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São as condições socioeconômicas e políticas, que frequentemente condicionam o nascimento

de determinadas ideias e que, de modo particular no mundo grego, ao criar as primeiras formas
de liberdade institucionalizada e de democracia, tornaram possível precisamente o nascimento
da filosofia, que se alimenta essencialmente da liberdade.
Período helenístico- O império alexandrino caracterizou-se por levar também a cultura grega
(chamada helênica) para todas as regiões que conquistou. Caracterizou-se também por integrar
os elementos das culturas conquistadas, como aqueles da cultura persa (da qual Alexandre era
um grande admirador), com os elementos da cultura grega. Alexandre aprendeu a valorizar a
cultura alheia sem descaracterizá-la. Muitas cidades, como Alexandria, no Egito, tornaram-se
grandes centros culturais no período helenístico, acomodando saberes científicos, filosóficos,
religiosos e literários de imenso valor. Até mesmo durante o período de domínio do Império
Romano, a cultura helenística persistiu, tornando-se a base da formação dos homens durante
muitos séculos.
A religião na Grécia
Os gregos eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses, assim como a maioria dos
povos da Antiguidade. Mas, ao contrário dos outros povos, tinham uma grande intimidade com
seus deuses, pois acreditavam que eles estavam a serviço das pessoas.
Os deuses gregos possuíam características humanas, defeitos e qualidades, fraquezas e
paixões. A diferença existente entre eles e os humanos é que os deuses eram imortais.
0s fenômenos naturais são promovidos por nomes: raios e relâmpagos são arremessados por
Zeus do alto do Olimpo, as ondas do mar são provocadas pelo tridente de Poseidon, o sol pelo
carro de Apolo, e assim por diante. Mas também a vida social dos homens, a sorte das cidades,
as guerras e a paz são imaginadas como vinculadas aos deuses de modo não acidental e, por
vezes, até de modo essencial.
Todavia, quem são esses deuses? Como os estudiosos de há muito reconheceram e
evidenciaram, esses deuses são forças naturais personificadas em formas humanas idealizadas,
ou então são forças e aspectos do homem sublimados e fixados em esplêndidas figuras
antropomórficas. (recordemos que Zeus com a personificação da justiça; Atena, da inteligência;
Afrodite, do amor, e assim por diante.) Esses deuses são, pois, homens amplificados e
idealizados, e, portanto, diferentes do homem comum apenas por quantidade e não por
qualidade. E por isso que os estudiosos classificam a religião publica dos gregos como uma forma
de "naturalismo", uma vez que ela pede ao homem não propriamente que ele mude sua
natureza, ou seja, que se eleve acima de si mesmo; ao contrário, pede que siga sua própria
natureza. Fazer em honra dos deuses o que está em conformidade com a própria natureza é
tudo o que se pede ao homem.
0 0rfismo
Nem todos os gregos consideravam suficiente a religião pública e, por isso, em círculos restritos,
desenvolveram se os "mistérios", com as próprias crenças especificas (embora inseridas no
quadro geral do politeísmo) e com as próprias práticas. Entre os mistérios, porém, os que mais
influíram na filosofia grega foram os mistérios órficos. 0 Orfismo particularmente importante
porque introduz na civilização grega novo esquema de crenças e nova interpretação da
existência humana. Efetivamente, enquanto a concepção grega tradicional, a partir de Homero,
considerava o homem como mortal, pondo na morte o fim total de sua existência, o Orfismo
proclama a imortalidade da alma e concebe o homem conforme o esquema dualista que
contrapões o corpo e a alma (reencarnações).
Resumem o núcleo central da doutrina: "Alegra-te, tu que sofreste a paixão: antes, não a havias
sofrido. De homem, nasceste Deus"; "Feliz e bem-aventurado, serás Deus ao invés de mortal";
"De homem nasceras Deus, pois derivas do divino". Isso significa que o destino ultimo do homem
é de "voltar a estar junto aos deuses". Com esse novo esquema de crenças, o homem via pela
primeira vez a contraposição em si de dois princípios em contraste e luta: a alma (demônio) e o
corpo (como tumba ou lugar de expiação da a alma). Rompe-se assim a visão naturalista; o
homem compreende que algumas tendências ligadas ao corpo devem ser reprimidas, ao passo
que a purificação do elemento divino em relação ao elemento corpóreo torna-se o objetivo do
viver.
Uma coisa deve-se ter presente: sem o Orfismo não se explicaria Pitágoras, nem Heráclito, nem
Empédocles e, sobretudo, não se explicaria uma parte essencial do pensamento de Platão e,
depois, de toda a tradição que deriva de Platão. Ou seja, não se explicaria grande parte da
filosofia antiga, como veremos melhor mais adiante.
Falta de dogmas e de seus guardiões na religião grega
Uma última observação é necessária. 0s gregos não tiveram livros sagrados ou considerados
fruto de revelação divina. Consequentemente, não tiveram uma dogmática (isto é, um núcleo
doutrinai) fixa e imutável. Como vimos, os poetas constituíram-se o veículo de difusão de suas
crenças religiosas. Além disso (e esta i outra consequência da falta de livros sagrados e de uma
dogmática fixa), na Grécia também não pode-se subsistir uma casta sacerdotal guardião do
dogma (os sacerdotes tiveram escassa relevância e escassíssimo poder, porque não tiveram a
prerrogativa de conservar dogmas, nem a exclusividade de receber oferendas religiosas e oficiar
sacrifícios).
Essa inexistência de dogmas e de guardiões dos mesmos deixou ampla liberdade para o
pensamento filosófico, que não se deparou com obstáculos que teria encontrado em países
orientais, onde a livre especulação enfrentaria resistência e restringes dificilmente superáveis.
As condições sócios politicas econômicas que favoreceram o surgimento da filosofia
0 homem oriental era obrigado a uma cega obediência não só ao poder religioso, mas também
ao político, enquanto o grego a este respeito gozou de uma situação privilegiada, pois, pela
primeira vez na história, conseguiu construir instituig6es politicas livres. a filosofia nasce
primeiro nas colônias e não na mãe-pátria. Justamente porque as colônias, com sua operosidade
e comércio, alcançaram primeiro a situação de bem-estar e, por causa da distância da mãe-
pátria, puderam construir instituições livres antes mesmo que ela.
Resta ainda uma última observação. Com a consolidação e a constituição da Polis, isto é, da
Cidade-Estado, o grego deixou de sentir qualquer antítese e qualquer vínculo. A própria
liberdade; ao contrário, descobriu-se essencialmente como cidadão. Para o grego, o homem
passou a coincidir com o cidadão. Dessa forma, o Estado tornou- se o horizonte ético do homem
grego e assim permaneceu até a era helenística. 0s cidadãos sentiram os fins do Estado como
seus próprios fins, o bem do Estado como seu próprio bem, a grandeza do Estado como sua
própria grandeza e a liberdade do Estado como sua própria liberdade.

Conceito e objetivo da filosofia antiga


A filosofia ( amor pela sabedoria) tem como objetivo a totalidade das coisas (a realidade como
um todo) e nisto confina com a religião, usa um método racional e nisso tem contatos com a
ciência ( com qual por certo período se identifica) e tem como escopo a pura contemplação da
verdade. A contemplação da verdade que é aspiração natural do homem é visto como
fundamento moral e também da vida politica do mais alto sentido.
A filosofia coma "amor de sabedoria"
Conforme a tradição, o criador do termo "filo-sofia" foi Pitagoras, o que, embora não sendo
historicamente seguro, é, no entanto, verossímil. 0 termo certamente foi cunhado por um
espirito religioso, que pressupunha ser possível só aos deuses uma "sofia" ("sabedoria"), ou seja,
a posse certa e total do verdadeiro, enquanto reservava ao homem apenas uma tendência a
sofia, uma continua aproximação do verdadeiro, um amor ao saber nunca totalmente saciado -
de onde, justamente, o nome "filosofia", ou seja, "amor pela sabedoria".
Desde seu nascimento, a filosofia apresentou Desde seu nascimento, a filosofia apresentou
Desde seu nascimento, a filosofia apresentou
Três conotações, referentes:
a) ao seu conteúdo;
b) ao seu método;
c) ao seu objetivo
O conteúdo da filosofia
No que se refere ao conteúdo, a filosofia quer explicar a totalidade das coisas, ou seja, toda a
realidade, sem exclusivo de partes ou momentos dela. A filosofia, portanto, propõe-se como
objeto a totalidade da realidade e do ser. E, como veremos, alcança-se a totalidade da realidade
e do ser precisamente descobrindo a natureza do primeiro "principio", isto é, o primeiro "por
que" das coisas.
O método da filosofia
No que se refere ao método, a filosofia procura ser "explicação puramente racional daquela
totalidade" que tem por objeto. 0 que vale em filosofia é o argumento da razão, a motivação, a
lógica logica, os logos. Não basta filosofia constatar, determinar dados de fato ou reunir
experiências: ela deve ir além do fato e além das experiências, para encontrar; a causa ou as
causas apenas com a razão.
Com isso, fica esclarecida a diferença entre filosofia, arte e religião. A grande arte e as grandes
religiões também visam a captar o sentido da totalidade do real, mas elas o fazem,
respectivamente, uma, com o mito e a fantasia, outra, com a crença e a fé', ao passo que a
filosofia procura a explicação da totalidade do real precisamente em nível de logos.

O escopo da filosofia
0 escopo ou fim da filosofia está no puro desejo de conhecer e contemplar a verdade. Conforme
escreve Aristoteles, os homens, ao filosofar, "buscaram o conhecer a fim de saber e não para
conseguir alguma utilidade prática". Com efeito, a filosofia nasceu apenas depois que os homens
resolveram os problemas fundamentais da subsistência e se libertaram das necessidades
materiais mais urgentes.
Compreendemos, portanto, a afirmação de Aristóteles: "Todas as outras ciências. Serão mais
necessárias do que esta, mas nenhuma será superior." Uma afirmação que todo o helenismo
tornou própria.
Conclusões sobre o conceito grego de filosofia
Embora não se submeta a objetivos utilitaristas, ela possui relevância moral e também política
de primeira ordem. Com efeito e evidente que ao se contemplar o todo, mudam
necessariamente todas as perspectivas usuais, muda a visão do significado da vida do homem,
e uma nova hierarquia de valores se impõe. Em resumo, a verdade contemplada infunde enorme
energia moral. E, como veremos, com base precisamente nessa energia moral Platão quis
construir seu Estado ideal.
Entretanto, resultou evidente a absoluta originalidade dessa criação grega. 0s povos orientais
também tiveram uma "sabedoria" que tentava interpretar o sentido de todas as coisas (o
sentido do todo), mas não submetida a objetivos pragmáticos. Tal sabedoria, porém, estava
permeada de representações fantásticas e míticas, o que a levava para a esfera da arte, da
poesia ou da religião. Ter tentado essa aproximação com o todo fazendo uso apenas da razão
(do logos) e do método racional, foi, podemos concluir, a grande descoberta da "filosofia" grega.
Uma descoberta que, estruturalmente e de modo irreversível, condicionou todo o Ocidente.
A filosofia como necessidade primária do espirito humano
Assim, a raiz da filosofia e precisamente esse "maravilhar-se", surgido no homem que se
defronta com o Todo (a totalidade).
As fases e os períodos da história da filosofia antiga
Nesse espaço de tempo, podemos distinguir os seguintes períodos:
1) 0 período naturalista, caracterizado pelo problema da natureza e do cosmo, e que, entre os
séculos VI e V a.C. O Naturalismo, propriamente dito, é uma doutrina filosófica que relaciona os
métodos científicos (hipótese, observação, descrição, previsão, controle...) afirmando que todos
os seres do nosso universo são naturais e que todo o conhecimento que se tem sobre o universo
só é possível com investigações científicas. Na concepção naturalista, a natureza é
completamente conhecível, porque ela apresenta uma unidade, uma regularidade e uma
perfeição que é resultado das leis objetivas que podem ser decifradas pelo conhecimento
científico e seus métodos.
As teorias transcendentes e metafísicas presentes no mundo são ignoradas pelo naturalismo,
pois o mesmo insiste que todos os fenômenos podem ser analisados pelo homem através de
métodos científicos, sendo assim, qualquer teoria sobrenatural, por exemplo, é nula a um
fenômeno natural. Atualmente, o pensamento filosófico deixou de ser naturalista, onde a
natureza é o centro de tudo, ou heliocentro e passou a ser etnocêntrico, ou seja, o homem
começa a obter hábitos sociais que acabam julgando o que é melhor ou pior devido a sua
categoria social. No naturalismo, somente as leis e as forças da natureza atuam no mundo. Cada
etapa da evolução do universo é de encargo das leis naturais que conduzem a estrutura e o
comportamento da natureza.
O naturalismo é, "em oposição ao sobrenatural ou espiritual, a ideia ou crença de que apenas
as leis e as forças naturais operam no mundo; em extensão, a ideia ou crença de que não existe
nada além do mundo natural.
2- 0 período chamado humanista, que em parte, coincide com a última fase da filosofia
naturalista e com sua dissolução, tendo como protagonistas os Sofistas e, sobretudo, Sócrates,
que pela primeira vez procura determinar a essência do homem. Humanismo ] é a filosofia moral
que coloca os humanos como principais, numa escala de importância, no centro do mundo. É
uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas que atribuem a maior
importância à dignidade, aspirações e capacidades humanas, particularmente a racionalidade.
Embora a palavra possa ter diversos sentidos, o significado filosófico essencial destaca-se por
contraposição ao apelo ao sobrenatural ou a uma autoridade superior.
3) 0 momento das grandes sínteses de Platão e Aristóteles, que coincide com o século IV a.C.,
caracterizando-se sobretudo pela descoberta do suprassensível e pela explicitação e formulação
orgânica de viários problemas da filosofia. Era essa a ideia de Platão. Este filósofo recusava a
realidade do mundo dos sentidos; toda a mudança que observamos diariamente era apenas
ilusão, reflexos pálidos de uma realidade suprassensível que poderia ser verdadeiramente
conhecida. Para Platão, só podíamos ter conhecimento do domínio suprassensível, a que ele
chamou o domínio das ideias ou formas; do mundo sensível não podíamos senão ter opiniões,
também elas em constante fluxo. O domínio do sensível era, para Platão, uma forma de opinião
inferior e instável que nunca nos levaria à verdade universal, eterna e imutável, já que se a
mesma coisa fosse verdadeira num momento e falsa no momento seguinte, então não poderia
ser conhecida.
4) Segue-se o período caracterizado pelas Escolas Helenísticas, que vai da conquista de
Alexandre Magno até o fim da era pagã e que, além do florescimento do Cinismo, vê surgirem
também os grandes movimentos do Epicurismo, do Estoicismo, do Ceticismo e a posterior
difusão do Ecletismo. Os pensadores do período helenístico preocuparam-se especialmente
com a condução da vida humana e com a busca pela tranquilidade espiritual (chamada de
ataraxia), que como consequência, proporcionaria a felicidade.
Epicurismo-Para o filósofo, a busca pelos prazeres moderados é a chave para a paz de espírito
(ataraxia). Aquele que é sábio, portanto, deve evitar certos tipos de prazeres que lhe podem ser
prejudicais, e deve buscar os prazeres corretos para encontrar a felicidade.
Estoicismo- pode-se dizer que os estoicos acreditavam que há um ordenamento cósmico que
rege a existência, e que o homem virtuoso deve aceitar viver de acordo com esse fato. A
estrutura do pensamento estoicista fundamenta-se sobre a lógica, a física e a ética.
Ceticismo-Para os céticos pirrônicos (ou seja, seguidores de Pirro), o homem seria incapaz de
formular certezas a respeito da natureza, e por isso, deveria optar pela suspensão do juízo que
lhe ajudaria a combater a ansiedade. Houve outra vertente desta mesma escola, chamada
Ceticismo Acadêmico, que acreditava que os sentidos são falhos e incapazes de proporcionar
um tipo de conhecimento seguro.
Cinismo- Escola marcada especialmente pela figura de Diógenes de Sinope, conhecido como “o
cão”, viveu pelas ruas de Atenas levando uma vida despojada, simples e sem se importar com
qualquer tipo de convenção social vigente. O filósofo recusava e combatia a fama, a posição
social, o dinheiro e o acúmulo de materiais, pois para ele, nenhum destes elementos pode
proporcionar felicidade. A palavra “cínico” vem da palavra grega “kynicos” que significa “cão”.
5) 0 período religioso do pensamento desenvolve-se quase inteiramente em época cristã,
caracterizando-se sobretudo por um grandioso renascimento do Platonismo, que culminara com
o movimento neoplatônico. 0 reflorescimento das outras escolas será condicionado de vários
modos pelo mesmo Platonismo. Um dos movimentos filosóficos mais significativos da
Antiguidade foi o neoplatonismo, assim denominado por beber na fonte da teoria platônica. Na
verdade, só nos dias atuais os pesquisadores acrescentaram o prefixo neo, para marcar uma
diferença em relação às duas correntes, as quais, apesar das aparências, eram bem distintas
uma da outra.
Ao contrário de Platão, Plotino acreditava em uma espécie de monismo idealista. Para ele só
existia mesmo Deus ou o Uno, de onde emana a fonte divina que irradia por toda a criação.
Segundo este filósofo, as sombras nada mais eram que a carência de luz, a qual não conseguia
atingi-las; mas não se podia dizer que elas tinham uma real existência.
Desta forma, os neoplatônicos rejeitavam o conceito do mal, e acreditavam apenas em graus de
imperfeição, na carência da prática do bem. Contrariamente aos ensinamentos cristãos, não era
necessário transpor as fronteiras da morte, caminhar para estágios de uma vida na
espiritualidade, a fim de se conquistar uma alma perfeita e feliz. Estas virtudes podiam ser
obtidas através do exercício constante da meditação filosófica.
6) Nesse período nasce e se desenvolve o pensamento cristão, que tenta formular
racionalmente o dogma da nova religião e defini-lo a luz da razio, com categorias derivadas dos
filósofos gregos. A vitória dos cristãos impor6 sobretudo um repensamento da mensagem
evangélica a luz das categorias da razão. Este momento do pensamento antigo constitui, por,
um coroamento do pensamento grego, mas assinala, antes, a entrada em crise e a superação de
sua maneira de pensar e, assim, prepara a civilização medieval e as bases do que será o
pensamento cristão "europeu".
Os naturalistas – filósofos physis
Tales de Mileto
Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência- de
um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que tal
princípio é a agua. Essa proposição e importantíssima, como logo veremos, podendo com
boa dose de razão ser qualificada como "a primeira proposta filosófica daquilo que se
costuma chamar de civilização ocidental".
O "principio" pode ser definido como aquilo do qual provém, aquilo no qual se concluem
e aquilo pelo qual existem e subsistem todas as coisas.0s primeiros filósofos (talvez o
próprio Tales) denominaram esse princípio com o termo physis, que indica natureza, não
no sentido moderno do termo, mas no sentido originário de realidade primeira e
fundamental.
A tradição indireta diz que Tales deduziu sua convicção "da constatação de que a nutrição
de todas as coisas é úmida", que as sementes e os germes de todas as coisas "tem natureza
úmida", e de que, portanto, a secura total é a morte. Assim como a vida está ligada i
umidade e esta pressupõe a água, então a água é a fonte última da vida e de todas as
coisas. Tudo vem da água, tudo sustenta sua vida com água e tudo termina na água. Tales,
portanto, fundamenta suas asserções sobre o raciocínio puro, sobre ologos; apresenta uma
forma de conhecimento motivado com argumentações racionais precisas.
Mas não se deve acreditar que a água de Tales seja o elemento físico-químico que hoje
bebemos. A água de Tales deve ser pensada de modo totalizante, ou seja, como a physis
liquida originária da qual tudo deriva e da qual a água que bebemos é apenas uma de suas
tantas manifestações. Tales é um "naturalista" no sentido antigo do termo e não um
"materialista" no sentido moderno e contemporâneo. Com efeito, sua "água" coincidia
com o divino. Desse modo, introduz-se nova concepção de Deus: trata-se de uma
concepção na qual predomina a razão, e destina-se, enquanto tal, a eliminar logo todos os
deuses do politeísmo fantástico- poético dos gregos.
Ao afirmar posteriormente que "tudo está cheio de deuses", Tales queria dizer que tudo é
permeado pelo princípio originário. E como o princípio originário é vida, tudo é vivo e
tudo tem alma (pampsiquismo).
Com Tales, o logo humano rumou com segurança pelo caminho da conquista da realidade
em seu todo (a questão do principio de todas as coisas) e em algumas de suas partes (as
que constituem o objeto das "ciências particulares", como hoje as chamamos).

Heráclito- A doutrina do tudo se escorre


Tudo se move", "tudo escorre", nada permanece imóvel e fixo, tudo muda e se transmuta,
sem exceção. Em dois de seus mais famosos fragmentos podemos ler: "Não se pode
descer duas vezes no mesmo rio. O rio ´w "aparentemente" sempre o mesmo, mas, "na
realidade", é constituído por águas sempre novas e diferentes, que sobrevém e se dispersam.
A doutrina da harmonia dos contrários-continua passagem de um contrário ao outro: as coisas
frias se aquecem, os quentes se resfriam, as úmidas secam, as secas tornam-se úmidas, o jovem
envelhece, o vivo morre, mas daquilo que está morto renasce outra vida jovem, e assim por diante.
Ha, portanto, guerra perpétua entre os contrários que se aproximam. Mas, como toda coisa só tem
realidade precisamente no devir, a guerra (entre os opostos) se revela essencial.
Trata-se, porém, de uma guerra que, ao mesmo tempo, é paz, e de um contraste que é, ao mesmo
tempo, harmonia. Aquilo que é oposição se concilia, das coisas diferentes nasce a mais bela
harmonia e tudo se gera por meio de contrastes"; "harmonia dos contrários, como a harmonia do
arco e da lira." Somente em contenda entre si é que os contrários dão sentido especifico um ao
outro: "A doença torna doce a saúde, a fome torna doce a saciedade e o cansaço torna doce o
repouso.

0s pitagóricos e o número como principio


0 ideal político pitagórico era uma forma de aristocracia baseada nas novas camadas
dedicadas especialmente ao comércio, que, como já dissemos, haviam alcançado elevado
nível nas colônias, antes ainda do que na mãe pátria. Os Pitagóricos indicaram o número
(e os componentes do número) como o "principio", ao invés da água, do ar ou do fogo.
0sPitagóricos foram os primeiros que se dedicaram as matemáticas e as fizeram progredir.
Nutridos pelas mesmas, acreditaram que os princípios delas fossem os princípios de todas
as coisas que existem.
Na realidade, a descoberta de que em todas as coisas existe regularidade matemática, ou
seja, numérica, deve ter produzido uma impressão tão extraordinária a ponto de levar a
mudança de perspectiva da qual falamos, e que marcou uma etapa fundamental no
desenvolvimento espiritual do Ocidente.

Pitagóricos
Contemporâneos a estes filósofos, e também anteriores a ales, sendo os assim chamados
Pitágoras. Eles primeiro se aplicaram as matemáticas e as fizeram progredir e, nutridos
pelas mesmas, creram que os princípios delas fossem princípios de todos os seres. E,
como nas matemáticas os números sendo por sua natureza os princípios primeiros, e
exatamente nos números eles afirmavam ver muitas semelhanças com as coisas que
existem e são geradas. Porque todas as outras coisas, em toda a realidade, pareciam-lhes
que fossem feitas a imagem dos números e que os números fossem aquilo que o primeiro
em toda a realidade, pensaram que os elementos dos números fossem elementos de todas
as coisas, e que o céu inteiro fosse harmonia e número.
Eles colocam, depois, como elementos constitutivos do número o par e o ímpar; destes, o
primeiro é ilimitado, enquanto o segundo é limitado. Alcméon esteve no auge quando
Pitágoras era ancião e professou uma doutrina muito semelhante a dos Pitágoras. Ele
dizia, de fato, que as múltiplas coisas humanas formam pares de contrários, que ele porém
agrupou não como os Pitagóricos de modo bem determinado mas ao acaso, como por
exemplo: bronco-preto, doce-amargo, bom-mau, grande-pequeno. Fez, portanto,
afirmações desordenadas a respeito de todos os pares de contrários
De um e outros podemos reter apenas o seguinte: os contrários são os princípios dos seres.

Símbolos e preceitos morais religiosos


Concluindo, lemos alguns pontos importantes trechos de vidas dos filósofos, de Diógenes
Laércio, em que são enumerados alguns preceitos morais e religiosos pitagóricos
Preceitos que permaneceram por muito tempo secretos, como de resto os outros
ensinamentos de Pitagóricas. Com o símbolo "não atice o fogo com a faca" queria dizer:
não provocar a ira e o orgulho altivo dos poderosos; com o outro: "não fazer pender a
balança", não violar a equidade e a justiça com o outro: "não se sentar sobre a vasilha",
cuidar também do futuro, pois a vasilha é a ração de um dia. Com "não comer o coração”
queria significar: não consumir a alma com afobações e dores. Proibia oferecer vítimas
aos deuses, permitia venerar apenas o altar purificado de sangue. Nem se deve jurar pelos
deuses; é necessário, com efeito, tornar a si mesmo digno de fé. É preciso honrar os
anciãos, porque aquilo que cronologicamente vem antes merece maior honra; assim como
no mundo a aurora precede o por-do-sol, também na vida humana o princípio precede o
fim, e na vida orgânica o nascimento precede a morte.

O antropomorfismo é uma forma de pensamento que atribui características ou aspectos


humanos a animais, deuses, elementos da natureza e constituintes da realidade em geral.
Nesse sentido, toda a mitologia grega, por exemplo, é antropomórfica
Xénofanes
Esse erro consiste no antropomorfismo, ou seja, em atribuir aos deuses formas exteriores,
características psicológicas e paixões iguais ou análogas as que são próprias dos homens,
apenas quantitativamente mais notáveis, mas não qualitativamente diferentes.
Agudamente, Xénofanes objeta que se os animais tivessem mãos e pudessem fazer
imagens de deuses, os fariam em forma de animal, assim como os Etíopes, que são negros
e tem o nariz achatado, representam seus deuses negros e com o nariz achatado.
A breve distância de seu nascimento, a filosofia mostra a sua forte carga inovadora,
desmontando crenças seculares que se consideravam muito solidas, mas somente porque
se enraíza no modo de pensar e de sentir tipicamente helênico; contesta-lhes qualquer
validade e revoluciona inteiramente o modo de ver Deus que fora próprio do homem
antigo.
Se o Deus de Xénofanes como Deus-cosmo, então podemos compreender claramente as
outras afirmações do filosofo, ou seja, de que Deus "tudo vê, tudo pensa, tudo ouve"; mas
"sem esforço, com a força de sua mente, tudo faz vibrar"; e que, por fim, "permanece
sempre no mesmo lugar sem se mover de modo algum, pois não lhe é próprio andar ora
em um lugar, ora em outro". Em resumo: o ver, o ouvir, o pensar e a onipotente força que
tudo faz vibrar junto com sua estabilidade, são atribuídos a Deus, não em uma dimensão
humana, e sim em uma dimensão cosmológica.

A critica da concepção antropomórfica dos deuses


Xénofanes crítica as concepções tradicionais do divino que eram antropomórficas
Se os bois, cavalos e leões tivessem mãos ou se pudessem pintar e realizar as obras que
os homens fazem com as mãos, os cavalos pintariam imagem dos deuses semelhantes aos
cavalos 0s Etiopes dizem que seus deuses são negros e de nariz achatado. 0s Trácios
dizem ao contrário que tem olhos azuis e cabelos ruivos.

Parmênides
A argumentação é muito simples: tudo aquilo que alguém pensa e diz, é. Coincidem: ". .
.pensar e ser é o mesmo". Há muito que os interpretes apontaram nesse princípio de
Parmênides a primeira grande formulação do princípio da não contradição, isto é, daquele
princípio que afirma a impossibilidade de que os contraditórios coexistam ao mesmo
tempo. E os dois contraditórios supremos não precisamente o "ser" e o "não-ser"; se existe
o ser, é necessário que não exista o não-ser.

A segunda via
0 caminho da verdade é o caminho da razão (a senda do dia), ao passo que o caminho do
erro, substancialmente, é o caminho dos sentidos (a senda da noite). Com efeito, os
sentidos pareceriam atestar o não ser, a medida que parecem atestar a existência do nascer
e do morrer, do movimento e do devir (é um conceito filosófico que significa as mudanças
pelas quais passam as coisas). Por isso, a deusa exorta Parmênides a não se deixar enganar
pelos sentidos e pelo hábito que eles criam, contrapondo aos sentidos a razão.

Zenão e o nascimento da dialética


0s argumentos de Zenão contra o movimento. Pretende-se que, movendo-se de um ponto
de partida, um corpo possa alcançar a meta estabelecida. No entanto, isso não é possível.
Com efeito, antes de alcançar a meta, tal corpo deveria percorrer a metade do caminho
que deve percorrer e, antes disso, a metade da metade e, antes, a metade da metade da
metade, e assim por diante, ao infinito (a metade da metade da metade ... nunca chega ao
zero). Esse é o primeiro argumento, chamado "da dicotomia".
No menos famoso é o "de Aquiles", o qual demonstra que Aquiles, conhecido por ser "o
pé veloz", nunca poderia alcançar a tartaruga, conhecida por ser muito lenta. Com efeito,
caso se admitisse o oposto, se apresentariam as mesmas dificuldades
vistas no argumento anterior.
Um terceiro argumento, chamado "da flecha", demonstrava que uma flecha lançada do
arco, que a opinião comum crê estar em movimento, na realidade está parada. Com efeito,
em cada um dos instantes em que o tempo de voo é divisível, a flecha ocupa um espaço
idêntico; mas aquilo que ocupa um espaço idêntico está em repouso; então, se a flecha
estiver em repouso em cada um dos instantes, deve estar também na totalidade (na soma)
de todos os instantes.
Um quarto argumento tendia a demonstrar que a velocidade, considerada como uma das
propriedades essenciais do movimento, não é algo objetivo, mas sim relativo, e que,
portanto, o movimento do qual é propriedade essencial também é relativo e não objetivo.

Eleatismo
0 grande problema que os Eleatas deixavam para os sucessores era o seguinte: era
necessário reconhecer a razão, as suas razoes, mas, ao mesmo tempo, deviam ser
reconhecidas também as razões da experiência, que testemunha (sob certos aspectos) ao
contrário.

A amizade e o ódio como forças motrizes e seus efeitos


Empedócles introduziu as forças cósmicas do Amor ou da Amizade e do ódio ou discórdia,
respectivamente, como causa da união e da separação dos elementos. Tais forças, segundo uma
alternância, predominam uma sobre a outra e vice-versa por períodos de tempo constantes, fixados
pelo destino. Quando predomina o Amor ou a Amizade, os elementos se reúnem em unidade;
quando predomina o ódio ou a discórdia, ao contrário, eles se separam.

Heráclito
“Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substancia
mortal no mesmo estado, mas, por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança se
espalha e se reúne, vem e vai.”
Vendo que toda a realidade sensível está em movimento e que daquilo que muda não se pode
dizer nada de verdadeiro, concluíram que não é possível dizer a verdade sobre aquilo que muda
em todo sentido e de toda maneira.
A harmonia dos opostos ao qual o devir se desenvolve.
É fato que o devir e, portanto, o ser, implica o continuo passar de um contrário ao outro e,
portanto, ele pareceria a atuação de continua luta dos contrários, corno dizia Anaximandro;
todavia, destes contrários, diz Heraclito, nasce uma harmonia, portanto, maravilhosa síntese
unitária.
0 que é oposição se concilia e das coisas diferentes nasce a mais bela harmonia, e tudo é gerado
por via dos contrastes. A doença torna doce a saúde, a fome torna doce a sociedade e a fadiga
torna doce o repouso.
Página 59 (página do livro)

As palavras que concluem o prologo deixam claro que são as três vias sobre quais procede o
pensamento humano.
I) a da pura verdade,
9) a das opiniões erradas dos mortais
3) a do opinião plausível que se move de modo correto entre as aparências
Recordemos alguns conceitos chaves, Parmenídes fala da via da verdade absoluta, ou seja, da via
do ser e, por antítese, da via absoluta da falsidade, que é a via do não ser, ou seja, a via que
percorrem aqueles mortais que crêem que ser e não ser, se misturem a vários modos.

As demonstrações por absurdo das teses do Eleatismo

Zenão desempenhou a função de atacante dos adversários da escola eleática. Com efeito,
procurou defender as teses de Parmenídes media as sistemáticas refutações das teses
contrarias dos adversários, para reduzi-los ao silêncio. Nasceu com ele a assim chamada
demonstração por absurdo que, ao invés de demonstrar uma tese partindo de determinados
princípios, procura prová-la levando ao absurdo a tese contraditória.

Inteligência Cósmica

Com efeito (Platão) eu não teria acreditado jamais que alguém sustentava que as coisas
foram ordenadas pela inteligência cósmica ( universal), atribuísse a elas outra coisa que
não fossem essa, ou seja, que o melhor para elas eram ser como são. Ex: Se a terra é plana
; é por que deveria ser assim ou se a terra é redonda ela deveria ser assim. Acredito que
atribuindo a causa a cada coisa em particular e a todos em comum, teria explicado aquilo
que é melhor para cada uma delas e aquilo que é melhor e que é comum a todas.
Anaxágoras, embora tenham introduzindo uma inteligência cósmica para todas as coisas,
permaneceu no plano físico e continuava a dar relevância para isso. Deveria ter mostrado
com a inteligência como tal, age em função do melhor, ou seja, do bem, que implica uma
dimensão do ser que está além do puramente físico.
Se alguém dissesse que se não tivesse um corpo ( esqueleto, órgãos e pele), não teria
condições de fazer aquilo que quero, diria bem: mas se dissesse que faço as coisas que
faço exatamente por causa destas e fazendo as coisas que faço, eu posso agir assim, com
a minha inteligência, mas não da virtude da escolha do melhor, raciocinaria com grande
leviandade.

.
A ética de Demócrito
Alcança a tranquilidade de espírito pelo equilíbrio dos prazeres e pela moderação geral
na vida: o demasiado e o pouco são fáceis de mudar e portanto de produzir grandes
perturbações no espírito. E os espíritos que estão sempre agitados entre os extremos
opostos não são firmes e nem tranquilos. Deve se voltar a mente para as coisas possíveis
e contentar-se com aquilo que se tem, não se preocupando com pessoas invejadas e
admiradas. E não ficar pensando nelas, tem que olhar para a vida daqueles que estão
sobrecarregados de aborrecimentos, refletindo seriamente sobre o que suportam e então
o que possuímos no presente nos parecerá grande e invejável e não acontecerá de
sofrermos em nosso coração pelo desejo de bens maiores .
Se alguém admira os ricos e todos os outros que são afortunados, em todo momento seu
pensamento se dirige a eles, será forçado a perseguir continuamente o novo e até desejar
realizar alguma ação irremediável ( ações que são proibidas pelas leis). Por isso é preciso
não buscar tudo o que vemos, mas contentar-se com aquilo que temos, comparando as
nossas vidas com aqueles que estão em condições piores e considerarmos felizes,
pensando o quanto eles suportam e quanto é melhor nosso estado em relações a eles. Se
considerar assim as coisas, viverá com o espirito tranquilo e expulsará inspirações
funestas, como a inveja, a ambição e a inimizade.
Origens, natureza e finalidade do movimento sofista.
Sofista significa sábio e sábio em cada um dos problemas que dizem respeito ao homem
e a sua posição na sociedade. Constituiu a radical inovação da problemática filosófica,
deslocando as pesquisas do cosmo para o homem, inaugura o período humanista da
filosofia grega. Esta nova orientação vai além das causas filosóficas- os filósofos da
natureza não souberam dar uma resposta satisfatória ao problema do princípio- também
as causas sociopolíticas: a crise da aristocracia e a ascensão da nova classe social.
Os sofistas proclamaram a arte de educar os homens e prepara-los para a vida política,
oferecendo lhe novas ideias e novos instrumentos.

Significado do termo sofista


Sofista significa sábio, especialista do saber. A acepção do termo que em si mesma é
positiva, tornou-se negativa sobretudo pela tomada de posição polêmica de Platão e
Aristóteles. Informações fornecidas por Platão e Aristóteles sobre os sofistas, do jeito que
esse movimento foi desvalorizado e considerado como momento de grave decadência do
pensamento grego. Somente no século XX foi possível uma revisão sistemáticas desses
juízos e uma radical reavaliação histórica dos sofistas e a conclusão que chegou que os
sofistas constituem um elo essencial da história do pensamento antigo.

Deslocamento do interesse da natureza do homem


Os sofistas operaram uma verdadeira revolução espiritual, deslocando a reflexão da
physis e do cosmo para o homem e aquilo que concerne a vida, do homem como membro
da sociedade. Centrando seus interesses sobre a ética, a política, a retórica, a arte, a língua,
a religião e a educação, ou seja, sobre aquilo que chamamos de cultura do homem. Correto
afirmas que os sofistas iniciam o período humanista da filosofia antiga.
E isso se originou por duas causas. A filosofia da physis (a natureza enquanto fonte de
progresso e evolução) exauriu todas as suas possibilidades, o pensamento “físico” chegara
aos seus limites extremos. Desse modo era fatal a busca de outro objetivo. Do outro lado
no século V a.c, manifestaram fermentos sociais, econômicos e culturais que ao mesmo
tempo, favoreceu o desenvolvimento da Sofística.

Mudanças sociopolíticas que favoreceram o nascimento da sofística


A crise da aristocracia, acompanhado pelo sempre crescente poder do povo, o fluxo cada
vez mais maciço de estrangeiros as cidades, especialmente em antenas, com ampliação
do comércio, que superando os limites de cada cidade, levava a cada uma delas o contato
com o mundo mais amplo; a difusão de conhecimentos e experiências dos viajantes, que
levava a inevitável comparação entre usos, costumes e leis helênicas ( leis totalmente
diferentes).
Todos esses fatores contribuíram para a problemática sofística. A crise da Aristocracia
implicou também na crise da antiga areté, os valores tradicionais que eram apreciados
pela Aristocracia. A crescente afirmação de poder do demos (uma subdivisão da Ática,
região da Grécia em torno de Atenas. Os demos já existiam, como meras subdivisões de
terra nas áreas rurais-povo) e a possiblidade de aceder ao poder a círculos mais vastos,
fizeram desmoronar a convicção de que a areté estivesse ligado a nascença, isto é, quem
nasce virtuoso e não se tornava, pondo a questão de como se adquire a virtude política. A
ruptura do círculo restrito da pólis (cidade gregas) e o conhecimento e costumes, uso e
leis opostos deveriam constituir a premissa do relativismo, gerando a convicção que
aquilo é verdadeiramente válido, na verdade não tinha valor em outros meios e em outras
circunstâncias.
*Areté é uma palavra de origem grega que expressa o conceito grego de excelência, ligado
à noção de cumprimento do propósito ou da função a que o indivíduo se destina. No
sentido grego, a virtude coincide com a realização da própria essência, e portanto a noção
se estende a todos os seres vivos. Segundo Sócrates, a virtude é fazer aquilo que a que
cada um se destina. Aquilo que no plano objetivo é a realização da própria essência, no
plano subjetivo coincide com a própria felicidade.
Na Grécia Antiga, aretê significava também a coragem e a força de enfrentar todas as
adversidades, e era uma virtude a que todos aspiravam. A raiz da palavra é a mesma de
aristos, que originou aristocracia, que significa habilidade ou superioridade, e era
constantemente usada para denotar nobreza. O termo era aplicado para qualquer coisa,
desde a descrição da boa fatura de um objeto utilitário até para indicar o cidadão exemplar
e o herói, mas em todos os casos a aretê de cada um envolvia valores diferentes.
Posições assumidas pelos Sofistas e suas avaliações opostas
Os sofistas souberam captar de modo perfeito essas instâncias da época conturbada,
sabendo explicitar da melhor forma. Tendo sucesso especialmente entre os jovens,
respondendo as reais necessidades do momento ( dando a palavra nova que esperaram),
já que não estão mais satisfeitos com os valores tradicionais que a velha geração lhe
propunha. Sofistas foram poucos apreciados pela sua forma de difundir a cultura, do fator
de tornar esta difusão uma profissão, de percorrer várias cidades- estado, sua liberdade de
espírito e a crítica em relação a tradição.
Os diversos tipos de sofistas
Os sofistas não foram um bloco compacto de pensadores, visavam as mesmas finalidades
com esforços independentes. Existiam 4 grupos de sofistas:1- Os famosos mestres da
primeira geração e que não estavam privados de reservas morais e eram considerados por
Platão 2-Erísticos , que levavam o aspecto formal do método a exasperação, perderem o
interesse pelo conteúdo e também perderam a moral que a caracterizava os mestres.3-
Políticos Sofistas- usavam ideias sofistas em sentido ideológico ( com finalidades
políticas), caindo em vários excessos, até a teorização do imoralismo.4- Escola particular
de sofistas que tomaram o nome de “naturalista”.

Protágoras (sofista)
Fundador do relativismo ocidental que expressou a fórmula “o homem é medida de todas
as coisas”, não existe critério absoluto para julgar o verdadeiro e o falso, o bem e o mal,
mas que cada homem julga conforme o próprio modo de ver as coisas. Para cada tese
pode trazer argumento favor ou contra e possível segundo Protágoras, tornar o mais forte
argumento no mais fraco, nisso consistia a virtude ( a habilidade do homem). Então o
verdadeiro e o falso, o bem e o mal, perdem qualquer determinação absoluta.
Entretanto nem tudo para Protágoras é relativo: o homem é medida da verdade é medido
pelo útil e pelo danoso, estes tornam referências.
O homens são por aquilo que são e das que não são por aquilo que não são ( princípio do
homem mensura). Não existe critério absoluto (relativismo), o único critério é apenas o
homem individual “ Tal como cada coisa aparece para mim, tal é para mim; tal coisa que
aparece para você , é para você.” Sendo assim ninguém está no errro , mas todos estão
com a verdade ( a sua verdade).
Relativismo, em torno de cada coisa há dois raciocínios que se contrapõem ( é possível
dizer e contradizer) é possível apresentar razões que se anulam reciprocamente. Pode
tornar o argumento mais fraco no mais forte, não quer dizer que Protágoras ensinasse a
injustiça e a iniquidade contra a justiça e a retidão, mas ensinava a todos como a técnica
era possível ( qualquer que fosse o conteúdo).
A virtude era a habilidade de saber prevalecer qualquer ponto de vista sobre opinião
oposta. Portanto tudo é relativo, não existe verdadeiro absoluto e também não existem
valores morais ( bens absolutos). Existe algo que é mais útil, mais conveniente e mais
oportuno, sabendo convencer também os outros a reconhece-lo e pô-lo em prática.
Dessa forma o relativismo recebe forte limitação. Com efeito, pareceria que enquanto é
medida e mensurada em relação a verdade e a falsidade, o homem seja medido em relação
a utilidade, de alguma forma a utilidade venha se apresentar como objetiva. O bem e o
mal seria útil e danoso e o melhor e o pior, o mais útil e mais danoso.

Górgias de Leontini
A palavra perdendo qualquer relação com o ser, não é mais veículo da verdade, mas torna
portadora da persuasão e sugestão: se esta ação tem propósito prático ( convencer o
público na assembleia, juízes num processo) temos a retórica (oratória), se ao invés, tem
propósito puramente estético, temos a arte.
Parte do niilismo para construir o edifício da retórica. Não existe o ser, mesmo que fosse
pensável, o ser permaneceria inexprimível. A palavra não pode produzir verazmente coisa
nenhuma que não seja ela própria. Como a vista não conhece os sons, igualmente o ouvido
não conhece as cores, mas os sons; e diz o certo quem diz, mas não diz uma cor, nem uma
experiência.
Elimina a possibilidade de conhecer a verdade uma “verdade” absoluta, restanto o
caminho da opinião que é negada também ( a mais pérfida). Então existe o caminho da
razão que se limitar a iluminar fatos, circunstâncias e situações da vida, sem chegar a dar
um fundamento adequado.
Se não existe verdade absoluta e tudo é falso, a palavra adquire então autonomia própria,
quase ilimitada, por que desliga dos vínculos do ser. A palavra pode se tornar disponível
para tudo. No plano teórico da verdade que prescinde de toda verdade, ela pode ser
portadora da persuasão, crença e sugestão, tendo enorme importância na política.
• Niilismo é a teoria filosófica que se fundamenta sobre a admissão de que não
existe ser e, portanto, o nada existe. No niilismo metafísico segue orelativismo
gnosiológico e moral, enquanto na ausência do ser, não é possível fixar uma
verdade, um bem absoluto.
Página 79

Pródico de Ceos
Descobriu a técnica da sinonímia, a pesquisa dos termos sinônimos e das diferentes
nuanças dos seus significados. Permiti elaborar discurso sutis e convincentes nos debates
públicos e nas assembleias.
Erísticas e Sofistas- Políticos
Alguns sofistas abusando da técnica da refutação, sem ter qualquer ideal a realizar,
perderam-se na pesquisa de jogos de conceitos e na formulação de dilemas insolúveis, os
tipos de raciocínios que ainda hoje chamamos de sofismos. Tais sofistas chamados de
‘Erísticos”, homens empenhados na briga das palavras. Alguns sofistas políticos ( assim
denominados), aplicaram-se a arte da política e forçaram a conquista do poder, pondo-se
contra a moral e a fé tradicional de modo provocativo.
Os Erísticos ( 38 estratégias para vencer um debate de shopenhauer é dialética
Erística)
A arte da controvérsia com palavras que tem por fim a controvérsia em si mesma. Os
Erísticos cogitaram uma série de problemas, que eram formulados de modo a prever
respostas tais que fossem refutáveis em qualquer caso, dilemas que mesmo sendo
resolvidos, tanto em sentido afirmativo como negativo, levavam a respostas sempre
contraditórias, hábeis jogos de conceitos construídos com termos que em virtude de sua
semântica, levava o ouvinte sempre em posição de xeque mate. Os Eristicos cogitaram
todo aquele arsenal de raciocínios capciosos e enganosos chamados de sofismas.

Os sofistas políticos
Derivam da arma do niilismo e da retórica gorgiana, quando não da contraposição entre
natureza e lei. Dessacralizou o conceito dos deuses, considerando-os uma espécie de
espantalho habilidoso introduzido por um homem político particularmente inteligente,
para fazer respeitar as leis, que por si, não tem força para se impor, sobretudo naqueles
casos em que os homens não são vistos pelos guardiões da lei. Nesse contexto afirmaram
que “o justo é a vantagem do mais forte”. Modo de pensar dos sofistas políticos “ é por
natureza justo que o forte domine o mais fraco, subjugando-o inteiramente. Mas esses
sãos os resultados deteriorados da Sofística, a outra face mais autêntica e positiva, serão
revelados por Sócrates.

A corrente naturalista da Sofística


O conhecimento da natureza fosse indispensável para a boa conduta da vida, na qual deve
seguir as leis da natureza, mais que as leis humanas. A natureza une os homens, enquanto
a lei frequentemente os divide. Portanto, desvaloriza a lei quando à medida que se opõe
a natureza.
Antifonte
O iluminismo sofístico dissolveu os velhos preconceitos de casta aristocrata, o
preconceito comum a todos os gregos a respeito da própria superioridade sobre outros
povos. Por que a natureza de um homem é igual ao de outro homem. Ele não consiste em
dizer em que consiste tal igualdade, no máximo impele a dizer que todos somos iguais
por que temos as necessidades naturais.
Conclusões sobre a sofística
A sofística atuou complexivamente uma profunda ação crítica sobre a moral ( em sentido
relativístico, niilistico e utilitarisco), sobre o conhecimento ( o logos não leva a uma
verdade isenta de controvérsia) e sobre a religião, mas não soube construir alternativa
filosóficas válidas para a criticada.
Eles abriram caminho para a moral, embora não tenha sabido alcançar seus fundamentos
últimos, por que não conseguiram determinar a natureza do homem enquanto tal. Tem
certos aspectos do sofismo que para muitos parecem excessos destrutivos, tem sentido
positivo. Era preciso que certas coisas fossem destruídas para que pudessem ser
reconstruídas sobre novas bases sólidas
Exemplos mais significativos:
• Os naturalistas criticaram as velhas concepções antropomórficas (forma de
pensamento que atribui características ou aspectos humanos a animais, deuses,
elementos da natureza e constituintes da realidade em geral. Nesse sentido, toda a
mitologia grega, por exemplo, é antropomórfica) do divino, identificando esse
com seu princípio. Agnostismo, niilismo (ponto de vista que considera que as
crenças e os valores tradicionais são infundados e que não há qualquer sentido ou
utilidade na existência) deuses com existência concreta e objetiva a uma realidade
ficitícia; ideologias de um hábil político onde deus tem a função de vigiar,
contribuindo para exercício da lei. Depois dessas críticas não se podia voltar atrás,
para pensar no divino, seria preciso procurar encontrar uma esfera mais elevada
para onde colocá-la.
• Antes do surgimento da filosofia, a verdade não distinguia das aparências. Os
naturalistas contrapuseram ologos as aparências e só nele reconheceram a
verdade. Mas Protágoras cindiu os logos nos dois raciocínios e descobriu que o
logo diz e contradiz. E Górgia rejeitou o logos como pensamento e só o salvou
como palavra mágica (sinônimos que influenciam o significado), mas encontrou
a palavra que pode dizer tudo e o contrário de tudo, não podendo expressar nada.
O pensamento e a palavra perderam seu objeto e sua norma, perdendo o ser e a
verdade. A palavra e o pensamento deveriam recuperar a verdade em um nível
mais elevado.
• Os sofistas destruíram a velha imagem do homem, própria da poesia e da tradição
pré-filosófica, mas não souberam reconstruir uma nova. Protágoras Entendeu o
homem como sensibilidade e sensação relativizante. Górgias como sujeito de
emoções móveis, suscetível de ser arrastado em qualquer direção pela retórica e
os sofistas falaram do homem como natureza biológica e animal, silenciando a
natureza espiritual.

Os sofistas- O homem e a sua virtude


Deslocam o interessa da filosofia da natureza para o homem. Instauram um clima natural
que se poderia chamar com o moderno termo iluminista. Criticam a religião em
perspectiva também atéia. Criticam o conceito de verdade e de bem. Destroem a imagem
tradicional do homem. Consideram a virtude como objeto de ensino. Apresentam como
mestres de virtude. São a expressão da crise aristocracia e da ascensão política das novas
classes.
Qual é o bem e o mal para o homem? Protágoras- O indivíduo é a medida de todas as
coisas e, portanto, também do bem e do mal, do verdadeiro e do falso, mas está vinculado
do critério do útil. Esta é a primeira forma do relativismo.
Gorgias- Não existe bem e mal, verdadeiro ou falso por que nada existe. E mesmo que
existisse, não seria cognoscível (que se pode reconhecer) e mesmo que fosse cognoscível,
não seria comunicável. Esta é a primeira forma de niilismo.
Pródico de Ceos- Interpreta a chave utilitarista a moral e particularmente o conceito do
bem.
Hipias e Antifontes- Verdade (bem) é aquilo que está conforme a lei da natureza. Opinião
é aquilo que está conforme a lei positiva. Enquanto a primeira oferece firme referência
ética e leva o igualitarismo, a segunda leva a discriminação entre os homens. Nascem os
conceitos de lei da natureza e lei positiva.
Eristicos e Sofistas Políticos- Dessacralizaram (desmistificaram) a religião, fazem o uso
instrumental e ideológico da retórica em vista da conquista do poder. É a força da razão
com qual se pode torna o argumento fraco em mais forte e buscar o útil da cidade. É
conhecimento da arte da sinonímia que permite encontrar sinônimos para tornar os
discursos mais convincentes.
Lei natural e lei positiva
A existência da lei natural é de grande importância. Ela é que garante o valor objetivo das
leis que regem o convívio entre os homens. Não havendo lei natural, anterior à vontade
ou à veleidade dos legisladores, toda a sociedade cai sob a arbitrariedade dos seus chefes
e partidos, precipitando-se no caos. Em todos os povos primitivos encontra-se a noção
dos preceitos morais básicos, como: ‘é preciso fazer o bem...’ ‘honrar pai e mãe...’
‘cultuar a divindade’; tais normas não são atribuídas a determinado chefe ou cacique, mas
à própria natureza ou à divindaA própria razão aponta a existência da lei natural.

Quem admite a existência de Deus Criador admitirá que tenha infundido dentro das
criaturas livres, feitas à sua imagem, algumas grandes normas que encaminham o homem
à consecução da vida eterna. Essa orientação interior é precisamente o que se chama de
"lei natural". Ademais, a negação da lei natural leva a dizer que os atos mais abjetos
podem vir a ser considerados virtudes e vice-versa. Quem não reconhece a lei natural
atribui ao Estado civil o poder de definir o bem e o mal éticos; a vontade do Estado torna-
se a fonte da moralidade e do direito; deste princípio segue-se a legitimidade do
totalitarismo, de que testemunhou o século XX.

Só há leis positivas, isto é, leis cujo fundamento é tão-somente a vontade do legislador


(Assim doutrinava Augusto Comte) Não haveria instância mais profunda para basear as
leis humanas do que o próprio autor da lei. Não existiriam atos bons e maus por si, mas
unicamente por decreto do legislador; apenas este é que definiria se determinado
comportamento humano é ou não criminoso. Pensando assim, esse positivismo leva ao
absolutismo e totalitarismo do Estado, negando a existência de Deus e de qualquer valor
transcendental.

O homem é, antes do mais, liberdade, de modo que ele define livremente, a partir das
circunstâncias em que se acha, o que é bem e o que é mal. Desse modo, o existencialismo
ateu também nega a lei natural, pois contesta todo o valor perene, essencial e universal.
Negando a existência de Deus, tais pensadores só conhecem valores e desvalores
passageiros e relativos. As normas vigentes em cada sociedade são o fruto contingente da
cultura dessa sociedade. Para o socialismo jurídico elas são meramente convencionais. O
bem e o mal seriam tais unicamente porque a sociedade assim os resolveu considerar.
Pena que pensem dessa maneira. A sociedade consta de pessoas que têm todas a mesma
estrutura física e psíquica, dotadas das mesmas aspirações fundamentais e movidas por
certas normas vigentes em todo o homem, de qualquer época ou lugar.
Página 83 ( caderno de blocos sobre a lei natural e positiva).
Protágoras- O homem como medida de todas as coisas
O homem é a medida de todas as coisas, das que existem por aquilo que são e das que
não existem por aquilo que não são. É a carta magna do relativismo ocidental. Para um
existem e parecem certas coisas, para outros existem e parecem coisas diferentes. Esta
frase se enquadra nas doutrinas sofistas, que defendem o relativismo e a subjetividade, ou
seja, cada pessoa constrói a sua própria verdade. O que é verdade para uma pessoa, poderá
não ser verdade para outra.
O homem tem o poder para determinar o valor ou significado das coisas, criando a sua
própria realidade. Esta frase se opunha à filosofia de Sócrates, que defendia a verdade
absoluta e as verdades de valor universal. Sócrates foi muito crítico em relação ao
sofismo, na medida em que usava a retórica e o relativismo como instrumentos para
atingirem objetivos particulares. Os sofistas cobravam dinheiro aos seus alunos para
ensinar técnicas de discurso, para que pudessem persuadir os seus ouvintes.
No que podemos se tornar melhor com certa pessoa? Arte da política, lutas, engodo,
espiritualmente etc. Tem que ver o que aprendemos com cada tipo de pessoa.

Górgia – O niilismo-
Para fundamentar sua filosofia toma por base o niilismo, a descrença por razão principal,
onde nada existe de absoluto, onde não existem verdades morais e nem hierarquia de
valores. A verdade não existe, qualquer saber é impossível e tudo é falso porque é ilusório.
Seu niilismo baseia-se em três tópicos, primeiro na não existência do ser, existe somente
o nada. O ser não é uno, não é múltiplo, nem incriado e nem gerado, por conseguinte o
ser é nada. Segundo, mesmo que o ser existisse ele não poderia ser conhecido pois se
podemos pensar em coisas que não existem é porque existe uma separação entre o que
pensamos e o ser, o que impossibilita o seu conhecimento. E terceiro, mesmo que
pudéssemos pensar e conhecer o ser nós não poderíamos expressar como ele é porque as
palavras não conseguem transmitir com veracidade nada que não seja ela mesma. Quando
comunicamos, comunicamos palavras e não o ser.
O filósofo destrói dessa forma a possibilidade de alcançarmos a verdade absoluta. Nossa
razão somente pode iluminar as situações em que os homens vivem mas não tem a
capacidade de formular regras absolutas. Podemos somente analisar a condição em que
nos encontramos e expor o que devemos ou não fazer e mesmo o que devemos ou não
fazer muda muito dependendo da situação em que nos encontramos. Uma mesma
atividade pode ser boa ou ruim dependendo de quem a pratica e em que situação se
encontra.
A arte da retórica como sumo poder do homem
Górgias como consequência do seu niilismo, dirigiu atenção para o poder da palavra do
homem, não considerada como expressão de verdade, mas como portadora de persuasão
psicológica, de sugestão e criadoras de crenças.

Sócrates e a fundação da filosofia moral ocidental


Sócrates não deixou escritos, mas confiou seu saber aos discípulos mediante a diálogo,
na dimensão da pura oralidade. Daí a dificuldade de reconstruir sua doutrina, seguindo de
várias testemunhas divergentes entre si, por que as pessoas procuravam o que lhe
interessaram
A sabedoria humana de Sócrates consiste na justificação filosófica (de um fundamento)
da vida moral. Esse fundamento consiste na própria natureza ou essência do homem. A
diferença dos sofistas, Sócrates chega a essa conclusão: o homem é a sua alma. E por
alma ele entende a consciência, a personalidade intelectual e moral (capacidade de
entender e de querer). Conhecer a si mesmo significa, reconhecer tal verdade.
Se o homem é a alma, a virtude do homem se atua com a cura da alma, fazendo com que
ele se realize da melhor forma possível. E como a alma é atividade cognitiva, a virtude
será essencialmente potencialização dessa atividade, ou seja, será a ciência do
conhecimento
Dado que o corpo é instrumento da alma, também os valores ligados ao corpo serão
instrumentais em relação aos da alma e, portanto, por eles subordinados.
Se a virtude é uma ciência, temos duas consequências: Existe uma só virtude que é o
mínimo denominador comum e o fundamento de todas as múltiplas virtudes. Ninguém
pode pecar voluntariamente, por que quem peca se engana sobre o valor daquilo a que a
própria ação tende, considera um bem aquilo que é mal, aquilo que é bem apenas na
aparência. Bastaria mostrar a quem erra a verdade e este corrigiria o próprio erro.
Ainda no conceito de psyche (personificação da alma) deriva a descoberta socrática da
liberdade, entendida como liberdade interior, o autodomínio. Uma vez que a alma é
racional, ela alcança a sua liberdade quando se livra de tudo que é irracional, ou seja,
paixões e instintos. Dessa forma o homem se liberta o mais possível das coisas que
pertencem ao mundo externo e que alimenta suas paixões.
A felicidade assume valência espiritual e se realiza quando na alma prevalece a ordem.
Tal ordem se realiza justamente mediante a virtude. Afirma-se o princípio que a virtude
é prêmio para si mesma e deve ser buscada por si mesma.
Nas relações com os outros a violência jamais vence: o verdadeiro vencer consiste em
“convencer” (tema da não violência). Sobre deus deduzia a constatação de que o mundo
e o homem são constituídos de modo tal- segundo tal ordem e tal finalidade- que exige
uma causa adequada. Deus a inteligência ordenadora e providência. Uma providência que
não se ocupa do homem individual, mas do homem em geral, fornecendo o que lhe
permita a sobrevivência. Todavia, deus é bom, ocupa-se indiretamente com o homem
bom, como acontece no caso específico de Sócrates com a voz divina ( o daimon) que
indica algumas coisas a se evitar.
O método usado por Sócrates no seu ensinamento foi o diálogo articulado em dois
momentos: o irônico refutatório e o maiêutico. Em geral, o método dialógico de Sócrates
é constituído por dois momentos fundamentais; a ironia, que denuncia as verdades feitas
e o falso saber dos que pretendem reduzir o verdadeiro ao verosímil, e a maiêutica, técnica
através da qual se consegue observar como é que uma ciência desconhecida se transforma,
progressivamente, numa ciência conhecida.
Sócrates pretendia que o seu questionamento sistemático levasse os outros a um
ponto crucial de consciência crítica, procurando a verdade no seu interior, dando
assim lugar a uma espécie de "parto intelectual". A maiêutica é, portanto, a fase
positiva, construtiva, do método socrático.
Neste diálogo, as características principais do método de Sócrates são o seu
carácter dialético, aporético, irónico, a procura da definição e a coerência prática.
Sócrates é quem possui a arte subtil da dialética, é "um jogo de espírito e de
finura feito de fintas e de esquivas, torneio de raciocinadores armados de
argumentações estratégicas e de objecções estáticas. Através de perguntas e
respostas pretende dar e devolver argumentos entre interlocutores através de um
discurso curto e preciso cujo objetivo era a verdade.
Numa primeira fase, Sócrates procura destruir a aparente coerência do raciocínio
dos interlocutores, levando-os a que falem sobre o que defendem para os obrigar
a refletir sobre o que fazem. Opondo-se à verdade estereotipada, ao dogmatismo,
e pretendendo destruir os preconceitos irrefletidos, quer que se apercebam da
falsa "verdade" das suas afirmações, forçando-os a reconhecer a sua ignorância.
Os adversários de Sócrates ficam por isso embaraçados com as suas perguntas
insidiosas e precisas. As suas respostas demonstram a fraqueza dos seus
argumentos e opiniões. Atingido esse momento, Sócrates usava então uma das
suas outras técnicas: 'dar a mão' ao interlocutor, apesar de achar que este estava
vencido no argumento usado — com isso pretendia que não houvesse vencedor
nem vencido e que se fizesse claro que apenas conjuntamente se pode estabelecer
a verdade.
O carácter aporético do discurso prende-se com o facto de Sócrates não responder
às questões que lança. Não dá respostas positivas, pois não pretende informar,
mas formar. O que viesse do mestre em sentido único teria apenas um efeito
exterior sobre a consciência do outro; a formação só pode efetuar-se segundo o
ritmo e as exigências próprias do desenvolvimento individual de cada um.
Sócrates repete que nada sabe, nada tem para ensinar, nem ninguém a quem
formar e, não tendo nada para oferecer, a não ser a sua companhia, basta que cada
um pense por si próprio para se aperceber de que sabe mais do que ele —
"Ignorância fingida, falsa modéstia, artimanha pedagógica de todo o mestre-
pensador?"
Sócrates procura na "dialética" muito mais do que um método de educação; vê
nela um modelo da verdade, cujo princípio básico poderia ser: admitir apenas
como verdade aquilo que o interlocutor reconheceu claramente como verdadeiro.
Uma verdade não partilhada com outros permaneceria num estado de opinião ao
qual se poderia chamar de estéril. Para Sócrates a educação não é uma mera
transmissão de saberes mas o despertar do saber existente em cada um através da
autorreflexão.
Outra das características do diálogo é a ironia zombeteira que anula o saber
irrefletido do interlocutor e reduz a zero as suas pretensões normativas. Passa-se
da certeza à dúvida e do suposto saber ao questionamento dos seus
fundamentos. Há nos diálogos de Sócrates uma curiosa revolta irónica, a Ironia
Socrática, séria e trocista: O "eu não sei nada (daquilo que julgas que eu sei), mas
tu sabes (o que tu ainda não sabes que sabes)" desdobra-se num "tu não sabes
nada (do que julgas saber), mas eu sei (o que nem sequer suspeitas)". É por isso
que, no fundo, o método de Sócrates não está longe da ironia no sentido moderno,
que, nem hipócrita nem verdadeiramente franca, diz a verdade parecendo dizer o
contrário, sem nunca sabermos por onde pegar.
A ironia é uma atitude profundamente filosófica. Ao incidir sobre as coisas, sobre
os outros ou sobre nós mesmos, tem um efeito purificador e salutar.
Contrariamente ao sarcasmo, que são sinais de vaidade, ou à hipocrisia, que se
torna maligna, a ironia simples e subtil permite distanciar-nos e colocar, entre nós
e as nossas necessidades, o tempo de uma interrogação ou o espaço de uma
pergunta zombeteira. Ironizar sobre si próprio; do que faz maquinalmente, do que
julgamos saber, daquilo que estamos certos de acreditar, porquê e para quê? A
ironia, ao roubar momentos de consciência à seriedade das coisas e da existência,
pode considerar-se como um luxo. A filosofia socrática é esse luxo. É preciso ter
tempo para nos abstrairmos do tempo que vai passando, para nos surpreendermos
com aquilo que já não surpreende.
O método de Sócrates pretende ensinar o uso e o valor das definições precisas dos
conceitos que se empregam nas discussões do quotidiano. Não as construiremos
sem, previamente, procedermos a uma revisão das noções tradicionais, do senso
comum, das concepções vulgares incorporadas na linguagem. Esta necessidade
de se discutirem conceitos, como ponto de partida para a construção de um
raciocínio rigoroso, está bem patente nos momentos do diálogo Protágoras.
Numa primeira fase dos diálogos ocorre como que um resultado aparentemente
negativo, que se pode considerar como a fase destrutiva do método, e que é de
extremo valor. De facto, é muito importante saber que não se sabe e que o senso
comum e a língua comum são apenas pontos de partida para a reflexão filosófica,
e que a discussão dialéctica tem justamente por fim ultrapassá-los e superá-los. A
catarse destruidora constitui uma condição indispensável de reflexão pessoal que
proporcionará a pesquisa da verdade. Sócrates preocupa-se com a procura da
definição dos conceitos imutáveis e universais de Bem, Verdade, Justiça,
Coragem e outras qualidades morais; ao tentar definir esses conceitos procura as
verdades universais, comuns a todos os homens. Só quando estes souberem o que
significam palavras como justiça, coragem, piedade e virtude é que poderão ter a
pretensão de agir com justiça, tornando-se verdadeiramente justos, corajosos e
piedosos.
Seu método era montado do não saber, não recorria a discursos de parada e a
longos monólogos, mas seguia com seus interlocutores um método de pergunta e
resposta, apresentando como aquele que não sabe e pede para ser instruído, era
uma simulação irônica para constranger o adversário a expor completamente as
suas teses. Ao fazer a pessoa se definir em termos precisos, na maioria das vezes
o interlocutor se confundia e caía em contradições. E de tal modo, atuava-se a
refutação e o interlocutor obrigava-se a reconhecer os próprios erros. E sempre
mediante a perguntas e respostas, conseguia fazer nascer a verdade no
interlocutor.
O interesse de Sócrates era de tipo ético e não lógico e tais formas não eram o fim
da sua especulação, mas o meio para obter determinado escopo, justamente moral
e especulativo. Sócrates levou o pensamento filosófico a um plano mais elevado
em relação aos Sofistas, mas levanto uma série de questões que não resolveu.
Ancorou a moral no conceito da alma, mas definiu a alma apenas em termos
funcionais, indicou sua atividade e não a sua natureza, ou seja, qual é o seu ser.
O mesmo pode-se dizer de deus: disse como Deus age, mas não precisou sua
natureza ontológica (estuda a natureza do ser, da existência e da própria
realidade). Desses problemas Platão e Aristóteles apresentarão soluções
detalhadas.
A vida de Sócrates e a questão socrática ( o problema das fontes)
Nasceu em Antenas e morreu em 399 a.c, por condenação de impiedade (acusado
de não crer nos deuses da cidade e de corromper os jovens), mais por trás de tais
acusações, escondeu ressentimentos de vários tipos por manobras políticas. Não
fundou uma escola como outros filósofos, realizando seus ensinamentos em locais
públicos, como uma espécie de pregador leigo, exercendo fascínio sobre os jovens
e homens de todas as idades, o que lhe custou inúmeras aversões e inimizades.
Sócrates nada escreveu, considerando sua mensagem por palavra viva, através de
diálogos e dialética. Seus discípulos fixaram por escrito uma série de doutrinas
por ele atribuída. Mas tais doutrinas frequentemente se contradizem.
Platão idealiza Sócrates e o torna porta-voz também de sua próprias doutrinas,
desse modo é difícil estabelecer o que é efetivamente de Sócrates ou
repensamentos de Platão. Aristóteles fala de Sócrates ocasionalmente, mas não
teve contato direto com ele. Tivemos vários Socráticos fundadores dos assim
chamados “escolas socráticas menores”.
A descoberta da essência do homem ( o homem e sua psyche)
Sócrates concentrou definitivamente seu interesse na problemática do homem.
Procurando resolver os problemas do princípio e da physis (natureza enquanto
fonte de progresso e evolução). Se concentrou no homem assim como os sofistas,
mas ao contrário deles conseguiu chegar no fundo da questão.
Os naturalistas procuram responder a seguinte questão: “ O que é a natureza ou a
realidade última das coisas?” Sócrates, ao contrário procura responder a questão:
“ O que é a natureza ou a realidade última do homem?” ou seja; “O que é a
essência do homem?”. A resposta finalmente precisa e inequívoca: o homem é a
sua alma, enquanto é precisamente sua alma que o distingue especificamente de
qualquer outra coisa. E por “alma” Sócrates entende toda a nossa razão e a sede
de nossa atividade pensante e eticamente operante. Em poucas palavras para
Sócrates a alma é o eu consciente, ou seja, a consciência e a personalidade
intelectual e moral. Com essa descoberta Sócrates criou a tradição moral e
intelectual sobre qual a Europa espiritualmente se construiu.
É evidente que se a essência do homem é a alma, cuidar de si mesmo. Significa
cuidar da própria alma mais do que do corpo. E ensinar os homens a cuidar da
própria alma é tarefa suprema do educador. Sócrates dizia que não devíamos
cuidar do corpo e nem das riquezas, nem de qualquer coisa antes e mais do que a
alma, de modo que ela se torne ótima e virtuosa, que não das riquezas que nasce
a virtude, mas da virtude nasce as riquezas e todas as outras coisas que são bens
para os homens, tanto individualmente para os cidadãos como para o estado.
Um dos raciocínios fundamentais de Sócrates: Uma coisa é o “instrumento” que
se usa e outra é o “sujeito” que usa o instrumento. O homem usa o próprio corpo
como instrumento, o que significa que o sujeito, que é o homem, e o instrumento
que é o corpo, são coisas distintas. Assim a pergunta “O que é o homem?”, não
se pode responder que é o seu corpo, mas sim que é aquilo que serve de corpo.
Mas o que serve de corpo é a psyche, a alma ( a inteligência), de modo que a
conclusão é inevitável: A alma nos ordena conhecer aquele que nos adverte
“conhece a ti mesmo”
O novo significa de virtude e o novo quadro de valores
Aquilo que chamamos de “virtude” os gregos denominavam areté, aquilo que
torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é... o modo de ser que aperfeiçoa cada
coisa, fazendo-a se aquilo que deve ser. Os gregos falavam de virtude de vários
instrumentos como: o do cão é de ser um bom guardião e do cavalo correr
velozmente. E a do homem que sua alma seja como a natureza determina que seja,
isto é, boa e perfeita. E segundo Sócrates esse elemento é a ciência ou o
conhecimento, ao passo que o vício seria a privação da ciência ou de
conhecimento, ou seja, a ignorância.
Desse modo Sócrates opera uma revolução no tradicional quadro de valores. Os
verdadeiros valores não são ligados as coisas exteriores, como riqueza, o poder,
a fama e tampouco ligado ao corpo, como a vida, vigor, a saúde e a beleza, mas
somente aos valores da alma, que resume todos no conhecimento. Isso não quer
dizer que os valores tradicionais tornaram-se necessariamente desvalores,
significa que em si mesmos não têm valor. Tornam -se ou não valores somente se
forem usados como o “conhecimento”, exige em função da alma e de sua areté.
Os paradoxos da ética socrática
A tese socrática foram considerada como paradoxos, mas que são importantes e
devem estar claras: 1- A virtude é a sabedoria, justiça, fortaleza e temperamento
e ciência. Os vícios uma ignorância.2- Ninguém peca voluntariamente, que faz o
mal, faz por ignorância do bem.
Isso denomina o intelectualismo socrático, enquanto reduzem o bem moral a um
dado conhecimento, uma vez que se torna impossível conhecer o bem e não fazê-
lo. O intelectualismo socrático influenciou todo o pensamento grego (época
clássica e helenística)
Em primeiro lugar, cabe destacar a forte carga sintética (resumida). Com efeito,
a opinião corrente entre os gregos antes de Sócrates, até mesmo dos sofistas que
pretendiam ser os mestres da virtude, considerava as diversas atitudes como uma
pluralidade ( uma coisa é a justiça, outra a santidade, outra a prudência, outra a
temperança, outra a sabedoria), mas da qual não sabiam captar o nexo (ligação
entre as coisas) essencial, aquele algo que faz com que as diversas virtudes seja
uma unidade ( algo que faça precisamente com que todas e cada uma seja
virtudes). Além disso todos viam as diversas virtudes como coisas fundadas nos
hábitos, nos costumes e nas convenções aceitas pela sociedade. Sócrates, no
entanto tenta submeter a vida humana e os seu valores ao domínio na razão ( assim
como os naturalistas tentaram submeter os cosmos e suas manifestações ao
domínio da razão). E para ele a própria natureza do homem é a sua alma, ou seja,
a razão, então é evidente que a virtudes revelam-se como uma forma de ciência e
de conhecimento, precisamente por que são a ciência e o conhecimento que
aperfeiçoam a alma e a razão.
Mas complexa são as motivações, Sócrates viu muito bem que o homem por sua
natureza, procura sempre seu próprio bem e que quando faz o mal, na realidade
não o faz por que se trata do mal, mas por que espera daí extrair um bem. Dizer
que o mal é involuntário significa que o homem engana-se ao esperar dele um
bem e que, na realidade, está cometendo um erro de cálculo e portanto se
enganando. Ou seja é vítima da ignorância.
Sócrates tem perfeita razão quando diz que o conhecimento é condição necessária
para fazer o bem ( por que se não conhecermos o bem, não podemos fazê-lo), mas
engana-se ao considerar que, além da condição necessária, seja também condição
eficiente. Sócrates cai em excesso de racionalismo. Com efeito, para fazer o bem
é necessário o concurso da vontade. Mas os filósofos gregos não detiveram sua
atenção na vontade, que se tornaria central e essencial na ética dos cristãos. Para
Sócrates é impossível que “vejo e aprovo o melhor, mas no agir me tenho ao pior”,
porque quem vê o melhor também necessariamente o faz. Em consequência para
Sócrates, como para quase todos os filósofos gregos, o pecado é um erro de
cálculo, a um erro da razão, justamente a ignorância do verdadeiro bem.
A descoberta socrática do conceito de liberdade
A mais significativa manifestação da excelência da psyche ou razão humana se
dá naquilo que Sócrates denominou de “autodomínio”, ou seja domínio de si
mesmo nos estados de prazer, dor e cansaço, no urgir das paixões e dos impulsos.
Considerando o autodomínio como base da virtude, cada homem deveria procurar
tê-lo. Substancialmente, o autodomínio significa o domínio da própria
racionalidade sobre a própria animalidade, significa torna a alma senhora do
corpo e dos instintos ligados ao corpo ( domínio da racionalidade sobre a
animalidade). O verdadeiro homem livre é aquele que saber dominar seus
instintos, o verdadeiro homem escravo é aquele que não sabendo dominar seus
instintos, torna-se vítima deles.
Estreitamente ligado a esse conceito de autodomínio e de liberdade, encontra-se
o conceito de autarquia, isto é, de autonomia. Deus não necessita de nada e o sábio
é o que mais aproxima desse estado, sendo portanto aquele que procura ter
necessidade apenas de muito pouco. Com efeito, para o sábio que vence os
instintos e elimina todas as coisas supérfluas, basta a razão para viver feliz.
O novo conceito de felicidade
Para os gregos e Sócrates felicidade significava ter a sorte de possuir um demônio
guardião bom e favorável, que garantiria boa sorte, vida próspera e agradável.
Heráclito escrevia que o caráter moral é o verdadeiro demônio do homem e que a
felicidade é bem diferente dos prazeres, ao passo que Demócrito dizia que não se
tem felicidade em bens exteriores e que a alma é morada da nossa sorte.
Co bases das premissas o discurso de Sócrates aprofunda que a felicidade não
pode vir das coisas exteriores, do corpo, mais somente da alma, por que está é a
sua essência. E a alma é feliz quando ela é ordenada, isto é, virtuosa. Assim como
a doença e a dor física são desordem do corpo, a saúde da alma é ordem da alma,
essa ordem espiritual ou harmonia interior é a felicidade.
Dessa forma o homem virtuoso não pode receber nenhum mal, nem na vida e nem
na morte. Nem na vida, por que os outros pode danificar os haveres ou o corpo,
mas não arruína a harmonia interior e a ordem da alma. E nem em morte por que
existe premiação (das suas virtudes) , se existir vida no além. A virtude já tem seu
bem em si mesmo (intrinsicamente). Por isso vale a pena ser virtuoso, por que a
própria virtude já constitui um fim. O ser humano pode ser feliz em qualquer
circunstância ou no além (segundo Sócrates). O homem é o verdadeiro artificie
de sua própria felicidade ou infelicidade.
A revolução da não violência
Do ponto de vista jurídico Sócrates foi condenado por que não acreditava nos
deuses da cidade e corrompia os jovens, por que ensinava essa doutrina. Sendo
que esses dois crimes procediam. Ele se defendeu no tribunal corajosamente,
tentando demonstrar que estava com a verdade, mas não conseguiu convencer os
juízes, aceitou a condenação e recusou a fugir do cárcere, apesar dos amigos terem
organizado a sua fuga. Sua motivação foram exemplares: a fuga seria violação do
veredito e, portanto, violação da lei. A verdadeira arma que o homem possui é a
sua razão e portanto, a persuasão. Se fazendo o uso da razão o homem não
consegue alcançar seus objetivos com a persuasão, então deve conforma-se, por
que a violência é coisa ímpia.
Com Sócrates foi explicitamente teorizada a concepção da revolução “da não
violência”, sendo demonstrado com a própria morte, sendo transformado em
“conquista para sempre”. Também Mather Luther King se fez de usos socráticos,
assim como princípios cristãos.
A teologia socrática
Qual era a concepção de Deus que Sócrates ensinava a ponto de ser condenado a
morte. Era a concepção indireta dos filósofos naturalistas, o Deus inteligente
ordenador. É a inteligência que conhece todas as coisas sem exceção é a atividade
ordenadora e providência. É uma providência que se ocupa do homem, do mundo,
como também do homem virtuoso em particular. Para a mentalidade antiga, o
semelhante tem comunhão com o semelhante, razão por qual Deus tem comunhão
estrutural com o bom, mas não do homem individualmente enquanto tal e menos
ainda do homem mau. Somente o pensamento cristão é que surgiria com uma
providência que se ocupa com o indivíduo enquanto tal.
A causa real é, em cada caso, que o melhor é que as coisas sejam como são; e que
num mundo ordenado adequadamente cada coisa estará disposta na melhor forma
possível. Assim, Sócrates introduziu na filosofia a concepção teleológica ou
finalista da ordem do universo, como realização de uma finalidade de valor
absoluto.
O daimon socrático
Sócrates era também acusado de introduzir novas entidades divinas (novos
daimons). O daimon socrático era, portanto, uma voz divina que lhe vetava
determinadas coisas e ele interpretava como uma espécie de sortilégio, que o
salvou várias vezes do perigo ou de experiência negativas.
Deve se destacar que o daimon nada tem a ver com o campo das verdades
filosóficas, a voz de Sócrates não revela em absoluto a sabedoria humana de que
ele é operador, nem proposta geral ou particular da sua ética. Para Sócrates os
princípios filosóficos extraem suas verdades dos logos e não da revelação divina.
Sócrates não relacionou seu daimon nem mesmo sua opção moral de fundo, que
no entanto, considerava provir de uma ordem divina. O daimom não lhe ordenava,
mas lhe vetava. Excluídos os campos da filosofia e da ética de fundo, resta apenas
o campo dos eventos e ações particulares. É um fato que diz respeito ao indivíduo
Sócrates e aos acontecimentos particulares de sua existência: era um sinal que o
impedia de fazer as coisas particulares que acarretaria prejuízos. A coisa da qual
afastou da vida política.
Em suma o daimon diz respeito a personalidade excepcional de Sócrates, devendo
ser posto no mesmo plano de certos momentos de concentração muito intensa,
bem próximo dos arrebatamentos de êxtase em que Sócrates mergulhava algumas
vezes e durava longamente. Daimons não é a filosofia e o pensamento de Sócrates
( ele próprio manteve as coisas distintas e separadas).
O método dialético de Sócrates e sua finalidade
O método dialético está ligado a essência do homem como alma (psique), por que
tende de modo consciente despojar a alma da ilusão do saber, curando a dessa
maneira a fim de torna-la idônea a acolher a verdade. O método socrático é
fundamentalmente de natureza ética e educativa e apenas secundária,
imediatamente de natureza lógica e gnosiológica (teoria do conhecimento).
O método dialético de Sócrates e sua finalidade
O método Socrático está ligado a essência do homem para despojar a alma
humana da ilusão do saber, a fim de ela acolher a verdade. A finalidade é de
natureza ética e educativa, mediante a natureza lógica e gnosiológica. É um exame
moral como destaca seus contemporâneos.
Sócrates sofreu a morte por que seus opositores queriam se libertar de ter que
“desnudar a própria alma”. A dialética de Sócrates coincide com seu próprio
diálogo, que consta de dois momentos essenciais: a refutação e a maiêutica ( parir
o conhecimento, significa que o saber está latente no ser humano). Ao fazer
Sócrates valia da máscara do “não saber” e da temida arma da “ironia”.
O não saber socrático
Os sofistas mais famosos se relacionavam com os ouvintes na soberba atitude de
quem sabe tudo. Sócrates ao contrário, se colocava diante dos interlocutores na
atitude de quem não sabe e de quem tem tudo a aprender.
Cometeram muitos equívocos em relação a esse “ não saber”, a ponto de ver nele
o início do ceticismo, na verdade ele pretendia ser uma afirmação de ruptura:
Em relação ao saber dos naturalistas que se revelara vão, dos sofistas que logo se
revelara mera presunção, dos políticos e cultores de várias artes, que quase sempre
era inconsistente e acrítico (sem discernimento)
O não saber socrático pode ser relacionado além do saber do homem, o
relacionarmos também o saber de deus. Para Sócrates deus é onisciente e seu
conhecimento se estende do universo ao homem, sem qualquer espécie de
restrição. Quando se é comparado o saber divino com o saber do homem, mostra-
se toda a sua fragilidade e pequenez. É nessa ótica o saber ilusório de que falamos,
mas também a própria sabedoria humana socrática revela-se um não saber.
A contraposição entre o saber divino e o saber humano era uma das antíteses
muito cara a toda sabedoria proveniente da Grécia. Devemos salientar o poderoso
efeito irônico de benéfico abalo que o princípio do não saber provocava nas
relações com o interlocutor: provocava o atrito do qual brotava a centelha do
diálogo.
A ironia socrática (fingia ter a máscara da ignorância)
A ironia significa simulação, o jogo brincalhão e múltiplo, uma brincadeira que
tem sempre um objetivo sério e portanto é sempre metódica. Nota-se que a
simulação irônica fingia até mesmo acolher os próprios métodos do interlocutor,
especialmente quando este era homem de cultura ( um filósofo), brincava de
engrandecê-lo até o limite para derrubá-lo com a mesma lógica que lhe era próprio
e amarrá-lo na contradição.
A refutação e a maiêutica socrática
A refutação levava o interlocutor a reconhecer a sua própria ignorância. Primeiro
ele forçava uma definição do assunto sobre qual a investigação versava, depois
escavava vários modos a definição fornecida, explicava e destacava as carências
e as contradições que implicava, então exortava o interlocutor a tentar nova
definição, criticando e refutando com o mesmo procedimento e assim continuava
procedendo, até o momento em que o interlocutor se declarava ignorante.
É evidente que a discussão provocava irritação ou reações ainda piores nos
sabichões e nos medíocres. Nos melhores, porém a refutação provocava efeito de
purificação das falsas certezas, um efeito de purificação da ignorância. Platão
falava quem não passou pela purificação, era privado da educação.
Sócrates e a fundação da lógica
Sócrates pôs em movimento o processo que levaria a descoberta da lógica, mas
não alcançou de modo reflexo e sistemático. A pergunta “o que é?” como Sócrates
martelava seus interlocutores, não implicava já no ganho do conceito universal
com todas as implicações lógicas que este pressupõe. Ele queria por em
movimento todo o processo irônico-maiêutico, sem querer em absoluto chegar as
definições lógicas. Ele somente abria o caminho que levaria a descoberta do
conceito e da definição, antes ainda da descoberta platônica que deu um grande
impulso nessa direção. Faltava a Sócrates muitos instrumentos necessários para
esse objetivo, por que foram descobertas posteriores.
Sócrates foi de um formidável engenho lógico, mas não chegou a elaborar uma
lógica em nível técnico. Em sua dialética encontramos os germes de futuras
descobertas lógicas importantes. Então se explica o motivo pelas quais diferentes
escolas socráticas encaminharam para direções tão diversas.
Conclusões sobre Sócrates
O discurso de Sócrates trouxe uma série de novidades, mas também deixou em
aberto uma séria de problemas. Seu discurso sobre a alma ( a alma é aquilo pelo
qual somos bons e maus), exigia uma séria de aprofundamentos: se ela se serve
do corpo e a domina, isso quer dizer que é outra coisa que não o corpo. Sendo
assim, o que é? Qual é o seu ser? Qual é a sua diferença em relação ao corpo?
Sobre Deus, o que é essa divina inteligência? Em que se distingue desses
elementos físicos? Também a ilimitada confiança no logos em geral ( não no seu
conteúdo particular), foi duramente abalado pelo êxito problemático da maiêutica.
Isto é, o logos socrático não está em condições de fazer uma alma parir, mas
apenas as almas grávidas. O logos e o instrumento do diálogo não bastam para
produzir, para fazer com que a verdade seja reconhecida e para fazer com que se
viva na verdade. Muitos voltaram as costas para o logos socrático, por que não
puderem parir as ideias. Mas então que fecunda a alma, quem a torna grávida? É
uma pergunta a qual Sócrates não se colocou e nem respondeu. A cerne dessa
dificuldade é o mesmo apresentado pelo comportamento do homem que vê e
conhece o melhor, mas, no entanto, faz o pior. Sócrates acreditou contornar a
dificuldade com seu intelectualismo, posta de outra forma não soube contorna-lo,
eludindo com a imagem da gravidez. Todo ocidente é devedor da mensagem de
Sócrates.
Sócrates o homem e sua alma:
A alma- A alma é a consciência e a personalidade intelectual e moral, sobretudo
razão e conhecimento. O corpo é instrumento da alma. Virtude- a virtude da alma
(aquilo que a torna perfeita) é ciência e conhecimento, manifesta-se como →
Autodomínio- domínio da razão sobre as paixões →liberdade- libertação da parte
racional (verdadeiro homem) em relação ao passional. Corresponde a liberdade
interior. → Não violência- a razão se impõe pela convicção e não pela força.
Vício- vício é a ignorância, por isso: ninguém peca voluntariamente ( pecado
=erro), as diversas virtudes são reconduzíveis à unidade ( ciência do bem e do
mal) e também o vício (ignorância do bem e do mal).
A cura da alma
A alma se purifica no diálogo, dialética por meio de →Ironia e refutação- para
purificar a alma do falso saber, por meio da figura do não saber, para induzir o
interlocutor a expor o próprio saber→ do método disfarce de assumir as teses do
adversário a fim de demonstrar falsidade → da refutação para fazer o adversário
cair em contradição e induzi-lo a deixar as falsas convicções→ Maiêutica- para
fazer emergir, mediante perguntas e respostas, a verdade que está em cada um de
nós.
Sócrates
A ideia de fundo que Sócrates simbolizou é essa: é preciso despojar a alma, ou
seja submetê-la à justa prova, para podê-la curar, para tentar torna-la mais
possivelmente melhor, a fim de que o homem passa a se realizar no seu justo
valor.
Filosofar para os gregos nunca é buscar o abstrato, mas é um buscar verdadeiro
para descer a realidade. A ideia tem sentido apenas quando a medida que se
tornam vida. A verdade alcançada com o pensamento é justamente o que inserido
na vida, leva o homem ao seu fim, ou seja, a felicidade. Os filósofos gregos, assim
como Sócrates entendiam: busca o verdadeiro e o torna substância da sua vida,
conduzindo com absoluta coerência, até a aceitação da condenação à morte. Para
que o pensamento mude o mundo é preciso que mude a vida daquele que o
exprime. Que mude como exemplo.
Efeitos produzidos pelo exame realizado de Sócrates
Sócrates→ justamente por causa desse meu empenho, não tive a minha
disposição tempo livre para fazer alguma coisa na cidade, que fosse digna de
consideração, nem de minhas coisas privadas. E me encontro em grave pobreza,
por causa desse serviço que prestei a deus.
Os que são submetidos a exame se irritam contra mim e não contra eles mesmos
e fala que Sócrates é abominável e que corrompe os jovens.
O método Sócrates: ironia- refutação e maiêutica
O método de Sócrates tem como a marca de fundo a ironia, que indica o jogo
múltiplo e variado de disfarces e fingimento que ele utilizava para forçar o
interlocutor a perceber a si mesmo em todos os sentidos.
Por trás de várias máscaras que ele pouco a pouco assumia, do não saber e da
ignorância. Era justamente isso que deixava furioso muitos dos seus
interlocutores: a máscara da ignorância era o meio mais eficaz para desmascarar
o aparente saber dos outros e para revelar a ignorância, ou seja, refutá-los.
Sócrates professando ser ignorante, negava resolutamente estar em grau de
comunicar um saber dos outros. Ele afirmava ter outra capacidade, a arte de sua
mãe obstetra exercia que é justamente a maiêutica.
A conclusão da Apologia de Sócrates: o significado da morte
Difícil não é fugir da morte, mas fugir da maldade, por que a maldade corre muito
mais veloz que a morte. A morte se mostra um ganho, primeiro desaparecendo
todas as coisas e também o sofrimento, no segundo caso passando para uma vida
feliz. Sócrates era propenso acreditar no além, enquanto de ponto de vista
racional, era convicto de que a verdade sobre essas coisas, era conhecida apenas
pela sabedoria de deus.
Fugir da morte é mais fácil que fugir da maldade
Talvez cidadãos antenienses, pensaste que tenha sido pego desprovido dos
argumentos que vos teria persuadido, caso considerasse necessário fazer e dizer
qualquer coisa a fim de escapar da condenação à morte. Mas não é desse modo.
Fui pego desprovido, não de argumentos, mas de audácia e descaramento e por
não querer dizer vos coisas que gostaríeis de ouvir. Não devo fazer qualquer coisa
mesquinha para proteger do perigo, nem arrependo de ter me defendido desse
modo. Existem muitos estratagemas em cada um de vários perigos, que possam
fugir da morte, se alguém ousa fazer ou dizer qualquer coisa. Não é mais difícil
fugir da morte, mas muito mais difícil fugir da maldade. A maldade corre muito
mais veloz que a morte. Somos alcançados por aqueles que são hábeis e rápidos,
mais velozes em maldade.
Predição de Sócrates aos que o condenaram
Credes que condenando homens a morte, impedireis que alguém vos faça
reprovações por que não viveis de forma correta, não pensais bem. Este modo de
libertar não é certamente possível e nem belo. Ao contrário é belíssimo procurar
torna-se uma pessoa melhor. Sócrates fala aos juízes, que o seu daymon não se
opôs a sua morte (condenação), então aquilo deveria ser um bem .
O significado da morte
Morrer é não ter a sensação de nada ou a mudança da alma para outro lugar. Se a
morte não é ter mais nenhuma sensação, um sono que não se vê mais nada, então
é um ganho maravilhoso. Quantos não pagariam para estar do lado dos deuses?
A mensagem e a missão de Sócrates
O homem deve cuidar sobretudo de sua alma e não das coisas exteriores e esforça-
se para a que sua alma se torne o melhor possível.
O lugar atribuído por Deus à Sócrates: viver filosofando
Alguém poderia dizer: “Então Sócrates, não se envergonha da dedicação dessa
atividade pelo qual está em perigo de morte?” Sócrates respondeu: “ Um homem
que pode ajudar, mesmo que pouco, não deve levar em conta o perigo da vida e
da morte, quando age não deve olhar apenas para isso. Teriam sido pessoas de
pouco valor todos os semideuses que morreram. Penso que deveríamos enfrentar
o perigo, sem levar em conta a morte nem qualquer outra coisa mais que a
desonra. Com efeito ter medo da morte se acredita ser sábio, enquanto na
realidade não se é. Pois ninguém sabe o que é a morte e talvez seja para o homem
o maior de todos os bens. Os homens tem medo da morte como se soubessem bem
o que ela é. Isso é ignorância ter convicção de saber uma coisa da qual não se
sabe. A virtude não nasce das riquezas, mas que dá própria virtude nasce as
riquezas e todos os outros bens.
A função de estímulo da mensagem de Sócrates como o dom divino a cidade
Não creio que seja possível que um homem melhor seja danificado por um pior.
Coisas podem suceder ao um homem bom através do homem mal, mas creio que
seja um mal muito maior fazer as coisas que o homem mal faz.
Como nasceram o médico e a medicina científica
A mais antiga forma de medicina era praticada pelos sacerdotes e apenas a seguir
foi exercitada por médicos “leigos” que habitualmente operavam em escolas
adjacentes. A medicina embora já fosse pratica pelo Egito, somente na Grécia
adquiriu vestimenta científica, enquanto absorveu da filosofia sobretudo
naturalista, o método das pesquisas das causas, que é o fundamento da ciência.
Dos médicos sacerdotes de Esculápio aos médicos leigos
A prática mais antiga da medicina era exercida pelos sacerdotes. Esculápio
considera filho de nunes divinizado, era chamado médico e salvador e tinha como
símbolo a serpente. Consequentemente foram lhe dedicados templos em lugares
salubres e posições particularmente favoráveis, além de ritos e cultos. Os doentes
eram levados aos templos e curados por meio de práticas ou ritos mágico-
religiosos.
Mas aos poucos ao lado dos sacerdotes de Esculápio, também começaram a
aparecer médicos “leigos”, que se distinguiam dos primeiros por uma preparação
específica. Tais médicos poderiam exercer sua arte em tendas e moradas fixas ou
viajando (médicos ambulantes).
A medicina elevou-se a mais alto nível por meio particular de Hipócrates que
desfrutando dos resultados das experiências das anteriores gerações de médicos,
souber dar a medicina a estatura de ciência, ou seja, de conhecimento buscado
com método preciso.
Gênese da medicina científica
Fica claro que a ciência médica não nasceu de sacerdotes curadores, mas sim das
experiências e das pesquisas dos médicos dessas escolas de medicina anexas aos
templos, tais médicos foram pouco a pouco, foram se distanciando dos primeiros
até romperem decididamente os laços, com eles definindo conceitualmente a
própria identidade específica.
A medicina científica é uma criação dos gregos, no século XX foi descoberto um
papiro contendo um tratado médico, que comprova a sabedoria dos egípcios já
atingindo um estágio bem avançado na elaboração do material médico ( com a
indicação de algumas regras de causas e efeitos). Desse modo devemos convir
que os antecedentes de medicina se encontram no Egito. Mas justamente, trata-
se apenas de antecedentes.
Foi a mentalidade científica criada pela filosofia physis que possibilitou a
constituição da medicina como ciência. Além disso, a influência da filosofia dos
físicos deve se agregar também uma particular agudeza argumentativa, herdada
dos sofistas e bem visível em alguns tratados hipocráticos. É no âmbito da
mentalidade filosófica ou seja no âmbito da racionalismo etiológico por ele
criado, que pode nascer, se autodefinir e se desenvolver a ciência médica ( assim
como as demais ciências).
Hipócrates
Hipócrates pode ser considerado o fundador da medicina cientifica ou da
medicina conduzida sobre bases racionais. Os pontos fundamentais de seu saber
são os seguintes:1- Separou claramente o conteúdo científico da medicina em
relação as todas as crenças religiosas que acompanharam seu nascimento.2-
Considerou o homem e sua saúde não como realidades isoladas, mas como parte
de um conjunto de fatores mais amplo, que pode ser não só o ambiente
circundante, mas as instituições políticas.3- Defendeu a autonomia médica em
relação a filosofia: com efeito, enquanto esta vê o homem em geral, a medicina
trata o homem concreto e de sua saúde física, relacionada com seu próprio
ambiente.4- Definiu de modo quase perfeito o quadro ético dentro do qual devia
agir o médico e mover-se a sua pesquisa.
Hipócrates é o herói fundador da medicina científica. Ensinou medicina em
antenas, onde Platão e Aristóteles o consideraram como paradigma do grande
médico.
A descoberta da correspondência estrutural entre as doenças, o caráter do
homem e o ambiente.
Duas teses de Hipócrates:1- considera o homem no que ela está inserida, ou seja,
todas as coordenadas do ambiente que vive (região, ventos, águas características,
as posições dos lugares etc). O pleno conhecimento do indivíduo, depender do
conhecimento dessas coordenadas, para compreender a parte, precisa
compreender o todo a qual pertence. A natureza e os lugares incidem sobre o
aspecto dos homens e, portanto, sobre sua saúde e suas doenças.2- As instituições
políticas também incidem sobre o estado de saúde e as condições gerais dos
homens. Exemplo; São fracos os povos da Ásia por que é dirigido por
monarquias. Onde os homens não são senhores de si mesmo e das próprias leis,
mas submisso as déspotas, não pensam em se adestrar para a guerra, mas sim
como parece inaptos para o combate. A democracia tempera o caráter e a saúde
ao passo que o despotismo produz efeitos opostos.
O manifesto da medicina hipocrática: a medicina antiga
A medicina é amplamente devedora da filosofia, mas a medicina precisa se
distanciar da filosofia para não ser por ela reabsorvida. Segundo Hipócrates o
discurso médico não deve ser feito em torno da essência do homem geral, sobre
as causas do seu aparecimento. Deverá desenvolver sobre aquilo como homem
físico e concreto que tem relação com aquilo que come, com aquilo que bebe,
com seu específico regime de vida e coisas semelhantes.
Hipócrates codificou o prognóstico como uma síntese do passado, presente e
futuro do doente é que o médico pode projetar a terapia perfeita. Os médicos
prestam juramento de Hipócrates, mostrando que o ponto da civilização ocidental
é devedora dos gregos.
Platão (verdadeiro no Aristócles) – o horizonte da metafísica
“A virtude não tem padrão: conforme cada um honre ou a despreze, dela terá mais
ou menos”.
Platão viveu num momento em que acontecia uma revolução cultural que
consistia em um conflito entre oralidade e a escrita, com a vitória da escrita. Na
tradição antiga a oralidade era o meio de comunicação privilegiada. Sócrates
confiara exclusivamente a oralidade dialética a sua mensagem. Os sofistas ao
contrário tinham privilegiado sobretudo o meio de comunicação escrita, que já se
difundira. Aristóteles adotará a cultura da escrita sem reservas, consagrando a
definitivamente como meio privilegiado de comunicação do saber. Platão tentou
estabelecer média entre essas duas culturas, mas com êxitos que não foram aceitos
por seus próprios discípulos.
Platão recupera o valor cognoscitivo ( capacidade de conhecer) do mito como
complemento do logos, a filosofia platônica se torna na forma do mito, uma
espécie de fé raciocinada, no sentido que quando a razão chega aos limites
extremos de suas capacidades, deve superar intuitivamente tais limites,
desfrutando as possibilidades que se lhe oferecem na dimensão da imagem e do
mito.
A vida e obras de Platão
O apelido de Platão derivou pelo seu vigor físico, a amplitude do seu estilo ou a
extensão da sua fronte. O encontro de Platão com Sócrates se deu por volta dos
seus vinte anos. Platão frequentou o círculo de Sócrates com o mesmo objetivo
de outros jovens, não para fazer da filosofia a finalidade de sua própria vida, mas
para melhor preparar para a vida política. Entretanto acontecimentos orientavam
a vida de Platão para outra direção.
Platão teve contato com a vida política e foi uma experiência amarga e frustrante
por causa dos métodos facciosos (movimento contra o poder estabelecido) e
violentos que constatou, sendo praticados por aqueles pelos quais depositava
confiança. Seu desgosto com os métodos da política praticada em Antenas, deve
ter alcançado o máximo de sua expressão com a condenação do Sócrates a morte.
Os responsáveis por essa condenação foram os democratas ( que haviam
retomado o poder), então Platão se convenceu que naquele momento, era bom se
afastar da política militante.

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