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Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Física Gleb Wataghin

F 896 – Monografia
Professor Responsável: Dr. Francisco Marques

“Evolução Estelar”

Jonathan Tejeda Quartuccio, RA 136287

Orientador: Prof. Dr. Pedro Cunha de Holanda

Novembro de 2018
Evolução Estelar
Jonathan Tejeda Quartuccio

Resumo
Estrelas são corpos esféricos que produzem energia através da fusão nuclear. São
os principais elementos astronômicos do universo, uma vez que galáxias nada mais são
do que aglomerados de milhões de estrelas. Além disso os elementos químicos presentes
na natureza, exceto hidrogênio e parte do hélio, são formados nesses astros, seja durante
suas longas vidas ou em seus estágios finais de evolução, quando algumas explodem em
eventos muito energéticos conhecidos como supernovas.
A motivação para o tema do presente trabalho é um tanto quanto pessoal. Desde
criança eu ficava observando o céu por várias horas, procurando encontrar constelações.
Posso dizer que a observação astronômica foi uma das grandes responsáveis por fazer eu
seguir o caminho para o estudo da física. Durante minha graduação trabalhei quase que
integralmente com astrofísica. Meu primeiro trabalho nessa área envolveu métodos de
determinar a distância até estrelas. Um dos métodos mais diretos, e o mais antigo, é o da
paralaxe trigonométrica, que determina a distância de uma estrela por simples álgebra.
Outros métodos um pouco mais sofisticados se utilizam da análise espectral via efeito
Doppler. Uma vez determinada a distância até uma estrela, ou um conjunto de estrelas,
podemos encontrar outras características físicas, como a massa, luminosidade e o raio.
Embora determinar a massa de uma estrela isolada seja um trabalho árduo, podemos de-
terminar essa grandeza em sistemas múltiplos, como estrelas binárias. Para nossa sorte, a
maioria das estrelas fazem parte de sistemas binários. Estrelas são agrupadas no diagrama
H-R de acordo com suas classes luminosas, raios e temperaturas superficiais.
Enquanto permanece na chamada sequência principal, a estrela converte hidrogênio
em hélio através de dois processos básicos: a cadeia próton-próton e o ciclo CNO. O
estágio pós sequência principal será determinado, principalmente, pela massa da estrela.
Estrelas muito massivas chegam ao fim de suas vidas em eventos cataclísmicos denomi-
nados supernovas. O remanescente da supernova poderá servir como material para estre-
las de próxima geração, ou então colapsar numa estrela de nêutrons (para estrelas muito
massivas, a remanescente se torna um buraco negro).
O estudo da evolução estelar também tem uma grande importância na química. Es-
trelas produzem elementos químicos via fusão nuclear até formarem o Ferro. Porém, ele-
mentos mais pesados são formados através de processos específicos, como o s e o r.
1. Introdução
Estrelas podem ser tomadas como os entes fundamentais do estudo da astrofísica.
Podemos dizer que esses objetos astronômicos são enormes esferas de plasma que geram
energia através de fusão nuclear e se mantém estáveis por um longo período devido à
pressão hidrostática. Embora essa definição seja generalizada, as estrelas são objetos de
aspectos distintos, variando em tamanho, massa , espectro e luminosidade. Para compre-
ender as interações internas em galáxias, precisamos analisar a dinâmica de estrelas. Ga-
láxias podem ser definidas como um gigantesco aglomerado de estrelas que interagem
via força da gravidade. O estudo de elementos químicos pode nos levar à compreensão
física das estrelas. Elementos químicos são originados nos interiores desses astros através
de processos de fusão nuclear. Quando uma estrela de grande massa colapsa em uma
supernova, esses elementos são espalhados pela vizinhança de modo a servirem como
ingrediente para futuras estrelas e sistemas solares. Nosso Sol, assim como todos os cor-
pos que compõem seu sistema, foram originados dos restos de supernovas. Sendo assim,
não é exagero repetir o início desse parágrafo e dizer que as estrelas podem ser tomadas
como os entes fundamentais na astrofísica.
O objetivo desse trabalho é estudar a classificação, formação e evolução de estrelas.
Na primeira parte, que abrange a seção 2, será discutido como podemos determinar a
distância até estrelas por métodos como paralaxe e análise espectral, usando como ferra-
menta o efeito Doppler. Na seção seguinte, será mostrado como a massa de estrelas po-
dem ser determinadas através de sistemas múltiplos, fixando no caso de estrelas binárias.
A classificação estelar de acordo com seus espectros, que estão intimamente ligados à
temperatura superficial da estrela, será tratado na seção 4. Como parte experimental será
mostrado como a temperatura superficial do Sol foi medida. O tema central desse trabalho
é dado na seção 5, que estuda como estrelas se formam, em aglomerados de gás, e como
chegam ao fim. O estágio final de um estrela dependerá de sua massa. Estrelas com mas-
sas próximas à do Sol se tornarão nebulosas planetárias. Já estrelas mais massivas explo-
dem em supernovas. Esse segundo caso será mais interessante para nossos propósitos,
sendo melhor analisado na subseção 5.3.1. Além disso, essa seção trará uma descrição
dos principais mecanismos de fusão do hidrogênio, a saber: a cadeia próton-próton e o
clico CNO. Uma vez que estrelas produzem constantemente novos elementos químicos a
partir do hidrogênio, podemos medir a quantidade de elementos mais pesados através da
metalicidade da estrela. Por fim a seção 6 tratará sobre a nucleossíntese, descrevendo
como elementos mais pesados que o ferro são gerados através de processos específicos,
como o processo s e o processo r.

2. Determinação de distâncias e magnitudes


2.1 Radiação de Corpo Negro
Todo corpo que absorve toda a radiação que incide em sua superfície é denominado
corpo negro. Quando se aquece um objeto, o mesmo começa a emitir ondas eletromagné-
ticas em um vasto espectro de frequências. Escrevemos a densidade de energia irradiada
por um corpo negro como [1]:
8𝜋𝑣 2 ℎ𝜈 (1)
𝑢𝜈 = 3 ℎ𝜈/𝜅𝑇
𝑐 𝑒 −1
A partir disso, podemos definir a intensidade da radiação como a derivada de 𝑢𝜈
com respeito ao ângulo sólido da densidade de energia multiplicado por 𝑐:
𝑑𝑢𝜈 (2)
𝐼𝜈 = 𝑐
𝑑Ω
Se assumirmos que a energia se propaga em todas as direções, de forma esférica, o
ângulo sólido será dado por 4𝜋:
𝑑𝑢𝜈 𝑢𝜈 (3)
=
𝑑Ω 4𝜋
Com isso, obtemos o resultado:
𝑐 2ℎ𝜈 3 1 (4)
𝐼𝜈 = 𝑢𝜈 = 2 ℎ𝜈/𝑘𝑇 ≡ 𝐵𝜈
4𝜋 𝑐 𝑒 −1
Representamos 𝐵𝜈 como sendo a intensidade da radiação do corpo negro.

Figura 1 – Espectro de corpo negro (Imagem retirada de Introduction to Modern Astrophysics – Carrol &
Ostlie)
A figura 1 nos mostra que um corpo negro de temperatura T emite um espectro
contínuo com certa energia em todos os comprimentos de onda, com um pico máximo
𝜆𝑚á𝑥 que se torna mais curto a medida que a temperatura aumenta. A relação entre o pico
máximo e a temperatura é dada pela lei de Wien:
𝜆𝑚á𝑥 𝑇 = 0,002897755 (5)
Agora, vamos olhar para o fluxo que emerge do interior de uma esfera. Vamos to-
mar uma área unitária no centro, de modo que integraremos o termo 𝐼𝜈 através do ângulo
sólido.

Figura 2 – O ângulo 𝜃 é obtido entre a direção da intensidade e a direção perpendicular à área.


O fluxo será:
𝜋/2
1 (6)
𝑓𝜈 = ∫ 𝐼𝜈 cos 𝜃 𝑑Ω = 𝐼𝜈 2𝜋 = 𝜋𝐼𝜈
0 2
𝑐 2𝜋ℎ𝜈 3 1 (7)
𝑓𝜈 = 𝑢𝜈 = 2 ℎ𝜈/𝜅𝑇
4 𝑐 𝑒 −1
Definimos como luminosidade, 𝐿𝜈 , a potência total irradiada por uma estrela esfé-
rica de raio 𝑟∗ como:
𝐿𝜈 = 𝑓𝜈 (𝑟∗ )4𝜋𝑟∗2 (8)
Logo, o fluxo pode ser definido como:
𝐿 (9)
𝑓𝜈 =
𝐴
Se estivermos à uma distância 𝑑 da estrela, a área considerada deverá ter raio 𝑑. Com
isso, o fluxo medido será:
𝐿𝜈 𝑟∗2 (10)
𝑓𝜈 (𝑑) = = 𝑓𝜈 (𝑟∗ ) 2
4𝜋𝑑 2 𝑑
Experimentos realizados por Josef Stefan mostraram que a luminosidade de um
corpo negro de área A e temperatura T é dado por:
𝐿 = 𝐴𝜎𝑇 4 (11)
Mais tarde, Boltzmann demonstrou essa mesma equação usando as leis da termodinâmica
e a expressão da pressão de radiação obtida por Maxwell. A equação ficou conhecida
como lei de Stefan-Boltzmann e podemos representa-la como:
𝑢 = 𝑎𝑇 4 (12)
Usando o fluxo dado por (7):
𝑐 4 (13)
𝑓𝜈 = 𝑎𝑇
4
A constante 𝑎 é dada por:
8𝜋 5 𝜅 4 (14)
𝑎=
15𝑐 3 ℎ3
A constante 𝜎 de (11) é denominada constante de Stefan-Boltzmann:
𝑐 (15)
𝜎 = 𝑎 = 5,670400 × 10−8 Wm−2 K −4
4
A partir de (11) podemos definir o fluxo como:
𝑓𝜈 = 𝜎𝑇 4 (16)
Por fim, combinando (8) com (16), obtemos uma expressão para a luminosidade:
𝐿 = 4𝜋𝑟∗2 𝜎𝑇 4 (17)
Que é análogo à (11). Se estivermos a uma distância 𝑑 da estrela, veremos que o fluxo
cai com o inverso do quadrado da distância, uma vez que a luminosidade 𝐿 da estrela é
fixa e não depende do observador [2]. Assim:
𝐿 (18)
𝑓𝜈 =
4𝜋𝑑 2
A medida do fluxo de uma estrela é feita experimentalmente, com o auxílio de câmeras
CCD.

2.2 Paralaxe trigonométrica


Um método de determinar a distância até objetos relativamente próximos é usando
a triangulação através da paralaxe. A paralaxe pode ser entendida como a mudança apa-
rente da posição de um objeto quando observado de diferentes posições. O exemplo mais
básico é quando esticamos o braço com o polegar levantado. Se olharmos para o polegar,
fixando um objeto ao fundo, e fecharmos um olho, veremos que o polegar está em deter-
minada posição. Se olharmos com o outro olho, então a posição do polegar irá mudar com
respeito ao objeto (Figura 3).
Figura 3 – Mudança aparente da posição do polegar (Imagem retirada de: http://nautilus.fis.uc.pt/cec/te-
ses/joana/prototipo/estereoscopia.htm)
Através de trigonometria básica, podemos obter o ângulo da paralaxe (que será a
medida do deslocamento aparente da estrela).
A figura 4 nos fornece uma ideia de como determinar o ângulo de paralaxe 𝑝̂ . O
que queremos fazer é determinar a distância 𝑑 até 𝑂, onde está o objeto. A base do triân-
gulo, 𝐷, corresponde à distância entre os dois pontos de observação (no caso da figura 3,
D seria a distância entre os olhos). Um ponto mede, com respeito à um objeto mais ao
fundo de 𝑂, um ângulo Â1 e o outro ponto mede um ângulo Â2. Usando a relação de
ângulos alternos internos, vemos que:
𝑝̂ = Â1 + Â2 (19)
A tangente do ângulo é dada por:
𝐷 (20)
Â1 + Â2 𝐷
tan ( )= 2 =
2 𝑑 2𝑑

Figura 4 – Método de triangulação.


o que nos fornece:
𝐷 (21)
tan(Â1 + Â2) = tan 𝑝̂ =
𝑑
O ângulo de paralaxe é tão pequeno que podemos recorrer à aproximação
tan 𝑝̂ ≈ 𝑝̂ . Com isso, a equação (21) se torna:
𝐷 (22)
𝑝̂ =
𝑑
e como queremos a distância 𝑑:
𝐷 (23)
𝑑=
𝑝̂
Como 𝑝̂ possui um valor pequeno, é comum medi-lo em segundos de arco (arcseg).
Essa medida equivale a 1/60 de um minuto de arco ou 1/3600 de grau (levando em conta
que um grau possui 60 minutos e 60 minutos possuem 60 segundos). Portanto, 1 arcseg
= 0,000278 graus.
A partir da definição de segundo de arco, podemos introduzir o conceito de parsec
(pc). O parsec é a distância na qual uma unidade astronômica (UA) é vista como uma
distância angular de um segundo de arco. A relação com anos-luz é:
1 pc = 3,26 anos − luz
Quanto maior a distância de uma estrela, menor será seu ângulo de paralaxe. Para
medir distâncias até as estrelas mais próximas usamos o fato de que 𝐷 = 1 UA. Logo, a
equação (23) pode ser reescrita como:
1 (24)
𝑑=
𝑝̂
Ou seja, para medir a paralaxe de uma estrela devemos esperar com que a Terra dê meia
volta em torno do Sol.
Com as medidas de paralaxe feitas por Hiparco, como descrito em [3], podemos
determinar a distância até o sistema triplo de Alfa Centauro. A estrela mais próxima de
nós, que faz parte desse sistema, é Próxima de Centauro, que possui uma paralaxe 𝑝̂ =
0,7723 ± 0.0024. Usando a equação (24) obtemos que a distância dessa estrela é de
1,295 ± 0.004 pc, o que equivale a aproximadamente 4,2 anos-luz ou cerca de
267.100 ± 500 UA.
Figura 5 – Mapa estelar mostrando a posição das estrelas mais próximas do Sol, que se encontra no centro
da imagem (Imagem retirada de: http://backalleyastronomy.blogspot.com/2016/03/the-nearest-20-par-
secs.html)

2.3 O movimento próprio


As estrelas possuem um movimento próprio independente do movimento do obser-
vador (o que não é o caso da paralaxe). Esse movimento altera, com o tempo, a forma
aparente das constelações. A mais notável estrela com movimento próprio foi descoberta
em 1916 por Edward Emerson Barnard. Essa estrela está a uma distância de 1.8 pc. A
mudança de posição dessa estrela é mostrada na imagem a seguir.

Figura 6 – A estrela de Barnard possui o maior movimento próprio conhecido, com 10 segundos de arco
por ano. Nessa imagem é mostrada a posição de Barnard em 1991 e suas posições futuras em 2021, 2051 e
2091. O movimento em relação às estrelas de fundo é evidente (Imagens obtidas através do software Stel-
larium).
Embora a Terra esteja a uma distância de 150 milhões de quilômetros do Sol, essa
distância é pequena se comparada a distâncias às outras estrelas. Por essa razão, quando
analisamos o movimento próprio, fazemos isso com respeito ao Sol e não à Terra.
As velocidades das estrelas com respeito ao Sol são divididas em duas, sendo elas
a velocidade radial e a velocidade tangencial [4]. Velocidade radial 𝑣𝑟 , medida em km/s,
é a velocidade de aproximação ou de afastamento com respeito à linha de visada do ob-
servador. Essa velocidade é obtida a partir do efeito Doppler. Já a velocidade tangencial
𝑣𝑡 , medida também em km/s, é a componente da velocidade 𝑣 perpendicular à velocidade
radial (ou à linha de visada). Essa velocidade é medida através do movimento próprio e
da distância da estrela (essa é medida através da paralaxe).
O movimento próprio da estrela, 𝜇, medido em segundos de arco por ano, é o mo-
vimento que a estrela faz no plano da esfera celeste perpendicular à linha de visada. Su-
pondo que a estrela se desloque por um ângulo Δ𝜃 em um intervalo de tempo Δ𝑡, o mo-
vimento próprio será dado por:
Δ𝜃 𝑣𝑡 (25)
𝜇= =
Δ𝑡 𝑑
A figura a seguir representa um aglomerado estelar que se afasta de nós com velo-
cidade 𝑣. Essa velocidade pode ser decomposta em velocidade tangencial e radial. Como
em um aglomerado as estrelas estão ligadas gravitacionalmente, todas movem-se juntas
pelo espaço. O movimento das estrelas no aglomerado aparenta que todas estão se mo-
vendo para um único ponto, chamado de ponto de convergência. Na verdade, esse ponto
é apenas uma ilusão, visto que linhas paralelas parecem convergir para o infinito.

Figura 7 – Aglomerado estelar se afastando de nós com velocidade 𝑣 (Imagem retirada de Introduction to
Modern Astrophysics – Carrol & Ostlie)
A partir da geometria da figura temos:
𝑣𝑟 = 𝑣 cos 𝜙
𝑣𝑡 = 𝑣 sin 𝜙
Fazendo 𝑣 = 𝑣𝑟 / cos 𝜙 obtemos:
𝑣𝑡 = 𝑣𝑟 tan 𝜙 (26)
Como 𝜇 = 𝑣𝑡 /𝑑, substituindo em (26):
𝑣𝑟 tan 𝜙 (27)
𝑑=
𝜇
O ângulo 𝜙 é pequeno, de modo que podemos usar a aproximação por pequenos ângulos,
obtendo sin 𝜙 ≈ tan 𝜙 ≈ 𝜙 e cos 𝜙 ≈ 1. Isso nos fornece que 𝑣𝑟 = 𝑣 e 𝑣𝑡 = 𝑣𝜙 = 𝑣𝑟 𝜙,
ou:
𝑣𝑟 𝜙
𝜇=
𝑑
ou ainda:
𝑣𝑟 𝜙 (28)
𝑑=
𝜇
Representando 𝑑, 𝑣𝑟 e 𝜇 em unidades de pc, km/s e arcseg/ano, respectivamente, temos:
𝑣𝑟 (km/s)𝜙 𝑣𝑟 𝜙 (29)
𝑑(𝑝𝑐) = =
𝜇(′′/ano) 4,74𝜇′′
O termo 4,74 provém do fato de que 1 pc equivale a 206265 UA e que 1 UA/ano é igual
a 4,74 km/s. Esse resultado nos fornece a distância até o aglomerado estelar.
Um importante aglomerado a qual a distância foi determinada é Hyades, na conste-
lação de Touro. A partir da distância, foi possível encontrar a magnitude absoluta das
estrelas desse aglomerado. Comparando as magnitudes aparentes de outros aglomerados
com Hyades, é possível encontrar suas distâncias. Definindo a magnitude absoluta de uma
estrela como a magnitude que ela apresenta à uma distância de 10 pc e sendo uma dife-
rença de 5 magnitudes igual a uma diferença de 100 vezes o brilho, temos:
𝐹2 (30)
= 100(𝑚1 −𝑚2 )/5
𝐹1
de modo que 𝐹 representa o fluxo da estrela. Tomando o logaritmo em ambos lados:
𝐹1 (31)
𝑚1 − 𝑚2 = −2,5 log10 ( )
𝐹2
O fluxo é dado por (10). A partir disso podemos fazer uma conexão entre as magnitudes
aparente e absoluta e encontrar a distância. Combinando as equações (10) e (30), onde
iremos tomar 𝑚1 como 𝑚 (magnitude aparente) e 𝑚2 como 𝑀 (magnitude absoluta),
encontramos:

(𝑚−𝑀)/5 𝐹10 𝑑 2 (32)


100 = =( )
𝐹 10pc
de modo que 𝐹10 é o fluxo de uma estrela à 10 pc. Isolando a distância:
𝑑 = 10(𝑚−𝑀+5)/5 pc (33)
onde o termo 𝑚 − 𝑀 é denominado módulo de distância.

2.4 Magnitudes estelares


O fluxo de um objeto celeste medido na Terra é normalmente expresso em termos
da magnitude aparente 𝑚. Por definição ela é dada por:
𝑚 = −2,5 log 𝐹 + 𝐶 (34)
Como apresentado na seção 2.3, uma diferença de 5 magnitudes é igual à diferença
de 100 vezes o brilho. Portanto, a diferença de magnitude de dois astros é dada pela equa-
ção (31). A constante 𝐶 em (34) é o que define o ponto zero da escala de magnitude. Para
tal, utiliza-se a magnitude da estrela Vega (𝑚 = 0). Com isso:
𝑚𝑉𝑒𝑔𝑎 = 0 = −2,5 log 𝐹𝑉𝑒𝑔𝑎 + 𝐶 (35)
𝐶 = 2,5 log 𝐹𝑉𝑒𝑔𝑎 (36)

A magnitude de uma estrela é dada por:


𝐹𝑉𝑒𝑔𝑎 (37)
𝑚 = 2,5 log ( )
𝐹
Quando observamos uma estrela, o fluxo obtido depende da sensibilidade do detec-
tor utilizado. Sendo 𝜙(𝜆) a eficiência do detector, temos:
∞ ∞
(38)
𝐹𝑜𝑏𝑠 = ∫ 𝜙(𝜆)𝐹(𝜆)𝑑𝜆 ≅ 𝐹(𝜆0 ) ∫ 𝜙(𝜆)𝑑𝜆
0 0

O termo 𝐹(𝜆0 ) é o fluxo no comprimento de onda efetivo do filtro usado para a observa-
ção. Um sistema de magnitudes é definido pela eficiência do detector. Um dos sistemas
mais utilizados é o UBV, que utiliza três bandas espectrais: U para violeta, B para azul e
V para visível (ou amarelo). Essas magnitudes possuem seus comprimentos de onda efe-
tivos em 3600Å (U), 4200Å (B) e 5500Å (V). Para a banda V, a magnitude aparente é:
𝑚𝑉 = −2,5 log 𝐹𝑉 + 𝐶 (39)
Assim, o fluxo medido na Terra da estrela Vega é:
𝐹𝜆𝑉 = 3,44 × 10−8 Jy ∙ m−2 ∙ s−1 ∙ μm−1 (40)
Medindo o fluxo de outras estrelas e tomando Vega como padrão, podemos encon-
trar a distância até esses astros utilizando (33).

2.4.1 Magnitude bolométrica


Os equipamentos utilizados para medir o fluxo das estrelas não são 100% sensíveis
para todos os comprimentos de onda. A magnitude da energia de todos os comprimentos
de onda é chamada magnitude bolométrica.
A luminosidade é dada por:

(41)
𝐿 = 4𝜋𝑅 2 = ∫ 𝐹𝜈 𝑑𝜈 = 4𝜋𝑅 2 𝐹𝑏𝑜𝑙
0

A atmosfera terrestre bloqueia a passagem de certos intervalos espectrais. Por essa


razão, obtemos a magnitude bolométrica como:
𝑚𝑏𝑜𝑙 = 𝑚𝜈 − 𝐶. 𝐵. (42)
O termo 𝐶. 𝐵. é a correção bolométrica, que possui, por definição, valor zero para estrelas
iguais ao Sol e valor positivo para estrelas diferentes. O termo 𝑚𝜈 é a magnitude visual.

Sendo a magnitude bolométrica do Sol 𝑀𝑏𝑜𝑙 = 4,72, a magnitude bolométrica de uma
estrela qualquer é:
𝐿 (43)
𝑀𝑏𝑜𝑙 = 4,72 − 2,5 log ( )
𝐿⊙
Porém, além da atmosfera terrestre bloquear boa parte da luz, também existe o ma-
terial interestelar. A correção desses efeitos, chamados de extinção atmosférica e extinção
interestelar, é melhor analisada na fotometria, o que não será discutido nesse trabalho. A
medida da magnitude de uma estrela depende do tipo de filtro usado para observá-la.
Esses filtros seguem o sistema fotométrico UBV. A diferença da observação da magni-
tude utilizando dois filtros é denominada índice de cor. Assim, temos os índices B-V e
U-V. Por exemplo, uma estrela vermelha é mais brilhante no filtro V do que no filtro B.
A diferença de magnitude dessa estrela entre esses dois filtros é o índice de cor B-V.

3. Estrelas binárias: uma maneira de determinar a massa


Determinar a massa de uma estrela isolada não é uma tarefa muito simples. Entre-
tanto se determinada estrela fizer parte de um sistema múltiplo, então sua massa pode ser
encontrada mais facilmente. Para nossa sorte, mais da metade das estrelas fazem parte de
sistemas binários, como bem apontado em [5].
Existem dois tipos de sistemas binários, ou estrelas binárias. Temos as chamadas
estrelas binárias reais e as estrelas binárias aparentes. O segundo tipo é resultado de es-
trelas que estão na mesma linha de visada de um observador, mas que estão separadas por
grandes distâncias. Assim, estrelas binárias aparentes não possuem interação gravitacio-
nal (não formam um sistema físico). Já as estrelas binárias reais surgem como dois tipos,
sendo eles: binárias visuais (que são sistemas em que podemos resolver independente-
mente cada membro do par), e binárias espectroscópicas (que necessitam de outros meios
para serem detectadas, uma vez que não é possível ter uma boa resolução óptica do
sistema). Vamos fazer uma análise de cada tipo de sistema, levando em conta subclassi-
ficações.
3.1 Binárias visuais
Se as duas estrelas de um sistema binário são observadas separadamente, então te-
mos um sistema binário visual. Nesse caso podemos medir o período que uma estrela
orbita outra. Na figura 8 temos o sistema binário conhecido como 70 Ophiuchi, onde a
posição relativa entre as estrelas foi marcada com pontos, de modo que uma estrela do
par foi mantida no foco de uma elipse. O período orbital desse sistema binário é de 88
anos [6].

Figura 8 – Observando o movimento relativo entre as estrelas do sistema binário 70 Ophiuchi é possível
determinar o período 𝑃 de translação. Juntamente com a distância angular entre os membro do par, é pos-
sível determinar as massas das estrelas (Imagem retirada de [6]).
Num sistema binário, cada estrela descreve um movimento ondular em torno do
centro de massa [7]. Como mostra a figura 8, ao invés de estudarmos o movimento das
duas estrelas, fixamos um dos membros no foco de uma elipse, que normalmente é a
estrela mais brilhante do par, e assim analisamos a translação do outro membro entorno
deste. Ao observar o movimento das estrelas obtemos uma órbita relativa aparente que
possui a mesma forma das órbitas de cada estrela individualmente. Se o período de trans-
lação do sistema é curto, poucas centenas de anos, podemos determinar as orbitas relati-
vas com boa precisão. Ao estudar sistemas binários visuais, podemos retirar dois parâme-
tros importantes, a saber: a separação angular do par (𝜃) e o período de translação (𝑃).
Podemos recorrer à terceira lei de Kepler para determinar a massa das estrelas de
um sistema binário. Uma vez conhecido os parâmetros 𝑃 e 𝜃, temos:
4𝜋 2 (44)
𝑃2 = [ ] 𝜃3
𝐺(𝑚1 + 𝑚2 )
Se a estrela de massa 𝑚1 está a uma distância 𝑟1 do centro de massa do sistema (e a estrela
de massa 𝑚2 a uma distância 𝑟2 ), podemos determinar cada massa de forma individual
pela relação:
𝑚1 𝑟2 (45)
=
𝑚2 𝑟1
3.2 Binárias espectroscópicas
Uma ferramenta importante para estudar estrelas binárias é o efeito Doppler. Para
uma fonte luminosa que se move com velocidade radial 𝑣, a variação do comprimento de
onda da luz emitida é dada por:
1/2
Δ𝜆 𝑣 1
= cos 𝛼 ( ) (46)
𝜆 𝑐 𝑣2
1− 2
𝑐
em que 𝛼 é o ângulo entre o vetor velocidade e a linha de visada, e 𝑐 é a velocidade da
luz. Se 𝑣 ≪ 𝑐, podemos aproximar a equação (46) por
Δ𝜆 𝑣 (47)
=
𝜆 𝑐
A velocidade radial de uma estrela pode ser medida com um espectrômetro através
do efeito Doppler nas raias espectrais. É por essa razão que estrelas pertencentes a siste-
mas binários que só podem ser estudados via efeito Doppler recebem o nome de binárias
espectroscópicas.

3.3 Binárias eclipsantes


Se o plano orbital de um sistema binário se encontrar exatamente na direção de
visada, então iremos observar que cada estrela do par irá eclipsar sua companheira, o que
ocasionará uma diminuição da magnitude. Nesse caso, temos estrelas binárias eclipsantes,
que podem ser tanto visuais quanto espectroscópicas.

4. Tipos Espectrais
A espectroscopia é uma das invenções mais úteis para a astronomia. Além de per-
mitir o estudo de sistemas binários, como discutido em 3.2, essa ferramenta prática nos
permitiu separar estrelas de acordo com suas características espectrais.
O significado físico da classificação espectral diz respeito à temperatura da atmos-
fera estelar. Vamos nos atentar à classificação de Harvard, que lista as estrelas em classes
de acordo com suas temperaturas. Estrelas mais quentes são do tipo O, enquanto que as
mais frias são do tipo M.
Tabela 1 – Diferentes características estelares para cada classe de Harvard. As estrelas mais quentes e lu-
minosas são do tipo O, enquanto que as mais frias e fracas são do tipo M. Aqui, as unidades de massa, raio
e luminosidade são dadas em termos dos valores do nosso Sol.
Classe Temperatura (Kelvin) Cor Cor Aparente
O > 33.000 azul azul
B 10.000 - 33.000 azul-branco azul-branco
A 7.500 - 10.000 branco branco a azul
F 6.000 - 7.500 amarelo-branco branco
G 5.200 - 6.000 amarelo amarelo-branco
K 3.700 - 5.200 laranja amarelo-laranja
M 2.000 - 3.700 vermelho laranja-vermelho
Classe Massa Raio Luminosidade
O > 16 M⊙ > 6,6 R ⊙ > 30.000 L⊙
B 2,1 – 16 M⊙ 1,8 - 6,6 R ⊙ 25 – 30.000 L⊙
A 1,4 - 2,1 M⊙ 1,4 - 1,8 R ⊙ 5 – 25 L⊙
F 1,04 - 1,4 M⊙ 1,15 - 1,4 R ⊙ 1,5 – 5 L⊙
G 0,8 - 1,04 M⊙ 0,96 - 1,15 R ⊙ 0,6 – 1,5 L⊙
K 0,45 - 0,8 M⊙ 0,7 - 0,96 R ⊙ 0,08 – 0,6 L⊙
M < 0,45 M⊙ < 0,7 R ⊙ < 0,08 L⊙
A luminosidade de uma estrela é uma característica dependente, também, de sua
massa. Para que uma estrela consiga manter seu equilíbrio hidrostático ela tem de possuir
uma luminosidade dentro de determinada faixa dada por:
𝑀 (48)
𝐿𝐸 = 33.000 𝐿
𝑀⊙ ⊙
aqui 𝐿𝐸 é o limite de Eddington, ou a luminosidade máxima que uma estrela de massa 𝑀
pode possuir.

Figura 9 – Com uma luminosidade de 5 × 106 L⊙ , Eta Carinae parece ser um bom exemplo de uma estrela
que ultrapassou o limite de Eddington (Imagem de: Nathan Smith (University of California, Berkeley), e
NASA).
Dentro de cada classe estelar podemos, ainda, classificar estrelas de acordo com sua
proximidade com relação ao tipo O ou tipo M. As estrelas que possuem um tipo mais
próximo de O, que marca o início da sequência, são denominadas early type. Por outro
lado, estrelas próximas de M são classificadas como late type. Além disso, dentro da clas-
sificação early ou late temos subclassificações, que vão de 0 a 9 [8].

4.1 Outros tipos espectrais


Além das classes descritas no sistema de Harvard, existem alguns tipos de estrelas
um pouco mais raras, classificadas como tipos W, L, T, C e S.
Estrelas do tipo W compreendem as chamadas estrelas Wolf-Rayet. A analise es-
pectral desse tipo de estrela apresenta intensas e largas linhas de emissão de hélio e nitro-
gênio, de modo a serem classificadas como estrelas WN. Outras estrelas apresentam li-
nhas de hélio e carbono, sendo classificadas como WC, e outras de hélio e oxigênio, tipo
WO. Estrelas do tipo L possuem massa insuficiente para iniciar o processo de fusão de
hidrogênio, sendo classificadas como anãs-marrons. As anãs-marrons que apresentam li-
nhas espectrais de metano são classificadas como tipo T. Algumas estrelas no fim de suas
vidas possuem uma atmosfera rica em carbono, de modo a serem classificadas como es-
trelas de tipo C. Dentro dessa classificação, podemos ter as estrelas R, que compreendem
uma faixa entre estrelas do tipo G e K. Estrelas de classe M apresentam linhas espectrais
de óxido de titânio. Entretanto, algumas dessas estrelas mostram linhas de óxido de zir-
cônio. Para diferenciar esses dois tipos, o segundo grupo foi classificado como estrelas
do tipo S.

4.2 Classificação de Yerkes


A classificação de Yerkes se baseia nas linhas espectrais que são sensíveis à gravi-
dade superficial da estrela. Assim, essa classificação se relaciona diretamente com a lu-
minosidade, diferente da classificação de Harvard que está relacionada com a tempera-
tura. Estrelas do tipo 0 ou Ia+ são tidas como supergigantes extremamente luminosas. Em
seguida temos os tipo Ia, supergigantes luminosas. Estrelas supergigantes de menor lu-
minosidade são classificadas como Ib (uma classe entre estrelas Ia e Ib seria a Iab). Gi-
gantes luminosas compreendem a classe II, enquanto que gigantes não tão luminosas são
de classe III. A classe IV compreende estrela subgigantes. Estrelas anãs que estão na se-
quência principal são do tipo V.
Como exemplo, adotando a classificação de Harvard e Yerkes, temos que o Sol é
classificado como sendo do tipo G2V. Na próxima seção será descrito como podemos
obter a temperatura superficial de uma estrela.

4.3 Espectro solar: determinando a temperatura superficial de uma estrela


A temperatura superficial de uma estrela é obtida através da análise de seu espectro.
Aqui mostrarei como obtive, juntamente com Renan R. Falcão e Vinicius F. Barban, tam-
bém alunos de licenciatura em física, a temperatura da superfície do Sol. Realizei esse
trabalho durante a disciplina de física moderna experimental. Utilizando um espelho
plano, meus companheiros e eu fizemos a luz do Sol incidir sobre um detector, de modo
a obter um espectro característico (figura 10). É possível notar uma semelhança do espec-
tro solar com aquele de um corpo negro (figura 1). Esse resultado era esperado, visto que
estrelas são exemplos de corpos negros praticamente perfeitos.
Analisando cuidadosamente o espectro obtido, obtivemos um pico máximo pró-
ximo de 531 nm. Uma vez determinado esse valor, usamos a lei de Wien (equação 5) para
obter a temperatura:
0,00289
𝑇= = 5442,6 K
531 nm

Figura 10 – Espectro de corpo negro característico do Sol. O pico ocorre em, aproximadamente, 531 nm
(Imagem: Jonathan T. Quartuccio, Renan Ramkrapes Falcão, Vinicius Florêncio Barban, IFGW – Uni-
camp).
É interessante notar que o comprimento de onda do pico máximo do espectro solar
compreende a faixa do verde. Isso quer dizer que nosso Sol é verde? Se observarmos com
atenção a tabela 1 veremos que as estrelas podem ser azuis, brancas, amarelas, alaranjadas
ou vermelhas. Por outro lado, não existem estrelas verdes. Como explicar, então, o fato
do Sol possuir um pico máximo no comprimento de onda dessa cor e, mesmo assim, ser
uma estrela branca/amarela? Embora o olho humano tenha uma boa resposta para a colo-
ração verde, o espectro estelar possui grandes contribuições de frequências maiores, na
região do azul, e frequências menores, na região do vermelho, quando o pico cai na faixa
do verde [9].

4.4 Diagrama H-R


Até aqui foi mostrado como podemos obter informações sobre quantidades físicas
tais como temperatura, massa, tamanho e luminosidade de estrelas. Podemos relacionar a
luminosidade com a temperatura superficial e com o tamanho de uma estrela. Essas rela-
ções são descritas pelo diagrama H-R, descoberto por Ejnar Hertzsprung e Henry Norris
Russel de forma independente [7]. Um simulador online sobre o diagrama H-R pode ser
encontrado nesse endereço: http://www.das.inpe.br/simuladores/diagrama-hr/.

Figura 11 – Diagrama H-R (Imagem retirada de astro.if.ufrgs.br)


Uma importante região do diagrama H-R é a chamada sequência principal. Estrelas
que fazem parte da sequência principal estão continuamente produzindo energia através
da fusão de hidrogênio em hélio em seus núcleos. A maioria das estrelas faz parte dessa
região.

5. Formação e morte estelar


Vimos como podemos determinar distâncias até estrelas, além de parâmetros físicos
como massa, luminosidade e temperatura. Entretanto, o objetivo central desse trabalho é
analisar como estrelas se formam e como elas chegam ao fim.
O processo de formação estelar se inicia em nuvens moleculares densas e frias.
Devido a interação gravitacional a nuvem molecular começa a colapsar, seguindo a ins-
tabilidade de Jeans1, de modo a criar porções aglomeradas de gás, os glóbulos de Bok.
Esses glóbulos são encontrados em regiões H II (hidrogênio atômico e ionizado). Com o
colapso desses glóbulos, a energia potencial gravitacional é convertida em energia tér-
mica, de modo a aumentar a temperatura da nuvem. No núcleo dessa nuvem aquecida se
origina uma protoestrela quando o equilíbrio hidrostático é atingido. Por equilíbrio hi-
drostático devemos entender o processo em que a radiação, proveniente do aumento da
temperatura, provoca uma expansão na nuvem molecular ao mesmo tempo em que a força
gravitacional busca colapsá-la.

Figura 12 – Glóbulos de Bok na região H II (Imagem: NASA and The Hubble Heritage Team) .
Quando a força de expansão se iguala à força gravitacional, a protoestrela atinge o
equilíbrio hidrostático. Na fase de protoestrela um disco protoplanetário pode existir em
torno de seu centro, de modo que poderá vir a formar planetas. Com o aumento da

1
A instabilidade de Jeans é o que irá causar o colapso gravitacional do gás interestelar. A instabilidade ocorre quando a pressão
interna é superada pela atração gravitacional.
temperatura no núcleo da nuvem, os gases em seu interior tornam-se ionizados (obtém-
se o plasma).
O processo seguinte coloca a jovem estrela na fase de sequência principal, de modo
que em seu núcleo inicia-se os processos de fusão nuclear, que irão, basicamente, con-
verter núcleos de hidrogênio em núcleos de hélio. O tempo para que uma estrela inicie o
processo de fusão do hidrogênio depende da sua massa. Para o Sol, por exemplo, o co-
lapso da nuvem até a entrada na sequência principal durou 30 milhões de anos, enquanto
que para estrelas mais massivas o tempo foi bem menor (algumas centenas de milhares
de anos).
Estrelas prestes a entrar na sequência principal e que possuem massas menores que
duas massas solares (2𝑀⊙ ) são chamadas de T Tauri, enquanto que estrelas mais massi-
vas são denominadas como Herbig Ae/Be. O primeiro tipo é o que apresenta o disco
protoplanetário circundante, enquanto que o segundo tipo é caracterizado por emissões
de jatos de gás ao longo de seus eixos de rotação. Essa emissão de jatos reduz o momento
angular da estrela, o que acarreta em certa nebulosidade em torno do astro. Nesse caso, a
estrela recebe o nome de objeto de Herbig-Haro. A radiação proveniente das estrelas em
formação, e de estrelas próximas, ajudará na expulsão dos gases em torno dela de modo
a “limpar” o espaço preenchido pelos protoplanetas.

5.1 Escala de tempo nuclear


Um núcleo de hélio, He, composto por dois prótons e dois nêutrons pode ser for-
mado por uma série de reações envolvendo quatro núcleos de hidrogênio, H. A massa
total de quatro átomos de H é igual a 4,03130013 u [4]. Já a massa de um átomo de He é
igual a 4,002603 u [4]. Sendo assim, a massa de quatro átomos de H excede a massa de
um átomo de He por um valor de Δ𝑚 = 0,02897 u, o que corresponde a 0,7%. Assim, a
quantidade de energia liberada na forma de um núcleo de He é igual a:
𝐸𝐻𝑒 = Δ𝑚𝑐 2 = 0,42887 × 10−11 J = 26,763 MeV
Esse valor fornece a chama energia de ligação do núcleo de He. Usando esse valor, po-
demos estimar o tempo de vida na qual uma estrela está emitindo energia. Esse é um
modo de calcular, por exemplo, a idade do sistema solar. Esse tempo de vida é denomi-
nado tempo nuclear. Usando a luminosidade medida do Sol, e considerando que, inicial-
mente, ele fosse formado por 100% de H, podemos estimar sua idade. Sabemos que so-
mente 0,7% da massa de H no núcleo é convertida em energia na formação do He. Assim,
a energia nuclear disponível no Sol é igual a 𝐸 = 1,3 × 1044 J. A partir disso, e o fato de
que
𝐸 (49)
𝑡𝑛𝑢𝑐𝑙𝑒𝑎𝑟 =
𝐿⊙
obtemos 𝑡𝑛𝑢𝑐𝑙𝑒𝑎𝑟 ≃ 1010 anos.

5.2 Sequência principal


Na maior parte de suas vidas as estrelas convertem núcleos de hidrogênio em nú-
cleos de hélio através de reações de fusão nuclear. Estrelas que geram seu combustível
devido, principalmente, a esse processo fazem parte da sequência principal, sendo deno-
minadas estrelas anãs. Durante a sequência principal a taxa de hélio no núcleo da estrela
começa a crescer, de modo a aumentar sua temperatura e luminosidade. Desde que foi
formado, a luminosidade do nosso Sol aumentou em 30%.
Os processos de fusão nuclear, que podem ser vistos como o combustível das estre-
las, geram ventos estelares compostos de partículas, de modo a expulsar parte de seu gás
para o espaço. Isso significa que as estrelas, no decorrer de suas vidas, perdem massa de
modo contínuo. Muitas vezes essa perda de massa é desprezível para estrelas de tamanho
próximo a do Sol. Para estrelas com mais de 50𝑀⊙ , a perda de massa durante a sequência
principal pode corresponder a metade de sua massa total inicial.
O tempo de permanência na sequência principal dependerá da massa, luminosidade
e do quanto de combustível a estrela possui. Nosso Sol permanecerá na sequência princi-
pal por cerca de 10 bilhões2 de anos. Quanto mais massiva a estrela, mais rápido será o
consumo de seu combustível. Outro fator importante diz respeito aos elementos mais pe-
sados presentes no interior desses astros. A concentração desses elementos, ou metais3,
nos fornece a metalicidade da estrela, que será discutido mais detalhadamente adiante.

5.3 Pós sequência principal


Quando estrelas com no mínimo 0,5𝑀⊙ queimam todo seu combustível de hidro-
gênio no núcleo, elas entram em uma fase de expansão e se tornam uma gigante vermelha.
Uma gigante vermelha pode chegar a ser mais de 100 vezes maior que a estrela original.
No caso de uma gigante vermelha com uma massa de até 2,3𝑀⊙ , um resquício de

2
Vale notar que o Sol possui uma idade de quase 5 bilhões de anos, de modo que ele permanecerá, então, por mais 5 bilhões de
anos na sequência principal.
3
Em astronomia chamamos de metais qualquer elemento mais pesado que o hélio.
hidrogênio é queimado em uma casca em torno do núcleo. Esse núcleo, que se torna muito
compacto, consegue iniciar os processos de fusão do hélio, fazendo com que a tempera-
tura superficial da estrela aumente gradativamente. A medida que boa parte do hélio é
queimado, o núcleo se torna composto por carbono e oxigênio. O hélio que sobra passa a
ser queimado em uma camada externa ao núcleo. A estrutura interna da estrela começa a
se parecer com a estrutura interna de uma cebola, onde cada camada queima um elemento
diferente.

Figura 13 – Uma cebola repugnante. Cada camada interna queima um elemento diferente. Todo o hidrogê-
nio, que outrora dominava o núcleo, passa a queimar na camada mais externa da estrela. O núcleo endure-
cido de ferro não realiza fusão (Imagem retirada de: https://sites.ualberta.ca/~pogosyan/teaching/AS-
TRO_122/lect18/lecture18.html)
Quando um gás é comprimido ele se torna mais denso e mais quente. É isso o que
ocorre no interior de uma estrela. Para um gás ideal, temos uma relação direta entre a
pressão e a temperatura4. Em diversas circunstâncias os gases no interior das estrelas se
comportam de forma ideal, de modo que se ocorre uma expansão do gás a temperatura
diminui. Esse processo inverso de expansão e temperatura garante o equilíbrio termodi-
nâmico na estrela. Quando a taxa de reação termonuclear aumenta a energia é liberada de
modo a fazer com que a estrela se expanda, o que diminui a temperatura do núcleo. Esse,
por sua vez, é comprimido devido à pressão das camadas mais externas e com isso volta
a se aquecer. Para estrelas de massa entre 0,4𝑀⊙ e 2,3𝑀⊙ o núcleo se comporta de ma-
neira diferente da de um gás ideal. Para que a fusão do hélio se inicie, o núcleo deve ser
comprimido fortemente de modo que todos os átomos nessa região estarão ionizados e a

4
Dada pela lei geral do gases: 𝑃𝑉 = 𝑛𝑅𝑇
temperatura será muito alta. O núcleo é composto, basicamente, de núcleos atômicos e
elétrons livres. Os elétrons, por sua vez, estarão fortemente compactados de modo que o
limite de compressão será alcançado5. Como eles não podem mais ser “espremidos” o
núcleo não pode mais ser contraído. Dizemos que o núcleo está degenerado. A pressão
de degenerescência, diferente do gás ideal, não depende da temperatura. Quando a tem-
peratura no núcleo de uma gigante vermelha de baixa massa alcança o valor necessário
para iniciar o processo triplo-𝛼, mais energia começa a ser liberada. O hélio é aquecido,
de modo a acelerar o processo. Como não existe uma relação entre a pressão e a tempe-
ratura a estrela não está mais segura com respeito ao equilíbrio termodinâmico. O núcleo
da estrela não pode mais expandir e nem resfriar, de modo que o aumento da temperatura
promove a queima do hélio a uma taxa cada vez maior, ocasionando o Flash do Hélio.
O estágio final da evolução estelar é atingido quando ferro começa a ser produzido.
Os núcleos de ferro são fortemente ligados de modo que a fusão entre eles não libera
energia, mas absorve. Elementos pesados em estrelas de grande massa podem migrar para
a superfície e serem lançados para o espaço, projetando a atmosfera estelar para fora,
através do vento estelar. Estrelas que fazem isso são comumente conhecidas como estre-
las de Wolf-Rayet.
Estrelas com massas medianas, perto da massa solar, expelem suas camadas mais
externas e se transformam em nebulosas planetárias. O resto da estrela, que permanece
na região central, pode se tornar uma anã-branca caso sua massa seja menor que 1,4𝑀⊙ 6.
Em estrelas maiores, o núcleo de ferro não consegue suportar seu próprio peso e colapsa
toda a estrela. Todo o material colapsante ricocheteia no núcleo endurecido em um pro-
cesso chamado de bounce. A estrela, então, explode em uma supernova. Nesse processo,
a estrela pode ser completamente destruída sem deixar nenhum vestígio a não ser uma
remanescente de supernova (uma nebulosa), ou então ela pode deixar uma estrela residual
muito compacta: uma estrela de nêutrons. Se a estrela for muito massiva, então o objeto
final será um buraco negro.

5.3.1 Supernovas
Supernovas são eventos extremamente energéticos e são divididas em grupos de
acordo com os tipos de elementos presentes em sua composição, ou então de acordo com

5
Descrito pelo princípio da exclusão de Pauli.
6
O critério para que uma estrela se torne uma anã-branca é chamado de limite de Chandrasekhar, que diz que apenas estrelas de
massas menores que 1,4𝑀⊙ se tronarão anã-brancas.
suas origens [4]. Supernovas do tipo Ia surgem em sistemas binários, em que uma estrela
é uma anã-branca e a outra é uma gigante vermelha. A expansão da gigante vermelha faz
com que seu envoltório mais externo ultrapasse uma região denominada lóbulo de Roche7
e seja atraído pela companheira anã. Devido ao limite de Chandrasekhar, a anã-branca irá
colapsar, originando a supernova. Se a matéria da estrela gigante é acretada em torno da
anã de modo muito compacto, então fusões de hidrogênio poderão ocorrer aumentando o
brilho da superfície da anã-branca de modo drástico. A aparência é que uma nova estrela
surgiu no sistema binário, e por conta disso esse fenômeno recebe o nome de Nova. Di-
ferente da supernova, a Nova não destrói o material estelar da anã-branca. Supernovas do
tipo Ia possuem intensas linhas de absorção correspondentes ao silício ionizado (Si II).
Se uma estrela supergigante vermelha colapsa, temos uma supernova. Se analisar-
mos o espectro dessa supernova e identificarmos linhas de absorção de hélio, então sabe-
mos que essa é uma supernova tipo Ib. A estrela que originou essa supernova perdeu todo
seu hidrogênio das camadas mais externas. Se não encontrarmos linhas espectrais de hi-
drogênio e nem de hélio, então temos uma supernova do tipo Ic. Além do hidrogênio, a
estrela que originou esse evento perdeu todo o hélio de sua camada externa. Se as camadas
externas de uma supergigante vermelha permanecerem intactas, o espectro da supernova
apresentará fortes linhas de hidrogênio. Temos assim uma supernova do tipo II [4].
A primeira supernova registrada por nós foi observada pelos chineses no ano de 185
da era cristã, entre as constelações de Centauro e do Compasso. Os chineses a descreve-
ram dessa forma:
“No segundo ano da Época Zhongping, na décima
lua, no dia Kwei Hae (7 de dezembro), uma estra-
nha estrela apareceu no meio de Nan Mun. Era
como uma larga esteira de bambu. Exibiu as cinco
cores, ao mesmo tempo agradável e diferente. Ela
gradualmente diminuiu. Na sexta lua do ano se-
guinte, ela desapareceu”
(Retirado de: pt.wikipedia.org/wiki/SN_185)
O que vemos hoje dessa supernova, conhecida como SN 185, é o resto do que sobrou da
estrela, que chamamos de remanescente de supernova.

7
O lóbulo de Roche é uma região em torno de uma estrela em um sistema binário. Se uma das estrelas se expande, então o mate-
rial expelido será gravitacionalmente vinculado à outra estrela caso esse ultrapasse o lóbulo de Roche.
Figura 14 – SN 185 fotografada em Infravermelho pelo telescópio espacial Spitzer
Outra supernova catalogada surgiu nos céus quase um milênio após a SN 185, no ano de
1054 . Astrônomos chineses e árabes (e talvez alguns nativos americanos) registraram
uma supernova na constelação de Touro. Essa supernova, que sabemos ter sido do tipo
II, é vista hoje como uma remanescente, os restos do que sobrou da explosão, denominada
nebulosa do caranguejo [13].

Figura 15 – Remanescente da supernova SN 1054, conhecida como nebulosa do caranguejo, ou NGC 1952
(Imagem: NASA/ESA)
A figura 16 mostra como o brilho de uma supernova é muito intenso, podendo su-
perar até mesmo o brilho do núcleo galáctico. Aqui temos a supernova SN 2014J, carac-
teriza como sendo do tipo Ia. A figura 17 mostra SN 2014J observada no período de
novembro de 2014 a outubro de 2016.
Figura 16 – Supernova ocorrida em 22 de janeiro de 2014 na galáxia M82 (Créditos na imagem)

Figura 17 – SN 2014J observada por um período de 2 anos (Imagem: ESA/Hubble)

5.3.2 Estrelas de neutrons


No coração da nebulosa do caranguejo existe um objeto pequeno, com 25 quilôme-
tros de diâmetro, girando sobre seu próprio eixo 33 vezes por segundo. Esse objeto, um
dos mais compactos que existem no cosmos, é uma estrela de nêutrons, ou, como nesse
caso, um pulsar. A emissão síncroton do pulsar produz a maior parte da energia da nebu-
losa, emitindo em comprimentos de onda que vão desde o rádio até o gama. Essa emissão
de energia desacelera o pulsar cerca de 38 nanosegundos por dia. Embora esse pulsar gire
a quase 35 vezes por segundo, ele não é o mais rápido conhecido. Existem pulsares que
podem girar em torno de seu eixo a uma fração de quase 700 rotações por segundo!
O raio típico de uma estrela de nêutrons é da ordem de 10 quilômetros, e sua den-
sidade alcança a ordem de 1018 quilogramas por metro cúbico. Sua crosta interna abrange
cerca de 600 metros e acredita-se ser composta de uma mistura de núcleos atômicos, elé-
trons e um superfluído de nêutrons. A composição do núcleo dessas estrelas é ainda um
mistério, podendo ser formado de uma esfera endurecida de nêutrons ou até mesmo um
condensado de píons. Essas estrelas são tão densas que a atração gravitacional em sua
superfície pode ser até 200 bilhões de vezes mais intensa que a atração da Terra.
O que ocorre quando duas estrelas de nêutrons colidem?
Como discutido anteriormente, sistema binários são comuns em nossa galáxia. Se
um sistema binário é composto por duas estrelas de nêutrons, então a interação entre elas
gera uma kilonova. Esse processo gera uma intensa radiação eletromagnética, originada
principalmente do processo de captura de nêutrons, denominado processo r. O efeito re-
sultante se parece com uma fraca supernova, com uma curta duração. Além disso a fusão
das duas estrelas de nêutrons gera ondas gravitacionais, que são ondulações do tecido
espaço-tempo.
Estrelas de nêutrons possuem campos magnéticos intensos. Em alguns casos, a in-
tensidade do campo chega a 1 bilhão de teslas, de modo que a estrela de neutrons passa a
ser classificada como um magnetar.

5.3.3 Buracos Negros


Em 1916 Karl Schwarzschild encontrou uma solução para a equação de campo de
Einstein dentro da relatividade geral. Ele mostrou que se a massa de um estrela for con-
centrada num espaço suficientemente pequeno, após sofrer um colapso, então o campo
gravitacional dessa estrela será tão intenso que nem mesmo a luz conseguirá escapar [14].
Por conta da luz ficar aprisionada nessa região, chamamos essa estrela colapsada de bu-
raco negro. Para formar um buraco negro, uma estrela tem de possuir uma massa superior
a 8𝑀⊙ .
Um buraco negro é limitado por uma região denominada horizonte de eventos, que
marca o ponto onde a velocidade de escape se iguala à velocidade da luz. A distância do
horizonte de eventos é dada por:
2𝑀𝐺 (50)
𝑟𝑆 = 2
𝑐
em que 𝑟𝑆 é chamado de raio de Schwarzschild, 𝑀 é a massa da estrela colapsada, 𝐺 é a
constante gravitacional e 𝑐 é a velocidade da luz. O termo dado por (50) surge na métrica
de Schwarzschild na forma
2𝐺𝑀 2𝐺𝑀 −1 2 (51)
𝑑𝑠 = 𝑐 (1 − 2 ) 𝑑𝑡 − (1 − 2 ) 𝑑𝑟 − 𝑟 2 𝑑Ω2
2 2 2
𝑐 𝑟 𝑐 𝑟
onde 𝑑Ω2 é um elemento infinitesimal de um ângulo sólido. Se tomarmos 𝑀 → 0 ou 𝑟 →
∞ em (51), então iremos obter a métrica de Minkowski:
𝑑𝑠 2 = 𝑐 2 𝑑𝑡 2 − 𝑑𝑟 2 − 𝑟 2 𝑑Ω2 (52)
que implica num espaço plano8.
A singularidade surge na métrica de Schwarzschild quando 𝑟 = 0 ou quando 𝑟 =
𝑟𝑆 , pois esses valores farão alguns termos divergirem para o infinito. Por conta de haver
singularidade para esses valores de 𝑟, a métrica é válida para o caso de raios maiores que
𝑟𝑆 , o que descreve todas as estrelas e planetas. Por exemplo, nosso Sol possui um raio
igual a 6,963 × 108 metros, enquanto que seu raio de Schwarzschild é de apenas 3 km.
Uma métrica um pouco mais complicada do que a de Schwarzschild é a de Kerr
[15]. Nesse caso, a solução das equações de campo fornecem um buraco negro com mo-
mento angular, ou um buraco negro em rotação. Um buraco negro desse tipo pode dissipar
grandes quantidades de energia através de sua rotação, de modo a vir a transformar-se
num buraco negro de Schwarzschild. Além do horizonte de eventos, um buraco negro em
rotação possui uma região externa ao raio de Schwarzschild denominada ergosfera. Nessa
região, o espaço-tempo é arrastado de modo a girar junto com o buraco negro [16].

Figura 18 – Representação artística da ergosfera ao redor de um buraco negro em rotação (Imagem: pt.wi-
kipedia.org/wiki/Ergosfera#/media/File:Ergosphere_of_a_rotating_black_hole.svg)

8
O que faz sentido, visto que se 𝑀 = 0 então não haverá deformação do espaço ou, de modo análogo, se 𝑟 é infinito estaremos
livres de quaisquer campos gravitacionais.
Um terceiro tipo de buraco negro é aquele que possui carga elétrica. Assim, pode-
mos classificar os buracos negros de acordo com 3 propriedades, sendo essas: massa (M),
momento angular (J) e carga elétrica (Q). Um buraco negro que possui M, mas não possui
J e nem Q é denominado buraco negro de Schwarzschild. Se o buraco negro possui M e
J, mas não Q, então ele é um buraco negro de Kerr. Se o buraco negro possui M e Q, mas
não J, então ele é um buraco negro de Reissner-Nordstrøm. Por fim, se um buraco negro
possui as 3 propriedades, então ele é denominado buraco negro de Kerr-Newman.
Buracos negros formados pela morte de estrelas não são os únicos que existem no
cosmos. A maioria das galáxias abrigam em seus centros regiões compactas que superam
em milhões e até bilhões de vezes a massa do Sol. Com o que sabemos, não é de se
espantar que exista um buraco negro no centro de uma galáxia. Os buracos negros que
existem no núcleo das galáxias são denominados buracos negros supermassivos. A região
central da Via-Láctea, direcionada para a constelação de Sagitário, abrange um poderoso
e compacto objeto denominado Sagittarius A*. Esse é uma forte fonte de emissão de rá-
dio, alimentada por um buraco negro supermassivo.

5.3.3.1 A radiação de Hawking


De acordo com o princípio da incerteza, em cada ponto do espaço ocorre a criação
de pares virtuais de partículas e antipartículas, que estão constantemente se aniquilando.
Como o processo é rápido e o produto final é um par de fótons, não podemos observar
essas partículas. Entretanto, na região próxima do horizonte de eventos a realidade pode
ser bem diferente. Suponha que um par virtual compreendendo um elétron e um pósitron
seja criado no limite externo do horizonte de eventos. Uma dessas partículas pode vir a
cair no buraco negro, de modo que sua companheira não poderá ser aniquilada. Por conta
disso, a partícula que ficou fora do horizonte de eventos deve se tornar uma partícula real.
Para que a partícula virtual seja convertida em real é necessário que parte da energia gra-
vitacional do buraco negro seja convertida em matéria. Quando isso ocorre, o buraco ne-
gro perderá uma quantidade de massa equivalente aquela fornecida à partícula virtual para
torna-la real. Assim vemos que essa partícula, agora real, parece ter escapado do buraco
negro, levando consigo parte da massa desse compacto objeto. Essa perda de energia, e
consequentemente de massa, do buraco negro é denominada radiação de Hawking. Di-
zemos que o buraco negro está evaporando.
5.4 Cadeia próton-próton e ciclo CNO
No período em que permanecem na sequência principal, as estrelas estão produ-
zindo núcleos de hélio a partir de núcleos de hidrogênio. Como vimos anteriormente, esse
é o combustível principal de todas as estrelas. Vejamos, de um modo um pouco mais
detalhado, como ocorre os processos de fusão. Quando a temperatura central de uma es-
trela é da ordem de 8 × 106 K [7], a conversão de H em He ocorre exclusivamente através
da cadeia p-p. Essa reação inicia-se com dois núcleos de hidrogênio, dois prótons, intera-
gindo entre si. Através de um decaimento beta mais, um dos prótons é convertido em um
nêutron, com a liberação de um pósitron mais um neutrino, de modo que o produto seja
um núcleo de deutério9:
p + p → d + e+ + νe
O deutério resultante irá reagir com um terceiro próton, de modo a formar o 3He, liberando
energia:
d + p → 3He + γ
A partir desse momento, as reações são divididas em dois ramos principais. O ramo I, que
ocorre com mais frequência (cerca de 85%), forma o 4He e mais dois prótons. A energia
efetiva produzida nesse processo é em torno de 26 MeV. A reação é descrita como:
3
He + 3He → 4He + 2p
No segundo ramo ocorre a formação do berílio, com a reação de um núcleo de 3He mais
um núcleo de 4He:
3
He + 4He → 7Be + γ
Desse segundo ramo ainda surgem mais dois ramos, sendo que um formará o lítio e o
outro o boro. Tanto o lítio quanto o boro não são, de fato, os produtos, mas formarão
núcleos de 4He. Ambos processos são menos frequentes que o ramo I.
Em estrelas mais massivas, maiores que 1,2 𝑀⊙ , que possuem uma temperatura
central maior que 18 × 106 K [7], o processo dominante para a formação de hélio é des-
crito pelo ciclo CNO (carbono-nitrogênio-oxigênio). Esse processo se inicia com um nú-
cleo de 12C capturando um próton e formando um núcleo de 13N:
12
C + p → 13N + γ
O núcleo de nitrogênio sofrerá um decaimento beta mais e se transmutará em um núcleo
de 13C, liberando um pósitron e um neutrino:
13
N → 13C + e+ + νe

9
O deutério, também conhecido como hidrogênio pesado ou hidrogênio-2, é formado por um próton e um nêutron.
Esse novo núcleo de carbono irá capturar um próton e se tornará um núcleo de 14N:
13
C + p → 14N +γ
O nitrogênio, via captura de um próton, irá formar o 15O:
14
N + p → 15O + γ
Via decaimento beta mais, o oxigênio transmuta em um 15N:
15
O → 15N + e+ + νe
Esse nitrogênio irá capturar um próton e então irá formar um núcleo de 12C e um núcleo
de 4He. Pode ocorrer, entretanto, dessa captura não formar o carbono e o hélio, mas sim
formar um núcleo de 16O. Se isso ocorrer, o oxigênio irá capturar um próton e então for-
mará o 17F que, por decaimento beta mais, formará o 17O. Esse oxigênio irá capturar um
próton e então terá como produto o 14N e um núcleo de 4He. Esse núcleo de 14N irá cap-
turar um próton e voltará ao processo de formação do 15O visto acima. Porém, esse pro-
cesso é muito menos provável de ocorrer.

5.5 O problema do neutrino solar


Tanto em processos de ciclo p-p quanto de ciclo CNO temos a emissão de neutrinos
em determinadas etapas. Por segundo, mais de 50 bilhões de neutrinos atingem cada cen-
tímetro quadrado da Terra [10]. Como a seção de choque dos neutrinos é da ordem de
10−44 cm² [7], um único neutrino pode percorrer um vasto espaço sem interagir com
qualquer matéria. Para um neutrino emitido das reações de fusão no núcleo solar, seu livre
caminho médio é da ordem de 109 raios solares. Vemos, então, que o neutrino é uma
partícula cuja detecção é muito difícil de ser feita. Os neutrinos foram detectados pela
primeira vez em 1956 por Reines e Cowan.
Os neutrinos provenientes do Sol podem fornecer dados importantes sobre nossa
estrela, uma vez que essas partículas carregam parte da energia originada no núcleo solar.
Raymond Davis Jr. e seus colaboradores, em 1968, usaram um tanque com aproximada-
mente 380.000 litros de percloroetileno, ou C2Cl4, para tentar detectar os neutrinos de
origem solar, como descrito em [7]. Nesse composto químico, cerca de ¼ dos átomos de
cloro se encontram como o isótopo 37, 37Cl. Com base nisso Davis estimou que de 100
bilhões de neutrinos provenientes do Sol, alguns poucos deveriam interagir com o 37Cl.
Essa interação faria com que o 37C se transformasse em argônio 37, 37Ar, ou seja:
νe + 37C → e− + 37Ar
O resultado do experimento de Davis não foi nada animador. Quase nenhum neutrino foi
detectado. Ou seja, a experiência estava totalmente contrária à previsão teórica. Esse im-
passe ficou conhecido como problema do neutrino solar.

5.5.1 Oscilação de neutrinos


O grande problema do experimento realizado por Davis é a faixa de energia varrida.
Os poucos neutrinos detectados possuíam energias de no mínimo 0,8 MeV. Essa energia
é praticamente o dobro daquela dos neutrinos que surgem na cadeia p-p, que é, como
descrito anteriormente, o principal processo de fusão no núcleo solar. Mesmo com expe-
rimentos cada vez mais precisos, a detecção de neutrinos provenientes do Sol continuou
sendo muito baixa comparada à previsão teórica.
Uma explicação para esse problema parecia estar relacionada com a natureza física
dos neutrinos, e não com o processo de fusão nuclear em si. Hoje, acredita-se que durante
o percurso do Sol até a Terra, parte dos neutrinos sofrem uma mudança de sabor, indo do
neutrino eletrônico para o neutrino muônico ou tauônico. Essa mudança de sabor é deno-
minada oscilação de neutrinos. Para que a oscilação ocorra é necessário que os diferentes
tipos de neutrinos possuam diferentes valores de massa [11]. Antes desse problema surgir,
os neutrinos eram considerados partículas de massa nula.

5.6 Metalicidade
As estrelas são constituídas principalmente de hidrogênio e hélio. Enquanto estão
na sequência principal, a proporção de outros elementos é bem pequena [12]. Em astro-
nomia, todo elemento químico diferente de hidrogênio e hélio é chamado de metal. Uma
estrela possui uma grande metalicidade se for rica em elementos como carbono e oxigê-
nio.
A teoria moderna da evolução cósmica nos diz que os elementos hidrogênio, hélio
e um pouco de lítio, foram sintetizados nas primeiras horas em que o universo tomou
forma a partir do Big-Bang, numa fase em que era muito quente e denso. Os elementos
mais pesados foram sintetizados num período posterior, no interior de estrelas massivas.
Através de supernovas e ventos solares, o meio interestelar começou a ser preenchido
com metais.
Metais sintetizados no interior de estrelas de baixa massa, como nosso Sol, não são
levados para suas superfícies enquanto permanecem na sequência principal. Logo,
quando analisamos o espectro dessas estrelas vemos a metalicidade do gás que a originou.
Em outras palavras, vemos a metalicidade do ambiente que formou a estrela. Se a estrela
da sequência principal é massiva, então sua superfície é rica em elementos como carbono,
nitrogênio e oxigênio.
A abundância de elementos pode ser obtida por análise espectral e com indicadores
fotométricos. Estrelas de baixa metalicidade apresentam um excesso de cor U-B em rela-
ção às de mesmo tipo espectral com metalicidade normal. Estrelas com menos metais,
por exemplo, apresentam menos linhas de absorção na banda U.
A “população” estelar é usada como classificação para a metalicidade. As primeiras
estrelas do universo, que possuem poucos metais (ou não possuem), são classificadas
como população III. Estrelas recentes, que possuem alta metalicidade, são de população
I.
Devido a serem muito massivas, estrelas de população III teriam consumido seu
combustível muito rapidamente e explodido em supernovas via instabilidade de par10.
Essas explosões foram responsáveis por dispersar o material das primeiras estrelas que
seriam incorporados à geração seguinte.
Em nossa galáxia, a metalicidade é maior no centro e decresce em direção às regiões
mais externas. Isso ocorre devido a grande densidade de estrelas no centro da Via-Láctea,
de modo que mais metais retornam ao meio interestelar para incorporar novas estrelas.

Figura 19 – Distribuição de metalicidade na Via-Láctea. As estrelas mais antigas, de população II, se en-
contram nos braços mais afastados e no halo (Imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Metalicidade#/me-
dia/File:Starpop.svg)

10
Hipoteticamente, a produção de pares é um mecanismo que pode ocasionar um supernova. Nesse caso, uma produção de pares
repentina diminui a pressão interna de uma estrela supergigante. Isso ocasiona uma implosão seguida de uma explosão termonu-
clear.
A metalicidade é expressa como [Fe/H], que é o logaritmo da razão entre a quanti-
dade de ferro presente na estrela em comparação com nosso Sol:
NFe NFe (53)
[Fe/H] = log ( ) − log ( )
NH estrela NH Sol
em que NFe e NH são os números de átomos de ferro e hidrogênio, respectivamente, por
unidade de volume. Estrelas com metalicidade maior que a do Sol apresentam um loga-
ritmo positivo, enquanto aquelas com metalicidade menor apresentam logaritmo nega-
tivo. Como em (50) trabalhamos com logaritmos na base 10, uma estrela com [Fe/H] =
+1 possui dez vezes a metalicidade do Sol. Se a estrela possui [Fe/H] = -1, então sua
metalicidade é 1/10 à do Sol. Estrelas de população I possuem uma razão [Fe/H] signifi-
cativamente maiores que as de população II. As estrelas primordiais de população III
talvez tenham possuído uma metalicidade de -6,0 da abundância em ferro que encontra-
mos no Sol.
Podemos expressar a relação entre outros elementos, além do Fe e H. Por exemplo,
a diferença de abundância de oxigênio de um estrela em relação ao Sol e a diferença de
abundância de ferro é expressa por:
NO NO (54)
[O/Fe] = log ( ) − log ( )
NFe estrela NFe Sol

6. Nucleossíntese
Como foi descrito na seção 5.6, a estrela termina o processo de fusão termonuclear
nos elementos do grupo do ferro, uma vez que a energia de ligação por núcleon é máxima
para esse elemento. A formação de elementos mais pesados que o ferro ocorre devido ao
fluxo de neutrons. Como essas partículas não possuem carga elétrica, eles são imunes à
repulsão coulombiana. Ao capturar um neutron, um íon se torna um isótopo com número
de massa maior. Se o isótopo for estável ele poderá capturar mais neutrons. Por outro
lado, se ele for radioativo, então a captura de um novo neutron poderá ocorrer antes ou
depois de um decaimento beta. Isso é o que irá distinguir os dois processos principais de
capturas neutronicas, chamados de processo s e processo r.

6.1 Processo s
Seja um ambiente que possua uma baixa densidade de neutrons, da ordem de 105
por cm³. O tempo de captura neutronica é da ordem de 104 anos [9]. Nesse tempo, um
núcleo irá capturar um neutron seguindo
(𝑍, 𝐴) + 𝑛 → (𝑍, 𝐴 + 1) + 𝛾 (55)
Uma segunda captura será possível se o núcleo filho de (55) for estável, de modo a ob-
termos (𝑍, 𝐴 + 2). Em contrapartida, se o núcleo filho for instável ele irá decair antes de
realizar uma nova captura, de modo a formar (𝑍 + 1, 𝐴 + 1). Como o tempo de decai-
mento é maior que o de captura, chamamos esse processe de processo s (s de “slow”).
Esse processo ocorre por longos períodos em estrelas gigantes no fim de suas vidas, em
que flashes sucessivos do hélio processam os núcleos.
No processo s, um núcleo de Ferro pode capturar nêutrons de modo a formar ele-
mentos como, por exemplo, Co, Ni, Zn, e chegar até o Bi (bismuto), cujo número atômico
é 83.

6.2 Processo r
Para formar elementos mais pesados que o Bi, é necessário que ocorra o processo
r (r de rápido). Nesse caso temos um ambiente com alta densidade de neutrons, de modo
que a captura ocorre num período de aproximadamente 1 milissegundo. Com isso, a cap-
tura de um novo neutron ocorrerá antes que o núcleo filho sofra decaimento.
O processo r está relacionado com eventos energéticos, como as supernovas. Uma
supernova do tipo II origina um estrela de nêutrons como remanescente, o que irá gerar
um grande fluxo de nêutrons.

6.3 Outros processos


Alguns isótopos não podem ser formados pela simples captura de nêutrons devido
ao fato de não serem instáveis. Nesse caso a formação de novos elementos ocorre via
processo p.
O processo p diz respeito à captura de prótons. Uma vez que essas partículas res-
pondem à interação coulombiana, esse processo necessita de uma grande densidade de
prótons, além de temperaturas extremamente altas. Nessa condições, a captura é mais
rápida que o tempo de decaimento radioativo.
Um quarto processo de nucleossíntese é o que ocorre pela fotodesintegração de nú-
cleos processados via processo s. Nesse caso, temos o processo 𝛾. As condições favorá-
veis para que esse processo ocorra surgem nos estágios de uma supernova, durante a pas-
sagem da onda de choque pelas camadas de oxigênio e neônio. Nesse estágio, a tempera-
tura chega aos 3 × 109 K, de modo a fissionar os núcleos ali existentes.
Um quinto processo pode estar relacionado com neutrinos extremamente energéti-
cos e é denominado processo 𝜈. Entretanto, esse processo ainda é teórico, não havendo
qualquer evidência dele, como bem aponta [9].

7. Conclusão
Um estudo mais completo da evolução estelar necessitaria de uma análise mais pro-
funda de conceitos físicos que ficaram de fora desse artigo. O motivo dessa ausência é
que o trabalho aqui apresentado possui um caráter introdutório. Para descrever de forma
mais detalhada a evolução estelar, seria necessário um estudo cuidadoso da estrutura in-
terna desses objetos astronômicos. O estudo de variáveis termodinâmicas teria de ser in-
serido no trabalho, além conceitos da física estatística e da mecânica quântica. A própria
descrição de estrelas de nêutrons e buracos negros teria de ser feita de modo a introduzir
a álgebra nada trivial da relatividade geral.
Mas o objetivo desse trabalho foi alcançado. Nitidamente vemos que a astrofísica é
uma ciência experimental. Embora muitas ideias tenham surgido teoricamente (como boa
parte do que ocorre na física) elas foram testadas no decorrer dos anos. Mas ainda há
muito para descobrir. O aprimoramento de técnicas ópticas nos permitiu determinar dis-
tâncias com maior precisão e separar angularmente duas estrelas em sistemas binários.
Analisando espectros conseguimos medir a temperatura superficial de estrelas dentro de
um laboratório. Isso é algo extremamente interessante nessa ciência: estudamos objetos
distantes anos-luz dentro de nossos confortáveis laboratórios (embora enviamos diversos
equipamentos la para “cima”). Num caráter um tanto quanto filosófico, mas verdadeiro,
é que não precisamos ir muito longe para estudar o universo, visto que fazemos parte dele.
Esse trabalho é muito mais do que um conhecimento básico sobre estrelas. Esse
trabalho é um conhecimento básico sobre nós mesmos. Essa é a grande importância em
se estudar as estrelas. Os elementos químicos que estão nos objetos à nossa volta, inclu-
sive em nós mesmos, foram modelados no interior de estrelas de diversas maneiras: ca-
deia p-p, ciclo CNO, processos s e r, entre outros. Sendo assim a melhor maneira de con-
cluir esse artigo é citando o grande astrônomo Carl Sagan, que expressou a importância
da nucleossíntese estelar na seguinte frase: “O nitrogênio em nosso DNA. O cálcio em
nossos dentes. O ferro em nosso sangue. O carbono em nossas tortas de maçã. Foram
criados no interior de estrelas em colapso. Somos feitos do mesmo material das estre-
las.”
Agradecimentos
Gostaria de agradecer ao professor Dr. Pedro Cunha de Holanda, do Departamento
de Raios Cósmicos e Cronologia, DRCC, do Instituto de Física Gleb Wataghin, IFGW,
Unicamp. Além de me orientar nesse trabalho final de graduação, o professor Holanda
me ajudou grandemente nos trabalhos envolvendo astrofísica, sendo meu orientador, tam-
bém, nas duas iniciações científicas e auxiliando nos projetos envolvendo a primeira e a
segunda semana de astrofísica que ocorreram no IFGW nos anos de 2016 e 2018.

Referências Bibliográficas
[1] Maoz, D. – Astrophysics in a Nutshell – Princeton University Press
[2] Horvath, J. E. – O ABCD da Astronomia e Astrofísica – Editora Livraria de
Física
[3] Ryden, B; Peterson, B. M. – Foundations of Astrophysics – Addison-Wesley,
Pearson
[4] Carrol, B. W.; Ostlie, D. A. – An Introduction to Modern Astrophysics – Pear-
son
[5] Sobrinho, J. L. G. – Estrelas binárias e estrelas variáveis – Universidade da Ma-
deira – Abril de 2013
[6] Dal Pino, E. M. G. – Sistemas Binários (capítulo 9) – AGA215 – Universidade
de São Paulo
[7] Oliveira Filho, K. S.; Saraiva, M. F. O. – Astronomia e Astrofísica
[8] Hetem, J. C. G. – Classificação estelar: as estrelas não são iguais – Material de
Licenciatura em Ciências – USP/Univesp
[9] Horvath, J.E. – Fundamentos da evolução estelar, supernovas e objetos compac-
tos- Editora Livraria da Física
[10] Retirado da página do Grupo de Estudos de Física e Astrofísica de Neutrinos
(GEFAN) do Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia (DRCC) do Instituto
de Física Gleb Wataghin – Universidade Estadual de Campinas
[11] Valdiviesso, G. A.; Guzzo, M. M. – Compreendendo a oscilação dos neutrinos
[12] Lepine, J. – Estrutura Galáctica, AGA 5739 Capítulo 6 – Universidade de São
Paulo – 2° semestre de 2011
[13] Quartuccio, J. T. – Monstros do Cosmos: Estrelas Gigantes, Pulsares e Buracos
Negros – artigo escrito para a Segunda Semana de Astronomia e Astrofísica –
IFGW – Universidade Estadual de Campinas
[14] Peruzzo, J. – Teoria da Relatividade – Conceitos Básicos – Editora Ciência
Moderna
[15] Kerr, R. P. – Gravitational Field of a Spinning Mass as an Example of Alge-
braically Special Metrics – Physical Review Letters, 11, 237-238, 1963.
[16] Maia, N. N. – Introdução à Relatividade – Livraria da Física

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