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1- INTRODUÇÃO
Nós percebemos que alguns filósofos morais assumiram haver boas razões para
evitar a investigação empírica. Por boa parte do século XX, muitos dos que
trabalhavam em ética analítica - diversamente inspirados pela vigorosa injunção de
Hume contra inferir 'deve' de 'é' e pelos mistérios sedutores do "Argumento da
Questão Aberta" de Moore - sustentaram que considerações descritivas do tipo
aduzido nas ciências naturais e sociais não podem interferir sobre [literalmente:
'limitar' ou 'constranger'] a reflexão ética sem viciar seu caráter prescritivo ou
normativo (por exemplo, Stevenson 1944: 108-10; R. M. Hare 1952: 79-93). A
plausibilidade de tais alegações é debatida e discutível, mas é evidente que elas
ajudaram a levantar suspeitas em relação ao "naturalismo" na ética, que
entendemos, de modo geral, que a teorização ética deveria ser um inquérito (em
parte) a posteriori ricamente informado por considerações empíricas relevantes.
Relacionadamente, esta suspeita anti-naturalista permite uma xenofobia disciplinar
na ética filosófica, uma relutância em envolver a investigação para além da literatura
filosófica. A metodologia que aqui defendemos - uma abordagem resolutamente
naturalista da teoria ética, envolvendo diretamente as ciências biológicas,
comportamentais e sociais relevantes - aborda as ansiedades
O nosso argumento não é que se possa esperar, por si só, que a referência a
literaturas empíricas seja resolver debates em teoria moral. Esperamos, antes,
convencer o leitor de que estas literaturas são frequentemente e profundamente
relevantes para debates importantes, pelo que é intelectualmente irresponsável
ignorá-los. Por vezes, os resultados empíricos parecem contradizer o que
determinadas partes em litígio afirmam ou pressupõem, enquanto noutros casos,
parecem reconfigurar a topografia filosófica, revelando que certas linhas de
argumento devem atravessar terreno empiricamente difícil. Muitas vezes, os
filósofos que seguem estas rotas desafiadoras serão forçados a fazer conjecturas
empíricas adicionais, e estas conjecturas, por sua vez, devem ser sujeitas a um
escrutínio empírico. O resultado final, concluímos, é que uma ética filosófica
intelectualmente responsável é uma ética que se envolve continuamente a literatura
empírica relevante.
2- CARÁTER
Na segunda metade do século XX, a "ética das virtudes" tornou-se uma alternativa
cada vez mais popular às teorias kantianas e utilitaristas que durante algum tempo
dominaram a ética normativa. Em contraste com o kantismo e o utilitarismo, que
apesar das diferenças acentuadas partilham a ênfase na identificação de ações
moralmente obrigatórias, as abordagens centradas na virtude enfatizam a
constituição psicológica, ou carácter, dos atores. A questão central da ética das
virtudes, assim diz o slogan , não é o tipo de ação a desenvolver, mas sim o tipo de
pessoa a ser. Como Bernard Williams (p. 117) (1985: 1) nos recordou
eloquentemente, os "objetivos da filosofia moral, e quaisquer esperanças que ela
possa ter de valer atenção séria, estão ligados ao destino da pergunta de Sócrates"
Como se deve viver? e pareceu a muitos filósofos, sobretudo devido à influência de
Williams, que qualquer perspectivas de uma resposta satisfatória repousam na ética
do carácter. Alegadamente, se a reflexão ética ajudar as pessoas a compreender e a
melhorar a si próprias e as suas relações para com os outros, deve ser uma reflexão
centrada no estado e no cultivo do carácter (ver Williams 1993: 91-5).
Além disso, alguns filósofos supõem que o carácter será avaliado de forma integrada
e que as valências avaliativas associadas deverão co-ocorrer em personalidade (ver
Doris 2002: 22; Flanagan 1991: 283-90). Tal como Aristóteles (1984: 1144 30- 1145
2; cf. Irwin 1988: 66-71) o tem, as virtudes são inseparáveis; dadas as qualidades de
razão prática suficiente para a posse de uma virtude, pode-se esperar encontrar as
qualidades de razão prática suficientes para todas elas.
- Mathews e Canon (1975: 574-5) encontraram sujeitos com cinco vezes mais
probabilidade de ajudar o homem aparentemente ferido que tinha deixado cair
alguns livros quando o ruído ambiente estava a níveis normais do que quando um
cortador de grama elétrico estava a funcionar nas proximidades (80 por cento v. 15
por cento).
- Darley e Batson (1973: 105) relatam que os pedestres que não tinham pressa eram
seis vezes mais propensos a ajudar um infeliz que parecia estar em sofrimento
significativo do que os transeuntes com pressa (63 por cento v. 10 por cento).
- Isen e Levin (1972: 387) descobriram que as pessoas que tinham acabado de
encontrar um cêntimo eram vinte e duas vezes mais susceptíveis de ajudar uma
mulher que tinha deixado cair alguns papéis do que aquelas que não encontraram
um cêntimo (88 por cento v. 4 por cento).
- Milgram (1974) descobriu que os sujeitos "puniriam" repetidamente uma "vítima"
gritante com choques eléctricos realistas (mas simulados) a pedido educado de um
experimentador.
O argumento sugerido por esta dificuldade pode ser delineado da seguinte forma:
um grande volume de investigação indica que a cognição e o comportamento são
extraordinariamente sensíveis às situações em que as pessoas estão inseridas. A
implicação é que os indivíduos - no pressuposto completamente plausível de que a
maioria das pessoas se encontrará numa série de situações que envolvem
exigências cognitivas e comportamentais muito díspares - são tipicamente muito
variáveis no seu comportamento, em relação às expectativas comportamentais
associadas a categorias de características familiares, tais como honestidade,
compaixão, coragem e afins. Mas se o comportamento das pessoas fosse
tipicamente estruturado por traços robustos (características marcantes), seria de
esperar o contrário: um comportamento consistente com um dado traço - por
exemplo, um comportamento que seja adequada e fidedigno, compassivo ou
corajoso - numa diversidade de situações. Daí resulta, segundo o argumento, que o
comportamento não é tipicamente estruturado pelos traços robustos que figuram
centralmente na psicologia moral teórica da virtude. Considerações análogas devem
criar problemas para as noções de avaliação integradas; a falta endémica de
uniformidade de comportamento decorrente da literatura prejudica as expectativas
de estruturas de carácter integradas.
O argumento situacionista foi por vezes interpretado pelos filósofos como afirmando
que os traços de carácter "não existem" (Flanagan 1991: 302; Athanassoulis 2000:
219-20; Kupperman 2001: 250), mas esta é uma formulação enganadora da
questão. Negar a existência de traços é negar a existência de diferenças de
disposição persistente entre as pessoas, a alegação de que características não
existem parece insustentável, e o exercício de refutar tal alegação é ociosa (inativa).
(Na verdade, é uma afirmação que mesmo psicólogos com fortes simpatias
situacionistas, por exemplo, Mischel 1968: 8-9, parecem que tem dificuldades em
negar). A verdadeira questão que divide os teóricos da virtude e os situacionistas diz
respeito à caracterização adequada das peculiaridades e não à sua existência ou
inexistência. O argumento situacionista que deve ser levado a sério e que, na nossa
opinião, não é refutado, sustenta que a concepção aristotélica de traços como
disposições robustas - o tipo que conduz a um comportamento relevante para os
traços numa grande variedade de situações relevantes em termos de características
- é radicalmente subapoiada empiricamente. Para (p. 120) colocar as implicações
éticas deste fato de forma um pouco agressiva, parece que a atribuição de traços
robustos como as virtudes pode muito bem ser injustificada na maioria dos casos, os
programas de educação moral destinados a inculcar as virtudes podem muito bem
ser inúteis, e os modos de reflexão ética centrando as aspirações morais no cultivo
da virtude podem muito bem ser mal orientado.
Neste momento, os teóricos da virtude podem oferecer uma das duas respostas.
Eles podem aceitar a interpretação que os críticos fazem das provas empíricas,
negando, ao mesmo tempo, que a sua abordagem faça compromissos empíricos do
tipo que as provas indicam ser problemático. Ou eles podem permitir que a sua
abordagem assuma compromissos em psicologia empírica do tipo que seria
problemático se as interpretações dos críticos das provas fossem sustentáveis, mas
negar que os críticos tenham interpretado as provas de forma correta. A primeira
opção, poderíamos dizer, é "empiricamente modesta" (ver Doris 2002: 110-12):
porque tais atribuições fazem apenas reivindicações mínimas em psicologia
empírica, estão isoladas da ameaça empírica. A segunda opção, pelo contrário, é
"empiricamente vulnerável" (ver Railton 1995: 92-6): torna reivindicações empíricas
com conteúdo suficiente para suscitar críticas de motivação empírica.
Mesmo sem uma resposta a estas questões práticas, poder-se-ia pensar que a ética
das virtudes é adequada para abordar problemas conceituais familiares na ética
filosófica, como, por exemplo, dar conta de uma ação correta. No relato de
Hursthouse (1999: 28; cf. 49-51) sobre a ética das virtudes, "uma ação é correta se,
e somente se, ela é o que um agente virtuoso, (isto é, agindo segundo o caráter)
faria nas circunstâncias ". Hursthouse (1999: 123-6, 136, 140) insiste ainda que uma
ação não conta como "moralmente motivada" pelo simples fato de ser do tipo coisa
que uma pessoa virtuosa faz, feita por razões do tipo que a pessoa virtuosa faz por
ela; deve proceder "a partir da virtude", ou seja, "a partir de um estado estabelecido
de bom carácter". Se este requisito é justaposto com a observação de que os
estados relevantes de caráter são, como uma versão empiricamente modesta da
ética das virtudes sustenta, nós aparentemente obtemos o resultado de que ações
"moralmente motivadas" são também extremamente raras (um resultado da teoria
das virtudes ["virtude-teorético"], interessantemente, com o qual Kant teria
concordado)". Isto não é necessário Hursthouse (1999: 141-60); ela parece permitir
isso muitas vezes - talvez sempre - vê-se apenas aproximações de motivação moral.
Isso incomoda-nos. Pensamos que pessoas menos virtuosas e muito menos
virtuosas, por vezes, fazem o certo pelas razões certas, e estas ações são
adequadas para serem honradas como "moralmente motivadas". Pode não
acontecer com a frequência que se deseja, mas uma conduta moralmente motivada
parece acontecer com bastante mais frequência do que uma oportunidade para a
virtude perfeita. Oskar Schindler, o especulador da guerra que resgatou milhares de
judeus dos nazistas, é um exemplo famoso das duas noções que se desfazem (ver
Kenneally 1982), mas com um pouco mais de atenção aos livros de história,
podemos certamente apresentar muito mais. O ónus da prova, ao que parece, recai
sobre aqueles que afirmam que estas pessoas amplamente referenciadas não são
moralmente motivadas.
Afirmamos que, para a ética das virtudes manter a sua vantagem competitiva em
psicologia moral, deve cortejar o perigo empírico, fazendo reivindicações empíricas
com substância suficiente para serem seriamente testadas pelas provas empíricas
da psicologia. Por exemplo, o teórico das virtudes pode insistir que, embora a virtude
perfeita seja realmente rara, os traços robustos aproximam-se da virtude perfeita -
coragem, temperança, dentre outras - podem ser amplamente inculcados, e talvez
de forma semelhante para vícios robustos - covardia confiável, desleixo, etc. Para
defender tal posição, o teórico da virtude deve, de alguma forma, desacreditar as
provas empíricas do crítico. Poder-se-ia pensar em vários argumentos para garantir
um tal resultado: (i) Os experimentos dos situacionistas podem ter falhas
metodológicas; problemas na concepção experimental ou na análise de dados, por
exemplo, podem comprometer os resultados. ii) As experiências (experimentos)
podem falhar nos padrões de validade ecológica (p. 123); os contextos
experimentais podem estar tão distantes dos contextos naturais que excluem
generalizações para o "mundo real". (iii) Conclusões gerais das experiências podem
ser proibidas por amostras limitadas; em particular, parece haver uma escassez de
estudos longitudinais comportamentais que ajudariam a avaliar o papel dos traços
de carácter "a longo prazo". (iv) As experiências podem ser conceitualmente
irrelevantes; por exemplo, as concepções de traços particulares operacionalizados
no trabalho empírico pode não corresponder às concepções afins que figuram em
virtude da ética.
3- MOTIVAÇÃO MORAL
Suponhamos que uma pessoa acredita que deve fazer algo: doar sangue a Cruz
Vermelha, digamos, ou enviar uma contribuição significativa a uma agência
internacional de ajuda humanitária. Ela realmente será levada a agir de acordo com
esta convicção (crença)? Os teóricos da ética (p. 124) usam o internalismo para
marcar um conjunto importante de respostas a esta pergunta, respostas que
sustentam que a motivação para agir com base num juízo moral é uma condição
necessária ou intrínseca concomitante ao próprio julgamento, ou que a motivação
relevante é inevitavelmente gerada pela mesma faculdade mental que produz o
julgamento. Um versão familiar do internalismo é amplamente kantiana, enfatizando
o papel da racionalidade na ética. Como Deigh (1999: 289) caracteriza a posição, "a
razão é tanto o piloto como o motor de agência moral. Não só orienta a pessoa para
ações em conformidade com o seu dever, como produz também o desejo de cumprir
o seu dever e pode investir esse desejo com força suficiente para ultrapassar os
impulsos conflituosos do apetite e da paixão". Uma dificuldade notória para o
internalismo é sugerido por Hume (1975: 282-4), um "patife sensato", uma pessoa
que reconhece que os atos injustos e desonestos que contempla estão errados, mas
é completamente indiferente a esta constatação. Os escritores mais recentes (por
exemplo, Nichols 2002) têm sugerido que o patife sensato (ou, como os filósofos o
chamam frequentemente, "o amoralista") é mais do que uma ficção filosófica, uma
vez que os psicólogos clínicos e outros profissionais da saúde mental notam a
existência de sociopatas ou psicopatas, que parecem saber a diferença entre o certo
e o errado mas, de um modo geral, não possuem motivação para fazer o que é
correto. Se esta compreensão da psicologia moral do psicopata for exata, o
internalismo parece estar a sofrer um embaraço empírico.
Smith é um teórico moralista que tomou tal posição. Na sequência de Lewis (1970,
1972), Jackson (1994), e outros, Smith propõe que um conceito possa ser analisado
especificando o “máximo conjunto consistente de regularidade” (conjunto máximo
coerente de lugares comuns)" em que o conceito é invocado; é por "vir para tratar
esses lugares-comuns como lugares-comuns" (banalidades como banalidades?),
Smith (1994: 31) afirma que "chegamos a ter domínio desse conceito". Se isto for
correto, a defesa da análise conceitual do internalismo exige que o conjunto de
lugares-comuns que invocam a noção de um juízo moral inclui um pedido no sentido
de que "os agentes que fazem julgamento moral são motivados por acordo". Mais
uma vez, esta é uma reivindicação empírica. Smith apela às suas próprias intuições
para o seu apoio, mas é, evidentemente, bastante provável que os opositores do
internalismo não partilham as intuições de Smith, e é difícil dizer de quem são as
intuições que devem triunfar.
John é um criminoso psicopata. Ele é um adulto de inteligência normal, mas não tem
nenhuma reação emocional a magoar outras pessoas. John magoou, e até matou,
outras pessoas quando ele quis roubar o seu dinheiro. Ele diz que sabe que ferir os
outros é errado, mas que ele simplesmente não se importa se ele faz coisas que são
errados. Será que John compreende realmente que magoar os outros é moralmente
errado?
Bill é um matemático. Ele é um adulto de inteligência normal, mas não tem qualquer
reação emocional a magoar outras pessoas. No entanto, Bill nunca faz mal a outras
pessoas simplesmente porque pensa que é irracional fazer mal a outros. Ele pensa
que qualquer pessoa racional seria como ele e não magoaria outras pessoas. Será
que o Bill compreende realmente que magoar os outros é moralmente errado?
(Nichols 2004: 74)
Uma segunda estratégia internalista para lidar com o problema colocado pelo
amoralista é empírica: mesmo que os amoralistas sejam conceitualmente possíveis,
o internalista pode insistir, a sua existência é psicologicamente impossível. Por uma
questão de fato psicológica, este argumento continua, os juízos morais das pessoas
são acompanhados pelo tipo apropriado de motivação. Uma elaboração kantiana
desta ideia, sobre a qual nós vamos nos debruçar, sustenta que os juízos morais
das pessoas são acompanhados por um tipo apropriado de motivação, a menos que
suas faculdades racionais sejam comprometidas. (Veremos em breve que muita
coisa se volta para o destino da cláusula em itálico). Documentos recentes de
Roskies (2003) e Nichols (2002) apresentam importantes desafios a esta estratégia.
Roskies defende que os doentes com VM não agem com base nos seus juízos
morais porque sofrem de um déficit de motivação. Além disso, as provas indicam
que estes indivíduos não têm dificuldade geral em agir com base em juízos de
avaliação; pelo contrário, Roskies (2003) sustenta que a ação em relação à
avaliação moral e social é diferentemente prejudicada. Para além das evidências
comportamentais, esta interpretação é sustentada pela anomalia padrão de
respostas do nível de condutância cutânea (SCR) que os pacientes com VM
apresentam. Indivíduos normais produzem um SCR quando apresentados a
estímulos carregados de emoção ou de carga emocional, enquanto os pacientes
com VM normalmente não produzem SCR em resposta a tais estímulos. Os SCR
não faltam, no entanto, totalmente nos pacientes com VM. Os SCR são produzidos
quando os pacientes com VM são surpreendidos ou assustados, por exemplo,
demonstrando que a base fisiológica para estas respostas está intacta. Além disso,
a sua presença está correlacionada de maneira confiável com os casos em que as
ações dos pacientes são consistentes com os seus juízos sobre o que devem fazer,
e a sua ausência está correlacionada de forma confiável com os casos em que os
doentes não atuam em conformidade com os seus julgamentos. Assim, afirma
Roskies, o SCR é um indicador confiável de motivação. (p. 127)
Assim, o facto de os pacientes com VM, ao contrário dos sujeitos normais, não
apresentarem SCR em resposta aos estímulos moralmente carregados sugerem que
a sua incapacidade de agir em situações moralmente carregadas resulta de um
déficit de motivação.
As provas de Blair (1995) complicam esta história familiar. Ele descobriu que os
psicopatas apresentam déficits surpreendentes em várias tarefas em que os temas
são apresentados com descrições de transgressões "morais" como uma criança que
bate em outra e transgressões "convencionais" como uma criança que sai da sala de
aula sem a permissão do professor. Desde a primeira infância, as crianças normais
distinguem as transgressões morais das convencionais em várias dimensões:
consideram as transgressões morais mais graves, explicam por que razão os atos
são errados por apelo a diferentes fatores (danos e justiça para as transgressões
morais, aceitabilidade social para as transgressões convencionais), e compreendem
as transgressões convencionais, ao contrário das transgressões morais, dependem
da autoridade (Turiel et al. 1987; Nucci 1986). (p. 128)
Por exemplo, apresentado com um caso hipotético em que um professor diz não
haver regra sobre sair da sala de aula sem autorização, as crianças acham que é
bom sair sem autorização. Mas apresenta uma hipótese em que um professor diz
que não há regra contra bater noutras crianças, as crianças não julgam que bater é
aceitável. Blair tem mostrado que enquanto crianças autistas, as crianças com
síndrome de Down, e um grupo de controlo de assassinos não-psicopatas
encarcerados têm relativamente poucas dificuldades em desenhar a distinção moral-
convencional e classificação dos casos, os psicopatas encarcerados são incapazes
de o fazer.
Esta incapacidade pode ser uma prova da hipótese de que os psicopatas têm um
déficit de raciocínio e, portanto, não representa um problema para os internalistas ,
que defendem que uma faculdade de raciocínio funcional gera de forma confiável
alguma motivação para fazer o que se acredita e o que se deve fazer. Mas, como
Nichols (2002) sublinhou, a questão não pode ser tão facilmente resolvida, porque
os psicopatas também demonstraram ter respostas afetivas que são bastante
diferentes das dos sujeitos normais. Quando se mostram estímulos angustiantes
(como diapositivos de pessoas com lesões terríveis) e estímulos ameaçadores
(como diapositivos de um homem enfurecido com uma arma), os sujeitos normais
exibem muito o mesmo conjunto de respostas. Os psicopatas, pelo contrário, exibem
respostas fisiológicas normais a estímulos ameaçadores, mas respostas fisiológicas
anormais baixas a estímulos angustiantes (Blair et al. 1997). Assim, argumenta
Nichols, é bem possível que o déficit do psicopata não seja um sistema de raciocínio
anormal, mas um sistema com efeitos anormais, e são estas afetivas anormalidades,
em vez de qualquer deficiência racional, que estão implicadas na incapacidade dos
psicopatas fazerem a distinção moral-convencional. Se a sua interpretação estiver
correta, parece que a existência de psicopatas prejudica a generalização empírica
dos internalistas kantianos: contra o Kantismo, existe uma classe substancial de
indivíduos sem deficiências racionais que não sejam motivadas pelos seus
julgamentos morais.
Somos solidários com o relato de Nichols, mas, como no caso dos doentes com VM,
o internalista é livre de insistir que uma compreensão mais completa da psicopatia
revelará que a síndrome envolve, de facto, deficiências racionais. A resolução deste
debate exigirá um trabalho conceptual sobre a forma de traçar a fronteira entre a
razão e o afeto e sobre o que conta como uma anomalia em cada um destes
domínios. Mas também exigirá um trabalho muito mais empírico com vista a
compreender exatamente as diferenças entre psicopatas e não-psicopatas. Os
internalistas - ou pelo menos os internalistas kantianos - que desejam difundir a
dificuldade colocada pela psicopatia devem oferecer uma descrição empírica da
arquitetura cognitiva do psicopata que localiza a deficiência racional postulada.
Duvidamos que tal relato seja em breve. Mas - para instanciar uma vez mais a nossa
mensagem de levar para casa - o nosso ponto de vista atual é que, para que os
internistas desenvolvam um tal relato, deve recorrer à literatura empírica.
Como observou Brandt (1959: 281-4), muito depende de todas as pessoas terem ou
não as mesmas atitudes em circunstâncias ideais - ou seja, se as suas atitudes
convergiriam em circunstâncias ideais. Se o fizessem, então alguns juízos morais -
aqueles em que a convergência idealizada - justifica-se para todas as pessoas, e
outras - onde tal convergência não é tão justificada. Mas se as atitudes das pessoas
em geral não convergem em circunstâncias idealizadas, a teoria da atitude
qualificada aparentemente falha em uma versão do relativismo, uma vez que
qualquer juízo moral pode comportar-se com as atitudes qualificadas de uma
pessoa, e, portanto, justificadas por ela, ao mesmo tempo que um juízo incompatível
pode comportar-se com as atitudes de outra pessoa e, portanto, ser justificada por
ela. 21
Brandt, que foi um pioneiro no esforço de integrar teoria ética e ciências sociais,
procurou principalmente a antropologia para ajudar a determinar se as atitudes
morais podem convergir em circunstâncias idealizadas. É claro que é (p. 130) bem
sabido que a antropologia inclui um conjunto substancial de trabalhos, tais como os
estudos clássicos de Westermarck (1906) e Sumner (1934), detalhando as
perspectivas morais radicalmente divergentes encontradas em culturas de todo o
mundo. Mas como Brandt (1959: 283-4) reconheceu, as etnografias típicas não
suportam inferências confiantes sobre a convergência de atitudes em condições
ideais, em grande medida porque, muitas vezes, dão orientação sobre o grau de
desacordo moral que pode ser atribuído ao desacordo sobre questões de fato que
não são de natureza moral, tais como as que têm a ver com pontos de vista
religiosos ou cosmológicos.
Com este tipo de dificuldade em mente, Brandt (1954) empreendeu o seu próprio
estudo do povo Hopi no sudoeste americano, e encontrou questões para as quais
parecia ser um grave desacordo moral entre o típico Hopi e o branco americano,
atitudes que não poderiam ser plausivelmente atribuídas a diferenças de crença
sobre o fato não moral. Um exemplo notável é a atitude Hopi de causar sofrimento
aos animais, uma atitude que poderia perturbar muitos não-Hopis: "[As vezes as
crianças Hopi apanham aves e a fazem de "animais de estimação". Podem ser
amarrados a uma corda (cordão), para serem retiradas e "jogados". Esta peça (jogo)
é rude, e as aves raramente sobrevivem muito tempo. De acordo com um
informador: "às vezes elas ficam cansadas e morrem. Ninguém se opõe a isto"
(Brandt 1954: 213).
Brandt (1959: 103) fez um grande esforço conjunto para determinar se esta
diferença de perspectivas morais podem ser traçadas como discordância sobre fatos
não morais, mas não encontrou explicação plausível deste tipo; os seus informantes
Hopi não acreditavam que aos animais faltassem a capacidade de sentir dor, por
exemplo, nem acreditavam que os animais fossem recompensados por martírio na
vida após a morte. De acordo com Brandt (1954: 245), os Hopi não consideram
animais como inconscientes ou insensíveis; com efeito, parecem considerar os
animais como "mais próximos para a espécie humana do que para o homem branco
médio". A melhor explicação para os julgamentos morais divergentes, concluiu
Brandt (1954: 245), é a "diferença básica de atitude". Por conseguinte, embora
advirta que as incertezas da etnografia fazem conclusões confiantes sobre este
ponto difícil, Brandt (1959: 284) argumenta que as contas da justificação moral como
a sua teoria de atitude qualificada acaba no relativismo, uma vez que "os grupos
fazem por vezes avaliações divergentes quando têm crenças idênticas sobre os
objetos".
Brandt (1959: 101-2) lamentou que a literatura antropológica da sua época nem
sempre forneceu o número de informações sobre os contornos exatos e as origens
das atitudes morais e crenças onde os filósofos poderiam se interrogar sobre as
perspectivas de convergência desejadas. No entanto, a psicologia social e a ciência
cognitiva produziram recentemente investigação que prometem continuar a
discussão; nas últimas décadas do século XX assistimos a uma explosão da
"psicologia cultural" que investiga os processos cognitivos e emocionais de
diferentes culturas (Shweder e Bourne 1982; Markus e Kitayama 1991; Ellsworth
1994; Nisbett e Cohen 1996; Nisbett 1998; Kitayama e Markus 1999). A conclusão
representativa é que os asiáticos orientais são mais sensíveis do que os ocidentais
ao campo e ao contexto, em oposição ao objeto ou ao ator em suas explicações
sobre aspectos físicos e fenômenos sociais, uma diferença que pode refletir nos
seus hábitos de julgamento ético. Aqui vamos nos concentrar em algumas
diferenças culturais encontradas mais perto de casa, diferenças descobertas por
Nisbett e seus colegas enquanto investigavam os padrões regionais de violência no
Norte e no Sul dos Estados Unidos. Argumentamos que estas descobertas apoiam
as conclusões pessimistas de Brandt's quanto à possibilidade de convergência no
julgamento moral.
A investigação do grupo Nisbett pode ser vista como uma aplicação das ferramentas
da psicologia social cognitiva à "cultura de honra", um fenómeno que os
antropólogos têm documentado numa variedade de grupos em todo o mundo.
Embora esses povos sejam diferentes em muitos aspectos, manifestam pontos
comuns importantes:
- dados demográficos que indicam que (1) entre os brancos do Sul, as taxas de
homicídios são mais elevadas nas regiões mais adequadas para a pastorícia do que
na agricultura, e (2) os homens brancos no Sul são muito mais susceptíveis de se
envolverem em homicídios resultantes de argumentos do que os homens brancos de
outras regiões, embora não sejam mais susceptíveis de se envolverem em
homicídios ocorridos durante um assalto ou outro crime (Nisbett e Cohen 1996, cap.
2);
- os dados do inquérito indicam que os brancos do Sul são mais propensos do que
os do Norte a acreditam que a violência seria "extremamente justificada" em
resposta a uma variedade de afrontas, e que se um homem não reagisse com
violência, não era "muito homem" (Nisbett e Cohen 1996, cap. 3);
- bolsa de estudos jurídicos que indica que os Estados do Sul "dão aos cidadãos
mais liberdade de utilizar a violência na defesa de si próprios, das suas casas e dos
seus bens" do que "a (Nisbett e Cohen 1996: 63).
GRÁFICO DO CAPÍTULO
Os dois estudos apenas descritos sugerem que os sulistas respondem com mais
veemência ao insulto do que os nortenhos, e têm uma visão mais solidária dos
outros que o fazem (os mesmos atos), manifestando exatamente o tipo de atitudes
que supostamente tipificam as culturas de honra. Pensamos que os dados reunidos
por Nisbett e seus colegas fazem um caso persuasivo de que persiste uma cultura
de honra no Sul dos Estados Unidos. Aparentemente, esta cultura afeta os juízos,
atitudes, emoções, comportamentos e até mesmo a suas respostas fisiológicas.
Além disso, há provas de que as práticas de educação das crianças desempenham
um papel significativo na transmissão da cultura de honra de uma geração para a
outra, e também que as leis relativamente permissivas relativas à posse de armas, à
autodefesa e à proteção corporal e a punição corporal nas escolas refletem e
reforçam a cultura de honra do sul (Nisbett e Cohen 1996: 60-3, 67-9). Em suma,
parece-nos que a cultura de honra é profundamente entrincheirada na cultura
contemporânea do sul, apesar do facto de muitos dos materiais e as condições
económicas que lhe deram origem já não se verificam amplamente. 25
Conhecimento pleno e vivo dos fatos não morais relevantes. Os realistas morais
argumentaram que os desacordos morais resultam muitas vezes de desacordos
sobre questões não morais. Segundo Boyd (1988: 213; cf. Brink 1989: 202-3;
Sturgeon 1988: 229), "o exame filosófico cuidadoso revelará ... que o acordo sobre
questões não morais eliminaria quase todas as discordâncias sobre os tipos de
questões morais que surgem na prática moral corrente". Será esta uma conjectura
plausível para os dados que acabamos de considerar? Temos dificuldade em
imaginar que acordo sobre fatos não morais poderia fazer o truque? (aqui falta o
sentido), pois podemos facilmente imaginar que os nortenhos e os sulistas possam
estar plenamente de acordo sobre os fatos não morais relevantes nos casos
descritos. Os membros de ambos os grupos concordariam, presumivelmente, que o
candidato ao emprego foi corneado, por exemplo, ou que a chamar alguém um
"idiota" é um insulto. Pensamos que é muito mais plausível supor que o desacordo
reside em atitudes de avaliação diferentes e profundamente enraizadas
relativamente respostas adequadas à corneta, ao desafio e ao insulto.
É claro que é possível que uma consciência plena e viva dos factos não morais
possam motivar o tipo de mudança de atitudes do Sul prevista pelos realistas morais
(pelo menos do Norte); se os sulistas tomassem consciência viva de que a sua
cultura de honra estava implicada na violência, poderiam ser levados a mudar a sua
perspectiva moral. (Tomamos esta forma de dar o exemplo de ser o mais natural,
mas nada filosófico se volta contra ele. Se quiser, substitua a possibilidade de os
nortenhos sangrentos endossarem os valores de honra após a exposição dos fatos).
Por outro lado, os sulistas podem insistir que os valores de honra devem ser
alimentados mesmo à custa da promoção da violência; o lema "Morte antes da
desonra", afinal, tem uma longa e honrosa história. O fardo da argumentação,
pensamos nós, reside no (p. 137) realista que afirma - a cultura e a história não o
suportam - que os sulistas mudariam de opinião se estivessem vividamente
conscientes dos factos pertinentes.
Inicialmente, não parece que o "nós" deva ser interpretado como "nós filósofos". A
dificuldade não é que esta abordagem ameace um erro de amostragem, embora
seja certamente verdade que os filósofos formam um grupo pequeno e peculiar. O
problema é que é de se esperar que os filósofos respondam a experiências de
pensamento de formas que reflitam a sua predileção teórica: respostas dos
utilitaristas a um pensamento (p. 139) podem ser esperadas para maximizar o bem-
estar, a integridade e a lealdade sejam condenadas, enquanto as respostas dos
aristotélicos e dos kantianos podem cair na direção oposta. Se for assim, dificilmente
se pode esperar que a experiência do pensamento resolva o debate, uma vez que
as respostas dos filósofos, por exemplo, são susceptíveis de refletir a sua posição
no debate.
Imagine que os EUA estejam se preparando para o surto de uma doença asiática
incomum, que deve matar 600 pessoas. Dois programas alternativos para combater
a doença foram propostos (p. 140). Suponha-se que a estimativa científica exata de
das consequências dos programas são as seguintes:
Eis uma forma de o dizer: Se o CT (tese causalidade) for verdade, parece que nunca
é o caso de as pessoas poderiam ter feito de outra forma, mas depois, dado o PAP
(princípio das possibilidades alternativas), o MRT (tese de responsabilidade moral)
deve ser falso. Aí (p. 142) são três respostas-padrão a este trilema. (Existem) Dois
tipos de incompatibilidades sustentam que a MRT (tese de responsabilidade moral)
e a CT (tese causalidade) não podem ser realizadas simultaneamente: deterministas
duros (rígidos) (ver Smart 1961: 303-6) rejeitam a MRT, enquanto os libertários (por
exemplo, Kane 1996) insistem que a CT admite excepções no caso do
comportamento humano, podendo assim manter a MRT. Por outro lado, afirmam
que a MRT e a CT podem ser simultaneamente mantidos; um expediente bem
conhecido é rejeitar o PAP e insistir que as pessoas possam ser legitimamente
responsabilizados, mesmo quando não poderiam ter feito de outra forma (ver
Frankfurt 1988: 1-12).
O fato de que a intuição incompatibilista tem tanto poder para nós é tanto um fato
natural sobre seres convincentes como nós, como é o fato de nosso compromisso
irrefletido com as atitudes reativas. Além disso, as raízes da intuição incompatibilista
estão profundamente nas ... atitudes reativas... As atitudes reativas consagram a
intuição incompatibilista.
Como muitos outros filósofos que fazem afirmações empíricas sobre a cognição
humana, Strawson diz relativamente pouco sobre as previsões que faz quanto às
suas reinvindicações e implicações. Não vamos colocar previsões na boca de
Strawson; em vez disso, vamos considerar uma previsão que parece decorrer de
uma intuição incompatibilista, pelo menos na familiarização de incompatibilidades
que temos seguido. Atribuir um amplo compromisso com uma intuição
incompatibilista é plausivelmente pensado para envolver a seguinte previsão: para
os casos em que o ator é considerado incapaz de fazer o contrário, as pessoas não
responsabilizar o ator pelo que ela fez. Na medida em que esta previsão é boa, as
pessoas devem responder a experiências de pensamento que retratam um ator
incapaz de fazer, caso contrário, através de atribuições abjuras de responsabilidade
e das atitudes reativas associadas.
Em um dos estudos de Woolfolk et al., os sujeitos leram uma história sobre dois
casais que estavam de férias juntos. Segundo a história, um dos veraneantes
descobriu que sua esposa está tendo um caso com seu oposto no grupo de quatro;
no voo de volta para casa, o avião dos veraneantes é desviado e os sequestradores
armados ordenam ao cornudo que mate o homem que tem tido um caso com a sua
mulher. Numa variação de "baixa identificação", a história continha o seguinte
material:
O Bill ficou horrorizado. Naquele momento, Bill estava certo dos seus sentimentos.
Ele não queria matar Frank, apesar de Frank ser amante da sua mulher. Mas,
apesar de estar horrorizado com a situação e de se sentir angustiado, colocou com
relutância a pistola na têmpora de Frank e começou a rebentar com os miolos do
seu amigo.
É tentador concluir que pelo menos para os sujeitos do grupo de Woolfolk (filosofia e
psicologia na Universidade da Califórnia e na Universidade de Rutgers), a intuição
incompatibilista não parece estar profundamente enraizada. Mas, neste momento, o
estudo acima referido pode sugerir que a responsabilidade de/e atribuições são
influenciadas pela identificação, mas nada diz sobre o compromisso com o intuição
incompatibilista, porque os sujeitos podem não ter acreditado que o ator não poderia
ter feito o contrário, pelo que os sujeitos não podem ser interpretados como
atribuindo responsabilidade em violação do PAP. As pessoas podem pensar que
mesmo quando coagidos, os atores "têm sempre uma escolha”; no cenário clássico
"o seu dinheiro ou a sua vida", a pessoa que enfrentou esse dilema desagradável
pode sempre optar pela sua vida. (Apressamo-nos a lembrar a todos tentado numa
direção de cabeça de touro tal que a disjunção não precisa de ser exclusiva!)
Mais uma vez, alguns filósofos podem insistir que as respostas de interesse não são
as respostas relativamente não estudadas ou intuitivas de sujeitos experimentais
como os graduados do grupo Woolfolk, mas os julgamentos tutelados de filósofos.
Já apresentamos algumas razões para considerar esta estratégia com desconfiança,
mas parece-nos especialmente problemática para o caso específico da
responsabilidade. Os argumentos filosóficos sobre responsabilidade, parece-nos,
assentam muitas vezes fortemente na especulação sobre a prática quotidiana. Por
exemplo, a exposição de Peter Strawson (1982: 64, 68), extremamente influente,
sublinha repetidamente a importância de atitudes reativas nas "relações
interpessoais normais". Embora possa não ser muito exagerado imaginar que os
filósofos por vezes se entregam a tais relações, é um exagero supor que são as
únicas pessoas que o fazem. É muito plausível argumentar - como, de facto, aqueles
que implantaram algo como a intuição incompatibilista tem feito - que os contornos
da prática quotidiana de a atribuição de responsabilidades serve de constrangimento
exequível às teorias filosóficas de responsabilidade: se a teoria não pode acomodar
a prática, deve, a um custo mínimo, uma conta do desmembramento da prática.
Poder-se-ia insistir que, filosoficamente, a teorização da responsabilidade não é
responsável perante a prática corrente, mas isso deve fazer uma ruptura substancial
com elementos importantes da tradição.
6- CONCLUSÃO