Você está na página 1de 5

Licenciatura em Letras

Polo Nova Iguaçu


Jade Helena da Silva
16213120218

Prática de Ensino I – Didática


AD1 – 2020.2

Introdução

a) Na prática da Educação Antirracista, reconhece-se a escola como


coadjuvante no projeto de transformação da sociedade, na medida em
que, em diálogo com os múltiplos contextos sociais atuais, o fazer
pedagógico é reelaborado, a fim de superar os limites da pedagogia
dominante (SAVIANI, 2017), que insiste em ignorar as causas e efeitos
das relações étnico-raciais estabelecidas dentro e fora da escola, apesar
de, nas palavras do Rodrigo França1, as escolas públicas no Rio de
Janeiro representarem grandes quilombos urbanos.

b) A Educação Antirracista corresponde aos princípios de uma


“Reinvenção da Didática” quando afirma a escola enquanto espaço de
direitos à igualdade e a justiça social, ao situar historicamente a prática
educativa com os alunos, trabalhando os tensionamentos raciais através
do diálogo e do reconhecimento do outro (CANDAU; KOFF, 2015).

Algumas referências teóricas do campo pedagógico

a) A Educação Antirracista promove um deslocamento do olhar e fazer


educativo ao afirmarem, incorporarem e se enriquecerem com as
diferenças culturais (CANDAU; KOFF, 2015), assumindo e situando os
contextos multiculturais presentes na escola. Dessa forma, as

1
Rodrigo França é um dramaturgo, ator, diretor, sociólogo e filósofo carioca. Diretor da peça
Oboró: Masculinidades Negras, contexto no qual presenciei essa sua fala na direção do público
estudantil presente na plateia.
desigualdades geradas pelas relações raciais de poder vigentes são
questionadas e, a partir do empoderamento dos sujeitos – com a
valorização dos processos de construção das outras identidades
formadoras do Brasil, além da portuguesa, e através do diálogo entre
esses grupos étnico-raciais – a Educação Antirracista reforça o lugar da
escola na democratização da sociedade, promovendo a construção de
relações igualitárias e articulando o direito à igualdade aos múltiplos
grupos socioculturais e étnico-raciais (CANDAU; KOFF, 2015).

b) O Trabalho Centrado em Projetos favorece a circulação de diferentes


saberes e conhecimentos que podem ser coletados e esquematizados
de múltiplas formas, a partir das pesquisas dos alunos – inclusive em
relação aos seus próprios saberes, considerando as diferentes
perspectivas e vivências, por eles, das relações étnico-raciais – e da
mediação do/a professor/a. Essa circulação favorece e muito a quebra
de hierarquia entre saberes, valorizando as formas de pensar, ser e
viver não hegemônicas, projetos de uma Educação Antirracista. Além
disso, ao promover o trabalho coletivo, o diálogo entre os grupos é
evocado, dando aos alunos e alunas iguais oportunidades de expressão:
de ideias, opiniões, saberes, criatividade... tornando o solo fértil para
uma vivência de ensino-aprendizagem antirracista. Ainda, pela
possibilidade de desenvolvimento do tema em todas as disciplinas, a
partir de uma perspectiva étnico-cultural em torno delas, o Trabalho
Centrado em Projetos atende bem à proposta.

c) A Educação Antirracista convida a uma metamorfose da escola, no


sentido que Nóvoa atribui, que é o próprio sentido da palavra: ela aponta
para uma transformação da forma da escola. Há anos vivemos um
mesmo modelo de sala de aula e ambientes de aprendizagem
eurocêntrico e do século XIX, com objetivos de dominação e controle
bem definidos, em uma realidade multicultural em suas raízes. Isso
provocou um condicionamento, inclusive, dos corpos, dos/as alunos/as,
principalmente daqueles descendentes de culturas que unem o trabalho
da mente ao do corpo, como as africanas. Sendo assim, praticar a
educação através de uma lógica antirracista é trazer para a educação
escolar uma reorganização do pensamento através da transformação
dos espaços de aprendizagem: abrir mais a roda entre os participantes
do ato de criação coletiva que é a educação.

d) O trecho escolhido se faz necessário para o despertar do compromisso


com a essência e a identidade do outro que assumimos no ato de
ensinar. E esse compromisso se estende a toda a sociedade, uma vez
que lida com a forma que os/as educandos/as se apresentarão enquanto
cidadãos.

“Outro sentido mais radical tem a assunção ou assumir quando digo:


uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é
propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns
com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a
experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e
histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador,
realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. (...).

A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão


individual e a de classe dos educandos cujo respeito é absolutamente
fundamental na prática educativa progressista, é problema que não
deve ser desprezado. Tem que ver diretamente com a assunção de nós
por nós mesmos”. (FREIRE, 2013)2.

Planejando a formação de professores para uma Educação Antirracista

Chega na sala, agora o sono vai batendo


E ela não vai dormir, devagarinho vai aprendendo que
Se a passagem é três e oitenta, e você tem três na mão
Ela interrompe a professora e diz: Então não vai ter pão
E os amigos que riem dela todo dia
Riem mais e a humilham mais, o que você faria?
Bia Ferreira

2
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 44ª ed.
Paz e Terra. Rio de Janeiro, 2013.
a) Começo com o trecho de Cota não é esmola da cantora Bia Ferreira,
que estourou na internet em 2018 e traz um questionamento muito
profundo para a prática de professores e professoras diante das
relações sociais e étnico-raciais, para justificar minha primeira
referência. Doralyce, conhecida também como Miss Beleza Universal,
junto à Bia Ferreira, promove um trabalho de educação antirracista
através da música, da produção cultural e das suas redes sociais. Elas
não têm produção acadêmica, apesar de Doralyce ser expoente do
Afrofuturismo no Brasil, mas apresentam propostas práticas condizentes
com o pensamento antirracista. Doralyce é criadora do Manifesto
Dassalu, que chama ao reconhecimento de nós mesmos e dos nossos
iguais afrolatinos para a troca de recursos e tecnologias de
sobrevivência entre nós e convidando à branquitude a reconhecer seus
privilégios. Sobre Dassalu, ela fala:

Sou idealizadora da teoria prática “Dassalu”, manifesto que pauta o


nosso reconhecimento como afrolatinos, a nossa troca de recursos, e a
teoria da “hipossuficiencia de representatividade”, que trata de garantir
vantagens na negociação com pessoas brancas, para que estejam
ambas partes em pé de igualdade e que quando uma pessoa branca
por trocar com uma pessoa afrolatina, que abra mão de algum privilégio
diante do princípio da isonomia 3.

Há, ainda, um vídeo4 em que ela explica e contextualiza Dassalu a partir da


Primavera Solar, um movimento de insurgência de mulheres na América
Latina, que promove a alternância de poder.

É importante, também, familiarizarmos com a Filosofia Africana em


Renato Nogueira, que em seu ensaio “Denegrindo a educação: um ensaio
filosófico para uma pedagogia da pluriversalidade”, aponta para uma
afroperspectiva como um caminho possível de enfrentamento dos desafios da

3
Entrevista para o site Hits Perdidos disponível em: <https://hitsperdidos.com/2019/04/25/doralyce-miss-
beleza-universal/>. Acesso em: 03 de setembro de 2020
4
Disponível em: <https://www.facebook.com/watch/?v=293776518654189&extid=cWZddoUQFdgH4vDx>.
Acesso em: 03 de setembro de 2020.
educação5; e também em Sueli Carneiro, que elucida os efeitos do
epistemícidio na forma de ser do negro na sociedade em sua tese “A
construção do outro como não-ser como fundamento do ser” 6.

5
Disponível em: <https://periodicos.unb.br/index.php/resafe/article/view/4523>. Acesso em: 03 de
setembro de 2020.
6
Informações do site Blogueiras Negras, disponível em: <http://blogueirasnegras.org/a-educacao-
antirracista-esta-entre-as-suas-tarefas-historicas/>. Acesso em 03 de setembro de 2020.

Você também pode gostar