‘certa’, ‘objetiva’
detiver mecanismos de invalidação e de ou ‘absoluta’ representa sempre a
reparações idôneos, de modo geral a expressão de um ideal ‘inalcançável ’”
assegurar efetividade aos direitos” (FERRAJOLI,2002, p.42).
(FERRAJOLI, 2002, p. 684).
O terceiro modelo de juiz, Hermes,
é, portanto, dentre os modelos de juiz
3. CONCLUSÃO apresentados por Ost, o que mais se
ajusta às necessidades da pós-
Em regra, as normas jurídicas são modernidade. Posto que:
feitas em prol do bem e da segurança
jurídica da sociedade. Todavia, há casos O juiz, destarte, já não pode ser
em que essa conexão não ocorre e é concebido (somente) como a boca
exigida do aplicador do direito uma

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da lei (la bouche de la loi), nem DWORKIN, Ronald. O Império do Direito.


tampouco (exclusivamente) como a São Paulo: Martins Fontes, 1999.
boca do Direito, sim, como a boca
dos direitos e garantias FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão:
fundamentais (do indivíduo) teoria do garantismo penal. São Paulo:
positivados na lei, na Constituição e Editora Revista dos Tribunais, 2002.
no Direito humanitário internacional.
(GOMES, 2007) GOMES, Luiz Flávio. Limites do "ius
puniendi" e bases principiológicas do
O modelo de juiz Hermes não é um garantismo penal. 10 abril 2007.
mero aplicador da lei, nem tampouco atua Disponível em: <www.lfg.blog.br> Acesso
como um justiceiro. A sua função é em 25/03/2014.
compreender o significado da lei e eleger
dentre as possíveis interpretações a que HABERMAS, Jungen. Direito e
for “mais compatível com os princípios, democracia: entre facticidade e validade.
regras e valores constitucionais e Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
humanitários” (GOMES, 2007).
HART, Herbert. O Conceito do Direito.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994.
Assim, conclui-se que o modelo de
juiz Hermes é o que assume a melhor KELSEN, Hans. Teoria pura do direito.
postura diante de uma lei injusta, pois Tradução de João Baptista Machado. 8.
para que haja um equilíbrio entre a ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
aplicação da lei e os fins colimados por
um Estado garantidor dos Direitos do OST, François, Júpiter, Hércules,
indivíduo é preciso que haja uma Hermes: tres modelos de juez. Academia.
adequação entre a lei e a sua correta Revista sobre enseñanza del Derecho año
interpretação. O modelo Hermes tem 4, número 8, 2007, ISSN 1667-4154,
como característica, “precisamente, o de págs. 101-130
ensejar, por via de interpretação extensiva
ou restritiva, conforme o caso, uma ROSS, Alf. Direito e Justiça. São Paulo:
alternativa legítima para o conteúdo de EDIPRO, 2003.
uma norma que se apresenta como
suspeita” (BARROSO, 1999, p. 182). SGARBI, Adrian. Teoria do Direito –
Primeiras Lições. Rio de Janeiro: Lúmen
A tarefa de aplicar uma lei que se Júris, 2007.
apresenta como injusta deve ser SILVA, José Afonso da. Constituição e
analisada como um procedimento dos segurança jurídica, in ROCHA, Carmen
mais complexos, no exercício do poder Lúcia Antunes (coord.). Constituição e
conferido ao juiz. O modelo Hermes ao se segurança jurídica. 2. ed. Belo
conectar a uma multiplicidade de fatores Horizonte: Fórum, 2005.
jurídicos e políticos é, portanto, dentre os
apresentados por Ost, o que melhor
consegue conferir legitimidade a atividade
judicial e garantir ao indivíduo a proteção
a seus direitos fundamentais.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROSO, Luis Roberto, Interpretação e


Aplicação da Constituição, 3 ed. Rio de
Janeiro: Saraiva, 1999.

Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).


PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 10, n. 1, p. 36-41, Janeiro-Julho, 2014.

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