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ISSN 1809-9815
Sinais Sociais | Rio de Janeiro | v.8 n. 23 | p.1-160 | set-dez 2013
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Apresentação 5
Editorial 6
Dossiê: Lazer
Organização
Edmundo de Drummond Alves Junior 9
O profissional do lazer
Hélder Ferreira Isayama 37
Assim como ao Sesc cabe atuar sobre a realidade social, cabe valorizar e
difundir o entendimento acerca dessa realidade, dos conceitos e ques-
tões fundamentais para o país e das políticas públicas e formas diversas
de promover o bem-estar coletivo.
Com a revista Sinais Sociais, colaboramos para que esses verbos sejam
conjugados em favor de uma sociedade que traduza de forma mais
fidedigna a expressiva riqueza cultural e o potencial realizador de seus
cidadãos.
Lazer
Organização:
Edmundo de Drummond Alves Junior
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Foi com grande satisfação que aceitei o desafio de organizar este dossiê
Lazer. Primeiro pela temática, que se coaduna com minhas preocupa-
ções intelectuais e com as atividades acadêmicas que desenvolvo na
Universidade Federal Fluminense (UFF), onde atuo como professor e par-
ticipo de grupos de pesquisa que incluem os estudos do lazer em suas
linhas de pesquisa.
Nos últimos anos, essa entidade sempre esteve presente nas principais
reflexões que foram realizadas em nosso país sobre o lazer, apresentan-
do propostas que contribuíram para o avanço nos estudos dessa área e
também para o desenvolvimento de eventos acadêmicos. Um exemplo é
o Encontro Nacional de Recreação e Lazer (Enarel), que este ano terá sua
25ª edição em Ouro Preto (MG).
Por isso propõe para a melhoria da qualidade dos profissionais que atuam
no âmbito do lazer uma intervenção interdisciplinar. Hélder Ferreira
Isayama aponta alguns problemas como os cursos centrados no “fazer
por fazer”, em receitas de atividades ditas “recreativas” e em uma ten-
dência à comercialização das propostas de formação profissional na
área, que, segundo ele, de maneira geral, restringem a compreensão so-
bre o lazer. Entretanto reconhece que iniciativas variadas, tanto em uni-
versidades como em alguns órgãos públicos, já produzem reflexões sobre
o lazer de forma “abrangente e contextualizada”.
Por vários motivos, que este artigo examina, atividades de lazer em am-
bientes urbanos e associativos encontram, entre indivíduos com mais
idade, um público privilegiado. É bastante revelador que o surgimento
histórico de algumas das primeiras políticas assistenciais, com ativida-
des recreativas de lazer como objeto privilegiado no Brasil, esteja relacio-
nado à organização ou reorganização do sistema previdenciário.
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Resumo
No Brasil, os debates sobre os conceitos relacionados ao
que hoje chamamos de campo do lazer têm origem com os
primeiros projetos de intervenção implantados no país, ainda
que discussões sobre os sentidos do divertir-se já estivessem
presentes no cenário nacional desde o século XIX. Tais debates
tornam-se mais comuns a partir dos anos 1970, quando
começa a se conformar um campo acadêmico sobre o tema.
Nessa trajetória recente, lazer consagra-se como o termo mais
utilizado, ao redor do qual se percebe um conceito majoritário,
estabelecido a partir do cruzamento das dimensões tempo e
atitude. Recentemente alguns autores vêm tentando apontar os
limites desse conceito, sugerindo novos elementos que devem
ser considerados. Partindo de um olhar sobre essas iniciativas,
este artigo intenta promover uma reflexão sobre a importância
da discussão conceitual, a partir de considerações sobre os
limites e potencialidades do conceito de Lazer.
Abstract
In Brazil, the debates on the concepts related to what we now
call “leisure” scope have originated with the early intervention
projects established in the country, although discussions on
the meanings of fun have been already present on the national
scene since the nineteenth century. Such debates became
more common since the 1970s, when it begins to settle an
academic field around the theme. In this recent history, leisure
is established as the most used term in which a majority
concept is realized, instituted by the crossing of time and
attitude dimensions. Some authors have currently trying to
point out the limits of this concept, suggesting new elements
that shall be considered. From a view on these initiatives, this
paper attempts to promote a reflection on the importance
of conceptual discussion, based on considerations about the
limits and potentialities of the Leisure concept.
É somente nos anos finais da década de 1970 que começa a melhor se es-
truturar um campo acadêmico do lazer. Esse conceito, aliás, tornar-se-ia
o mais usado e amplamente aceito. As experiências de organização de
grupos de estudos — notadamente na PUC/RS, com o Celar, dirigido
por Zilah Totta (WERNECK, 2003) e no Sesc-SP, com o Celazer, dirigido por
Renato Requixa (BICKEL, 2013) —, bem como de promoção de um maior
número de congressos e seminários sobre o assunto, anteciparam e mes-
mo criaram uma ambiência para o que viria a ocorrer nos decênios se-
guintes: a definitiva entrada do tema nas universidades.2
deve saber dos seus limites enquanto explicação, dado que sua potencia-
lidade é de outra dimensão. E nesse sentido deveríamos nos perguntar
se pode, ou como pode, ou quanto pode o conhecimento histórico contri-
buir para esforços de conceituação. Vejamos o que diz o autor:
Neste momento da reflexão, devo deixar claro que o esforço que tento
entabular não tem a menor pretensão de sistematizar um novo conceito
de lazer, tarefa para a qual não tenho competência, para a qual ainda não
há materialidade e, por conseguinte, para a qual ainda não vejo urgência.
Embora pense que existam indícios de mudança, debruçar-me-ei sobre
as duas últimas considerações no decorrer do artigo.
Não pretendo prolongar a discussão neste artigo. Isso já foi feito em outras
ocasiões, dialogando com dois grandes pesquisadores que, aparentemen-
te antagônicos, têm muitos pontos em comum, muitas possibilidades de
diálogo: E. P. Thompson e Max Weber. Nessas ocasiões, também procurei
me debruçar sobre a história social inglesa, para tentar esmiuçar melhor o
processo de transição da produção doméstica para a produção da fábrica e
desta para a grande indústria (MELO, 2010b).
Devo, todavia, resumir esse debate, para dar sequência à minha argumen-
tação. O que chamamos de lazer é fruto de uma nova organização dos tem-
pos sociais, que gestou uma mais clara separação entre o tempo de
trabalho e o tempo de não trabalho, bem como de um processo de raciona-
lização que impregna todas as instâncias sociais a partir de determinado
momento.
Essa nova apreensão de uma antiga palavra, esse novo conceito, carre-
ga, contudo, uma ambivalência; ou melhor, uma dimensão de passado e
uma expectativa de futuro. Como sugere Luísa Pereira sobre os concei-
tos em geral: “Por um lado expressam conteúdos de experiências, con-
junturas, modos de pensar já sedimentados. Por outro, são projeções,
visualizações de um futuro possível, projetos e prognósticos” (PEREIRA,
2005, p. 49).
Ao dizer tanto sobre o que já é quanto sobre aquilo que se espera que
seja, a transição conceitual nos ajuda a perceber o processo simultâneo
de constituição do fenômeno. Portanto, do antigo formato da diversão
para o novo formato da diversão há um percurso não linear e heterogê-
neo. Assim, a constituição do conceito, que tem a ver com a gestão ou
ressignificação de uma palavra, é tanto decorrência quanto agente desse
percurso. Por isso nos parece tão útil esse esforço de entender a história
do conceito:
Melvin Richter chama a atenção para que não vejamos a tradução so-
mente pelo viés da coerção, mas também a partir das ideias de releitura,
interpretação, reformulação: “O problema real é definir o processo em
marcha em seus próprios termos, e não nos termos de uma teoria ex-
planatória geral que pretende informar antecipadamente o resultado da
dominação ou da hegemonia” (RICHTER, 2006, p. 115).
Não tínhamos ainda, por exemplo, uma organização dos tempos sociais
nos moldes do modelo fabril, embora já caminhássemos para tal, não só
em função do primeiro surto industrial, como também pelas lutas dos
trabalhadores, inclusive dos ligados ao comércio. O país ainda era rural,
mas já tínhamos cidades que apresentavam uma malha urbana em di-
versificação, caso do Rio de Janeiro e de Recife. A melhor estruturação
de um mercado de luxos e diversões, que estava relacionado a intuitos
Essa trajetória nos alerta para os cuidados que devemos ter na operação
de conceitos. Não estamos dizendo que o conceito de lazer necessaria-
mente seja incapaz de ser operado no século XIX, apenas que devemos
ter claro quais são os seus limites. Isso chega a ferir a força de sua ge-
neralização? Somente se de forma nenhuma ele puder ser explicativo, o
que não é o caso, pois, como vimos, havia sim indícios de primórdios da
operação daquilo que constitui sua base histórica.
[...] conhecer a correspondência ou não de seu uso [do conceito] nas pes-
quisas com as estruturas e realidades vigentes. [...] O estudo conceitual
pode servir para indicar à história social aqueles conceitos que podem
servir como categorias formais de conhecimento por sua capacidade de
No caso do lazer, isso tem relação com a nova reordenação dos tempos
sociais em função da telemática, em si um novo conceito, criado no final
da década de 1970 para explicar o impacto que a informática tem na so-
ciedade. Trata-se, em linhas gerais, do conjunto de tecnologias de trans-
missão de dados a serviço dos indivíduos, o que contempla, nos dias de
hoje, cada vez maior integração entre mídias distintas, desde as tradicio-
nais, como televisão, telefone, rádio, até as mais modernas, notadamente
oriundas de recursos computacionais.
De toda forma, o conceito não vai mudar de uma hora para outra, como
vimos, mas sim quando perca em definitivo o seu poder e capacidade de
abstração. E isso somente se dará com um processo histórico suficiente.
Notas
1 Para mais informações, ver Melo (2003), Werneck (2003), Gomes e Melo (2003)
e Brêtas (2010). Já há um grande número de estudos brasileiros sobre o tema.
Cito apenas dois: Araújo (1993) e Popinigis (2007).
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Abstract
The aim of this paper is to discuss the ways of leisure
professionals’ education in order to understand the limits
and possibilities, as well as insertion of such professional
in the labor market. At present there is a trend to the
commercialization of proposals in the area of vocational
training, with focus as a possibility for financial gains in the
market. These actions are associated with exacerbated and
alienated consumption of material goods and services of
recreation and entertainment that can assist in the escape
and distraction from problems presented in everyday. However,
we can already glimpse on proposals guided by the technical,
scientific, political, philosophical, pedagogical and critical
knowledge of reality. Therefore, it is necessary to break the
technical view and seek for a conscious praxis that creates
opportunities for social participation and democratization.
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Introdução
rentes dimensões, tais como: saúde, educação e trabalho. É por isso que
o considero como um dos elementos fundamentais para uma vida com
qualidade.
A partir dos anos 1970, a produção teórica no campo foi ampliada, des-
sa forma emergiram livros, artigos científicos, monografias, dissertações
e teses, assim como foram aperfeiçoadas as técnicas de pesquisas e as
avaliações dos programas de lazer desenvolvidos em nossa realidade.
Esse avanço na produção sobre o lazer contribuiu de forma significativa
na ampliação das ações no âmbito da formação profissional em nosso
país, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de cursos cen-
trados no “fazer por fazer”, em receitas de atividades ditas “recreativas”.
A partir disso, observo que no Brasil é cada vez maior o interesse de alu-
nos e professores pela discussão da temática do lazer, tendo em vista
as opções de estudo e de intervenção profissional que esse campo de
trabalho oferece. Especialmente nos últimos anos, aumenta a preocu-
pação com o lazer como um dos fatores fundamentais para a promoção
da vida com qualidade. Além disso, o lazer vem sendo destacado por
diferentes instituições sociais como uma das áreas mais promissoras do
século XXI. Ampliam-se as possibilidades de formação profissional nesse
campo, que devem ser analisadas com cuidado por aqueles que desejam
se envolver com essas ações.
Com isso, uma sólida formação profissional voltada para o lazer não
pode visar somente ao simples processo de transmissão de saberes. Essa
formação deve buscar uma constituição subjetiva e o posicionamento de
nossa própria inserção, como sujeitos, nas várias divisões socioculturais
apresentadas em nossa realidade (GOMES, C. L., 2008).
Por isso, concordo com Pimenta e Lima (2012) que me ajudam a compre-
ender que a ação do animador cultural pode ser uma atividade teórica de
conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade (que é o
objeto da práxis). Portanto, é no contexto do lazer e da sociedade que a prá-
xis acontece. Entendo a práxis como uma possibilidade de articular conhe-
cimento teórico com a capacidade de atuação, mas que envolve também a
vontade para atuar, a responsabilidade com o trabalho, a capacidade para
decisão e a estabilidade emocional para atuar em diferentes contextos.
Por isso, concordo com Melo (2010) quando afirma que além de ser fun-
damental para o futuro animador cultural, a formação cultural também
é papel dos espaços de formação, na medida em que é uma possibilidade
de expressão e de síntese da realidade. Por isso, devemos pensar cons-
tantemente como formar um profissional, que assume o papel de educar
sensibilidades, se a formação cultural deles é bastante restrita.
Além disso, destaco outras iniciativas que contribuem para essa forma-
ção profissional, como a criação de listas de discussão na internet e a
publicação de artigos científicos em revistas das mais diferentes áreas,
com destaque para a revista Licere (atualmente o único periódico espe-
cífico sobre o lazer no país). E, recentemente, com a criação da Anpel foi
aprovada a proposta de criação de um novo periódico específico, Revista
Brasileira de Estudos do Lazer, que está em processo de organização pela
diretoria da Associação.
Esse aumento nas ofertas para o trabalho com lazer tem resultado no
aparecimento de uma diversidade de funções que se pode assumir, des-
de administração até organização e execução de atividades. Podemos ob-
servar o aparecimento de um promissor mercado de trabalho em lazer,
o que nos permite destacar a presença de profissionais com formação
Werneck (2001) aponta ainda que a prestação de serviços tem seu tra-
balho pautado muito mais pelo montante de serviços prestados do que
pelo tempo trabalhado. E nesse sentido, percebo que os profissionais do
lazer tendem a trabalhar cada vez mais, procurando ganhar o suficiente
para manter um padrão mínimo e desejável de vida.
Com relação aos requisitos para o profissional que deseja atuar como
animador cultural, Silvestre Neto (1980) afirma a importância de: 1) uma
formação cultural ampla e profunda, que é condição importante, mas
não exclusiva, tendo por objetivo o bom desempenho profissional; 2) li-
gação afetiva à prática cultural; 3) ação sociocultural voluntária; 4) cará-
ter opinativo; 5) intenção de exercer influência; 6) desconfiança da rotina
e do consumismo; 7) inquietação diante da situação cultural (crença
na ação).
Considerações finais
Nota
Referências
ISAYAMA, H. F. Recreação e lazer como integrantes dos currículos dos cursos de graduação
em educação física. Tese (Doutorado em Educação Física) - Faculdade de Educação
Física,Unicamp, Campinas, 2002.
PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e docência. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
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Cleber Dias
Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
no Programa de Pós-Graduação em Estudos do Lazer. É
autor de diversos trabalhos sobre o fenômeno social do
lazer, em suas diferentes interações com a sociedade e a
cultura em geral.
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Abstract
The aim of this paper is to address two challenges for the
leisure sector policies: The first of them is the set of initiatives
oriented to the adults, especially the elderly, who already
enjoy the tradition in political actions in the leisure scope. The
second is the set of more recent actions, still incipient, oriented
to rural populations, especially those identified as “traditional
cultures”. Somehow, these two spectra, when articulated, refer
to the important challenges for the consolidation of leisure as
a social right.
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Introdução
Tem sido mais frequente pensar no lazer como necessidade social mais
afetada aos que estão inseridos no modo de vida urbano do que o ru-
ral. Em sentido contrário, mas articulado a esse processo, também é re-
cente a preocupação com um lazer que busque a integração de adultos
residentes em regiões urbanas de diversas gerações, sem segmentá-los,
como frequentemente vem sendo feito; especialmente ao se propor in-
tervenções voltadas para um público mais idoso.
1 Lazer e adultos
Segundo Riley e Riley (1991), os papéis sociais observados por uma ma-
neira considerada cômoda podem ser divididos em três etapas: aposen-
tadoria com a primazia do tempo destinado ao lazer, o tempo do trabalho
estaria destinado aos considerados adultos e no primeiro extremo a edu-
cação seria exclusiva ao tempo dos jovens.
Concordamos com Riley e Riley (1991), autores que nos dão elementos
para a discussão que queremos empreender na defesa de uma interge-
racionalidade (ALVES JUNIOR, 1998) nas propostas de lazer para “adultos
idosos”2 e aposentados.
O que estaria por trás dessa pretensa redenção social para com aqueles
que envelhecem? Será que a sociedade contemporânea está passando a
ter mais preocupação, respeito e solidariedade, ou, ao contrário, estaria
cada vez mais individualista, tentando encontrar meios de se afastar e
Tem sido nosso interesse discutir o que originou esse fato contemporâ-
neo, o envelhecimento populacional e os estudos do lazer. Como, e por
que, os adultos idosos passaram a ser reconhecidos como cidadãos de
direitos (ALVES JUNIOR, 1992, 2004).
Assim, de acordo com Pierre Bourdieu (1980), a idade deve ser considera-
da como uma variável biológica, passível de manipulações diversas. Por
esse motivo, ele diz que critérios baseados em uma determinada idade,
além de serem bastante ambíguos, não servem como parâmetro único
para dizer quando alguém passa a ser identificado como um velho. Ba-
seando-se na invenção social da juventude, podemos considerar que no
outro extremo, a velhice é mais uma categoria criada culturalmente. Os
cortes cronológicos só contribuem para aumentar as barreiras entre ge-
rações (ATTIAS-DONFUT, 1988).
Fica claro que é no contexto das políticas sociais que se esboçam os pri-
meiros passos do que se pode interpretar como benefícios para a po-
pulação idosa e seu acesso ao lazer. Preocupações que acompanharam
outras, como assistência hospitalar, aposentadoria, sistema de pensões,
financiamento das contribuições e uma política pública voltada aos que
envelhecem.
De certo modo, a maior parte das diretrizes que orientam ações setoriais
no âmbito do lazer parece ter em vista uma população urbana, não rural.
Formulações teóricas sobre o lazer colaboram muito para esse tipo de
enquadramento. Tradicionalmente, teorias do lazer têm vinculado esse
fenômeno a um quadro geral de modernização, com destaque para a in-
dustrialização e a urbanização (RUSSEL, 2013).
Mas como operar diante de realidades não urbanas? Esses contextos por
acaso desconhecem práticas e vivências de lazer? Esses talvez sejam um
dos principais desafios para uma política de lazer que tome o Brasil por
inteiro, pois embora a maioria dos brasileiros viva em cidades que pode-
ríamos chamar de “grandes”, há também um número expressivo de pes-
soas vivendo em cidades pequenas, com estrutura propriamente urbana
quase inexistente.
Por outro lado, 36% dos brasileiros vivem em cidades com menos de 50
mil habitantes, que abrangem 4.958 munícipios, ou 89% do total de mu-
nicípios do Brasil. Oficialmente, muitos deles, apesar de pequenos e com
baixíssima densidade populacional, caracterizam-se como “cidades”,
elevando para quase 80% o percentual da população que vive em tais
situações.
Segundo dados de 2012, 75% dos munícipios brasileiros não têm nenhum
museu, 78% não têm nenhum teatro e 90% não têm nenhum cinema.
Embora tenham se registrado evoluções com relação aos números de
1999, as possibilidades de acesso ao lazer e à cultura ainda são escassas
na maioria das cidades brasileiras.
Nesse sentido, políticas de lazer para essas regiões talvez devessem ra-
dicalizar suas inter-relações com outras esferas setoriais, especialmente
com as políticas culturais. O melhor seria que se dissolvessem mesmo
quaisquer fronteiras entre esses dois campos de atuação: o lazer e a cul-
tura. Nesse ponto, formas consolidadas de compreensão, tanto de lazer
quanto de cultura, impedem uma renovação ampliada das políticas des-
ses dois setores. Prevalecem ainda ideias que concebem a cultura, quase
sempre no singular, em contraposição ao lazer.
Considerações finais
O lazer é uma prática social, o que significa que o conteúdo dessas prá-
ticas se define a partir de um conjunto de relações sociais e não a partir
de características ontológicas. Identidades culturais não têm essência;
qualquer arranjo cultural é resultado de fatores históricos (BARTH, 2000;
LINTON, 2000). O lazer, portanto, tal como as próprias culturas em que
estão radicados, não tem “essência”, e seus sentidos históricos são defi-
nidos por circunstâncias cotidianas do seu uso social (DIAS, 2011).
Notas
1 Para aprofundar a discussão ver Minois (1987), Beauvoir (1990) e Bois (1994).
5 Foi o gerontólogo Robert Buttler que no final da década de 1960 veio a ser
o primeiro pesquisador a usar essa palavra no sentido de demonstrar que
estereótipos e discriminações podem ser justificados por uma relação com uma
idade qualquer (ALVES JUNIOR, 2001).
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VEIGA, José Eli da. Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se imagina.
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Abstract
The study of history of care in Middle Ages is a task of otherness, of
understanding a completely different reality, strongly influenced by Christian
charity. The welfare did not have, throughout the Middle Ages, a centralized
structure in charge of managing the support for the sick, poor and helpless.
Initiatives are often from individual people who acted as “the sinner seeking
redemption”. After all, at the time, people believed that “alms kills sin” and
it was used as an instrument of salvation. The analysis in this article will
focus on the welfare system of the Middle Ages, discussing the role of the
poor and sick and of charity in the medieval world and in Portugal. The paper
presents, therefore, the development history of institutions to assist the poor
and disabled of medieval Portugual – hospitals, lodgings, institutions for lepers,
stores, friaries, etc.
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Onde quer que haja uma necessidade que o interessado não possa re-
solver por si ou não possa pagar com dinheiro seu, a assistência tem o
seu lugar. Assistência a doentes, a famintos, sedentos, nus desabrigados,
desalojados, mal aconselhados, pobres de pão ou pobres de consolação,
tudo é assistência, auxílio, socorro. A assistência material ou moral tem
assim lugar onde haja uma falta, sendo o mesmo que dizer onde quer
que haja um homem (CORREIA apud PEREIRA, 2005, p. 9).
Ivo Carneiro de Sousa nota, ainda, que o termo “assistência social” é mais
uma noção recente, de nossas sociedades atuais do que um conceito que
nos permita reconstruir as atividades assistenciais do passado que, na
realidade, continuavam a mobilizar-se em torno da perspectiva religiosa
e da ideia de caridade cristã (SOUSA, 1998, p. 25). Para a Idade Média, por-
tanto, o termo assistência é válido no sentido de assistir, auxiliar, ajudar,
e não no sentido moderno de “assistência social”.
Ao fim do século XII a expressão Pobres de Cristo, usada para designar pre-
ferencialmente religiosos, é alargada para designar os miseráveis, agora
considerados como vigários de Cristo (MOLLAT, 2006, p. 149). Assim, a
partir dos séculoss XII e XIII, a caridade se reveste de novas fórmulas, sur-
gindo uma verdadeira revolução e propiciando o aparecimento de uma
autêntica espiritualidade da beneficência, que se baseia na devoção a
Cristo e na sua humanidade. Assiste-se a um fato novo no Ocidente: a
predileção mística pela pobreza (VAUCHEZ, 1995, p. 127).
Muitos migram dos campos para as cidades em busca de uma parte des-
se crescimento e riqueza que os prósperos centros urbanos pareciam
oferecer. Deixam suas famílias e amigos, cortam seus laços de solida-
riedade e chegam sozinhos a um ambiente hostil. A migração maciça,
decorrente da explosão demográfica e do processo de pauperização no
campo, tornou inoperante o sistema tradicional de assimilação dos mar-
ginais que chegavam às cidades. A partir dessa miséria, ameaçadora e
percebida como perigosa, desenvolvem-se rapidamente instituições de
caridade para abrigar e socorrer os pobres (GEREMEK, 1986).
Maria José destaca que desde o século XIII ficava óbvia uma mudança
no rosto dos pobres em Portugal. A pobreza deixava de ser conhecida e
circunscrita para tomar o rosto do mendigo desconhecido nas cidades.
Armindo de Sousa (SOUSA, 1997, p. 283) destaca a mobilidade populacio-
nal do campo para o meio urbano.
Era sobre o povo miúdo que recaía toda a força dos impostos – os pe-
quenos trabalhadores, as viúvas, órfãos, mancebos, judeus e mouros
que arcavam com o peso do fisco (TAVARES, 1983, p. 39). Pobre e pobre-
za aparecem na documentação portuguesa de cortes expondo sentidos,
significados, valores e abrangências dessas palavras no mundo medie-
val. Abrangências que revelam a própria multiplicidade da condição e
do significado da pobreza nesse universo. Muitas vezes o termo aparece
na documentação em oposição a fidalgo, com sentido de povo (MENDES,
1973, p. 579). Outras vezes, assume toda a força da expressão “pobres de
Jesu Christo”.
José Maria Mendes explica que se pode encontrar o termo “pobres” com
duas acepções distintas: como plebeu e como pessoa carecida de recur-
sos econômicos. Porém, nesse último grupo é possível distinguir vários
graus de pobreza: desde aquele que, pelo fato de ser pobre, não perdia
certas prerrogativas, até aquele a quem era passada licença para pedir
esmola. Segundo a documentação portuguesa à qual Maria José Pimenta
Ferro Tavares (1983, p. 39-42) se dedica, pobre era aquele que não possuía
bens e que vivia ou não de esmolas. Pobre também era aquele cuja ca-
rência econômica andava ao lado da debilidade física: eram os velhos, as
viúvas, os órfãos, os doentes.
Pobre era a mulher só, nova ou idosa, que era presa fácil da sociedade,
dos bandos que poderiam inadvertidamente, na calada da noite, invadir
suas casas e abusar de suas moradoras indefesas. Pecadoras, demasiada-
mente falantes, fofoqueiras ou mentirosas, fracas de espírito, incitando
aos outros o desrespeito às leis de Deus. Essa era, muitas vezes, a ima-
gem edificada para a mulher medieval pelos homens, sobretudo pelos
clérigos (QUEIRÓS, 1999, p. 16).
Esses pobres, que não têm fome ou doença, são acolhidos pelos seus
iguais, que os ajudam discretamente, de forma sigilosa. Os pobres en-
vergonhados são detectados na Idade Média sob a forma de merceeiros
e merceeiras (SÁ, 1997, p. 26), indivíduos geralmente idosos, viúvas, a
quem um patrono concedia por doação ou testamento recursos para as-
segurar a sobrevivência em troca de orações pela salvação da alma. Os
merceeiros estavam encarregados de rezar pela alma do morto, precisa-
vam assistir a um número fixo de missas e recebiam em troca o sustento
adequado a sua manutenção.
Assim diz a regra: “Os pobres e peregrinos sejam recebidos com cuidado
e solicitude muito particulares, porque é principalmente na pessoa de-
les que se recebe a Cristo” (MARQUES, 1989, p. 22). Mas mesmo antes da
penetração da regra beneditina na Península, a assistência não era estra-
nha à vida monástica. Segundo José Marques, pode-se afirmar que em
uma época na qual os poderes públicos não respondiam às necessidades
relativas às margens sociais, os mosteiros beneditinos, agostinos, cister-
cienses e os conventos mendicantes constituíam uma autêntica rede de
assistência em Portugal.
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Nota-se que essa assistência fraterna ganha peso em uma época em que
os poderes públicos nada tinham a oferecer aos súditos. Pode-se, então,
afirmar que “o limitado apoio dado aos pobres, aos velhos e aos moribun-
dos dependia da iniciativa dinâmica da caridade cristã” (MARQUES, 1989,
p. 46). As confrarias medievais tinham normas parecidas, que traduzem
a existência de uma doutrina comum que fica mais evidente ao se com-
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Falar dos hospitais medievos significa ter em mente que suas funções
eram muito heterogêneas e que muitas vezes é difícil diferenciá-los das
albergarias e asilos. Com base em suas funções, Marques afirma que os
hospitais tinham mesmo algo de sacralidade. As poucas descrições da
época permitem saber que eram edifícios pequenos, desconfortáveis e
sem as condições mínimas desejáveis.
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O rei zelava também pela higiene e limpeza das cidades, legislando acer-
ca das lixeiras, dos monturos, das esterqueiras, das águas sujas, dos
canos abertos que despejavam os esgotos pelos meandros das ruas es-
treitas, do costume do “água vai”, enfim, de tudo aquilo que era conside-
rado responsável pelos “ares pestilenciais” (TAVARES, 1987, p. 28).
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[...] deve o homem se afastar do mal e inclinar-se ao bem, [...] que homem
primeiramente há de confessar seus pecados humildemente, pola qual
causa grande remédio é em tempo da pestilência a santa penitência e a
confissão, as quais precedem e são muito melhores que todas as mezi-
nhas (MARQUES, 1974, p. 94).
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[...] ao longo do século XV, os abusos cometidos são notórios. É mais que
provável que tais desmandos fossem provocados pela longa permanên-
cia dos provedores na administração destas e de seus bens, além da ocu-
pação concomitante de outros cargos concelhios ou não, o que explica
um deficiente exercício da provedoria (TAVARES, 1976, p. 384).
A ação régia também se fazia sentir pelos juízes que verificavam o cum-
primento de disposições legais e pela nomeação de funcionários para
institutos de assistência. Os reis apoiavam a intervenção no campo assis-
tencial de indivíduos ou corporações, confirmando compromissos e regi-
mentos e concedendo privilégios. Mas para além dessa atuação indireta,
os reis também fundaram seus próprios locais de auxílio para gafos e
doentes, edificando albergarias e legando esmolas a pobres (PAIVA, 2002,
p. 16). José Paiva destaca, inclusive, a criação de um sistema de angaria-
ção de recursos destinado a isso sob o nome “Arca da Piedade”, que foi
bastante ativo desde a época de d. Afonso V. Assim, a ação régia fazia-se
sentir com a fundação de diversas instituições de assistência.
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Considerações finais
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Nota
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Resumo
Diante de sua leitura e das possíveis considerações sobre sua forma,
nota-se que, para além de uma poética das escolas literárias, o poema
“Alumbramento”, de Manuel Bandeira, surge justamente em uma
encruzilhada de intenções e estilos. Por isso mesmo, sem se vincular
diretamente a nenhum dos “ismos” generalizantes, “Alumbramen-
to” encontra-se indeterminado e fronteiriço. A disposição formal dos
elementos do poema ultrapassa os cânones estabelecidos de sua época
e aponta para linhas de ação que figurariam entre os poetas brasileiros
subsequentes. O artigo presente trata da antecipação de Bandeira a
alguns desses procedimentos, como a orquestração imagética da
linguagem, o método ideogrâmico e a desautomatização. A partir do
poema em questão, afirma também o princípio de ironia em sua com-
posição como o condutor do jogo reflexivo que se dá entre o visível e o
invisível, partícipe metafórico de toda experiência poética.
Abstract
Through its reading and the possible considerations on its form, it is observed
that, surpassing the poetics of literary schools, the poem “Alumbramento”, by
Manuel Bandeira, arises specifically at an intersection of styles and intentions.
That is why this poem is undefined and on a borderline, without being
directly associated to any of the generalizing “isms”. The formal disposition
of elements of the poem goes beyond the established canons of its time and
points to lines of action that would later appear in the works of the subsequent
Brazilian poets. This article addresses Bandeira’s anticipation in some of
these procedures, such as the imagery orchestration of the language, the
ideogrammic method and de-automation. Additionally, taking into account
the concerned poem, this article also asserts that the principle of irony in its
composition triggers the reflexive game that occurs between the visible and the
invisible, metaphorical participant of all poetic experience.
123
Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!
Eu vi nevar! Eu vi nevar!
Oh, cristalizações da bruma
A amortalhar, a cintilar!
Eu vi a estrela do pastor...
Vi a licorne alvinitente!...
Vi... vi o rastro do senhor!...
E vi a Via-Láctea ardente...
Vi comunhões... capelas... véus...
Súbito... alucinadamente...
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Para Mário de Andrade, a harmonia oral não se realiza nos sentidos como
a harmonia musical. As palavras isoladas não se fundem como os sons
harmônicos. Antes se embaralham, tornando-se incompreensíveis. A rea-
lização da harmonia poética efetiva-se de modo relacional. Sua gênese se
dá a partir de um acontecimento. Relatou o poeta:
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Andrade sua vez na poesia moderna brasileira. Sua percepção nos versos, que
“supõe a capacitação de acontecimentos interferentes em vários níveis linea-
res” (WISNIK, 1978, p. 115), vigora como condição da própria leitura, atuando em
relação direta com o receptor do texto poético. O verso harmônico proposto por
Andrade é “obtido pela ruptura da sequência gramatical do discurso, fazendo
com que as ‘palavras em liberdade’, não sujeitas à conexão linear, ressoem entre
si, produzindo um efeito de superposição” (WISNIK, 1978, p. 116).
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Bandeira considerava que, por mais afinidades que existam entre música
e poesia, há sempre um abismo entre ambas: “Nunca a palavra cantou
por si, e só com a música pode ela cantar verdadeiramente” (BANDEIRA,
1984, p. 80). Por isso, para o poeta foi descabida a afirmação de Stéphane
Mallarmé a Claude Debussy, que musicara o poema “L’après-midi d’un
faune”. “Je croyais y en avoir mis déjà assez”5 (MALLARMÉ apud BANDEIRA,
1984, p. 80), dissera Mallarmé ao compositor. Musicalidade no poema?
Escreveu Bandeira:
Tinha posto muita, com efeito, mas só e a bastante que um poeta pode
pôr nos seus poemas: ritmo, literalmente, e figuradamente aqueles efei-
tos que correspondem de certo modo à orquestração na música – os tim-
bres, por exemplo, e outros expedientes que Mallarmé definiu na prosa
de Divagations: “As palavras iluminam-se de reflexos recíprocos como um
virtual rastilho de luzes sobre pedrarias... Esse caráter aproxima-se da
espontaneidade da orquestra: buscar diante de uma ruptura dos grandes
ritmos literários e sua dispersão em frêmitos articulados, próximos da
instrumentação, uma arte de rematar a transposição para o livro da sin-
fonia [...]”6 (BANDEIRA, 1984, p. 80).
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Diante das palavras consteladas pelo uso num “planetarium” fixo de sig-
nificados e associações, Bandeira se comporta como um operador rebel-
de, que se insubordina contra as figuras sempre repetidas ao estelário
dado (frases feitas do domínio comum) e, subitamente (luciferinamente),
procura recompor a seu arbítrio poético os desenhos semânticos articu-
lados pelo uso, resgatar as estrelas-palavras de suas referências e das
imagens estáticas que projetam (CAMPOS, H., 1976, p. 100-101).
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A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu voo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
— Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.
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público o apelo do autor. Seu desígnio serve para expor as reflexões e polêmicas
que o próprio texto cômico aborda. A parábase situa-se desse modo como um
contraponto suspensivo da representação cênica. Ao mesmo tempo em que ar-
ticula a bipartição estrutural do texto teatral, questionando o desenvolvimento
de suas ações, nele veicula o estatuto de uma metalinguagem crítica.
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Para Souza, entretanto, a ironia suprema que faz a parábase ser perma-
nente é que a consciência da ilusão não elimina a ilusão da consciência.
A ironia, desse modo, vem a ser a expressão mais adequada à interação
dialética da experiência emocional com a consciência racional. Afirmou
o ensaísta:
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Notas
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21 Escreveu Ezra Pound, no seu ABC da Literatura: “Ao lidar com seu próprio
tempo, o poeta deve cuidar de evitar que a linguagem se petrifique em suas
mãos. Deve se preparar para novas investidas no campo da verdadeira
metáfora, que é a metáfora interpretativa, ou imagem, diametralmente oposta à
metáfora falsa, ornamental” (POUND, 2007, p. 128).
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EDIÇÃO 19
Um convite à leitura
Gabriel Cohn
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EDIÇÃO 21
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Feminismo e velhice
Guita Grin Debert
154 Sinais Sociais | Rio de Janeiro | v.8 n.23 | p. 1-160 | set-dez 2013
Incluir também o currículo (com até cinco páginas) com a formação aca-
dêmica e a atuação profissional, além dos dados pessoais (nome com-
pleto, endereço, telefone para contato) e um minicurrículo (entre 5 e 10
linhas, fonte Times New Roman, tamanho 10), que deverá constar no
mesmo documento do artigo, com os principais dados sobre o autor:
nome, formação, instituição atual e cargo, áreas de interesse de trabalho,
pesquisa, ensino e últimas publicações.
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Artigos de periódicos
Capítulos de livros
Documentos eletrônicos
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Trabalho acadêmico
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